Acordo entre as duas maiores facções do crime organizado já está valendo nas ruas

Relatório do Ministério da Justiça revela aliança inédita entre PCC e CV — Foto: Reprodução/Fantástico

Tema de uma reportagem no Fantástico, neste domingo o acordo entre PCC e Comando Vermelho, as duas maiores facções do crime organizado no Brasil, já está valendo nas ruas das principais capitais, segundo o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há 20 anos.

Uma trégua, com suspensão dos conflitos e execuções, está em vigor “desde o dia 11 deste mês”.

“No Rio de Janeiro e em São Paulo já houve essa trégua. A união das duas maiores organizações criminosas do país pode levar a um incremento no tráfico internacional de cocaína, no tráfico de armas para o Brasil. É um compartilhamento de rotas e, sobretudo, fortalecimento ainda maior dessas organizações criminosas”, disse Gakiya na reportagem

 

O alerta para “possível acordo de cooperação” entre os dois grupos criminosos foi dado num relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais. O documento detalha o que seriam “ações coordenadas para tornar menos rígido o tratamento de presos perigosos no sistema penitenciário nacional”.

Gravações feitas com autorização judicial revelam conversas entre presos e seus advogados no “parlatório” — das penitenciárias federais.
Um trecho do relatório, divulgado na reportagem afirma que “a unificação dos advogados do Primeiro Comando da Capital, o PCC, e Comando Vermelho, o CV, vem sendo formatada por integrantes do alto escalão das duas facções”.

O objetivo imediato do acordo seriam “ações coordenadas para atender demandas dos chefes presos no sistema penitenciário federal”.
Nas penitenciárias federais, os chefes cumprem pena no chamado regime disciplinar diferenciado.

O detento fica isolado em cela monitorada por câmera, com 2 horas diárias para banho de sol. Visitas são limitadas a duas pessoas por semana, sem direito a contato físico. O preso não pode ver televisão, ouvir rádio, ler jornais e revistas nem usar internet ou celular.
Segundo o relatório, “dados apontariam que integrantes do PCC já estariam reunindo assinaturas de pessoas em condições de votar para subsidiar um suposto ‘abaixo-assinado’ em que os signatários pleiteariam a flexibilização da lei para permitir o retorno de visitação com contato físico no sistema prisional federal”.
O setor de inteligência do Ministério da Justiça registrou que o chefe do PCC, Marco Willians Camacho, o Marcola, perguntou a um advogado: “Eles vão fazer então um abaixo-assinado com 1 milhão e 600 mil assinaturas?”
André Garcia, secretário nacional de políticas penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, alerta:
“O desafio que o Estado brasileiro tem com relação a essas organizações vai muito além dessa pacificação entre elas. É questão de consolidação democrática, proteção das instituições democráticas. Hoje, o país tem mais de 70 organizações criminosas, facções criminosas identificadas”, diz David Marques, coordenador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A capacidade de isolamento é necessária para que se interrompa os mecanismos de comunicação e articulação das lideranças”, afirma
O relatório aponta que, com o fortalecimento de ações conjuntas, do PCC e do CV para demandas de presos, “não se deve descartar que essa ‘unificação de trabalhos jurídicos’ ultrapasse a seara judicial”.

Autoridades investigam mensagens de texto que seriam de integrantes das facções falando de uma trégua entre PCC e CV nas ruas. Ainda não há comprovação de que sejam autênticas.
Uma delas, supostamente do PCC, diz que a facção entrou em acordo com o Comando Vermelho e que mortes estão proibidas em todos os estados. Outra mensagem, supostamente do CV, diz que desde o dia 11 deste mês ataques contra o PCC estão proibidos.
“No Rio de Janeiro e em São Paulo já houve essa trégua. A união das duas maiores organizações criminosas do país pode levar a um incremento no tráfico internacional de cocaína, no tráfico de armas para o Brasil. É um compartilhamento de rotas e, sobretudo, fortalecimento ainda maior dessas organizações criminosas”, diz Gakiya.
(Com informações do Fantástico e G1)