Audiência do Plano Diretor: “Me lembrei dos cercadinhos do governo Médici”

Elmar Bones

Apresentei-me como repórter do JÁ e fui barrado na audiência pública para discutir o Plano Diretor de Porto Alegre, sábado 9/8, no auditório Araújo Viana.

Pela manhã foi apresentado o projeto da prefeitura, que está na internet.

Fui à tarde, ouvir o que iam dizer as entidades e as lideranças representativas da comunidade portoalegrense. Havia mais de 50 inscritos para falar.

Cometi o erro de achar que minha credencial de jornalista seria suficiente para ter acesso a uma “audiência pública” onde seria apresentado e debatido um assunto do mais alto interesse público,

Não. Teria que ter pedido antecipadamente uma credencial de imprensa, para receber uma pulseirinha, que me daria acesso ao auditório.

Havia uma barreira de grades e uma  funcionária uniformizada,  com uma única orientação: “Só entra quem tem a pulseirinha”.

Me lembrei do tempo dos “cercadinhos” no governo Medici, onde os repórteres eram confinados nos eventos.

Ninguém da prefeitura que pudesse ser consultado, só os guardas de uma empresa terceirizada para fazer cumprir a determinação inflexível.

Há mais de 30 anos, o jornal JÁ acompanha a questão do Plano Diretor, em Porto Alegre. Fizemos edições especiais, temos trabalhos premiados.

Não tive chance sequer de mostrar o crachá. “Só com a pulseirinha”.

O rigor era geral. Outras pessoas que tinham inscrição, obtida depois do prazo, se aglomeravam reclamando na entrada. Mas a funcionária simplesmente se retirou e só restaram as grades e os guardas para impedir a entrada.

As inscrições para a audiencia foram encerradas, às 11 horas de sexta-feira, porque teriam chegado ao limite da lotação do auditório, três mil lugares. Esperava-se que fosse às 18h o encerramento.

O auditório não esteve lotado em nenhum momento. Pela manhã compareceram pouco mais de 1.500 pessoas.

No início da tarde, segundo informavam na portaria, não havia mais do que 300 pessoas dentro do auditório.

Como se explicam regras tão restritivas de acesso a uma “audiência pública” que vai tratar de um assunto que interessa a toda a cidade?.