“Vendas de Natal aumentam 9,5% este ano, o maior crescimento desde 2014”.
A manchete parecia estar pronta, tal a rapidez com que foi parar na capa dos principais sites de noticias e informativos de rádio e tevê.
Na manhã do dia 26, já era a principal notícia de economia no país, ecoando as previsões de retomada do crescimento, depois de cinco anos de estagnação.
A fonte de todos era a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, que divulgara “uma pesquisa com base em dados de 30.000 pontos de vendas distribuídos por todo o país, representando 400 empresas de varejo”.
“As vendas no período representaram R$ 37 bilhões em injeção de dinheiro na economia do país”, dizia a nota da Alshop,
E completava: “Ao longo do ano de 2019, as vendas cresceram 7,5% no varejo de Shopping, o que corresponde a um faturamento de R$ 168,2 bilhões”.
O presidente da entidade, Nabil Sahyoun, avançava uma explicação, devidamente reproduzida no noticiário:
“As vendas cresceram acima do esperado (…) por fatos importantes como a aprovação da reforma da previdência e uma gestão eficiente da política econômica que permitiu a redução dos juros, a liberação do FGTS e PIS/PASEP mas sobretudo por um ajuste das contas públicas, que mostra a determinação do governo de reduzir gastos permitindo que a economia e o comércio avancem e resultem em novos empregos e aumento nas vendas de forma sustentável”.
A nota da Alshop trazia até detalhes da pesquisa:
“Os presentes mais procurados nos shoppings centers durante o período do Natal foram itens de moda masculina (58% dos consumidores), brinquedos (40%), perfumes e cosméticos (34%), calçados (32%), acessórios de moda (25%), celulares e smartphones (17%), livros (11%), vale presente (9%), joias e bijuterias (9%) e eletrônicos e eletrodomésticos (9%).
Outra entidade, a Associação Brasileira dos Lojistas Satélites, declarou em nota à imprensa que a estatística publicada não teria validade científica. Seria “mera” estimativa”.
“Gostaríamos de estar comemorado tal feito, mas infelizmente não aconteceu, trata-se de informações meramente especulativas sem nenhum critério técnico”, declarou o empresário Tito Bessa Jr.
Ele prometeu recorrer à Justiça para questionar os dados apresentados e a base técnica da pesquisa anunciada.
A Associação Brasileira dos Lojistas Satélites tem 100 marcas associadas que representam 5.000 pontos de vendas, sendo a grande maioria (95%) em shopping centers.
Foi criada em fevereiro deste ano para representar as lojas satélites, que tem mais de 180 metros quadrados. Segundo a associação, há mais de 100 mil lojas deste tipo que geram cerca de 1,2 milhão de empregos diretos e 3 milhões indiretos.