Imperadores, campeã: "Tiramos do lixo o luxo que se viu na avenida"

Mesmo abandonado pelo poder público, o carnaval de Porto Alegre resiste.
Com recursos próprios, 15 escolas desfilaram no Porto Seco no fim de semana.
A Imperadores do Samba foi a grande campeã entre as agremiações da Série Ouro, conquistando 139,8 pontos.
A Estado Maior da Restinga ficou com segundo lugar, com 139,4 pontos, e o Império da Zona Norte, com 132,2 pontos, com a terceira posição.
Sem arquibancadas, com cortes de luz e sem troféus, o prêmio dos vencedores foi a vibração e o choro dos milhares de participantes sob os aplausos do povão.
O presidente da Imperadores, Érico Leoni, desabafou:
” Isso é a força da Imperadores. Não tínhamos recursos e fizemos do lixo o luxo que se viu na avenida”.
O enredo comemorou os 60 anos da escola, fundada em 1959.  Cristiano Oliveira, diretor de Harmonia explicou:
“Fizemos um passeio pela historiografia falando de nossas origens cravadas na África, já que nossa escola é oriunda do Areal da Baronesa, bairro com forte presença da população negra, e chegamos até os dias de hoje com a influência também da cultura gaudéria”.
No desfile vitorioso, foram impressionantes os dois momentos em que a bateria parou e o público cantou o samba enredo à capela. 
” Agora só ficou no Carnaval só quem é apaixonado por essa festa. Eu tenho a Imperadores na veia”, disse Oliveira..
Para o diretor-financeiro da União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (Uecgapa), Rodrigo Costa, a lição que se tira deste Carnaval é de que o povo consegue fazer sua própria festa quando quer:
– Quando se arregaça as mangas, dá certo. E mesmo em março, fora de época, as pessoas compareceram. Foi um Carnaval da comunidade. Vamos para 2020 com fôlego imenso.

Marielle traz uma novidade muito grande, diz sociólogo

Entrevista a Eduardo Maretti, da RBA
Para Laymert Garcia dos Santos, a morte de Marielle provocou um despertar, revelado pela grande repercussão no 14 de março: “as pessoas começaram a se tocar de que não podiam mais tolerar o intolerável”
A enorme propagação de manifestações e atos políticos no Brasil e no mundo, na data em que se completou um ano do assassinato da Marielle Franco (na quinta-feira,14), se deu por características muito especiais da luta da vereadora do Psol no Rio de Janeiro. Na opinião do sociólogo Laymert Garcia dos Santos, há “uma novidade muito grande no que Marielle encarna”.
A novidade é algo que as pessoas e militâncias, no Brasil e no exterior, começam só agora a entender, como que intuitivamente: o significado de Marielle é que ela representa todas as lutas.
“Ela representa a luta de gênero, a luta de classe, a luta de raça e por direitos humanos. E ela faz isso de uma maneira muito própria, que vai além de militância, porque, ao mesmo tempo em que são opções políticas que ela fez, ela encarna isso, cada uma dessas facetas, no próprio modo de existência dela”, diz Laymert.
É paradoxal que o Brasil tenha precisado da morte de Marielle para que houvesse uma reação como a vista no dia 14. “É paradoxal porque indica, de certa maneira, a letargia e o atraso da consciência no Brasil.”
Quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que “ninguém conhecia quem era Marielle antes de ela ser assassinada”, ele tentou reduzi-la a uma dimensão mínima. “Para ele, Marielle era uma líder comunitária de merda, e ‘matável‘ por milicianos. Matável no sentido que Giorgio Agamben fala: uma vida nua que pode ser ‘matada‘ sem consequência”.
Mas, como mostra a realidade, o filho do presidente da República se enganou, as consequências são reais e a reação, impressionante. “E a tendência é só crescer. A luta dela, em vez de acabar com a morte, se multiplicou.”
Qual o significado da repercussão do aniversário da morte de Marielle Franco no Brasil e no mundo?
Marielle traz uma novidade muito grande no que ela encarna: ela representa a luta de gênero, a luta de classe, a luta de raça e por direitos humanos. E ela faz isso de uma maneira muito própria, que vai muito além de militância, porque, ao mesmo tempo em que são opções políticas que ela fez, ela encarna isso, cada uma dessas facetas, no próprio modo de existência dela. Acho que foi por isso que comoveu de maneira tão forte, com a sua morte, não só no Brasil. Mesmo quem não a conhecia, quando conheceu quem ela era, de uma maneira ou de outra, foi tocado por alguma faceta dessas lutas. E essa faceta contamina as outras facetas de luta. Ela é uma espécie de emblema da sinergia dessas lutas. Por isso teve um alcance internacional tão forte, que só tende a crescer.
Mesmo assim, essa reverberação mundial não é surpreendente?
É completamente surpreendente, tanto mais porque não se conhecia a luta dela internacionalmente. Quando as pessoas ficam conhecendo o que ela encarna, o que encarnava, o que era ela com a luta dela, entendem que extrapola o Brasil, que a luta é muito maior do que uma luta só no Brasil. Ela (e sua luta) é totalmente brasileira, mas é internacional ao mesmo tempo. A repercussão foi enorme por causa desse amálgama. Ela é um emblema, e um emblema de que isso é possível. É um emblema de que é possível essa sinergia de lutas, num modo de vida, num modo de existência.
O contraponto disso é quando Eduardo Bolsonaro, recentemente, falou que “ninguém conhecia quem era Marielle antes de ela ser assassinada”, tentando reduzi-la a uma dimensão mínima, como se dissesse que “ela ficou conhecida porque deram mídia para ela”. Ele mostra a incompreensão da dimensão do que é isso que estou falando. Porque, para ele, Marielle era uma líder comunitária de merda, e “matável”. Matável por milicianos, no sentido que Giorgio Agamben fala: uma vida nua que pode ser “matada” sem consequência.
E acontece que, justamente pelo modo como ela encarnava todas essas lutas, essa vida que era “matável” se tornou um emblema da sinergia de lutas e ganhou essa dimensão. E a tendência é só crescer. A luta dela, em vez de acabar com a morte, se multiplicou.
Não é paradoxal que o Brasil, depois de todo o processo pelo qual passou de 2015 e 16 para cá, tenha precisado de uma morte como a dela para que houvesse uma reação desse nível?
É paradoxal porque indica, de certa maneira, a letargia e o atraso da consciência no Brasil. O atraso e a maneira como se concebe tudo isso fragmentado, como opções políticas apenas, e não como modos de existência. E, como opções fragmentadas, ou você briga por classe, ou por raça, ou você briga no feminismo, ou por gênero LGBT etc. E não se entende que tem uma ligação profunda entre todas essas lutas. Foi preciso que alguém encarnasse isso para as pessoas começarem a se tocar.
Segundo o jornal The New York Times, o assassinato de Marielle acabou por provocar uma “urgência de vida ou morte nos movimentos de direitos que ela adotou”. Isso tem a ver com sua análise?
Acho que tem, sim, no sentido de ter um despertar. Porque o limite foi ultrapassado, mas o limite que foi ultrapassado foi o limite do intolerável. Enquanto essas lutas estavam todas divididas em caixas, o limite do intolerável não tinha sido ultrapassado. Com a morte dela, as pessoas começaram a se tocar de que não podiam mais tolerar o intolerável.
A morte mostrou como a extrema-direita reagiu, comemorando uma execução, e por outro lado despertou esse sentimento de se ter ultrapassado o limite. Mas é porque era essa figura que era emblemática, e as pessoas nem sabiam que existia isso, esse feixe de lutas que podia ser exercido dessa maneira. Você vê que passou um ano e só cresceu, de lá para cá, a coisa toda de Marielle.
A repercussão internacional ajudou a chegar aos suspeitos?
Acho que a pressão internacional foi forte e vai aumentar. Uma representante da ONU (Birgit Gerstenberg, representante para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) já indicou isso, que é preciso encontrar os mandantes. Essa historinha de que só apontar os executores satisfaz… Não satisfez e não vai satisfazer. A pressão só vai aumentar. E essa versão que tentaram apresentar, de que foi um crime de ódio e ponto, não colou. É importante a pressão internacional, não só porque mostra o efeito no mundo desse processo, mas porque reforça também internamente essa repercussão.
Acha que vai se chegar aos mandantes?
Eu acho que precisa chegar aos mandantes. Porque enquanto não se chegar a eles essa história não terminou. A pressão precisa ser muito forte para se chegar aos mandantes, sejam eles quem forem.

Olavo diz que generais querem restaurar 64 e usam Bolsonaro como "camisinha"

Em entrevista ao Valor, no sábado à noite, em Washington, o guru da familia Bolsonaro , o filósofo Olavo de Carvalho repetiu sua avaliação, de que o presidente está de mãos amarradas por militares próximos com “mentalidade golpista”.
Advertiu sobre a necessidade de uma mudança de rumo para o governo não acabar daqui a seis meses. Ele chamou esses militares, que vê associados à mídia oposicionista, como um “bando de cagões”.

– Se tudo continuar como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal. É só continuar assim. Mais seis meses, acabou – disse.
Para ele, Bolsonaro é um grande homem, mas está sozinho e cercado por traidores fardados. “Ele não escolheu 200 generais. Foram 200 generais que o escolheram. Esse pessoal quer restaurar o regime de 1964, sob um aspecto democrático.,Eles estão govern\ando usando o Bolsonaro como camisinha”
Olavo fez menção especificamente ao vice-presidente Hamilton Mourão.
– Não digo que seja realidade, mas o que eles querem. O Mourão disse isso. Que voltaram ao poder pela via democrática – disse.
Então, reforçou o ataque:
– “Se não é um golpe, é uma mentalidade golpista.
Olavo fez esses comentários à saída de uma sessão do filme “Jardim das Aflições”, sobre suas ideias, em evento organizado pelo estrategista americano Steve Bannon e pelo executivo do mercado financeiro Gerald Brant. Foi uma tentativa, segundo Bannon, de apresentar o pensamento de Olavo para fora da comunidade brasileira.
Questionado se falará sobre isso com Bolsonaro no jantar deste domingo à noite com expoentes da direita americana, na residência do embaixador brasileiro em Washington, Olavo disse que esse não é o ambiente adequado.

O filósofo comentou ainda a crise no Ministério da Educação e fez questão de mostrar distanciamento dos episódios envolvendo o ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Ele afirmou ter tido apenas duas conversas até agora com Vélez.
– Uma para cumprimentá-lo e outra para mandá-lo enfiar o ministério no cu.
Olavo reiterou que não se vê como guru do governo Bolsonaro e atacou a mídia.
– O sonho dos jornalistas é exercer influência no governo. Acham que eu sou igual a eles? Isso é muito vil, é muito miserável para um homem como eu.
De acordo com ele, suas pretensões são maiores.
– Eu quero mudar o destino da cultura brasileira por décadas ou séculos à frente. Estou tentando formar uma geração de intelectuais sérios, que vão formar outras gerações de intelectuais sérios. Eu sou Olavo de Carvalho, sou escritor, não preciso de governo, de cargos no governo.
* Do Valor Econômico

Fiergs orienta sindicatos patronais sobre negociações coletivas

Dia 25 de março, com uma “ampla programação voltada a orientar representantes de sindicatos industriais” ocorre o Seminário de Negociações Coletivas 2019.
Começa às 13h, na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS).
A realização é da FIERGS, por meio dos Conselhos de Relações do Trabalho (Contrab) e de Articulação Sindical e Empresarial (Conase) da entidade.
As principais cláusulas normativas para as negociações coletivas, contribuição negocial e projeções econômicas são alguns dos temas a serem debatidos durante o evento, que tratará também da atuação do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região na mediação e julgamentos de dissídios coletivos após a vigência da Lei nº 13.467/2017, da Modernização Trabalhista.
A inscrição é gratuita e as vagas são limitadas.
(Com informações da assessoria)

"Marielle Franco se tornou um grito de guerra num Brasil polarizado"

Reportagem do The New York Times sobre as manifestações do 14 de março.

 A questão paira sobre a cidade: “Quem matou Marielle Franco?”

É criada em grafite em praticamente todos os bairros, estampada em camisetas e escrita em faixas exibidas desafiadoramente em manifestações de massa.

Esta semana, poucos dias antes do aniversário de sua execução, os promotores deram uma resposta parcial, acusando dois ex-policiais de realizar a matança. As principais questões do caso – incluindo quem ordenou o assassinato e por quê – permanecem sem resposta.

Um ano depois de sua execução, o pedido por justiça para Franco – uma vereadora negra, homossexual e feminista do Rio de Janeiro que foi criada pobre – se transformou em um grito de guerra em uma nação profundamente polarizada para aqueles que se sentiam representados por ela.

Seu nome e sua imagem se tornaram uma antítese das forças políticas dominantes no Brasil, enquanto o presidente de direita, Jair Bolsonaro, assume o cargo.

Bolsonaro, ex-pára-quedista conhecido por fazer comentários ofensivos sobre mulheres, negros e gays, fez campanha prometendo melhorar a segurança com medidas que incluem a facilitação para obter porte de armas e facilitar a morte de suspeitos pela polícia.
Um dos suspeitos do assassinato de Franco, Élcio Vieira de Queiroz, postou uma foto em sua página no Facebook, na qual ele aparece em um abraço amigável com o presidente Jair Bolsonaro.
Mas os críticos temem que suas políticas possam piorar os aspectos da violência no Brasil, que inclui um número impressionante de pessoas mortas pela polícia, uma taxa de assassinatos de mulheres que os especialistas classificam como alarmante e uma segmentação sistemática de gays e transexuais.

O assassinato de Marielle Franco – que representou muitos desses grupos que agora se sentem ameaçados – chocou e dividiu o Brasil. Mas também injetou uma sensação de urgência de vida ou morte nos movimentos de direitos que ela adotou.

Também ajudou a impulsionar as carreiras políticas das mulheres negras, incluindo três que agora se sentam na Câmara onde Marielle, até sua morte, ficou sozinha.

“Marielle ainda representa, mesmo que apenas na memória, uma ameaça ao status quo”, disse Renata da Silva Souza, ex-chefe de gabinete, que foi uma das mulheres negras eleitas para a Câmara Municipal no ano passado.

“Ela encarna as pessoas que podem ser mortas” no Brasil com impunidade, disse Souza.

Marielle Franco morreu no ano passado na noite de 14 de março no Rio de Janeiro, quando um atirador disparou várias balas no carro em que ela estava após sair de um evento de trabalho.

Ela foi morta instantaneamente. Assim como o motorista, Anderson Gomes.

Em poucos dias, Franco, 38 anos, uma estrela política ascendente de um partido socialista que tinha pouco reconhecimento de nome fora dos círculos políticos em sua cidade natal, tornou-se um símbolo global de resistência à crescente maré conservadora. O que tornou a matança particularmente chocante para muitos brasileiros foi o quão raro fenômeno ela era.

Nascida e criada na favela da Maré, um distrito de baixa renda no norte do Rio de Janeiro, Franco se tornou uma crítica à brutalidade policial e à negligência do governo em áreas pobres de sua cidade enquanto cursava mestrado em políticas públicas.

Ela então trabalhou por uma década na equipe de um vereador, ajudando-o a investigar milícias, grupos paramilitares altamente armados formados por ex-militares e policiais ativos, antes de montar uma candidatura bem-sucedida para seu próprio assento em 2016.

O auditório estava repleto de bandeiras do orgulho gay e gritos de alegria quando Franco fez seu discurso de posse em fevereiro de 2017, parecendo ao mesmo tempo radiante e um pouco surpresa com a atenção.

Ser negra, manter fortes laços com a favela onde foi criada e ser aberta em relação ao mesmo sexo fez com que Franco fosse única na política brasileira – e um modelo para as pessoas que não se vêem representadas em um sistema dominado por homens brancos.

“Ela foi uma inspiração”, disse Dani Monteiro, outra vereadora negra eleita após a morte de Franco. “De repente você não está mais invisível em um espaço onde sempre fomos invisíveis.”

Ao longo de sua vida, Dani Monteiro disse que se sentia cercada por pessoas brancas e de pele mais clara que instintivamente relegavam pessoas como ela ao segundo plano.

“As pessoas negras são úteis para servir café ou limpar o chão”, disse ela, descrevendo a sensação de exclusão que era uma constante em sua vida. “Se eles não fizerem isso, eles são criminosos.”

Durante seu mandato na Câmara, Franco condenou a decisão do governo federal de fazer a intervenção militar na Segurança no Estado e continuou a lutar contra a brutalidade policial e a presença de milícias no Rio.

Mas colegas e colegas ativistas dizem que não viram sinais de que seu trabalho político a colocasse em risco iminente.

Enquanto o choque sobre a morte diminuía, investigadores e aliados de Franco começaram a suspeitar que o crime havia sido realizado por milicianos.

“Milícias no Rio de Janeiro constituem hoje uma importante estrutura de poder com tentáculos em diferentes esferas de poder”, disse Pedro Strozenberg, ouvidor do Conselho Superior da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

Bolsonaro e seus filhos, que também são políticos, mantiveram-se em silêncio sobre o crime, o mais chocante assassinato político no Brasil em anos. Mônica Benício, companheira sobrevivente de Franco, disse que isso era preocupante, mas não surpreendente.

Seu silêncio, ela disse, é uma parte fundamental de um acerto de contas para o Brasil que é necessário, embora doloroso.

“Durante anos, vendemos uma imagem de cartão-postal do paraíso, o país do carnaval, de pessoas felizes e cordiais”, disse Benício. “A execução de Marielle e a eleição do atual presidente revelaram ao mundo que somos racistas, que somos sexistas, misóginos, homofóbicos”.

“Precisamos começar a lidar com isso”, disse ela. “Precisamos começar a desconstruir um sistema político que sempre foi dominado por homens brancos”.

Bolsonaro e seus filhos estão sob investigação sobre suas perspectivas e laços com as milíciasNo passado, o presidente defendeu as milícias como uma forma de impor uma ordem paralela mas de punho de ferro. Recentemente, no ano passado, ele disse em entrevista a uma rádio brasileira que as áreas controladas por esses grupos paramilitares “não têm violência”.

O grito ecoa nas ruas: "Quem mandou matar Marielle?"

A avenida Borges de Medeiros, no centro histórico de Porto Alegre, tornou-se rua Marielle Franco no anoitecer desta quinta-feira, 14 de março.
As palavras de ordem ecoaram pelos arcos do viaduto: “Quem mandou matar Marielle?”.
No ato que marcou um ano do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes,  milhares de militantes de  todas as idades e tendências diversas juntaram-se cidadãos sem bandeiras partidárias. Não foram ouvidas buzinas em protesto ao interrompimento do trânsito, e uma viatura da polícia militar seguiu o cortejo em silêncio.
A imagem do rosto de Marielle passou pela avenida como um estandarte.
Manifestações exigindo esclarecimentos e justiça ocorreram em todo o país e em diversas cidades do mundo.
“Os que mataram não imaginavam que as sementes de Marielle ocupariam as ruas quantas vezes fossem necessárias até conseguirmos justiça”, discursou em Porto Alegre a deputada federal Fernanda Melchionna, do Psol, mesmo partido de Marielle.

Atos e eventos clamando pela vida, pela democracia e pela justiça, se alastraram por várias cidades do Brasil e do mundo. Os eventos acontecem não apenas na data do crime, mas se estendem até a semana que vem, em várias cidades do planeta.
Confira agenda de atos por Marielle no Brasil e no mundo.
Praça Luís de Camões, em Lisboa

Em cidades como Lisboa, Buenos Aires, Berlim, Amsterdã, Genebra, Bolonha, Madri, Melbourne, Londres, Nova York, Boston, Los Angeles, Montreal, Ottawa e Montevidéu houve manifestações com o mesmo mote: “Quem mandou matar Marielle?”
O ex-candidato à presidência da República pelo Psol, Guilherme Boulos, também lembrou que o assassinato da vereadora completou um ano sem que se soubesse quem foram os mandantes do crime. “Há poucos dias identificaram os suspeitos do assassinato. Mas não basta saber quem apertou o gatilho. É preciso saber quem mandou matar Marielle” registrou. “É isso que este ato aqui em São Paulo e manifestações em todo o Brasil estão querendo saber.” Porque “a morte de Marielle foi um crime político”. 
O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, saudou a “coragem dos que enfrentam os poderosos e nunca ficam do lado dos que pisam nos pobres”. O religioso clamou para que a população defenda os oprimidos, como fazia a vereadora. “Defendam aqueles que são exterminados pelo preconceito e pela violência. Marielle está viva, Anderson (o motorista da vereadora, também morto em 14 de março de 2018) está vivo, junto com todos os que lutam.”

Monica Leal diz que prefeitura atrasa discussão do Plano Diretor na Câmara

Em palestra na Associação Comercial de Porto Alegre, na terça-feira,12, a presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Mônica Leal (PP) reconheceu atraso nas discussões para atualizar o Plano Diretor de Porto Alegre até 2020, como prevê a lei.

Lei maior da cidade, que regula a ocupação do espaço urbano em todo o município, o Plano Diretor é revisado a cada dez anos. O atual consumiu seis anos de discussão até ser aprovado em 2010. O novo, que tem que ser votado no ano que vem, ainda não entrou em pauta. E pelo que disse a presidente do Legislativo aos empresários dificilmente isso vai acontecer este ano.
A Prefeitura, segundo informou, ainda vai contratar uma consultoria para auxiliar no processo.

Celular forneceu a pista para polícia chegar aos assassinos de Marielle

Foram presos na madrugada desta terça-feira dois suspeitos pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Rio.
Ronnie Lessa, de 48 anos, sargento reformado da PM, teria sido o autor dos disparos.  Elcio Vieira de Queiroz, ex-PM expulso da corporação, o motorista do carro, um Cobalt prata, usado no atentado.
O crime completa um ano nesta quinta-feira, 14 de março de 2019.
Eram quatro horas da manhã quando uma força-tarefa da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado chegou ao endereço do ex-sargento Lessa,  na barra da Tijuca, no mesmo condomínio de classe média alta onde o presidente Jair Bolsonaro tem sua casa.
O presidente também aparece numa foto no Facebook do ex-PM Queiroz, o outro suspeito preso.
Segundo as duas promotoras, Simone Sibilio e Letícia Emile, que comandam as investigações, o crime foi “meticulosamente” planejado durante três meses.
Além das prisões, a operação realiza mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados para recolher documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.
A principal prova colhida pelos investigadores saiu da quebra do sigilo dos telefones celulares dos dois suspeitos.
Ao verificar os arquivos acessados por Lessa pelo celular, antes do crime, armazenados na “nuvem” (dados que ficam guardados em servidor externo e podem ser vistos remotamente), eles descobriram que o suspeito monitorava a agenda de eventos de que Marielle participava.
A polícia descobriu que Lessa usava na época do crime um telefone “bucha” (comprado com o CPF de terceiros, para não ser rastreado).
Já o aparelho registrado na operadora telefônica em nome do próprio sargento foi usado no dia do crime por uma mulher em um bairro da Zona Sul. Foi, segundo os investigadores, uma tentativa de despistar a polícia.
Para chegar ao celular “bucha” usado pelo PM no local do crime, os investigadores  fizerem o que chamam de “triangulação de antenas”, ou seja, levantar as ERBs da região do crime.
O resultado deste levantamento dos telefones ligados na região onde a vereadora passou, da saída da Câmara dos Vereadores até o local da emboscada, no Estácio, gerou uma extensa lista. “Era como achar uma agulha no palheiro”.
Por vários meses, os técnicos da polícia trabalharam na pesquisa.
Uma imagem de câmeras de segurança da Rua dos Inválidos, no Centro, no dia  do crime, foi decisiva na identificação.
A imagem mostra um ponto luminoso (que seria um celular ligado) dentro do Cobalt prata dos executores. O carro deles estava estacionado perto da Casa das Pretas, onde Marielle participava como mediadora de um debate.
Com o registro do horário que o possível aparelho estava em uso, a polícia fez uma nova triagem na lista de celulares já existente até descobrir que um destes telefones fez contato com uma pessoa relacionada a Lessa. Daí, a polícia partiu para buscar os dados na nuvem do policial.
Além da interceptação dos dados digitais dos suspeitos,  também num trabalho de inteligência e de depoimentos de informantes, inclusive presos no sistema carcerário, levaram aos criminosos
Falta ainda, segundo os investigadores, identificar uma terceira pessoa que segundo todos os indícios estava dentro do veículo dos assassinos.
Também reforçou a suspeita sobre o sargento Lessa, o atentado que ele sofreu no dia 27 de abril, no mês seguinte ao crime. Ele e um amigo bombeiro foram baleados no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
Um homem de motocicleta teria abordado o carro onde viajavam, mas os dois reagiram e balearam o criminoso, que fugiu.
Na época, a Polícia Civil considerou uma tentativa de assalto. Mas os investigadores do caso Marielle consideraram a hipótese de uma tentativa de queima de arquivo.
Lessa, baleado, foi levado ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas teria deixado logo a unidade sem prestar esclarecimentos.
Em 2009, Lessa foi vítima de um atentado, em Bento Ribeiro, quando uma bomba explodiu dentro da Toyota Hillux blindada que dirigia. Ele escapou da morte, mas perdeu uma das pernas, e desde então usa uma prótese.
Mas ele era considerado ficha limpa, sem ter sido investigado em  nenhum momento.
Ronnie Lessa, no entanto, era conhecido nos meios policias. Tinha fama de exímio atirador, associada a crimes de mando pela eficiência no gatilho e pela frieza na ação.
Egresso dos quadros do Exército, entrou para a Polícia Militar do Rio em 1992, atuando principalmente no 9º BPM (Rocha Miranda), até virar adido da Polícia Civil, trabalhando na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), na Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
A experiência como adido na Polícia Civil foi o motor da carreira mercenária de Lessa, segundo os investigadores.
A polícia trabalha agora para identificar o mandante ou mandantes do crime.
(Com informações do G1 e Extra)

Fantasia inspirada nos depósitos de Queiroz vence concurso no Rio

A fantasia do caixa eletrônico e 48 envelopes para depósito foi a mais votada pelos leitores e ganhou o tradicional Concurso de Fantasia Serpentina de Ouro, do jornal o Globo, no Rio. GLOBO.
A inspiração da fantasia são as “movimentações financeiras atípicas” de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
A ideia foi do professor Faber Paganoto, a partir de um meme no Twitter que dizia: ” somos todos depósitos do Bolsonaro”.

— A escala da fantasia deu uma dimensão maior do problema. Acho que por isso a fantasia fez tanto sucesso — conta o professor.
Para o concurso, foram selecionadas dez fantasias entre as inscritas no Instagram e  as selecionadas nas ruas pela equipe de repórteres que fez a cobertura do carnaval de rua no Rio. A votação foi feita pelos leitores no site do  jornal.

Guru dos Bolsonaro diz que "governo está repleto de inimigos do presidente"

Apontado como “guru” da família Bolsonaro, o professor Olavo de Carvalho trouxe a público uma crise no interior do governo de Jair Bolsonaro.

Em post em sua página no Facebook, Carvalho recomendou aos alunos de seu curso online a deixarem o governo, no MEC específicamente, onde sua influência começa pelo ministro Vélez Rodrigues, que foi indicado por ele.
A recomendação também aparece na conta de Twitter atribuída ao ideólogo:
Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento. Mas agora já não posso me calar mais. Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo — umas poucas dezenas, creio eu — deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos”. 
O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, escreveu..
Em seguida em novos tuítes, Olavo diz que “oficiais militares induzem o ministro Velez a tomar atitudes erradas e depois lançam a culpa nos meus alunos”. “São trapaceiros e covardes”.

Ressalvou, porém, que “nenhum Olavette” havia, até então, sido demitido do Ministério da Educação. “Foram apenas transferidos para cargos politicamente inócuos”.
Ainda no sábado, o assessor especial do Ministerio da Educação, Silvio Grimaldo, um dos ex-alunos de Olavo de Carvalho, disse que há um “expurgo” em andamento no setor.

Em sua página no Facebook, Grimaldo, um dos prováveis exonerados, afirmou: “O expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora. Nem as trairagens do Mourão ou do Bibiano chegaram a esse nível”.

O traidor seria o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, indicado para o cargo por Olavo.
Além de Grimaldo, Tiago Tondinelli, advogado e também ex-aluno de Olavo de Carvalho, deverá deixar o cargo de chefe de gabinete do ministério.
Tondinelli era uma das pessoas mais próximas de Vélez Rodríguez, até o momento.
Ao contrário de Grimaldo, ele não quis comentar a sua saída. Disse, apenas, que ela estava prevista já antes dos comentários de Olavo de Carvalho e que a razão era pessoal.
(Com informações da revista Forum)