Eleições 2020: Milícias diversificam negócios e consolidam base política

Foto: Reprodução Facebook

Depois de dois ou três dias de manchetes aterradoras no início do mês, o tema das milícias foi substituído por um “balão de ensaio” do presidente, sobre privatizações de serviços do SUS.

Em seguida veio a declaração sobre a “boiolice dos maranhenses” que tomam guaraná cor de rosa.

Depois, a voragem do instantaneísmo remeteu o tema para as notas secundárias, os antigos “pés-de página”.

Que diziam as manchetes aterradoras?

Uma, com base em pesquisa, dizia que os bairros onde há operações milicianas já representam 57% do território do Rio de Janeiro.

Outra, um estudo da Polícia Civil mostrando que a milícia trabalha para eleger candidatos em 14 municípios do Estado do Rio, além da capital.

Um pesquisador disse que a milícia hoje está pulverizada mas trabalha para ter um comando único no Rio.

O sociólogo José Claudio Alves, especialista em grupos paramilitares, chama atenção para a fusão da milícia com o tráfico que, no início, ela dizia combater, dando origem à “narcomilícia”, termo disseminado, segundo o sociólogo, pelos próprios policiais, como forma de descolar a imagem da estrutura policial da milícia.

Neste sábado, 07, o G1 informou, em nota secundária, que comerciantes de vários bairros da Zona Norte do Rio estão reclamando de uma taxa extra que a milícia local está cobrando.

Uma “caixinha de Natal”, para pagar o 13º dos “soldados” da milícia, entre eles o cobrador que recebe a contribuição mensal dos comerciantes.

Eles dizem que de um mês para o outro, o boleto da milícia passou de R$ 75 para R$ 105.

Moradores de Brás de Pina também deram depoimentos, com garantia de anonimato:

“A gente já paga mensalidade e vão cobrar uma extra dizendo é caixa de Natal, o famoso 13º deles, né? Como se a gente tivesse contratado eles e tivesse obrigação de sustentar o Natal deles”.

Comerciantes de Rocha Miranda também relatam a extorsão. Um deles disse ao G1: “Quem mora na região também não tem escolha. Eu moro numa comunidade aonde os milicianos prevalecem, dominam tudo aqui: gás, água, internet, TV a cabo. Eles que escolhem o que a gente pode colocar”.

Na Zona Oeste, a polícia fez uma operação na sexta-feira (7) e estourou mais uma distribuidora de botijão de gás e uma central clandestina de TV a cabo e internet.

Os investigadores descobriram que os milicianos expandiram os negócios para o mercado da beleza. Uma fábrica clandestina de cosméticos abastecia o comércio nos bairros de Santa Cruz e Guaratiba, sem nenhum controle de qualidade ou fiscalização.

A operação também encontrou uma loja de roupas com produtos de grife falsificados e uma fábrica clandestina de gelo. Prendeu quinze suspeitos, a maioria soldados da milicia.

Relatos de moradores da Zona Norte também denunciam o assédio das milicias: “Eu deixo aqui o meu relato e a minha indignação a respeito desse 13º salário dos milicianos que nós temos que pagar. O nosso já está difícil. Muita gente aqui não está trabalhando, está recebendo o auxílio emergencial, está em casa. E ainda tem que se preocupar com mais esse gasto, mais essa conta”.

A polícia informa que já fez 14 operações este ano, prendeu 75 milicianos e que 17 suspeitos “morreram em confrontos”.

Na sexta-feira, 6, agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, cumpriram dez mandados de busca e apreensão em localidades de Nova Iguaçu e Xerém, distrito de Duque de Caxias.

Eles buscavam suspeitos do assassinato do candidato a vereador conhecido como Domingão, de 57 anos, morto a tiros no bairro do Cabuçu, em Nova Iguaçu, no dia 10 de outubro.

Domingão era irmão do policial militar Andre Barbosa Cabral, vulgo Cabral, preso pela Polícia Civil em julho deste ano e líder da milícia mais antiga que atuava na região.

O crime é atribuído ao grupo de Ecko que expande seus negócios para aquela região da Baixada Fluminense. Domingão foi o 23º candidato morto no Rio desde 2018.

As investigações visam também candidatos apoiados pelas milícias, que barram concorrentes na região.

Por enquanto, o noticiário relativo a grupos paramilitares clandestinos, as chamadas milícias, está focado no Rio de Janeiro. Mas o fenômeno, cujas dimensões recém estão sendo conhecidas, não se restringe ao Rio.

Há registro de grupos milicianos em 12 Estados. Em Porto Alegre, uma operação há seis meses prendeu integrantes de um grupo que extorquia lojistas do centro. Comerciantes relatam que a cobrança foi retomada uma semana depois.

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