Por Tiago Lobo
Dois casos aparentemente inspirados na tragédia de Suzano, em São Paulo, estão sendo investigados pelas autoridades policiais do RS.
O ataque ocorrido na escola paulista Raul Brasil na quarta-feira, 13, deixou 10 mortos e 11 feridos, por dois jovens encapuzados que abriram fogo nas dependências da instituição.
O primeiro caso foi mencionado no dia 19 de março, pela delegada Nadine Farias, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em palestra na Associação Comercial de Porto Alegre. Ela revelou que um suspeito com características semelhantes aos jovens que praticaram o atentado em SP foi preso no interior do RS. Mas evitou dar mais detalhes: “Não informamos à imprensa para evitar pânico”, explicou.
O caso a que a delegada se referia ocorreu menos de um dia após o ataque em SP.
Um jovem de 21 anos, residente de Santa Rosa, no noroeste do RS, publicou ameaças no seu Facebook, na noite do dia 14, onde dizia:
“Pêsames aos mortos, mas parabéns aos heróis, sabem quem são? (…) São os dois garotos que praticaram tal ato (…) corram mais rápido que as minhas balas”.
As ameaças em alusão à tragédia de Suzano geraram pavor entre os alunos do Centro Tecnológico Jorge Logemann, em Horizontina, cidade vizinha de Santa Rosa, com 20 mil habitantes, onde o rapaz estudou até o ano passado.
Na manhã seguinte muitos alunos não foram à escola, o que levou a diretoria a registrar um Boletim de Ocorrência. No mesmo dia foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão na casa do suspeito que resultaram na sua detenção, apreensão de anotações, touca ninja, bandana de caveira (como a utilizada em Suzano), um livro, HD e celulares.
Detido e levado para prestar depoimento na delegacia de pronto atendimento de Santa Rosa, o jovem foi liberado e responderá por “apologia ao crime”.
O vice diretor da escola, Wilson Hélio Hirt, disse ao JÁ que o jovem detido nunca apresentou sinais de violência enquanto era aluno. “Acho que não fez por maldade, foi ingenuidade”, afirmou.
Ameaça assombra universidade
Às 21h20min do dia 13/03/2019, poucas horas após a tragédia paulista, outro jovem publicava mensagens de ódio e ameaças no Dogolachan, um fórum anônimo localizado na primeira camada da chamada Deep Web, uma região da internet que não está visível aos operadores de busca e necessita de um navegador específico para ser acessada.
No post original o usuário sentencia:
“(…) já ocorreu em creche, escola infantil, ensino médio. Quero ser o primeiro a fazer uma chacina numa universidade. Quem viver, verá, e quem morrer é escória.”
No dia 18/03 mais uma mensagem anuncia o seu alvo:
“Fiquem ligados nas notícias do Rio Grande do Sul até o final do mês irei gerar o maior lulz que esse país já presenciou (…)”
Lulz, na linguagem dos frequentadores desse fórum é uma corruptela da gíria norte-americana lol (laughing out loud, ou “rindo alto”) que geralmente é utilizada para expressar alegria pelo sofrimento alheio.
As mensagens que seguem são de usuários comemorando e incentivando o ataque para planejar o que este grupo chama de atcvm sanctvm. Uma ação terrorista para “rir do sofrimento da sociedade”.
Um membro sugere o ato no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como seu “presente de aniversário“, e teoriza que a segurança é “meramente patrimonial” e que o seguranças seriam assaltados por “negros”, visto que Brigada Militar não poderia entrar no local, o que não é verdade.
Outro pede “mate as vadias das exatas no campus do vale”.
Suspeita-se que Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, os atiradores da tragédia de Suzano, tenham sido frequentadores do mesmo fórum em que estas ameaças foram publicadas.
As mensagens se disseminaram rapidamente pelo whatsapp e grupos de alunos no Facebook. No dia 20 a insegurança já havia tomado conta de estudantes e funcionários.
Às 9h54min daquela quarta-feira um professor do Instituto de Matemática e Estatística da universidade, que pediu para não ser identificado na reportagem, disparou um comunicado interno para colegas explicando que apesar da inverossimilhança das “ameaças”, é necessária “atenção especial ao ambiente de trabalho (…) em relação à segurança”.
Às 16h a reitoria estava em uma reunião a portas fechadas para tratar exclusivamente do caso e já havia acionado a ABIN, Polícia Federal, Polícia Civil e o setor de Inteligência da Brigada Militar.
A Brigada Militar reforçou a segurança no Campus do Vale e segundo a assessoria de comunicação social da Polícia Federal “foi determinada a instauração de inquérito pela Delegacia de Defesa Institucional, unidade especializada na investigação desse tipo de delito. A área de inteligência da Polícia Federal está trabalhando integrada com a Secretaria de Segurança Pública do estado e com a Polícia Civil e Brigada Militar”.
O JÁ segue acompanhando os desdobramentos do caso.
Que barbaridade isto. O que está havendo? parece que a humanidade está involuindo. O sentimento de amizade, respeito, carinho pelas pessoas está sendo substituído por ódio. Para esse pessoal, a vida parece um “farcry” onde o que vale é exterminar o inimigo.