A privatização da CEEE, que o governador Eduardo Leite está executando em fatias, encerra um ciclo de seis décadas, iniciado quando o então governador Leonel Brizola encampou a subsidiária da americana Bond&Share, em 1959.
O patrimônio da empresa norte-americana no Rio Grande do Sul foi incorporado ao Estado pelo valor simbólico de 1 CR$ (um cruzeiro, um real seria hoje).
A encampação foi o primeiro ato do então governador, de 36 anos, e teve repercussão, internacional. Nem Fidel Castro, que tomara o poder em Cuba, ousara fazer isso até então.
Foi o ponto de partida de um conjunto de intervenções do Estado para impulsionar a economia estagnada, principalmente pela precariedade da infraestrutura: transportes, energia, comunicações.
A Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), constituída no processo que se seguiu à encampação, foi a faísca que deflagrou um longo ciclo de industrialização no Rio Grande do Sul, de 1960 a 1980.
A Bond&Share distribuía energia para Porto Alegre e Canoas. O resto do Estado vivia às escuras, com precárias usinas a óleo. Foi a CEEE que levou luz a todo o Estado.
Neste ciclo surgiram, além da CEEE e da Companhia Riograndense de Telecomunicações, a Refinaria Alberto Pasqualini, Aços Finos Piratini e o BRDE, que embora seja um banco de fomento interestadual, foi iniciativa de Leonel Brizola.
O fim da CEEE se dá no momento em que o Rio Grande do Sul tem, como há 60 anos, sua economia estrangulada pela falta de investimento nas áreas vitais – transporte, energia, comunicações.
Ao contrário do jovem governador de 1959, o jovem governador de 2021 aposta no caminho oposto: desestatização para destravar os investimentos e realimentar um novo ciclo econômico com capitais privados.
Ou seja: o Estado como indutor do desenvolvimento dá lugar ao Estado gestor, que regula e fiscaliza, apostando nas forças do mercado para promover o crescimento.