Porto Alegre foi a capital brasileira com maior número de abstenções nas eleições municipais de 2024.
No segundo turno, não compareceram às urnas 381.965 eleitores, 34,83% do total de moradores aptos para votar na cidade. No Brasil, o índice foi de 29,26%.
Sebastião Melo foi reeleito com 406 mil votos, apenas 25 mil votos a mais dos que ficaram em casa. A segunda colocada, Maria do Rosário, fez 254.128 votos, ou seja, perdeu para as abstenções por 127.837 votos.
Mais do que um recorde nacional, a alta abstenção em Porto Alegre este ano sinaliza uma tendência que já preocupa o Tribunal Regional Eleitoral: o desinteresse do eleitorado acelerou e vem aumentando nos últimos 24 anos.
Na eleição deste ano, o índice de abstenções foi o maior desde 1951, superando, inclusive, o registrado em 2020, quando as eleições foram realizadas em plena pandemia de Covid-19.
A série histórica mostra uma curva ascendente nas abstenções em Porto Alegre desde o ano 2000 (veja a série, abaixo). É uma tendência que destoa do histórico eleitoral da cidade.
Porto Alegre já teve abstenção de 49%, como aconteceu na eleição de 1947, a primeira depois de 15 anos da ditadura do “Estado Novo”. Nas duas eleições seguintes, como numa ressaca democrática, as abstenções ainda se mantiveram acima dos 30%.
Daí em diante, o índice de abstenção só iria bater nos 20% em 1968, em outro momento de sufoco político, depois do golpe de 64.
Em 1955, por exemplo, quando um racha no Partido Trabalhista alimentou um dos pleitos mais disputados na história eleitoral de Porto Alegre, as abstenções ficaram em apenas 9%.
Nessa época a principal força política no Rio Grande do Sul era o Partido Trabalhista Brasileiro, fundado por Getúlio Vargas e que tinha como lideranças Jango Goulart e Leonel Brizola.
Sentindo-se boicotado pela cúpula do partido, José Loureiro da Silva saiu do PTB e filiou-se ao Partido Democrata Cristão (PDC) para concorrer contra Wilson Vargas, o candidato de Brizola. Ganhou Loureiro, por 17 mil votos.
Com uma população de 542.680, a cidade tinha 213.427 eleitores inscritos. Não chegou a 20 mil o número dos que estavam aptos e não foram votar.
O menor índice de abstenção, no entanto, foi alcançado em 1988, quando uma surpreendente vitória de Olívio Dutra inaugurou um ciclo de administrações petistas que durou 16 anos (1988/2004). O percentual dos que não foram às urnas ficou em 7,03%, o mais baixo em toda a história eleitoral da cidade.
Abstenções em Porto Alegre: série histórica (1947/2024)
1947 – 49,71%
1951 – 33,95%
1955 – 30,23%
1959 – 09,18%
1964 – 14,43%
1968 – 20,66% (eleição só para vereador)
1972 – 10,70% (eleição só para vereador)
1976 – 10, 91% (eleição só para vereador)
1982 – 11,89% (eleição só para vereador)
1985 – 14,80%
1988 – 7,03%
1992 – 11,34%
1996 – 7,48%
2000 – 12,70%
2004 – 13,63%
2008 – 16,35%
2012 – 18,55%
2016 – 22,51%
2020 – 33,08%
2024 – 34,83%
*Fonte: NUPERS/Eleições Municipais em Porto Alegre