Por acreditar numa informação oficial, o Jornal Nacional da Rede Globo, estreou com uma fake news, em 1º de setembro de 1969.
Há cinco dias o presidente da República, general Artur da Costa e Silva, havia sofrido um “acidente cárdio vascular”. Naquela noite estava sem fala e só movia os olhos.
Hilton Gomes, o primeiro William Bonner, informou aos milhões de telespectadores que assistiam ao primeiro jornal em rede nacional da televisão brasileira que o presidente da República dera sinais de melhora e que, segundo os médicos, retomaria suas funções nos próximos dias.
O estado de Costa e Silva se agravou até a morte em 17 de dezembro daquele ano.
Neste domingo, 3 fevereiro de 2019, quase 50 anos depois, o noticiário baseado em informações oficiais tem um cheiro inequívoco de 1969.
No sexto dia do pós-operatório do presidente Jair Bolsonaro, o boletim médico informou que ele continua “usando uma sonda nasogástrica aberta, mas apresenta evolução clínica estável”.
“O presidente está sem dor e sem sinais de infecção”, informa laconicamente o boletim.
“Uma tomografia de abdome que descartou complicações cirúrgicas”.
Ele está em jejum ora e nutrição parenteral exclusiva. “Realiza fisioterapia respiratória e motora no quarto e segue com as medidas de prevenção de trombose venosa”. É evidente a cautela dos médicos.
Na verdade, houve uma piora depois de uma evolução satisfatória nos cinco primeiros dias.
Na quinta- feira o porta-voz Otávio do Rêgo Barros, chegou a dizer que o problema era fazer Bolsonaro atender à recomendação dos médicos. “O presidente é difícil, ele está falando já. A despeito do médico dizer para ele ficar calado, ele já está falando.”
“Hoje ele despachou tête-à-tête com o doutor João. Eu diria que ele vem tentando se adaptar-se à essa recomendação, mas o espírito dele é liderar pelo exemplo, pela conversa, pela convicção daquilo que vem pondo aos seus ministros. Eu tenho de reconhecer que é difícil e ainda ele se domina nessa questão de falar, mas tem procurado atender aos ditames que os médicos lhe impõem”, completou otimista.
A assessoria de imprensa distribuiu uma foto do presidente com a caneta na mão, aparentemente despachando em seu expediente presidencial.
No sábado, porém, surgiram as complicações. O presidente teve vômicos e náuseas. O intestino delgado havia paralisado, havia excesso de suco gástrico no estômago. Os médicos colocaram uma sonda pelo nariz para retirar o excesso de líquido.
Na manhã de domingo, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, postou que Bolsonaro tinha acordado “bem e animado” e foi replicado pelo pai na rede social.
“Hoje meu pai acordou bem e animado! Agradeço aos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e todos os envolvidos em sua melhora! Pela manhã só notícias boas! Muito obrigado a todos pelas orações e carinho! Um forte abraço a todos e até mais tarde!”, escreveu Carlos.
Numa matéria atualizada às 12h15, a Folha de São Paulo informou que as náuseas e vômitos eram consequência da paralisação do intestino delgado. “Não é uma reação normal do organismo decorrente da retomada da função intestinal, como disseram os assessores”.
O cirurgião Antônio Macedo, chefe da equipe que operou Bolsonaro, falou à Folha e disse que a complicação era “uma resposta do organismo a uma cirurgia longa e com muita manipulação”. Se for isso, é possível a recuperação exige em três dias.
Mas há outras hipóteses, entre elas a temível fístura que exigiria refazer tudo inclusive retomar a bolsa de colostomia. Aí já ficaria cheirando a Tancredo.