As águas de maio fazem da eleição deste ano a mais importante nos últimos 35 anos em Porto Alegre.
Desde 1988, quando o bancário Olívio Dutra fez 40% dos votos numa disputa com seis concorrentes, não se colocava de forma tão clara numa eleição o confronto entre dois projetos que disputam o poder na cidade.
Sim, houve a eleição de José Fogaça em 2004, quando se rompeu o ciclo petista. Mas a eleição de Fogaça não chegou a ser uma ruptura.
Havia o desgaste das continuadas gestões petistas e uma falta de criatividade que reclamava alternância, mas também havia um reconhecimento da obra. Porto Alegre havia sido projetada nacional e internacionalmente pelas realizações das administrações populares.
Tanto que o slogan de Fogaça era “Manter o que está bom, mudar o que não está bom” e ele prometia manter o orçamento participativo, os conselhos e as políticas sociais, porque essas conquistas tinham apelo.
No caso presente, a enchente que arrasou a cidade criou uma situação única ao escancarar as mazelas, não apenas da administração Melo, mas de um projeto de cidade, dominada pelo interesse privado.
Resultado: quando se lançou à reeleição, em abril, Melo era um candidato imbatível. Hoje ele luta com unhas e dentes para manter sua candidatura.
Na oposição, a deputada Maria do Rosário foi considerada uma “candidata para perder” quando foi lançada. No pós-enchente se fortaleceu e está conseguindo articular uma frente ampla de esquerda, que pode reconstruir as ligações da cidadania com o poder público e resgatar a cultura da participação comunitária, que tem raízes antigas na história da cidade.
Essa possibilidade real de mudança é que faz das eleições de outubro as mais importantes dos últimos 35 anos em Porto Alegre. Sem falar que Porto Alegre está no foco das atenções nacionais depois da enchente e que o resultado do pleito aqui terá repercussão ampla no país.
(Elmar Bones)
Em tempo: A eleição de Alceu Colares, em 1985, talvez seja mais marcante historicamente. Foi o primeiro eleito pelo voto direto depois da ditadura e do longo ciclo de prefeitos nomeados. Mas ali, o que estava em jogo não era um projeto de cidade propriamente, era mais um confronto mais amplo, entre o autoritarismo que nomeava prefeitos e a democracia que preferia elegê-los pelo voto popular.