Invasores deixam terreno da Avipal antes da reintegração

O Grupo de Trabalho coordenado pela Defensoria Pública Estadual conseguiu a retirada pacífica da maioria das quase 600 familias que ocuparam o terreno da extinta Avipal na Cavalhada, zona Sul de Porto Alegre.
Na tarde desta segunda-feira, 11 restavam no local apenas umas 100 familias que estavam sendo cadastradas, enquanto  o grupo negociava com o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) um local para reassentá-los, uma vez que são pessoas que não tem para onde ir.
Um helicóptero da Brigada Militar sobrevoava o local, enquanto a defensora pública Adriana Schefer, orientava os moradores remanescentes.  A reintegração de posse, autorizada pelo juiz já há três semanas será realizada nesta terça, 12
Os ocupantes do terreno de dez mil metros quadrados numa área nobre da capital, chegaram a 800 familias, oriundas de diversas situações de remoção e desocupação de outras áreas. Pelo menos 200 dessas familias são remanescentes da remoção de moradias do Resvalo, um barranco à beira do riacho Cavalhada, área de risco, que foi liberada para as obras do Projeto Integrado de Saneamento Ambiental (PISA). Muitas estão incluídas no programa de aluguel social da prefeitura, mas alegam que não estão recebendo os valores estabelecidos.

Depois do fogo, a chuva bate na Vila Chocolatão


Crianças da Vila: miséria ao amanhecer
Crianças da Vila: miséria ao amanhecer

Por Daiane Menezes



O incêndio de segunda-feira na Vila Chocolatão destruiu quase metade dos casebres, mais de 50. Passa de 250 o número de desabrigados. A maior parte deles é crianças. Depois da chuva da noite de quarta, o terreno estava todo embarrado.
Seu Paulo Roberto Soares Correia fazia um sopão para sua família com um pacote de massa. Além disso, café preto. Ele está morando provisoriamente num galpão de reciclagem com sua mulher, seus quatro filhos e seus cachorros – um deles chama-se Faísca. Nome ruim para um cão que vive em um local que incendiou sete vezes desde 2003.
Paulo aponta para a região agora terraplanada e diz “eu moro ali, queimou tudo”. Apesar das perdas provocadas pelos incêndios recorrentes e do prazo de dez meses que têm para deixar o terreno da Justiça Federal, o discurso dos moradores é sempre o mesmo. “Vão fazer casas de emergência, mas o pessoal não quer sair daqui. É uma questão de sobrevivência”, diz ele. Na mesma linha, Marlene Isabel Queiroz de Souza, moradora da Chocolatão desde 1984, argumenta: “lá na Zona Norte vamos morrer de fome, porque aqui todo mundo puxa carro”. A maior fonte de renda da comunidade é a separação de lixo reciclável.
Na vila há muita solidariedade. “Cada pessoa agasalhou uma família”, diz Marlene. Há quase tanto cachorro quanto pessoas em frente aos barracos que sobraram. No meio do terreno há ainda alguns sinais da queimada, mas já está limpo e aterrado. Ali serão construídas casas de emergência, de 3 metros por 3 metros. Três bares queimaram, com todos os produtos que eram vendidos e o dinheiro. Antônio Lázaro Silva de Oliveira também não teve sorte: “Estou na casa de um vizinho. Não deu para salvar nem os documentos”.
Doações de estantes e armários foram feitas de forma misteriosa. No bar Dois Irmãos, que não foi atingido pelo fogo, Fabiano diz: “Se não foi um anjo, foi uma anja”. Se aqueles móveis vão caber nas casas que deverão ser construídas para a comunidade, é outra questão. Neste bar, alguns objetos que foram salvos das chamas, entre eles um fogão de seis bocas e uma moto.
Outros pavilhões de separação de lixo também viraram dormitórios. Na vila há uma pracinha e uma estrutura de banheiros com tanques de lavar roupa. Os casebres construídos com lonas, telhas e madeira, junto com o lixo espalhado pelo chão, produzem um colorido estranho para a paisagem. O café da manhã da criançada da vila foi banana e copinhos d’água. Um ou outro adulto apareceu com um pedaço de pão na mão. Na casa onde a comida é distribuída há também pilhas de roupas.
De todos os políticos que passaram pela Chocolatão na época da eleição, só apareceram por lá durante o incêndio os vereadores Pedro Ruas e Carlos Comassetto, e o prefeito Fogaça, que “entrou lá por trás, pelo lado limpo”, diz Tia Lena. Ao sair da vila, o homem que veio junto com os caminhões preparar o terreno para a construção das casas de emergência disse: “Pessoal relaxado, deixa tudo sujo”. Não é por nada, afinal eles vivem recolhendo lixo nas ruas.