Sal da Terra abre novo espaço

Uma performance de 15 instrutores, educadores físicos e fisioterapeutas da Sal da Terra vai marcar a inauguração do novo espaço da academia, no Menino Deus (Múcio Teixeira, 1492). A inauguração será amanhã, 28, às 19hs.
São 400 m2 com equipamentos de Pilates e Gyrotonic, de tecnologia americana Balanced Body. Formada em Miami, a equipe vai demonstrar as diferenças de cada segmento de exercícios nos equipamentos de Pilates e Gyrotonic.
O local oferecerá também aulas de Pilates Studio e Fit Pilates, com objetivo postural, de força, flexibilidade e condicionamento físico, além de salas para condicionamento cardiorrespiratório, fisioterapia, massagens terapêuticas e estéticas.
A Sal da Terra foi criada há 24 anos. Com o Centro de Pilates e Gyrotonic, será a primeira no Estado a oferecer cursos para profissionais com certificação internacional destas modalidades.

Funcionários protestam contra mudança do nome do HPS

A mudança do nome do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, aprovada pela Câmara Municipal na quarta-feira 13, está provocando protestos entre os 1.400 funcionários da instituição de 66 anos.
“Fomos surpreendidos por essa decisão que não tem o menor sentido”, diz o presidente da Associação dos Funcionários, Rodrigo Machado Costa.
Pelo que foi aprovado, o HPS passará a se chamar Hospital Municipal Eliseu Santos, em homenagem ao ex-secretário da Saúde, assassinado em fevereiro deste ano, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Nesta terça-feira, 19, o assunto será debatido numa assembléia geral dos funcionários. Um abaixo assinado já está circulando entre os funcionários, que estão convocando também a população para um ato de protesto na quinta-feira.
“Vamos promover um ‘Abraço ao HPS’ e queremos o apoio dos usuários”, diz Rodrigo.
A Associação vai também pedir uma audiência ao prefeito José Fortunatti para entregar o abaixo-assinado pedindo para ele vetar o projeto aprovado de forma surpreendente, em votação simbólica.
A proposta foi apresentada pelo vereador Nelcir Tessaro (PTB), que estava na presidência da Câmara no dia da votação. “Estamos fazendo uma justa homenagem ao médico que dedicou grande parte de sua vida aos porto-alegrenses”, disse Tessaro.
“Na nossa avaliação, o ex-secretário não tem contribuição nenhuma ao HPS, que durante sua gestão inclusive perdeu recursos por falta de projetos” , diz o presidente da Associação dos Funcionários.
Segundo Tessaro, Eliseu Santos, uma das principais lideranças do PTB no Estado, “era um abnegado pela saúde pública”. “Não podemos esquecer que, na condição de político, também deixou marcas atuando como vereador, deputado estadual e vice-prefeito desta cidade.”
Esta foi a justificativa de Nelcir Tessaro: “Colegas Vereadoras e Vereadores, uso esta tribuna para discutir o Projeto de minha autoria, a qual divido com o Ver. Alceu Brasinha, pois também era sua intenção protocolar esse grande Projeto, pela amizade que tínhamos com o nosso ilustre e saudoso Deputado e Vice-Prefeito, Eliseu Felippe dos Santos.
Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores, a minha ideia ao propor a denominação do nosso Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre de Hospital de Pronto Socorro Doutor Eliseu Felippe dos Santos é justamente por tudo o que representou para a Saúde de Porto Alegre o nosso saudoso Eliseu Santos. Eu, que convivi com o Eliseu Santos desde quando ele foi Vereador, em 1992, Ver. Brasinha, sabia que, se alguém dizia que estava com alguma dor, ele respondia: “Não tem problema, tome esse medicamento”. Ele fazia uma consulta imediatamente, atendia a todas as pessoas, não importando a hora. Ele não tinha hora para receber um telefonema -, atendia e medicava, sem se preocupar com o ônus, com quem era ou quem não era a pessoa, ele gostava de fazer o bem. Ele foi um grande Parlamentar na Assembleia Legislativa, onde se dedicava sempre aos projetos para a área da Saúde. E, depois, na Prefeitura de Porto Alegre, muito contribuiu como Vice-Prefeito da Capital. Assumiu a Secretaria da Saúde da Cidade, mesmo sabendo que tínhamos grandes problemas, discussões, greves de médicos, e ali equilibrou, saneou e resolveu o problema dos postos de saúde de Porto Alegre. Eu lembro muito bem que, muitas vezes, o Eliseu Santos estava às 7 horas da manhã, conferindo as filas nos postos de atendimento, para cobrar o atendimento que deve ser dado por todos os servidores públicos deste Município. Estava sempre preocupado em fazer com que o tratamento, o andamento dentro dos hospitais de Porto Alegre, naqueles famosos corredores cheios de leitos, pudesse melhorar cada vez mais, e que os nossos hospitais fizessem um atendimento com qualidade. Continuou, no segundo mandato do Prefeito José Fogaça, como Vice-Prefeito e, também, como Secretário da Saúde, mantendo o seu trabalho até seu último dia de vida. Era um abnegado pelo atendimento à população e pela Saúde pública. Eu lembro muito bem, quando ele era médico do Hospital Cristo Redentor, do atendimento que ele prestava nos corredores, os pacientes eram atendidos nos corredores. Ali ele consultava, encaminhava e, depois, ainda fazia cirurgias pelo SUS durante a noite, sem ônus para aquelas famílias que precisavam de atendimento imediato. Ele nunca reclamou de horário, assim como nunca reclamou por atender a uma pessoa ou outra sem receber numerário.
Esse era o Eliseu Santos, e nós, da Bancada do PTB, composta pelos Vereadores Nilo Santos, DJ Cassiá, Maurício e Brasinha, estamos, hoje, prestando esse tributo ao nosso grande amigo Eliseu Santos. Queremos, nada mais, nada menos, do que dedicar a ele aquele espaço que vai ser reformado, ou seja, aquela ampliação do Hospital de Pronto Socorro pela qual ele tanto brigou. Agora, com as desapropriações que serão feitas em torno do Hospital, com a ampliação do prédio, a qualidade no atendimento vai retornar. Hoje, o Hospital tem qualidade, mas não tem espaço suficiente para o atendimento, porque toda a população de Porto Alegre e da Grande Porto Alegre depende do Pronto Socorro para o primeiro atendimento, antes de ir para outro hospital.
Então, nós queremos aqui buscar a solidariedade e o apoio de todos os colegas para a aprovação deste Projeto, para que o Hospital de Pronto Socorro passe a se chamar Pronto Socorro Municipal Eliseu Santos”.

Recursos da Copa, única chance para o HPS

Com 66 anos de idade recém feitos, o Hospital de Pronto Socorro, um dos principais centros de atendimento da região metropolitana, envelhece junto com seus funcionários. Faltam recursos tanto para fazer novos contratos, quanto para reaparelhar o hospital que funciona 24 horas e atende cerca de 900 pessoas por dia.
“Eu tenho tentado de tudo quanto é jeito trazer gente para cá. A idade dos funcionários do Pronto Socorro é muito alta, de 50 anos em média. O pessoal se aposenta e não é reposto. Cada vez trabalhamos com menos gente”, lembra o diretor Paulo Roberto Azambuja. Recentemente foi liberada a contratação de 17 novos técnicos de enfermagem, dos 150 já concursados.
Há cerca de duas semanas, os funcionários pararam as atividades para protestar contra o corte do percentual de insalubridade e chamar a atenção para as condições de trabalho e o estado do HPS. Segundo Azambuja, a Secretaria da Saúde, por mais que se empenhe, não tem de onde tirar recursos. “Onde há um cheirinho de dinheiro, tenho procurado ir atrás”, comenta.
Com cerca de 1.400 funcionários, gastos fixos de 1,5 milhão de reais por mês e uma folha de pagamento que gira em torno de 8 milhões de reais, não sobram recursos para investir no prédio. Projetos não faltam.
A Fundação Pró-HPS, que ia conseguir fundos para melhorar a área de queimados, naufragou por questões políticas. “O pessoal do governo não aceitou essa diminuição de impostos e a coisa morreu”, afirma o diretor.
Uma doação de cerca de R$ 50 milhões que estava sendo negociada com um banco norte-americano para a reforma completa do hospital também foi descartada. “Foi o nosso grande azar. Se a crise tivesse estourado dois meses depois estávamos com o dinheiro garantido”, comenta Azambuja.
O jeito foi buscar outras soluções. “Estamos buscando recursos com o Qualisus, um programa de qualificação dos hospitais”, diz. Se tudo correr bem, a verba deve ser liberada até o fim do ano e garante, ao menos, a reforma do quadro de força do hospital, já “obsoleto”.
A mais ousada delas é incluir o hospital na lista de obras de infra-estrutura para a copa. A proposta foi bem recebida pelo vice-prefeito José Fortunatti e está em fase de finalização. “Quanto ainda não se sabe, mas nós imaginamos em torno de R$ 40 milhões”, diz Azambuja. O dinheiro será usado para melhorar a área física e comprar equipamentos. “Digitalização dos raios X, investimentos em estrutura”, enumera o diretor.
Quanto à insalubridade, por enquanto a situação foi resolvida. “A insalubridade não é uma decisão do prefeito ou do secretário. Ela é uma interpretação técnica”, afirma o secretário de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Clóvis Magalhães.
Ele explica que a confusão começou por causa da revisão do laudo – que era de 1990 – que mudou os graus de insalubridade dos funcionários. No entanto, como no HPS as pessoas se vêem obrigadas a freqüentar mais do que uma ala, essa interpretação foi flexibilizada e ficou de acordo com os coordenadores de setores e o laudo.

Vacinação contra gripe é prorrogada

Foto: Ivo Gonçalves/PMPA
A campanha de vacinação contra a gripe foi novamente prorrogada pelo Ministério da Saúde, agora até o dia 29. Todos os postos da Capital estenderão o prazo de vacinação para buscar atingir a meta de imunizar 163.920 pessoas acima de 60 anos, 80% da população estimada de idosos em Porto Alegre. Até o momento, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vacinou 98.637 idosos, que representa 48,14% da meta.
Além de proteger contra a gripe, a vacina reduz em 70% as internações por pneumonias e outras complicações causadas pelo vírus Influenza. Em casos de pneumonias, diminui em 80% a mortalidade.
Confira os pontos de vacinação em Porto Alegre:
UBS Tristeza – Av. Wenceslau Escobar, 2442
UBS Camaquã – R. Prof. João Pitta Pinheiro, 176
UBS Glória – Av. Oscar Pereira, 3229
CS Vila dos Comerciários – R. Monteiro Lobato, 151
CS IAPI – R. Três de Abril, 90
CS Navegantes – Av. Presidente Roosevelt, 5
UBS Assis Brasil – Av. Assis Brasil, 6615
UBS Rubem Berta – R. Wolfram Metzler, 675
UBS Panorama – Estrada João de Oliveira Remião, 6505
ESF Lomba do Pinheiro – R. João de Oliveira Remião, 5120
UBS São Jose – Rua Dona Íris esquina Frei Clemente
ESF Ernesto Araújo – Rua Ernesto Araújo, 443
UBS Morro Santana – Rua Marieta Menna Barreto, 210
CS Bom Jesus – R. Bom Jesus, 410
UBS Restinga – Rua da Abolição, 850
UBS Belém Novo – R. Florêncio Faria, 195
H.M. I. Presidente Vargas – Av. Independência, 661
Policlinica Militar – Av João Pessoa, 567
CS Modelo – R. Jerônimo de Ornelas, 55
CGVS – Av. Padre Cacique, 372
UBS Conceição – R Álvares Cabral, 490
UBS Jardim Leopoldina – R Orlando Aita, 130
UBS Coinma – R. República do Peru, 410
UBS Sesc – R. Ernesto Pelanda, 830
UBS Floresta – R Conselheiro DÁvila, 111
UBS Costa e Silva – R Dante Ângelo Pilla, 365
Fonte: Prefeitura de Porto Alegre

Salgado Filho terá plano para prevenir gripe suína


Doença suscita temores de uma pandemia
Por Carlos Matsubara
O Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, será um dos dez terminais brasileiros que terão um tratamento específico para prevenir a gripe suína originada no México.
Além da capital gaúcha, a Infraero colocará em prática o Plano Específico de Contingência à Influenza nos aeroportos de Brasília, Campinas, Fortaleza, Rio de Janeiro, Guarulhos, Manaus, Natal, Recife e Salvador.
O plano prevê que os postos de primeiros socorros estejam aptos a acompanhar os níveis de alerta pandêmicos no Brasil, atender no posto casos suspeitos, usar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) no atendimento a casos suspeitos, avaliar sintomas suspeitos e transportar o passageiro sob suspeita para centros de referência.
Segundo a Infraero, até agora, apenas o Galeão (no Rio de Janeiro) e o aeroporto de Cumbica (em Guarulhos, São Paulo) já apresentavam trabalhos pontuais, como a emissão de sinais sonoros, informando a respeito dos sintomas da doença aos passageiros que embarcavam no país.
A Infraero também determinou a todos os 32 aeroportos internacionais sob sua administração que divulguem aviso sonoro com a mensagem da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), alertando aos passageiros que apresentarem sintomas da influenza a procurarem imediatamente um posto da agência nos aeroportos.

Variante do vírus é epidêmica no México

O que é

A gripe suína ou gripe porcina é uma doença causada por uma variante do vírus H1N1. O vírus pode ser transmitido através de contato com animais e objetos contaminados. Uma nova variante do vírus pode ser transmitida entre humanos e é considerada epidêmica no México.

Forma de Contágio

A contaminação se dá da mesma forma que a gripe comum, por via aérea, contato direto ou indireto (através das mãos) com objetos contaminados.
Não há contaminação pelo consumo de carne ou produtos suínos. Cozinhar a carne de porco a 70 graus Celsius mata o vírus da gripe suína.

Sintomas

Assim como a gripe humana comum, a suína apresenta os sintomas: febre, cansaço, fadiga,dores pelo corpo e tosse. Existe vacina para os porcos, porém ainda não se descobriu uma que possa ser utilizadas pelos humanos.

Tratamento

De acordo com a OMS, o medicamento antiviral oseltamivir, em testes iniciais mostrou-se efetivo contra o vírus H1N1.
Pelo Mundo
*No México eleva-se a pelos 150 o número de mortos
*Quarenta casos confirmados no Estados Unidos, seis no Canadá e na Escandinávia.
*Os primeiros casos foram confirmados na Europa.
*Um jovem espanhol como caso confirmado. A Espanha declarou vinte casos suspeitos.
*O Reino Unido confirmou a existência de duas pessoas infectadas.
*Foram registados casos suspeitos em França e Suiça.
*Até 27/04/2009.
Assista o vídeo abaixo
Ruas do México ficam vazias por causa da doença. País obtém empréstimo junto ao Banco Mundial para combater gripe suína
Fonte: BBC Brasil

Clínicas chama para um abraço

O pessoal do Hospital de Clínicas está convidando a população para vestir uma roupa branca para um ato público a favor do hospital. Pretende juntar duas mil pessoas num “abraço ao HCPA” a partir das 11horas de terça-feira, 7 de abril.
A intenção é demonstrar o apoio de usuários, funcionários, estudantes, professores, pesquisadores e da comunidade à manutenção do modelo do Clínicas, recentemente contestado pelo Ministério Público.
O MP requer que o HCPA atenda exclusivamente a pacientes pelo Sistema Único de Saúde.
O Clínicas argumenta que o atendimento a convênios (11,6% das 29 mil internações anuais) gera recursos para atender mais e melhor ao SUS, inclusive em especialidades não cobertas em contrato. Segundo o presidente do HCPA, Amarílio Vieira de Macedo Neto, esta receita representa uma contribuição decisiva para que o hospital “cumpra sua missão de hospital público e universitário”.
O nome do evento marcado para terça-feira é “100% Clínicas – Abraço em Defesa de um Modelo de Sucesso”. A iniciativa tem o apoio de diversas entidades: Fundação Médica do RS e associações de médicos contratados, residentes, funcionários, enfermeiros, nutricionistas e administradores; e de organizações de apoio a pacientes.

Metade das consultas do Clínicas são de pacientes do interior

Por Demétrio Rocha Pereira
No ano passado, mais da metade dos pacientes que passaram pelo ambulatório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vieram do interior e do anel metropolitano. Foram 248.220 consultas – um número que excede em quase dois mil a quantia referente aos atendimentos a porto-alegrenses. Esses índices vêm aumentando a cada ano pela prática da ambulancioterapia – termo criado para designar o transporte de pacientes do interior para os grandes centros.
O fenômeno não é exclusividade de um ou outro hospital. Em 2006, a Capital recebia, apenas do Vale do Taquari, cerca de 250 pacientes por dia, que eram distribuídos pelos diversos estabelecimentos hospitalares da cidade. Na época, críticas já apareciam, denunciando os gastos com ambulâncias, o transtorno para os pacientes e o abarrotamento dos hospitais. Sem frear ante as repreensões, a política das ambulâncias chega a 2009 fazendo parte da rotina de ainda mais pessoas.

Uma das tantas ambulâncias de outras cidades que chega aos hospitais de Porto Alegre | Foto: Guilherme Herz

Reclamações e dribles
Manhã no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ambulâncias, vans, Kombis e microônibus se revezam na entrada principal, povoando os corredores externos do prédio com pessoas das mais diversas procedências. Esteio, Capivari do Sul, São Pedro da Serra, Camaquã. Dez minutos de observação é o bastante para que sejam catalogados os brasões de municípios gaúchos de todos os cantos, gravados na lataria dos automóveis. É a ambulancioterapia acontecendo.
Mara Regina, 41 anos, e o filho, Henrique dos Santos Machado, 20 anos, contemplam o pátio ensolarado à frente da entrada do ambulatório. Uma vez por mês, eles saem cedo de Capão da Canoa, rumo à Capital. Chegaram às 6h30min, serão atendidos às 13h e voltarão às 21h, com uma consulta devidamente marcada para o próximo mês.
Toda essa espera é o tempo necessário para que todos os passageiros da van da Prefeitura de Capão da Canoa sejam atendidos nos seus respectivos hospitais e horários. O veículo chega antes do primeiro compromisso médico e só regressa ao município de origem após o último paciente ter sido liberado. “Não pode ir embora enquanto tiver alguém faltando”, explica Mara.
É diferente com quem vem na van de Parobé. De acordo com três parobenses que aguardavam a hora de entrar no ambulatório, o carro segue seu rumo se o passageiro não estiver esperando para ir embora na entrada do hospital. Os veículos saem do município três vezes por semana e voltam menos cheios se alguma visita ao médico se estender mais do que devia.
Não é a única reclamação. Acompanhando a esposa, um morador da cidade afirma que Parobé tem carência de médicos qualificados: “A nossa sorte é conhecermos pessoas na Secretaria de Saúde”. O contato garante que a esposa seja favorecida na marcação de consultas e atendida mais rapidamente, um raro drible na costumeira demora que o processo costuma impor aos pacientes do SUS.
Pacientes de Parobé aguardam atendimento em frente ao Hospital de Clínicas | Foto: Guilherme Herz

Cotas divididas entre os municípios estabelecem um limite mensal de marcações. Para se esquivar do processo, uma das estratégias é ir diretamente a um posto de saúde da capital e apresentar um endereço de Porto Alegre – geralmente o de parentes ou demais conhecidos. Evidentemente, essa prática contempla tanto a quem necessita de tratamento especializado quanto a quem, simplesmente, prefere consultar com os médicos da capital.
Diante disso, não é de se admirar que o número consultas de pessoas vindas de outras cidades do estado ultrapasse o previsto pela Central de Marcações da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Em 2008, a Central disponibilizou três milhões de consultas, dentre as quais 15% (450 mil) foram destinados a vagas do interior – o ambulatório do Clínicas, sozinho, absorveu quase a metade desse número.
“Aqui é bom”
Na mesma proporção que surgem as críticas aos sistemas de saúde de suas respectivas cidades, na fala dos entrevistados aparecem os elogios ao atendimento dos hospitais porto-alegrenses. Perguntada sobre a situação da saúde em Capão da Canoa, Mara Regina ri: “Lá, só se for pra tratar dor de barriga. Aqui é bom”.
Quem tem ainda menos a reclamar são os enfermos de Erechim, único município gaúcho que conta com um albergue particular dentro de Porto Alegre. Estabelecimentos como esse abrigam doentes, idosos, marginalizados e viajantes em busca de estadia barata na capital gaúcha. Mas, diferente dos demais albergues da cidade – muitos patrocinados por deputados –, o de Erechim hospeda apenas moradores da “Capital da Amizade”, que chegam semanalmente a Porto Alegre.
A vantagem também vem a calhar para motoristas como Rogério Moresco, de 32 anos: “Para nós é bom. O trajeto se resume ao transporte entre o albergue e os hospitais”. O motorista se prepara para sair. O paciente já voltou, ocupou o primeiro assento atrás de Moresco e agora espera a arrancada do automóvel. Certamente, o passeio será mais curto do que os 362 km que teve de vencer de Erechim até aqui.
Tânia Gross, de 36 anos, viajou menos. Foram pouco mais de 100 km de Marques de Souza – da microrregião de Lajeado e Estrela – até Porto Alegre. A van, cheia, trouxe o filho de Tânia, que dorme no colo da mãe, em um dos bancos do pátio do HCPA. O menino estava em um ônibus que bateu. Veio conferir se está tudo em ordem. Percebendo uma presença estranha, ele levanta e olha para os lados, curioso, só para se certificar de que já pode deitar de novo. Parece bem.
Perto dali, encostado em um pilar, está Sadi Santos Souza, completando os seus 53 anos de vida. Morador de Glorinha, Sadi tem vindo há “uns três ou quatro anos” ao HCPA para tratar de um câncer na garganta. A luta contra a doença é algo que o desgaste da aparência não deixa duvidar. Dessa vez, ele não veio com a ambulância municipal: “Hoje vim de ônibus. A consulta é só às 12h30min, e a ambulância sai de lá às seis e meia, sete horas da manhã”, justifica. E acrescenta: “O carro sai todo dia de lá, quase sempre cheio”.
Antes de precisar cuidar da garganta, Sadi passou por uma cirurgia no fígado, também no Hospital de Clínicas. A cicatriz herdada da operação é uma marca que ele não faz cerimônia para mostrar ali mesmo, no lugar de onde observa ir passando aos poucos o aniversário que não pretende comemorar: “Não tem como. O dinheiro vai todo para os remédios”.
Ambulâncias enfileiradas fazem parte do cotidiano da Sarmento Leite. No trecho em que a rua passa ao lado da Santa Casa e se encontra com a Avenida Independência, veículos estacionam diariamente. Caminhando pela calçada, é possível perceber motoristas que dormem à espera dos passageiros e passageiros que se esticam sobre leitos de ambulância à espera do atendimento.
Entre os condutores que ali se encontram, estão Ricardo Barbosa, 36 anos, e William Renato, 35 anos. Ambos vieram de Santa Catarina, e conversam à frente da Sprinter da Prefeitura de Balneário Camboriu, dirigida por Ricardo. Ele trouxe um menino que realizou um transplante de fígado na Santa Casa, e agora precisa de acompanhamento médico. Segundo o motorista, as secretarias de saúde de seu estado costumam enviar para Porto Alegre apenas os casos mais graves. “São situações em que ficamos mais tensos. Além da distância, tem a urgência para o atendimento”, observa.
Mas há casos que escapam à regra. William comenta que é comum a vinda de pessoas que se mudaram para Santa Catarina, mas que desejam continuar consultando com os mesmos médicos que visitavam quando moravam no Rio Grande do Sul. A conversa é interrompida pelo forte ruído do motor de um ônibus da Prefeitura de Camaquã. Perto, na entrada do Hospital Santa Clara, uma família de Novo Hamburgo, que veio de carro, se impressiona com a quantidade de camionetes e minivans que vão deixando à porta do prédio os seus passageiros.
Emergências
O Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre não está na rota da balbúrdia das ambulâncias. A atuação do HPS está focada nos casos emergenciais. Em 2008, dos mais de 190 mil atendimentos do HPS, pouco mais de 22 mil foi a porção correspondente aos pacientes de fora da cidade. No mesmo ano, a Emergência do HCPA registrou mais de 55 mil atendimentos, dentre os quais cerca de um terço é a fração referente a pacientes do interior e da região metropolitana – uma parcela consideravelmente menor do que a observada nas estatísticas ambulatoriais.
Mas a maior emergência parece ser outra. Segundo uma pesquisa realizada em 2006, a ambulancioterapia sugaria aproximadamente R$ 130 mil mensais dos cofres públicos dos municípios do Vale do Taquari. Algumas secretarias de saúde da região têm estudado medidas para evitar a ambulancioterapia, como a consolidação de convênios com hospitais e clínicas da região. Até mesmo o pagamento de atendimentos particulares para os pacientes parece ser preferível ao transtorno das ambulâncias. Tudo para que essas populações possam também dizer: “aqui é bom”.

Universidade estabelece primeira linhagem de células-tronco no Brasil

Grupo de pesquisadores, coordenados pela cientista Lygia Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo, estabeleceram a primeira linhagem de células-tronco embrionárias adultas no Brasil. O resultado alcançado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) será apresentado para a comunidade científica nesta quinta-feira (02/10), durante o III Simpósio Internacional de Terapia Celular, que está sendo realizado na cidade de Curitiba, no Paraná.
As linhagens de células-tronco embrionárias são células indiferenciadas e têm como principal característica sua pluripotência, ou seja, quando implantadas novamente possuem capacidade de retomar o desenvolvimento normal e colonizarem diferentes tecidos derivados dos três folhetos embrionários existentes e sua diferenciação pode ser induzida para tipo celulares específicos como células precursoras hematopoiética, neuronal, endotelial, cardíaca e muscular.
“Outras linhagens de células tronco embrionárias humanas já foram descritas fora do país desde 1998 e vêm sendo utilizadas em pesquisas sobre biologia do desenvolvimento humano e terapia celular, se revelando um importante modelo experimental. Porém não há nenhuma garantia da qualidade das mesmas e existe uma série de restrições quanto ao seu uso e a produção de patentes de produtos derivados das mesmas. Além disso, as linhagens disponíveis foram estabelecidas e cultivadas na presença de produtos animais, o que impossibilita seu uso terapêutico em seres humanos”, explica a pesquisadora Lygia Pereira.
Buscando autonomia para a pesquisa brasileira com este material e a geração de linhagens adequadas para o uso em seres humanos, o projeto reuniu pesquisadores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, do Instituto de Biociências da USP, com pesquisadores do Laboratório de Neurobiologia Celular, do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenados pelo cientista Stevens Rehen, do Biotério de Experimentação da USP, coordenados pela pesquisadora Silvia Maria Gomes Massironi, em parceria com o Centro de Fertilização Assistida (Fertility), de São Paulo, o Centro de Reprodução Humana Prof. Franco Jr, de Ribeirão Preto, e o Instituto Mara Gabrilli.
“Estamos trabalhando no projeto desde 2006, após ser seleçionado no edital do CNPq. Descongelamos em torno de 250 embriões. Destes, 50 chegaram até o estágio de blastocistos e foram utilizados nos experimentos. Destes, conseguimos uma linhagem, a BR-1”, conta a pesquisadora Lygia Pereira.
Após ser estabelecida esta primeira linhagem, os pesquisadores poderão multiplicá-la indefinidamente e suprirem a necessidade de pesquisa em vários grupos de pesquisa brasileiros. “Poderemos fazer a transferência da tecnologia para fomentarmos a área de pesquisa com células tronco embrionárias humanas no Brasil e termos autonomia nesta área”, completa Pereira.
Marco da pesquisa no Brasil
O projeto faz parte do primeiro edital lançado pelo CNPq, no ano de 2005, que apoiou pesquisas com células-tronco. Este edital foi um marco para os investimentos brasileiros nesta área, inicializando a pesquisa com células tronco embrionárias humanas no país. Foram aprovados 45 projetos, num total de R$ 10,5 milhões. Destes projetos, seis estudaram células tronco embrionárias humanas.
No segundo semestre de 2008, o CNPq lançou novo edital para apoiar pesquisas que busquem o desenvolvimento de procedimentos terapêuticos inovadores em terapia celular, utilizando células tronco embrionárias, células tronco adultas derivadas da medula óssea, células tronco derivadas do cordão umbilical e células tronco derivadas de outros tecidos. Para este edital serão investidos o total de R$ 10 milhões.

Investimento de R$ 2Mi em tecnologias na saúde

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE-DECIT), do Ministério da Saúde, lançou edital para apoiar projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação que avaliem novas tecnologias em saúde.
Os investimentos serão de R$ 2 milhões e uma parcela mínima de 30% deste valor será destinada a apoiar projetos coordenados por pesquisadores vinculados a instituições sediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Incluindo também as respectivas áreas de abrangências das Agências de Desenvolvimento Regional.
As propostas deverão ser desenvolvidas no campo da avaliação de tecnologias em saúde e de revisões sistemáticas, para obterem resultados nos temas: doenças infecciosas e parasitárias como HIV/AIDs, hepatite, DST ; neoplasias – assistência, tratamento e vacinas; doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, como diabetes; transtornos mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças do olho; doenças do aparelho circulatório; doenças do aparelho respiratório; doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo; malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas; e conseqüências de causas externas, como a prevenção da rejeição do transplante renal.
Para concorrer ao Edital nº 37/2008, os pesquisadores interessados podem enviar projetos até o dia 23 de outubro, por meio do Formulário de Propostas Online, disponível na página do CNPq. Os resultados serão divulgados a partir do dia 24 de novembro.

Brasil ignora perigos de agrotóxicos proibidos na Europa por mortandade de abelhas

Mariano Senna da Costa | Ambiente JÁ
Colaborou Carlos Matsubara
A guerra não declarada entre apicultores e gigantes dos agrotóxicos na Europa teve mais um round semana passada. Na quinta-feira (18/09), o Ministério da Saúde da Itália suspendeu a licença de quatro substâncias (Clotianidina, Imidaclopride, Tiametoxam e Fipronil) presentes em inseticidas para plantações de milho, colza e girassol. Elas são apontadas pela Federação Italiana de Apicultura como responsáveis pela morte em massa de abelhas verificada no início do ano.
As três primeiras pertencem ao mesmo grupo químico. O dos neonicotinóides, originados da molécula de nicotina. Foram desenvolvidos na década de 70 e considerados uma revolução, pois são biodegradáveis e menos tóxicos que outros para indicações similares. Entre agricultores, se apresentam mais notoriamente como os inseticidas “Poncho”, “Gaucho” e “Adante”.
Já Fipronil é o princípio ativo de uma vasta gama de pesticidas usados contra formigas, cupins, pulgas e até baratas. Comercialmente é encontrado com o nome “Regent”, “Termidor”, “MaxForce”, ou “Frontline”, entre outros.
Os quatro têm grande importância para três dos maiores fabricantes de agrotóxicos do mundo, BASF (Fipronil), Syngenta (Tametoxam) e Bayer (Clotianidina e Imidaclopride). As empresas não informam o faturamento por produto, mas sabe-se que só o Gaucho, feito à base de Imidacloripride, é vendido em 120 países, rendendo 600 milhões de Euros/ano para a Bayer CropScience, braço agroquímico da holding. Mas o aspecto econômico parece não fazer parte do conjunto de fatos, contradições e omissões que justificaram a decisão das autoridades italianas.
Incidentes
Não se trata de novidade. Em maio, o Poncho, também da Bayer CropScience, mas tendo Clotianidina como princípio ativo, provocou o colapso de mais de 11 mil colméias em pelo menos dois estados no Sul da Alemanha, sendo “suspenso” imediatamente pelo governo. A fabricante bota a culpa nos agricultores, alegando “erro na aplicação”.
Por ser um inseticida de “ação lenta”, a Clotianidina tem um efeito nefasto sobre as comunidades de insetos. As abelhas, por exemplo, não morrem de imediato ao entrarem em contato com a substância. Os indivíduos intoxicados conseguem, na maioria das vezes, retornar à colméia. Assim contaminam todo o grupo, causando o colapso das comunidades.
Mesmo assim, pressionado pelo agrobusiness, e sob ameaça de perda da safra, o governo alemão reautorizou, em agosto, o inseticida para a lavoura de colza. “Colocaremos avisos no produto com instruções claras para aplicação. Ao mesmo tempo faremos experimentos técnicos para garantir a segurança e efetividade do produto”, declara Dr. Hermann-Josef Baaken, “cabeça” de política corporativa e relações com a mídia (Head of Corporate Policy & Media Relations) da Bayer CropScience. Com esse argumento a empresa espera reautorizar o uso do Poncho para plantações de milho alemãs ainda no mês de outubro.
Dr. Baaken não nega que as abelhas tenham morrido por entrar em contato com o produto, mas insiste na tese do “incidente”. “Na cultura de milho o Poncho é indicado para tratamento de sementes, sem contato direto com o meio ambiente, como em pulverizações. É a primeira vez que isso acontece”, garante. O Poncho passou a ser usado no ano passado pelos subsidiados plantadores de milho, que há décadas não fazem rotação de culturas.
No início de setembro a Bayer CropScience lançou um comunicado oficial reafirmando a segurança da Clotianidina. “Todos os estudos de laboratório e em ambientes fechados confirmam claramente que a Clotianidina é segura para abelhas e pássaros quando usada para o tratamento de sementes”, traz o comunicado.
O texto ainda explica que no incidente na Alemanha “as sementes foram tratadas incorretamente”, permitindo que “partículas de poeira contendo o ingrediente ativo chegassem ao ambiente”. Além disso, o problema “apenas aconteceu porque o tempo extremamente seco, os ventos fortes e o tipo de equipamento utilizado pelos agricultores possibilitaram a contaminação”.
Contradições
O press release da Bayer esquece de mencionar que a Clotianidina não é usada apenas para tratamento de sementes. No Brasil, por exemplo, ela é a base do Zellus SC, um inseticida da Sumitomo Chemical, que compartilha a patente do princípio ativo com a Bayer. Indicado para combater o pulgão-do-algodoeiro, ele é pulverizado nas folhas dessa cultura. E o Zellus SC não é exceção. Segundo o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da Agricultura há outros com a mesma forma de aplicação em diferentes plantações.
Numa perspectiva mais abrangente, o fato é que acidentes, ou erros, com as quatro substâncias acontecem há muito mais tempo. Mesmo nos países com os melhores sistemas de controle sanitário do mundo. No início de 2004, o Gaucho, irmão mais velho do Poncho, e o Regent (Fipronil) da BASF foram proibidos na França acusados de causar uma queda de 60% na produção de mel. Os dois continuam proibidos lá, mas parece que quase ninguém lembra disso.
Em nível mundial, há anos estudos demonstram que há redução na população de abelhas em todo o mundo, e os poucos cientistas debruçados sobre o problema afirmam que ele está associado à agricultura industrial, especificamente ao uso intensivo de agrotóxicos.
Segurança ambiental
A “Coalizão contra os Perigos da Bayer” (CBG), uma rede de ativistas que há 30 anos monitora os “acidentes” envolvendo a empresa, está entre as que não esquecem, e não deixam esquecer. “O fenômeno também está acontecendo nos Estados Unidos, onde a Bayer luta para manter no mercado um dos seus principais produtos”, afirma Philipp Mimkes, da CBG na Alemanha.
Ele se indigna ao ser confrontado com a explicação da companhia para o problema, como que obrigado a dizer o óbvio: inseticidas matam insetos. “Você sempre tem resíduos de agrotóxicos nas áreas em que eles foram usados. Para esse grupo específico, há estudos mostrando que após quatro ou cinco anos eles ainda estão presentes. Não há como garantir a segurança ambiental do uso desses venenos”, completa Mimkes.
A CBG, inclusive, está processando o presidente da Bayer AG, Werner Wenning, por abuso do poder econômico e negligência. “Para liberar esses agrotóxicos a empresa apresentou estudos atribuindo baixa toxidade para abelhas, e mesmo depois de comprovado o contrário, continua utilizando seu poder para evitar sua proibição”, acusa o advogado da ONG, Harro Schultze. A Bayer AG é um gigante químico e farmacêutico mundial. Possui 106 mil funcionários nos cinco continentes, e com um capital de 42 bilhões de Euros.
Após a morte das abelhas em áreas próximas a plantações de milho, o Instituto Julius-Kühn, uma espécie de Embrapa da Alemanha, analisou as evidências e confirmou que a causa da morte das abelhas foi a Clotianidina encontrada no Poncho.
Desinformação
No Brasil, onde a Bayer CropScience é líder no mercado de inseticidas (44%), a mortandade de abelhas intriga mais pelo silêncio do que pelo barulho causado. “Não há motivos para alarmar os produtores brasileiros, pois o que ocorreu na Alemanha não está relacionado ao produto e sim a uma série de fatores”, responde a coordenação de comunicação da Bayer CropScience em São Paulo.
A posição das autoridades ambientais brasileiras parece corroborar com a versão da empresa. “Não temos nenhuma denúncia sobre mortandade de abelhas relacionadas a esses produtos”, informa a engenheira agrônoma Marisa Zerbetto, da Coordenação Geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Ibama.
Ela explica que as denúncias, assim como a verificação dos casos, são responsabilidade das superintendências estaduais do órgão. E esse detalhe ajuda a explicar a ficha limpa dos inseticidas em solo tupiniquim.
Ainda nos primeiros dias de setembro mais uma mortandade de abelhas foi registrada no Norte do Rio Grande do Sul. Também não foi a primeira vez. Como em ocasiões anteriores, o uso de formicida era o principal suspeito de causar o problema.
A Emater/RS, que atendeu a emergência, informou não poder assegurar o motivo da morte das abelhas. A instituição não dispõe de equipamentos e técnicos para esse tipo de análise. Sem falar, que pela lei, esse papel é da superintendência regional do Ibama.
Mas se depender da estrutura do Ibama no RS esse tipo de incidente jamais será esclarecido. “Em algumas regiões, como na fronteira Oeste, temos apenas um biólogo para atender a todos os tipos de denúncia. Sem falar, que para casos envolvendo agrotóxicos as análises devem ser feitas em Brasília, sendo necessária, muitas vezes, a vinda de um técnico de lá”, justifica um funcionário da superintendência gaúcha.
Omissão
Em paralelo à precária estrutura, faltam informações sobre os perigos desses químicos para insetos benéficos e pássaros. São produtos usados em uma vasta gama de plantações, e com diversas formas de aplicação. A Imidacloripride, por exemplo, é indicada no site do Ministério da Agricultura para:
– Tratamento de sementes – plantações de algodão, amendoim, arroz, aveia, cevada, feijão, milho, soja e trigo.
– Pulverização foliar – plantações de abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, algodão, alho, almeirão, batata, berinjela, brócolis, cebola, chicória, citros, couve, couve-flor, crisântemo, feijão, fumo, gérbera, jiló, melancia, melão, pepino, pimentão, poinsétia, repolho, soja e tomate.
– Tratamento do solo – plantações de cana-de-açúcar, café, fumo e uva.
– Aplicação no tronco de citros.
– Aplicação no controle de cupins, conforme aprovação em rótulo e bula.
Só alguns inseticidas feitos a partir da Imidacloripride, Clotianidina, Tiametoxam ou Fipronil trazem advertências sobre a toxidade para abelhas. No Agrofit uma das exceções é o Adante, feito à base de Tiametoxam.
“Este produto é ALTAMENTE TÓXICO para abelhas, podendo atingir outros insetos benéficos. Não aplique o produto no período de maior visitação das abelhas”, traz o campo “precauções de uso” do produto na página do Agrofit.
Ele é produzido e comercializado pela Syngenta, sendo uma das armas contra inimigos mortais das plantações de Soja, tais como a ferrugem asiática e a mosca branca.
De maneira geral, as quatro substâncias compartilham um receituário padrão. Indicações, precauções, advertências, acidentes e embalagens, além dos alertas de praxe. Coisa do tipo: “Preserve a Natureza.
Não utilize equipamento com vazamento. Não aplique o produto na presença de ventos fortes ou nas horas mais quentes”. Curiosamente, nenhuma das variantes do Gaucho, do Poncho, ou do Regent presentes no Agrofit trazem advertências sobre a toxidade para abelhas.
Links
– Sobre os efeitos da Clotianidina / Poncho (em inglês)
– Alemanha suspende autorização de agrotóxicos acusados de matarem abelhas (em alemão)
– Clotianidina é altamente tóxica para abelhas e polinizadores (em inglês)
– Corelações entre a morte de abelhas nos EUA e na Alemanha (em inglês)
– Presidente da Bayer é processado pela morte de abelhas (em inglês).