Por que o Hamas venceu?

Mário Maestri*

É difícil imaginar algo pior para os governos de Israel e dos Estados Unidos do que o pronunciamento democrático da população palestina, nas eleições de 25 de janeiro, que conferiu 74 deputados para o Hamas e apenas 45 para o Fatah de Abu Abbas, num parlamento de 132 cadeiras. Para não falar da terceira colocação da Frente Popular para a Libertação da Palestina, intransigente defensora  da luta contra a ocupação, de origem marxista.

O explosivo resultado eleitoral, que desmentiu igualmente as já habituais manipulações dos ibopes da vida [anunciou-se a vitória do Fatah por uns cinco pontos de diferença], desorganizou implacavelmente toda a política de aniquilamento da resistência palestina empreendida, nos últimos anos, com indiscutível sucesso, pela administração Bush, em estreita colaboração com o governo israelense e a União Européia.

Após o trauma causado ao mundo árabe e à Palestina pela invasão anglo-estadunidense do Iraque, celebrada  precipitadamente por Bush em primeiro de maio de 2003, a morte de Yasser Arafat, em 11 de novembro de 2004, certamente por envenenamento, constituiu o primeiro grande movimento da ambiciosa operação. Como assinalou a mídia ocidental, quase festejando, a eliminação do velho lutador abria caminho para a entronização no Fatah e na OLP de direção flexível que permitisse a imposição da paz israelo-estadunidense na região.

Candidato do imperialismo

O segundo passo da ambiciosa operação foi a eleição de Abu Abbas, de 69 anos, antigo guerrilheiro ganho à colaboração, primeiro como dirigente do Fatah e, em 9 de janeiro de 2005, como presidente da Autoridade Nacional Palestina – ANP –, o arremedo de governo permitido pelos israelenses aos palestinos sob ocupação. Primeiro ministro em inícios de 2003, Abu Abbas renunciou por opor-se a Arafat. Com pouco prestígio entre os palestinos, foi um duro crítico da segunda “Intifada” e defensor do fim dos ataques a Israel.

A eleição de Abu Abbas foi facilitada pelo seqüestro, em 2002, e condenação à prisão perpétua, a seguir, pelo Estado de Israel, do popular, carismático e combativo Marwan Barghuti, dirigente do Fatah na Cisjordânia. Hoje com 46 anos, Barghuti foi um dos principais organizadores, em 1987-93, da primeira “Intifada”,  a guerra dos Davids armados de pedras contra os Golias encerrados em blindados, e tem sido igualmente crítico implacável da corrupção e dos excessos da  ANP.

A terceira e última etapa política do ambicioso plano do imperialismo constituía a vitória eleitoral total, nas últimas eleições parlamentares de 25 de janeiro, dos seguidores da Fatah de Abu Abbas. Para tal, manipulou-se vergonhosamente as listas de candidatos daquele movimento, marginalizando os nomes comprometidos com a resistência e privilegiando aqueles que se esbaldavam na colaboração e no usufruto privado das escassas verbas cedidas pelos USA e pela União Européia para financiar a ANP.

Reivindicações históricas

Previa-se que, com o apoio do imperialismo e de Israel, senhor inconteste da ANP, o novo governo implementaria a repressão daqueles que se opusessem a uma paz emasculada e ao abandono das reivindicações históricas palestinas: liberdade dos milhares de prisioneiros políticos; devolução dos territórios ocupados na guerra de 1967; direito de retorno das populações expulsas pelas armas; independência do setor oriental de Jerusalém; constituição de Estado palestino soberano.

Em nome da paz, o governo palestino liderado por Abu Abbas aceitaria a constituição de um Estado fantoche e desmilingüido, formado pela faixa de Gaza, recém-desocupada; por alguns enclaves territoriais na Cisjordânia, cercados por possessões israelenses, à semelhança dos bantustãos do finado regime racista sul-africano. Em vez de uma nação palestina independente, um protetorado israelense, sem capital, sem unidade territorial, sem autonomia econômica, sem autoridade sobre suas políticas, fronteiras, finanças, exército.

Esperava-se que a repressão implacável das forças que se opunham dentro e fora da OLP à rendição vergasse a disposição de resistência da população, criando as condições para uma reorganização geral da sociedade e da economia palestina, sob o rígido controle de Israel. A nova realidade criaria base social palestina mínima para o sepultamento da luta histórica por territórios e Estado independentes.

Raio em céu sereno

A vitória do Hamas desorganizou sem piedade a trama urdida pela administração Bush. Ela não foi, porém, em nenhum caso, raio riscando inesperadamente um céu sereno, como proposto pela grande mídia mundial. Nas semanas anteriores às eleições, prevendo a derrota, Abu Abbas procurou se servir das dificuldades impostas pelos israelenses às eleições para retardá-las e obter mais tempo para impor seus candidatos.  Dias antes do pleito, assustado com o avanço eleitoral do Hamas, o governo de Israel permitiu que Barghuti, candidato da lista eleitoral do Fatah, fosse entrevistado na prisão, para que desviasse votos do Hamas.

Apesar de todos os sinais, a administração Bush exigiu o cumprimento dos prazos eleitorais, esperando conquistar, na Palestina, alguns dos muitos pontos que perdeu junto à opinião publica mundial e estadunidense, devido ao Iraque. A vitória do Abu Abbas e a repressão da resistência palestina por forças palestinas mostrariam a correção da política de construção, através de eleições de cartas marcadas, de governos enfeudados ao imperialismo, como tem ocorrido, com mais ou menos sucesso, no Afeganistão, no Iraque e ocorrerá, proximamente, no Haiti, com o apoio do governo brasileiro de Lula da Silva.

A população palestina desarmou inexoravelmente a trama ardilosamente tecida deslocando simplesmente grande parte do apoio que concedera ao Fatah, de Yasser Arafat, para o Hamas, de Ismail Haniya.  Retirou, assim, sem complacência, o apoio dado à Abu Abbas, há um ano, devido a sua rendição ao imperialismo e ao sionismo. Isolou e enfraqueceu profundamente o presidente palestino e seus aliados, ao colocar no coração do próximo governo organização execrada como terrorista pelo governo estadunidense, ao igual que o IRA, as FARC, o Hesbolah,  etc.

É ledo engano definir os resultados eleitorais de 25 de janeiro como um simples deslocamento do apoio eleitoral da população, de uma administração do Fatah, corrupta e incapaz, para um Hamas visto como íntegro e competente. A população palestina é uma das mais politizadas do Oriente Médio. A corrupção, antiga realidade nas filas do Fatah, foi realidade minimizada pela população, enquanto segmentos do Fatah prosseguiam na luta e o velho combatente resistia, aos 75 anos, com as mãos já trêmulas, entrincheirado nos escombros de ex-palácio presidencial de Ramallah, cercado por tropas israelenses, como bandeira viva dos sofrimentos e da firmeza dos palestinos.

Pátria para todos

A vitória também não foi uma surpresa para o Hamas. Desde sua recente fundação, em 1987, no início da primeira Intifada, esse movimento integralista islâmico vem ampliando seu prestígio entre a população, sobretudo devido à associação de luta sem quartel e, não raro, sem limites, ao Estado de Israel e à construção de uma vasta rede de assistência social.

O Hamas promoveu sem pejo o terrorismo individual, como resposta ao terrorismo do Estado israelense. Mahmoud al-Zahar, dirigente do Hamas, chegou a propor: “A morte de civis tem que ser punida com a morte de civis”. Em retaliação a assassinatos israelenses, em fevereiro-março de 1996, o Hamas lançou atentados suicidas que ceifaram a vida de mais de meia centena de israelenses. Essas ações puseram fim ao mito de uma guerra em que só morriam palestinos; conquistaram apoio entre uma população ferida e humilhada; debilitaram o frágil movimento pacifista israelense e fortaleceram a direita, facilitando a eleição de Binyamin Netanyahu.

O apoio ao Hamas cresceu igualmente devido a sua rede assistencialista de escolas, refeitórios, ambulatórios, etc., que assumiu singular importância após a eliminação implacável das lideranças, das associações, das instituições, etc. da Autoridade Nacional Palestina  pelo governo israelense comandado por Ariel Sharon. Como assinalado, essa política almejava cortar os profundos laços do Fatah de Yasser Arafat com a população, permitindo a ascensão de direção desvinculada com as reivindicações nacionais palestinas.

O desenvolvimento do integralismo islâmico no mundo árabe, através de escolas alcorânistas e rede assistencialista, é uma antiga política dos anglo-britânicos, implementada após o fim da Segunda Guerra, para fazer frente ao crescimento do movimento nacionalista e socialista pan-árabe que se expressou na nacionalização do canal de Suez, por Nasser; do petróleo, no Iraque, pela Revolução de 1958; na derrocada da monarquia, no Afeganistão, etc.  Essa política foi e é tradicionalmente financiada pela Arábia Saudita e pelos emirados títeres islâmicos.

Fundamentalismo islâmico

Assim como os talibãs, no Afeganistão; a Qaeda, no Mundo Árabe; o Hesbolah, no Líbano; os Irmãos Muçulmanos, no Egito, etc., o Hamas é um descendente, mais ou menos direto, da reorientação política do fundamentalismo islâmico fomentado e apoiado inicialmente pelo imperialismo anglo-estadunidense.

Com a vitória histórica do capital sobre o trabalho, em fins dos anos 1980, e a forte perda de prestígio e de atração do marxismo, do socialista, do racionalismo, do laicismo, etc., a oposição ao imperialismo e à exploração capitalista passou a expressar-se, no mundo árabe, em forma confusa, através de fundamentalismo islâmico combatente que associa a rejeição  ao imperialismo e ao capitalismo à rejeição à modernidade.

Também consciente de seu crescente poder eleitoral, o Hamas abandonou sua tradicional negativa à participação no jogo eleitoral, jogando-se de corpo inteiro nas eleições parlamentares gerais de janeiro desse ano. Para tal, manteve, por mais de um ano, trégua com Israel, apesar da covarde execução do fundador e líder espiritual do movimento, Ahmed Yassin, de 67 anos, cego, paraplégico, entravado em cadeira de rodas, executado através de ataque de mísseis de helicópteros, em 22 de março de 2004, ao sair de uma mesquita.

Após a vitória do Hamas, o governo dos USA, de Israel e das grandes nações da União Européia buscaram entrincheirar-se – e, assim, conquistar tempo e fôlego para reorganizar suas políticas – por de trás da negativa  de negociação com um governo do Hamas. Pouco respeitadores das regras democráticas, prometeram, igualmente, o corte dos recursos da ANP, dos quais dependem mais de cem mil funcionários e boa parte da população, caso a organização não “reconheça” o Estado de Israel e “não abandone o terrorismo”.

Paz e justiça

O Hamas vem mantendo, há mais de um ano, como assinalado, trégua com Israel, o que constitui, nos fatos, um reconhecimento daquele Estado. Imediatamente após a vitória eleitoral, propôs, explicitamente, «trégua de longo prazo», e, implicitamente, reconhecimento de Israel, desde que os israelenses se retirem para as fronteiras de 1967, como exige igualmente a ONU, e liberte todos  os prisioneiros palestinos.

A proposta do Hamas como organização terrorista e irracional, totalmente estranha à política, é uma criação da mídia manipulada pelo imperialismo. Em 2002, o sucessor de Ahmed Yassin, Abdelaziz al-Rantissi, também assassinado pelos israelenses, declarou à BBC inglesa que o “principal objetivo da Intifada” era a “liberação da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, e nada mais”. Já que não havia “força para liberar toda a nossa terra”. Reiteradas vezes, a direção do Hamas lembrou que a derrota de Israel, que possui amplo arsenal nuclear, é impossível.

Israel e o imperialismo estadunidense e europeu exigem simplesmente que o Hamas aceite a rendição palestina e abandone a luta por um Estado soberano, nas fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental. Reivindicações possíveis de serem alcançadas apenas com a unificação geral da resistência palestina, apoiada pelo movimento pacifista israelense e antiimperialista mundial.

A vitória eleitoral do Hamas pode favorecer a necessária unificação da luta palestina. Sobretudo se o movimento compreende o verdadeiro sentido do apoio eleitoral recebido e abandone o projeto de islamização da sociedade palestina, com propostas de leis, como as anunciadas, de separação dos estudantes de ambos os sexos e o uso obrigatório do véu pelas mulheres.

No longo combate contra o imperialismo e o sionismo, as eleições de 25 de janeiro, assim como a desocupação parcial da faixa de Gaza, foram dois combates vencidos pelos palestinos, em uma guerra talvez ainda dolorosamente longe de sua conclusão. Vitórias parciais que se materializam, mais e mais, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Venezuela, na Bolívia, diante dos olhos atônitos dos poderosos que haviam anunciado exultantes o fim da construção da história pelos povos.

*Historiador

Mídia e mordaça

Romero,  jornalista, coordenador do Departamento de Direitos Sociais e Imprensa Livre da Associação Riograndense de Imprensa

Os meios de comunicação brasileiros e seus profissionais vivem, com freqüência, momentos de sobressalto. Apesar da credibilidade expressiva, apontada por pesquisa do Ibope, onde 63% dos brasileiros entrevistados dizem confiar principalmente no jornalismo impresso, seguidamente ocorrem tentativas de amordaçamento da instituição mídia que se espraia pelos veículos rádio, TV, revistas, jornais e Internet.

A posição intermediária no ranking internacional de liberdade de imprensa, revelada por instituições de defesa da categoria, é indicadora da preocupação que deve nortear a atuação da mídia em geral, em contraponto aos diversos acontecimentos atentatórios ao constitucional direito à liberdade de expressão.

Há poucos dias, foi revelado o grampo telefônico espúrio na redação de uma rede de comunicação capixaba. Também recentemente, por determinação judicial, o sítio na Internet de um dos maiores jornais do País teve que eliminar ou evitar a divulgação de notas e notícias sobre processo judicial público. Nos rincões do Brasil, noticiam-se casos freqüentes de agressões, atentados, ameaças e represálias de políticos e empresários locais a reportagens críticas a posturas ou governos. Um jornalista agraciado com prêmio internacional não pôde deixar o Brasil para receber a láurea, no final do ano passado, em razão de processos que responde por sua atuação profissional. Estes e outros exemplos claros da “profissão perigo” de jornalista recebem, vez ou outra, ameaça dos mandatários palacianos.

Depois do episódio traumático do pretenso projeto de lei de criação do Conselho Federal de Jornalismo, que tardou, inclusive, a ser arquivado no Congresso Nacional, recente notícia colocou em polvorosa as entidades de classe dos profissionais da imprensa.

O governo federal estuda enviar ao Congresso um projeto que reformula a legislação envolvendo escutas telefônicas, abrindo brechas legais para a punição de jornalistas que divulguem o conteúdo dos “grampos”, inclusive os obtidos com autorização judicial. A medida prevê multas e, até, prisão de um a três anos, elevadas em um terço se “a divulgação se der por meio de jornais e outras publicações periódicas, serviços de radiodifusão e serviços noticiosos, bem como pela Internet”. A lei 9.296, do governo anterior, já caracteriza como crime a quebra de sigilo das escutas, mas não menciona a vedação aos meios de comunicação.

A imprensa, que exerceu papel preponderante na divulgação dos escândalos que levaram à crise o partido do atual presidente e que contribuiu decisivamente para o “impeachment” de outro, não pode ficar à mercê de condicionamentos que penalizem de morte o interesse público da informação.

Apesar de serem indispensáveis regras consolidando o direito à privacidade e o segredo de justiça, as entidades de classe empresariais e dos profissionais da mídia devem repudiar com veemência esta nova tentativa de mordaça, pois tal medida confronta incisivamente com a liberdade de imprensa, já tão vilipendiada em nosso País.

Até quando?

Vereador Adeli Sell (PT)

Até quando vamos aceitar uma Porto Alegre com ocupações abaixo de 50% na sua rede hoteleira? Até quando vamos assistir bares, restaurantes e casas noturnas vazias no verão porto-alegrense?

Porto Alegre é uma cidade vocacionada para os serviços e o comércio. Possui equipamentos para múltiplos eventos, como seminários, fóruns, feiras etc.. Tem um comércio pujante, com inúmeras promoções, podendo atrair visitantes de todo o interior do Estado.

As atividades culturais, além de múltiplas,  são ricas na cidade, em qualquer período. A lista  de positividades de Porto Alegre é longa. Ora, então, por que motivos nós não nos tornamos uma capital turística?

Não nos tornamos neste centro aglutinador, porque há uma profunda ignorância sobre este potencial a começar pelos nossos gestores públicos há anos. Se o governante não acredita, já há uma brecha por onde se esvai a energia  que outros, como aqueles operadores do trade.

Todos nós já cansamos de discursos e bravatas. Precisamos de ações concretas. De ATITUDES!.

É claro que nós também temos que fazer um processo de reciclagem cultural entre os operadores do turismo. Quero, mais uma vez, me colocar à disposição para trabalho e defesa do Turismo. Quero ser, como sempre tentei, ser  um agente propulsor do desenvolvimento econômico e social.

É hora de dialogar. É hora de enterrar velhas e idiotas disputas. É hora de somar esforços, de união e ações.

O parlamento e o escárnio ao povo

Vilson Antonio Romero (*)

“Após ouvir as lideranças partidárias, cheguei à conclusão de que, em função dos desafios e atividades do Congresso, da votação do Orçamento, do trabalho do Conselho de Ética, dessa situação extraordinária, o melhor para o funcionamento das instituições é a convocação”. Com esta afirmativa, o presidente da Câmara dos Deputados, o membro emérito do Partido Comunista do Brasil do estado de São Paulo, Aldo Rebelo, sacramentou uma das mais escancaradas zombarias ao povo brasileiro dos últimos tempos.

Após um ano inteiro enlameados pelas denúncias de corrupção, “mensalões”, desmandos, obstruções às votações de interesse da Nação e muito pouco trabalho prático, logram os senhores parlamentares uma “premiação” de final de ano que contribui mais uma vez para consolidar a péssima imagem do Congresso e seus membros (como se eles estivessem ligando para isto!).

Todos os 513 deputados federais e os 81 senadores da República estão “convocados para trabalhar extraordinariamente” no período de 16 de dezembro a 14 de fevereiro. Mas o cenário do primeiro dia repete a história de outras convocações de triste memória (para nós, eleitores!): só quatro dos 594 parlamentares foram vistos circulando e na Câmara nem o plenário abriu na sexta-feira, 16.

É óbvio: durante todo o ano a maioria comparece à Brasília somente da tarde de terça até o final da manhã de quinta-feira. Como pretender que, no mês de dezembro, estejam presentes numa sexta-feira?…

Mas, o pior não é isto… O escárnio parlamentar ao povo brasileiro está no fato de que, até fevereiro, as “suas excelências” receberão oito subsídios de R$ 12,8 mil cada, mais de R$ 102 mil em três meses, para a maioria nada fazer. Expliquemos: além dos salários destes meses, do 13º salário e dos dois subsídios pela convocação extraordinária, eles perceberão mais um subsídio extra pelo fim do ano legislativo (em dezembro) e outro pelo início do ano legislativo de 2006 (em fevereiro).

Agravante: no primeiro mês, somente um quarto do Legislativo federal estará obrigado a se apresentar no Congresso: os 88 membros da Comissão Mista do Orçamento, os 15 do Conselho de Ética e os 47 deputados e senadores das CPIs dos Bingos e dos Correios.  Os demais ganharão sem trabalhar… O que não é nenhuma novidade!

Na retrospectiva do ano, a fraca produção dos projetos de efetivo interesse aprovados abrange: no início do ano, em março, a lei de biossegurança, depois, no final de junho, a PEC paralela da previdência e, no apagar das luzes de 2005, de afogadilho, a proposta que cria a Timemania e as MPs 232 e do Bem. Projetos relevantes como a reforma tributária, a Super Receita e a reforma política foram sendo “roladas e enroladas” e agora foram incluídas na pauta.
O dinheiro pago pela convocação extraordinária – quase R$ 100 milhões -, só para termos uma idéia, é suficiente para conceder o aumento divulgado de R$ 50 ao salário mínimo para mais de dois milhões de aposentados do INSS, pelo menos por um mês.

Por estas e outras, que perdem a razão os congressistas em reclamar quando músicos como os Titãs lhes dedicam alguns versos mais incisivos ou quando as pesquisas de opinião colocam os políticos no fim da fila da credibilidade e confiança por parte da população.

É com melancolia e exemplo pouco edificante como este que fecha a cortina do ano da graça de 2005 para o Parlamento brasileiro.  Apesar de eles estarem com o dinheiro no bolso…
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(*) jornalista, servidor público, diretor da Associação Riograndense de Imprensa, consultor da Fundação Anfip de Seguridade Social

email:Vilson.romero@terra.com.br

As “lavouras” de eucalipto como solução para problemas sociais e ambientais

* Professor Dr. Mauro Schumacher

Sob o ponto de vista econômico, a metade sul do Estado é caracterizada como “primo pobre” ou “ovelha negra” do Rio Grande, se comparada com a metade norte e a região da serra. São grandes extensões de campos sem aproveitamento, abrigando máquinas paradas, enferrujadas pela ação do tempo. Proprietários com até cinco mil hectares enfrentando dificuldades pela falta de alternativas e de recursos. Quais as vantagens em deixar um campo vazio, com absolutamente nada sobre eles? Só para citar dois exemplos, a pecuária está virando um problema para os criadores de gado e a soja perdeu mais de 50% do seu valor de mercado. Quem paga o custo de uma extensão rural para que o produtor fique meramente observando a manutenção de um bioma?

Por outro lado, vemos muitos  hectares com lavouras de arroz e de soja. E por quê, então, não se discute a quantidade de veneno que vai nessas culturas? E os herbicidas que contaminam os mananciais? E os proprietários desinformados que praticam queimadas, torrando tudo que é verde? Contra isso ninguém se manifesta. Entretanto, basta que se fale em plantios de florestas para que ecoem vozes de revolta. E surgem declarações levianas de devastação, deserto verde, alteração na paisagem do pampa, entre outros absurdos. Por que não buscam entender que o reflorestamento é uma resposta às questões sociais e econômicas da Metade Sul como forma de trazer um fio de esperança a essa gente?

O Brasil dispõe da maior área de florestas plantadas de eucalipto do mundo. Entretanto, aqui no estado, a base florestal ainda é modesta: gira em torno de 360 mil hectares e ainda temos – só na Metade Sul – em torno de 15 milhões de hectares disponíveis. Caso três fábricas passem a produzir cerca de 1 milhão de toneladas de celulose por ano no Rio Grande do Sul, teremos demandas por um grande volume de madeira: algo em torno de 300 mil hectares por ano.

Logo, os investimentos em plantios devem elevar a base florestal gaúcha para 1 milhão de hectares. Em contrapartida, uma empresa que precisa plantar 100 mil hectares de “lavoura de eucalipto”, vai ter que preservar quase a metade dessa área, como reserva legal. Também é importante salientar que ninguém pode e nem vai fazer esses plantios em linha reta. Até porque, todo e qualquer projeto envolvendo o meio ambiente passa pelas minuciosas análises da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental).

O que deve acontecer é uma pulverização em diferentes municípios e, dentro desses municípios, em distintas propriedades, seja através de parcerias, seja através de áreas próprias. Tudo isso em conformidade com as APPs (Áreas de Preservação Permanente), formando-se os chamados corredores ecológicos, entremeando espécies nativas, mata ciliar, banhados e o bioma campo. Este sistema vai quebrar a monotonia dos plantios, desfazendo aquela idéia de monocultura ou de que reflorestamento é “tapar tudo” com eucalipto, pinus ou acácia.

Outra prática que as pessoas precisam entender é a de que ninguém planta uma floresta e só retorna ao local sete ou oito anos depois para cortá-la indiscriminadamente. Antes mesmo do plantio, tem todo um cuidado com o preparo do solo, a adubação, o controle da formiga, o desbaste…. Depois, no momento da colheita, o processo ocorre por faixas, de forma escalonada, intercalada, formando sistemas conhecidos como mosaicos. Engana-se contudo, quem imagina que a colheita encerra o processo. Em hipótese nenhuma deve ser desprezado, removido ou queimado o resíduo da floresta, como cascas, galhos e folhas. Neles estão os nutrientes que vão assegurar a produtividade das futuras rotações, pois transformam-se numa camada orgânica riquíssima e fundamental ao solo.

Agora, uma nova vantagem passa a integrar o inesgotável acervo de avanços da tecnologia florestal. Quando foi estabelecido o protocolo de Kioto, pensou-se em alternativas para a redução de gases, principalmente o CO², um dos maiores responsáveis pelo chamado efeito estufa da atmosfera. E descobriu-se que a biomassa florestal tem a melhor captação e a maior capacidade de retenção de carbono, se comparado, por exemplo, com a agricultura. Isso significa que os ecossistemas florestais se constituem em mais uma solução para tantos problemas ambientais.

As primeiras pesquisas a respeito de captação de carbono no Brasil foram feitos na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Trata-se de estudos entre a UFSM e empresas de vários estados brasileiros. Num deles, voltado à indústria do fumo, verificou-se que nas propriedades rurais, uma floresta de eucalipto armazena, até os oito anos de idade, uma média de 80 a 100 toneladas de carbono por hectare. Quando se fala em espécies clonadas, então, esse número é muito maior.

Isso nos leva a crer que, um programa de fomento, envolvendo parcerias, tornaria viável a criação de um projeto de geração de crédito de carbono. Com a alternativa, o produtor rural, ao vender a madeira após a colheita, teria incorporado carbono ao solo através da matéria orgânica produzida pela floresta.

Respeito ao ecossistema significa que podemos plantar eucalipto pela vida inteira sem que jamais tenhamos problemas. Atingimos um elevado grau de maturidade na produção de nossas florestas graças aos incansáveis anos de pesquisa, de tecnologia, de conscientização, de definição de parcerias e de informações coerentes sobre manejo para produtores rurais e todos aqueles que vivem da floresta. Agrega-se a tudo isso a geração de empregos que impulsiona a cadeia do agronegócio florestal no Brasil e no mundo.

* Professor Adjunto de Ecologia e Nutrição Florestal da UFSM

Carta de Barcelona

Neste domingo, dia 20 de novembro, cumpriu-se 30 anos da morte de Franco. Mesmo passadas três décadas do falecimento do ditador, a sociedade espanhola continua dividida quanto ao papel que o franquismo representou para o país. Em Madri e no Vale dos Caídos, onde está o mausoleu que o ditador mandou levantar para guardar seus restos mortais, centenas de falangistas reuniram-se para homenagear a memória de Franco. Enquanto que, na maioria da cidades espanholas, o que se viu foram gestos de desaprovação aos anos de chumbo.

Essa divisão da sociedade espanhola também se nota na política de hoje em dia, entre os simpatizantes do Partido Popular (PP) de centro direita e do Partido Socialista Obrero Español (PSOE) de centro esquerda, agora no governo. Todas as iniciativas políticas dos socialistas são torpedeadas no congresso pelos populares. A última, é a proposta de um novo estatuto para Catalunha. Espanha é um país distribuido em 17 comunidades autônomas que gozam de uma grande autonomia. Têm leis próprias, uma espécie de constituição (estatuto), que regulam suas relações com o estado espanhol e com a União Européia.

O estatuto de Catalunha é de 1978, logo depois da volta da democracia em 1975, quando da morte de Franco. Estava pactado entre os grupos políticos espanhóis que nesta legislatura começariam as reformas dos estatutos. O bascos tentaram o seu, no ano passado, mas foi rejeitado pelo congresso espanhol. Agora os catalães estão tentando pactar com o restante da espanha o seu. A principal briga é semântica. Os catalães dizem que são um país que está dentro da Espanha, portanto são uma nação dentro da nação espanhola e querem colocar isso no seu estatuto. Mas a constituição espanhola diz em seu artigo segundo que Espanha é uma nação indivisível e que, por isso, é a única nação que cabe dentro de Espanha.

Parece pouca coisa, mas não é. Europa é um continente muito sensível aos nacionalismo, como nos recorda o extermínio na Bósnia, na década passada. A crispação é de tal magnitude que chega a provocar risos, pelo menos para alguns. Existe um boicote aos produtos catalães em várias regiões espanholas, sobretudo com o cava (champanha) que é o produto estrela aqui da Catalunha. Com a proximidade das festas de fim de ano, os empresários catalães estão com os pelos em pé com a pouca procura pelo seu cava. Nem para brindar a entrada de um novo ano, castelhanos e catalães conseguem alcançar um acordo.

A única coisa capaz de relaxar um pouco a animosidade entre os dois bandos parece ser o futebol bem jogado. Depois do segundo gol do Ronaldinho, no clássico de sábado, em Madri, onde o Barcelona goleou o Real Madri por três a zero, os sócios do Real Madri aplaudiram, em pé, a sensacional jogada do atleta gaúcho. Feito que só havia ocorrido uma vez antes, quando o mesmíssimo Diego Maradona marcou outro gol de placa para o Barcelona, no estádio Santiago Bernabéu.

Rivadavia Severo*

* Jornalista

Recorde à vista no Turismo

Wilson Müller*

O ingresso de turistas no Brasil vem apresentando números muito positivos. Até setembro, os viajantes deixaram 360 milhões de dólares no país, ou 40,07% a mais em relação ao mesmo mês de 2004, e 5,6% acima de janeiro deste ano, que havia sido o melhor mês da história. Visitar o Brasil parece estar na moda no mundo. Isso, porém, não acontece por acaso. A situação resulta de ativa estratégia turística desenvolvida pelo país no exterior, na qual os Escritórios Brasileiros de Turismo do Brasil (EBT) desempenham papel essencial.

Os EBTs, que atuam em parceria com a Federação dos Conventions Visitors Bureau, tem a missão de consolidar o nosso país como destino turístico entre os melhores que existem. O primeiro EBT foi instalado em Lisboa, em janeiro de 2004, e o mais recente surgiu em setembro de 2005, em Madri. Entre  um e outro, o Brasil obteve muita promoção, com a realização de seminários sob o título “Descubra o Brasil”, treinamento para agentes de viagens, apoio para viagens de profissionais de turismo e da imprensa para conhecerem destinos nacionais, bem como estreitamento de relações com o mercado, incluindo operadoras, companhias aéreas e veículos da imprensa.

No tocante à divulgação do Brasil na mídia, o resultado foi excelente. Segundo Eduardo Sanovicz, presidente da Embratur, até setembro de 2005, mais de 100 matérias sobre o Brasil foram publicadas em jornais e revistas de grande circulação, como o Correio da Manhã, de Portugal, Sunday Times, do Reino Unido, Panorama, da Itália, e o New York Times, dos EUA. A divulgação do Brasil na imprensa estrangeira reforçou as ações dos EBTs, e contribuiu para que mais de 60 novas operadoras internacionais passassem a vender nosso país como destino turístico.

Ao mesmo tempo, o Brasil conquistou mais projeção na França, com o evento “Ano do Brasil na França”, marcado pela realização de várias atividades promovidas pelo Ministério do Turismo,  Embratur e estados, destacando-se um concurso cultural sobre o nosso país, do qual participaram estudantes de 143 instituições de ensino francesas, com os vencedores premiados com viagens ao Brasil. Já o navio-veleiro Cisne Branco, da Marinha, durante quatro meses promoveu o Brasil aos visitantes que recebia a bordo em portos de cidades francesas do Mediterrâneo, enquanto nas ruas de Paris franceses e turistas do mundo todo conheciam os principais atrativos do Brasil. É realista, portanto, a previsão da Embratur de que o Brasil deverá registrar o recorde de cinco milhões de turistas em 2005.

* Presidente da Câmara de Turismo do RS

O Sonho de Francimar

Francimar deixou seus pais em uma comunidade distante dois dias de barco da cidade de Manaus, na época, estava com 13 anos, hoje está com 17. Veio à capital em busca de trabalho seguindo o exemplo de uma tia, com a qual divide a moradia. Conseguiu trabalho logo em seguida como auxiliar de serviços gerais em uma produtora de vídeo especializada em acompanhar turistas em passeios por Manaus e arredores. Há três anos ele foi promovido a cameraman, com isso, seu salário melhorou, subiu para R$ 400,00. Como ele mesmo diz: “Garraram confiança em mim e me pagaram um curso de filmagem…”.
O brilho nos olhos e a felicidade com que executa seu trabalho mostram que o jovem realmente gosta do que faz. Francimar é um exemplo de persistência e luta; trabalha durante o dia e estuda à noite. Ano que vem termina o segundo grau. Em 2005 estava praticamente passado em todas as matérias antes mesmo do fim do ano letivo. Ele não tem tempo para lazer, já que nos finais de semana também precisa estudar. Fala que diverte-se na hora de trabalhar na edição das imagens dos vídeos que são encomendados pelos turistas – é muita vídeo-cassetada! O valor do transporte e a distância permitem que ele visite os familiares somente uma vez ao ano – geralmente no Natal.
Navegar pelos Igarapés ouvindo seus relatos é melhor do que estar acompanhado de um guia turístico. Mesmo não gostando de história, geografia e ciências – suas matérias preferidas são matemática, física e química – Francimar demonstra ser um grande conhecedor da fauna e da flora locais. Além disso, discorre com facilidade sobre as ilhas, seus canais e a história da população ribeirinha.
De uma coisa Francimar está certo, pelo menos por enquanto: jamais deixará Manaus. Vontade de conhecer outros lugares também não tem. A idéia de distanciar-se do Rio Negro o assusta. Perder de vista as águas que o levam até seus pais e antepassados está fora de cogitação. Porém, como qualquer jovem, ele tem sonhos. Assim como sua vida, seus sonhos são modestos. Talvez o mais “audacioso” para ele mesmo, seja o de cursar uma faculdade, só não sabe ainda o que vai escolher. Da forma com que batalha, tenho certeza que conquistará seu espaço em uma Universidade Pública; e isso, mais que um sonho, é um direito seu adquirido por lei. Agora, só lhe falta decidir o curso.
Então, Boa Sorte Francimar!
Christian Lavich Goldschmidt
*escritor e ator

Tambor(es) da aldeia

Vilson Antonio Romero
As últimas décadas consolidaram as idéias tofflianas (de Alvin Toffler, o pensador) da Terceira Onda, da otimização da tecnologia e da informática. Nestes tempos vertiginosos em que instantaneamente se comunicam o Brasil e o Sri Lanka, o Japão ou qualquer outro recanto, longe ou perto, mais nos aproximamos do cipoal da interdependência eletrônica vislumbrada pelo canadense Marshall McLuhan.
O oráculo da comunicação planetária, criador da metáfora “aldeia global”, ao falecer em 1980, em Toronto, não chegou a ver a expansão fabulosa da televisão, como instrumento de entretenimento e informação. Já vemos este veículo agora com transmissão digital em grande parte dos países, integrado com o computador e com o telefone móvel.
Nos próximos dez anos, cada vez mais farão parte do vocabulário cotidiano termos como tecnologia de plasma e cristal líquido – para aparelhos de TV e monitores de computador; multimídia e redes sem fio – wireless, iPods, bem como câmeras fotográficas digitais com sistemas integrados de transmissão de imagens.Sem falarmos na melhoria das redes telefônicas, por satélite, que permitirão qualidade de som na ligação entre Brasília e Johanesburgo, por exemplo.
McLuhan, o autor de “A Galáxia de Gutenberg”, “O Meio é a mensagem” e “Os meios de comunicação como extensões do homem”, entre outras obras, ressaltava que a nova interdependência eletrônica recria o mundo à imagem de uma aldeia global que representa a transformação do mundo linear, da Era de Gutenberg, da civilização da imprensa e da palavra escrita, num mundo holístico e intersistêmico, propiciado pela mídia eletrônica, novo tambor da “global village”.
Cada vez mais se intensifica o uso da World Wide Web, a popularizada rede mundial de computadores, com transmissão de mensagens, imagens, sons, inclusive contatos telefônicos através da tecnologia VoIP atravessando e entrelaçando a “aldeia global”. Na Internet, os sítios de busca continuarão se aperfeiçoando, permitindo que, em segundos, tenhamos na tela todas as citações e registros na rede mundial, em todos os idiomas, sobre qualquer verbete, personagem ou evento.
Do comunicado do tambor tribal, no início dos tempos, aos tempos contemporâneos, mesmo assim, prevalece a mídia. E, dentre todos os meios disponíveis – tambores nem tão novos: jornal, revista, rádio, televisão e a Internet, ainda um se sobressai.
Em qualquer rincão recôndito do Planeta, em qualquer canto, nas mais diversas formas – portátil ou integrado ao celular – na casa, no carro, no campo, no sol ou na chuva, o som do rádio é ouvido, em amplitude ou freqüência modulada (AM ou FM), levando diversão, música e notícia. Ainda dentro da abordagem de tambor tribal que Marshall McLuhan lhe atribuía no início da década de 60.
É flagrante que a aldeia está cada vez menor e mais próxima, mais estreitos os laços da comunicação social. Quiçá estes tambores, tradicionais ou modernos, contribuam para tornar a aldeia mais solidária e menos devastadora de seu habitat e destruidora de seus habitantes, minimizando as imagens, o som e as palavras de horror, guerras, desastres e preocupação que ainda invadem nosso cotidiano.
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(*) jornalista, servidor público, diretor da Associação Riograndense de Imprensa, delegado sindical do Sindifisp/RS, conselheiro da Agafisp e consultor da Fundação Anfip. E-mail: Vilson.romero@terra.com.br.

Compromisso ético

No dia 11 de outubro, a Fundação Gaia promoveu em Porto Alegre um encontro entre jornalistas, representantes de ONGs ambientalistas e sociedade civil. No evento, que teve a participação do Jornal JÁ, Correio do Povo, Jornal do Comércio e Ecoagência Solidária de Notícias, os jornalistas tiveram a oportunidade de discutir com o público a responsabilidade da mídia na formação de uma consciência ambiental e sua efetiva colaboração na difusão de questões sócio-ambientais. A presença de profissionais de jornalismo abriu um espaço de reflexão sobre o que efetivamente está sendo informado para a sociedade e o caminho que se está construindo na perspectiva do meio ambiente.
A humanidade chegou a um ponto decisivo, onde todos necessitamos fazer uma conversão de valores, realizando uma mudança substancial em nosso modo de vida. Se  continuarmos a ignorar despreocupadamente as tragédias que vêm acontecendo, toda a raça humana poderá ser aniquilada. Por isso, o papel fundamental da imprensa deve ser o de orientar as pessoas a abandonarem ideologias que criam confrontos e divisões entre os povos. “O Papel da Imprensa para as Questões Ambientais”, tema do encontro, vai muito além de dar atenção às tragédias somente quando as mesmas ocorrem. Urge alertar as pessoas para o fato de que ingressamos num período de transição, onde, ou abraçamos o conceito de uma Humanidade unificada, ou continuamos cada vez mais antagonistas, um em relação ao outro, engajando-nos em conflitos mútuos.
Atualmente enfrentamos uma grande crise devido à decadência moral do ser humano, à qual efetivamente levou ao aumento das anomalias climáticas e dos cataclismos, provocados pela destruição do meio ambiente. Durante várias gerações, os seres humanos têm buscado dinheiro e posses materiais passando por cima de tudo e de todos despreocupadamente – na maioria das vezes, justamente por perseguirem-nos dessa forma, é que lhes escapam. Devemos inspirar as pessoas a viver de acordo com os princípios ecológicos, pois essa é a única forma de encontrarem a verdadeira felicidade.
Conduzido pela escritora Lilian Dreyer, o evento oportunizou aos jornalistas presentes discorrerem sobre o que a imprensa gaúcha vêm fazendo para informar, conscientizar e sensibilizar a população sobre a importância da preservação ambiental. Segundo Jurema Josefa, do Correio do Povo, o Jornalismo Ambiental, deve ser pautado no compromisso ético de disponibilizar informação verídica. Para isso, a imprensa deve fortalecer as ações das ONGs e se valer da credibilidade das mesmas. O resultado é uma troca de conhecimento da qual o maior beneficiado é o leitor. Nesse sentido, Lorena Paim, do Jornal do Comércio, lembrou que o papel fundamental da imprensa é o de informar priorizando também os assuntos ecológicos. Isso se faz não só registrando as catástrofes ambientais, mas sim divulgando as ações desenvolvidas para evitá-las. O “ecojornalismo”, segundo ela, se faz dando vóz e direito à todos os que lutam pela causa ambiental.
Guilherme Kolling relatou a experiência diferenciada do Jornal JÁ, do qual é redator-chefe. Segundo ele, o jornal tem por tradição o foco nas questões que envolvem o meio ambiente. Esse trabalho é visto tanto na edição mensal, distribuída aos assinantes e vendida em bancas, quanto nas duas edições quinzenais, disponíveis gratuitamente em pontos estratégicos de Porto Alegre. Promover debates e fóruns também faz parte do trabalho do JÁ, como aconteceu em março deste ano, onde empresários e políticos puderam discutir com a população acerca do “Reflorestamento e Desenvolvimento Sustentável”, que tratou das perspectivas dos negócios com madeira no Sul do Brasil.
Estamos construindo uma civilização baseada no individualismo, e o resultado disso são as últimas catástrofes naturais, através das quais estamos experimentando severos desafios. Porém, com esses fenômenos temos também a oportunidade, com reflexão e diálogo, de demonstrarmos de que serve a sabedoria humana – ou será que vamos esperar que nossos caminhos fiquem repletos de desatres e sofrimento?
Numa época em que nos defrontamos com o esfacelamento da sociedade, com a deterioração do meio ambiente, e com outros problemas prementes; os representantes das ONGs lembraram que essas entidades foram criadas e existem não com o objetivo de travar o progresso e o avanço da humanidade, mas sim para permitir que todos os seres vivos existam e avancem no caminho da prosperidade.
Christian Lavich Goldschmidt
Escritor e ator