Palavra

ANTONIO CANABARRO TRÓIS
O sol abre as janelas
a cidade atira os homens dentro dos bondes
nos trilhos que levam ao nada.
A menina chora
descobrindo sua feiúra na água da bacia
o pai operário bebe seu veneno
e vai morrer na fábrica.
O parque é uma ilha onde me salvo.
Riso de crianças adubando canteiros
o amor de tocaia sob os pássaros.
O minúsculo verme sonha nos encanamentos
os exilados da luz ressonam
O irremediáve é ascensorista
nos edifícios tumulares.
O perdão mora longe nos becos fechados
Os terraços vazios:
a palavra do revolucionário
morreu na boca fuzilada.
O parque é uma ilha
onde os náufragos se encontram.
Bebe-se na fonte a palavra renascida
e com novo amor vai-se dizê-la
para comover as surdas galerias.
(Do livro “À Procura de Deus e do Outro”, de 2007)

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