Paulo Nathanael Pereira de Souza*
As mudanças que alteraram profundamente – e continuarão alterando, por um bom tempo — as relações no mundo do trabalho desviam cada vez mais o foco das atenções para um perfil profissional que, até pouco tempo, passava quase despercebido no cenário acadêmico e empresarial. Trata-se da figura do jovem empreendedor, capaz de se antecipar aos problemas, ser criativo ao apresentar soluções, não ter medo de ousar coisas novas, liderar pessoas rumo a uma meta pré-definida, entre outras habilidades peculiares.
O empreendedorismo, entretanto, ainda padece de duas visões distorcidas, que prevalecem em boa parte do universo corporativo. Uma pertence àqueles que acreditam que pode ser praticado apenas por quem decide partir para o negócio próprio – em outras palavras, isso significa que não se trata de uma habilidade que deve ser cultivada ou estimulada dentro das empresas e órgãos públicos. Outros acham que empreendedorismo não se aprende na escola.
Nada mais falso do que esses dois conceitos. A primeira visão não se sustenta porque, numa economia globalizada e altamente competitiva como a atual, as organizações necessitam cada vez mais de diferenciais que lhes dêem vantagens frente a seus concorrentes. Para isso, estão descobrindo que, entre outros fatores, precisam contar em seus quadros com profissionais criativos e empreendedores, capazes de assumir e viabilizar a criação e a implementação de novas idéias, projetos e produtos. São aqueles profissionais aptos a praticar o chamado intra-empreendedorismo, atuando ativamente dentro da empresa.
A segunda idéia equivocada é desmentida já a partir da simples observação: a realidade do mercado mostra que, no processo de formação do empreendedor e do intra-empreendedor, a educação formal – composta de ensino fundamental, médio, superior, pós-graduação e MBA – é o caminho mais comum para uma capacitação voltada à área de atuação que o jovem escolheu e ao seu entorno, o que significa aprender tudo o que é correlato ao que pretende fazer, lembrando que hoje o mundo empresarial pede uma formação múltipla e flexível, em constante processo de aprimoramento pelo aprendizado contínuo.
Até recentemente, o estudante empreendedor contava apenas com sua própria iniciativa ao se decidir pelo empreendedorismo, tendo à disposição fontes de conhecimento dispersas e nem sempre focadas em seu campo de interesse. Era, portanto, obrigado a garimpar conhecimentos em literatura técnica, palestras, vários cursos de especialização, algumas raras pesquisas específicas, vendo-se quase sempre forçado a recorrer ao oneroso método de tentativa e erro para aprender. Há pouco tempo, começaram a surgir sinais de mudança, que se intensificam rapidamente e podem ser medidas pela proliferação de incubadoras e empresas juniores, vinculados ou não a universidades.
Um tanto tardiamente, o sistema educacional brasileiro detecta a importância de formar empreendedores para responder às mudanças estruturais ocorridas no mercado de trabalho, deixando de se concentrar quase que totalmente na preparação de executivos, e as empresas também passam a valorizar, cada vez mais, seus talentos empreendedores.
Todos percebem que, se os avanços tecnológicos reduzem o tamanho das estruturas produtivas, ao mesmo tempo geram uma enorme gama de oportunidades para quem se dispõe a atuar fora dos padrões tradicionais e a assumir o comando da própria carreira ou do próprio negócio. Enquanto a educação regular não dá o devido destaque ao empreendedorismo, a prática do mercado recomenda que os jovens aprendam pelo exemplo e as empresas preparem seus futuros empreendedores pelo mesmo sistema. Por essa razão, é muito interessante promover a aproximação do estudante de empresários e profissionais que têm a capacidade de descobrir novidades mesmo em experiências que se repetem.
Com eles, o jovem poderá aprender a adaptar-se às condições, ser maleável, assumir riscos, identificar oportunidades, organizar e liderar. Aqui entram em cena os programas de estágio e de trainees que, numa concepção bem moderna, deveriam incluir o estímulo ao empreendedorismo, entre seus objetivos, para benefício tanto do estudante em treinamento, como da própria empresa, que estaria moldando um profissional com o perfil adequado aos novos tempos.