GERALDO HASSE/Suprema ironia

A suprema ironia da catástrofe global gerada pelo coronavirus está em vermos o governo brasileiro subitamente preocupado em “cuidar da saúde do povo”, em “proteger os empregos” e em “preservar as condições de trabalho da população brasileira”.

Nesse ritmo, para se tornar um governo de esquerda, só falta retomar os cuidados com o meio ambiente, banir os agrotóxicos, tributar as grandes fortunas e organizar um grande plano de reestruturação da economia com viés social

É verdade que a primeira preocupação oficial foi a de blindar os bancos, mas quem diria que se chegaria a montar um cadastro dos trabalhadores informais? Ou,  seja, pela primeira vez o Estado brasileiro abrirá os braços e os cofres para ajudar quem mais precisa, os pobres desassistidos, até aqui desprezados pelas políticas políticas. Não é incrível?

Quem promete fazer isso, como o dever da hora (a “lição de casa” kkk), é o mesmo governo que há um ano deu uma boa enxugada no Bolsa Família. Parafraseando os médicos em evidência na TV e nas redes sociais, esse vírus não é brincadeira.

As medidas anunciadas pelo governo representam uma extraordinária mobilização de recursos públicos, cuja escala é muito maior do que a reles economia perseguida pelo ministro Paulo Guedes na execução do orçamento da república. Se buscava segurar o déficit do orçamento em 130 bilhões, a primeira contagem indica a ampliação do déficit para mais de 400 bilhões. É uma conta modesta. Na realidade, esse buraco é imprevisível.

Em outras palavras, em vez de regular a comporta social da represa econômica, o governo está na obrigação de abrir várias comportas ao mesmo tempo, já sabendo de antemão que vai parar de chover tributos nas cabeceiras da economia.

Trata-se de um arrombamento controlado da represa. O que está acontecendo é comparável ao desastre de Brumadinho, aquele que provocou mais de 200 mortes de uma só vez em Minas – culpa de uma empresa trinegligente que já não vale quanto pesava.

O coronavirus está produzindo brumadinhos em série. Onde o Brasil vai parar?

É tanto dinheiro descendo pela ribanceira que o ministro Alexandre Moraes, do STF, suspendeu a lei de responsabilidade fiscal. Por incrível que pareça, a prioridade é salvar vidas, uma contradição na agenda neoliberal, focada basicamente no sucesso dos negócios.  E tudo isso acontece quando é presidente da república o político mais despreparado da história.

LEMBRETE DE OCASIÃO

“Quem fica na ponta dos pés não tem firmeza/Aquele que abre as pernas demais não anda facilmente”

Lao Tsé em O Livro do Tao, tradução de Murilo Nunes de Azevedo, Editora Pensamento, 9 ed., 1993

 

 

2 comentários em “GERALDO HASSE/Suprema ironia”

  1. O reconhecido jornalista canhota , escrivinhador desta maravilhosa matéria, esqueceu alguns detalhes. Por exemplo, para que o atual governo possa se tornar um governo de esquerda, ele precisa acabar com a propriedade privada. Precisa coibir a liberdade de expressão do pensamento, proibir eleições com mais de um partido, proibir cidadãos de ir e vir para onde bem entendem, precisa criar gulags para aqueles que expressem pensamento dissidente, os quais evidentemente devem ser censurados, precisa uma nova regra para cidadãos que querem sair do país, afinal, quem em sã consciência iria querer sair do paraíso, como cubanos, venezuelanos, nicaraguenses, chineses, coreanos do norte, etc. Cita o jornalista que deveria banir os agrotóxicos. Tem razão. E também teria a obrigação de criar as “fazendas comunitárias”, iguais àquelas da antiga URSS cuja produção era 1/8 do que produz a mesma área numa fazendo localizada no Mato Grosso usando essas “porcarias” agrotóxicas. Tributar as grandes fortunas. Claro, afinal, todos aqueles que tornaram-se empresários após anos de estudo e trabalho, chegando à sua riqueza após pagarem os maiores impostos do mundo, devem ser taxados também naquilo que economizaram ou naquilo que foram guardando para deixar para seus filhos. Reclama o jornalista, como toda a razão, que o governo atual “deu uma boa enxugada no Bolsa Família”. Está certíssimo ele. Todas as falcatruas encontradas com até mortos recebendo o dinheiro , deveria continuar. A política econômica do atual governo, de cortar gastos e, se possível, cortar o número astronômico de funcionários públicos, o número de estatais (que beira 600), enfim, diminuir o tamanho dessa máquina pública com altíssimos salários , privilégios e aposentadorias, dessa política o nobre jornalista é contra, afinal, política econômica exemplar foi a “nova matriz econômica” do ex ministro Mantega, que deixou 14 milhões de desempregados. Estes “almoços grátis” defendidos por esta esquerda tôsca continuam infestando a imprensa burguesa que , nesta ditadura da extrema direita bolsonarista, insiste em manter as regras democráticas. Não é uma maravilha?

    1. Bravo comentário, Mauro.
      Esquecem de outrora, quando adentravam nos recintos públicos como magnânimos detentores do Poder, e de onde foram constitucionalmente extirpados, para desespero desses usurpadores da Nação.

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