Bolsonaro desfila em carro aberto, Lula lança manifesto: 2022 começou

A data simbólica do 7 de setembro, o Dia da Independência, motivou duas manifestações políticas distintas na forma e no conteúdo mas idênticas no propósito.

Uma do presidente Jair Bolsonaro em ato público em Brasília, outra do ex-presidente Lula, pelas redes sociais.

Ambas remetem para as eleições de 2022, em cujo horizonte ganha contornos uma polarização entre os dois.

Jair Bolsonaro, que em julho era quase um ex-presidente, neste 7 de setembro preencheu o vazio do desfile militar, que não houve, com o seu próprio desfile, em carro aberto, cercado de crianças, saudando o público como se estivesse tomando posse.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de setembro, no Palácio da Alvorada.

Talvez a mensagem seja essa: um presidente revigorado depois de um grande desgaste, que agora está no controle. Mensagem de um declarado candidato à reeleição, que as pesquisas apontam como favorito. Mas faz sentido.

Depois de Mandetta, depois de Moro, das mudanças na Polícia Federal,  do recuo do STF,  da derrocada de Witzel, do acordo com o centrão, depois de esfriar o Guedes – ele pode sim dizer que está no controle.

Até o manifesto desprezo pela saúde pública – que parece não incomodar seus seguidores – pode reverter na hora de se isentar dos efeitos econômicos da covid-19 e culpar os que “pararam a economia para enfrentar a pandemia”

Em todo caso, para um governo sem projeto, que até agora deixou correr o “experimento liberal” do ministro Guedes, o que vem pela frente pode ser fatal.

O ajuste que Guedes pretende não se coaduna com a agenda social que que a pandemia impõe, nem com a agenda eleitoral de um presidente candidato à reeleição.

Guedes diz que fora de sua cartilha o caminho é o impeachment.

Mas, a cartilha de Guedes, de arrocho no gasto público e desmonte do Estado, no meio de tamanha crise, pode ser o caminho mais curto para a derrota nas urnas em 2022.

Tudo indica que Bolsonaro vai deixar Guedes na estrada e turbinar a agenda eleitoral, mesmo à custa de ter que recauchutar programas dos governos petistas para mostrar iniciativa e assediar redutos da concorrência, como começou a fazer em relação ao Nordeste, onde Lula e o PT têm sua sustentação.

Houve um momento em que Bolsonaro balançou, logo depois da divulgação da patética reunião ministerial de 22 de abril, mas seus mais influentes adversários hesitaram.

Perguntaram se valeria a pena o enorme e desgaste esforço de uma campanha de impeachment em plena pandemia, para “botar o Mourão no lugar”. Era melhor deixar Bolsonaro e seu governo errático sangrar até o fim e derrotá-lo nas urnas.

A desenvoltura com que Bolsonaro agora se lança em campanha mostra que essa posição pode ter sido um grave erro.

(Segue: “A candidatura de Lula” )

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GERALDO HASSE / Tungando os pobres

Embora tenha mantido o Bolsa Família, o atual governo federal não demonstra vontade de encarar os problemas sociais decorrentes da falta de trabalho, educação e saúde. Prova disso é a notícia de que o Ministério da Economia reduziu de R$ 1.039 para R$ 1.031 o salário mínimo de 2020.
É uma pequena tunga de R$ 8 por mês que significa menos R$ 100 na receita anual do trabalhador formalmente empregado e, consequentemente, menos nas contas do FGTS e do INSS além de, naturalmente, reduzir a capacidade de consumo de milhões de pessoas.
Reduzir o poder de comprar do salário mínimo em plena estagnação econômica não é somente maldade, é burrice: ao arrochar os ganhos das classes mais baixas, o governo reduz as possibilidades de retomada da economia, cujo crescimento depende da ativação do consumo de todos.
Ao sinalizar ao público que não liga a mínima para a prosperidade dos mais pobres, o governo inibe as decisões de investimentos na produção, no comércio, na logística etc. Em consequência da incerteza que paira sobre a economia, os possíveis investidores se acomodam aplicando seus capitais em títulos do mercado financeiro, cujos rendimentos não correm os riscos das atividades produtivas tradicionais.
Estamos submetidos à lógica do ministro Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, que enriqueceu como operador de fundos de investimentos. Ele tem carta branca para facilitar as coisas para os ricos, favorecidos pelo enxugamento da máquina pública, em nome da implantação do Estado Mínimo. Onde vamos parar?
O governo tem a força, conta com o apoio dos grandes meios de comunicação e dispõe até de habilidades especiais para instrumentar seu poder, mas não tem capacidade de fazer o mal de modo ilimitado e indefinidamente. Em algum momento, o governo federal terá de prestar contas de suas ações e explicar seus objetivos. O presidente Jair Bolsonaro não tem pretensões de estadista, mas não é crível que massacrar os pobres seja um objetivo estratégico de longo prazo.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Uma democracia começa com três refeições diárias”. (Millor Fernandes)

Militar?

“Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar”.
Foi o desabafo de Jair Bolsonaro, esta semana. Na verdade uma justificativa para tantas trapalhadas e caneladas que ele vem patrocinando na condição de “mais alto mandatário do país”.
Jair Bolsonaro não foi um bom militar, apesar da linguagem de caserna que adota até hoje .
Enfrentou um processo de expulsão, que resultou numa aposentadoria precoce e só chegou a capitão por um privilégio reservado às forças armadas, de ganhar uma promoção ao vestir o pijama.
Seu comportamento ostensivo, pousando com pistolas e metralhadoras, não recomenda como bom millitar.
Se ele nasceu para ser militar, algo lhe faltou ou sobrou. O exército o dispensou.
Se não nasceu para ser presidente, como reconhece, será justo que se pergunte:o que será preciso para que deixe o cargo?
Acho que Jair Bolsonaro foi sutil e quiz dizer outra coisa: “não nasci pra ser presidente, nasci pra ser ditador”
 
 
 
 
 
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