Todos sabiam que Campos não jogava para 2014. Em todas as suas conversas com o empresariado ele sempre falou de um projeto a longo prazo.
Ele era o homem para truncar a continuidade do lulismo em 2018 , quando o próprio Lula poderá retornar.
Para 2014, já que Aécio Neves não sai do chão, truncar a continuidade do lulismo tornou-se o objetivo das corporações midiáticas, com a Globo e suas repetidoras na cabeça.
Daí o entusiasmo com a tese de que, depois da trágica morte de Eduardo Campos, temos “uma nova eleição” e que com a ascensão de Marina Silva o segundo turno é inevitável. Parece mais um desejo do anti-petismo da mídia do que uma realidade, até agora.
Nem mesmo a pesquisa do Datafolha, a primeira depois do acidente que matou Campos, dá suporte de verdade a essa interpretação, mais coerente com o clima emocional e a manipulação midiática do que com os fatos políticos.
O que mostra a pesquisa? Mostra Dilma em situação estável e confortável.
Está lá com os mesmos 36% da pesquisa anterior e o índice de aprovação de seu governo subiu (38% de bom e ótimo). O otimismo dos brasileiros em relação ao futuro também aumentou, segundo o mesmo Datafolha.
Com mais de 20 minutos diários na televisão a partir de amanhã, Dilma terá tempo para mostrar tudo o que tem feito no governo, o que apesar dos detratores não é pouco. Não convém esquecer que ela está há 12 anos no governo, oito como ministra de Lula e quatro em seu próprio mandato.
Campos também tinha obras para mostrar, de seus dois governos estaduais, assim como Aécio também as tem. Marina tem o quê? Sem contar que o programa de Campos não cabe exatamente no figurino de Marina. Como diz Cesar Maia, “o tempo de TV de Marina e a muito menor capilaridade de sua coligação podem transformar estes 21% num teto”.
Por falar em Lula, ele parece ser o grande beneficiário das mudanças decorrentes da tragédia. Por puro preconceito, a cobertura não deu atenção aos lances ágeis e precisos de Lula em seguida da morte e no velório de Eduardo Campos. Foi o único político que se moveu com desenvoltura nestes momentos difíceis.
Uma foto no velório, aliás, é simbólica. Lula está no centro da cena, abraçando a filha de Campos. Dilma está atrás, com a mão espalmada em suas costas. Marinha está do outro lado, olhando o vazio.
Passado o trauma, Lula está no centro da cena política, com tudo para garantir a eleição de Dilma e com o terreno desimpedido para 2018.(E.B.)
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Mino Carta: "No Brasil ainda temos muito medo"
Ao cair da tarde de domingo (10/11) no coração da Feira do Livro de Porto Alegre o jornalista Mino Carta foi entrevistado pelo radialista Ruy Carlos Ostermann diante de uma platéia de 100 pessoas reunidas no salão oeste do Santander Cultural.
O gancho do papo era o livro O Brasil (Record, 2012) no qual o genovês Mino, nascido em 1933, repassa sua visão do país ao qual chegou às vésperas da Copa de 1950 como aprendiz de repórter esportivo. “Não é um livro de memórias, pois não me acho com nível para tanto – memórias são para Churchill ou De Gaulle”, disse o autor, do alto dos seus mais de 60 anos de atuação na mídia nativa.
Inovador e combativo, ele fundou a revista Veja, criou a Istoé e mantém o semanário Carta Capital. Marcados por fina ironia – inclusive em relação a si mesmo, como quando se gaba de ter dirigido a revista Quatro Rodas mesmo sem saber guiar um carro –, seus comentários e observações podem ser assim resumidos:
“Diz-se que a mídia impressa está em xeque. Discordo. A internet apenas aumentou a avalanche de informação a que já estávamos submetidos pelo rádio, a TV e a imprensa. O que falta é qualidade.
“A mídia nativa sempre serviu ao poder mas antigamente tinha mais qualidade.
“Nossa imprensa aposentou o jornalismo investigativo.
“Os 350 anos de escravidão pesam muito na cultura brasileira”
“É um equívoco dizer que a ditadura de 64 foi militar. Foi civil-militar.
“O golpe de 64 veio para interromper um processo que teria sido muito bom. Estava em vias de se criar uma indústria que daria origem a um proletariado que poderia ter criado o Brasil moderno. Quando digo moderno, não quero dizer socialista. Moderno é ser equânime, igualitário.
“As elites falam do Bolsa Família como se fosse uma esmola, mas esse projeto de inclusão social é admirado na Europa e começa a ser imitado em muitos países”
“Getulio Vargas é a maior figura política do Brasil. Ele tinha um projeto nacional que expressou através da criação das leis trabalhistas (1934), do salário mínimo (1940), da CSN em Volta Redonda (1942) e da Petrobras (1953).
“JK entregou o país ao carro”.
“O verdadeiro partido de oposição no Brasil é a mídia nativa“
(Respondendo a uma pergunta sobre o comportamento cauteloso da Comissão da Verdade): “No Brasil ainda temos muito medo” (dos arapongas, dos policiais e dos militares).
“A mídia nativa torce para que as manifestações populares atrapalhem a reeleição de Dilma.
“Não arrisco um palpite sobre a reeleição de Dilma, mas se Lula concorrer no lugar dela, ganha. Lula é imbatível.
“No Brasil faltam lideranças nítidas.
(Respondendo a uma pergunta sobre o que acha de Tarso Genro): “Nós o apoiamos em vários momentos, mas ele fez uma besteira inominável que interrompeu nossa relação: foi quando, como ministro da Justiça, junto com o senador Suplicy, cuja sanidade mental é discutível, resolveu dar asilo político a um ladrãozinho e estuprador” (refere-se ao italiano Ricardo Battisti)
(Sobre a bancada ruralista): “Estamos cansados de saber que a casa grande gosta de trabalho escravo”
Dilma surpreendente em entrevista na Globo
A entrevista da presidenta Dilma Rousseff para a apresentadora Ana Maria Braga da Globo na manhã desta terça-feira, vai ser o fato político desta semana.
Dilma revelou sensibilidade até na escolha da data e do programa: o “Mais Voce” no início da semana da mulher.
Fez confissões, deu notícias (várias manchetes até na área de artes plásticas), respondeu com bom humor perguntas descabidas, até fez uma omelete, enquanto falava dos cortes no orçamento do governo.
Tudo com uma surpreendente desenvoltura, uma habilidade de fazer inveja ao ex-presidente Lula nos seus melhores momentos.
Forum Social Mundial:Lula fala no Por do Sol dia 26
A segurança queria um lugar fechado, mas Lula insistiu e seu discurso no 10. Forum Social Mundial, dia 26, será mesmo no anfiteatro Por do Sol, na Orla do Guaiba.
De Porto Alegre, o presidente vai a Davos, na Suiça, onde se reúnem os grandes capitalistas do planeta. De lá, volta para Salvador, para abrir abre o Forum Social da Bahia, o primeiro de 27 mini-foruns que acontecerão no Brasil em 2010.
Lula será nestes dias uma espécie de presidente do “outro mundo”, que os críticos do capitalismo dizem ser possível.
O Forum abre segunda-feira, 25 na Usina do Gasômetro, com o seminário “Dez Anos Depois – desafios e proposta”. Essa discussão estará em quatro mesas simultâneas. Às cinco da tarde inicia a caminhada que sai do Mercado Público em direção à Orla, pela avenida Borges de Medeiros. Encerra com um show no anfiteatro Por do Sol. As atrações ainda não estão fechada, mas já confirmaram Tom Zé, Racionais, Nelson Coelo de Castro, Leonardo Ribeiro.
Lula quer Dilma lá e Rigotto aqui
O presidente Lula já disse para todo mundo que a ministra Dilma Rousseff é sua candidata à presidência em 2010. O que ele disse apenas para um pequeno grupo de assessores – e para o próprio interessado – é que seu preferido para suceder Yeda Crusius ao governo gaúcho é o ex-governador Germano Rigotto.
O presidente escolheu Rigotto da mesma forma e baseado no mesmo impulso com que escolheu Dilma. A única diferença é que ele já conhecia e admirava Rigotto, enquanto Dilma virou candidata só depois de entrar na equipe palaciana – ela mostrou desempenho sem lhe fazer sombra. Lula gosta dos dois, ponto final.
Lula e Rigotto já traçaram a estratégia e se falam de vez em quando. O presidente não quer que Rigotto se exponha até a hora certa, daí o papo do ex-governador de que estaria estudando a vaga ao Senado.
O presidente já tinha mandado recado ao PT gaúcho, em abril, na última visita do presidente nacional Ricardo Berzoini ao Rio Grande, que quer uma candidatura do PMDB/PTB ao governo do estado. O objetivo conhecido é viabilizar o projeto Dilma (com ela na cabeça e o PMDB de vice).
O PMDB tem para oferecer, além de Rigotto, o prefeito de Porto Alegre José Fogaça, mas cuja panela está flertando com o governador mineiro Aécio Neves, pré-candidato do PSDB.
Lula não aceita Fogaça. No seu desenho de uma aliança mais ampla, quer Rigotto e, para não humilhar demais o PT, o vice do PTB – ao PT sobraria a vaga ao Senado.
A missão Berzoini demorou a ser digerida – mas assim que foi provocou a reação de Tarso Genro, lançando-se pré-candidato a governador.
Novo recado presidencial mais duro tem sido repassado aos líderes locais: se os petistas seguirem sozinhos numa candidatura regional prejudicando a aliança nacional, a consequência da derrota de Dilma será o expurgo pelos vencedores dos cerca de 4 mil petistas gaúchos em cargos federais. (RAO)