PONTAL DO ESTALEIRO (1) – Uma lei sob medida

O vereador Brasinha nem precisou subir à tribuna da Câmara para defender “seu” projeto. Enquanto os colegas debatiam, ele passeava entre as mesas, rindo e fazendo graça com os vereadores da Oposição.
Alceu Brasinha foi muitas vezes citado na imprensa como o “autor do projeto Pontal do Estaleiro”. Na verdade, ele pouco fez, além de ser o primeiro a colocar sua assinatura na lista dos 17 vereadores que em abril do ano passado pediram a alteração da Lei Complementar 470 do Plano Diretor de Porto Alegre. Ele reconhece a paternidade difusa: “Esse assunto já andava tramitando por aí há um ano e meio, tinha que resolver, então um grupo de vereadores assumiu”.
O projeto chegou à Câmara e andou com rapidez incomum. Passou por duas votações, em regime de urgência. Em menos de um ano se deu toda a discussão – as duas audiências públicas, as análises nas comissões e duas votações (a primeira foi vetada pelo prefeito). No dia 15 de março de 2009, foi a decisão final – 23 votos favoráveis, 10 contra.
Por enquanto, a mudança se restringe à Lei Complementar 470, que regula a ocupação no Pontal do Melo – uma gleba de 60 mil metros quadrados, num dos pontos mais valorizados de Porto Alegre, a meio caminho entre o centro e a Zona Sul. Foi aprovada sob medida para viabilizar o projeto “Pontal do Estaleiro” – um conjunto arquitetônico com quatro prédios residenciais e dois comerciais, com altura de 14 andares, o que seria proibido pela legislação anterior.
“É a ponta do iceberg”, diz o arquiteto Nestor Nadruz, sem medo do lugar comum. Ex-técnico da Prefeitura, aos 80 anos, ele foi ovacionado ao falar na audiência pública que antecedeu a votação do projeto. “Essa decisão vai servir de referência para mudar o regime em toda a orla”, prevê Nadruz.
Quarenta e dois oradores se revezaram com manifestações veementes perante um público que lotava as galerias e o plenário da Câmara Municipal, na segunda audiência pública para debater o assunto. Não faltaram ameaças, dedos em riste, denúncias, empurrões.

A “Ponta do Melo” com as ruínas do Estaleiro Só

Mas não se repetiu o tumulto ocorrido três meses antes, quando os vereadores aprovaram pela primeira vez o projeto, contrariando uma mobilização popular, que envolve o Instituto dos Arquitetos do Brasil, Associação dos Geógrafos, o Sindicato dos Engenheiros e outras duas dezenas de entidades comunitárias e ambientalistas*.
Naquele dia, vendo os empresários da construção civil orientando a votação, as pessoas que superlotavam o plenário da Câmara Municipal jogavam moedas e acenavam com cédulas de dinheiro, gritando aos vereadores: “Vendidos, vendidos”.
Foi tamanha a repercussão na opinião pública e na imprensa que o Ministério Público abriu investigação sobre suposta distribuição de propina a vereadores, arquivada um mês depois “por falta de provas”.
Maquete do “Pontal do Estaleiro” na versão original: quatro blocos de apartamentos, dois comerciais

Ante a reação, o prefeito José Fogaça vetou o projeto aprovado. Poucos dias depois, para surpresa geral, o prefeito mandou para a Câmara um texto exatamente igual ao que havia vetado, com um adendo – a proposta de um referendo popular.
Mal o projeto de Fogaça chegou à Câmara, o secretário de Gestão e Planejamento Estratégico, Clóvis Magalhães, se apressou em dizer que município não teria condições de arcar com o custo de um referendo, estimado em R$ 2 milhões. Além do custo, havia dificuldades operacionais pois referendo significa uma eleição municipal , com voto obrigatório, urna eletrônica em toda a cidade e controle do Tribunal Regional Eleitoral. Na audiência pública que retomou a discussão, ficou claro que a maioria dos vereadores, que aprovara o projeto, não queria o referendo.
Na segunda-feira, 15 de março, o projeto estava na pauta para votação, para surpresa de muitos, pois apesar da repercussão do assunto ele não mereceu mais que discretas notinhas nos principais jornais da capital. No site da Câmara, só apareceu na Agenda do Dia às onze e meia da manhã.
Não havia mais do que 50 pessoas no plenário da Câmara quando começaram os discursos, no início da tarde. Como a sessão era transmitida pela TV Câmara, muitos se inscreveram para falar, repetindo os mesmos argumentos, desviando para ataques partidários.
Entre o público, apenas um pequeno grupo em torno do presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil manifestava-se a favor com palmas ou vaias. Do outro lado, umas 40 pessoas se manifestavam contra o projeto, com vaias e palmas. Mesmo os líderes estavam desanimados, alguns se retiraram antes. Para a atenção dos fotógrafos, um único manifestante: vestido de morte, com um plástico preto, uma foice de papelão e um cartaz.
Na véspera Fogaça já havia declarado que o referendo era inviável e que deveria ser convertido “numa consulta popular, nos moldes das eleições para os conselhos tutelares”. Disse que umas 300 urnas na região de interesse direto no assunto, resolveriam o problema.
Não deu outra: na hora da votação, uma emenda do líder governo mudou o referendo para consulta popular e ainda introduziu uma salvaguarda – se a prefeitura não realizar a consulta em 120 dias, o projeto entra automaticamente em vigor.
Foi tão tranqüila a aprovação que os vereadores que defendem o projeto não se deram conta do que significava uma emenda apresentada pelo vereador Airto Ferronatto, do PSB, e aprovada por unanimidade, ampliando de 30 para 60 metros a faixa livre entre a margem do Guaíba e as construções. Ela reduz em 26% a área construtiva do projeto, segundo o empreendedor.
Esses dois pontos – consulta popular e emenda Ferronato – aparentemente secundários seriam responsáveis por uma reviravolta no processo.

Vereadores desistem de ir a Fogaça pedir veto ao Pontal

Até o fim da tarde de ontem ainda estava agendada para hoje a reunião do líder do governo municipal, Valter Nagelstein, com um grupo de vereadores signatários do projeto que mudou a lei 470 para viabilizar o projeto Pontal do Estaleiro. Mas a decisão de suspendê-la já havia sido tomada por Nagelstein.
A reunião seria para articular a visita que o grupo pretendia fazer ao prefeito José Fogaça, às vésperas dele decidir sobre o projeto, aprovado no ultimo dia 15 de março.
Ainda não estava decidido se pediriam veto apenas à emenda que aumentou de 30 para 60 metros a faixa preservada na beira do Guaíba ou se recomendariam veto total ao que foi aprovado, para que fosse mantida a lei atual, de 2002, já que o empreendedor desistiu da fazer prédios residenciais no local.
A mudança de rumo se deu ontem à tarde, depois de uma reunião no gabinete de Nagelstein com o arquiteto Jorge Debiagi, representante da empresa BM Par, e a arquiteta Rosane Zottis, da Secretaria do Planejamento, assessora técnica do prefeito.
Além da emenda, de autoria do vereador Airto Ferronatto, do PSB, que reduziria em 26% a possibilidade de construção, o empreendedor questiona também a necessidade de uma consulta popular, uma vez que ele não pretende mais incluir prédios residenciais no projeto.
No estudo original constavam quatro torres com 216 apartamentos.

Pontal do Estaleiro: o problema é outro

Elmar Bones
Contra ou a favor do Pontal do Estaleiro? A questão não é essa. Esse é o pedaço de carne que o ladrão joga para distrair o cão que vigia o pátio.
A questão é saber o que está acontecendo. Por que uma Câmara, que tem a enorme responsabilidade de fazer uma revisão do Plano Diretor da cidade, perde meses discutindo uma questão pontual, que envolve um terreno privado?
Debates, passeatas, atos públicos, liminares, audiências públicas, acusações, denúncias, investigação no Ministério Público, tudo isso para quê? Para que um empreendedor privado faça um bom negócio com um terreno que ele acaba de adquirir?
Para recuperar uma área da cidade que está abandonada? Há 15 anos, a área está abandonada. Já se mudou a lei às pressas uma vez, para que ela fosse “urbanizada”, “qualificada”, “revitalizada”, e ela continuou abandonada. Como tantas outras continuam abandonadas.
Ou é para quebrar uma regra que a cidade tem conseguido manter? Há 30 anos, embora com percalços, resiste em Porto Alegre a idéia de preservar a orla como espaço público, talvez o mais valioso numa cidade que tem seus principais parques saturados ou à beira de saturação.
Veja-se a Redenção ou o Parcão nos fins de semana. O Parcão, aliás, é um caso exemplar. Havia um projeto de grandes prédios para aquela área, que pertencia ao antigo Jockey Club. Foi um movimento da comunidade que encontrou eco na Câmara de Vereadores e preservou aquele espaço para ser um parque, hoje consagrado na vida da cidade.
A diferença é que naquela época, em plena ditadura, a cidadania tinha mais voz na mídia do que hoje, quando se diz que estamos numa democracia. E a manipulação dos fatos não era tão escancarada como agora, quando se trata de interesses imobiliários.
Porto Alegre tem um movimento comunitário que é reconhecido no país. Foi destaque numa série do Jornal Nacional sobre o tema. Aqui ele é encoberto com uma capa de silêncio, seus líderes são rotulados como defensores do atraso, inimigos do progresso, satânicos, porque contestam concessões que o poder público faz ao interesse de grupos privados.
Com a cidadania silenciada, a democracia representativa vira farsa. É o risco que estamos correndo nesse processo do Pontal do Estaleiro – desde o vício de origem até esse embrulho lamentável em que estão metidos o senhor prefeito e os senhores vereadores na hora da decisão final.
Esse é o problema.

Smam lança tema do Concurso Fotográfico 2009

‘Porto Alegre Rural’ é o tema do Concurso Fotográfico 2009 promovido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A cidade é considerada a segunda capital brasileira com maior área rural, aproximadamente 30% de seu território, o que significa 142,8 quilômetros quadrados.
Os interessados em participar do concurso poderão retirar o regulamento a partir de maio na sede da Smam, na Avenida Carlos Gomes, 2.120, das 9h às 11h30 e das 14h às 17h30. O edital deverá ser publicado até o final do mês, com premiação de até R$ 1.000.

Câmara Rio-Grandense do Livro realiza homenagem

Nesta sexta-feira, 24, será realizada a Noite do Livro, que irá homenagear com o troféu Amigo do Livro pessoas e instituições que contribuem com ações em prol da literatura. Organizado pela CRL, o evento é parte das comemorações da Semana do Livro de Porto Alegre.
O evento acontece no Teatro do Grêmio Náutico União (Avenida João Obino, 300), a partir das 20h30min desta sexta. Além da festa, diversas atividades como saraus literários, exposições e encontros com autores estão sendo realizados em todo o Rio Grande do Sul.
Amigos do Livro de 2008
– Programa Permanente de Estímulo à Leitura da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul;
– Jornalista Carlos André Moreira;
– Jornal Usina do Porto;
– Caixa Econômica Federal;
– Bibliotecária Marília Sauer Diehl (diretora da Biblioteca Lucília Minssen da Casa de Cultura Mario Quintana);
Biblioteca do Ano – Biblioteca Central Irmão José Otão da PUCRS;
Personalidade do Ano – Deputado Marcelo Almeida, da bancada do livro da Câmara Federal.

Festival de cinema em POA abre inscrições

Por Silvano Antolini
A quinta edição do Fantaspoa será realizada entre os dias 03 e 19 de julho de 2009. O festival é realizado pela Fantaspoa Produções Culturais, de João Pedro Fleck e Nicolas Isao Tonsho, trazendo este ano para a capital gaúcha mais de 150 filmes em diversas mostras temáticas: mostra Argentina Rojo Sangre, França Fantástica, mostra de documentários e mostra especial Kit Parker.
A mostra especial Kit Parkers terá títulos raros e inéditos no Brasil, entre eles “Sexo e Pipoca Amanteigada, a história do cinema Sexploitation em Hollywood”, “O Rei Dinossauro” e “A Noiva e o Monstro”. O festival também abrange mostras competitivas de curtas- metragens e várias sessões especiais. Durante o Fantaspoa ainda ocorrerão atividades paralelas, como palestras, workshops, sessões comentadas e oficinas.
O V Fantaspoa será realizado nas salas Cine Santander, Cine Bancários, P.F. Gastal e Norberto Lubisco. Serão realizadas uma média de 12 sessões diárias e os filmes vão ser exibidos em diversos formatos digital, películas 16 e 35mm. O festival vai disponibilizar ao público uma ampla variedade de opções dentro do gênero fantástico. Até o final do mês de abril, os realizadores poderão inscrever seus filmes no quinto Fantaspoa.
O formulário de inscrição está disponível no site www.fantaspoa.com

Trensurb promete metrô funcionando em 2013

O superintendente da Trensurb, Humberto Kasper, disse na Câmara de Vereadores que as obras do metrô de Porto Alegre (Linha 2) começam em 2010 e que os trens estarão trafegando antes do fim de 2013. A Linha 2, chamada de Linha Copa, terá 22,8 quilômetros de extensão, 19 estações, interligadas com a rede de ônibus.
Serão 44 trens de quatro compartimentos cada, com capacidade para 760 passageiros. A linha sai do Centro, passando pelas avenidas Borges de Medeiros, Azenha, Bento Gonçalves, Agronomia, Estrada João de Oliveira Remião e Avenida Manoel Elias. Segundo Kasper, serão necessários R$ 3 bilhões para viabilizar a primeira fase.
O projeto completo da Linha 2 do metrô, conforme o superintendente, é de uma rede circular de metrô com 37,4 quilômetros, que contará com 31 estações e atenderá 32 bairros, totalizando 13 municípios da Região Metropolitana, universidades, escolas, hospitais e shoppings. A previsão é de que, em 2023, o metrô atenda 400 mil passageiros por dia. “Precisamos da definição se Porto Alegre vai integrar a Copa, pois é uma condição para buscar investimentos”, avaliou.
Além de Kasper, compareceram à apresentação o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luiz Afonso Senna; Marco Kapel Ribeiro, representante da Secretaria de Gestão e Acompanhamento Estratégico; o diretor de Operações da Trensurb, Paulo Amaral; e o gerente de Projetos da Secretaria de Mobilidade Urbana, Emílio Merino.

Câmara tem 11 novatos para os desafios de 2009

Por Marcelo Gigante Ortiz
A população porto-alegrense trocou quase metade dos seus representantes na Câmara Municipal. Dezessete dos 36 vereadores que deverão exercer mandato até o final de 2012, não estavam na legislatura anterior.
Entre as novidades estão Juliana Brizola (PDT), ex-secretária municipal da Juventude, eleita com expressivos 9247 votos e Waldir Canal, o primeiro a representar o Partido Republicano Brasileiro (PRB) no legislativo da capital.
Os estreantes, no entanto, são apenas 11, pois os demais já exerceram mandato interinamente ou em legislaturas anteriores. Pedro Ruas (Psol), por exemplo, já havia sido vereador, assim como Airto Ferronato (PSB) e Reginaldo Pujol (DEM). Paulinho Ruben Berta (PPS), DJ Cassiá (PTB) e Mauro Pinheiro (PT) já ocuparam cadeiras como suplentes. Pinheiro, inclusive, participou da polêmica votação sobre o projeto do Pontal do Estaleiro no final de 2008.
Apesar do novo cenário, a relação com o executivo não deve mudar muito. A base do governo que tinha 26 cadeiras ficou com 25. Os partidos que não fazem parte da administração de José Fogaça ganharam uma vaga, indo de 10 para 11.
As bancadas que não estão no governo sofreram alterações.
O PC do B, que antes contava com Maristela Maffei, não elegeu ninguém. Apesar de o partido conseguir uma boa votação com a sua coligação, e abrir três vagas na câmara, nenhum candidato comunista conseguiu superar os três vereadores eleitos pelo PPS, Elias Vidal, Paulinho Ruben Berta e Toni Proença. Em contrapartida, o PRB, com um vereador, e o Psol, com dois, estreiam na Câmara. O PSB, que no ano passado não tinha nenhum representante, elegeu Airto Ferronato.
Outro aspecto importante é a influência do executivo na disposição dos atuais membros do legislativo. Foram sete mudanças, decorrentes das chamadas de vereadores para as secretarias de José Fogaça, e mais uma, a saída de Elói Guimarães (PTB) para a Secretaria de Administração do governo Yeda Crusius.
Maurício Dziedricki (PTB), o vereador mais votado, voltou para a Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV). Além de Dziedricki e Guimarães, mais um vereador eleito do PTB, dois do PDT, dois do PMDB e um do PP também foram para o executivo, abrindo espaço para os seus suplentes.
A intervenção da prefeitura também fez nascer uma bancada não criada pelo voto popular, a do Democratas. A coligação PP-DEM conseguiu quatro cadeiras no legislativo. Entretanto, os quatro mais votados eram candidatos do PP, fazendo com que o Democratas, em um primeiro momento, ficasse sem espaço. Fogaça, porém, chamou para a sua secretaria Kevin Krieger (PP), o quarto mais votado da coligação. Dessa forma, o primeiro suplente, Reginaldo Pujol, do DEM, garantiu sua vaga na Câmara.
O democrata, e todos os outros novos vereadores, já iniciaram seus mandatos com uma prova de fogo: a votação do veto do prefeito Fogaça ao projeto do Pontal do Estaleiro. Entretanto, o veto foi aprovado com facilidade pela casa. Pujol, do grupo de não reeleitos, foi o único que votou contra a proposta do executivo, mesmo fazendo parte da base aliada.
Outra questão polêmica que a nova Câmara terá que resolver é a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) de Porto Alegre. Os novos vereadores terão bastante influência nessa tarefa.
Onze novatos fazem parte da comissão especial que revisará o PDDUA. Fernanda Melchionna (Psol) é a vice-presidente. Waldir Canal (PRB) é revisor da Comissão Temática de Desenvolvimento Urbano, Estratégias e Modelo Espacial. Nelcir Tessaro (PTB), Paulinho Ruben Berta (PPS), Mario Manfro (PSDB) integram a Comissão do Sistema de Planejamento e Adequação ao Estatuto da Cidade.
Na temática sobre Projetos Especiais do Centro da Cidade e do Cais do Porto, estão Airto Ferronato (PSB) e Valter Nagelstein (PMDB).
Da Comissão do Plano Regulador, fazem parte Reginaldo Pujol (DEM) e Mauro Pinheiro (PT) e na de Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural e Natural da Cidade estão João Pancinha (PMDB) e Dr. Thiago Duarte (PDT).

Metade das consultas do Clínicas são de pacientes do interior

Por Demétrio Rocha Pereira
No ano passado, mais da metade dos pacientes que passaram pelo ambulatório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vieram do interior e do anel metropolitano. Foram 248.220 consultas – um número que excede em quase dois mil a quantia referente aos atendimentos a porto-alegrenses. Esses índices vêm aumentando a cada ano pela prática da ambulancioterapia – termo criado para designar o transporte de pacientes do interior para os grandes centros.
O fenômeno não é exclusividade de um ou outro hospital. Em 2006, a Capital recebia, apenas do Vale do Taquari, cerca de 250 pacientes por dia, que eram distribuídos pelos diversos estabelecimentos hospitalares da cidade. Na época, críticas já apareciam, denunciando os gastos com ambulâncias, o transtorno para os pacientes e o abarrotamento dos hospitais. Sem frear ante as repreensões, a política das ambulâncias chega a 2009 fazendo parte da rotina de ainda mais pessoas.

Uma das tantas ambulâncias de outras cidades que chega aos hospitais de Porto Alegre | Foto: Guilherme Herz

Reclamações e dribles
Manhã no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ambulâncias, vans, Kombis e microônibus se revezam na entrada principal, povoando os corredores externos do prédio com pessoas das mais diversas procedências. Esteio, Capivari do Sul, São Pedro da Serra, Camaquã. Dez minutos de observação é o bastante para que sejam catalogados os brasões de municípios gaúchos de todos os cantos, gravados na lataria dos automóveis. É a ambulancioterapia acontecendo.
Mara Regina, 41 anos, e o filho, Henrique dos Santos Machado, 20 anos, contemplam o pátio ensolarado à frente da entrada do ambulatório. Uma vez por mês, eles saem cedo de Capão da Canoa, rumo à Capital. Chegaram às 6h30min, serão atendidos às 13h e voltarão às 21h, com uma consulta devidamente marcada para o próximo mês.
Toda essa espera é o tempo necessário para que todos os passageiros da van da Prefeitura de Capão da Canoa sejam atendidos nos seus respectivos hospitais e horários. O veículo chega antes do primeiro compromisso médico e só regressa ao município de origem após o último paciente ter sido liberado. “Não pode ir embora enquanto tiver alguém faltando”, explica Mara.
É diferente com quem vem na van de Parobé. De acordo com três parobenses que aguardavam a hora de entrar no ambulatório, o carro segue seu rumo se o passageiro não estiver esperando para ir embora na entrada do hospital. Os veículos saem do município três vezes por semana e voltam menos cheios se alguma visita ao médico se estender mais do que devia.
Não é a única reclamação. Acompanhando a esposa, um morador da cidade afirma que Parobé tem carência de médicos qualificados: “A nossa sorte é conhecermos pessoas na Secretaria de Saúde”. O contato garante que a esposa seja favorecida na marcação de consultas e atendida mais rapidamente, um raro drible na costumeira demora que o processo costuma impor aos pacientes do SUS.
Pacientes de Parobé aguardam atendimento em frente ao Hospital de Clínicas | Foto: Guilherme Herz

Cotas divididas entre os municípios estabelecem um limite mensal de marcações. Para se esquivar do processo, uma das estratégias é ir diretamente a um posto de saúde da capital e apresentar um endereço de Porto Alegre – geralmente o de parentes ou demais conhecidos. Evidentemente, essa prática contempla tanto a quem necessita de tratamento especializado quanto a quem, simplesmente, prefere consultar com os médicos da capital.
Diante disso, não é de se admirar que o número consultas de pessoas vindas de outras cidades do estado ultrapasse o previsto pela Central de Marcações da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Em 2008, a Central disponibilizou três milhões de consultas, dentre as quais 15% (450 mil) foram destinados a vagas do interior – o ambulatório do Clínicas, sozinho, absorveu quase a metade desse número.
“Aqui é bom”
Na mesma proporção que surgem as críticas aos sistemas de saúde de suas respectivas cidades, na fala dos entrevistados aparecem os elogios ao atendimento dos hospitais porto-alegrenses. Perguntada sobre a situação da saúde em Capão da Canoa, Mara Regina ri: “Lá, só se for pra tratar dor de barriga. Aqui é bom”.
Quem tem ainda menos a reclamar são os enfermos de Erechim, único município gaúcho que conta com um albergue particular dentro de Porto Alegre. Estabelecimentos como esse abrigam doentes, idosos, marginalizados e viajantes em busca de estadia barata na capital gaúcha. Mas, diferente dos demais albergues da cidade – muitos patrocinados por deputados –, o de Erechim hospeda apenas moradores da “Capital da Amizade”, que chegam semanalmente a Porto Alegre.
A vantagem também vem a calhar para motoristas como Rogério Moresco, de 32 anos: “Para nós é bom. O trajeto se resume ao transporte entre o albergue e os hospitais”. O motorista se prepara para sair. O paciente já voltou, ocupou o primeiro assento atrás de Moresco e agora espera a arrancada do automóvel. Certamente, o passeio será mais curto do que os 362 km que teve de vencer de Erechim até aqui.
Tânia Gross, de 36 anos, viajou menos. Foram pouco mais de 100 km de Marques de Souza – da microrregião de Lajeado e Estrela – até Porto Alegre. A van, cheia, trouxe o filho de Tânia, que dorme no colo da mãe, em um dos bancos do pátio do HCPA. O menino estava em um ônibus que bateu. Veio conferir se está tudo em ordem. Percebendo uma presença estranha, ele levanta e olha para os lados, curioso, só para se certificar de que já pode deitar de novo. Parece bem.
Perto dali, encostado em um pilar, está Sadi Santos Souza, completando os seus 53 anos de vida. Morador de Glorinha, Sadi tem vindo há “uns três ou quatro anos” ao HCPA para tratar de um câncer na garganta. A luta contra a doença é algo que o desgaste da aparência não deixa duvidar. Dessa vez, ele não veio com a ambulância municipal: “Hoje vim de ônibus. A consulta é só às 12h30min, e a ambulância sai de lá às seis e meia, sete horas da manhã”, justifica. E acrescenta: “O carro sai todo dia de lá, quase sempre cheio”.
Antes de precisar cuidar da garganta, Sadi passou por uma cirurgia no fígado, também no Hospital de Clínicas. A cicatriz herdada da operação é uma marca que ele não faz cerimônia para mostrar ali mesmo, no lugar de onde observa ir passando aos poucos o aniversário que não pretende comemorar: “Não tem como. O dinheiro vai todo para os remédios”.
Ambulâncias enfileiradas fazem parte do cotidiano da Sarmento Leite. No trecho em que a rua passa ao lado da Santa Casa e se encontra com a Avenida Independência, veículos estacionam diariamente. Caminhando pela calçada, é possível perceber motoristas que dormem à espera dos passageiros e passageiros que se esticam sobre leitos de ambulância à espera do atendimento.
Entre os condutores que ali se encontram, estão Ricardo Barbosa, 36 anos, e William Renato, 35 anos. Ambos vieram de Santa Catarina, e conversam à frente da Sprinter da Prefeitura de Balneário Camboriu, dirigida por Ricardo. Ele trouxe um menino que realizou um transplante de fígado na Santa Casa, e agora precisa de acompanhamento médico. Segundo o motorista, as secretarias de saúde de seu estado costumam enviar para Porto Alegre apenas os casos mais graves. “São situações em que ficamos mais tensos. Além da distância, tem a urgência para o atendimento”, observa.
Mas há casos que escapam à regra. William comenta que é comum a vinda de pessoas que se mudaram para Santa Catarina, mas que desejam continuar consultando com os mesmos médicos que visitavam quando moravam no Rio Grande do Sul. A conversa é interrompida pelo forte ruído do motor de um ônibus da Prefeitura de Camaquã. Perto, na entrada do Hospital Santa Clara, uma família de Novo Hamburgo, que veio de carro, se impressiona com a quantidade de camionetes e minivans que vão deixando à porta do prédio os seus passageiros.
Emergências
O Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre não está na rota da balbúrdia das ambulâncias. A atuação do HPS está focada nos casos emergenciais. Em 2008, dos mais de 190 mil atendimentos do HPS, pouco mais de 22 mil foi a porção correspondente aos pacientes de fora da cidade. No mesmo ano, a Emergência do HCPA registrou mais de 55 mil atendimentos, dentre os quais cerca de um terço é a fração referente a pacientes do interior e da região metropolitana – uma parcela consideravelmente menor do que a observada nas estatísticas ambulatoriais.
Mas a maior emergência parece ser outra. Segundo uma pesquisa realizada em 2006, a ambulancioterapia sugaria aproximadamente R$ 130 mil mensais dos cofres públicos dos municípios do Vale do Taquari. Algumas secretarias de saúde da região têm estudado medidas para evitar a ambulancioterapia, como a consolidação de convênios com hospitais e clínicas da região. Até mesmo o pagamento de atendimentos particulares para os pacientes parece ser preferível ao transtorno das ambulâncias. Tudo para que essas populações possam também dizer: “aqui é bom”.

Fim de semana sem água em 18 bairros

Neste sábado, 14, o abastecimento de água será interrompido em 18 bairros da capital, devido a obras do Dmae na Estação de tratamento de Água (ETA) do Moinhos de Vento, na 24 de Outubro, 200.
A partir do meio-dia, equipes do departamento trabalharão em modificações na canalização de água bruta da estação. Segundo o órgão, a medida é necessária para prevenir vazamentos, reduzindo as perdas na operação.
Faltará água a partir da manhã de sábado no Bom Fim, Auxiliadora, Centro, Farroupilha, Independência, Moinhos de Vento, Mont Serrat, Bela Vista, Petrópolis, Rio Branco, Santa Cecília.
O fornecimento também será interrompido em parte dos bairros Cidade Baixa, Azenha, Floresta, Higienópolis, Santana, São João e Menino Deus.
O DMAE informa que o abastecimento deve voltar ao normal na manhã de domingo, exceto nas regiões mais altas, como o bairro Higienópolis ou distantes do sistema, como a Azenha. Nestes locais, o serviço pode ser normalizado apenas no final do domingo. Com chuva, as obras serão adiadas.
Para maiores informações, o SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) do DMAE atende no número 115.