Tarso minimiza antipetismo: "Sartori se enquadrou melhor"

Em suas primeiras declarações depois da eleição, Tarso Genro disse que os votos que elegeram Ivo Sartori correspondem a um  “real desejo de mudança da população”.
Deu a entender que Sartori venceu porque soube interpretar melhor o sentimento de mudança do eleitorado.
“Se enquadrou melhor no atual cenário de expectativas  políticas”, disse Tarso, num início de autocrítica de sua campanha.
Na contramão de todas as avaliações, o governador minimizou o peso do antipetismo no resultado, dizendo que se isso fosse verdadeiro, ele não teria sido eleito em 2010.
O pior cenário desenhou-se para Tarso Genro no Rio Grande do Sul quando se abriram as urnas do primeiro turno.
Sua campanha parece ter esquecido experiências anteriores, em que a disputa se polarizou em dois candidatos e um terceiro concorrente, longe do embate entre os favoritos, correu por fora e ganhou a eleição.
Foi exatamente isso que aconteceu em 2002, com Germano  Rigotto. Foi mais ou menos o que ocorreu com Yeda Crusius na eleição seguinte.
A candidatura de Ana Amélia (que se elegeu senadora com votação espetacular em sua primeira eleição, em 2010), apoiada pelas forças conservadoras, com a mídia à frente, pareceu imbatível em certo momento e o PT acreditou nisso. Concentrou-se nela, descuidando do “gringo” que, com sua imagem de bonachão, seu discurso quase simplório, foi fazendo a feira.
Esse “mito” do “gringo da colônia”, homem simples, honesto, agregador, já causou grandes dissabores às forças de esquerda no Rio Grande do Sul.
O exemplo histórico é o de Ildo Meneghetti, um apagado engenheiro que entrou na política aos 52 anos e derrotou as principais estrelas do trabalhismo na época – Alberto Pasqualini e Leonel Brizola.
A eleição  de Meneghetti, para governador do Rio Grande do Sul em 1962, abriu caminho para o golpe militar que derrubou Jango em 1964.
A região colonial, que cobre a metade norte do Estado, é a mais industrializada e mais desenvolvida, em contraste com as áreas estagnadas da metade Sul.
Eleitoralmente mais densa, ainda tem uma grande influência do clero conservador, medularmente anticomunista e, por decorrência, antipetista.
As denúncias que a semanas do pleito atingiram a imagem de Ana Amélia, de moralidade e austeridade, abriram o caminho para Sartori.
O antipetismo percebeu que a senadora seria uma adversária frágil no segundo turno e jogou suas fichas no “gringo” Sartori.
Candidatura vacilante, de um partido dividido (seu slogan era “Meu partido é o Rio Grande”), ganhou força com o horário eleitoral gratuito e a partir daí começou a receber os votos que desembarcavam de Ana Amélia.
Acabou chegando à frente no primeiro turno e não largou mais a dianteira.
Quando iniciaram-se os debates, as fragilidades da candidatura Sartori ficaram evidentes e as pesquisas chegaram a registrar a reação de Tarso.
Na última semana,  Sartori, numa entrevista no portal Terra, fez uma piada de mau gosto com o “piso salarial”, bandeira permanente da categoria.
Com o escorregão, bem explorado pelo PT. pareceu que haveria uma virada.
O próprio candidato petista e sua equipe acreditaram nisso até o final.
Em suas primeiras declarações depois da eleição, Tarso Genro disse que os votos que elegeram Sartori expressaram um  “real desejo de mudança da população”.
Deu a entender que Sartori venceu porque soube interpretar melhor o sentimento de mudança do eleitorado.
“Se enquadrou melhor no atual cenário de expectativas  políticas”, disse Tarso.
Na contramão de todas as avaliações, o governador minimizou o peso do antipetismo no resultado final, que deu vantagem de 1,5 milhão de votos  a José Sartori.
RESULTADO FINAL DA ELEIÇÃO 2014 PARA GOVERnO DO RIO GRANDE DO SUL:
José Ivo Sartori, PMDB: 61,21% (3,9 milhões de votos)
Tarso Genro, PT: 38,79% (2,4 milhões de votos)

Entidade Israelita do RS declara Tarso Genro "persona non grata"

Matéria assinada pelo repórter Lucas Azevedo, correspondente do UOL em Porto Alegre, reproduz cópia do texto assinado pelo presidente da SIBRA (Sociedade Israelense Brasileira Cultura Beneficência) endereçado à Federação Israelita do Rio Grande do Sul, onde a diretoria da entidade declarou o governador Tarso Genro (PT) ‘persona non grata’ em sua sinagoga.
O governador não quis se manifestar sobre o assunto.
Confira a íntegra da carta remetida à FIRS
Posicionamento da SIBRA
Porto Alegre, 05 de Agosto de 2014.
À
Federação Israelita do Rio Grande do Sul
A/C
Presidente da FIRS
Sr. Mario Cardoni
E/M
N/C
Prezado Sr. Mario Cardoni:
Em primeiro lugar, receba nossos cumprimentos pela gestão realizada por sua Diretoria à frente de nossa Federação.
A SIBRA se sente honrada em fazer parte da gestão comunitária e de participar ativamente de todos os momentos em que a FIRS solicita nosso apoio e presença.
Em reunião de Diretoria, ficaram determinadas algumas ações que serão aplicadas por nossa sinagoga nas Grandes Festas de 2014.
Uma das determinações é de que, neste ano, nossa instituição não irá receber o Sr. Tarso Genro em nossas dependências.
Acreditamos que o cargo de Governador do Estado do Rio Grande do Sul não pode estar sendo representado dentro de nossa sinagoga, em um momento tão importante, por uma pessoa que a cada momento mostra seu desprezo e total desconsideração com a nossa comunidade.
A SIBRA sempre acreditou no diálogo e na convivência entre todos, mas nesse momento em que o antissemitismo aflora na comunidade do RS, não podemos aceitar a postura do líder de nosso Estado, que manda mensagens claras de ser pró-Palestina.
Em respeito a todos os integrantes da comunidade judaica do Rio Grande do Sul, principalmente aos nossos associados, não iremos impor uma presença tão incômoda como a do Sr. Tarso Genro.
Esperamos poder sempre manter a cordialidade de nossas relações institucionais. Na certeza de seu entendimento de nossa atitude, colocamo-nos ao seu inteiro dispor.
Cordialmente,
SHALOM
Sérgio Caraver
A notícia completa no UOL Noticias Internacional: http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2014/08/11/entidade-israelita-do-rs-declara-governador-tarso-genro-persona-non-grata.htm

Tarso critica a mídia mas não fala em "lacerdista"

O jornalista Carlos Lacerda – proprietário, diretor e editor do jornal Tribuna da Imprensa na década de 1950, é autor de uma frase que ficou famosa e explica a expressão hoje utilizada “mídia Lacerdista”.
Antes da eleição de Getúlio Vargas à presidência, em outubro de 1950, Lacerda publicou em seu jornal a mensagem mais golpista que o país conheceu, conforme o jornalista Mário Magalhães em seu livro Marighela.
Escreveu Lacerda: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer a revolução para impedí-lo de governar”.
O jornal, graças ao talento oposicionista de Lacerda, foi aos poucos se tornando um dos principais palanques políticos da UDN na imprensa e um instrumento poderoso para a construção de um discurso radicalmente oposicionista em relação à esquerda daquela época, representada pelos comunistas e o reformista Getúlio Vargas e seus “herdeiros”.
Para atacá-los, Lacerda não hesitava em recorrer ao sensacionalismo e, até, a forjar dossiês e grandes denúncias.
Declarações do governador Tarso Genro, na Federasul, nesta quarta-feira, 6, e publicadas no site do Jornal Já repercutiram na imprensa local exatamente pela expressão “mídia Lacerdista”, atribuída ao governador do Estado.
Foi um equívoco. Tarso, de fato, acusou a grande mídia de “fazer oposição ao PT”, mas não falou em “mídia lacerdista”.  A expressão foi utilizada pelo redator da notícia. (Sérgio Lagranha).

Tarso Genro diz que toda a grande mídia é de oposição ao governo

O governador do RS Tarso Genro, candidato a reeleição, disse que toda a grande mídia é oposição ao governo liderado pelo PT e isto não é uma ofensa, mas uma opção política. “As grandes redes defendem os interesses da iniciativa privada e são contrárias as estatais, investimentos na qualificação da máquina pública, mecanismos de participação popular como os conselhos populares e gabinete digital, um Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem/RS) descentralizado e aberto as pequenas e médias empresas.” Ressalta que o governo não é contra as Parcerias Público-Privadas (PPPs), mas o negócio deve privilegiar o interesse público e não somente determinadas empresas.
Ele cita o exemplo do Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) criada em seu governo, que não renovou os contratos com empresas privadas que controlavam a arrecadação de diversos pedágios. A partir daquele momento todas as estradas sob controle da EGR passaram a ser intransitáveis, conforme a mídia Lacerdista.
“Na realidade a Empresa Gaúcha de Rodovias tem 18 equipes trabalhando na recuperação e restauro em cerca de de 900 quilômetros de estradas que estão sob o seu cuidado e executa as melhorias com o dinheiro arrecadado em 14 praças de pedágio. No entanto, esta postura não é pessoal, contra o governador, mas porque eles querem que os pedágios fiquem nas mãos da iniciativa privada”, observou.
Tarso explicou que o projeto que cria o Conselho Estadual de Comunicação, está parado desde 2012 na Casa Civil porque não tem maioria na Assembleia Legislativa e seria derrubado caso fosse à votação. “Integrantes da própria bancada do PT não querem se indispor com a mídia e preferiram não provocá-la neste momento”, acrescentou.
O Conselho Estadual de Comunicação é uma instância pública e de caráter independente, como órgão consultivo, de assessoramento e aconselhamento do Poder Executivo. O caráter de instância pública independente será assegurado pela presença, em sua composição, de representantes da sociedade civil.
Em sua palestra nesta quarta-feira, 6, no Tá na Mesa da Federasul, Tarso falou sobre os números de seu governo e a dívida pública. Segundo ele, para ampliar os investimentos e acelerar o crescimento do RS é necessária a aprovação, pelo Senado Federal, do Projeto de Lei Complementar nº 99/2013, que trata da renegociação da dívida de Estados e municípios com a União, e que irá permitir ao RS, já a partir de 2015, abrir um espaço fiscal para novas contratações de financiamento para investimentos, além de sair de um pagamento de dívida por prazo indeterminado para, enfim, encerrá-la em 2027.
Questionado sobre a posição contrária ao projeto pelo Banco Central, disse que é natural esta manifestação por parte da área financeira, “mas o governo se comprometeu com o projeto e isso me fez aceitar ser candidato a reeleição.”
Disse, ainda, que as reformas Tributária e Política precisam passar no Congresso, mas lembrou que São Paulo é contra a primeira e os estados do Nordeste, contra a segunda. “Estas reformas só acontecerão se houver a união dos demais estados.”
O Tá na Mesa, da Federasul, terá ainda como palestrantes para falar sobre os desafios do Rio Grande, José Ivo Sartori, candidato ao Governo do Estado pela coligação “O novo caminho para o Rio Grande” (PMDB / PSD / PPS / PSB / PHS / PT do B / PSL / PSDC), em 13 de agosto. Nas quatro semanas seguintes os palestrantes serão os candidatos ao Senado pelas mesmas coligações: Olívio Dutra (PT), em 20 de agosto; Lasier Martins (PDT), 27 de agosto; Simone Leite (PP), 3 de setembro, e Beto Albuquerque(PMDB), 10 de setembro.
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Visita da ONU impulsiona obras de saneamento

Em março, a presidente Dilma Rousseff anunciou a liberaçãp de R$ 16 bilhões para obras de saneamento básico no Brasil. Na manhã desta quinta-feira, véspera de Natal, o governador gaúcho, Tarso Genro, vai assinar o contrato da verba destinada ao Rio Grande do Sul. Será às 10 horas, no Palácio Piratini. O documento será firmado também pelo Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal (CEF) e Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
O dinheiro faz parte da terceira seleção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), para investimentos em água e de esgoto em 16 cidades do Estado. O anúncio ocorre logo depois de uma visita ao Brasil da relatora especial das Nações Unidas sobre Água e Saneamento, Catarina de Albuquerque. Ela apresentou conclusões preliminares e as recomendações iniciais ao governo brasileiro sobre as condições sanitárias do país.
O governador Tarso Genro assina contrato de R$ 1 bilhão destinado ao saneamento no Rio Grande do Sul, nesta quinta-feira (26), às 10h, no Palácio Piratini. O documento será firmado também pelo Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal (CEF) e Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
Dinheiro vem do PAC II
O valor já havia sido garantido em março deste ano, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou a liberação de R$ 16 bilhões para o setor em todo o país. O dinheiro faz parte da terceira seleção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II) e será utilizado para empreendimentos de água e de esgoto em 16 cidades do Estado. Com financiamento da CEF, estão sendo contratados R$ 479,95 milhões. Por meio do Orçamento Geral da União (OGU), as cifras chegam a R$ 521,91 milhões.
Em outubro, 11 cidades gaúchas foram contempladas com mais R$ 394 milhões na 4ª seleção do PAC II. A previsão é de que essa contratação ocorra até o fim do primeiro semestre de 2014. Assim, cerca de R$ 4,4 bilhões, entre recursos próprios da Corsan e do PAC, serão investidos no Rio Grande do Sul até 2017.
Municípios contemplados – Orçamento Geral da União:
• Canoas (Esgoto): R$ 216,25 milhões
• Estância Velha (Esgoto): R$ 71,41 milhões
• Nova Hartz (Água): R$ 5,15 milhões
• Nova Santa Rita (Esgoto): R$ 29,76 milhões
• Parobé (Esgoto): R$ 42,63 milhões
• Portão (Esgoto): R$ 23,27 milhões
• Santo Antônio da Patrulha (Esgoto): R$ 16,31 milhões
• Sapiranga (Esgoto): R$ 34,76 milhões
• Taquara (Esgoto): R$ 82,35 milhões
Municípios contemplados – Caixa Econômica Federal:
• Alvorada/Viamão (Água): R$ 58,72 milhões
• Cachoeirinha (Esgoto): R$ 45,9 milhões
• Campo Bom (Esgoto): R$ 78,33 milhões
• Gravataí (Esgoto): R$ 123,16 milhões
• Guaíba (Esgoto): R$ 28,26 milhões
• Guaíba – repactuação PAC I(Esgoto): R$ 26,37 milhões
• Santa Maria (Esgoto): R$ 119,19 milhões
O anúncio ocorre logo depois de uma visita ao Brasil da relatora especial das Nações Unidas sobre Água e Saneamento, Catarina de Albuquerque. Ela apresentou conclusões preliminares e as recomendações iniciais ao governo brasileiro sobre as condições sanitárias do país. Disse que ficou chocada com as desigualdades regionais no acesso ao saneamento básico, sendo a Região Norte a mais afetada.
Segundo ela, o Brasil está entre os dez países onde mais faltam banheiros – 7 milhões de brasileiros estão nessa situação. Cinquenta e dois por cento da população não têm coleta de esgoto e somente 38% do esgoto é tratado. “É inaceitável de uma perspectiva de direitos humanos”
(Com informações da Secom/RS e Agência Brasil)

Amos Gitai: os horrores da guerra na Mostra da Paz

A visita do cineasta israelense Amos Gitai à capital gaúcha foi breve, o tempo de abrir a Mostra da Paz, fazer uma conferência, receber a comenda Simões Lopes Neto do governador Tarso Genro, e debater com cinéfilos, estudantes e intelectuais. A Mostra terá sequência em novembro, com filmes palestinos.
Fica a reflexão sobre a obra de Gitai que, sem dúvida, é um dos cineastas mais interessantes da atualidade. Na Mostra de Porto Alegre, foram apresentados trabalhos já conhecidos e consagrados: Kadosh (1999); O dia do perdão (2000); e Kedma (2003).
Neles, e na maioria dos seus mais de 40 filmes, temas como, principalmente, a sociedade israelense, as relações entre judeus e árabes. Colocam, enfim, importantes abordagens sobre conceitos como território, fronteiras, paz, identidade, memória, numa das regiões mais conflituosas do mundo, o Oriente Médio. Gitai, na guerra do Iom Kipur, serviu numa unidade de salvamento, encarregada de resgatar feridos nos campos de combate. É desse testemunho que trata O dia do perdão, misto de ficção autobiográfica e linguagem de documentário, gênero muito apreciado por Gitai e responsável por grande parte da sua respeitável filmografia.
Terça-feira, 29 de outubro. Quarenta anos após a guerra do Yom Kipur, o cineasta israelense Amos Gitai, 63, fez, na abertura da Mostra da Paz, na Cinemateca Paulo Amorim, a apresentação do seu filme O dia do perdão (Kippur, 2000). Não era uma apresentação qualquer. Também era um testemunho.
Arquiteto de formação, Gitai ainda era estudante quando, em seis de outubro de 1973, Israel foi surpreendido com os ataques conjuntos dos exércitos egípcio e sírio.
Começava a guerra do Yom Kipur, que terminaria com uma vitória tática de Israel, mas que deixou, mais do que nos três conflitos anteriores, o gosto amargo de um estrago em baixas e equipamentos, e a necessidade de encontrar uma saída diplomática para a questão palestina, algo que, quatro décadas depois, ainda parece estar longe de acontecer.
Na capital gaúcha, a visita de Gitai foi breve, o tempo de abrir a Mostra, fazer uma conferência, receber a comenda Simões Lopes Neto do governador Tarso Genro, e debater com cinéfilos, estudantes e intelectuais. Tudo como parte do pacote da Paz, iniciativa do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, no intuito de promover a concórdia tão esperada entre palestinos e judeus.
Mais de 40 filmes
Se a visita e a Mostra (que terá uma sequência, em novembro, com filmes palestinos) foram breves, resta à reflexão sobre a obra de Gitai que, sem dúvida, é um dos cineastas mais interessantes da atualidade. Na Mostra de Porto Alegre, foram apresentados trabalhos já conhecidos e consagrados: Kadosh (1999); O dia do perdão (2000); e Kedma (2003).
Neles, e na maioria dos seus mais de 40 filmes, temas como, principalmente, a sociedade israelense, as relações entre judeus e árabes. Colocam, enfim, importantes abordagens sobre conceitos como território, fronteiras, paz, identidade, memória, numa das regiões mais conflituosas do mundo, o Oriente Médio.
Gitai, na guerra do Iom Kipur, serviu numa unidade de salvamento, encarregada de resgatar feridos nos campos de combate. É desse testemunho que trata O dia do perdão, misto de ficção autobiográfica e linguagem de documentário, gênero muito apreciado por Gitai e responsável por grande parte da sua respeitável filmografia.
A película começa mostrando o jovem Weinraub (Liron Levo. Weinraub é também o sobrenome original da família de Gitai) caminhando solitário pelas ruas vazias de Haifa, comércio fechado, como reza a tradição do Yom Kipur. Corte para uma cena erótica onde Weinraub e sua namorada fazem sexo e, ao mesmo tempo, se lambuzam de tintas coloridas. Outros preferem rasgar roupas, unhar-se. Não importa.
Trata-se de uma alegoria e belo efeito plástico ao desejo e a vida, em claro contraste com o baixo-astral do resto do filme, a tinta sendo substituída pela lama, numa região onde a paz é um breve interregno entre ataques e contra-ataques violentos.
O toque da sirene interrompe o sexo, mas não chega a ser uma surpresa. Em Israel o estado de prontidão é permanente. Todos sabem o que fazer e Weinraub e seu amigo Ruso (Tomer Russso) seguem a bordo de um velho Fiat rumo a sua unidade de operação.
Antimilitarista, assim como em seu filme Kedma (também presente na Mostra), Gitai mostra que a guerra além de um conflito armado é acima de tudo um esmagamento existencial.
Mas, se é impossível apagar o lado heroico e épico daqueles que combatem, mesmo sendo cético em relação as suas causas, é possível reforçar o mal-estar, como a longa na sequência, plano fixo, trágico-cômica da tentativa de resgate de um soldado ferido, quando todos, literalmente, ficam chafurdados na lama.
Neutralidade
Por outro lado, quando as condições de resgate são “satisfatórias”, também é preciso escolher quem socorrer, estabelecer prioridades, pois, não cabem todos no helicóptero que, numas das sequências finais, acaba sendo derrubado por um míssil.
Nisso, a ficção de Gitai foi mais branda do que na história real, quando o copiloto foi decapitado pelo projétil. Dá para imaginar o deleite que seria este fato para certo cinema hollywoodiano.
O filme, enquanto ponto de vista, transmite uma certa neutralidade, ou subjetividade como prefere Gitai, sem tomar partido e sem figuração dos exércitos sírio ou egípcio, cuja presença narrativa é constada somente através das explosões dos projéteis que lançam. Mas faz questão de mostrar os horrores da guerra, não faltando mortos, mutilados e corpos queimados. Afinal, o efeito surpresa do início da guerra do Yom Kipur foi devastador para Israel.
Na sequência final, Weinraub, em Haifa, volta para os braços da namorada, num movimento narrativo circular da história, repetindo a encenação da segunda sequência, os dois transando, lambuzando-se de tintas, que agora substitui a lama, enquanto aguardam o próximo toque da sirene convocando para o combate.
Até quando?
Questão complexa e cuja síntese parece estar inserida no final de Kedma, nos monólogos do palestino, expulso de sua terra, e do judeu, condenado ao sofrimento.
No próximo dia seis de novembro (quarta-feira) será vez do cineasta Kamal Aljafari apresentar filmes com a temática palestina. Pena não poder reunir, no Bom Fim, Gitai e Aljafari, que, dividindo um faláfel, ou um Kebab (especialidade turca, mas não importa) falariam de paz, coabitação, e daquilo que certamente fazem melhor: cinema.

Os planos da Alstom a partir de Canoas

A mais nova fábrica da Alstom, inaugurada em Canoas ontem (7), começa a funcionar justamente no dia em que a imprensa divulga o envolvimento da empresa francesa em cartéis em diferentes países, inclusive no Brasil, segundo O Estado de S. Paulo de hoje.
A fábrica terá capacidade para produzir 120 torres de aço por ano, o suficiente para fornecer aproximadamente 350 MW de eletricidade. Veio de olho em toda a região sul da América Latina, um mercado que está crescendo.
A inauguração foi prestigiada pelo governador Tarso Genro e diversas outras autoridades locais.
Esta é a segunda unidade do setor eólico na América Latina. A primeira funciona em Camaçari, na Bahia, desde novembro de 2011, com capacidade para fabricar 600 MW em aerogeradores por ano.
A unidade de Canoas produzirá torres dedicadas ao complexo Corredor do Senandes, primeiro projeto eólico da Odebrecht Energia, que terá 108 MW de capacidade instalada.
Alguns meses atrás, a Alstom assinou uma parceria com a Renova Energia. O acordo – o maior dentro do mercado eólico onshore global – tem o potencial para gerar cerca de um bilhão de euros em pedidos para a Alstom, por meio da instalação de no mínimo 1,2 GW em projetos. As empresas já assinaram um contrato para 513 MW como parte do acordo.

Governo federal retoma ferrovias

Falta apenas um encontro de contas final para concluir a devolução das concessões de ferrovias da ALL Logística ao governo federal. A ALL é a maior concessionária ferroviária do país, e começou pela Malha Sul, com a privatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), em 1997.
A informação foi confirmada esta manhã pelo ministro César Borges, dos Transportes, após reunião com o governador Tarso Genro e deputados gaúchos, no Palácio Piratini. “Se a ALL vai devolver a concessão antes do tempo, por outro lado ela abandonou vários trechos que eram operacionais e deixaram de ser”.
O Programa de Investimento em Logística, lançado em agosto passado, para reformular e ampliar a malha ferroviária nacional, levará o governo a retomar concessões em diversos trechos, como já aconteceu com a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), que opera no Sudeste.
Os trechos serão novamente licitados, mas desta vez o contrato contemplará obrigatoriedade de investimentos, o que não constava nos contratos das atuais concessões.

Tarso prega uma Constituinte revisora

Em um extenso artigo que circula nas redes sociais desde segunda-feira, o governador Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, lança o que seria uma “plataforma de esquerda” para fazer frente à “crise que emerge das ruas”.
“Quinta-feira, 27 de junho, Porto Alegre, frente do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Nove horas da noite. Na Praça da Matriz, mais de quatro mil manifestantes fazem seu protesto legítimo em perfeita harmonia, inclusive com as forças da Brigada Militar, que garantem a segurança para a cidadania manifestar-se livremente. Um cordão de isolamento de policiais militares, protegidos por escudos, garante a integridade do Palácio.
“Durante uma hora e meia os policiais aguentam impávidos e disciplinados, por ordem originária do próprio Governador, uma chuva de pedras, garrafas e paus, jogadas por aproximadamente 150 mascarados, postados no lado esquerdo do Praça, fundidos no meio de uns 200 manifestantes, que não impedem suas ações violentas e provocativas, mas inibem uma resposta da Polícia, cuja reação poderia atingir pessoas que, inocentemente ou não, não estavam envolvidas na“ação direta”.
Esses dois parágrafos do artigo “Uma Esquerda à Altura da Crise da República” indicam que o governador Tarso Genro corrigiu o comportamento da força militar, a nota desafinada na sua estratégia para enfrentar a “crise das ruas”.
Na manifestação anterior, a Brigada atacou manifestantes pacíficos – embretou-os no Viaduto Otávio Rocha e carregou com bombas e cavalaria, contrariando aquilo que o governador sempre disse – que a força estaria lá para garantir a integridade dos manifestantes e o seu direito de protestar.
No artigo, o governador também deu a pista para o trabalho policial que as circunstâncias requerem:
“No céu, um helicóptero com letreiros eletrônicos voeja rente à Praça, com dizeres contra a existência dos Partidos e afirma que, desta forma – sem os partidos – o Brasil “tem jeito”. Quem promoveu este vôo? Quem o pagou? Como ele se conecta com as manifestações?”
Em seguida, apresenta as credenciais que o legitimam para enfrentar o clamor das ruas:
“Dentro do Palácio, um “governo de partidos”, eleito no primeiro turno, que governa com mecanismos de participação popular combinados de forma inédita, tais como o Orçamento Participativo, o Gabinete Digital, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a Consulta Popular.
Esta, por exemplo, é um procedimento de votação eletrônica (1 milhão e 100 mil votos no ano passado) que, através de perguntas diretas à população, promove a liberação hierarquizada de recursos (este ano, mais de duzentos milhões de reais) para investimentos, principalmente em pequenas obras e nas áreas da saúde e da educação”.
Grupos sem rosto
Na avaliação que faz no artigo, Tarso vê “três protagonistas claros da crise”:
– a cidadania manifestando-se na defesa de direitos;
– grupos “sem rosto” que servem de massa de manobra para provocações, como ocorre historicamente nestas conjunturas (cujos objetivos são obscuros, mas funcionam como desestabilizadores da democracia política);
– e a direita conspirativa, que trabalha nas “sombras” – no caso, “no ar” – dando seqüência ao trabalho feito pela mídia dominante, que nos últimos anos dissolveu o prestígio dos partidos, dos políticos em geral e de todas as instituições democráticas da República.
Quanto às “causas mais visíveis da insatisfação popular”:
– as péssimas condições do transporte coletivo e do sistema de saúde pública nas grandes regiões metropolitanas.
(“Na verdade faltou Estado, seja como prestador, seja como organizador-controlador, o que se combinou com o ascenso de milhões de jovens ao mundo do trabalho e às universidades públicas e não públicas (estas, através do Prouni), sufocando, não só a mobilidade destas grandes regiões, mas também a capacidade da estruturas públicas prestarem serviços de mediana qualidade. De outra parte, os apelos da sociedade consumista oferecem promessas espetaculares que apenas uma parte da população pode acessar, transformando o desejo sonegado de muitos em frustração, crime e violência irracional”).
Entre as causas, Tarso menciona “um processo geral de hipnose fascista, que não tem precedentes na História do país”.
Promovida pela mídia, essa “hipnose” consiste basicamente numa inversão de prioridades, com manipulação dos fatos: em vez de “denunciar as desigualdades e a riqueza concentrada”, verdadeira causa das mazelas nacional, a mídia se fixa na denúncia da corrupção, “como se ela fosse uma propriedade e uma qualidade dos políticos atuais e dos governos atuais”.
“Não foi promovido o combate à corrupção como mazela de um Estado reprodutor de desigualdades e protetor de privilégios corporativos e de classe, pois isso suporia reconhecer que tanto nos partidos, no serviço público, como nas empresas, em todas instituições (até mesmo na mídia), há uma grande maioria de pessoas que não tolera a corrupção e que não a aceita, por princípios morais e políticos”.
“A campanha foi feita de modo a incriminar de maneira plena a esfera da política, os partidos e, particularmente, os dois governos que colocaram os pobres e os trabalhadores como protagonistas da cena pública”.
Moralidade republicana
Tarso vai ao ponto de atribuir a esse discurso repisado pela mídia a motivação aos grupos violentos que se infiltram nas manifestações:
“Ao fazer uma incriminação generalizada colocando, de um lado, a grande imprensa como a virtude moral do país, e, de outro lado, os partidos e os agentes públicos como a fontes da corrupção, o que ocorreu foi a degradação dos instrumentos democráticos para combater a própria corrupção, restando a grande mídia como fonte de toda a moralidade republicana, com poderes totalitários para dizer quem presta e quem não presta, quem merece confiança e quem não merece”.
“Assim, quando um Juiz Privado, a mídia, transforma-se em monopólio do Juízo Público, estamos entrando numa crise da República: a marginalidade violenta e os fascistas clássicos e pós-modernos, que emergem nesta situação, não precisam mais se conter e sentem-se autorizados ideologicamente a saquear e a incendiar”.
O governador gaúcho, porém, não vê inocentes na cena política:
“É preciso compreender, porém, que o que está ocorrendo no país não é mera invenção midiática. É óbvio que os partidos de esquerda e as instituições “dissolvidas” por esta manipulação sobre a corrupção não são inocentes”.
“Seus vícios, seu acomodamento ideológico, seu afastamento das questões mais intensas que desqualificam a vida cotidiana do povo, facilitaram esta agenda da direita que, como se vê, sorri satisfeita com toda a crise e pretende transformá-la em cavalo de batalha eleitoral”.
“Nossos partidos precisam captar esta energia criadora que vem das ruas e transformá-la em políticas democráticas de largo alcance”.
“Nestas circunstâncias, a crise da democracia transmudou-se em crise da República. Isso não quer dizer, no entanto, que o pacto democrático não possa ser recuperado, tanto pela “via conservadora”, como pela “via da radicalização da democracia”.
“Na primeira hipótese, pela “via conservadora”, basta que os poderes voltem a funcionar em relativa harmonia, para simular que “as coisas começaram a melhorar”. Se eles voltarem a operar nesta relativa harmonia, os clamores populares poderão deixar de ser valorizados pelos meios de comunicação e a situação poderá se acalmar, mas a democracia não será revalorizada e a República não será reformada. Nem serão criadas novas instituições que permitam fortalecer a intervenção do povo no processo político e, em consequência, as “crises” virão ainda mais fortes no futuro”.
Demandas populares
“A essência da crise atual, portanto, é que os poderes republicanos e as suas instituições políticas não têm mais chances de recuperar sua plena legitimidade para dar eficiência à democracia – capacidade de resposta à justas demandas populares -, sem novas formas de participação nas decisões públicas e sem novas fontes de legitimação do poder.
O Congresso tem mecanismos burocráticos de funcionamento que permitem, frequentemente, que interesses escusos impeçam votações e que minorias sem programa e sem princípios dominem a cena parlamentar, desprestigiando todo o corpo representativo. É preciso um sopro “direto” do povo para que ele se atualize e se sensibilize com os problemas reais que o país atravessa.
“Falo aqui de uma assembléia constituinte (revisora) específica, convocada conforme a Constituição, por Emenda Constitucional, para conectar as instituições políticas da República com o povo, que é o poder constituinte real. Seu objetivo é integrar, de forma direta, a atual energia política despertada pelas grandes manifestações de massas, com delegados eleitos especialmente para fazer a Reforma Política.”
“Estes representantes, eleitos para este fim específico, impossibilitados de concorrerem nas próximas eleições (admitido um percentual de representantes “sem partido”), pressionados democraticamente pela sociedade em movimento poderiam, através de mudanças substancias nas normas constitucionais que versam sobre os Partidos, financiamento das campanhas e Direito Eleitoral, “democratizar a democracia”, como diz Boaventura Souza Santos. E assim expandir os marcos da participação direta do povo, já previstos na atual Constituição Federal, combinando-a com a representação estável e previsível dos processos eleitorais tradicionais”.
A direita também usa as redes socias
“O que está ocorrendo durante as manifestações é também a seqüência de uma lenta e eficaz lavagem cerebral midiática, acolhida amplamente nas “redes sociais”, cujo objetivo está sintetizado na visão de que “o gigante acordou”, “vamos construir um novo Brasil” e “vamos varrer com a corrupção”. Tais sínteses traduzem uma mentira meticulosamente construída, pois os avanços democráticos que o país vem sofrendo, inclusive na luta contra a corrupção, datam da Constituição de 88 e, no plano social, dos dois governos do Presidente Lula, ampliados inclusive no atual governo”.
“Estas “palavras de ordem”, induzidas dos porões da direita extrema, levam as novas gerações a uma romantização do futuro, com graves frustrações de médio prazo. Embora a crise das regiões metropolitanas – motivação imediata das inconformidades em pauta – venha de erros e omissões dos atuais e anteriores governos (especialmente no que refere ao transporte urbano e a saúde), nenhuma destas questões será resolvida em profundidade nos próximos dez anos.
São bilhões a serem investidos e repassados aos Estados e às Prefeituras, que precisam enfrentar as agruras da crise mundial e a promoção de uma Reforma Tributária, que principalmente desonere os pobres e as novas classes médias e, em contrapartida, onere as grandes fortunas e as transações do capital especulativo e rentista”.
“O fato é que as grandes mobilizações populares abriram caminhos que estão em disputa no campo da política. Os partidos de esquerda, se estiveram à altura da crise atual, se forem mesmo de esquerda e democráticos, devem adotar uma estratégia unitária de revalorização da ação política e dos partidos, combinando-a com a criação de novos canais de democracia direta e de participação popular, articulados com a democracia representativa.
Ou seremos vencidos pelo conservadorismo, que poderá nos levar às novas formas de totalitarismo pós-moderno, que tanto controlará as mentes, a pauta, como ditará o que é lícito ou ilícito, numa democracia ainda mais elitista do que a presente”.
Tarso Genro é Governador do Estado do Rio Grande do Sul