“Como um músico de jazz”. Marcos Monteiro e sua exposição na Galeria da Escadaria.

 

Higino Barros

Dia 1º de Maio, a Galeria Escadaria , no viaduto da Borges de Medeiros, abriga sua segunda exposição, desde que foi aberta em abril de 2021, em plena pandemia do Corona Virus. Agora será a vez de Marcos Monteiro, 65 anos, natural de Bagé, fotógrafo, produtor cultural e idealizador da galeria em espaço aberto, justamente quando as artes visuais receberam um duro golpe com a interrupção de atividades presenciais. Atualmente algumas galerias em espaço fechado de Porto Alegre recebem presencialmente, com rígidos protocolos de saúde.

Monteiro pegou sua câmera fotográfica nesse período e foi para as ruas. O resultado pode ser visto na exposição “Ir/real”. A fotógrafa Dani Remião que o ajudou a selecionar as fotos, define o trabalho “como um músico de jazz, Marcos mantém um equilíbrio entre o planejado e o improviso, que requer domínio da técnica fotográfica e criatividade para os ajustes em tempo real.”

Todas as fotos trazem os locais onde foram fotografadas e a técnica utilizada.

Abaixo, a entrevista que o fotógrafo concedeu ao JÁ Porto Alegre:

PERGUNTA:  Quem é Marcos Monteiro?

RESPOSTA:  Marcos Monteiro, publicitário, designer gráfico, produtor cultural e fotógrafo autoral. Produtor e idealizador do projeto musical Chapéu Acústico, Produtor e idealizador da exposição coletiva anual a céu aberto Street Expo Photo, Idealizador e curador da Galeria Escadaria.

PERGUNTA:  De onde veio a ideia da atual exposição?

Estou fechando um ciclo de sete anos de trabalho autoral na fotografia e como meta busco a cena ideal para compor o inesperado, seja na rua ou outros lugares, saio sem roteiros em busca de cenas bem compostas e iluminadas, uma espécie de planejamento com improviso, a partir daí a sensibilidade e a intuição me conduzem. A exposição Ir/real é uma síntese desse processo traduzida em 33 imagens onde busco transpor minha alma pelas lentes de uma câmera.

PERGUNTA:  Qual a participação da Dani Remião na curadoria?

RESPOSTA: A Dani é docente em artes e com sua grande experiência me ajudou a entender melhor esse meu processo artístico o que facilitou muito a elaboração e concepção da exposição.

PERGUNTA: O que há de programação para a galeria Escadaria?

RESPOSTA: Em maio teremos a minha exposição, em junho e julho a exposição “Pantanal, beleza ameaçada” de Daisson Flack e Douglas Fischer, em agosto a exposição da fotógrafa portuguesa Fernanda Carvalho. Os meses de setembro, outubro e novembro estão quase fechados.

PERGUNTA:  E projeto do Chapéu Acústico,  parceria com a Biblioteca Pública Estadual??

RESPOSTA: O projeto musical Chapéu Acústico está nas mãos da pandemia, assim que pudermos voltar a preencher espaços fechados com segurança, retornaremos.

PERGUNTA: Como está sendo produzir  arte em tempo de pandemia?

RESPOSTA: A Street Expo Photo 2020/21 nos mostrou que apesar da pandemia podemos com responsabilidade construir exposições de arte a céu aberto com segurança. A escadaria da Borges se mostrou um lugar fantástico para esse tipo de exposição e foi durante a pandemia que criamos essa que é a única galeria a céu aberto do Estado com a aceitação da população de Porto Alegre.

PERGUNTA: O que vale destacar no período?

RESPOSTA: A Galeria Escadaria veio para preencher um lugar importante na cidade e apesar de não termos vigilância os porto-alegrenses tem dado um exemplo inigualável de cidadania e respeito a arte, isso não tem preço.

A apresentação da mostra, por Dani Remião:

“Ir | real

Ir, a ação em busca da imagem; real, a cena fotografada; irreal, a sensação ilusória criada pelo artista. Morador do Centro Histórico de Porto Alegre, Marcos Monteiro faz de suas caminhadas pelo bairro seu momento de criação artística.As ruas, seu ateliê a céu aberto. E é este mesmo local que o artista elege como galeria para expor sua obra.

As fotografias surgem de um olhar atento, espera pacienciosa, disparo preciso e sensibilidade inquestionável. Guardam em si o tempo de espera do artista pelo momento da sobreposição natural de camadas de imagens em superfícies refletoras, do surgimento de sombras na paisagem, da inscrição de rastros de movimento no quadro fotográfico; o tempo de espera pela cena imaginada se fazer visível.

Em uma época de passos rápidos e corrida contra o tempo, especialmente no centro de toda grande cidade, o artista não tem pressa. Marcos imagina, se posiciona e espera. Aguardar é parte fundamental de seu processo criativo.

A obra dialoga com a estética de Cartier-Bresson e o momento da essência da cena que se busca extrair do fluxo temporal. Para o artista francês, a fidelidade do fotógrafo em relação aos fatos se faz no ato da não interferência na cena. Da mesma forma, a essência do momento para Marcos Monteiro está no que lhe é dado “à la sauvette” no momento do ato fotográfico. Suas imagens resultam de refino composicional e instantes sublimes do acaso.

Como um músico de jazz, Marcos mantém um equilíbrio entre o planejado e o improviso, que requer domínio da técnica fotográfica e criatividade para os ajustes em tempo real.

O artista capta um instante, mas conta uma aventura, que se abre para a narração e para a ilusão. Cada imagem carrega consigo uma história que se mantém nas lembranças de Marcos e em suas longas conversas quando conta sobre suas caminhadas fotográficas pela cidade. Ou na imaginação de quem observa suas fotografias e se deixa conduzir pela poesia dos ambientes que se fundem em um espaço de entressonho.

E nesse espelho do real e do irreal da fotografia, as imagens de Marcos Monteiro são reflexos da cidade, de seus moradores e de si mesmo.”

Dani Remião

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