Audiência debate futuro do Zoológico e da área mais cobiçada da RMPA

Cleber Dioni Tentardini
Os 780 hectares mais cobiçados da Região Metropolitana de Porto Alegre estarão em debate logo mais à noite na audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.
A questão central é a intenção do governo de repassar a concessão do Parque Zoológico à iniciativa privada e o desmembramento da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
O encontro também vai abordar o destino e guarda das coleções vivas e do material genético do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico de Porto Alegre, ambos vinculados à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), que foi extinta pelo governador José Ivo Sartori em janeiro deste ano.
A audiência foi proposta pela deputada Regina Becker (REDE), de atuação marcante em defesa dos animais.  Do governo, foram convidados representantes das secretarias estaduais do Meio Ambiente, Casa Civil, Fazenda, além do governador José Ivo Sartori.
Os servidores da Fundação Zoobotânica, ongs ambientalistas, estudantes e comunidade em geral prometem lotar o Auditório Dante Barone, do Parlamento gaúcho.
Localizado em Sapucaia do Sul, quase divisa com São Leopoldo, o Parque Zoológico ocupa 160 hectares, com o espaço para os animais e prédios que abrigam as seções do Hospital Veterinário, de Nutrição, de Zoologia, de Manutenção e Conservação, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) e a área de visitação.
Os outros 620 hectares pertencem à reserva, que faz homenagem ao religioso e botânico gaúcho, autor do clássico A fisionomia do Rio Grande do Sul (1942). Parte da área da reserva chega às margens do Rio dos Sinos e protege a mata ciliar por mais de 10 quilômetros de extensão.

gerson12
Área da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo/Foto Gerson Ceschini/Divulgação

Inaugurado em maio de 1962 pelo governador Leonel Brizola, o Zoo é um dos oito maiores do Brasil em extensão e em número de espécies animais da América, Ásia, Europa, África e Oceania: ao todo, 1.024 espécimes (indivíduos), distribuídos em 125 espécies, sendo 51 mamíferos, 60 aves e 14 répteis. Não estão incluídos aí os animais em atendimento no Cetas.
Em 2016, o Zoo registrou 115 nascimentos, dentre eles animais ameaçados de extinção, como a anta, bugio-preto, bugio-ruivo, mico-leão-da-cara-dourada, entre outros. A fim de reduzir os custos de manutenção dos animais, o Zoológico dispõe de lavouras destinadas à produção de forragem que ultrapassou, em 2014, 365 toneladas/ano.
Tratadora Mara Garzão com os camelos/Foto Gerson Ceschin/Divulgação
Tratadora Mara Garzão com os camelos/Foto Gerson Ceschin/Divulgação

IMG_1808
Veterinária Maria do Carmo com filhote de anta que foi criado na mamadeira/foto Eduardo Silva

Naquele ano, as despesas com manutenção foram praticamente iguais às receitas, a partir de bilheterias e concessões. Os gastos foram de R$ 3,291 milhões e a arrecadação, de R$ 3,113 milhões.
A visitação em 2016 foi de 417.290 mil pagantes, neste total não estão incluídos aquelas entidades que possuem gratuidade.
O ingresso é acessível à população de baixa renda (R$ 10,00 para adulto e crianças até 5 anos não pagam, estudantes e idosos pagam metade. Carros pagam R$50,00, sendo que este valor inclui todos os ocupantes do veículo.
14958705_1703903533260597_518935178_n
A visitação em 2016 foi de 417.290 mil pagantes/foto Gerson Ceschini

No início de 2015, o IBAMA, juntamente com o setor de fauna da Secretaria Estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizou uma vistoria e atestou a qualidade no tratamento destinado aos animais.
Um dos serviços mais solicitados do Zoo é o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), responsável pela manutenção, tratamento e destinação dos animais apreendidos em fiscalizações dos órgãos ambientais. No ano passado, o Cetas recebeu aproximadamente 1.000 animais em situação de risco, a grande maioria é vítima de tráfico, outros chegam até o Zoo machucados em decorrência de atropelamentos, choques elétricos, ataque de animais domésticos ou mesmo órfãos.
IMG-20161029-WA0033[1]
Filhote de gambá chegou no Zoo levado pela guarda ambiental /Foto Divulgação

Aves resgatadas pela BM de traficantes são levadas ao zoo
Aves resgatadas pela BM de traficantes são levadas ao zoo

Área cobiçada por mais de 50 anos
A área do Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal nº 3.115 passando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.
No dia 27 de julho de 1959, João Caruso, secretário de Obras Públicas na ocasião, entregou um estudo contendo sugestões para criar um parque público. A partir de então, a responsabilidade da área ficou com a Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE), sob a denominação de Grupos de Parques e Jardins. A sede era no próprio Horto Florestal.
Atualmente a Reserva Florestal tem vários problemas fundiários. Centenas de famílias moram ilegalmente em seu interior. Os funcionários da Zoobotânica temem que a especulação imobiliária acabe fatiando a reserva. A pressão para venda da área é histórica. Em 1957, a justificativa era pela necessidade de recursos para a execução do plano que previa a construção de mil escolas no RS. Em 2011, a área poderia viabilizar a expansão de um polo de tecnologia da Unisinos, a Tecnosinos, e, em 2015, levantou-se a hipótese de ter parte cedida a um congregado empresarial alemão, o Medical Valley, que reúne indústrias e centros de pesquisas na área biomédica, responsáveis por 43% da área de patentes na Alemanha.
Em 2015, uma comitiva do governo Sartori visitou a Alemanha e ouviu dos empresários a necessidade de uma área física para viabilidade logística do complexo empresarial e benefícios fiscais para as empresas deste chamado “Cluster de Tecnologias para Saúde”.
Governador Sartori e comitiva na Alemnaha/foto Luiz Chaves/Palácio Piratini
Sartori e comitiva na Alemanha/foto Luiz Chaves/Palácio Piratini

O diretor-executivo do Medical Valley, Tobias Zobel, retribuiu a visita no final de 2015. Durante palestra no Badesul, em Porto Alegre, disse que o plano de internacionalização da Medical Valley é criar uma rede de colaboração internacional entre Brasil, Estados Unidos e China. No caso do Brasil, o estado escolhido foi o Rio Grande do Sul. Os países atuarão em estreita cooperação no fomento da indústria e da pesquisa em saúde.

Professor pesquisa substâncias no cocão que podem agir sobre a dopamina

Cleber dioni tentardini
O professor e farmacêutico Arno Hofmann Junior está estudando uma espécie de cocão da coleção viva de plantas raras do Jardim Botânico de Porto Alegre para desenvolver sua tese de doutorado junto ao Laboratório de Toxicologia (Labtoxico), da Faculdade de Farmácia da UFRGS.
Essa espécie, encontrada somente no Sul do Brasil, é do mesmo gênero da planta da coca, de onde se obtém a cocaína, e está criticamente ameaçada de extinção. “O Jardim Botânico está tendo fundamental importância pois possibilitou a coleta de espécie de difícil identificação na natureza”, destaca o pesquisador.
Sua orientadora na Universidade é a professora Renata Limberger, farmacêutica especializada em Toxicologia e coordenadora do laboratório.
Hofmann busca identificar os componentes que essas espécies produzem e avaliar a influência de algumas destas plantas sobre a neurotransmissão da dopamina, substância presente no cérebro de mamíferos e que está relacionada a doenças como Mal de Parkinson, Dependência Química e Esquizofrenia.

Arno Hofmann
Arno diz que planta é muito difícil de ser encontrada/Divulgação

“Meu objetivo não é relacionar às doenças, mas a identificação de espécies que atuem sobre este neurotransmissor, o que possibilitará futuros estudos sobre suas potencialidades toxicológicas e terapêuticas, afirma o docente e coordenador do Curso de Farmácia, da Faculdade IDEAU, no município gaúcho de Getúlio Vargas.
Hofmann explica que o gênero Erythroxylum é conhecido principalmente por ser a fonte natural de alcaloides com núcleo ecgonina como a cocaína. “É verificado que outros compostos presentes nas folhas da ‘coca’ são biologicamente ativos e contribuem para os efeitos verificados pelo chá e pela pasta de coca, como os danos à saúde e a redução da fome e do cansaço. Devido às espécies pesquisadas no sul do Brasil pertencer ao mesmo gênero da ‘coca’, é possível que alguns destes componentes também estejam presentes”, ressalta Arno.
(Cleber Dioni Tentardini)

Pesquisadora da Zoobotânica encontra planta rara descrita no século 19

Cleber Dioni Tentardini
A bióloga Rosana Senna, coordenadora da Seção de Botânica do Museu de Ciências Naturais, na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, encontrou uma planta rara, que foi descrita uma única vez no Brasil, há 150 anos, pelo Barão de Capanema.
Esta segunda coleta registrada da espécie ocorreu em dezembro de 2015, mas só agora teve confirmado seu reconhecimento pelo Instituto de Biociências da Ufrgs, em artigo publicado nesta terça-feira, 11, na Revista Brasileira de Biociências. O texto é assinado por Rosana e por sua colega botânica na FZB, Andréia Carneiro.

1525313_478841172237321_1406629075_n-2
Bióloga Rosana com colega no trabalho em campo/Divulgação

Rosana encontrou a planta no Balneário de Quintão, município de Palmares do Sul. Analisou em laboratório e através de pesquisas localizou apenas uma coleta de Limosella australis no Rio Grande do Sul, que pertence ao Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
A coleta foi realizada no século 19 por Guilherme Schüch, Barão de Capanema (1825-1908), um engenheiro e naturalista do segundo império brasileiro, que tinha um apurado interesse em botânica, e a maioria de suas coletas está depositada no herbário no RJ.
A Limosella australis é um gênero aquático caracterizado por plantas de pequeno porte que habitam solos lamacentos e encharcados.
Espécie encontrada em uma calçada alagadiça
Espécie encontrada em uma calçada alagadiça

É possível que o material de Limosella, coletado por Capanema seja oriundo do Litoral Norte gaúcho, sustenta a bióloga. “A partir do ano de 1865, Capanema, então diretor da Repartição Geral dos Telégrafos no Brasil, esteve em Torres para início da implantação da telegrafia no estado, mesmo ano da coleta de Limosella.
O gênero ocorre na América, desde o Canadá, até a Argentina e Antilhas, e na Europa, África, Ásia, Austrália, Nova Zelândia
“As plantas de Limosella australis são de difícil percepção no ambiente devido ao tamanho reduzido e flores diminutas entre as folhas filiformes. E ainda, quando observadas em campo, desprovidas de flores e frutos, podem ser confundidas com algumas espécies de juncus, que também podem ocorrer em ambientes urbanos associados às áreas úmidas litorâneas”, alerta a bióloga.
O material testemunho, que serviu de base para descrição morfológica, foi depositado no herbário Prof. Dr. Alarich Schultz (HAS) da FZB.
A bióloga Josy Matos, da Seção de Botânica do MCN, ressalta que a descoberta mostra a importância da manutenção das coleções de espécies para a ciência. Segundo Josy, diversos trabalhos científicos utilizam as informações de herbários para relacionar as espécies nessas coleções com a época em que foram coletadas e suas áreas de distribuição.
“Assim ficamos sabendo onde elas encontravam condições adequadas para viver, ou até mesmo o estado de conservação do ambiente na época, podendo fazer comparações com as mesmas áreas nos dias de hoje”, destaca.
A botânica acrescenta que, além da importância para a ciência, este tipo de informação serve para ajudar a entender quais as melhores áreas para a conservação das espécies e seus habitats, o que auxilia nos processos de licenciamento ambiental e na tomada de decisões dos governantes.
(Cleber Dioni Tentardini)

MP pede agilidade da Justiça para proteger patrimônio da Zoobotânica

Cleber Dioni Tentardini
A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Porto Alegre ingressou nesta segunda-feira, 10, com pedido de “apreciação imediata” da Ação Civil Pública ajuizada contra o Estado do Rio Grande do Sul para proteger o Jardim Botânico e o Museu de Ciências Naturais, ambas as instituições vinculadas à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
Conforme a promotora de Justiça, Ana Maria Marchesan, parte do muro que separa o terreno do Jardim Botânico da vila foi derrubado, tornando o local sujeito a novas invasões. “A destruição faz periclitar o incrível patrimônio ambiental e cultural dos dois equipamentos”, observou.
A ação civil pública foi ajuizada pelo MP em fevereiro deste ano. Pede que o Estado apresente um estudo técnico que mostre quem fará a guarda e manutenção dos acervos e onde ficarão depositados na Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA). Trata-se do patrimônio cultural e natural das instituições.
“Os trabalhos do Museu são relevantes ainda para questões ligadas à saúde da população, pois os venenos extraídos das serpentes vivas que lá estão são usados para fabricação de soro antiofídico e outros medicamentos”, ressaltou a Promotora, lembrando que há também um patrimônio genético catalogado no Museu.

Promotora Ana Marchesan conhece coleções do Museu de Ciências Naturais/MPRS
Promotora Ana Marchesan conhece coleções do Museu de Ciências Naturais/MPRS

Recentemente, a promotora do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ana Marchesan, realizou uma vistoria nas coleções do Museu de Ciências Naturais, tendo em vista a possível extinção da FZB e de seus equipamentos vinculados.
Acompanhada da assessora historiadora do MP, Cintia Vieira Souto, e de representantes do Conselho Federal e Estadual de Museologia, a promotora constatou o “incrível trabalho de memória científica desenvolvido há anos pelos pesquisadores das mais diversas áreas e a importância que ostentam para programas de conservação da biodiversidade e do meio ambiente como um todo, sem falar na relevância como fonte para trabalhos científicos”.
Foram vistoriadas as coleções de insetos, plantas vasculares e líquens, algas (ficologia), poríferos, entomologia (insetos), malacologia (moluscos), ictiologia (peixes), erpetologia (répteis e anfíbios), ornitologia (pássaros), mamíferos (mastozoologia), paleontologia e o serpentário.
Afora as coleções históricas (recebidas prontas pelo Museu), todas as demais são coleções vivas, ou seja, continuam recebendo diuturnamente materiais novos para estudos e catalogação, necessitando de curadoria permanente.
Ana Marchesan avalia que a perda parcial ou total desse acervo representará danos irreversíveis à memória científica não só nacional como até internacional. “O Museu recebe consultas e estabelece intercâmbios com diversas instituições estrangeiras como o Museu Britânico e o Museu de História Natural de Berlim”, destacou.

Zoobotânica tem mais de cem pesquisas em andamento

Laboratório de Liquenologia do MCN, por exemplo, abriga trabalhos tão importantes ao meio ambiente como desconhecidos.
Cleber Dioni Tentardini
O Museu de Ciências Naturais (MCN) e o Jardim Botânico de Porto Alegre, duas das três instituições vinculadas à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), têm mais de cem projetos de pesquisa  em andamento.
Envolvem áreas como ecologia, conservação e história natural, diversidade, sistemática e taxonomia, anatomia e morfologia, paleontologia, monitoramento de qualidade e impactos ambientais, monitoramento e inventário de fauna e flora, eco-epidemiologia.
Desde os líquens que se agregam às árvores em Porto Alegre, e que são indicadores dos níveis de poluição na cidade, até as propriedades medicinais de uma espécie de cocão, um parente da coca colombiana, que está ameaçada de extinção.
Além das pesquisas em seus laboratórios, a Zoobotânica abre seus acervos a centenas de estudantes de todos os níveis de ensino, principalmente da graduação e pós-graduação, de várias cidades gaúchas, de outros estados e países.
Líquen,  bioindicador ambiental
Dentre os diversos projetos, financiados pelo governo federal através bolsas de iniciação científica do CNPq, Capes e Fapergs, principalmente, o Laboratório de Liquenologia da FZB abriga trabalhos cujos resultados são tão importantes ao meio ambiente como desconhecidos.
Apesar da desinformação, são considerados biomonitores da qualidade do ar muito eficientes, a exemplo dos testes químicos feitos pela Fepam em áreas conhecidas de Porto Alegre como defronte à Estação Rodoviária.
Os líquens indicam a presença na atmosfera de gases como enxofre, ozônio, nitrogênio, e de metais pesados como cromo, zinco e mercúrio. Começaram a ser testados também para monitorar as mudanças climáticas.

Tronco com a espécie herpothallon rubrocinctum
Tronco com a espécie herpothallon rubrocinctum

A bióloga Suzana de Azevedo Martins, do Museu de Ciências Naturais da FZB, uma das maiores especialistas em líquens no Brasil, explica que esses organismos resultam da união de fungos com algas ou cianobactérias (responsáveis pelo gosto de terra na água).
“Como são extremamente sensíveis, esses organismos são bioindicadores da qualidade do ar muito eficientes. São “indicadores ambientais” que podem nos dar muitas respostas sobre mudanças climáticas, inclusive”.
Os líquens na verdade estão por toda parte: “Eles são considerados epífitos, não sugam nada, não retiram nutrientes de uma planta, por exemplo. Estão ali no tronco como podem estar num telhado, em uma folha, no chão, em diferentes tamanhos, colorações e formatos, porque as algas estão ali naturalmente, é o habitat delas. Agora, o fungo que forma o líquen não existe sozinho. A parte reprodutiva do fungo libera um esporo, que vai cair num determinado local, e esse substrato é usado apenas para sustentação, captação de luz e de água”, afirma.
Como esses organismos produzem várias substâncias, também são utilizados na medicina, como recuperação de queimados, fabricação de antibiótico. As indústrias de cosméticos, perfumaria, desodorante, almíscar, aproveitam também os líquens como fixadores de aromas.
Amostra de várias espécies de fungos liquenizados/Cleber Dioni
Amostra de várias espécies de fungos liquenizados (à direita)/Cleber Dioni

Cladonia confusa
Cladonia confusa

Deduz-se que existam em torno de 5 mil espécies de fungos liquenizados no Brasil. No RS, já foram descobertas 1.200. “Há espécies endêmicas (características de determinadas localidades) mas são praticamente pan-tropicais, ocorrem no mundo inteiro, porque se adaptam bem”, garante a especialista.
Tem que amar para estudá-los, diz bióloga
Suzana trabalha há 37 anos na Fundação, onde ingressou como estagiária. Hoje coordena o Laboratório de Liquenologia, da Seção de Botânica de Fanerógamas, no Museu de Ciências Naturais da FZB.
Seu primeiro contato com os líquens foi durante a implantação do Polo Petroquímico, em Triunfo. A Zoobotânica foi contratada para fazer o diagnóstico da área antes da implantação do Polo e, naquela época, como estudante, Suzana foi como auxiliar no projeto. “Meus orientadores foram a professora Maria Henriqueta Homrich, e dois alemães, o Winkler e o Grüninger, especialistas em líquens. A professora sugeriu trabalhar com esse grupo porque não havia ninguém estudando eles no Estado. Elaboramos um projeto e o CNPq aprovou uma bolsa de iniciação científica”, lembra.
Suzana no herbário da Fundação Zoobotânica/Cleber Dioni
Suzana no herbário da Fundação Zoobotânica/Cleber Dioni

Sua tese de doutorado em São Paulo teve como orientador o cientista Marcelo Marcelli, então o maior liquenólogo brasileiro. “Ali, ele já me advertiu que só iria me aceitar como orientanda porque eu já estava familiarizada com o assunto, pois era mestre em Ecologia, do contrario, ele não o faria, recorda. Porque é muito difícil, tem que avaliar vários fatores além das especificidades de cada líquen, como o ph da casca da árvore, a rugosidade, temperatura do microambiente, umidade, luminosidade etc”.
A bióloga deu aula por 15 anos na Faculdade de Nutrição do IPA, onde lecionava a disciplina de Biologia Geral, e, hoje, dedica-se, com o mesmo entusiasmo de quando começou, a orientar os futuros liquenólogos. E faz questão de adverti-los logo no início: “É preciso amar os líquens para estudá-los a fundo porque são tão apaixonantes como complexos”, ressalta.
Estudo começou em 1979 no Polo Petroquímico
Os estudos com líquens tiveram início no Rio Grande do Sul pelas pesquisadoras Lia Martau e Lúcia Aguiar, em 1979, no então denominado Núcleo de Vegetais Superiores e Intermediários. Os fungos foram utilizados por ocasião dos estudos de diagnóstico ambiental nos municípios de Triunfo e Montenegro, objetivando o licenciamento para implantação do Pólo Petroquímico.
Espécie nova na APA do Caraá
Suzana é co-orientadora, ao lado dos professores universitários, de quatro bolsistas, ligados a diferentes universidades. A estudante Jéssica Araújo, da Uniasselvi, iniciou recentemente o projeto dos “Líquens como indicadores biológicos na APA Municipal do Caraá/RS”. “Já encontramos a uma espécie nova de líquen para ciência”, diz.
Dan liquens 7
Jéssica é aluna da graduação e ingressou agora no mundo dos liquenólogos/Cleber Dioni

Reserva preservada no Lami
A bióloga Daniela Weber, da Unilasalle, desenvolve pesquisa com os líquens na Reserva Biológica do Lami desde agosto de 2015. Ela está avaliando a diversidade e a quantidade de líquens em nove tipologias vegetacionais da reserva, como a mata alta, mata baixa, restinga, banhado e campo sujo.
Daniela faz pesquisas na Reserva do Lami/Cleber Dioni
Daniela faz pesquisas na Reserva do Lami/Cleber Dioni

“Meu objetivo é comparar que tipo de líquen há em cada tipologia, e se há diferenças ou não. A partir de coletas de uma colega e das que eu realizei, já conseguimos verificar que há diferença entre a mata baixa 1 e restinga, na primeira é mais úmida e tem uma quantidade maior de líquen. Conseguimos coletar mais de 120 exemplares de líquen lá. Nossa próxima coleta é a Ponta do Cego, a área mais preservada”, projeta.
Outros dois projetos no laboratório do MCN tratam da ‘Utilização de líquens pelas aves na construção de seus ninhos’ e ‘Líquens como indicadores da qualidade do ar no município de Campo Grande, MS’. Neste, desenvolvido na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Suzana é colaboradora de sua ex-aluna de doutorado.
São poucas pesquisas, mas com bons resultados
O Brasil ainda está engatinhando nas pesquisas de líquens, segundo Suzana, mas há boas perspectivas. “Há poucos liquenólogos brasileiros, mas fazemos parte de um grupo brasileiro e outro latino-americano, em ambos somos muito unidos, e do qual participam dois especialistas europeus com quem trocamos muitas experiências”, diz a bióloga.
Suzana está otimista diante dos bons resultados das pesquisas. “Agora mesmo nós formamos a Fabiane Lucheta no mestrado da Feevale. Ela trabalhou ao longo da Bacia do Rio dos Sinos, comparando as localidades em diferentes municípios, analisando a diversidade e riqueza de espécies de líquens. E posso dizer que ela teve excelentes resultados porque ela trabalhou nas áreas rural, rural-urbana e urbana industrial.”
Fabiane defendeu sua dissertação em 20 de fevereiro deste ano. O trabalho “Líquens como indicadores ambientais na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos: Estrutura Comunitária e Análise Funcional teve como orientador o professor Jairo Schmitt, da Universidade Feevale, e co-orientadora, a especialista da FZB.
O estudo foi realizado em nove municípios – Caraá, Rolante e Santo Antônio da Patrulha (trecho superior – matriz rural), Parobé e Sapiranga (trecho médio – matriz rural/urbana), Estância Velha, Novo Hamburgo, São Leopoldo (trecho inferior – matriz urbana/industrial), que apresentam diferentes níveis de urbanização e industrialização.
Fabiane analisando e coletando amostras/Divulgação
Fabiane analisando e coletando amostras/Divulgação

“Observamos que com o aumento da industrialização nas cidades localizadas ao longo do Rio dos Sinos (do trecho superior ao inferior) houve mudanças também nas comunidades de líquens. O número de espécies diminuiu e a quantidade de espécies tolerantes e generalistas aumentou nos municípios localizados no trecho inferior. Já nos municípios do trecho superior, registramos um maior número de espécies exclusivas e características de ambientes mais úmidos. Líquens são importantes indicadores das mudanças ambientais causadas por ações antrópicas, como o desmatamento e a transformação de florestas em áreas urbanas, como demonstramos com esse estudo”, ensina Fabiane.
Pesquisa sobre qualidade do ar em bairros da Capital
Outra aluna de Suzana, a bióloga Márcia Kaffer, fez sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia, da UFRGS, tendo como orientadora a Vera Vargas, do Setor de Biologia da Fepam (atualmente desativado).
Seu trabalho, defendido em 2011, comparou a biodiversidade de líquens em 32 bairros da área urbana de Porto Alegre e um ponto no Parque de Itapuã, em Viamão. “Usei duas metodologias. No passivo, foram avaliados a comunidade de líquens nestes bairros, mapeando diferentes árvores. Como resultado tivemos um expressivo número de espécies, com registro de novas espécies para ciência, novas ocorrências para o Brasil e RS. Também aprimorei um índice de qualidade do ar (empregado no Hemisfério Norte) para tornar ele mais sensível e adequado para o Hemisfério Sul. No ativo, fiz a exposição de duas espécies de líquens em três bairros da capital (Santa Cecília, Anchieta e Jardim Botânico). Analisei a presença de alguns metais pesados, enxofre e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no talo das espécies de líquens, além da realização de análises morfofisiológicas”, explica Márcia.
Mesa com as espécies liquênicas estudadas por Márcia numa das estações/Divulgação
Mesa com as espécies liquênicas estudadas por Márcia numa das estações/Divulgação

As análises de mutagênese foram realizadas por um teste (Salmonella/microssoma) utilizando partículas do ar retirados dos filtros de ar das redes de monitoramento da Fepam. Esta análise foi realizada pela equipe da minha orientadora nas dependências do Setor de Biologia da FEPAM.
Testes com líquens para Braskem duraram 16 anos
A Laboratório de Liquenologia do MCN capitaneado por Suzana prestou serviços para a Braskem durante 16 anos, de 1999 a 2015. “Na antiga Copesul avaliávamos tanto gases como metais pesados. Mas esses dados não podem ser divulgados sem autorização da Braskem”, diz Suzana.
Bióloga mostra onde estão guardadas as amostras /Cleber Dioni
Bióloga mostra onde estão guardadas as amostras /Cleber Dioni

Também houve parcerias com a GKM do Brasil, onde foram analisados metais pesados durante dois anos; para uma termelétrica a carvão, de Canoas, onde foi monitorado enxofre; assim como na Refinaria Alberto Pasqualini – Refap, onde o gás poluente analisado era o enxofre também.
“Quando uma empresa nos contrata para realizar um monitoramento da qualidade do ar em seu entorno, primeiro vamos conhecer o ramo da indústria para saber o que está sendo lançado na atmosfera. Se for do ramo coureiro-calçadista, provavelmente são metais pesados, então é isso que vou buscar nas amostras”, ressalta a bióloga.
Cladonia didyma
Cladonia didyma

Herpothallon roseocinctum
Herpothallon roseocinctum

A fim de padronizar as espécies para saber como irão reagir perante determinados poluentes, são utilizadas câmeras de fumigação, existentes na Ufrgs. “Então fumigamos um determinado gás em diferentes concentrações, por certo tempo de exposição, para ver como reagem esses organismos a diferentes gases. Depois, observamos isso na natureza, próximo de alguma indústria, para ver se ela é potencialmente poluidora ou não. Também já utilizamos outros vegetais, como goiaba, alfafa, feijão, bromélia”, destaca a pesquisadora.
Apesar dos resultados confiáveis, até agora os liquenólogos da FZB só fizeram parcerias com a iniciativa privada. A Fepam, por exemplo, nunca utilizou líquens no monitoramento da qualidade do ar. Uma vez chegou às minhas mãos um laudo sobre essa termelétrica em Canoas e a bióloga que fez um levantamento citava a ocorrência de uma espécie de líquen que nem ocorria no Brasil. Depois de um tempo, a indústria nos chamou para fazer uma análise e identificamos 72 espécies. Quase ninguém conhece a fundo esse organismo.
Por isso, a importância de multiplicar esse conhecimento. Existe um tipo de reprodução dos líquens que chama sorédios, então eu brinco que eu já lancei meus sorédios por aí”, brinca Suzana.
Herpothallon rubrocinctum
Herpothallon rubrocinctum

Preocupa destino do patrimônio genético
Além de pesquisadora e editora-assistente da Revista Iheringia Série Botânica, é curadora de três coleções no MCN – de Fungos, Líquens e Briófitas, conservadas no Herbário Alarich Schultz. O HAS possui registros da flora gaúcha e muitas coletas de outros estados. As coleções têm 12 mil amostras de líquens, 500 de fungos e umas 100 amostras de briófitas, que começou há pouco. O herbário como um todo tem mais de 120 mil amostras, contando com as algas e as plantas vasculares.
Curadora mostra as coleções preservadas no HAS
Curadora mostra as coleções preservadas no HAS

“Está tudo armazenado aqui e a gente quer saber para onde serão enviadas as coleções. E tem os typus, que são os primeiros testemunhos de uma nova espécie. E tudo isso é patrimônio genético. Porque em 2002, a nossa Fundação foi reconhecida como fiel depositária de um banco genético. Então, muitas amostras são enviadas para nós. Eu recebo muito fungo do pessoal da UCS, de Caxias do Sul”, completa.

Jardim Botânico pode integrar o Patrimônio Cultural e Histórico de Porto Alegre

Cleber Dioni Tentardini
O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) apresentou projeto que propõe o tombamento do imóvel onde está a sede do Jardim Botânico de Porto Alegre. Se aprovado o projeto, o imóvel passará a integrar o Patrimônio Cultural e Histórico do Município de Porto Alegre, ficando vedadas alterações que o modifiquem ou descaracterizem.
O Jardim Botânico é considerado um dos cinco maiores do Brasil, possuindo um acervo significativo da flora regional. Em 2003, tornou-se também patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. “Com a missão de realizar a conservação integrada da flora nativa e dos ecossistemas regionais, tornando-se um centro de referência para a pesquisa, a educação, a cultura e o lazer, contribuindo para a qualidade de vida, o Jardim Botânico possui 8 mil exemplares de 650 espécies da flora nativa do Estado”, afirma o vereador.
Além do manejo, da manutenção e da ampliação das coleções vivas de plantas, o Jardim Botânico realiza pesquisas com plantas ameaçadas de extinção e diversas atividades educativas e culturais. “E um pulmão verde da Capital, um dos locais mais aprazíveis da cidade, notabilizando-se pela guarda de significativas coleções científicas”, completa Sgarbossa.

Nova associação em defesa do Cais Mauá será lançada hoje

Será lançada nesta quarta- feira, 05, a Associação dos Amigos do Cais Mauá, nova entidade que se alinha ao movimento comunitário que questiona o projeto proposto para a área portuária de Porto Alegre.
” A reação da sociedade civil organizada diante das impropriedades da atual proposta para o Cais Mauá e visando a realização de um projeto com alta qualidade para a revitalização desta área preciosa da cidade, tem agora uma instituição que a represente e realize as discussões e sua agenda pública: a AMACAIS – Associação Amigos do Cais Mauá de Porto Alegre”, diz a nota de lançamento.
O evento será no Studio Clio, às 15  horas, reunindo sua diretoria e conselho, além de autoridades e personalidades representativas da sociedade civil.
Na ocasião, serão conhecidos encaminhamentos e primeiros expedientes do novo estágio de atuação do movimento cidadão, agora investido de personalidade jurídica, em defesa da revitalização com qualidade do Cais Mauá, mediante amplo debate público, transparência e legalidade, em harmonia com os princípios do urbanismo contemporâneo e as demandas reais da cidade.
SERVIÇO
O que: Lançamento da Associação de Amigos do Cais Mauá de Porto Alegre – AMACAIS
Quando: 05 de abril – Quarta-feira – 15 horas
Onde: StudioClio – Rua José do Patrocínio, 698 – Cidade Baixa
Informações: (51) 99678.1437 – João Volino e (51) 99986.9588 – Kátia Suman
 

Fundação Zoobotânica vai emitir laudos ao DAER por um ano

Cleber Dioni Tentardini
A extinção de oito fundações públicas, já aprovada pelos deputados e sancionada pelo governador José Sartori, não está impedindo  que o poder público recorra aos serviços dessas entidades para atender suas demandas.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), por exemplo, exige pareceres fornecidos por técnicos da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB) para liberar as obras de pavimentação nas rodovias estaduais.
Neste mês de março, o diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), Rogério Uberti, firmou um Termo de Cooperação com o presidente da FZB, Luiz Fernando Branco, para agilizar as licenças ambientais de obras na malha rodoviária do Estado.
Os dois paleontólogos do Museu de Ciências Naturais (MCN), da Zoobotânica, já sabem que terão que se desdobrar a partir da próxima semana para dar conta de tanto trabalho.
Na primeira etapa serão monitorados 17,3 km da RS-516, rodovia que liga Santa Maria a São Martinho da Serra, região conhecida mundialmente pelas descobertas paleontológicas. A análise é feita tanto nas estradas como no seu entorno, nas encostas.
Além da preparação e catalogação de materiais, administração do setor e orientação de alunos bolsistas, os pesquisadores terão que produzir laudos sobre a possível existência de fósseis na área.
Na eventual localização de sítios paleontológicos, deverá ser feita remoção, catalogação e armazenamento dos materiais. Esses relatórios serão anexados ao Estudo de Impacto Ambiental.

Peça6_fotocleberdioni
Mandíbula de Mastodonte coletada em Rosário do Sul/ Fotos Cleber Dioni

A parceria envolve também técnicos de outras áreas da FZB para a emissão de laudos sobre a flora e a fauna. “A Fundação Zoobotânica faz pareceres e laudos paleontológicos para minimizar o impacto ambiental das obras rodoviárias”, explicou Luiz Fernando Branco.
Para o diretor-geral do DAER, Rogério Uberti, a parceria vai ao encontro de uma nova postura do departamento. “A parceria com a Fundação Zoobotânica vai nos ajudar a tornar nossas ações mais dinâmicas e eficientes, garantindo a excelência na gestão ambiental de nossas obras.”
De acordo com o biólogo Luiz Carlos Leite, da Coordenação Técnica de Meio Ambiente do DAER, a cooperação entre os órgãos já se mostrou necessária em diversas oportunidades. “Já houve situações em que a Fepam nos solicitou relatórios para prosseguirmos com esses projetos. Agora, temos uma sistemática definida para atender a essa exigência”, completou.
Ao DAER caberá providenciar o deslocamento dos técnicos da FZB.  A parceria tem prazo de um ano podendo ser prorrogado por igual período.
Dinossauro raro encontrado em São Martinho
Uma das mais importantes descobertas da paleontologia brasileira ocorreu em 1998 na localidade de Água-Negra, no município de São Martinho da Serra, mas só foi anunciada seis anos depois pelos pesquisadores da Universidade de Santa Maria (UFSM) e do Museu Nacional. Trata-se do Unaysaurus tolentinoi, uma nova espécie de dinossauro em território brasileiro e uma das mais primitivas que já andaram pela Terra, há cerca de 225 milhões de anos. Tolentino Marafiga foi o agricultor que encontrou o primeiro fragmento do fóssil do animal, um herbívoro de pequeno porte que, estima-se, pesava cerca de 70 quilos, tinha pouco mais de 2 metros de comprimento e cerca de 0,70m de altura.
Uma das mais importantes descobertas da paleontlogia brasleira
Uma das mais importantes descobertas da paleontologia brasileira

O paleontólogo Jorge Ferigolo, do MCN, explica que esse tipo de descoberta contribuiu para esclarecer a evolução dos dinossauros e reforçar as informações sobre clima, vegetação e fauna da região em épocas distintas. Nesse caso, é do período Triássico, quando os atuais continentes ainda formavam um único e contínuo bloco de terra conhecido como Pangea.
“Na Depressão Central do Estado se situam as rochas do Triássico, período em que viveram os dinossauros mais antigos do mundo, entre 215 milhões e 245 milhões de anos, aproximadamente. Esses fósseis são encontrados no Rio Grande do Sul e na Argentina, mas aqui as rochas estão mais expostas”, afirma o pesquisador.
Material removido tem de ser separado da rocha
Material fóssil coletado em São João do Polêsine,  em preparação para ser estudado

Paleontologia do MCN é referência mundial
A Seção de Paleontologia do MCN é uma referência em pesquisas de vertebrados fósseis, espécies que estão na ancestralidade dos mamíferos, o que atrai pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros países. Jorge Ferigolo coordena o setor. Foi pra lá em 1982, a convite de Carlos de Paula Couto, autor de trabalhos de relevância mundial, e quem fundou a Seção enquanto ocupava a presidência da FZB em 1974. Paula Couto foi orientador no mestrado e doutorado de Ferigolo.
Prof. Paula Couto fundou a Seção Paleontologia do MCN
Prof. Paula Couto fundou a Seção Paleontologia do MCN

Nos mais de 40 anos de funcionamento da seção, já foram produzidos diversos trabalhos científicos sobre vertebrados de diferentes períodos, do Permiano, Triássico, Cretáceo, Paleoceno, Oligoceno, Mioceno e Quaternário. “Atualmente, o maior foco de pesquisa são os mamíferos sul americanos, bem como suas formas predecessoras, os cinodontes que habitaram a região em que se encontra o Estado há mais de 200 milhões de anos”, explica.
A outra sala é ocupada pela paleontóloga Ana Maria Ribeiro, a atual curadora da coleção científica da seção. Ela foi orientanda de Ferigolo na pós-graduação de Geociências da Ufrgs e, hoje, é ela quem orienta os onze alunos bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado.
Ana Maria Ribeiro/Cleber Dioni Tentardini
Ana diz que Santa Maria está praticamente em cima de sítios fossilíferos/Cleber Dioni

“Somos apenas dois e, às vezes, recebemos vários pedidos para elaboração de laudos de empresas privadas. Normalmente, nós sabemos onde há possibilidade de existirem fósseis, mas de qualquer maneira temos que ir lá verificar. Por isso, precisaríamos de mais uma ou duas pessoas para nos auxiliar aqui”, diz.
Segundo a pesquisadora, dependendo do acesso ao local e do tamanho da área, pode levar um dia ou uma semana o trabalho em campo, e se for achado fóssil, leva mais tempo porque tem que ser removido o material e estudadas medidas mitigatórias. “Nas encostas há muitos afloramentos de dois e três metros, e vem o barranco, principalmente em Candelária. A região de Santa Maria está praticamente em cima de sítios fossilíferos”, completa Ana Maria.
Coleções têm mais de 10 mil peças
A coleção paleontológica foi iniciada em 1971 pelo professor Carlos de Paula Couto e hoje conta com mais de 10 mil peças, cerca de 8 mil (paleovertebrados), 1.738 (paleoinvertebrados) e 368 (paleobotânica) espécimes catalogados, pertencentes na sua maioria aos períodos Permiano, Triássico, Paleoceno, Mioceno e Pleistoceno.
Peça2_fotocleberdioni
Restos esqueletais do arcossauro carnívoro Decuriasuchus

A curadoria da coleção foi exercida por Paula Couto até 1982 e, hoje, é de responsabilidade da professora Ana Maria.
Em 1982, a coleção recebeu por doação de Ferigolo uma coleção de répteis e invertebrados do Permiano (idade aproximada de 280-270 milhões de anos), todos procedentes do RS, e uma coleção de peixes do Cretáceo (cerca de 130 milhões de anos), procedente do nordeste do Brasil. Em 1983, iniciaram-se as coletas de mamíferos do Pleistoceno (entre 120 e 11 mil anos) do RS, estes representados principalmente por mamíferos (e.g. gliptodontes, toxodontes, mastodontes e preguiças-gigantes).
Peça8_fotocleberdioni
Crânio de rincossauro coletado em Santa Maria, estudado pelo prof Tupi Caldas em 1932

A partir de 1996, com pesquisas também sobre o Triássico (250-202 milhões de anos) do RS, o acervo foi enriquecido com material de importância mundial: dinossauros primitivos, cinodontes (ancestrais dos mamíferos) e esfenodontídeos, ancestrais do atual Tuatara da Nova Zelândia, o réptil atual mais primitivo do Mundo.
Inclui ainda plantas fósseis, como algumas das mais antigas coníferas, além de invertebrados antes desconhecidos, como coleópteros de 220 milhões de anos.
O acervo também recebeu doações de material pleistocênico, como o material referente à tese de doutorado de Francisco SekiguchiBuchmann (UFRGS) e de Luiz Rota, de Santa Vitória do Palmar, que inclui vários milhares de espécimes, entre eles mais de quatro mil dentes fósseis de tubarão.
Bolsista estuda roedores de 20 mil anos
A bióloga Simone Neves, de Pelotas, concluiu seu mestrado e agora desenvolve sua tese de doutorado na Geociências da Ufrgs, com apoio da Seção de Paleontologia do Museu. É bolsista do CNPq e desenvolve pesquisas sobre os sigmodontinos, pequenos roedores que viveram há 20 mil anos, período conhecido como Quaternário.
A bióloga Simone Neves/Cleber Dioni
A bióloga Simone Neves/Cleber Dioni

Mandíbulas de camundongos
Mandíbulas de camundongos

 
“É um período recente para os pesquisadores. Meu objetivo é entender a mudança na distribuição biogeográfica desses ratos e camundongos, que ocorreram predominantemente na América do Sul”, ressalta.
 
Entidade repudia extinção da FZB
A Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP) encaminhou ao governador José Ivo Sartori uma manifestação de repúdio em relação ao fechamento da Fundação Zoobotânica do RS.
O texto assinado pelo presidente da entidade, Max Cardoso Langer, observa que “a Fundação Zoobotânica constitui patrimônio da sociedade gaúcha, e que qualquer tipo de intervenção que resulte no desmantelamento ou na extinção dessa importante instituição pública é motivo de indignação”.
A professora Annie Schmaltz Hsiou, do Departamento de Biologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP), da Universidade de São Paulo (USP), fez estágio na FZB, depois ganhou uma bolsa de iniciação científica na Seção de Paleontologia do MCN onde cursou até o pós-doutorado, sempre sob a orientação do professor Jorge Ferigolo.
“Além de ser um polo formador de pesquisadores possui coleções de grande valor científico sobre a fauna e flora do RS. Não consigo imaginar a FZBRS fechando suas portas. Não imagino ver colegas e amigos serem demovidos de seus cargos. Não consigo imaginar uma Porto Alegre e um estado inteiro sem este patrimônio da história natural do RS”, afirma Annie.
Estados também são responsáveis por fósseis
A Constituição de 1988 define que os fósseis são bens da União e que há a responsabilidade dos estados e dos municípios na defesa de patrimônio natural. Os “sítios de valor paleontológico” também são considerados como patrimônio cultural brasileiro.
Peça3_fotocleberdioni
Pata de arcossauro carnívoro Decuriasuchus, coletado em Dona Francisca

O Artigo 23 fala da competência de proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens notáveis e os sítios arqueológicos; e impedir a evasão, a destruição e descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural.
Recentemente, a promotora do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ana Marchesan, realizou uma vistoria nas coleções do Museu de Ciências Naturais, tendo em vista a possível extinção da FZB e de seus equipamentos vinculados.
Promotora Ana Marchesan conhece coleções do Museu de Ciências Naturais/MPRS
Promotora Ana Marchesan conhece as coleções/MPRS

Acompanhada da assessora historiadora do MP, Cintia Vieira Souto, e de representantes do Conselho Federal e Estadual de Museologia, a promotora constatou o “incrível trabalho de memória científica desenvolvido há anos pelos pesquisadores das mais diversas áreas e a importância que ostentam para programas de conservação da biodiversidade e do meio ambiente como um todo, sem falar na relevância como fonte para trabalhos científicos”.
Foram vistoriadas as coleções de insetos, plantas vasculares e líquens, algas (ficologia), poríferos, entomologia (insetos), malacologia (moluscos), ictiologia (peixes), erpetologia (répteis e anfíbios), ornitologia (pássaros), mamíferos (mastozoologia), paleontologia e o serpentário.
Peça4_fotocleberdioni
Restos fósseis de madeira e ossos de mesossauro coletado em São Gabriel

Conforme Ana Marchesan, o trabalho foi realizado tendo em vista a ação civil pública ajuizada em fevereiro de 2017 contra o Estado do Rio Grande do Sul com o objetivo de preservar o patrimônio cultural e natural do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico.
“Os trabalhos do Museu são relevantes ainda para questões ligadas à saúde da população, pois os venenos extraídos das serpentes vivas que lá estão são usados para fabricação de soro antiofídico e outros medicamentos”, ressaltou a Promotora, lembrando que há também um patrimônio genético catalogado no Museu.
Afora as coleções históricas (recebidas prontas pelo Museu), todas as demais são coleções vivas, ou seja, continuam recebendo diuturnamente materiais novos para estudos e catalogação, necessitando de curadoria permanente.
Peça5_fotocleberdioni
Impressão do esqueleto do mesossauro coletado em São Gabriel

Ana Marchesan avalia que a perda parcial ou total desse acervo representará danos incomensuráveis à memória científica não só nacional como até internacional. “O Museu recebe consultas e estabelece intercâmbios com diversas instituições estrangeiras como o Museu Britânico e o Museu de História Natural de Berlim”, destacou.
Peça7_fotocleberdioni
Pata do dinossauro Guaibasaurus. coletado em Candelária

Peça9_fotocleberdioni
Impressão das pegadas de réptil do Triássico, coletado em São João Polêsine, Quarta Colônia

"Governadores plantavam mudas aqui", diz primeiro jardineiro do Botânico

Cleber Dioni Tentardini
De Ildo Meneghetti a Simon, todos os governadores gaúchos que Julião de Mello Prado conheceu pessoalmente estiveram no Jardim Botânico de Porto Alegre para plantar mudas de árvores nativas. “Eles faziam questão de vir aqui, uns mais que os outros como o Brizola, o Triches, lembro também do Guazelli, do Jair Soares, o Collares”, eu me dava muito bem com eles porque comecei os jardins aqui e no Palácio Piratini”, diz.
Seu Julião é um dos primeiros funcionários do Jardim Botânico. Começou em 1957, há 60 anos, portanto, ao lado do padre Teodoro Luiz, o fundador, quem o convidou para trabalhar como jardineiro. O local ainda não havia sido aberto ao público.

Seu Julião, primeiro agachado (da esq p dir) e colegas (em pé) Anarolino, João, Antônio, Euclides e Mário, Elói e Dário
Seu Julião, primeiro agachado (da esq p dir) e colegas (em pé) Anarolino, João, Antônio, Euclides e Mário, Elói e Dário /Arquivo Pessoal

Seu Julião cuidando dos jardins /Arquivo JB/FZB
Seu Julião cuidando dos jardins nos anos 70/Arquivo JB/FZB

Acompanhou a criação da Fundação Zoobotânica, e quando achou que seria devolvido à Secretaria de Obras Públicas, onde estava registrado, o primeiro diretor da FZB, o professor gaúcho Albano Backes, o convidou para continuar no JB e com um salário maior.
Neste domingo, 19 de março, foi um dia especial para esse jovem alegretense de 93 anos e memória irretocável. Foi dia de visitar seu antigo local de trabalho e moradia, contar causos, rir, se emocionar, rever árvores que ele plantou há pelo menos 50 anos e visitar a famosa placa que registrou o plantio de mudas 1959 pelo governador Brizola, e que ele não deixou ser quebrada pelos desafetos do líder trabalhista.
A cada dez passos, parava e indagava ao filho Julio: “Essa aqui é aquela figueira que eu plantei?” Sim, pai, há 50 anos. E o angico? E aquelas com frutas? Algumas caíram com o temporal no verão passado. O filho Julio conhece cada palmo do local. Foi morar com o pai lá quando tinha um ano, e trabalha há 40 no JB. É um dos três funcionários mais antigos em atividade por lá.
Orgulhoso defronte à figueira que plantou há 50 anos/Cleber Dioni Tentardini
Orgulhoso defronte à figueira que plantou há 50 anos/Cleber Dioni Tentardini

Um ou dois anos depois da abertura do JB, foram construídas seis casas para servir de moradia aos funcionários. Irmão Teodoro entendeu que assim a área ficaria mais segura, porque era quase tudo campo aberto, sem cercas, e transitavam livremente por lá criadores de animais e os pacientes da colônia agrícola do São Pedro.
Uma das filhas de seu Julião, Elisabete, no JB, então pátio de sua casa
Uma das filhas de seu Julião, Elisabete Pinto, no JB, então pátio de sua casa

“Eu e mais outros dois que plantamos todas essas árvores mais antigas aqui. O Irmão Teodoro era muito rigoroso com tudo, nada passava sem ele perceber, nem os milhos que eu plantei na frente da minha casa, escondido dele, quer dizer, achava que ele não sabia, mas eu estava enganado”, diz.
Preparação para o plantio /Arquivo JB/FZB
Preparação para o plantio /Arquivo JB/FZB

preparação plantio 5
Preparação para plantio/Arquivo JB/FZB

Construção do orquidário /Arquivo JB/FZB
Construção do orquidário /Arquivo JB/FZB

Cactário/Arquivo JB/FZB
Cactário/Arquivo JB/FZB

antiga
Entrada do JB, ao fundo Colônia Agrícola do HSP/Arquivo JB/FZB

Transporte de coleções/Arquivo JB/FZB
Transporte de coleções/Arquivo JB/FZB

Preparação para plantio/Arquivo JB/FZB
Preparação para plantio/Arquivo JB/FZB

Governador Antônio Britto observa seu secretário da Agricultura, César Schirmer plantando muda, em 10 de setembro de 1997
Governador Antônio Britto observa o secretário César Schirmer plantando muda, em 10/09/1997

20170323_092819
Governador Britto conversando com alunos uruguaios no Jardim Botânico/Arquivo JB/FZB

Jardim Botânico de Porto Alegre abriga 97 espécies ameaçadas

Cleber Dioni Tentardini
Há 97 espécies ameaçadas de extinção nas coleções de plantas reunidas no Jardim Botânico de Porto Alegre.
São bromélias, cactos, orquídeas, espinilhos, araucárias e outras, que não possuem nome popular como Amaryllidaceae (da família do amarílis), Iridaceae (família da bibi), Myrtaceae ( família da goiabeira, araçá e pitanga), Fabaceae (família do pau-brasil, feijão e erytrina-do-banhado) e Pteridófitas (várias famílias de diversos tipos de samambaias).
Dentre as espécies raras, estão preservadas lá o butiá da serra e o pinheiro bravo. Entre as herbáceas há o raríssimo bolão-de-ouro, encontrado somente entre os municípios de Porto Alegre e Pelotas, e a efedra, endêmica no Estado do Rio Grande do Sul, da região da Lagoa dos Patos.
Segundo a bióloga Andréia Carneiro, curadora das coleções do Jardim Botânico de Porto Alegre, a preocupação maior é com a conservação da biodiversidade do Rio Grande do Sul, especialmente espécies endêmicas (que só se encontram no Estado).
“Nós temos essa responsabilidade, de cuidar, pesquisar e disponibilizar para que outros possam estudar. Há um aluno de doutorado da Faculdade de Farmácia da UFRGS, por exemplo, que vem aqui estudar uma espécie rara de cocão, endêmica do RS, do mesmo gênero da planta de onde se extrai a coca. Assim como ele, recebemos vários pesquisadores e estudantes que não precisam procurar as espécies a campo, estão aqui, todas identificadas”, explica Andréia.

Cocão, espécie criticamente ameaçada
Espécie rara de cocão, endêmica do RS/Cleber Dioni
Ripsalis paradoxa, criticamente ameaçada/Cleber Dioni
Ripsalis paradoxa, espécie de cacto, criticamente ameaçada/Cleber Dioni

A bióloga ressalta que o Brasil tem metas a cumprir, por ser signatário de acordos internacionais, especialmente através da Convenção da Diversidade Biológica (CDB)*, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a ECO 92.
Em 2002 houve a adoção da Estratégia Global para a Conservação de Plantas GSPC – Global Strategy for PlantConservation) na 6ª. reunião da conferência das partes da convenção sobre diversidade biológica em Haia. Foram estabelecidas 16 metas.

Andréia está preocupada com o futuro das coleções/Fernando Vargas
Andréia está preocupada com o futuro das coleções/Fernando Vargas

Uma das metas é que os países disponibilizem 60% das espécies ameaçadas de plantas em coleções ex-situ (fora do seu habitat natural), de preferência no país de origem, e inclusão de 10% delas em programas de recuperação e reintrodução. “E quem faz conservação ex-situ é jardim botânico”, diz a curadora.

20170310_160816
Coleção de bromélias do sul do Brasil/Cleber Dioni

O Brasil possui 31 jardins botânicos: um distrital, dois privados, seis estaduais, oito federais e 13 municipais. Estão nos estados do Rio Grande do Sul (5), Paraná (1), São Paulo (7), Rio de Janeiro (4), Espírito Santo (1), Minas Gerais (3), Goiás (1), Brasília (1), Bahia (1), Pernambuco (1), Paraíba (1), Rio Grande do Norte (1), Ceará (1), Pará (2) e Amazonas (1).
No RS, existem dois JBs municipais, de Caxias do Sul e Lajeado, um privado, da Unisinos, um ligado à Universidade Federal de Santa Maria, e o da FZB, o maior, classificado na categoria A porque atende a todos os critérios do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
A ironia é que é que poucos dias depois de o Jardim Botânico ser elevado à categoria A, em 2015, o governo de José Ivo Sartori apresentou à Assembleia Legislativa o primeiro projeto de Lei (300) que autorizava sua extinção no modelo que é hoje, junto com o Museu de Ciências Naturais e o Zoológico, as três instituições da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
Esse projeto não vingou, mas um ano depois, outro projeto com mesmo objetivo foi apresentado e aprovado pelos deputados gaúchos, no final do ano, em meio a um clima de guerra nos arredores de um Parlamento sitiado. Entrou num pacote junto com outras fundações e instituições.
Com a demissão dos servidores, o Jardim Botânico de Porto Alegre pode se tornar um mero parque, perdendo completamente sua função original, e contrariando o que diz o artigo 255 da Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O inciso II afirma que o poder público deve preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

Pesquisadores de plantas medicinais no Horto do Jardim Botânico / Foto Divulgação FZB
Pesquisadores de plantas medicinais no Horto do Jardim Botânico / Foto Divulgação FZB

*Artigos da Convenção sobre Diversidade Biológica relevantes para os jardins botânicos – Contribuições destas instituições para a sua implementação
Artigo 6: Medidas Gerais para Conservação e Uso Sustentável
Participação na elaboração de estratégias nacionais de biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Artigo 7: Identificação e Monitoramento
Ampla produção científica no campo da sistemática vegetal, inventários florísticos e fitossociológicos, levantamento de populações para estudos genéticos e de ecologia, etc.
Artigo 8: Conservação In situ
Contribuições ao desenvolvimento e manejo e gestão de áreas protegidas, restauração ou recuperação de habitats e desenvolvimentos de pesquisas para recuperação e ou manejo de populações de espécies nativas.

20170310_160338
Coleta de novas espécies a serem adicionadas às coleções/Cleber Dioni

Artigo 9: Conservação Ex situ
Desenvolvimento e manutenção de coleções de germoplasma, incluindo banco de DNA ou sementes, banco de genes em cultivos a campo, coleções de tecidos sob cultura in vitro, programas de recuperação de espécies ao seu habitat natural, desenvolvimento e banco de dados.
Artigo 10: Uso Sustentável dos Componentes da Diversidade Biológica
Identificação e desenvolvimento de espécies de valor econômico e bioprospecção de parentes silvestres de plantas cultivadas na horticultura comercial, nos setores florestal e agrícola.

Espécies de cactos preservadas/Cleber Dioni
Coleção de cactos do Rio Grande do Sul /Cleber Dioni

Artigo 12: Pesquisa e treinamento
Pesquisas em muitas áreas relevantes, tais como taxonomia, ecologia, bioquímica, etnobotânica, educação, horticultura, anatomia vegetal e biogeografia. Muitos jardins botânicos oferecem oportunidades de treinamento e cursos em conservação e disciplinas afins, disponibilizados para estagiários no Brasil e no exterior.
Artigo 13: Educação Pública e Conscientização
A educação do público e o desenvolvimento de uma consciência ambiental incluindo programas para promover o entendimento acerca da biodiversidade, sua importância, e consequências de sua perda, são tarefas prioritárias de diversos jardins botânicos. Muitas dessas instituições desempenham papéis importantes no ensino escolar e universitário.
Artigo 15: Acesso aos Recursos Genéticos e repartição de Benefícios
Os mais de quatro milhões de acessos mantidos nos jardins botânicos, em nível global, representam um vasto recurso para a conservação da biodiversidade armazenada, a ser potencialmente manejada no futuro. Muitos já usufruem de benefícios, com a cobrança de ingresso, apoio à pesquisa e compartilhamento de equipamentos, informações, treinamento e espécimes. Desta, e de muitas outras formas, ajudam a fortalecer as instituições parceiras na conservação da biodiversidade.
Artigo 17: Intercâmbio de Informações
Disseminação de informações acerca das coleções e dos resultados de pesquisas, através de literatura publicada e não-publicada e de bases de dados acessíveis. Muitas instituições podem compartilhar dados sobre coleções através do Formato Internacional de Transferência para Registros de Plantas dos Jardins Botânicos (ITF).
Artigo 18: Cooperação Técnica e Científica
Cooperação técnica e científica, eu frequentemente envolve pesquisas em parceria e intercâmbio de pesquisadores e técnicos.

Todas as espécies estão identificadas no JB de Porto Alegre/Cleber Dioni
Todas as espécies estão identificadas no JB de Porto Alegre/Cleber Dioni

Plano de ação para os jardins botânicos brasileiros
Lançado em 2004, o Plano é um documento desenvolvido pelo Projeto Internacional Investindo na Natureza, financiado pelo banco HSBC com o Botanic Gardens Conservation International – BGCI, Earthwatch e a WWF.
Metas do Plano de ação
– Documentar a coleção nacional de plantas vivas e preservadas dos jardins botânicos;
– Manter coleções de referência taxonômicas e coleções-testemunhos de acessos e táxons provenientes de programas de conservação;
-Listar espécies e populações prioritárias pra programas de conservação;
-Contribuir para o conhecimento do estado de conservação dos ecossistemas brasileiros;
-Compartilhar informações sobre a flora e sua conservação;
-Garantir a proteção das espécies nativas e seus habitats originais;
-Garantir a inclusão de, no mínimo, 50% das plantas nativas criticamente ameaçadas em suas coleções vivas;
-Estabelecer programas integrados por bioma para resgate, manutenção e produção de uso atual e potencial;
-Apoiar a produção sustentável de produtos provenientes de plantas de origem nativa e sua conseqüente inserção no mercado, particularmente com o objetivo de reduzir a fome e pobreza;
-Estabelecer metodologias alternativas para minimizar a pressão danosa sobe o meio ambiente;
-Elaborar e compartilhar base de dados com cadastro de plantas matrizes de espécies de uso atual ou potencial da coleção viva;
-Implementar ações para controlar a introdução de plantas invasoras, pragas e doenças;
-Estruturar e institucionalizar equipes de educação ambiental;
-Educar o público em geral e os profissionais do setor para a conservação da biodiversidade; utilizar técnicas e práticas desenvolvidas no local, resguardando a cultura regional;

Além da pesquisa e conservação, JBs são espaços de conscientização ambiental e lazer/Cleber Dioni
Além da pesquisa e conservação, JBs são espaços de conscientização e lazer/Cleber Dioni

-Garantir que a importância vital dos jardins botânicos para a conservação seja reconhecida pelo público em geral, inclusive o governo, empresas e instituições privadas e comunidades locais;
-Buscar autonomia administrativa e financeira, necessária ao cumprimento de sua missão institucional, em consonância com as normas internacionais;
-Formar equipes de trabalho treinadas e capacitadas
-Subsidiar a elaboração de políticas públicas;
-Estabelecer normas e políticas institucionais;
-Compartilhar o trabalho em rede visando o fortalecimento individual e coletivo dos jardins botânicos brasileiros.
Resta a metade da área original
O Jardim Botânico de Porto Alegre já perdeu mais da metade da sua área original. Eram 81,5 hectares em 1958, quando o JB foi aberto, hoje não passam de 36 hectares. E, com a extinção da Fundação Zoobotânica decidida pelo governo do Estado, o futuro da área é incerto.
A área original incluía uma colônia agrícola e a antiga chácara do Visconde de Pelotas, “compreendendo a elevação de um morrinho granítico a 50 metros sobre o nível do mar, vales de alguns arroios à sua periferia, marginados por várzeas de regular extensão”, na descrição do jesuíta Teodoro Luís, conservacionista espanhol que coordenou a implantação do Jardim Botânico.

Ir. Teodoro no Horto de Pelotas/Divulgação

“O terreno sobre o qual se assenta, diz Teodoro, é parte do complexo cristalino do Escudo Rio-grandense, uma das mais antigas formações da terra, revestida por um manto vegetativo sui-generis, que contém algumas espécies encontradas unicamente aqui.”

Irmão Teodoro Luis , batizado Ramon de PEÑAFORT MALAGARRIGA y HERAS

A implantação de um Jardim Botânico na capital gaúcha foi decidida pelo governador Ildo Meneghetti  e efetivada pelo secretário de Obras, Euclides Triches, que depois foi governador do Estado.
Na comissão figuravam cientistas, médicos, engenheiros, arquitetos e urbanistas, como Edvaldo Pereira Paiva, Alarich Schultz, padre Balduino Rambo, Curt Mentz, F. C. Goelzer, Ruy B. Krug, Guido F. Correa, Nelly Peixoto Martins, Paulo Annes Gonçalves, Deoclécio Bastos, além do senador Mem de Sá e do jornalista Say Marques, um dos idealizadores da Feira do Livro de Porto Alegre.

Foi no período do governo militar que o Jardim Botânico teve suas maiores perdas. Os governadores nomeados doaram partes do terreno do JB a várias instituições: o Clube Farrapos, da Brigada Militar ; o Hospital São Lucas, da PUC; o Círculo Militar, do Exército; a vila Juliano Moreira, a Escola de Educação Física da Ufrgs; e os laboratórios da Fepam, hoje abandonados.

Do alto do Botânico, era possível ver o hospital da PUC

 

Na imagem de satélite, a área original do JB

A ideia de organizar um Jardim Botânico em Porto Alegre era muito antiga.
A primeira iniciativa foi de Dom João VI, o rei português que veio para o Brasil em 1808. Uma de suas primeiras iniciativas foi criar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um dos mais antigos do País.
D.João doou mudas de eucalipto para um futuro JB de Porto Alegre, mas nunca chegaram na capital

D.João doou mudas de eucalipto para um futuro JB de Porto Alegre, mas nunca chegaram na capital

D. João chegou a mandar as primeiras mudas para Porto Alegre. Mas as mudas ficaram retidas em Rio Grande, onde algumas foram plantadas das quais existe um único remanescente, que é o eucalipto histórico da cidade.
Outras tentativas foram feitas, sem sucesso. O agrônomo Paulo Schoenwald chegou a doar terras ao Estado para a criação de um Jardim Botânico.
Na década de 30, o professor e agrônomo Gastão de Almeida Santos chegou a iniciar um Jardim Botânico no bairro da Azenha, mas se tornou inviável devido à pressão da expansão imobiliária.
Só em 1953 ( Lei Nº 2.136), uma área de 81,5 hectares, originalmente ocupada pela Colônia Agrícola Juliano Moreira do Hospital Psiquiátrico São Pedro, foi destinada para a criação do Jardim Botânico de Porto Alegre.

Entrada do JB e, ao fundo, sede da Colônia Agrícola

A comissão apresentou o anteprojeto inicial do Jardim Botânico em 26 de outubro de 1956. Seis meses depois a área foi liberada e, em 10 de setembro de 1958, aberta ao público. Em 1959, a Lei n° 2.022 formalizou a denominação de Jardim Botânico.

Em 1960, foi iniciada a construção da Casa das Suculentas, também conhecida como Cactário, tendo sido inaugurado em 1° de maio de 1962, pelo governador Leonel Brizola.

Cactário/Arquivo JB/FZB

Há uma outra placa que ficou escondida por 40 anos e marca um plantio de mudas no JB, no Dia da Árvore, em 1959, pelo governador Leonel Brizola, acompanhado de seus secretários, Alberto Hoffmann, da Agricultura, e Mário Maestri, de Obras Públicas. E só foi redescoberta porque o funcionário autor da proeza, seu Julião Prado, hoje aposentado, esteve em 2016 no Jardim Botânico e contou que alguns militares haviam ordenado que a placa fosse retirada e quebrada por constar o nome do líder trabalhista. Seu Julião optou por preservar a história e apenas virou a pedra com a inscrição voltada para o chão.

Antigo viveiro/Arquivo JB/FZB
Produção de mudas

A partir da década de 1970, diante de crescentes evidências de ameaças à flora regional, o foco do trabalho do Jardim Botânico passou a ser a conservação das plantas nativas do Estado, enfatizando a manutenção de coleções “ex situ” (fora do ambiente de origem) e incrementando as incursões botânicas.
Nessa época, foi construído um prédio para a TV Educativa do Estado, que não vingou. Em 1972, o imóvel passou a abrigar a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, criada nesse ano através da Lei nº 6.497.
Em 1974, a área do JB estava reduzida a 43 hectares. No ano seguinte, passou a contar com um viveiro de produção de mudas e, em 1983, a ter uma sede administrativa e setor de serviços, abrigados no subsolo da FZB, onde permaneceu até o ano de 1997, quando foi construída a sede própria. Com a criação, em 1986, do Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), o Jardim Botânico foi registrado como órgão voltado para o fomento à cultura.

Placa marca início da FZB no governo do coronel Triches

Em 1988, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (Fapergs), foi inaugurado o Núcleo de Educação Irmão Teodoro Luis. A partir de 1997, o Jardim Botânico teve outro salto de crescimento através do projeto Pró-Guaíba. Foram construídas instalações para o Banco de Sementes e casas de vegetação para abrigar coleções de cactáceas, bromeliáceas e orquidáceas.
Em 2003, o JB foi declarado Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul, pela Lei nº 11.917. Em 2004, foi publicado o Plano Diretor do Jardim Botânico de Porto Alegre.
Atualmente, é considerado como um dos cinco maiores jardins botânicos brasileiros, com um acervo significativo da flora regional. O local abriga mamíferos, répteis, anfíbios e peixes, mais de 100 espécies de aves, além das cerca de 3 mil espécies de plantas.

Além das pesquisas, o JB é referência em conservação e espaço de lazer dos gaúchos/Cleber Dioni

Placa com nome de Brizola ficou 40 anos enterrada
Uma placa alusiva a um plantio de mudas no Jardim Botânico de Porto Alegre ficou 40 enterrada por razões políticas.
A pedra com a placa marcam o Dia da Árvore, em 1959, quando o então governador Leonel Brizola, acompanhado de seus secretários, Alberto Hoffmann, da Agricultura, e Mário Maestri, de Obras Públicas participaram do plantio simbólico de mudas no Jardim Botânico de Porto Alegre.

Militares mandaram destruir placa porque tinha nome do ex-governador/ Cleber Dioni Tentardini

Anos depois, com o golpe militar e Brizola no exílio, os militares que tomaram o poder ordenaram que fosse retirada e quebrada a placa onde estava gravado o nome do líder trabalhista.
Quem salvou a peça foi um funcionário, Julião Mello do Prado, que em vez de arrancar a placa, apenas virou a pedra, deixando a inscrição voltada para chão.
Depois, quando veio a redemocratização, ele mesmo recuperou a placa, mas só contou a história no ano passado, quando já aposentado, visitou o antigo local de trabalho.
“Governadores plantavam mudas aqui”, diz primeiro jardineiro do Botânico

Seu Julião e a placa do Brizola que ele preservou/Cleber Dioni Tentardini

De Ildo Meneghetti a Simon, todos os governadores gaúchos que Julião de Mello Prado conheceu pessoalmente estiveram no Jardim Botânico de Porto Alegre para plantar mudas de árvores nativas. “Eles faziam questão de vir aqui, uns mais que os outros como o Brizola, o Triches, lembro também do Guazelli, do Jair Soares, o Collares”, eu me dava muito bem com eles porque comecei os jardins aqui e no Palácio Piratini”, diz.
Seu Julião é um dos primeiros funcionários do Jardim Botânico. Começou em 1957, há 60 anos, portanto, ao lado do padre Teodoro Luiz, o fundador, quem o convidou para trabalhar como jardineiro. O local ainda não havia sido aberto ao público.

Seu Julião, primeiro agachado (da esq p dir) e colegas (em pé) Anarolino, João, Antônio, Euclides e Mário, Elói e Dário

Acompanhou a criação da Fundação Zoobotânica, e quando achou que seria devolvido à Secretaria de Obras Públicas, onde estava registrado, o primeiro diretor da FZB, o professor gaúcho Albano Backes, o convidou para continuar no JB e com um salário maior.
Neste domingo, 19 de março, foi um dia especial para esse jovem alegretense de 93 anos e memória irretocável. Foi dia de visitar seu antigo local de trabalho e moradia, contar causos, rir, se emocionar, rever árvores que ele plantou há pelo menos 50 anos e visitar a famosa placa que registrou o plantio de mudas 1959 pelo governador Brizola, e que ele não deixou ser quebrada pelos desafetos do líder trabalhista.
A cada dez passos, parava e indagava ao filho Julio: “Essa aqui é aquela figueira que eu plantei?” Sim, pai, há 50 anos. E o angico? E aquelas com frutas? Algumas caíram com o temporal no verão passado. O filho Julio conhece cada palmo do local. Foi morar com o pai lá quando tinha um ano, e trabalha há 40 no JB. É um dos três funcionários mais antigos em atividade por lá.

Orgulhoso defronte à figueira que plantou há 50 anos/Cleber Dioni Tentardini

Um ou dois anos depois da abertura do JB, foram construídas seis casas para servir de moradia aos funcionários. Irmão Teodoro entendeu que assim a área ficaria mais segura, porque era quase tudo campo aberto, sem cercas, e transitavam livremente por lá criadores de animais e os pacientes da colônia agrícola do São Pedro.

Preparação para o plantio /Arquivo JB/FZB

“Eu e mais outros dois que plantamos todas essas árvores mais antigas aqui. O Irmão Teodoro era muito rigoroso com tudo, nada passava sem ele perceber, nem os milhos que eu plantei na frente da minha casa, escondido dele, quer dizer, achava que ele não sabia, mas eu estava enganado”, diz.

Construção do orquidário /Arquivo JB/FZB

JB pode integrar Patrimônio Cultural e Histórico do município
O vereador Marcelo Sgarbossa (PT) apresentou projeto que propõe o tombamento do imóvel onde está a sede do Jardim Botânico de Porto Alegre. Se aprovado o projeto, o imóvel passará a integrar o Patrimônio Cultural e Histórico do Município de Porto Alegre, ficando vedadas alterações que o modifiquem ou descaracterizem.
O Jardim Botânico é considerado um dos cinco maiores do Brasil, possuindo um acervo significativo da flora regional. Em 2003, tornou-se também patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. “Com a missão de realizar a conservação integrada da flora nativa e dos ecossistemas regionais, tornando-se um centro de referência para a pesquisa, a educação, a cultura e o lazer, contribuindo para a qualidade de vida, o Jardim Botânico possui 8 mil exemplares de 650 espécies da flora nativa do Estado”, afirma o vereador.

Se tombado, JB nao podera ser modificado_foto FZB

Além do manejo, da manutenção e da ampliação das coleções vivas de plantas, o Jardim Botânico realiza pesquisas com plantas ameaçadas de extinção e diversas atividades educativas e culturais. “E um pulmão verde da Capital, um dos locais mais aprazíveis da cidade, notabilizando-se pela guarda de significativas coleções científicas”, completa Sgarbossa.