Fundopem aprova R$ 560 milhões de incentivos para reconstruir fábrica da Coca-Cola

A Coca-Cola Femsa do Brasil, a maior engarrafadora da Coca-Cola em todo o mundo, é a principal beneficiária da nova rodada de incentivos fiscais aprovados pelo Fundo Operação Empresa do Rio Grande do Sul (Fundopem RS).

Foram aprovados R$ 880 milhões de incentivos ( valor que pode ser deduzido total ou parcialmente do ICMS a pagar) para novos investimentos.

Do valor total, que contempla 21 projetos,  R$ 560 milhões (63%) correspondem ao projeto de recuperação da fabrica da Coca-Cola Femsa Brasil, empresa mexicana, que atua em dez países na América Latina.  As instalações da empresa no bairro Sarandi, junto à BR 290, foram inundadas na enchente de 2024.

Em setembro, o representante da Coca-Cola Femsa, Eduardo Pereyra, foi recebido pelo governador Eduardo Leite e apresentou o projeto de recuperação da fábrica, orçado em R$ 600 milhões.

“A empresa segue forte em sua parceria com o governo e comprometida em colaborar com o desenvolvimento socioeconômico do Estado”, afirmou ele.

“Esse investimento robusto é mais uma mostra da confiança no movimento de reconstrução do Estado que nosso governo está liderando a partir do Plano Rio Grande (…)Agradecemos a Coca-Cola Femsa por acreditar na força dos gaúchos para reerguermos um Estado ainda mais forte e resiliente para o futuro”, declarou o governador.

Dos 21 projetos aprovados, 13  foram enquadrados no Fundopem Recupera, modalidade criada no atual governo com incentivos maiores para ajudar na retomada de empresas atingidas pela enchente.

Além da Coca Cola, a Femsa tem em seu portfólio de produtos os refrigerantes Fanta, Sprite, Schweppes, os chás Leão, sucos Del Valle, Ades, Monster, Burn, Powerade, I9, cervejas como Therezópolis, Eisenbahn, Sol, Kaiser, Bavaria, Tiger, Estrella Galicia e a água mineral Crystal.

Tem mais de 20 mil funcionários no Brasil e está presente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, alcançando 52% do território brasleiro. No Rio Grande do Sul, entrou em 2016, quando comprou a Vonpar

Hoje é, segundo o site da empresa, “a maior engarrafadora franquia Coca-Cola do mundo por volume de vendas”.

A empresa produz e distribui bebidas das marcas registradas da The Coca-Cola Company, com um portfólio de 134 marcas atendendo a mais de 270 milhões de consumidores todos os dias”.

Nos dez países da América Latina onde atua, tem mais de 97 mil colaboradores. Comercializa e vende aproximadamente 3,8 mil milhões de caixas-unidade por meio de 2 milhões de pontos de venda por ano, operando 56 unidades de manufatura e 249 centros de distribuição.

Esta é a lista dos projetos aprovados para receber o benefício fiscal:

1.     Coca-Cola Femsa Brasil – Porto Alegre – R$ 559.117.421,44

2.     Astória Papéis – Gravataí – R$ 78.275.041,14

3.     Atlas – Esteio – R$ 61.827.502,74

4.     Sanremo – Esteio – R$ 53.028.833,64

5.     Cooperativa Agrícola Mista Nova Palma – Faxinal do Soturno – R$ 30.955.000,00

6.     Aquafast Produtos de Limpeza e Higiene – Guaporé – R$ 23.424.000,00

7.     Indústria e Comércio Oderich – São Sebastião do Caí – R$ 13.154.472,90

8.     Masterflake Indústria de Reciclagem – Guaíba – R$ 12.953.050,00

9.     Moinho do Nordeste – Antônio Prado – R$ 12.856.604,38

10. Rhodoss Implementos Rodoviários – Estrela – R$ 8.368.817,62

11. Pagliarin e Cia – São Pedro do Sul – R$ 5.028.419,22

12. Farvale Ind e Com de Óleos e Farinhas de Origem Animal – Encantado – R$ 4.767.629,00

13. Distribuidora de Bebidas F Antônio Chiamulera – Lajeado – R$ 3.804.010,38

14. Laticínios Heja – Panambi – R$ 3.203.073,90

15. Grano Square Produtos Naturais – Porto Alegre – R$ 2.538.086,35

16. Laticínios do Sul Indústria e Comércio – Imigrante – R$ 1.909.470,60

17. IDP Indústria e Distribuição de Produtos Elétricos – Encantado – R$ 1.693.505,77

18. Pesenatto Indústria e Comércio de Alimentos – Eldorado do Sul – R$ 1.026.235,91

19. Engix do Brasil Sistemas de Elevação – Porto Alegre – R$ 955.176,10

20. Millenniun Tecnologia Ambiental – Porto Alegre – R$ 858.578,80

21. Restart Indústria e Comércio de Equipamentos e Acessórios Elétricos – Porto Alegre R$ 193.305,97

 

Depois da regulamentação, apostas on line chegam a R$ 30 bilhões por mês

A regulamentação das apostas online não inibiu o interesse do brasileiro pelos jogos de azar.

De janeiro a março, os apostadores destinaram até R$ 30 bilhões por mês às bets, disse nesta terça-feira (8) o secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca. Ele e o presidente do órgão, Gabriel Galípolo, falaram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets do Senado.

Segundo Lucca, no ano passado, quando o mercado ainda não estava regulado, o BC tinha estimado em torno de R$ 20 bilhões por mês o fluxo gasto com apostas eletrônicas.

Com a atualização dos dados após a regulação, que entrou em vigor em 1º de janeiro, o BC constatou que o valor ficou um pouco superior, entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões.

“A gente chegou à época [no ano passado] a um valor médio mensal de R$ 20 bilhões de fluxo para esses sites. Durante este ano, de janeiro a março, o valor que a gente acompanha para efeito de atividade gira em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando o que a gente tinha estimado no fim do ano passado”, disse Lucca.
O acompanhamento tornou-se mais efetivo após as bets legalizadas serem obrigadas a registrar uma conta bancária com uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica. O BC esclareceu que os dados são apenas para consumo interno e não serão divulgados periodicamente.

Quase todo o valor gasto é distribuído aos ganhadores, mas os números divergem entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Segundo Galípolo, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), ligada à Fazenda, tem registrado retorno de 93% a 94% do valor desembolsado pelos apostadores em prêmios. Em relatório preliminar divulgado no ano passado, o BC tinha calculado em 85% o retorno médio em prêmios.

Sem poder de fiscalização
O presidente do BC esclareceu que o órgão pode apenas compilar estatísticas e não tem competência legal para fiscalizar, supervisionar ou aplicar sanções, como o bloqueio de transações de bets não autorizadas a funcionar no Brasil. Ele esclareceu que a autoridade monetária só pode tomar essas medidas caso seja notificada pela SPA.

“A Secretaria de Prêmios de Apostas é quem define a bet que está autorizada ou não. O Banco Central, uma vez informado pela SPA, vai dizer para a instituição financeira: ‘você tem aí empresas para observar nos seus procedimentos e, a partir de agora, não autorizar mais.’ Não é o Banco Central que interrompe uma transação. A partir daí, é a própria instituição financeira que interrompe”, explicou Galípolo.

O presidente do BC esclareceu que, além da elaboração de estatísticas, o trabalho do BC em relação às bets resume-se à prevenção à lavagem de dinheiro e ao combate ao terrorismo, atividade para a qual a autoridade monetária tem competência legal. Nesses casos, as instituições financeiras têm de avisar o BC, que repassa as movimentações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao Ministério Público e à Polícia Federal.

“Não posso nem deixar minhas prerrogativas serem invadidas nem invadir as prerrogativas de outros entes”, justificou Galípolo.
Sigilo bancário
Apesar do pedido de vários senadores, Galípolo informou que, por causa das obrigações legais para proteger os dados pessoais e o sigilo bancário, o BC não pode bloquear o Pix de apostadores que recebem o Bolsa Família. Segundo ele, o órgão também não tem poder para bloquear as chaves Pix das bets que recebem os recursos do programa social.

Na primeira semana como presidente do BC, Galípolo tinha se comprometido a colaborar com o Tribunal de Contas da União (TCU) e a fornecer informações sobre o Pix de beneficiários do Bolsa Família que apostam em bets.

O único dado que o presidente do BC adiantou foi o de que apostadores online têm risco de crédito (chances de dar calote em empréstimos) bastante superior ao dos não apostadores. Segundo Galípolo, os bancos já percebem o risco maior e cobram juros mais altos desses clientes.

Galípolo e o técnico do BC prestaram depoimento a convite do presidente da comissão, senador Dr. Hiran (PP-RR). Instalada em novembro no Senado, a CPI das Bets pretende investigar o impacto das apostas eletrônicas no orçamento das famílias brasileiras e no sistema financeiro, além da possível associação com organizações criminosas. A relatora é a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), autora do requerimento da CPI.

(Com informações da Agência Brasil)

Vieira da Cunha: “Estão te agredindo, Porto Alegre”

A relação com minha encantadora Porto Alegre tem seu ponto de partida lá no final dos anos 50 quando, com algo em torno de dez anos, vinha com meu irmão mais velho passar as férias de verão na casa da avó paterna.

Eram férias fascinantes, com passeios de bicicleta e nos barquinhos que antecederam os pedalinhos na Redenção, matinês nos cinemas que então povoavam o Centro, e os bondes – de um tempo em que o divertimento da gurizada era sentar na frente do edifício da João Pessoa e ficar admirando aqueles veículos amarelos que soltavam faíscas e roncavam no contato de suas rodas metálicas com os trilhos de ferro.

Não tinha 18 quando me mudei em definitivo para cursar o pré-vestibular e me preparar para a vida. O primeiro ato do zeloso pai, antes de retornar para os deveres em sua Cachoeira do Sul, foi abrir uma caderneta de poupança na agência da Caixa Econômica na Rua da Praia com Dr. Flores.

Aquele tornou-se um endereço mágico que visitei incontáveis vezes, pois a poupança era, na época, uma espécie de conta corrente fácil de administrar – desde que houvesse saldo…

E quanta confiança e amadorismo havia naquele gesto envolvente de estender a caderneta para o funcionário da Caixa, que olhava o valor nela contido, conferia com os arquivos em papel disponíveis por ali, anotava à caneta o saldo restante e entregava a quantia solicitada. Que tempos, que tempos!

Cresci profissionalmente vendo a capital crescer, admirando desde o belvedere da Rua João Manoel os aterros que começaram a ser feitos para que a cidade grande aumentasse ainda mais seus espaços e desse lugar a novos prédios que parecem lá estar desde sempre, mas não: os edifícios da Receita Federal, do Ministério da Agricultura, entre outros.

Minha avó Angelina, vinda ao Brasil ainda criança quando a família fugiu das ameaças de um vulcão, sentia um incontido prazer ao andar pelas ruas do Centro que viam um frenético movimento da construção civil a erguer prédios e mais prédios, quanto mais altos, melhor.

A Praça da Alfândega era um centro nervoso do Centro, e muitas vezes, ali por três da tarde, eu estava entre os que aguardam os vendedores oferecendo a Folha da Tarde. Com um noticiário super atualizado, editado ainda pela manhã, o único vespertino a circular na Capital era vendido literalmente como pão quente.

Muitas vezes, com o saldo na caderneta se aproximando perigosamente do zero, voltava a pé do Julinho para casa, na Fernando Machado.

Às onze da noite, sozinho e sem a menor preocupação com a tal de segurança. Mais adiante, já na redação da Caldas Júnior e com alguma rendinha a acalmar o bolso, era comum aos domingos à noite ir até á Spaghettilândia saborear um filé à parmigiana acompanhado de meia garrafa de um tinto cujo nome, infiel, não recordo. E de lá, dez da noite, seguia pé para a mesma Fernando Machado.

São tantas lembranças incríveis e, melhor, inesquecíveis, que às vezes me levam a sentir uma eterna saudade das ruas desta Porto Alegre amada que acaba de completar 253 anos.

Não estava aí para confraternizar em pelo menos um dos eventos que festejaram a data, mas… é descartável a lembrança que trago da última vez em que caminhei por esses mesmos caminhos, ano passado.

Sobram espaços de lojas fechados, as obras que a Prefeitura toca são intermináveis e, horror dos horrores, substituíram o calçamento da Rua da Praia e suas vizinhas por um concreto medonho, longe, muito longe, dos ladrilhos que chegaram a encantar em outros tempos.

Todo o Centro surge degradado, sem a graça nem os atrativos que fizeram dela um orgulho para os porto-alegrenses ou seus adotados, meu caso.

O quadro é desolador, com tantos espaços para lojas fechados. A completar a paisagem de desencanto, a reforma do piso provoca uma indisposição, um aperto no peito. Uma cidade que exala tanta tradição, tanta cultura – agora mesmo está com portas abertas para mais uma Bienal – não pode se entregar desta maneira.

E aí, prefeito Ayres Cerutti, concordas?

José Antonio Vieira da Cunha, jornalista.

Kadão morre aos 73: o jornalismo perde um gigante

Por Luiz Cláudio Cunha

O Brasil ganhou um tesouro, em 2016, com o lançamento do livro “A força do tempo. Histórias de um repórter fotográfico brasileiro”.

O autor, Ricardo Chaves, conhecido na imprensa como Kadão, selecionou mais de 400 fotos de quase meio século de uma carreira descrita e resumida, por ele mesmo, em um texto admirável e delicioso de 184 páginas que mistura história, fotografia, jornalismo, talento e protagonismo.

Kadão conseguiu fazer com invulgar sucesso a migração da foto para o texto, proeza que raros profissionais conseguiram na imprensa brasileira.

Além de Kadão, só lembro de dois exemplos de fotógrafos talentosos que conseguiram mostrar a mesma excelência na arte de escrever: Marcos Sá Correa, o fotógrafo que se tornou um dos mais festejados textos do país, brilhando com maior destaque na revista Veja e no Jornal do Brasil, no final do Século 20, e Hélio Campos Mello, o fotógrafo que comandou a redação de três das mais importantes revistas de informação – Senhor, IstoÉ e Brasileiros.

Kadão – amigo, mestre e parceiro de mais de 50 anos de jornalismo, onde compartilhamos a noviça condição de ‘foca’ do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no remoto ano de 1970 –  me convidou para escrever o prefácio de seu livro.

Dei ao texto o título atrevido de “Kadão, um chato”, o que soava como uma insolência diante do cabeçalho de  “O melhor fotojornalista do país”, conferido pelo autor do generoso e merecido posfácio, o jornalista Marcelo Rech, parceiro de Kadão em suas principais viagens internacionais pelo jornal gaúcho, mais tarde diretor de redação de ZH, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e do Fórum Mundial de Editores (WAN).

Na sexta-feira, 4 de abril, Kadão morreu aos 73 anos, em Porto Alegre, vencido por um câncer de bexiga detectado há sete meses. Meu texto, feito para ser uma homenagem em vida a um dos mais importantes profissionais de imprensa do país, agora ganha, diante de sua ausência, ainda mais relevância por revelar algo mais da carreira de sucesso de quem fez do jornalismo um inspirador exercício cotidiano de caráter, dignidade e talento.

Kadão não está mais aqui, mas continuará sempre presente, na memória e no coração de todos nós, pelo jornalismo de ética, coragem e relevância cada vez mais essenciais em tempos dominados pela mentira, pela covardia e pela estupidez.

Nesses momentos críticos para o jornalismo e para a democracia é que mais precisamos de um chato como Kadão.

Kadão, um chato

[prefácio de 2016 para o livro A Força do Tempo]

Ricardo Chaves, conhecido como Kadão, não é um fotógrafo. Este é o momento para uma grave revelação: Kadão é, antes de tudo, um chato.

Vamos aos fatos. Nunca se conforma com a primeira frase, a primeira cena, a primeira resposta. Rebate, implica, replica e pergunta de novo: “Mas, por quê?”.

A pergunta teimosa brota, natural, porque Kadão nunca é dominado pelo ato reflexo do músculo tenso do dedo indicador que, automático, comprime burocraticamente o obturador da máquina fotográfica. O gesto, em Kadão, passa antes pelo cérebro que processa, avalia e só então libera a decisão racional que permite o registro consciente da cena.

Atitude que vale para a fotografia, vale para a vida.

Kadão é um ser consciente, a todo o momento ancorado na dúvida ancestral que faz evoluir a raça humana. “Por quê?”, pergunta, indaga, desafia Kadão, sempre que é colocado diante de uma questão que outros, por preguiça ou desatenção, fingem ignorar, deixam passar. Não passa nada por Kadão. Nada que resista à sua força de trabalho ou sua enorme concentração. Afinal, Kadão é um chato.

O sadio ceticismo move a curiosidade humana, excita o cérebro, estimula questões, provoca o pensamento, arregala o olho — as reações naturais para quem sempre pergunta e se pergunta: por quê? Como fazem os chatos e, por definição, os repórteres, que duvidam das respostas que ouvem e nunca ficam passivos diante do que vêem. Um bom repórter é, assim, a outra definição para um chato exemplar.

Quanto mais chato, melhor repórter.

Kadão não é fotógrafo. É um tremendo chato.

E, por tudo isso, Kadão é um baita repórter.

É o melhor repórter que tive ao meu lado, em quatro décadas de aventuras no mundo trepidante do jornalismo. Eu digo porque sei, porque conheço Kadão como ninguém.

Nascemos no mesmo ano (1951), sofremos pelo mesmo time (Grêmio), compartilhamos as primeiras baforadas de cachimbo com a descoberta do perfumado Troost Aromatic Cavendish da boa cepa holandesa, começamos juntos (1970) como ‘focas’ inseguros e empolgados pelo mesmo jornal (Zero Hora), assombrados pela mesma ditadura (1964) que temia perguntas e espalhava certezas, chumbo e medo nos corações e mentes de todos nós — rebeldes pela idade, desconfiados por instinto, chatos por natureza.

Essa história comum de identidade incomum nos tornou amigos, chapas, parceiros, irmãos de fé, camaradas de uma vida inteira. Tamanha intimidade me deu o privilégio de apresentar (1971) ao Kadão uma amiga loira (Loraine), a eterna namorada que aguenta esse chato num inquestionável, interminável casamento (de 40 anos) que lhe proporcionou, sem maiores perguntas, suas melhores revelações: os dois filhos (Letânia e Leonel).

Para quem acha que não passa de um fotógrafo, Kadão ainda exibe outro lado inusitado: ele também escreve. E escreve bem. Nada mais chato do que isso, nada mais previsível para quem pensa. É uma qualidade rara entre os profissionais da fotografia brasileira, onde goza da ilustre companhia de Marcos Sá Correa (Veja e Jornal do Brasil) e de Hélio Campos Mello (IstoÉ e Brasileiros), dois talentos que migraram das imagens do início de carreira para o texto poderoso de jornais e revistas onde brilharam comandando equipes que Kadão, não por acaso, integrava.

O sangue de jornalista tem uma carga genética de forte caráter: o pai, Hamilton Chaves, ecoa na história brasileira como o homem que comandou a poderosa Rede da Legalidade. Foi a cadeia radiofônica nacional de 250 emissoras de rádio coordenada por Hamilton que deu voz e sentido à cívica rebelião do governador gaúcho Leonel Brizola, em agosto de 1961, na defesa da Constituição e da posse do vice-presidente João Goulart, vetada pelos ministros militares desde a renúncia de Jânio Quadros.

Nos porões do Palácio Piratini, que Kadão já frequentava como um guri excitado naquela década que começava trepidante, Hamilton Chaves, então secretário de imprensa do governador, instalou o microfone com que Brizola mobilizou o povo gaúcho, conquistou a adesão do III Exército, quebrou a unidade militar, frustrou o golpe e garantiu a posse de Jango na presidência. Por todos os motivos, Hamilton era o herói de Kadão, na vida e no jornalismo. Um ídolo que ele enterrou precocemente em maio de 1985, no dia exato em que o pai completava 60 anos, repartido entre o coração de filho e o olho de repórter: apesar do pranto, Kadão não deixou de fazer os derradeiros registros fotográficos de quem em vida foi seu modelo de ética na política e de convicção no jornalismo.

Uma década antes, também chorando, mas inquebrável em sua determinação como repórter, Kadão cobriu fotograficamente para a revista Veja o velório e o enterro de outra figura marcante de sua vida: Lupicínio Rodrigues, o maior compositor popular do Rio Grande, parceiro do pai em algumas músicas e companheiro incansável de Hamilton Chaves na boemia da noite de Porto Alegre.

O difícil equilíbrio entre a emoção e a técnica, a exigida harmonia entre o que pensava o homem e o que fazia o profissional fizeram de Kadão uma figura especial, rara, indispensável. A partir de nosso encontro pioneiro em Zero Hora, tive a preocupação, sempre que podia, em ter Kadão ao meu lado, como escora fundamental de qualidade, talento, lucidez e inspiração de trabalho.

Assim foi na década de 1970, em Porto Alegre, quando o levei para a sucursal da revista Veja, que eu chefiava. Assim se repetiu no final da década de 1980, em Brasília, quando o chamei para trabalhar na sucursal da Agência Estado, que eu dirigia. Os anos de convivência nos davam a segurança de conversas ancoradas na experiência da vida, na emergência dos fatos. Não tinha ao meu lado um fotógrafo, um subordinado. Tinha o amigo de sempre, a quem procurava nos momentos de dúvida, de incerteza, para usurpar daí o seu lugar de chato e fazer a pergunta de praxe para um discípulo: “Mas, e por quê, Kadão?”.

Com a autoridade de quem sabia fazer as perguntas certas, na hora exata, Kadão dava a resposta que me abria caminhos e me iluminava a mente.

Aprendi com ele esta lição simples e empolgante: para aprender, basta o vício regenerador da pergunta, sucedida por outras, novas e melhores perguntas. Seja cético, insistente, persistente, inconformado, desconfiado, sugeria Kadão. Resumindo: seja chato, para ser um repórter melhor.

Nunca fiz nada melhor do que seguir, na prática do jornalismo , essa ‘doutrina Kadão’. Para minha sorte, Kadão estava ao meu lado na mais longa, mais difícil e mais gratificante reportagem de minha carreira de quase quatro décadas: a investigação sobre o sequestro em Porto Alegre dos refugiados uruguaios Universindo Rodríguez Díaz e Lilián Celiberti, e seus dois filhos, em novembro de 1978.

Um telefonema anônimo me levou a um apartamento do bairro do Menino Deus, numa sexta-feira chuvosa, naquele dia acompanhado pelo fotógrafo JB Scalco, da revista Placar. Kadão só não estava ali, naquele momento, porque cumpria uma pauta no litoral, onde entrevistava o senador recém-eleito Pedro Simon.

Coube a Scalco e a mim, então, a inesperada recepção no apartamento por homens armados, agentes de uma operação binacional clandestina das ditaduras do Brasil e do Uruguai que atropelaram até as leis escritas do arbítrio para sequestrar e torturar cidadãos estrangeiros em solo brasileiro.

Scalco foi decisivo para identificar os dois policiais do DOPS, o escrivão Didi Pedalada e o inspetor Irno, que nos receberam com pistolas na cara.

O voo criminoso da Operação Condor em Porto Alegre foi denunciado pela imprensa, a ação clandestina foi abortada e os sequestrados sobreviveram, escapando do assassinato de rotina da repressão uruguaia.

Nas 86 semanas seguintes, quase dois anos até a sentença final da Justiça condenando os sequestradores, em julho de 198o, Kadão foi a figura mais decisiva do caso.

O sequestro certamente seria desvendado por minha equipe, eventualmente sem a minha presença, mas a investigação não chegaria a lugar nenhum sem a insistência, o dedo e o olho de Kadão.

Era preciso um chato para fazer avançar a reportagem e deslindar o sequestro. E ele felizmente estava ali, ao meu lado: Kadão, o repórter chato.

Sentado no banco traseiro de um táxi em meados de dezembro, um mês após a denúncia do sequestro, Kadão não se rendia ao deserto de pistas que se abria diante de mim.

Teimoso, inconformado, insistia comigo que algo havia passado em branco, alguma coisa devia ter escapado. E pedia que eu contasse, mais uma vez, tudo o que se passara no apartamento.

A única maneira de satisfazer aquele chato era fazer o que ele pedia, capitulei. Desanimado, repeti toda a história, de onde Kadão acabou resgatando o elo esquecido que levaria, horas depois, à foto perdida de Didi Pedalada — o fio da meada para revelar o envolvimento do DOPS do delegado Pedro Seelig e da ditadura brasileira no sequestro dos uruguaios.

Sem Didi, o sequestro não seria desvendado. Sem Kadão, Didi não seria descoberto. Scalco e eu apenas reconhecemos a foto de Didi que Kadão colocou diante de nossos olhos. A reportagem do sequestro de Lilián e Universindo tem começo, meio e fim. Kadão está em todos eles.

No começo, em dezembro, desencavou a foto redentora de Didi. No meio, três meses depois, Kadão fez a foto da escrivã do DOPS Faustina, que manteve a guarda provisória dos filhos de Lilián, Camilo (8 anos) e Francesca (3). Após duas horas de espera, com a teleobjetiva de câmera apontada para a janela do primeiro andar do prédio onde morava a policial, Kadão viu enfim chegar o seu momento: num segundo fugaz, Faustina botou a cara na janela, pressentiu o perigo e tentou escapulir. Mas, já tinha caído na rede de Kadão, que teve uma só chance para um disparo certeiro, preciso, fatal.

A única foto capturada pelo dedo ágil e pelo olho agudo de Kadão foi levada horas depois a Montevidéu, onde o garoto Camilo confirmou a identificação da sequestradora.

No fim, em outubro de 1979, um ano após o sequestro, Kadão fez a foto que desmascarou a derradeira tentativa de fraude da polícia gaúcha, que apresentava o sequestrador Irno com um visual fabricado, exatamente oposto ao descrito por Scalco e por mim.

Originalmente cabeludo, sem barba e de bigode, Irno foi exibido na entrevista coletiva como um careca, barbudo e sem bigode, uma novidade devastadora que desmoralizava as testemunhas e comprometia toda a denúncia da imprensa.

Passado o susto inicial, emergiu na coletiva o lado chato de Kadão, o repórter teimoso que não se conformava com o monumental equívoco que se desenhava na denúncia que a polícia tentava desqualificar. Um suposto erro dos repórteres, naquele momento decisivo, consagraria a mentira e daria espaço para uma assustadora contraofensiva do aparato repressivo, jogando por terra um ano de investigação e desmoralizando todo o trabalho da imprensa.

Desconfiado como sempre, chato como nunca, Kadão não acreditou na imagem inesperada que via à sua frente, no auditório da polícia. Ousado, Kadão trocou a lente normal por uma teleobjetiva de 200mm, impensável para o espaço exíguo da sala. Com a tele, Kadão começou a pentear aquela imprevista careca, da qual só um chato seria capaz de duvidar.

E, com a lente de aproximação, Kadão descobriu um fato notável, que apenas ele percebeu: aquela careca era recente, fabricada, falsa. Os fios de cabelos cortados rente, imperceptíveis para o auditório, denunciavam pela lente esperta de Kadão o uso ardiloso de uma navalha, que transformou o genuíno sequestrador cabeludo num fingido policial careca. Uma sequência posterior de fotos, recolhidas por Kadão em antigos locais de trabalho de Irno, acabaram comprovando fotograficamente a farsa de uma polícia acuada pelas próprias mentiras que fabricava.

Uma ditadura pode qualquer coisa. Ela só não consegue imaginar um chato capaz de desmascará-la. Um chato como Kadão.

O Kadão de todos nós é a síntese entre emoção e técnica, o equilíbrio entre ação e reflexão, a transição entre a imagem que passa e a cena que fica, o homem capaz de captar o instante fugidio que ele congela e preserva na eternidade da história.

Porque esse é o Kadão. (LCC)

Um bendito chato!

O fotógrafo Ricardo Chaves morreu na sexta-feira 4 de abril, aos 73 anos, em Porto Alegre.

 Lixo em Porto Alegre: novo contrato, novos contêiners, velhos problemas

Estão sendo instalados os 2.250 novos conteiners para a coleta automatizada, que atende 19 bairros e recolhe cerca de 20% do lixo domiciliar de Porto Alegre.

Importados da Itália, ao custo de R$ 18 mil cada um, são mais robustos e 20% deles possuem “bocas de lobo” para evitar o acesso de catadores, que abrem os conteiners em busca de material reciclável e acabam espalhando todo o conteúdo ao redor.

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Mas, os problemas, detectados desde que se implantou o sistema, há mais de uma década, persistem. Mesmo nos novos equipamentos com boca de lobo, o lixo segue sendo espalhado ao redor.

A chamada “coleta automatizada” do lixo em Porto Alegre foi implantada em julho de 2011, quando 1.200  contêiners foram instalados em 18 bairros. Colocados nas esquinas, com tampas flexíveis,  24 horas disponíveis para descarte do lixo residencial. Periódicamente caminhões com dispositivos automáticos  recolhem o conteúdo.

Detalhe: somente o lixo orgânico deveria ser colocado ali. O material descartável deveria ser destinado para a coleta seletiva.

Os problemas apareceram nas primeiras semanas. Sebastião Melo era vice-prefeito em exercício no final de julho daquele ano, quando as reclamações chegaram à imprensa.

Em entrevistas, ele reconheceu que não estava funcionando e apontou a causa principal: “A população está jogando lixo misturado, os catadores de material reciclável entram nos contêiners, acabam espalhando todo o lixo”.

Segundo o DMLU, quase um terço do volume recolhido dos conteiners e levado para o aterro sanitário de Minas do Leão ( a 70 quilômetros de Porto Alegre) é material reciclável, resultado do descarte errado feito por moradores.

É o principal problema desde o início e não houve melhoria, embora a prefeitura tenha trocado pelo menos três vezes a prestadora do serviço.

A última troca foi em fevereiro de 2023,  quando foi rescindido o contrato com o consórcio Porto Alegre Limpa. Foi contratada de forma emergencial (sem licitação) a ConeSul Soluções Ambientais, por mais de R$ 2,1 milhões por mês.

O contrato emergencial foi renovado em março de 2024 com vigência até março de 2025. Enquanto isso, a prefeitura fez nova licitação para, através de uma PPP, entregar serviço de coleta, transporte e descarte de todo lixo em Porto Alegre a uma  única empresa.  São  1,5 mil toneladas de lixo domiciliar gerado diariamente, em Porto Alegre. Em torno de 20% desse volume corresponde à coleta automatizada.

A licitaçao foi vencida pelo consórcio Porto Alegre Ambiental, formado pela própria empresa Conesul associada à RN Freitas. O  contrato por 35 anos foi assinado em julho do ano passado.

Prevê a ampliação do número de conteiners  com previsão de chegar a 6.000 nos próximos anos. .

Os novos contêiners, importados da Italia, deveriam estar nas ruas em novembro do ano passado, mas houve atraso na entrega.

Outros 500 serão exclusivos exclusivos para resíduos recicláveis serão instalados em quatro bairros — Centro Histórico, Praia de Belas, Cidade Baixa e Menino Deus — e ficarão ao lado de contêineres para orgânicos e rejeitos.

O novo contrato prevê uma equipe de educação ambiental que vai atuar nos quatro bairros que receberão os contêineres para recicláveis.

Além dos modelos “boca de lobo”, o restante dos novos contêineres terão formato semelhante aos já existentes, mas mais robustos. contêineres antigos, que eram mais frágeis. Além do pedal frágil, a tampa era de um alumínio  Começaram a tirar essas tampas e vender no mercado clandestino.

Como funciona a coleta

Porto Alegre tem no lixo a coleta automatizada, coleta domiciliar e coleta seletiva. Entenda a seguir o funcionamento de cada uma:

  • Automatizada: é o sistema que recolhe o resíduo descartado nos contêineres de cor cinza, instalados nas ruas de 19 bairros da Capital. A coleta automatizada recebe apenas resíduos domiciliares, ou seja, resíduos orgânicos e rejeito.
  • Domiciliar: é também conhecida como coleta “porta a porta”, em que as pessoas colocam a sacola com o resíduo em frente ao imóvel para ser recolhido pelo poder público. É realizada em todas as ruas da cidade pelo menos três vezes por semana.A coleta domiciliar recebe apenas resíduos domiciliares, ou seja, resíduos orgânicos e rejeito.
  • Seletiva: a coleta também é feita “porta a porta” e recebe somente os resíduos recicláveis, também conhecido como “lixo seco”. A coleta seletiva é realizada em todas as ruas que comportam a entrada do caminhão. Passa três vezes por semana nos bairros atendidos pela coleta automatizada e duas vezes por semana nos demais bairros.

Bairros atendidos totalmente – Auxiliadora, Bom Fim, Bela Vista,  Centro Histórico, Cidade Baixa, Farroupilha, Higienópolis, Independência, Moinhos de Vento, Mont’Serrat,  Praia de Belas  e Rio Branco.

Bairros atendidos parcialmente – Azenha, Floresta, Petrópolis, Menino Deus, Santa Cecília,  Santana e São João.

Resíduos que devem ser colocados nos contêineres (basicamente orgânicos): cascas e restos de frutas e legumes, sobras de comida, papel higiênico e fraldas descartáveis usados, guardanapo e toalha de papel sujos, plantas, restos de podas e varrição, pó de café e erva-mate.

Projeto piloto

A implementação dos 450 equipamentos menores faz parte de um projeto piloto, visando a melhora na coleta de resíduos nos bairros Centro Histórico, Cidade Baixa, Praia de Belas e Menino Deus.

 

Pampa ameaçado: a cada ano bioma perde 1% da vegetação nativa

O Pampa, bioma que ocupa dois terços do território do Rio Grande do Sul, perdeu 28% de vegetação nativa entre os anos de 1985 e 2023 (28 anos), segundo levantamento realizado pelo MapBiomas em 2024.

Esse índice serve como um alerta à necessidade de pensar estratégias de crescimento sustentável, conforme avaliou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Pepe Vargas (PT), durante a abertura do Fórum Internacional de Meio Ambiente (Fima), promovido pela Associação Riograndense de imprensa, no Memorial do Legislativo.

“Juntamente com o Cerrado, o Pampa foi o bioma que, proporcionalmente, mais perdeu vegetação nativa. Isso é dramático”, lamentou Pepe Vargas, cuja gestão na presidência tem foco no “Pacto RS 2025: Crescimento Sustentável”.

O presidente do Parlamento rio-grandense ressaltou que é preciso considerar que as medidas adotadas à preservação ambiental não são suficientes.

“A primeira constatação que precisamos considerar é: o que estamos fazendo não é suficiente ou é inadequado. Do contrário, não estaríamos nesta situação ambiental.”

Conforme o presidente, para que a preservação do bioma seja eficiente, é essencial ouvir e compreender os anseios da população que vive nele e dele retira seu sustento. “É essencial ouvirmos a população que mora no Pampa, entender sua cultura, seus conhecimentos e saberes, e combinar essa sabedoria local com o que a ciência vem desenvolvendo – seja nas universidades, nas áreas de pesquisa, nos órgãos públicos, nas ciências naturais, com biólogos, engenheiros florestais, geólogos e tantos outros especialistas”, destacou.

A discussão sobre o crescimento sustentável do bioma Pampa, segundo o parlamentar, deve envolver questionamentos como: “É correto flexibilizar a legislação ambiental? O uso de águas subterrâneas profundas em detrimento dos mananciais superficiais é viável? Como garantir a manutenção das áreas de preservação permanente e das matas ciliares?”

Por dois dias (26/27/03) evento reuniu palestrantes e especialistas de diversas áreas, como climatologia, administração, agronomia, direito, engenharia agronômica, geografia, jornalismo e veterinária.

Para o presidente da ARI, José Nunes, a discussão em torno do bioma Pampa é essencial e merece a atenção da sociedade. “Que pensamos refletir sobre como é possível estabelecer uma relação de harmonia entre a conservação do Pampa e as atividades econômicas”, afirmou.

Participaram da abertura de Fima, a vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargadora Lusmary Turelly da Silva; a representante da Procuradoria-Geral de Justiça, Ana Marchezan; o presidente da Associação do Ministério Público Estadual, Fernando Andrade Alves; o secretário municipal de Comunicação de Porto Alegre, Luiz Otávio Prates; secretária do Meio Ambiente do Estado, Kátia Gonçalves; e a superintendente do Ibama, Diara Sartori. Também esteve presente o deputado Miguel Rossetto (PT).

Concurso desafia inventores a criarem “bengalas inteligentes”

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o governo do Paraná lançam nesta quarta-feira (2) o edital do concurso “Desafio de Inovação: Bengalas Inteligentes”.

A iniciativa, pioneira no Brasil, tem a finalidade de reconhecer e premiar protótipos de bengalas ou dispositivos complementares utilizados por pessoas com deficiência visual, que permitam detectar obstáculos acima da linha da cintura como, por exemplo, um galho de árvore.

De acordo com o Censo do IBGE de 2022, cerca de 6,5 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual, sendo que 582 mil são cegos.

Atualmente, o estado do Paraná tem mais de 82 mil pessoas com deficiência visual, e as bengalas disponíveis no mercado limitam-se à identificação de objetos posicionados abaixo do quadril. Diante disso, o concurso busca promover o desenvolvimento de tecnologias que ampliem a eficiência e a segurança desses artefatos, promovendo mais autonomia a seus usuários.

O concurso de inovação será aberto à participação de projetos de todo o país e não se limita, portanto, ao Paraná.

Somado a isso, o edital “Desafio de Inovação: Bengalas Inteligentes” tem ainda o objetivo de disponibilizar os dispositivos inteligentes no mercado brasileiro a preço acessível.

Coordenado pelo Escritório de Encomendas Tecnológicas da ABDI (Hubtec) , em parceria com o governo do Paraná, o concurso utiliza os instrumentos de Compras Públicas de Inovação para promover e estimular a inovação. De acordo com o presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, a iniciativa é bastante relevante, pois permite demonstrar que licitações na modalidade Concurso (conforme a Lei de Licitações e Contratos Nº 14.133/2021) são instrumentos efetivos de fomento ao processo inovativo.

Cappelli destaca que a iniciativa pretende estimular o desenvolvimento de uma solução acessível financeiramente, adequada às condições brasileiras e elaborada com o maior nível possível de tecnologia nacional incorporada.

“Queremos não só atender às demandas de acessibilidade com esses projetos, mas também incorporar tecnologias avançadas, promovendo a segurança, autonomia de pessoas com deficiência visual e, sobretudo, a inclusão social”, explica.
O secretário da Inovação do Paraná, Alex Canziani, afirma que o objetivo do concurso é desenvolver uma solução inovadora e acessível para as pessoas cegas, garantindo que essa tecnologia possa chegar ao mercado a um custo mais baixo e beneficiar toda a comunidade cega no Brasil.

“Queremos estimular o desenvolvimento de bengalas tecnológicas mais duráveis e eficientes, para que a inovação cumpra seu papel de melhorar a vida das pessoas”, diz.
Premiação
O concurso tem a finalidade de resolver o seguinte desafio: “Como permitir que pessoas cegas, usuárias de bengala, possam antecipar obstáculos estáticos acima de sua linha de cintura?”

O edital destinará R$ 2,8 milhões para as soluções mais inovadoras. O concurso será realizado em duas etapas: Na primeira fase, denominada “Etapa de Evolução”, o edital selecionará até dez propostas em estágio de ideação/conceito. Nessa fase, os projetos serão contemplados com R$ 180 mil para execução do plano de trabalho e amadurecimento da solução.

Na segunda fase, intitulada “Dia do Desafio”, as soluções selecionadas serão avaliadas por meio da realização de pitchs, nos moldes de Shark Tank, e por testes dos protótipos em um circuito que simula ambiente real. Os três primeiros colocados receberão um prêmio total de R$ 1 milhão, divididos dessa forma:  1° lugar ganhará R$ 500 mil; 2° lugar terá direito a R$ 300 mil; e o 3° lugar, premiação de R$ 200 mil.

Além dos prêmios em dinheiro, os três primeiros colocados receberão assessoramento técnico da ABDI para acessar o ecossistema de inovação brasileiro e internacional a fim de escalar os protótipos premiados.

Edital
As inscrições são gratuitas e estarão abertas a partir das 14h de hoje (2) até as 17h do dia 5 de maio no site www.abdi.com.br/bengalasinteligentes

Podem participar pessoas jurídicas de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos, e consórcios entre empresas, incluindo parcerias com instituições estrangeiras. Será aceita apenas uma proposta por CNPJ. É proibida a participação de pessoas físicas.

Ditadura de 1964 é tema de aula pública em praça onde havia quartel

Uma “aula pública” ao ar livre vai abordar “o golpe  civil-empresarial-militar ocorrido em 1º de abril de 1964”,  além de debater as violações de direitos humanos que marcaram os 21 anos de regime ditatorial no Brasil.

A atividade será realizada na Praça Raul Pilla, localizada no Centro Histórico de Porto Alegre/RS, um espaço emblemático e carregado de memória. Durante o período da ditadura, a área onde é praça abrigava o Quartel da 6ª Companhia da Polícia do Exército, onde ficavam presos políticos.

O evento ocorre dia 6 de abril, com início ás 9h30 e também celebra a restauração das placas do projeto “Marcas da Memória”, uma iniciativa do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

Uma dessas placas, que resgata a história e homenageia as vítimas do regime, está instalada na própria praça, reforçando a importância do local como um espaço de memória e conscientização.

Os convidados-palestrantes para esse evento são:

Jair Krischke – Fundador e Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos;
Solon Viola –Doutor em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor aposentado do Programa de Pós-graduação da Unisinos. Membro fundador da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos;
Anita Carneiro – Doutoranda em Ensino de História (Prof. de História/UFRGS), professora na Prefeitura Municipal de Gravataí (RS) e idealizadora do projeto Caminhos da Ditadura em Porto Alegre.

O evento é gratuito e aberto. Os organizadores recomenda levar “itens para poder sentar (cangas, cadeiras, etc.)”.  Em caso de chuva ou calor extremo, o evento será remarcado.

Preço dos medicamentos: reajuste médio é o menor desde 2018

Aumento máximo ficou em 5,06%, mas maior parte dos remédios sobe 2,6%
Os medicamentos terão o menor reajuste médio desde 2018, conforme a resolução da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), publicada nesta segunda-feira (31) no Diário Oficial da União.

Embora o teto de reajuste tenha ficado em 5,06%, equivalente à inflação oficial acumulada em 12 meses, esse percentual só incidirá sobre cerca de 7% dos remédios.

O aumento não é automático e depende de as empresas farmacêuticas enviarem o relatório de comercialização à CMED. Após essa fase, o reajuste, na prática, só é cobrado à medida que os estoques das farmácias forem repostos.

Como todos os anos, a resolução da Cmed divide os medicamentos em três níveis de reajuste, conforme o grau de concorrência. Os percentuais são os seguintes:

Nível 1: 5,06%;
Nível 2: 3,83%;
Nível 3: 2,6%.
Os remédios do nível 1, no entanto, só representam 7,8% do total de medicamentos. O nível 2 corresponde a 15%. O nível 3 representa 77,2%.

Ao considerar a série histórica, os percentuais de aumento para os remédios de nível 2 e 3 são os mais baixos desde 2018, quando o nível 2 ficou em 2,47% e o nível 3, em 2,09%. Em relação aos medicamentos de nível 1, o aumento de 5,06% é superior ao reajuste de 4,5% de 2024, mas inferior à alta de 5,6% em 2023.

Entenda o cálculo
O aumento nos preços de medicamento ocorre sempre em 31 de março de cada ano. A prática é regulamentada pela Lei 10.742/2003, que estabelece as diretrizes para a regulação de preços.

Para calcular o reajuste dos medicamentos, a Cmed considera primeiramente a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de março do ano anterior a fevereiro do ano atual. Para chegar aos três níveis de reajuste, o órgão pega o IPCA e considera os seguintes parâmetros:

subtração de um fator de produtividade (fator X);
acréscimo de fator de ajuste de preços relativos entre setores (fator Y);
acréscimo de fator de ajuste com base na concorrência dentro de um mesmo setor (fator Z), que mantém, reduz ou anula o desconto no fator X.
Divulgado todos os anos por meio de nota técnica, o fator de produtividade é estabelecido com base em projeções de ganhos de produtividade da indústria farmacêutica. Se houver previsão de queda no Índice de Produtividade do Trabalho do Setor Farmacêutico, o fator X deve ser igual a zero.

O fator Y representa custos de produção não medidos pelo IPCA, como tarifas de energia, variação cambial e preços de insumos. O fator Z corresponde a concorrência e custos não captados pelo IPCA específicos de um setor.

O percentual de reajuste de cada medicamento é calculado pegando o IPCA em 12 meses até fevereiro (5,06% em 2025), subtraindo o fator X e somando os fatores Y e Z. Caso o fator X fique em zero, o fator Z também será zero.

No fim de janeiro, a Cmed divulgou que houve ganho de produtividade de 2,459% de 2024 para 2025. No fim de fevereiro, o órgão informou que o fator Y ficou negativo em -0,70904 e, portanto, ficará em 0 para este ano.

Usado para classificar os medicamentos em níveis 1, 2 e 3, o nível Z é definido da seguinte forma:

Nível 1: medicamentos em mercados mais competitivos e sem desconto do Fator X;
Nível 2: medicamentos em mercados moderadamente concentrados, com desconto de 50% do Fator X;
Nível 3: medicamentos em mercados muito concentrados, com desconto integral do Fator X.

(Com Agência Brasil)

Fintech reúne securitizadoras, fintechs e gestores de recebíveis em Porto Alegre

A fintech AmFi, que no final de 2024 atingiu a marca de US$ 610 milhões de ativos financeiros tokenizados, realiza no dia 1 de abril, o primeiro evento da Rota AmFi, iniciativa que vai percorrer 9 cidades no Brasil para mostrar como o uso de novas tecnologias está revolucionando o mercado ao dar aos originadores maior acesso a capital.

“O mercado de recebíveis de crédito passará de R$ 570 bilhões para R$ 1 trilhão em dois anos. Para aproveitar esse ótimo momento, estamos em busca de novos parceiros em todo o Brasil. Por isso, vamos realizar a Rota AmFi, uma série de encontros em 10 cidades e Porto Alegre será a primeira delas, no dia 1º de abril. O Rio Grande do Sul é uma das maiores economias do país, com muitas empresas que podem finalmente entrar no mercado de capitais digitais porque as condições são mais acessíveis”, explica Paulo David, CEO da AmFi e cofundador da fintech com João Pirola, Artur Malabarba e Rodrigo Souza.

Entre os palestrantes estão Márcio Schettini, referência do mercado de capitais e CEO da Coruja Capital; Fred Renner, Sócio Fundador do Tijolo Hub Luiz Staub, Chairman Fundo Amanhã, Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira; ; Guilherme Previdi, CEO do Grupo Baru , Marcio Aguilar, Presidente do SINFAC RS,  Magno Neto, CEO da SPC Grafeno, Juliano Bacelo, CEO da Nexo Consultoria, além de Paulo Davi.

Os interessados podem solicitar a participação na Rota AmFi acessando o site https://pages.amfi.finance/rotaamfi.

Sobre a AmFi

A AmFi é uma fintech que está transformando o mercado brasileiro de capitais com sua plataforma proprietária de gerenciamento de recebíveis, utilizando a blockchain como tecnologia principal. Foi criada em 2022 por Paulo David, Artur Malabarba e João Pirola, que também fundaram a Grafeno e Biva, que mudaram o mercado financeiro do país. A AmFi foi a primeira a ter autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para oferta pública de ativos tokenizados. Desde então, ofereceu mais de R$ 610 milhões. Opera com mais de 70 parceiros entre fintechs, securitizadoras e gestores de recebíveis que se beneficiam da redução de até 70% do tempo de acesso ao mercado de capitais e de até 40% dos custos para estruturação de uma operação. Para os investidores, oferece produtos com rentabilidade e gestão de risco superiores aos do mercado tradicional.