Reitora Márcia Barbosa: “A universidade não pode parar”

Em entrevista ao JÁ, a reitora da UFRGS, Márcia Barbosa, comenta a crise financeira das universidades públicas federais e fala sobre seu projeto para mobilizar a sociedade em defesa da instituição.

A reitora também anunciou a busca de recursos para a criação do  Centro de Gestão de Risco Climático e Ambiental, no campus de Tramandaí. Mais uma razão para o orçamento da UFRGS não sofrer cortes.

Por Márcia Turcato

A reitora Márcia Babora tem muitos planos e não os tem sozinha, conta com uma equipe dedicada e o engajamento daqueles que a elegeram.

A principal pauta nesse momento é resgatar o orçamento da universidade para permitir que ela continue minimamente funcionando. E isso significa honrar as bolsas de estudo, pagar os serviços terceirizados e garantir  as refeições dos restaurantes terceirizados, os RU. Até sexta-feira, dia seis de junho, a UFRGS precisa receber R$ 22 milhões para não colapsar.

Em 139 anos de ensino superior público no Rio Grande do Sul, a física e pesquisadora Márcia Barbosa, é a segunda mulher a ser reitora.

No estado gaúcho, o ensino superior público iniciou com a criação da Escola de Engenharia em 1896, seguida pela Faculdade de Medicina, em 1898, que foram incorporadas à UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1934, ano da sua criação. Somente na virada do século a universidade teve uma reitora, foi Wrana Maria Panizzi, com mandado de 1996 e 2004. Ela era professora da Faculdade de Arquitetura.

As universidades federais vivem um dilema. A maioria sofreu corte de verba e assédio moral durante o governo de Jair Bolsonaro.

Com a posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva, as universidades federais, como é o caso da UFRGS, imaginaram que teriam uma experiência mais respeitosa. Mas isso não aconteceu porque o Congresso Nacional tornou-se um obstáculo concreto.

Em março deste ano, os congressistas vetaram o orçamento das universidades federais e impuseram um corte que, para a UFRGS chegou à soma de R$ 8,5 milhões.

Na sequência, sob o tensionamento de corte nos gastos públicos, o Executivo estabeleceu um repasse de verbas em apenas três parcelas, a primeira em maio, a segunda entre junho e novembro e a última em dezembro, enquanto os compromissos da universidade são mensais. A manobra do Congresso fez com que o Executivo emitisse o Decreto n.° 12.488, dispondo sobre a programação orçamentária e financeira das universidades.

No caso da UFRGS, de acordo com o Portal da Transparência e antes da publicação do decreto, o orçamento previsto para 2025 era de R$ 2,40 bilhões, com aportes mensais.

“O Congresso obriga o governo a fazer o corte para depois oferecer migalhas via emenda parlamentar”, avalia a reitora. Pode até haver quem considere bom negociar individualmente a emenda parlamentar para colocar o recurso em uma iniciativa do seu interesse. “Mas isso não é política pública, isso não é um projeto de ensino”, argumenta Márcia Barbosa, que é membro das Academias Brasileira e Mundial de Ciências.

Após idas e vindas da reitora  e outros representantes de universidades ao MEC- Ministério da Educação, para negociar o cancelamento do repasse escalonado e a recomposição do orçamento, no dia 27 de maio o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que o governo federal fará a recomposição de R$ 400 milhões no orçamento de 2025 das universidades e institutos federais, além da  liberação de R$ 400 milhões que estavam retidos.

O ministro não explicou de qual rubrica o recurso será remanejado. Mas, o certo é que alguém sairá perdendo. Ao anunciar o recuo, o ministro Camilo Santana também atribuiu as dificuldades do atual contexto orçamentário ao aumento do número de matrículas e à crescente demanda por assistência estudantil. Mas não fez nenhuma crítica à ação dos parlamentares.

O recuo do governo foi resultado direto da pressão de estudantes e servidores das federais, além do alerta feito pelos docentes e reitores para os riscos do arrocho no orçamento das universidades. “Foi uma vitória principalmente do movimento de educação pública, da Andifes- Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, da UNE- União Nacional dos Estudantes, para que o governo voltasse e buscasse alternativas”, avalia Márcia Barbosa.

Para a reitora, de fato o  governo fez alguns anúncios importantes. “O mais urgente foi a retirada do limite mensal de 1/18 do orçamento, voltando para 1/12, a segunda questão foi a recomposição dos cortes efetuados pelo Congresso Nacional, que, no caso das universidades, representa aproximadamente R$ 250 milhões”.

No entanto, Márcia Barbosa destaca que o MEC está muito focado no ensino médio, com a bolsa Pé de Meia, e na campanha midiática para que os estudantes façam a inscrição  no ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio. “Mas é a universidade que faz o sucesso do Brasil”, afirma a reitora.

Campanha em defesa da UFRGS

A realização de uma grande campanha de mobilização social para mostrar a importância da universidade na vida das pessoas e do país é o grande sonho da reitora Márcia Barbosa. “O governo deveria mostrar jovens graduados trabalhando nas suas áreas de formação e apoiando financeiramente suas famílias, além de gerar riqueza para o Brasil”.

“Precisamos de uma campanha que mostre isso, precisamos que a comunidade de 50 mil pessoas da UFRGS, mais uns 150 mil contando com seus familiares, percebam sua própria importância e o poder que têm com o voto. Os parlamentares também deveriam perceber o poder que temos”, diz a reitora. No Brasil, as universidades públicas são responsáveis por cerca de 30% das formações. E ela já escolheu um nome provocativo para a campanha; “A universidade é foda”.

“Algumas pessoas não gostaram quando eu sugeri esse nome em uma reunião interna, mas mantenho a proposta”, diz. E completa, “a universidade não sabe se comunicar, temos de mostrar a riqueza que existe aqui. O primeiro passo dessa estratégia será dado em breve, com a ampliação das atividades de extensão, para trazer a comunidade para dentro do espaço universitário.

Enchente e inovação

Um ano após a enchente, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) viajaram para a Holanda em busca de soluções tecnológicas para impedir novas inundações, desconsiderando os recursos já existentes na comunidade acadêmica, como o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS.

“Os gestores são imediatistas, querem contratar uma solução pronta, sem debate público, sem troca de ideias, sem ouvir a comunidade, mas a UFRGS já teve uma audiência com o prefeito e ofereceu sua expertise”, esclarece a reitora, “mas ainda não fomos convidados a fazer parte da Sala de Situação*”.

A universidade está desenvolvendo um projeto para trabalhar com professores da educação básica para integrar temas como mudanças climáticas e meio ambiente em todas as disciplinas, e não apenas como uma matéria isolada. A ideia é formar crianças e jovens para, com eles, desenhar um novo modo de viver.

Além disso, a universidade conta hoje com projetos como o Observatório das Consequências Jurídicas das Enchentes e Inundações (OCJE), que realiza estudos técnicos especializados e consultorias para entidades públicas e privadas sobre temas jurídicos ligados aos efeitos sociais das cheias porque existe um componente de racismo ambiental na catástrofe climática.

“O que isso significa?”, pergunta a própria reitora, e responde: “significa que se você já vive em uma área de risco, será mais impactado. Você será o último a voltar para casa. Mesmo que receba dinheiro para reconstruir, terá menos condições”. Muitas vezes, na reconstrução, tudo é feito igual ao que era antes, o que perpetua a fragilidade das pessoas e das estruturas.

A UFRGS lançou nesta quinta-feira, 5 de junho, um Protocolo para Eventos Meteorológicos. Ele estabelece procedimentos a partir do alerta emitido pela Defesa Civil, passando pelo Comitê Climático, para definir  níveis de como a universidade irá atuar. O nível verde indica atividades mantidas, o amarelo permite que a UFRGS fique aberta mas flexibiliza algumas atividades e o vermelho determina que todas as atividades da universidade sejam suspensas. A estratégia será construída para todo o estado a partir dos diversos campus da UFRGS (centro, vale, saúde, esefid e litoral), usando dados meteorológicos.

Para fortalecer sua capacidade de monitorar eventos climáticos, a UFRGS já apresentou um projeto à Finep- Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com custo estimado de R$ 10 milhões, para a construção do Centro de Gestão de Risco Climático e Ambiental, que será abrigado no Ceclimar-  Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos, no campus da UFRGS em Tramandaí.

*A sala de situação é um espaço, físico ou virtual, que serve como centro de comando para monitorar, analisar e responder a eventos críticos e inesperados em tempo real. É utilizada em diversas áreas, como saúde, segurança pública, defesa civil e gestão de crise, para reunir equipes multidisciplinares e auxiliar na tomada de decisões.

BOX

Emenda parlamentar não é política pública

A reitora Márcia Barbosa, que já foi secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), na entrevista ao JÁ também comentou sobre os convênios financiados via emenda parlamentar individual do MCTI no período de 2010 a 2019. Trata-se de um estudo da reitora, em fase de revisão para publicação em revista científica. O estudo mapeou os convênios firmados e analisou as destinações dos recursos enviados para regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste, que possui maior maturidade tecnológica.

Apesar de reconhecer que as emendas são instrumentos importantes, a reitora salienta que elas não são políticas públicas, políticas de Estado. A avaliação e o monitoramento constante da implementação das políticas públicas são fundamentais no processo decisório institucional, porque produzem informações para o aprimoramento das ações governamentais.

A emenda parlamentar, entretanto, é um instrumento que permite aos deputados e senadores realizarem alterações no orçamento anual. As emendas individuais impositivas apresentadas ao projeto de lei orçamentária anual (PLOA) podem destinar recursos a órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consórcio público, organização da sociedade civil ou serviço social autônomo. Elas são chamadas impositivas porque a União é obrigada a executá-las quando aprovadas.

A reitora revela que “um ponto relevante a ser destacado é que as emendas parlamentares individuais utilizadas para financiar os projetos na área de ciência, tecnologia e inovação são destinadas a projetos de baixo nível de prontidão tecnológica e que não se observa o progresso dos projetos apoiados”. Esse é o risco do orçamento da União ser compartilhado por um Congresso que não está alinhado às políticas de Estado.

Por que não interessa à imprensa o intercâmbio cultural entre os países do BRICS?

Ministros da Cultura dos países que formam o BRICS estiveram reunidos quinta e sexta feira da semana passada em Brasilia para discutir intercâmbio e projetos conjuntos.

Não houve interesse da imprensa. Nenhum dos grandes “jornais” do país sequer registrou o encontro.

A formação desse grupo de “paises emergentes”, como eles próprios se autodefinem, é o maior acontecimento geopolítico do século 21.

O grupo começou com quatro países – Brasil, Russia, India e China – e foi batizado BRIC em 2001 pelo economista britânico Jim O’Neill num artigo para investidores.

O “apelido” pegou e ganhou um “S” com a adesão de novos integrantes.

Hoje são 11 países* membros e nove “parceiros” (potenciais integrantes) que propõem uma reforma da governança econômica e financeira internacional, “de modo a refletir o aumento do peso relativo dos países emergentes na economia mundial”.

No conjunto, eles representam uma populaçâo de 4,6 bilhões de pessoas, mais de metade da população do planeta terra e a soma de seus PIBs chega a 40% de economia mundial (o G7, por exemplo, dos sete mais ricos do mundo tem 28%).

No ano passado, o crescimento médio do PIB dos Brics foi de 4% enquanto a média mundial cresceu de 3,3%. O PIB dos sete mais ricos cresceu, na média, 1,7%).

Em 1º de janeiro o Brasil assumiu a presidência do BRICS e será a sede  da “Cúpula de Chefes de Estado” programada para julho, no Rio de Janeiro.

Estão previstas mais de 100 reuniões ministeriais e técnicas, que deverão ocorrer entre fevereiro e julho de 2025, em Brasília, em preparação para a Cúpula dos Chefes de Estado.

Na reunião com os ministros da cultura em Brasilia, foram abordadas as prioridades do Grupo de Trabalho de Cultura: Cultura e Economia Criativa, Direitos Autorais e Inteligência Artificial; Cultura, Mudança do Clima e Agenda de Desenvolvimento Pós-2030; Retorno de Bens Culturais; Festivais e Alianças do BRICS.

Por quê o desinteresse?

*Integrantes do BRICS e a população de cada um

Brasil: 215 milhões
Rússia: 145 milhões
Índia: 1,417 bilhão
China: 1,426 bilhão
África do Sul: 60 milhões
Arábia Saudita: 38 milhões
Egito: 114 milhões
Emirados Árabes Unidos: 10 milhões
Etiópia: 125 milhões
Indonésia: 278 milhões
Irã: 87 milhões

Gasto per capita em saúde no Rio Grande do Sul é 30% menor do que em Santa Catarina

Em audiência pública na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, o secretário municipal Fernando Ritter comparou os recursos destinados à saúde pelos governos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. “Praticamente o mesmo valor, em números absolutos”, disse ele.

Conforme o orçamento de 2025, os dois estados vizinhos vão aplicar em saúde pouco mais de R$ 7 bilhões cada um.

A diferença é que Santa Catarina tem pouco mais de 8 milhões de habitantes, enquanto o Rio Grande do Sul tem uma população de mais de 11 milhões.

Além disso, com um orçamento na casa dos R$ 85 bilhões o Rio Grande destina 9% à saúde (3% a menos do que o mínimo constitucional, conforme reconhece o próprio Tribunal de Contas do Estado), enquanto Santa Catarina, com orçamento de R$ 56 bilhões aplica 14,2% em saúde*.

Significa que o gasto per capita na saúde dos catarinenses é de 750 reais por habitante, enquanto no Rio Grande do Sul é de  545 reais para cada gaúcho, uma diferença de quase 30%.

*Dados da Lei Orçamentária Anual para 2025

 

 

 

 

Gripe aviária: Secretaria desativa barreiras sanitárias mas mantém vigilância na região

A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul  desativou três das sete barreiras sanitárias instaladas contra a  gripe aviária.

Um foco da doença detectado numa granja em Montenegro levou à suspensão das exportações de franco do Brasil para mais de 100 países.  Sete barreiras sanitárias foram instaladas na região.

Na sexta-feira, 23, os técnicos deram por concluída a primeira etapa de vistorias nas propriedades rurais, em um raio de dez quilômetros a partir do foco em Montenegro. Não houve registro de novos casos.

A vigilância, porém, permanece. Funcionando 24 horas, ficarão instaladas as duas barreiras de desinfecção em um raio de três quilômetros nas estradas vicinais, além da estrutura na RS-124.

A barreira de bloqueio ao foco também segue posicionada. Até o momento, 2.805 veículos já foram abordados e desinfetados.

Na quinta-feira (22/5), a equipe do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal manteve as atividades de educação sanitária nos municípios da região.

Houve ações em 32 escolas municipais e estaduais, além de reuniões com gestores de escolas e agentes de saúde e agentes de endemias.

Sobre a gripe aviária

A influenza aviária, ou gripe aviária, é uma doença viral que afeta principalmente aves, mas que também pode infectar mamíferos, inclusive o ser humano. A transmissão ocorre pelo contato com aves doentes e por meio da água e de materiais contaminados.

O Serviço Veterinário Oficial do Rio Grande do Sul reforça que o consumo de carne de aves e ovos armazenados em casa ou adquiridos em pontos de venda é seguro, já que a doença não é transmitida por meio do consumo. Assim, não há qualquer restrição nesse sentido.

Todas as suspeitas da doença – sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves – devem ser notificadas imediatamente à Seapi, por meio da Inspetoria ou Escritório de Defesa Agropecuária, pelo sistema e-Sisbravet ou pelo WhatsApp (51) 98445-2033.

Balanço até quinta-feira (22/5)

Sete barreiras sanitárias
Área de foco (três quilômetros): um bloqueio e duas barreiras sanitárias
Área de vigilância (dez quilômetros): quatro barreiras sanitárias
2.805 veículos abordados e desinfetados (acumulado)
Propriedades visitadas

540 propriedades e uma granja
Área de foco (três quilômetros): 30 propriedades de subsistência (conclusão do segundo ciclo)
Área de vigilância (dez quilômetros): 510 propriedades de subsistência e uma granja de recria de aves (encerramento do primeiro ciclo)
Equipes envolvidas

Servidores da Secretaria da Agricultura: 85, entre fiscais estaduais agropecuários, técnicos agrícolas e outros
Servidores do Ministério: cinco
Servidores da Prefeitura de Montenegro: cinco
Servidores da Brigada Militar: 50
Servidores do Corpo de Bombeiros: cinco

(Com informações da Assessoria de Imprensa)

Fraudes no INSS: R$ 292 milhões descontados depois do bloqueio serão devolvidos até 6 de junho

O INSS devolve a partir desta segunda-feira, 26, os primeiros R$ 292 milhões descontados indevidamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas.

O valor corresponde aos descontos feitos em abril, quando já estavam bloqueados os pagamentos a associações e sindicatos, mas não foi possível excluí-los da folha que já estava pronta. O calendário de pagamentos vai até 6 junho.

O total a ser devolvido pode superar os R$ 6 bilhões.

Cerca de 4 milhões milhões de aposentados e pensionistas  foram lesados pelo esquema fraudulento que operava com ramificações dentro do INSS desde 2019, pelo menos.

O restante a ser devolvido depende de manifestação do aposentado ou pensionista pelo site Meu INSS ou pelo telefone 135.

Depois disso, o INSS afirma que “vai acionar a entidade para que comprove a autorização. Caso não haja comprovação, a entidade deverá devolver os recursos ao Instituto, que posteriormente fará o repasse ao beneficiário.

A devolução será feita pelo mesmo meio que o INSS faz os pagamentos regulares – seja conta bancária ou cartão magnético.

 

Entrevista com Félix Rígoli: Os riscos de informar o CPF nas farmácias

“Nossos dados são o novo sangue das pessoas e o novo combustível das empresas”.
Quem afirma é o médico Félix Rígoli, ex-gerente de Sistemas de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),  e especialista sênior em Sistemas de Saúde do Instituto Sul-americano de Governo em
Saúde (ISAGS) da União de Nações Sul-americanas (Unasaul) em 2017 e 2018.
Para esse especialista, natural do Uruguai e hoje cidadão do mundo, é muito possível que as pessoas sejam dispensadas numa entrevista de emprego depois do recrutador avaliar seus dados de saúde, disponíveis ilegalmente para comercialização em painéis
de dados. “O empregador acessa nosso consumo de medicamentos, ou nosso hemograma, e pode entender que nosso risco de adoecimento é elevado para sermos
contratados”.
Félix Rígoli, que atualmente coordena o Observatório de Desenvolvimento, Desigualdades em Saúde e Inteligência Artificial (Odisseia), do Núcleo de Bioética e Diplomacia (NETHIS) da Fiocruz/Brasília, e o Centro de Direito da Saúde (CEPEDISA), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, conversou com a reportagem do JÁ sobre os riscos de nossos dados, como o CPF, e também os biométricos, ficarem disponíveis em vários ambientes, como em farmácias, por exemplo, sem que haja razão legal para isso.
– No Brasil, milhões de aposentados sofreram descontos direto em seus extratos, sem autorização. O risco do vazamento de dados e/ou o uso indevido dessas informações é um fenômeno global?
– Sim. Nos Estados Unidos, uma rede de lojas coletava os dados das mulheres e classificava aquelas que tinham perspectivas de engravidar com o objetivo de enviar
propaganda de fraldas e mamadeiras. Atualmente, essa mesma base de dados está sendo usada pela polícia dos estados onde o aborto é criminalizado para classificar e
ameaçar as mulheres que possam estar cogitando interromper a gravidez. No Brasil, as farmácias pedem o CPF para, supostamente, fazer o cadastro do cliente para que ele obtenha descontos em medicamentos. Saiba que da próxima vez que você for à farmácia e cadastrar o CPF, pode estar ajudando na perda do seu emprego ou do seu plano de saúde. Penso que as farmácias também vendem estatísticas de mercado para a indústria farmacêutica para que elaborem estratégias de marketing. Esses dados também podem servir para os planos de saúde.

– Algum país possui um sistema seguro de proteção de dados para evitar fraudes?
– Os executivos das Big Techs têm comentado muito em reuniões fechadas como é fácil obter os dados das pessoas. Muitas vezes elas fornecem as informações
voluntariamente ou em troca de nada, ou de quase nada, colocam na rede milhões de dados pessoais.
O Facebook coleta 52 mil pontos de dados de cada indivíduo, todos colocados voluntariamente no interesse de publicar a cada instante. O Instagram multiplica por
dez essa exposição, mostrando lugares, acompanhantes, uso de produtos e outras coisas. Infelizmente, não há uma norma que possa proteger as pessoas de suas próprias condutas. Por isso criar consciência é tão importante.
– Todos os países do Ocidente têm sistema de saúde semelhante que pede os dados do cidadão para acesso ao atendimento?
Resposta- É muito comum, e deveria ser bom, já que permite que os prestadores de serviços conheçam os antecedentes pessoais do paciente, que é um importante
componente do diagnóstico. O que está acontecendo aceleradamente é que os hospitais não controlam – ou utilizam com outros fins – os dados dos pacientes. Por
exemplo, os planos de saúde geram com os dados clínicos ‘grupos de alto uso de serviços’ que são candidatos à rescisão do contrato. Outros alimentam sistemas de
Inteligência Artificial que ‘escreve’ automaticamente negativas de autorização de procedimentos.

Dados vazados
É possível verificar se nossos dados foram vazados na internet. Alguns sites fazem esse trabalho, como o Have I Been Pwned, que busca por seu e-mail em bancos de
dados de vazamentos, e o DataBreach.com, que vasculha a dark web para encontrar os dados. O Banco Central também oferece ferramentas para verificar movimentações bancárias e identificar possíveis fraudes.

Alguns sites para verificar vazamentos:
Have I Been Pwned?
Digite seu e-mail ou número de telefone para saber se já ocorreu algum vazamento de dados.
DataBreach.com
O site vasculha a dark web e informa se seus dados (como e-mail, senha, nome etc) já foram encontrados em vazamentos.

Banco Centralhttps://www.bcb.gov.br/meubc/registrato

Para verificar movimentações bancárias e identificar possíveis fraudes, utilize o Registrato do Banco Central.

Kaspersky
O aplicativo Kaspersky também tem um verificador de dados vazados.

Pesquise seu e-mail no Google
Digite seu e-mail entre aspas no Google para ver se ele aparece em sites ou fóruns que não deveriam ter acesso aos seus dados.
*A autora da entrevista realizou a pesquisa em dois destes sites e descobriu que houve vazamento de seus dados pessoais. (Márcia Turcato)

Fraudes no INSS: Compartilhamento ilegal de dados pessoais envolve até farmácias

Márcia Turcato
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) também é protagonista na investigação sobre as fraudes ocorridas no INSS, com milhões de aposentados vítimas de descontos não autorizados, na medida que envolvem  compartilhamento ilegais de dados.

Já em 2022, instaurou processo  para apurar como ocorreu o compartilhamento de dados não autorizados entre instituições financeiras e intermediários (associações ou agentes bancários)  que resultaram em descontos indevidos na folha de pagamentos do INSS.

Só do INSS, a fiscalização da ANPD já recebeu 62 requerimentos relacionados, dos  quais 8 são do ano de 2025. Há duas fraudes distintas em investigação no INSS: a dos descontos sem autorização para sindicatos ou associações e a dos empréstimos consignados feitos em nome da pessoa sem ela saber. Em ambas o compartilhamento ilegal de dados está presente.

A ANPD também monitora farmácias, bancos e plataformas de redes sociais por compartilhamento não autorizado dos dados dos consumidores.

Os bancos Itaú, Bradesco e Santander, por exemplo, estão na lista. A respeito dos bancos, a ANPD constatou o “tratamento de dados pessoais com compartilhamento para oferta de empréstimos consignados não solicitados pelo consumidor”.

No entanto, a Autoridade Nacional não tem poder de polícia, ela fiscaliza e encaminha as recomendações para os órgãos competentes.

Também foi confirmada “ausência de comunicação de incidente de segurança aos titulares e não atendimento da medida preventiva adotada pela ANPD”, processo número 002610018/21, que inclui farmácias, como a Raia Drogasil S. A. “por coleta de dados
biométricos, informações complementares e tratamento de dados para finalidade não informada”.

O mesmo aconteceu em relação ao WhatsApp, “compartilhamento de dados com as empresas do Grupo Meta/Facebook” para monetização de informações.
No caso da Raia Drogasil, que armazenava por até quinze anos dados sobre tudo o que cada
cliente comprava, foi constatado que a empresa vendia as informações para anunciantes, a partir do número do CPF fornecido pelo consumidor para, supostamente, obter descontos em suas compras.

Na prática, era possível direcionar anúncios digitais no Google, Meta,  YouTube e TikTok para quem comprou um determinado medicamento. O processo foi concluído em 2023 e a empresa recebeu um auto de infração.

Os dados também são compartilhados com operadoras de saúde e operadoras de telefonia que depois entram em
cena para assediar o consumidor com ligações telefônicas sem fim.

A ANPD recebe, em média, 300 comunicados de incidentes de segurança (CIS) por ano. A
título de exemplo, o Information Commissioner’s Office (ICO), do Reino Unido, recebe mais de duas mil comunicações de incidentes de segurança por trimestre. Ainda que a comparação se limite aos incidentes cibernéticos. Em 2020, a Commission Nationale de l’Informatique et des Libertés, da França, informou ter recebido 2.825 comunicações de incidentes de segurança.

Levantamento amostral realizado em julho de 2022 pela ANPD apontou a prevalência de incidentes de sequestro de dados (ransomware) provocados por falhas de segurança em sistemas de informação que permitiram a violação do sigilo de dados pessoais.

Em relação à atividade econômica dos agentes que comunicaram incidentes à ANPD, destacam-se a
administração pública e os setores de saúde, educação, financeiro e de tecnologia da informação.
Criação da ANPD
O nome da ANPD ainda não apareceu nas reportagens divulgadas nos grandes veículos de comunicação. E poucos sabem que ela existe. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) foi formalizada no dia 26 de agosto de 2022 pelo Decreto N 10.474, quando foi
aprovada sua estrutura administrativa e de cargos e faz parte da Presidência da República.
A Autoridade Nacional é resultado da Lei Geral de Proteção de Dados- LGPD (N 13.709/2018), aprovada pelo Congresso Nacional com a finalidade de proteger os dados pessoais dos indivíduos e estabelecer regras para o seu compartilhamento e armazenamento, e entrou em vigor em 2020.

O projeto de lei tramitou na Câmara dos
Deputados a partir de proposta do então deputado paulista Milton Monti, em 2012.

Eleito pelo PL, terminou o mandato filiado ao PSD. Na esteira da proposta de Monti, outros projetos foram apresentados, inclusive pelo Executivo.

Em maio de 2015, a então presidenta Dilma Rousseff encaminhou ao Congresso, em regime de urgência, o anteprojeto de lei sobre a LGPD (PL 5276/16).

Com o golpe contra a presidenta, que culminou com o seu impeachment e a posse do vice, Michel Temer, o
pedido de urgência foi retirado e o projeto tramitou formalmente na Câmara apensado a
outras propostas semelhantes.

A lei sofreu um veto de Temer, que impediu naquele ano a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, órgão de fiscalização e controle, o que viria a acontecer por Medida Provisória em dezembro de 2018.
Direito na Constituição
Em 2019, por iniciativa do deputado Orlando Silva (PCdoB/SP), o direito a proteção de dados
passou a fazer parte da Constituição com a aprovação pelo Congresso Nacional, no dia 10 de fevereiro de 2022, da Emenda Constitucional 115, que eleva a proteção de dados pessoais à condição de direito fundamental assegurada pela Carta Magna, e fixa a competência
privativa da União para legislar sobre o tema.
A emenda é originária da PEC17 /2019 , que teve o deputado Silva como relator e foi aprovada com amplo apoio de congressistas de diversos campos políticos. A partir de então, a garantia de proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais, é prevista
expressamente no inciso 79 do artigo 5º da Constituição.
O deputado destaca que “esse arcabouço jurídico ganhou maior densidade com aprovação da LGPD, que tive o desafio de relatar. A LGPD estipula obrigações quanto ao acesso e tratamento de dados de forma a resguardar a privacidade dos usuários, e cria a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados, a agência reguladora do setor”.

Relatório da ANPD:
https://www.gov.br/anpd/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-
programas/governanca/governanca-estrategica/2023-11-07-relatorio-do-ciclo-de-
monitoramento-2023-versao-final.pdf
Saiba mais:
https://www.gov.br/anpd/pt-br/assuntos/fiscalizacao-2/saiba-
como_fisalizamos?_authenticator=b05dbbec15247ce4c8b7065d588ef945f6d4d340

BOX
Mega vazamento de dados
Em janeiro de 2021 os brasileiros foram vítimas do que se convencionou chamar de mega vazamento de dados, foram 223 milhões de informações jogadas nas redes. Número maior do que o da população do Brasil, de 221 milhões de pessoas.

Isso aconteceu porque o CPF de pessoas mortas também foi divulgado. Foram dois tipos de vazamento. Um deles incluia também nome, sexo, data de nascimento, registro de CNPJ e até informações sobre veículos. O outro vazamento continha dados sobre escolaridade,
benefícios do INSS e de programas sociais, como o Bolsa Família, endereço residencial, declaração de imposto de renda, número de telefone, informações do Linkedin e sobre servidores públicos e renda pessoal. Os dados foram comercializados em um fórum on-line e ficaram disponíveis por um longo período.

Somente em março de 2021, quase três meses após o vazamento, a Polícia Federal prendeu os principais suspeitos de quebrar a segurança da rede de internet.

Os dois presos são Marcos Roberto Correia da Silva, conhecido como Vandathegod, e Yuri Batista Novaes, o JustBR. Outro suspeito, Marcos Roberto Correia da Silva foi denunciado por invasão dos sistemas do Senado Federal. Este último também expôs informações relacionadas ao primeiro turno das eleições municipais de 2020.
Além do comércio de dados realizado entre instituições, o vazamento de informações feito por criminosos permitiu as fraudes que infestam nossos e-mails, aplicativos de celular e mensagens telefônicas. É assim que recebemos multas inexistentes de veículos, cobranças falsas de impostos, comunicados do correio sobre encomendas não solicitadas

Fraudes no INSS: 12 entidades formam o “núcleo do esquema criminoso”; veja a lista

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens de 12 entidades sindicais e associativas acusadas de fraudes no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

A lista das entidades e os valores resultam de levantamento feito pelo próprio INSS, para apurar a extensão dos prejuízos causados por descontos ilegais na folha de aposentados e pensionistas.

A conclusão é de que as 12 bloqueadas formam “o núcleo do esquema criminoso” que usava a estrutura do INSS para lesar seus beneficiários.

“Pesam sobre as entidades rés fortes indícios de terem sido criadas com o único propósito de praticar a fraude (entidade de fachada), com sua constituição utilizando “laranjas”, bem como terem fortes indícios de pagamento de vantagem indevida a agentes públicos para autorizarem os descontos indevidos”, aponta a AGU.

São elas:

-Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC) – R$ 231,3 milhões
-Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN) – R$ 178,6 milhões
-União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (UNASPUB) – R$ 141,5 milhões
-Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA) – R$ 132,8 milhões
-Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (CEBAP) – R$ 131,6 milhões
-Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas (CAAP) – R$ 127,9 milhões
-Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social (AAPPS UNIVERSO) – R$ 81,7 milhões
-Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas (APDAP PREV) – R$ 76,8 milhões
-Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB) – R$ 64,6 milhões
-Associação no Brasil de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (AP BRASIL) – R$ 37,5 milhões
-Associação Brasileira dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (ASBRAPI) – menos de R$ 15 milhões
-Associação de Suporte Assistencial e Beneficente para Aposentados Servidores e Pensionistas do Brasil (ASABASP) – menos de R$ 15 milhões.

Foram também bloqueados os passaportes dos dirigentes identificados. O levantamento é preliminar, uma vez que as investigações continuam em andamento.

China realizará primeira olimpíada de robôs humanóides em agosto

Beijing, 8 mai (Xinhua) — A China sediará a Conferência Mundial de Robôs 2025 e os inaugurais Jogos Mundiais de Robôs Humanoides  em agosto, de acordo com uma coletiva de imprensa na quarta-feira, 7/5.

A conferência (WRC) acontecerá de 8 a 12 de agosto, seguida pelos Jogos MUndiais (WHRC) de 15 a 17 de agosto, apresentando avanços de ponta em robótica e promovendo a colaboração global da indústria.

A WRC 2025 contará com fóruns, exposições, competições e eventos de networking, com cerca de 200 empresas de robótica apresentando suas últimas inovações, de acordo com os organizadores.

Chen Ying, vice-presidente e secretário-geral do Instituto Chinês de Eletrônica, destacou o envolvimento global expandido do evento, com mais de 30 organizações internacionais, mais de 30 especialistas globais renomados e mais de 100 equipes internacionais esperadas para participar. Os expositores internacionais representarão mais de 20% do total.

Os principais eventos dos WHRG, a primeira competição multiesportiva do mundo para robôs humanoides, testarão as habilidades atléticas e funcionais dos robôs no atletismo, futebol, dança, manuseio de materiais e separação de medicamentos.

Eventos periféricos como badminton, tênis de mesa e basquete enfatizarão o entretenimento e a interação com o público.

“Os jogos demonstrarão o quão perto os robôs estão de alcançar capacidades semelhantes às humanas”, disse Jiang Guangzhi, diretor do Departamento Municipal de Economia e Tecnologia da Informação de Beijing.

O avanço da China nesta área está chamando atenção cada vez maior.

Dias depois de Beijing sediar a primeira meia maratona do mundo com humanos e robôs correndo lado a lado, a cidade de Wuxi, na Província de Jiangsu, no leste da China, realizou recentemente os primeiros jogos esportivos do país para robôs equipados com IA.

“A maioria dos robôs não é projetada para esportes, mas sim para cenários industriais ou cotidianos”, disse Guo Dahong, vice-gerente-geral da divisão de robôs humanoides da Miracle Automation Engineering.

De acordo com o organizador, o Instituto Chinês de Eletrônica, o evento atraiu mais de 100 equipes de pesquisa e empresas para apresentar mais de 150 competidores robóticos diversos.

“Por meio da corrida ou de outros desafios atléticos, podemos testar a estabilidade estrutural dos robôs e refinar suas capacidades semelhantes à humanidade”, disse Guo, observando que o objetivo final é garantir que os robôs possam se integrar perfeitamente aos ambientes humanos para assumir tarefas repetitivas, perigosas ou fisicamente exigentes.

“Com o progresso do grande modelo, a iteração da tecnologia será cada vez mais rápida, o que pode permitir que os robôs humanoides entrem primeiro nas fábricas, depois nos parques industriais e, posteriormente, na família”, segundo engenheiros da empresa LuwuDynamics.

De acordo com o Instituto Chinês de Eletrônica, os robôs humanoides podem revolucionar quase 20 campos, incluindo a fabricação automotiva, serviços domésticos, aeroespaço e resposta a emergências.

Os robôs poderão ser usados para soldagem, patrulhas de segurança, combate a incêndios e até mesmo exploração espacial.

Guo espera que a manufatura industrial, na qual os robôs podem ser personalizados para tarefas de precisão, seja o primeiro campo a ver a adoção em larga escala de robôs humanoides.

Ele também prevê sua futura expansão para os setores de serviços, embora reconhecendo que o mercado ainda está em sua infância.

Um relatório recente do setor prevê que o mercado de robôs humanoides da China atingirá 8,24 bilhões de yuans (US$ 1,14 bilhão) até o final de 2025, respondendo pela metade da participação no mercado global. Até 2030, o mercado poderá disparar para cerca de 870 bilhões de yuans.

A positiva perspectiva está estreitamente relacionada com a completa cadeia de suprimentos da China. Thomas Anderson, fundador da STIQ, acompanhou de perto 49 empresas em todo o mundo que desenvolvem robôs humanoides de duas pernas, ou mais de 100 se ampliar o escopo para robôs bípedes com rodas. “A cadeia de suprimentos do setor de robótica da China é muito mais completa do que outras regiões. Desde motores a sensores e desenvolvimento de algoritmos, as empresas conseguem atingir rapidamente a produção em massa a um custo muito baixo”.

Os dados mostram que, em 2024, a China tinha 451.700 empresas de robótica inteligente, o que representa um aumento impressionante de 206,7% em relação a 2020.

O Centro de Inovação em Robótica Humanoide de Construção Conjunta Nacional e Local, com sede em Shanghai, prevê que, até 2026, os robôs humanoides entrarão na produção em massa como produtos de uso geral, quando as vendas anuais atingirem o patamar de 100 mil unidades.

“Se os robôs humanoides pudessem realizar tarefas domésticas ou conversar, eu adoraria experimentar um”, disse Sun Shangqin, moradora de Wuxi. “Meu orçamento seria de menos de 20 mil yuans.”

No entanto, muitos robôs humanoides ainda estão aquém das expectativas de preço do consumidor médio. Por exemplo, um robô de serviço doméstico em exibição no evento de Wuxi -um assistente biônico com rodas para usuários com dificuldades de locomoção- tinha um preço de 700 mil yuans.

“Por outro lado, o futuro é brilhante. À medida que a tecnologia avança, os custos diminuem ainda mais e surgem os cenários de aplicação certos; os robôs humanoides serão, sem dúvida, amplamente adotados”, disse Xu Jing, professor associado da Universidade Tsinghua.

Enchente: jornal diz que disputa política atrasa obras e apoio a vítimas no RS

“Embates políticos prejudicam a recuperação do Rio Grande do Sul”. É o título do editorial do jornal O Globo desta quarta-feira, 30/05. Diz o texto:

“Um ano depois do desastre ambiental que atingiu 2 milhões em quase 500 municípios do Rio Grande do Sul, o enfrentamento entre o governador Eduardo Leite e o PT gaúcho tem prejudicado a recuperação do estado e o apoio às vítimas da tragédia. Várias obras de comportas, diques e proteção contra enchentes ainda não saíram do papel. Das casas prometidas aos desabrigados, mais da metade nem sequer foi contratada. Repasses estão parados na burocracia estatal, enquanto os mais vulneráveis sofrem as consequências dos embates políticos.

Ainda nos primeiros dias da tragédia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou como secretário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul um adversário político de Eduardo Leite, o deputado petista Paulo Pimenta, então secretário de Comunicação da Presidência (Secom) e pré-candidato petista ao governo gaúcho. Leite passou a tratar de questões referentes ao apoio federal com um potencial adversário de seu grupo político na eleições do ano que vem. Em setembro, Pimenta foi substituído em Porto Alegre por outro petista, Maneco Hassen. Era grande o risco de que os planos eleitorais para 2026 prejudicassem o entendimento entre as burocracias de Porto Alegre e Brasília. É o que tem ocorrido.

O mais recente motivo de reclamações de Leite envolve a liberação de R$ 3 bilhões do fundo federal extraordinário de R$ 6,5 bilhões, criado para atender ao estado.

Petistas justificam o atraso alegando falta de projetos. Hassen afirma que foi preciso “cobranças mais incisivas e públicas” para que o governo estadual atendesse às exigências necessárias para a contratação das empresas. O assunto é tema de conflito entre PT e a base de Leite na Assembleia Legislativa. “Eduardo Leite não se mexeu para elaborar os projetos necessários”, diz nota de deputados petistas. O governador acusa a bancada do PT de usar a questão “de forma desonesta com interesses meramente eleitorais”. “É do conhecimento do governo federal que o estado está buscando a atualização dos projetos para ter acesso aos recursos do fundo”, afirma.

Enquanto transcorre o entrevero, há ainda 383 desabrigados, nove abrigos estão ativos e falta concluir obras importantes. Das dez comportas do sistema anticheias de Porto Alegre, sete não foram fechadas nem substituídas. Dos reforços necessários em quatro diques na cidade, apenas um será concluído em maio, e outro está com obras paralisadas pela Justiça. De 24,8 mil casas prometidas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, apenas 10,6 mil foram entregues, contratadas ou estão em construção. E apenas na segunda-feira o governo gaúcho publicou edital para atualizar o projeto de engenharia do sistema de proteção contra cheias de Eldorado do Sul (Leite diz que a própria enchente criou a exigência de novos estudos para mitigar os impactos ambientais). Trechos de rodovias alagadas continuam bloqueados ou em péssimo estado. Há muito trabalho ainda. Sem dúvida o primeiro passo para executá-lo é superar as desavenças políticas e os interesses eleitorais”.