Clàudio Janta tem 52 anos, há oito é vereador da cidade de Porto Alegre. Na primeira eleição obteve 10. 675 votos, um dos mais votados. Na última reeleição entrou com 2.394, foi o último eleito. Isso não afeta sua posição dentro da Câmara como um dos vereadores mais influentes no governo. “Depois da eleição somos todos iguais” lembra o parlamentar que inclusive foi líder do governo Marchezan nos primeiros seis meses de governo. Na época aprovou todos projetos que foram à votação, o que não iria ser aprovado retirou, foi demitido pelo prefeito. Janta é sindicalista, presidente estadual licenciado da Força Sindical e membro da direção nacional da central. Dos vereadores que compõe a base foi um dos primeiros a declarar apoio ao candidato Melo na corrida ao Executivo o que lhe dá crédito e status dentro do governo. Foi recebido pelo prefeito no Paço na última segunda de julho para tratar assuntos da cidade. Ao Jornal Já ele contou um pouco da conversa que teve com o prefeito e simplesmente o que pensa das propostas do Executivo ao transporte público. É favorável a revisão das isenções nas passagens e restrito á extinção dos cobradores. Independente se vai votar contra ou a favor, Janta é enfático aos projetos: ‘Se não sentar e discutir o sistema como um todo, essas medidas serão paliativas”.
No terceiro mandato, o vereador Claudio Janta tem sido um constante crítico do sistema de transporte coletivo em Porto Alegre.
Já em 2013, apresentou o projeto de uma agência reguladora, para corrigir as distorções que levam a serviços cada vez piores e tarifas cada vez maiores.
Pelo envolvimento com o tema e pela sintonia com o prefeito Sebastião Melo, Janta será uma voz destacada nos debates que se darão no legislativo municipal nas próximas semanas.
Ele deu a seguinte entrevista ao JÁ:
Qual é sua expectativa para os debates?
R – O que está se discutindo? Nós vamos de novo colocar dinheiro na mão das transportadores? Eu fui um critico disso, bom que o prefeito está começando a ver isso, a Câmara também está. Nós temos que colocar o dinheiro na mão do usuário. Nós vamos diminuir as isenções mas a Prefeitura tem que ir lá e comprar as passagens e dar pra quem precisa não é colocar isso na mão da ATP porque não baixa a passagem nunca.
O que mais tem que rever?
R- Nós temos que rever esse conselho (Conselho Municipal de Transportes Urbanos) que diz amém pra tudo. Aí quando se abre as planilhas se vê jantar pago e quem paga é a cidade de Porto Alegre, um monte de coisa que quem paga é a cidade, destinado ao sistema de transporte.
E a questão das isenções?
Tem que dar isenção se o cara não tem condição de pagar o ônibus. Isentar o estudante… mas tem o estudante da escola particular, que o pai paga três mil de mensalidade… tem que ser isento de passagem? A cota de isenção tem que ser social: o cara mora na periferia, estuda em escola pública, tem que ter isenção. Uma mãe com filho deficiente, que gasta dinheiro em fralda, que gasta dinheiro nisso e naquilo, ela tem que ter direito a passagem. Enfim… as isenções tem que ser sociais.
Qual é o diagnóstico do sistema de transportes?
R- Falido. Olha as lotações… falidas. Os taxis: tu passa nos pontos estão lotados. Aí vai pros ônibus: são empresas privadas que vivem à custa do dinheiro do povo, não é nem do dinheiro público.
E a questão das tarifas…
A Câmara já fez um monte de coisas pra diminuir o custo do sistema de transporte : nós diminuímos o ISS, nós tiramos as isenções para os idosos com 60 anos, aumentamos a vida útil dos ônibus…Uma série de coisas, só que isso não entra no bolso de quem interessa, que é o bolso da população. A passagem continua subindo.
O que a o poder público pode fazer?
O governo pode intervir, como fez nos hospitais pra pegar leito. Chega lá intervém na empresa e pega dez ônibus pra fazer o que ninguém quer fazer. O governo tem o poder de intervenção. É uma concessão, é diferente de intervir num bar, algo privado. O sistema de transporte é público, são gestões públicas que tu terceiriza pra outros. Então, o governo poderia intervir.
Qual seria o projeto?
-O projeto mais interessante que eu vi até hoje, não foi colocado em prática, que era os Portais, do tempo do Fogaça. É o mais inteligente de todos, que várias cidades, como Florianópolis, Ribeirão Preto, Sorocaba adotaram. Tu não precisa de ônibus grande… tu podes ter um terminal de abordagem, que interligue todos os consórcios. O terminal Triangulo, por exemplo, e dali sai os ônibus menores pra alimentar a cidade, não precisa tudo passar pelo centro. Seriam ônibus pequenos saindo toda hora. Esse foi o projeto mais interessante que saiu.
Haveria recurso para o projeto dos portais?
Eu acho que sim. A gente não fala em portais, o nome tanto faz. O BRT veio pra Copa do Mundo… O certo é que tem que ter ônibus menores, linhas alimentadoras… e tem que integrar. Não tem sentido ônibus imensos andando no centro de Porto Alegre, ônibus de Canoas, Viamão, Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha… Tem que integrar o nome não interessa. Tem que ter um caixa único e uma mobilidade única.
E a situação da Carris?
Vender como? Desestatiza a empresa, vende a marca, a área e os ônibus. E o passivo? Vai ficar com o povo de Porto Alegre? Tem que ter um grande levantamento disso pra ver. O prefeito já falou que entrega a Carris pra quem quiser… mas as pessoas sabem que a Carris sobrevive com dinheiro do governo, iguais as empresas de transporte que estão pedindo dinheiro do governo.
Mas há diferenças entre o sistema privado…
Porque quando ela compra um ônibus ele é diferente das outras empresas, a frota tem que sempre ser atualizada e nova. A carris tem uma série de exigências que outras empresas não precisam ter. Não adianta só vender a Carris, não adianta só tirar o cobrador. Vai tirar o cobrador e como o deficiente vai entrar no ônibus? Quem vai ajudar a senhora com as sacolas. Nós podemos tirar a figura do cobrador, pegar o dinheiro, mas nós não podemos abrir mão do segundo tripulante. Vai ganhar três mil e poucos reais? Acho que não, mas nós não podemos abrir mão do segundo tripulante que vai ajudar as pessoas idosas e deficientes a subirem no ônibus e que vai cuidar os nossos filhos que usam o sistema de transportes? As crianças vão ficar largadas, tem abusador, tem uma série de coisas… então não podemos abrir mão do segundo tripulante, agora qual é o papel dele? Isso é outra coisa. Nós temos que ter alguém que auxilie as pessoas. Uma população com de 32% de idosos, 28 % com deficiência, uma população com um monte de crianças estudando em escola pública e usam o sistema de transporte.
O governo quer a extinção dos cobradores…
Defendo a adaptação do projeto, não pode simplesmente extinguir uma profissão. O transporte público é usado por 20% da população de Porto Alegre, então tem que ser discutido. A cidade tem muitas carências não se pode pegar o dinheiro público e jogar num sistema que está falido. Não pode acabar com tarifa única, tu vai penalizar o trabalhador que mais usa o sistema de transporte. É uma coisa que deve ser discutida no todo. Não adianta dizer que precisa de dinheiro público. A prefeitura vai comprar a passagem? Aí até pode ter um sistema desses, agora não pode penalizar quem mora no Parque dos Maias, na Lomba do Pinheiro, no Lami. O único local popular que ia ser barato se fosse por quilometro iria ser a vila Farrapos o resto seria penalizado. O governo avalia mas não consegue chegar numa conclusão porque vai penalizar em torno de 90% das pessoas que utilizam o sistema de transporte.
Então tem que discutir o todo. Não adianta ficar só discutindo o umbigo da ATP, porque o cara que mora no Rubem Berta ele precisa de uma passagem barata. O cara que mora no Santana, no Petrópolis, no Menino Deus, esse cara não precisa de transporte barato.
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Eu moro no Jardim Itu, ali tinha cinco seis linhas de ônibus, hoje tem uma só e roda por todo o bairro. Ninguém anda mais sentado no ônibus a não ser se pegar no inicio da linha. O ônibus demora mais pra vir e roda por todo bairro. Então nós temos que discutir o sistema de transportes. A Granpal tem que se envolver nisso, não pode ser um projeto só de Porto Alegre e sim da região metropolitana.
Quando foi discutido o edital em 2015 e que as empresas não estão cumprindo mais de 1/3 do edital, não tem automação em todos ônibus, não tem ar-condicionado em todos, não tem acessibilidade em todos…
Então tem que discutir todo o sistema: tu tem patinetes, bicicletas, as barcas, tem as carroças, não da pra fingir. Tu vai pra periferia os caras fazem carreto de carroça, tem os carros dentro dos bairros. Na restinga, tem uns quarenta carros de transportes, tem na Lomba, no Rubem Berta tem. Os estacionamentos, porque não contribuem isso eu falei para o prefeito? Porque a área azul não vai pro sistema de transporte? Porque a EPTC que tem tanto recurso precisa de tanto aporte? Se nós vamos vender a carris porque precisa de aporte então nós vamos ter que vender mais coisas, não é só a procempa e a carris. A eptc é uma que tem que ser discutida Pra onde vai o dinheiro das multas? Da área azul? Todo sistema de transporte: taxistas, aplicativos, lotação, tudo paga pra eptc e porque isso não custeia o sistema? Mas não custear na mão da ATP, dos empresários e sim custear pra população. Até subsidiar a passagem pras pessoas com deficiência, ter horários pros idosos andar de ônibus… é uma coisa muito grande e qualquer coisa que a gente fizer que não seja uma mesa grande pra discutir é paliativo. Daqui um ano vai voltar tudo de novo.
A minha briga com o Marchezan foi por causa do sistema de transporte. Ele veio com um monte de projetos e eu falei pra ele “não vai resolver”, nós podemos vender a carris, tirar o cobrador, rever a isenções, se não discutir o problem. Tu não vai resolver e daqui um ou dois anos teremos o caos de novo. Temos discutir o sistema que está falido.