Último glaciar da Venezuela: um recado aos que duvidam das mudanças climáticas

Por Márcia Turcato

As autoridades climáticas confirmaram que a Venezuela se transformou no primeiro país do mundo a perder todos os seus glaciares. Eles faziam parte da cadeia de montanhas da cordilheira dos Andes, de 8 mil km de extensão.

O comunicado oficial foi divulgado no dia 10 de maio. O último glaciar, La Corona, a 4.916 metros de altitude, no Parque Nacional  de Sierra Nevada, descongelou!

O glaciar saiu de 4,5 km quadrados de campo de gelo sólido para apenas 0,02 km de gelo, resultado da mudança climática que elevou a temperatura do planeta e tem provocado catástrofes ambientais não apenas no Brasil, como a recente enchente no Rio Grande do Sul, como também em Dubai, que é um deserto e enfrentou um temporal.

O climatologista e historiador do tempo Maximiliano Herrera lembra que outros países perderam as suas geleiras, mas isso foi no fim da era glacial, a milhões de anos, mas somente “a Venezuela é o primeiro país a perdê-las nos tempos modernos”.

Ele alerta que a Indonésia, o México e a Eslovênia podem ser os próximos, devido aos recordes de calor registrados recentemente.

Em entrevista ao JÁ (edição 11/04/2024), o montanhista e geógrafo Pedro Hauck já havia alertado sobre o degelo na cordilheira dos Andes, ocasião em que falou sobre sua experiência em alta montanha e as alterações que tem percebido em mais de duas décadas de escaladas.  Ele já escalou mais de 170 montanhas acima de 5 mil metros de altitude e a mais recente expedição foi ao Aconcágua, alcançando o seu cume, no período de 18 de janeiro a 04 de fevereiro deste ano.

Há pouco mais de 100 anos, a Venezuela possuía uma área de cerca de 1.000 km quadrados de cobertura de gelo e agora não tem mais nada. A perda da cobertura de gelo foi progressiva, em pouco mais de 60 anos o país perdeu cerca de 98% da área de glaciar.

Desde 2011, restava apenas o glaciar La Corona na Venezuela, também conhecido como Pico Humboldt, agora rebaixado para um mero campo de gelo. Durante seu auge, a cobertura de gelo cobriu uma área de 4,5 km quadrados. A partir de 2016, o derretimento passou a ser de cerca de 17% ao ano.

Geleira, ou glaciar, é uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo.

Relembre o que Pedro Hauck disse sobre degelo nos Andes:

“O clima é muito mais do que temperatura, o clima é precipitação, é vento, é irradiação. Todos esses elementos mudaram e nos Andes uma coisa que mudou muito é a precipitação, tem nevado cada vez menos, sem falar na temperatura que subiu muito. A média de temperatura no inverno nos Andes oscilava entre 14 graus centígrados negativos e zero. As rotas técnicas, com gelo, estão desaparecendo, assim como todos os glaciares, agora estão surgindo as rochas soltas. As estações de esqui estão fechando porque não há mais gelo”.

“A estação de esqui de Chacaltaya, na Bolívia, perto de La Paz, que era a estação de esqui mais alta do mundo, a 5.421 metros de altitude, fechou em 2009. Acabou o gelo por completo e a estação foi abandonada. Um amigo boliviano me disse que antigamente, a van do Clube Boliviano de Montanhismo passava na casa dos associados e eles iam para o cerro Chacaltaya e passavam o fim de semana esquiando no gelo. Com o fim da neve no cerro, acabou o Clube Boliviano, a estação de esqui, os empregos e a geração de renda oriunda dessas atividades.”

“Eu ministro um curso de alta montanha na Bolívia há algum tempo. São aulas práticas de técnica de escalada em gelo. Há três anos eu levava o grupo até 4.900 metros de altitude para praticarmos a escalada em gelo. Não tem mais gelo nessa altitude. Agora nós precisamos subir até 5.300 metros para encontrar gelo e praticar a técnica. Abaixo dessa altitude é tudo rocha exposta ao Sol e às variações climáticas”.

“Recentemente, a estação de esqui Vallecitos, no cerro Cordon del Plata, a cerca de 5 mil metros de altitude, na Argentina, foi totalmente abandonada, não tem mais gelo. A estação de esqui de Penitentes, 4.350 metros de altitude, ao lado da Rota 7, que vai de Mendoza, na Argentina, a Santiago, no Chile, está parcialmente abandonada desde 2016 porque não é em todos os invernos que há neve suficiente para a prática do esporte”.

Por conta do degelo, lugares que tinham abundância de água, agora não têm mais e as pessoas acabam abandonando suas terras e o estilo de vida e migram para as cidades. Em agosto de 2023, a região dos Andes, no pé da cordilheira, registrou temperatura de 38,9 graus centígrados.  E agosto é um mês de inverno.

Para onde vai a água do degelo?

O degelo dos glaciares na região do Andes, além de abalar as atividades econômicas no ramo do turismo, tem provocado o deslocamento de comunidades inteiras que tiveram suas vilas invadidas pela água e arrasado com a lavoura. Essas comunidades são refugiados climáticos, expressão definida pelas Nações Unidas (ONU) para as vítimas das mudanças climáticas.

Os cientistas ambientais são unânimes em afirmar que o degelo agrava ainda mais o aquecimento da Terra, porque durante esse processo ocorre a liberação de gases prejudiciais ao meio ambiente.

O glaciólogo brasileiro, Jefferson Cardia Simões, professor da UFRGS, também estuda o degelo nos Andes, em especial em uma área do Peru. O trabalho começou em setembro de 2022 e deve trazer muito conhecimento à tona. Quelccaya é a maior geleira tropical do mundo, tem 17 km de extensão, uma área de 44 km quadrados e está apenas 5,1 km da cidade de Cusco, mas o acesso é muito difícil e exige preparo físico.

A temperatura média na região é de zero grau. É um lugar muito procurado por praticantes de montanhismo. Desde 1978, Quelccaya perdeu 20% de seu tamanho, fenômeno que costuma ser citado por pesquisadores como um sinal das mudanças climáticas.

O derretimento do glaciar tanto pode ser consequência do aquecimento global como de alguma outra alteração climática, como a diminuição da precipitação de neve. Glaciólogos de outros países estudam Quelccaya desde 1970 e já perceberam um forte derretimento do glaciar e um consequente aumento do volume de água dos riachos locais, o que pode até provocar inundações no futuro.

 

 

 

 

 

 

Degelo nas montanhas mais altas do planeta, o sinal visível das mudanças climáticas

MARCIA TURCATO

Cadê o gelo que estava aqui?

É a pergunta que o montanhista Pedro Hauck, de 42 anos, faz a cada vez que lidera uma expedição ao Aconcágua, a maior montanha  do hemisfério sul, com 6.961 metros de altitude, na Cordilheira dos Andes.

O degelo é a consequência mais visível das mudanças climáticas nos pontos mais elevados da terra.

Nesta entrevista, Hauck fala sobre as alterações que tem percebido em 26 anos de escaladas. Paulista de Itatiba, ele é geógrafo formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), pós graduado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e guia de expedições de montanhismo, além de sócio da loja Alta Montanha e da agência Soul Outdoor, que organiza viagens de montanhismo.

Ele já escalou mais de 170 montanhas acima de 5 mil metros de altitude e a mais recente expedição foi ao Aconcágua, alcançando o seu cume, no período de 18 de janeiro a 04 de fevereiro deste ano.

Nas suas fotos é visível o degelo nas montanhas. Que leitura você faz sobre esse fenômeno?

-Eu sou uma testemunha das mudanças climáticas globais. Em 2002, na minha primeira experiência no Aconcágua, a montanha era totalmente diferente de hoje. Em fevereiro, que é uma época em que o derretimento do gelo está mais avançado, mesmo assim eu escalava em gelo, isso na Plaza de Mulas, que é onde fica o acampamento base, a 4.300 metros de altitude. Atualmente, e eu acabei de voltar de lá, na Plaza de Mulas, não tem nada de gelo. Zero gelo. Já escalei montanhas nos Andes cuja rota era pelo gelo, o gelo derreteu, como na montanha Rincon, com 5.590 metros de altitude. Era uma rota por uma canaleta de gelo e agora a escalada é em rocha pura. É muito perigoso, porque essas rochas estão soltas, elas estavam estáveis por conta do gelo, que funciona como cimento. As mudanças climáticas não são apenas alterações na temperatura. O clima é muito mais do que temperatura, o clima é precipitação, é vento, é irradiação. Todos esses elementos mudaram e aqui nos Andes uma coisa que mudou muito é a precipitação, tem nevado cada vez menos, sem falar na temperatura que subiu muito. A média de temperatura no inverno nos Andes oscilava entre 14 graus centígrados negativos e zero. As rotas técnicas, com gelo, estão desaparecendo, assim como todos os glaciares, agora estão surgindo as rochas soltas. As estações de esqui estão fechando porque não há mais gelo. A estação de esqui de Chacaltaya, na Bolívia, perto de La Paz, que era a estação de esqui mais alta do mundo, a 5.421 metros de altitude, fechou em 2009. Acabou o gelo por completo e a estação foi abandonada. Um amigo boliviano me disse que antigamente, a van do Clube Boliviano de Montanhismo passava na casa dos associados e eles iam para o cerro Chacaltaya e passavam o fim de semana esquiando no gelo. Com o fim da neve no cerro, acabou o Clube Boliviano, a estação de esqui, os empregos e a geração de renda oriunda dessas atividades. Eu ministro um curso de alta montanha na Bolívia há algum tempo. São aulas práticas de técnica de escalada em gelo. Há três anos eu levava o grupo até 4.900 metros de altitude para praticarmos a escalada em gelo. Não tem mais gelo nessa altitude. Agora nós precisamos subir até 5.300 metros para encontrar gelo e praticar a técnica. Abaixo dessa altitude é tudo rocha exposta ao Sol e às variações climáticas. Recentemente, a estação de esqui Vallecitos, no cerro Cordon del Plata, a cerca de 5 mil metros de altitude, na Argentina, foi totalmente abandonada, não tem mais gelo. A estação de esqui de Penitentes, 4.350 metros de altitude, ao lado da Rota 7, que vai de Mendoza, na Argentina, a Santiago, no Chile, está parcialmente abandonada desde 2016 porque não é em todos os invernos que há neve suficiente para a prática do esporte. Por conta do degelo, lugares que tinham abundância de água, agora não têm mais e as pessoas acabam abandonando suas terras e o estilo de vida e migram para as cidades. Em agosto de 2023, a região dos Andes, no pé da cordilheira, registrou temperatura de 38,9 graus centígrados.  E foi em agosto, mês de inverno.

Qual tua estratégia nas expedições para diminuir o impacto ao meio ambiente?

Nas minhas expedições faço de tudo pra zerar o impacto, não deixamos nada e ainda recolhemos o que é encontrado de lixo no caminho. Muitos dos locais que frequentamos são unidades de conservação e têm suas regras de controle e, por isso mesmo, não encontramos muitos resíduos. Tem ainda uma questão importante, que são as fezes, sempre levamos banheiros, não é químico, e as pessoas fazem suas necessidades dentro de um saquinho, e a gente traz de volta. As expedições ao monte Roraima, no Brasil, também adotam essa prática. Lá na montanha acaba não ficando nada. Deveria haver uma estrutura local para transformar o resíduo biológico em algum tipo de nutriente. É necessário pensar em soluções para essa questão. A gente vê que nesses destinos de montanhismo existe cada vez mais uma consciência ambiental, mas ainda falta organização.

Teu interesse pelo montanhismo, como surgiu?

A inspiração chegou aos poucos. Meu padrasto, Ernst Mossembock, é austríaco, ele viajou muito pelo mundo, eram viagens de aventura, não de montanhismo. Quando eu via as fotos dessas viagens eu achava muito legal. Minha mãe, Solange Vicentini, quando era jovem, fez uma viagem pela Bolívia, chegando até Machu Picchu, no Peru. As fotos dessas viagens também me impressionaram bastante. A primeira vez que vi montanhas foi viajando com eles, nas férias escolares,  fomos para a Argentina, quando conheci montanhas nevadas pela primeira vez e sonhei em fazer escaladas. Com 18 anos, junto com um amigo, fiz algumas viagens de carona pela Argentina e algumas escaladas em alta montanha, mesmo sem muito conhecimento, na base da aventura. Portanto, estou nessa vida há 26 anos e eu amo o que faço.

Nessas quase três décadas de montanhismo, quais foram os momentos mais difíceis?

A expedição mais difícil que realizei foi a primeira, aos 18 anos de idade, que durou seis meses, porque eu tinha pouca experiência. Fui de carona até Ushuaia, na Argentina, e a primeira montanha de altitude que escalei foi o Cerro Plata, em Mendoza,com 5.968 metros de altitude, considerada uma montanha-escola para quem deseja chegar ao cume do Aconcágua. Como eu não tinha dinheiro, dependia muito da ajuda dos outros, e cheguei a dormir na rua quando montei a barraca em um terreno de área urbana, e também ocupei uma casa abandonada. Uma das expedições mais difíceis que fiz foi a escalada do Aconcágua – 6.961 metros de altitude- sem o uso de mulas para carregar os equipamentos. A escalada demora, em média, uns 14 dias -depende muito das condições climáticas- e são quase 40 km para chegar na base da montanha caminhando, é uma aproximação demorada, e eu carregava uma mochila com mais de 40 kg, encarei tempestades terríveis e, além disso, a comida acabou antes que eu alcançasse o cume. Precisei pegar comida que havia sido descartada por outros montanhistas no caminho. Emagreci 8 kg nessa jornada. A montanha não foi a mais difícil, difícil mesmo foram as condições. Eu tenho 1m73 e peso 70 kg. A mochila cargueira que costumo levar nas expedições tem mais de 30kg. Sem dúvida, a prática do montanhismo exige muito preparo físico e uma lombar bem fortalecida. Recentemente estive no Paquistão, uma montanha de 8 mil metros, a Gasherbrum II – 8.035 metros de altitude. É uma escalada perigosa e muito técnica. Quando eu estava perto do cume o tempo virou e tivemos de descer e quando voltamos ao acampamento a tempestade estava muito forte e soterrou toda a nossa estrutura de escalada, como as cordas fixas, elas sumiram na neve e tivemos de procurar o material. A rota foi coberta por muita neve e ficou difícil encontrar o caminho. Nesses meus 26 anos de montanhismo, eu já realizei mais de 170 ascensões a montanhas de grande altitude. Enfrentei vários tipos de dificuldades nesse tempo, inclusive políticas, em países que passavam por crises de governo, mas no fim tudo dava certo.

ACONCÁGUA:

153 já perderam a vida tentando chegar ao cume

O Aconcágua, na Cordilheira dos Andes, com altitude 6.961 metros, localizado na província de Mendoza, Argentina, é o ponto mais alto do hemisfério sul e do Ocidente.

A montanha e seus arredores fazem parte do Parque Provincial Aconcágua, que abriga uma série de importantes geleiras.

O maior glaciar é o Ventisquero Horcones Inferior, com cerca de 10 km de comprimento, que desce a partir da face sul da montanha, com aproximadamente 3.600 metros de altitude, perto do acampamento Confluência. Dois outros grandes sistemas de geleira são o Ventisquero de las Vacas Sur e Glaciar Este/Ventisquero Relinchos, com cerca de 5 km de comprimento. A face mais conhecida é a do nordeste, chamada de  Glaciar dos Polacos, uma rota desbravada por montanhistas da Polônia em 9 de março de 1934. No entanto, a primeira tentativa de chegar ao cume do Aconcágua foi em 1883, por um grupo liderado pelo geólogo alemão Paul Gussfeldt. A rota que ele fez é agora um itinerário bastante  usado. A pessoa mais jovem a chegar ao cume do Aconcágua foi Tyler Armstrong, da Califórnia, Estados Unidos. Ele tinha nove anos de idade quando alcançou o cume em 24 de dezembro de 2013.  A pessoa mais velha a escalar foi Scott Lewis, que alcançou o cume em 26 de novembro de 2007, aos 87 anos de idade.

Desde a primeira morte de montanhista registrada no Aconcágua, do austríaco Juan Stepanek em 1926, 153 pessoas perderam a vida tentando alcançar o cume.

 

 

 

 

Aquecimento global aumenta risco de expansão da dengue, segundo OMS

Genebra (EFE)

Mais de 5 milhões de casos de dengue foram registrados em todo o mundo em 2023, incluindo 5 mil mortes, informou nesta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que elevou para alto o risco dessa doença, cujo raio de expansão está aumentando devido a fatores como a mudança climática.

O aquecimento global está expandindo o habitat dos mosquitos que transmitem essa infecção viral, explicou em entrevista coletiva Diana Rojas, especialista em arbovírus do departamento de prevenção de epidemias e pandemias da OMS.

Como resultado, metade da população mundial, ou cerca de 4 bilhões de pessoas, corre o risco de ser infectada pela dengue, a doença mais comum transmitida por mosquitos.

“A maioria das pessoas não apresenta sintomas, mas as que apresentam podem sofrer de febre alta, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas, etc. Em muitos casos, elas se recuperam em uma ou duas semanas, mas às vezes a situação pode piorar”, analisou.

Rojas também lembrou que 80% dos casos em 2023 (4,1 milhões) foram registrados na América, enquanto as outras regiões mais afetadas foram o sul e o leste da Ásia.

O país americano com mais casos neste ano foi o Brasil (2,9 milhões), seguido por Peru (271 mil) e México (235 mil), enquanto a Colômbia diagnosticou as formas mais graves da doença (1.500, 1,35% do total), seguida pelo Brasil (1.474, 0,05%).

Rojas também alertou que as transmissões locais da dengue estão começando a ser detectadas em países antes considerados não endêmicos, incluindo europeus como Itália (82 positivos em 2023), França (43) e Espanha (três).

“Normalmente, os casos são detectados nesses países por viajantes da América, do Leste Asiático e de outras regiões endêmicas, mas neste ano vimos alguns surtos limitados de transmissão local”, alertou.

Os surtos em países em conflito e em contextos frágeis, como Afeganistão, Paquistão, Sudão, Somália e Iêmen, juntamente com a transmissão de outras doenças, ondas de deslocamento interno e infraestrutura de saúde precária, também foram motivo de preocupação.

A elevação de risco decidida pela OMS busca “maximizar a atenção e a resposta para ajudar os países a controlar os surtos atuais e prepará-los para responder às próximas altas temporadas de dengue”, que geralmente coincidem com períodos quentes e úmidos.

Nesse sentido, a OMS pede aos países membros que fortaleçam os mecanismos de monitoramento de casos, condições ambientais e colônias de mosquitos, e atualizem as diretrizes e melhorem o treinamento dos profissionais de saúde para responder à doença.

A OMS recomenda o uso de repelente de mosquitos para a população em geral, especialmente durante o dia, além da eliminação de áreas com alta presença de mosquitos perto de áreas residenciais nas comunidades.

Erguidos os primeiros aerogeradores da Usina Coxilha Negra, em Livramento

Mais uma importante etapa das obras de implantação do Parque Eólico Coxilha Negra foi registrada pela Eletrobras CGT Eletrosul, no município de Sant’Ana do Livramento (RS).

Foi concluída a montagem mecânica dos quatro primeiros aerogeradores do empreendimento, que contará com 72 unidades. O procedimento envolveu a instalação de nacele, gerador e cubo com as pás nas quatro torres iniciais. Esta etapa consiste no içamento da nacele com seus acessórios, seguido pelo gerador e, por fim, o cubo em configuração estrela com as três pás.

Cada aerogerador pesa 1.320 toneladas, mede 125 metros de altura e cada pá tem 72 metros de comprimento

O peso total de cada aerogerador é de 1.320 toneladas; as torres possuem 125 metros de altura e cada pá tem 72 metros de comprimento.

As obras relacionadas ao sistema de transmissão também evoluem. Na última semana de novembro, foram concluídas as linhas de transmissão que irão operar em 230 kV. As duas subestações coletoras (34,5kV / 230kV) também seguem em estágio avançado: Coxilha Negra 2 (280 MVA – dois transformadores, e um terceiro reserva) e Coxilha Negra 3 (140 MVA), além da ampliação da Subestação Livramento 3 (Sant’Ana Transmissora).

Entre o final de outubro e início de novembro, foi registrada a chegada dos primeiros componentes dos aerogeradores, em Sant’Ana do Livramento. Essa remessa inicial de equipamentos é composta por hubs, geradores e naceles – todos transportados de Jaraguá do Sul (SC), pela fabricante WEG.

Além das estruturas provenientes de Santa Catarina, no dia 14 de novembro, o conjunto com as primeiras 20 pás fabricadas no Ceará, pela empresa subcontratada Aeris, atracou no Porto de Rio Grande (RS), seguindo viagem rumo à Sant’Ana do Livramento.

Leia também:

Vento a favor no Pampa

Para a viabilização do Parque Eólico Coxilha Negra, foram construídos aproximadamente 100 km de novos acessos, além da revitalização de outros 56 km de estradas rurais municipais.

Durante os diversos estágios das obras, estima-se a criação de 1.300 empregos. Neste momento, as diferentes frentes de trabalho contam com a mobilização em campo de aproximadamente 1.035 profissionais contratados pelas empresas prestadoras de serviços. Cerca de 530 trabalhadores são do Rio Grande do Sul e os demais são provenientes de outros estados.

Alinhado com a Política de Responsabilidade Social da Eletrobras, o processo de contratação de mão de obra é conduzido pelas empresas prestadoras de serviços e prioriza a seleção de profissionais dos municípios da região, por meio de parcerias com centros locais de empregabilidade. Para atender demandas específicas, por tempo determinado, e que exigem qualificação especializada, as empresas prestadoras de serviços contam com quadro técnico próprio flutuante ou realizam recrutamento externo para preenchimento pontual de vagas temporárias de acordo com a evolução das obras.

O Parque Eólico Coxilha Negra terá capacidade instalada de 302,4 MW, integrando três conjuntos de usinas que totalizarão 72 aerogeradores: Coxilha Negra 2, Coxilha Negra 3 e Coxilha Negra 4. O início da operação do empreendimento ocorrerá em 2024.

Matéria sobre APA do Banhado Grande ganha Prêmio Sintergs de Jornalismo

Matéria sobre a Área de Preservação Ambiental do Banhado Grande ganhou o 3º lugar no 2º Prêmio Sintergs de Jornalismo. A entrega das premiações ocorreu na quinta-feira, 14 de dezembro.

Travessia de Viamão (3) – Temos que conciliar uso com preservação, diz gestora de UC integra uma série com cinco reportagens, do jornalista Cleber Dioni Tentardini, publicada no jornal JÁ, entre os dias 11 e 15 de julho de 2023. É uma viagem à capital das águas, considerada pulmão da região metropolitana de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, com mais de 500 km² de áreas protegidas. As matérias abordam os desafios e iniciativas de instituições públicas e ambientalistas para conciliar atividades econômicas com preservação. Mostra pesquisas e práticas ecológicas que criam zonas de amortecimento com produção orgânica no entorno das reservas ambientais. E explora os banhados, lagoas, nascentes, aquíferos, parques, morros, florestas, campos, dunas, que abrigam espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção.

Ao todo, foram agraciados jornalistas e estudantes de onze veículos. Os vencedores do concurso foram revelados em evento realizado nesta quinta-feira (14/12), na sede do sindicato.

“Os premiados desta noite são exemplos de jornalismo de qualidade, de jornalismo que faz a diferença, de jornalismo que transforma a realidade. São profissionais que merecem o nosso respeito, a nossa admiração e o nosso aplauso”, disse Valdir Bandeira Fiorentin, diretor de Comunicação do Sintergs, durante a cerimônia. O dirigente falou sobre a sensação de dever cumprido do atual mandato e desejou sucesso para a gestão que assume o sindicato em janeiro.

Diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors), Viviane Finkielsztejn, agradeceu a oportunidade de participar da entrega do 2º Prêmio Sintergs e ressaltou que, assim como os servidores públicos, a categoria vem sofrendo assédio e agressões. “Nos últimos quatro anos, fomos atacados moral e fisicamente, mas não podemos nos abater. Em tempos de fake news, nosso trabalho se torna cada vez mais importante. Nosso ofício é informar com qualidade”, disse a sindicalista.

Vencedores 2º Prêmio Sintergs de Jornalismo:

Categoria On-line

1º lugar | Silvia Franz Marcuzzo
Agência Pública
Governo do Rio Grande do Sul engavetou planos para lidar com mudanças climáticas

2º lugar | Luís Eduardo Tebaldi Gomes
Sul21
Em 8 anos de congelamento salarial, incentivos fiscais aumentaram 71,6% no RS

Cleber com as jornalistas Bruna Suptitz e Silvia Marcuzzo, que ficou em 1º lugar. Foto Giovanni Tentardini

3º lugar | Cleber Dioni Tentardini
Jornal JÁ
Travessia de Viamão (3): “Temos que conciliar uso com preservação”, diz gestora da APA do Banhado Grande

 

 

 

Categoria Impresso

1º lugar | Paulo Egídio
Zero Hora
Vidas sob o acúmulo dos consignados

2º lugar | Mauren Xavier, Karina Reif e Simone Schmidt
Correio do Povo – caderno + Domingo
Impacto no serviço público

3º lugar | Carlos Rollsing Braga
Zero Hora
O que defendem os críticos da reforma do IPE Saúde

Categoria Fotografia

1º lugar | Jorge Leão
Brasil de Fato RS
Olhar do abandono

2º lugar | Alencar Fabrício da Rosa
Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul
Voo à liberdade

3º lugar | Jonathan Heckler
GZH
Corpo de Bombeiros controla incêndio no litoral

Categoria Eletrônico

1º lugar | Cid Martins e Kathlyn Moreira
Rádio Gaúcha
Crimes Ambientais – O Preço da Multa Não Paga

2º lugar | Eduardo Matos
Rádio Gaúcha
Saúde em risco: desarticulado esquema de venda de próteses ortopédicas vencidas

3º lugar | Cristine Ribeiro Gallisa
RBS TV
Assembleia do RS aprova aumento salarial para governador e deputados

Categoria Estudante

1º lugar | Flávia Simões
Revista Sextante, da UFRGS
Profissão: encontrar respostas

2º lugar | Leticia Menezes Pasuch
Correio do Povo – Caderno de Sábado
Perfil: Mônica tem a atenção para a sétima arte no Estado

Pecuária é principal causa do desmatamento na Amazônia, diz estudo lançado na Cop28

Um mapeamento inédito do MapBiomas Amazônia, divulgado nesta sexta-feira (8) na 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP 28), em Dubai, mostra que a pecuária foi o principal vetor de derrubada de vegetação na América do Sul, no período de 1985 a 2022.

O mapeamento levou em consideração 844 milhões de hectares ou 47% da área da América do Sul. Incluiu o bioma amazônico no Brasil, na Colômbia e na Venezuela, a bacia amazônica no Equador, Peru e na Bolívia, as principais bacias hidrográficas que alimentam o bioma (Amazonas e Araguaia-Tocantins) e todo o território continental da Guiana, Guiana Francesa e Suriname, que não pertence à bacia do rio Amazonas, mas está coberto por floresta similar.

O levantamento mostra que dos 86 milhões de hectares de vegetação natural eliminados do território analisado, 84 milhões foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura, com destaque para pastagem, que ocupou 66,5 milhões de hectares da área devastada entre 1985 e 2022 – ou 77% da área transformada.

As áreas para a agricultura, por sua vez, ocuparam 19,4 milhões de hectares.

Os dados mostram ainda que, ao todo, o uso da terra pelo homem no território amazônico em 1985 correspondia a 51 milhões de hectares, ou 6% do bioma. Em 2022,  esse número passou a 136 milhões de hectares, ou 16% do total.  A eliminação da vegetação, segundo o estudo, atingiu prioritariamente a floresta: apenas 6 milhões de hectares suprimidos no período eram de formações não florestais.

“Embora o levantamento mostre que 81,4% da Amazônia ainda estejam cobertos por vegetação natural, apenas 73,4% são florestas – percentual que já está dentro da faixa estabelecida pela ciência como limite para que a Amazônia se mantenha ou se recupere, evitando o processo de savanização na região”, diz o texto do mapeamento.

As atividades de mineração na floresta também cresceram acentuadamente, de acordo com o levantamento: 1.367% entre 1985 e 2022, atingindo meio milhão de hectares.

(Com Agência Brasil)

Energia solar: grandes usinas atingem 11 gigawatts, com investimentos de 500 bilhões em dez anos

O Brasil ultrapassou a marca de 11 gigawatts (GW) de potência operacional nas grandes usinas solares, de acordo com o mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).

Segundo a entidade, desde 2012, o segmento já trouxe mais de R$ 49,1 bilhões em novos investimentos e mais de 330,1 mil empregos acumulados, além de proporcionar cerca de R$ 17,2 bilhões em arrecadação aos cofres públicos.

Atualmente, as usinas solares de grande porte operam em todos os estados brasileiros, com liderança, em termos de potência instalada, da região Nordeste, com 55,57% de representatividade, seguida pelo Sudeste, com 42,99%, Sul, com 0,54%, Norte, com 0,51% e Centro-Oeste (mais DF), com 0,39%.
“O crescimento da energia solar fortalece a sustentabilidade, alivia o orçamento das famílias e amplia a competitividade dos setores produtivos brasileiros, fatores cada vez mais importantes para a economia nacional e para o cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo País”, diz Rodrigo Sauaia, da Absolar.

Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da entidade, avalia que “o crescimento acelerado da energia solar é tendência mundial e colabora para o processo de descarbonização das economias. “O Brasil possui um dos melhores recursos solares do planeta, o que abre uma enorme possibilidade para a produção do hidrogênio verde (H2V) mais barato do mundo e o desenvolvimento de novas tecnologias sinérgicas, como o armazenamento de energia e os veículos elétricos”, diz.

“Segundo estudo da consultoria Mckinsey, o Brasil poderá ter uma nova matriz elétrica inteira até 2040 destinada à produção do H2V. Para tanto, o País deverá receber cerca de R$ 1 trilhão em investimentos no período, como geração de eletricidade, linhas de transmissão, unidades fabris do combustível e estruturas associadas, incluindo terminais portuários, dutos e armazenagem”, acrescenta Koloszuk.

 

Reportagem sobre Jardim Botânico é premiada pelo Tribunal de Justiça

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul divulgou no final da tarde desta terça-feira (21), os vencedores do Prêmio Themis de Jornalismo 2023.

A reportagem Justiça proíbe “contratos ou acordos” que alterem a destinação do Jardim Botânico, assinada por Cleber Dioni Tentardini, publicada no jornal JÁ, no dia 1º de agosto de 2023, ficou em 3º lugar na categoria Cotidiano da Justiça.

No total, 42 trabalhos foram inscritos. A avaliação foi realizada por comissões constituídas para cada uma das categorias e compostas por um jornalista do TJRS, um representante da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), um representante da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT), um representante do Sindicato dos Jornalistas do RS (SINDJORS) e um magistrado com atuação na área temática. Na categoria Imagem, a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do RS (ARFOC-RS) integra a comissão no lugar da AGERT.

A Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, em seu pronunciamento, afirmou que “o Prêmio Themis já demonstrou que é uma das iniciativas capazes de aproximar ainda mais o judiciário da sociedade”. Ela parafraseou o escritor Rui Barbosa, afirmando que “a imprensa é a vista da Nação, pois através dela é que a população acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam ou roubam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”.  A Presidente disse ainda esperar que “o Judiciário captado pelas lentes da imprensa, possa cada vez mais ser verdadeiramente conhecido e acessado pela população”.

Vencedores do Prêmio Themis 2023

UNIVERSITÁRIA:

1º lugar – Paulo Henrique Lima Albano – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

2º lugar – Paula Colpo Appolinario – Universidade Federal de Santa Maria

COTIDIANO DA JUSTIÇA:

1º lugar – Cristine Ribeiro Gallisa – RBS TV

2º lugar – Isabella Smith Sander – GZH / Zero Hora

3º lugar – Cleber Dioni Tentardini – Jornal JÁ

IMAGEM:

1º e 2º lugares – Mauro Adornes Schaefer – Correio do Povo (A categoria, conforme o regulamento,  permite a inscrição de até dois trabalhos por um mesmo profissional)

3º lugar – Renan Adriam de Mattos – Tribuna do Norte

INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA JUDICIÁRIA:

1º lugar – Cristine Ribeiro Gallisa – RBS TV

2º lugar – Débora Regina Ertel – Jornal NH

3° lugar – Tales Giovani Armiliato – Tua Rádio São Francisco

CATEGORIA ESPECIAL – 150 ANOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RS:

1º lugar – Geórgia Pelissaro dos Santos –  Jornal Vós

2º lugar – Cid Martins – Rádio Gaúcha e GZH

3º lugar – Letícia Dias Fagundes – Instituto Mulheres Jornalistas

Homenagem

No final do evento, foi realizada homenagem especial ao ex-Presidente do Conselho de Comunicação Social do TJ, Desembargador Túlio de Oliveira Martins, que comandou o CCS por mais uma década, entre 2010 e 2020. O magistrado, que é formado em jornalismo, lembrou que foi convidado em 2010 pelo ex-Presidente, Desembargador Aposentado Leo Lima. “A partir da aceitação do convite, destaquei que a ideia era ocupar os espaços existentes na mídia e não deixar que nenhum jornalista ficasse sem resposta das suas questões encaminhadas à então Assessoria de Imprensa do TJ. Auxiliamos bastante também os magistrados que gostariam de falar, mas pediam um apoio em determinadas questões”, disse ele. O homenageado  destacou a importância da criação da DICOM, na administração presidida pelo Desembargador Voltaire de Lima Moraes, direção  que tem todo o apoio e respaldo da atual gestão liderada pela Desembargadora Iris Helena. “Agradeço muito por esta generosa homenagem e gostaria de dividi-la com os jornalistas que atuaram comigo no Conselho de Comunicação Social, que atualmente está muito bem presidido pelo Desembargador Vinicius”, afirmou o magistrado.

Quilombo da Anastácia, em Viamão, ganha reconhecimento após 15 anos de luta pela terra

Cleber Dioni Tentardini

O governo federal reconheceu, ontem, dia 20, no Dia Nacional da Consciência Negra, o direito de 29 comunidades quilombolas regularizar suas terras, incluindo o Quilombo da Anastácia, um dos três existentes no município de Viamão: 16 famílias ganharam o direito à propriedade de pouco mais de 64 hectares.

O reconhecimento da área na Região Metropolitana de Porto Alegre veio depois de 15 anos, tempo em que o processo de regularização fundiária tramitou no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra.

Foram realizados estudos de identificação e delimitação, e um relatório técnico foi aprovado pela sede regional do instituto, indicando o direito à titulação.

No entanto, uma empresa catarinense produtora de arroz contestou o laudo, reivindicando a propriedade de parte das terras onde está o quilombo e o recurso teve que aguardar julgamento pelo Conselho Diretor do Incra, em Brasília, que confirmou o direito da comunidade.

A publicação da Portaria encerrou o processo administrativo. A sede regional do Incra-RS precisa enviar um histórico de todo o processo à Superintendência do Instituto em Brasília para revisão e, se tudo estiver certo, é encaminhado à Casa Civil para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assine o direito à titulação.

A partir da desapropriação de parte da área pertencente à empresa agrícola, o Incra registra em cartório o imóvel em seu nome e deposita numa conta judicial o valor a que tem direito a antiga proprietária.

Berenice Gomes de Deus, artesã e uma das lideranças, diz que a espera foi longa, mas a luta vale à pena.

– Esperamos agora a titulação, disse.

Berenice é neta de Anastácia de Oliveira Reis, que dá nome ao quilombo, e bisneta de Hortência Marques de Oliveira, que viveu como escrava naquela região da Estância Grande.

Uma rotina de ameaças em 15 anos de espera

Quilombo da Anastácia, em Viamão., Foto: Cleber Dioni

A Fundação Cultural Palmares, do governo federal, reconheceu, em 2007, o direito às terras do Quilombo da Anastácia, um dos três existentes no município de Viamão.

A sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária avalizou a comunidade quilombola, mas faltava a decisão final do Incra em Brasília para que os moradores ganhassem o direito a receber os títulos de propriedade.

Durante esse tempo, as famílias da Anastácia sofreram assédios e ameaças. Uma empresa produtora de arroz descumpriu acordo feito com os moradores para poder captar água na parte da lagoa que está dentro dos limites do Quilombo. É uma planície de inundação do rio Gravataí.

“Não pagaram pelo uso da água e fecharam um canal na lagoa, que dá acesso ao Quilombo. Antes recebíamos turistas, vendíamos lanches, inclusive hospedávamos alguns casais, que ficavam encantados com nosso quilombo, queixou-se Berenice Gomes de Deus, uma das lideranças da comunidade.

Lagoa no Quilombo da Anastácia, em Viamão. Foto: Cleber Dioni
Barragem de plantadores de arroz na lagoa do, Quilombo. Foto: Cleber Dioni

A empresa Fazenda Embireira Agroflorestal foi multada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam) por construção de canais novos sem licença de operação.

Quiilombo Anastácia – Relatorio de Fiscalizacao

O Ministério Público do Estado, através da Promotoria Regional da Bacia do Gravataí, instaurou inquérito civil para acompanhar os conflitos em uso de área de sobreposição entre o quilombo e a produtora de arroz.

Promotora de Justiça Roberta Morillos Teixeira. Foto: Rodrigo Martins (SEAPDR/Divulgação)

– A empresa não cumpriu com as contrapartidas e os moradores negaram interesse em novo acordo. Paralelo a isso, a Promotoria tem algumas investigações por descumprimento das condicionantes do licenciamento pela Fazenda Embireiria e pelas outorgas de uso da água. E tem o viés administrativo da Fepam e da DRHS, que vêm tomando algumas medidas, diz a promotora de Justiça Roberta Morillos Teixeira.

A região onde está o quilombo e a produtora de arroz é a Estância Grande, que está dentro da Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande (APABG).

Um parecer da equipe técnica e gestora da APABG identificou a área como sendo de extrema sensibilidade ambiental e social, uma vez que segundo o Plano de Manejo, tem porção de área dentro da zona de adequação ambiental e zona de uso restrito do Banhado.

Referente às questões sociais, insere-se entre duas comunidades tradicionais, o assentamento Filhos de Sepé e a comunidade Quilombola da Anastácia.

O documento assinado pelas analistas ambientais da SEMA a bióloga Cecília Schuler Nin e engenheira agrônoma Letícia Vianna, gestora da APA, determinou uma série de condicionantes à Fazenda Embireira sob pena de revogar a autorização emitida pela unidade de conservação para continuar suas atividades.

– O empreendedor vem recorrentemente descumprindo o licenciamento ambiental e, por consequência, os alvos de conservação da APA do Banhado Grande, e somado a isso, omitindo conflito com a área do quilombo dentro do processo de outorga, bem como desrespeitando a área dessa comunidade, registrou o parecer.

Dona Berenice diz que a situação é muito difícil porque falta infraestrutura

– Não temos escola, posto de saúde perto, transporte público acessível. Reconheceram em parte nossas terras, muito bem, mas estamos abandonados, lamenta.

Dona Berenice neta da Anastácia, no Quilombo da Anastácia, em Viamão. Foto: Cleber Dioni

Das mais de cem pessoas, atualmente, moram cerca de trinta.

– É tudo muito difícil, por isso ficaram os velhos, que não precisam mais trabalhar, diz a líder quilombola.

Baixinha braba

Dona Berenice é neta da Anastácia de Oliveira Reis, que dá nome ao quilombo, e bisneta da Hortência Marques de Oliveira, que viveu como escrava nessa região da Estância Grande.

– Convivi com a vó até os 25 anos. Era bem baixinha e braba, principalmente com quem judiava dos netos, mas cuidava de todos, conhecia os chás, as simpatias, ninguém precisava ir no médico”, recorda.

Vò Anastácia com os netos nos idos de 1950/Fotos: álbum de família

A artesã lembra das histórias que sua vó contava sobre a Hortência ajudar na fuga de escravos pelo rio Gravataí, principalmente os homens, que eram surrados e assassinados com frequência.

– Ela ajudava a atravessar para o quilombo Manuel Barbosa, em Gravataí, conta a bisneta da Hortência.

Antigos moradores

Tia Chica, filha de Anastácia. Fotos : AMQA
Dona Cida e o neto Jhonatan
Marcírio, marido da tia Chica

Os primeiros europeus chegados nos Campos de Viamão no início do século 18 trouxeram negros escravizados.

Alguns registros apontam que o estancieiro viamonense Serapião José Goulart, um dos maiores proprietários de terras do município, dono da fazenda Boa Vista – em cuja sede, no início do século 19, pernoitou o viajante August Saint-Hilaire -, tinha entre seus escravos a Hortência, mãe da Anastácia.

Faltam políticas públicas para os quilombolas

Dos 134 quilombos em 69 municípios gaúchos, os quilombos em Viamão estão entre os mais atrasados devido à falta de políticas públicas.

Quilombo da Anastácia, em Viamão. Fotos: Cleber Dioni

 

Além do Anastácia, há o Cantão das Lombas, na divisa com Santo Antônio da Patrulha, com 28 famílias em 154,75 ha, cujo processo de regularização está tramitando desde 8 de dezembro de 2021, e do Capão da Porteira, na divisa com o município de Capivari.

O biólogo Jorge Amaro, primeiro vereador quilombola, eleito pelo PP no município de Mostardas, morou mais de vinte anos em Viamão e conhece bem a realidade das comunidades.

Embora os quilombolas de Mostardas tenham sido reconhecidos há muito mais tempo e estão organizados em associações e dispõem de muita infraestrutura, os de Viamão não estão inseridos sequer nas políticas públicas de auxílio aos moradores.

– A Prefeitura e outras entidades têm que ajudar. A UFPEL e a FURG, por exemplo, oferecem cotas universitárias para quilombolas, e auxiliam na moradia, alimentação, transporte, então porque outras instituições de ensino em Viamão, Porto Alegre, não podem contribuir também, questiona o vereador.

Ausência de trajetórias

A antropóloga Vera Rodrigues da Silva abordou o Quilombo da Anastácia na sua dissertação de mestrado, apresentada em 2006, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da UFRGS. O título: “De gente da Barragem” a “Quilombo da Anastácia”: Um Estudo Antropológico sobre o Processo de Etnogênese em uma Comunidade Quilombola no Município de Viamão/RS.

Suas pesquisas sustentaram a titulação das terras para os descendentes de negros escravizados daquela localidade.

– Comecei a pesquisar no final dos anos 1990, e estavam em discussão duas ações afirmativas nas universidades públicas brasileiras: as cotas raciais e os direitos territoriais das comunidades quilombolas.

– Isso sempre me incomodou nas trajetórias negras, que é justamente a ausência de trajetórias. Na mídia, na ciência, de um modo geral, parecem que as pessoas negras brotam do chão, não tem ancestralidade, raiz, história. Então, esse foi meu tema na monografia de graduação. E no mestrado, em 2006, já havia a expectativa de titulação das terras, e isso levaria segurança jurídica aos quilombolas, porque havia espoliação, apropriação ilegal de terras, como eu ouvi dizer: “as cercas andam na madrugada”. Mas como estávamos numa época em que a política pública se desenvolvia no país, a pergunta era: como uma política pública de direitos quilombolas se desenvolve no “estado mais branco do Brasil”?

Anastácia nasceu em 1896, portanto era livre (Lei do Ventre Livre é de 1871 e determinava que os filhos de escravas nascidos posterior àquela data eram livres). Já, a abolição da escravidão em Viamão ocorreu em 1884, anterior à Lei Áurea, de 1888.

Nos idos de 1870, dentre os 1.028 habitantes de Viamão, 749 eram negros, cerca de 70% do contingente populacional. (Fonte: MONTI, Verônica. “O Abolicionismo: 1884 sua hora decisiva no RS”, 1985). Hoje, 44% de 250 mil habitantes são considerados negros.

Dos 26 processos no Estado, apenas cinco receberam titulação das terras

Quilombo Cantão das Lombas, na divisa de Viamão com Santo Antônio da Patrulha, tem 28 famílias em 154,75ha, cujo processo de regularização está tramitando desde 2021. Foto: Cleber Dioni

Há 26 processos em andamento para regularização de quilombos na superintendência do Incra no Rio Grande do Sul. Apenas cinco comunidades foram tituladas, mas mesmo assim, nem todos os moradores desses territórios reconhecidos receberam os títulos de propriedade.

O Quilombo Casca, em Mostardas, por exemplo, com 85 famílias, tem pouco mais da metade (51%) da área de 2.300 hectares titulada.

Os demais são Família Silva, em Porto Alegre (12 famílias, em 0,65 ha – 35%), o Rincão dos Martinianos, em Restinga Seca (55 famílias, em 98,5 há – 27%), a Chácara das Rosas, em Canoas (20 famílias em 0,36 há – 100%), e o Rincão dos Caixões, em Jacuizinho (22 famílias em 226,16 ha).

O maior quilombo com processo em andamento no Estado é o Morro Alto. Desde 2011, 456 famílias reivindicam 4.564,4 hectares nos municípios de Maquiné e Osório.

Em Viamão, duas das três comunidades quilombolas estão com processo em curso, o da Anastácia e o Cantão das Lombas, 28 famílias em 154,75 ha, com processo em tramitação desde 8 de dezembro de 2021.

Nove quilombos gaúchos foram incluídos em uma Portaria no Diário Oficial do governo federal, mas as comunidades ainda não receberam os títulos das terras. São eles: São Miguel (Restinga Seca), Manoel Barbosa (Gravataí), Arvinha (Coxilha e Sertão), Cambará (Cachoeira do Sul), Mormaça (Sertão), Palmas (Bagé), Limoeiro (Palmares do Sul), Areal Luis Guaranha (Porto Alegre), e dos Alpes (Porto Alegre).

Censo 2022: Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas

Dados inéditos sobre população quilombola no país foram divulgados em julho deste ano de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), resultado do Censo 2022.

Segundo matéria da Agência Brasil, o país tem 1,32 milhão de quilombolas, residentes em 1.696 municípios.

Os quilombos Kalunga, em Goiás, e Erepecuru, no Pará, são os maiores do Brasil. O primeiro envolve 54 comunidades, com 888 famílias, em uma área de 261,99 mil hectares, e o segundo, vivem sete comunidades, com 154 famílias, em uma área de 231,6 mil ha.

O total de títulos concedidos é de 322, em 206 territórios, envolvendo 356 comunidades, 21.093 famílias e 1,090 milhão de hectares de área titulada, dos 1,513 milhão de ha reconhecidos. Significa que 72% da área reconhecida foi titulada.

Na divulgação da publicação Brasil Quilombola: Quantos Somos, Onde Estamos?’, em Brasília, o presidente em exercício do IBGE, Cimar Azeredo, considera que os números inéditos sobre esse grupo populacional são uma verdadeira reparação histórica de injustiças cometidas no passado.

“São essas populações que mais precisam das estatísticas, desses números. A gente precisa saber quantas escolas, quantos postos de saúde, coisas relacionadas à educação e tudo o que essa população quilombola precisa, como a titulação [de terras]. Os dados que estão sendo apresentados hoje, pelo IBGE, se tornam, praticamente, uma reparação histórica”. Cimar Azeredo adiantou que, brevemente, o IBGE vai apresentar informações básicas sobre pessoas indígenas e moradores de comunidades e favelas.

A representante da Organização das Nações Unidas no Brasil, Florbela Fernandes, destacou que o levantamento e a divulgação de dados sobre a população quilombola no Brasil tem um simbolismo enorme a todo o país. “A inclusão de um quesito específico para a população quilombola [no censo] representa um marco de reparação histórica importante e que serve de investigação de referência para outros países da diáspora africana”.  “Essa é a primeira pesquisa oficial para coletar dados específicos sobre a população quilombola. Após 135 anos da abolição da escravidão no Brasil, finalmente, saberemos quantos quilombolas são exatamente, onde estão, e como vivem”, comemorou Florbela Fernandes.

 

 

 

Agricultores convocam população para debater gestão das feiras ecológicas na Capital

O Conselho de Feiras Ecológicas do Município de Porto Alegre (CFEMPOA) promove nesta terça-feira (14), às 19 horas, na Câmara Municipal, uma audiência pública para debater com a população o Projeto de Lei 037/23, proposto pelo Executivo para regulamentar as Feiras Ecológicas realizadas em logradouros público da Capital.

“Esse projeto quer verticalizar o sistema, passar a gestão das feiras para a Prefeitura, que hoje é feita pelas entidades ecológicas, agricultores, processadores e consumidores. Nessa audiência, vamos explicar aos vereadores o que está acontecendo e os prejuízos que esse PL pode trazer para sociedade como um todo”, diz Franciele Bellé, agricultora ecológica da Feira de Agricultores Ecologistas (FAE).

Agricultores discordam de propostas da Prefeitura para regulamentar feiras ecológicas de Porto Alegre

Fran explica que a elaboração de uma lei específica para as feiras ecológicas é de interesse dos agricultores, visando a desvinculação da lei dos vendedores ambulantes.

“No entanto, o Conselho tentou construir junto com o secretário municipal Cassio Trogildo, da Governança Local e Coordenação Política, uma proposta que contemplasse os agricultores ecologistas, mas infelizmente as propostas foram desconsideradas. Em seguida, em reunião com o prefeito Sebastião Melo, foram entregues as propostas de quem vive o dia a dia das feiras. Mas, a promessa de que o Conselho seria inserido no processo de elaboração da referida Lei não se cumpriu”, completa a agricultora.