Um novo recorde na produção brasileira de grãos é o que prevê a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no 6º levantamento da safra 2024/2025, divulgado, nesta quinta-feira, 13/03.
Um aumento de 10,3%, em relação a safra anterior, eleva para 328,31 milhões de toneladas o total da produção no pais este ano, conforme a previsão.
No Rio Grande do Sul, a produção deve atingir 36,34 milhões de toneladas, uma redução de 1,3% em relação à safra passada.
O estado se mantém na posição de terceiro maior produtor de grãos no país, atrás de Mato Grosso e Paraná, seguido por Goiás.
Já a área plantada está prevista em 10,45 milhões de hectares, um aumento de 0,3%. A queda na produção foi motivada pela estiagem, que impactou principalmente a cultura da soja.
No entanto, há perspectiva de excelente produção nas safras de arroz e milho.
Os números da safra gaúcha
Arroz e feijão – A produção de arroz deve atingir 8,3 milhões de toneladas, um aumento de 15,9% em relação ao ano passado. A área plantada chega aos 951,9 mil hectares, com crescimento de 5,7%.
A expectativa é de aumento da área cultivada em todas as regiões produtoras, especialmente na Sul e na Fronteira Oeste, devido à boa rentabilidade da cultura no momento do plantio, ao bom volume de água nas barragens e rios durante o plantio e à possibilidade de preparo antecipado das áreas, o que favorece boas produtividades.
A produção de feijão deve alcançar 76,9 mil toneladas, um aumento de 7,3%. A área plantada está prevista em 48,5 mil hectares.
O cultivo de feijão da 1ª safra está concentrado no Planalto Superior. A semeadura começou em dezembro e foi concluída em janeiro. Mais de 60% das lavouras estão no enchimento de grãos e 30% em florescimento. Embora a estiagem tenha impactado o desenvolvimento, as condições climáticas na região foram menos severas, e as lavouras ainda apresentam bom potencial produtivo.
A semeadura do feijão preto da 2ª safra continua no estado. Iniciada em janeiro, a operação avançou lentamente até fevereiro, quando as chuvas melhoraram as condições do solo, permitindo um aumento rápido da área semeada, que atingiu 88% no final do mês.
No Planalto Médio, que é a principal região produtora, as expectativas são boas, especialmente devido à alta proporção de lavouras irrigadas. Nessa região, 90% da área foi semeada, 20% está em emergência e 80% em desenvolvimento vegetativo.
Soja – A produção de soja está estimada em 17,1 milhões de toneladas, uma redução de 13,2% em relação à safra anterior, posicionando o estado como o 4º maior produtor da oleaginosa, atrás de Mato Grosso, Paraná e Goiás.
A área cultivada deve aumentar para 6,84 milhões de hectares, com um incremento de 74,4 mil hectares (1,1% a mais).
As lavouras de soja continuam sendo afetadas pela falta de chuvas regulares. As semeadas mais tarde sofreram prejuízos significativos, com perdas que podem ser irreversíveis. A estimativa de produtividade é de 2.495 kg/ha, uma redução de 7,5% em relação ao levantamento anterior, 16,1% abaixo da estimativa inicial e mais de 30% em relação ao potencial da cultura.
Milho – O RS é o maior produtor de milho 1ª safra. A semeadura foi concluída, e a colheita já ultrapassa 80%. A produção está prevista em 5,5 milhões de toneladas, um aumento de 13,7%. A área plantada pode chegar a 719,6 mil hectares, uma redução de 11,7%. A estimativa de produtividade média foi ajustada para 7.664 kg/ha, um aumento de 16% em relação ao mês anterior. Embora as lavouras ainda no campo tenham apresentado perdas, as lavouras já colhidas possibilitaram esse incremento. Apesar dos resultados positivos, algumas lavouras apresentaram perdas consolidadas devido à estiagem.
Trigo (safra 2025) – O Rio Grande do Sul é o maior produtor de trigo no país. Para a safra de inverno de 2025, a produção deve crescer 4,4%, chegando a 4,1 milhões de toneladas. A área cultivada está prevista em 1,29 milhão de hectares, uma redução de 3,8% em relação ao ciclo de 2024. A produtividade média estimada é de 3.172 kg/ha. Os dados para o trigo, que será implantado por volta de maio, são baseados em modelos estatísticos e análises de mercado.
Uma avenida beira-mar na praia dos Ingleses para desafogar o trânsito na região, uma das mais populosas de Florianópolis.
O anúncio do projeto foi feito com grande repercussão no início de fevereiro.
O prefeito, Topázio Neto, postou em suas redes um vídeo, andando pela praia e dizendo “já estamos trabalhando no projeto e já temos garantia de parte dos recursos”. Comparou a obra com o que acontece “em Balneário Camboriú, Itapema e Copacabana”.
O projeto da avenida, na verdade, já tramita há mais de seis meses na prefeitura de Florianópolis.
Foi encomendado e “doado” pelo empresário Fernando Marcondes de Matos, proprietário do Costão do Santinho, um complexo turístico com hotel e resort, com mais de 220 apartamentos, junto ao morro das Aranhas, na Praia do Santinho.
O que não apareceu no jornal e nem na televisão é o que está por trás da generosidade do empresário que ofereceu o projeto da beira-mar dos Ingleses à prefeitura.
É um projeto de expansão do Costão do Santinho, em processo de licenciamento e que prevê a construção de um conjunto de torres de cinco andares, com um total de 351 apartamentos, numa área de 26 mil metros quadrados, ao lado do atual complexo, junto ao morro das Aranhas.
A linha preta marca os limites do Santinho, a amarela a área onde há equipamentos urbanos e em vermelho a localização do projeto. Fonte: Estudo de Impacto de Vizinhança.
O principal obstáculo para o licenciamento desse novo projeto até agora é a questão da mobilidade, justamente na confluência da Praia do Santinho e os Ingleses, onde a avenida D. João Becker é estreita e forma o principal ponto de estrangulamento do trânsito na região. No verão, pode-se levar duas horas para vencer um trecho de dois quilômetros.
Estrada Onildo Lemos, unico acesso e saída do Santinho, com a D. João Becker: gargalo.
É esse gargalo que a projetada beira-mar dos ingleses promete resolver.
“Vai desafogar num ponto, que interessa diretamente à aprovação do projeto do Costão, mas vai agravar o problema, já bastante grave, da mobilidade no Santinho”, explica Rafael Freitag, presidente do Instituto Sócio Ambiental do Santinho (ISAS).
Ele lembra que junto à Vereador Onildo Lemos, única via de acesso e saída do bairro Santinho, já está em construção um condomínio com onze prédios de quatro andares, num total de mais de 200 apartamentos.
Somados às 351 unidades previstas na expansão do Costão, vão representar um acréscimo de duas mil pessoas, numa comunidade que, em crescimento acelerado, hoje supera os quatro mil moradores com sérios problemas urbanos e ambientais.
Não tem esgoto, por exemplo. A implantação da rede, iniciada em 2018, com financiamento externo, consumiu mais de R$ 100 milhões e parou, sem concluir sequer a tubulação principal. E não há data para retomar a obra. Enquanto isso, o rápido aumento populacional coloca em colapso o sistema de fossas, usado em todas as casas e pousadas e o resultado é visível nas ruas, principalmente na alta temporada turística.
Segundo o Estudo de Impacto de Vizinhança*, uma das peças do licenciamento, “o empreendimento deverá adotar solução particular”, com a construção de uma Estação de Tratamento própria.
“Também entende-se que, em virtude dos índices de abastecimento de água e de coleta de resíduos sólidos serem ruins, há necessidade da ampliação da infraestrutura e atendimento destes equipamentos na região”, diz o EIV, que registra também as carências em segurança, falta de áreas de lazer e escolas.
Para os Ingleses, um dos bairros com crescimento explosivo nos últimos anos, também a avenida não chega a ser uma solução, embora possa melhorar o trânsito naquele trecho de 2,5 km. Mas vai agravar a degradação da praia, já acentuada.
Em 2023, foi necessário “engordar” a praia com bombeamento de areia para recuperar os espaços tomados pela ocupação irregular. Um investimento de mais quase R$ 20 milhões, numa solução paliativa.
Em plena temporada de 2025, são visíveis as tubulações jogando esgoto direto na praia.
*E118664/2022 – Costão do Santinho Turismo e Lazer SA, feito pela Ambiens Soluções Ambientais.
Um hamburguer vegetal, à base de coco babaçu, é um dos novos alimentos naturais e ricos em proteínas desenvolvidos nos laboratórios da Embrapa no Maranhão, em trabalho que envolve pesquisadores e as mulheres “quebradeiras de coco” da região.
Essa parceria já havia dado origem a novas formulações de biscoito e de gelado, uma bebida tipo leite e a um análogo do queijo, todos oriundos do coco babaçu.
Para o desenvolvimento desses alimentos, participaram as mulheres da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu – Coomavi, em Itapecuru-Mirim, da Associação Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria, da comunidade Pedrinhas Clube de Mães em Anajatuba, MA, e ainda da Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha do Assentamento Canto do Ferreira, em Chapadinha, MA.
De outro lado, fizeram parte dos estudos pesquisadores da Embrapa Maranhão (MA), Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a Rede ILPF e financiamento da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) no Brasil.
O objetivo foi a valorização do trabalho das quebradeiras de coco e do babaçu como produto da sociobiodiversidade brasileira com a diversificação dos coprodutos da palmeira para atender nichos de mercado.
Para tal, o bagaço da amêndoa – até então resíduo da extração do óleo da amêndoa – foi transformada em farinha da amêndoa, matéria-prima para outros produtos, como o análogo do hambúrguer, e incluída em formulações de biscoitos, pães, bolos, mingaus e sorvetes, resultando em mais economia e satisfação dos consumidores.
A pesquisadora Guilhermina Cayres, líder do projeto de pesquisa, diz que os novos alimentos foram desenvolvidos considerando as condições específicas das agroindústrias comunitárias e as práticas tradicionais das quebradeiras de coco, integrando melhorias e padronizações – incluindo as boas práticas de processamento e segurança alimentar – e levando em conta também a aceitação sensorial do produto, agregação de valor às amêndoas quebradas e diversificação de produção.
“Promovemos a interação de conhecimentos técnicos e tradicionais para aumentar o valor agregado da produção artesanal e ocupar nichos de mercado específicos, como os de produtos associados à identidade sociocultural e os voltados para dietas com restrição de consumo de glúten e lactose.
Sabemos que os alimentos oriundos do babaçu são elementos potenciais para criar sistemas alimentares que valorizam a identidade sociocultural de povos e comunidades tradicionais do Maranhão, gerando inclusão produtiva e riqueza com baixo impacto ambiental e inserindo o estado como referência na bioeconomia e no uso sustentável de produtos da sociobiodiversidade”, destaca a pesquisadora.
O professor Harvey Villa, do Departamento de Engenharia Química da UFMA, explica como foi o processo para se chegar ao alimento tipo hambúrguer. “Utilizamos metodologia inversa. Em vez de irmos primeiramente ao laboratório e depois levar o produto para a comunidade, partimos de uma avaliação das condições locais e do potencial das matérias-primas que elas têm, inclusive dos próprios resíduos, o que é muito importante porque a amêndoa do coco babaçu inicialmente é empregada para extração de óleo a frio e a quente. Essa torta, fruto do processo de prensagem, normalmente era usada como ração para animais e sabíamos que ainda tinha bastante conteúdo de lipídios, carboidratos, podendo ser utilizada como um tipo de farinha por meio de bom tratamento e processamento.
A ideia era reaproveitar 100% do produto e obtivemos êxito. A farinha que está sendo utilizada para o hambúrguer não é a do mesocarpo, é da amêndoa, antes resíduo e agora, matéria-prima.
Do ponto de vista físico-químico, a farinha da amêndoa tem uma boa proposta para a carne de hambúrguer, pois utiliza casca da banana como agente estruturante junto com a amêndoa para dar sabor e maciez ao fritar, e mais a farinha de arroz para dar a liga junto com os temperos, o que garante boa validade do ponto de vista de vida útil e qualidade nutricional para dieta vegana.
Além disso, atingiu um percentual de proteína de 13,17% por 100g de produto, valor adequado para o tipo de alimento. O produto não tem conservantes e dura até seis meses congelado. Foram feitas quatro formulações e chegou-se a duas: uma com casca de banana e outra com polpa de jaca. Devido à maior disponibilidade e regularidade da banana ao longo do ano, o hambúrguer à base de amêndoa de babaçu e casca de banana foi a opção priorizada entre as quebradeiras de coco e a equipe técnica para prosseguir com os testes e análises.
Segundo a professora da UFMA Yuko Ono, nutricionista e membro da equipe técnica, uma das características funcionais da casca de banana é a presença de inúmeros sítios ativos responsáveis pela absorção de metais, entre os quais se destaca o cobre, presente em muitos processos industriais, mas nocivo à saúde humana quando em alta concentração. “Além disso, a casca da banana apresenta também teores de nutrientes maiores do que a polpa, como fibras, vitaminas, minerais e é rica em pectina. As fibras atuam na melhoria do trato gastrointestinal e no controle e prevenção de certas doenças crônico-degenerativas”, acrescenta Ono.
Jefferson Marinho, bolsista do projeto, se envolveu diretamente na produção do hambúrguer e relembra o processo. “Partimos do zero, queríamos que o produto tivesse as características organolépticas mais similares possíveis às da carne, além de ingredientes específicos, como a farinha da amêndoa do babaçu, que é bastante rica nutricionalmente e energeticamente”, diz. Para isso, os pesquisadores envolvidos uniram os conhecimentos científicos aos saberes tradicionais das quebradeiras para definir a forma de preparo e os ingredientes.
Rosângela Lica, da Coomavi, detalha a descoberta da farinha da amêndoa obtida a partir do resíduo da prensa do óleo. “Nós não fazíamos farinha do bagaço do óleo, usávamos como ração animal. O costume era fazer farinha do mesocarpo. Aprendemos a assar e torrar o bagaço no forno para atingir o ponto certo e transformá-lo em farinha da amêndoa, um produto que substitui o coco ralado em todas as formulações, dá muito mais crocância e tem melhor aceitação pelos consumidores, pois os produtos são 100% feitos com o babaçu”, ressalta.
Para Alana Licar, também da Coomavi, “os impactos foram positivos, pois agregam mais sabor e qualidade, evitam desperdícios e garantem um produto benéfico, oriundo de uma matéria-prima encontrada em abundância”. Antonia Vieira, da comunidade quilombola Pedrinhas Clube de Mães, fala da presença das mulheres quebradeiras desde o início da pesquisa. “Somos parte desse processo, muito rico para nós e para os pesquisadores. É uma troca maravilhosa”, celebra.
Consumidores aprovam novos produtos
Os novos produtos atendem diferentes exigências do mercado de alimentos – nutrição, saúde, boas práticas de qualidade, segurança alimentar, padronização e valorização de produtos da culinária e cultura regionais e comercialização – e passaram por testes de análise sensorial. A qualidade dos alimentos compreende, basicamente, três aspectos fundamentais: o microbiológico, o nutricional e o sensorial.
O aspecto sensorial é o que mais atrai o consumidor na hora de escolher um produto alimentício. Por isso, deve apresentar características sensoriais agradáveis, próprias do produto, tais como cor e aparência, consistência e textura, aroma e sabor característicos e desejáveis.
Segundo a engenheira de alimentos Glória Bandeira, professora da UFMA, essa etapa da pesquisa é importante em diversas situações. Entre elas, o desenvolvimento de novos produtos, melhoria de um produto existente, comparação com um produto concorrente já estabelecido no mercado, mudança na formulação, melhoramento genético e mudança de equipamento ou processo. “A análise sensorial é fundamental para analisar as características de um produto com base nos sentidos humanos e fornecer dados confiáveis para a tomada de decisão. No caso dos alimentos do babaçu, fizemos análise físico-química, microbiológica e nutricional e também estudo de vida de prateleira dos produtos. Convidamos os alunos dos cursos do IEMA Gastronomia para degustar e avaliar dos produtos, que foram aprovados em todas as etapas e liberados para comercialização”, observa.
Para o professor Paulo Sousa, da UFC, parceiro para coordenação da avaliação sensorial, a análise tem o objetivo de avaliar a aceitação de potenciais consumidores, além de fornecer uma caracterização qualitativa do produto em relação ao aroma, sabor e textura. “Buscou-se aferir o percentual de aceitação, e também a possibilidade de ajustes do produto antes que o mesmo entre no mercado consumidor”, acrescenta.
Inovação social contínua
Para multiplicar os conhecimentos gerados no processo de inovação social, as mulheres receberam treinamentos, dialogaram com os parceiros da pesquisa, exercitaram os novos conhecimentos, ajustaram práticas de acordo com seu conhecimento tradicional com formulação de alimentos e treinaram outros grupos de mulheres para a produção dos novos alimentos oriundos da amêndoa do babaçu para promover o empreendedorismo e a autonomia de mais mulheres.
Samara Bontempo, bolsista do projeto, entende que participar das pesquisas com alimentos à base de babaçu em diferentes comunidades agroextrativistas tem sido fundamental para sua formação e a de outros jovens cientistas que valorizam o conhecimento tradicional e o potencial da sociobiodiversidade. “Pra mim, fazer parte da equipe de pesquisa amplia a visão dos pontos de vista sociohistórico, geográfico e ambiental. Temos o objetivo de tornar essas organizações autossuficientes, atores dos seus processos de decisão, inovação, sustentabilidade e mercado, mostrando uma nova perspectiva do babaçu como elemento âncora de um sistema alimentar com a identidade cultural do Maranhão”, ressalta.
Transformando vidas
O Maranhão se destaca pela produção de coco babaçu. São mais de 300 mil maranhenses, conhecidas por quebradeiras de coco, que vivem dessa atividade e, ao longo do tempo, foram colocadas à margem do processo de desenvolvimento. Por isso, o foco da pesquisa vai além do produto e abrange o desenvolvimento das quebradeiras de coco para que possam fortalecer suas organizações e usufruir dos benefícios da ciência, com produtos de preço justo e agregação de valor e renda aos seus negócios.
É unânime entre as quebradeiras de coco que os novos produtos e formulações alimentícias já impactam a qualidade de vida das famílias das comunidades tradicionais. “Nosso esforço está sendo recompensado. Os consumidores veganos estão adorando e os não veganos também. Estamos muito felizes com os resultados do tipo hambúrguer e da farinha da amêndoa. Nas feiras de São Luís, os produtos são sucesso junto aos consumidores”, diz Rosângela Licar, da Coomavi. Maria Domingas, da Comunidade Pedrinhas Clube de Mães, reforça que “o babaçu não é um simples coco, é um trabalho enorme que gera renda, qualidade de vida e cidadania”.
O professor Harvey Villa avalia os resultados colhidos com a pesquisa em parceria com as quebradeiras de coco babaçu. “Mostrar aos alunos que existe um mercado de trabalho com foco no desenvolvimento socioeconômico de uma região abre perspectivas de trabalho e opções laborais. Trabalhar em parceria com as mulheres do babaçu foi muito gratificante. O hambúrguer é muito gostoso, é um hambúrguer espetacular. Nosso objetivo foi cumprido. Elas vendem o produto a um preço bem competitivo e os consumidores estão apreciando bastante. Não sobra nada”, comenta
Westphalen Nunes, representante da Agência GIZ no Brasil, resume os efeitos da valorização da cadeia do babaçu. “Estamos felizes em colaborar para que o babaçu possa explorar suas potencialidades, gerando mais renda e qualidade de vida às quebradeiras, mais opções de produtos de qualidade para o mercado consumidor e mais riqueza com desenvolvimento sustentável para o Maranhão”.
Hambúrguer é premiado
Como reconhecimento pelo desenvolvimento do alimento tipo hambúrguer, a equipe técnica liderada pela pesquisadora Guilhermina Cayres foi uma das finalistas do prêmio Con X Tech Prize: Amazônia, uma competição global que busca inovações científicas e tecnológicas de vanguarda para transformar as atuais economias destrutivas e extrativistas da Amazônia em economias modernas e regenerativas. Um dos requisitos é que as soluções devem proteger a integridade dos ecossistemas, respeitar os povos indígenas e as comunidades locais, bem como seu conhecimento tradicional, e apoiar a distribuição justa dos benefícios gerados pela comercialização de produtos e serviços florestais.
Parceiros e recursos
A iniciativa teve a coordenação da Embrapa Maranhão, com financiamento da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) no Brasil e gestão financeira da Rede ILPF, em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Embrapa Agroindústria Tropical, Universidade Federal do Ceará (UFC), iniciativa privada, organizações não governamentais e outros agentes das cadeias de valor. Esse projeto está vinculado à parceria da Embrapa com o The Good Food Institute (GFI) e com o Conservation X Labs (CXTP), sob gestão financeira da Fundação Arthur Fernardes (Funarbe).
O Banrisul estará presente na 25ª Expodireto Cotrijal, que acontece de 10 a 14 de março, em Não-Me-Toque. Com um portfólio completo para todas as categorias de produtores rurais, a instituição ofertará as linhas disponíveis no Plano Safra Banrisul 2024/2025.
Um estande do Banco, localizado no setor de instituições financeiras, atenderá o público das 8h às 18h, e contará com 40 especialistas em agronegócios, além de times direcionados às linhas de desenvolvimento, consórcio e suporte às máquinas da Vero.
Equipes também atuarão diretamente nas revendas, bem como prestando atendimento por meio de WhatsApp e e-mail.
O presidente do Banrisul, Fernando Lemos, destaca a importância de investimentos com foco em garantir aos produtores gaúchos resistência em casos de eventos climáticos adversos, principalmente após os últimos episódios ocorridos no Estado.
“Nesta edição, as linhas de crédito voltadas para irrigação, correção e recuperação de solos serão destaque, porque são fundamentais para proteger a produção e mitigar os impactos das intempéries”, afirma Lemos.
Para a 25ª Expodireto, empreendedores rurais podem contar com as taxas diferenciadas do Banrisul, com juros a partir de 2,5% a.a. para o pequeno produtor e a partir de 7% a.a. para o médio e grande produtor. Os prazos de financiamentos variam de acordo com a linha de crédito, podendo chegar em até 10 anos.
Um estudo de pesquisadores brasileiros classificou o Rio dos Bugres, no litoral de São Paulo, como o segundo mais poluído por microplásticos do mundo.
De acordo com o pesquisador e biólogo marinho William Rodriguez Schepis, do Instituto EcoFaxina, a equipe coletou amostras de sedimentos em dez pontos, incluindo o Canal de São Vicente e o Canal do Porto de Santos, entre abril e julho de 2018.
No trecho mais contaminado do Rio dos Bugres, foram encontradas 93.050 partículas de microplásticos por quilo de sedimento coletado no fundo da água.
Apenas o Rio Pasur, em Bangladesh, no Sul da Ásia, é mais poluído, com 157 mil partículas na mesma quantidade de sedimentos.
São considerados “microplásticos” os fragmentos de plásticos com menos de 5 mm, que podem ser vistos apenas em laboratório.
Os materiais podem resultar da fragmentação de objetos maiores, como embalagens e fibras sintéticas de roupas e pneus.
No Rio dos Bugres, de acordo com o biólogo, as ocupações em palafitas influenciam a concentração de poluentes. Numa dessas comunidades, a Vila Gilda, que ocupa uma área de manguezal, vivem mais de 20 mil pessoas.
De acordo com o biólogo, esses poluentes podem ser cancerígenos e causadores de problemas circulatórios e neurológicos. Testes em peixes revelaram disfunções hormonais e reprodutivas.
A divulgação da pesquisa provocou uma nota da prefeitura de São Vicente, informando que monitora a situação referente ao índice de microplásticos no Rio dos Bugres por meio de estudos e relatórios ambientais internos, com “ações frequentes para minimizar os impactos, como a fiscalização de descarte irregular e multa aos infratores”. Um projeto para reurbanizar a região do Rio dos Bugres, o Parque das Palafitas, já teve suas obras iniciadas.
Outro estudo
Os índices de contaminação registrado no Rio dos Bugres supera o máximo encontrado na costa brasileira em pesquisa anterior da Ong Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
Esse estudo, divulgado em setembro de 2024, considerou a Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis como a “mais poluída por microplásticos do Brasil”. A Praia do Rizzo, na região continental da capital de Santa Catarina, ficou também entre as cinco mais poluídas.
No conjunto, Florianópolis ficou na terceira posição entre as cidades do país com a maior densidade de microplástico por metro quadrado nas praias.
Foram 16 meses de expedição, 7 mil quilômetros percorridos, 306 praias e 201 municípios visitados. Microplásticos foram encontrados em 97% dos locais analisados.
Cidades com maior poluição por microplásticos
Cidade Quantidade por m²
Mongaguá, SP 83.0000
Conceição da Barra, ES 44.0000
Florianópolis, SC 43.3333
Arroio do Sal, RS 43.0000
Natal, RN 39.8333 Fonte: Sea Shepherd Brasil e Instituto Oceanográfico da USP.
Conforme o relatório, a poluição do oceano causada por plásticos é descrita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores problemas ambientais da história.
Os detritos entram facilmente na cadeia alimentar dos animais marinhos. Em 2023, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) já havia detectado glitter e microplásticos em ostras e mariscos.
Um dos mais conhecidos cartões postais de Florianópolis, a Lagoa da Conceição está se tornando também um símbolo do acelerado processo de degradação ambiental que atinge toda a Ilha de Santa Catarina e a parte continental da capital catarinense.
Em 2021, a barragem de uma Estação de Tratamento de Esgotos da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) se rompeu, despejando milhões de litros de poluentes – esgoto sanitário – nas águas, nas dunas da lagoa, atingindo também casas e ruas. Foi uma tragédia anunciada.
No início de fevereiro, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) divulgaram um estudo que detectou em suas águas altas concentrações
de 35 substâncias contaminantes, entre elas cafeína, cocaína, antibióticos e anti-inflamatórios.
Resultado: na quarta-feira, 19/02, a Assembleia Legislativa aprovou requerimento do deputado Marcos de Abreu, o Marquito, do PSOL, e a situação ambiental da Lagoa será debatida numa Audiência Pública, prevista para março.
Deputado Marquito (PSOL): “O maior crime ambiental da história de Florianópolis”.
O deputado, que é agrônomo e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia, diz que a poluição das águas e das dunas da Lagoa da Conceição põe em risco não só a saúde dos moradores e turistas, mas também os mananciais que abastecem os aquíferos, garantindo água para a população. A Lagoa da Conceição tem de 19,7 km2 de extensão e no seu entorno vivem cerca de 15 mil pessoas, num dos mais antigos distritos da capital catarinense, criado por uma provisão régia em 1750.
O estudo que detectou a alta carga de contaminantes na Lagoa da Conceição faz parte do Programa de Recuperação Ambiental, imposto à Casan, empresa de
economia mista, responsável pela Estação de Tratamento em que ocorreu o acidente em 2021 na Lagoa, “o maior crime sócio-ambientel da história de Florianópolis, segundo o deputado Marquito .
A responsabilidade da pesquisa é da UFSC, em colaboração com o Ministério da Agricultura e Pecuária
(MAPA) e da Fundação de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação de SC (Fapesc)
Segundo a assessoria de imprensa da Casan, o custo dos diferentes programas é de R$ 27 milhões. Deste total, pouco mais de R$ 10 milhões foram desembolsados
em indenizações de 78 processos concluídos e relacionados à tragédia de 2021, e cerca de R$ 2 milhões estão sendo aplicados em programas de apoio científico e
tecnológico junto à UFSC, como o que encontrou drogas lícitas e ilícitas em diferentes pontos da Lagoa.
Liderado pela professora Silvani Verruck, do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC, este estudo tem um custo de R$ 110 mil e deve ser
encerrado até dezembro deste ano. Em entrevista ao JÁ, a professora afirmou que a equipe ainda tem um grande desafio pela frente. “Vamos tentar remover este tipo de
contaminantes, já que os níveis encontrados são altos dentro de um contexto de química ambiental, embora baixos em termos de toxicidade”, explica.
Co-autor do trabalho, o dr. Rodrigo Hoff (MAPA), ressalta que serão necessários outros estudos na área de ecotoxicidade para avaliar o impacto destas concentrações na saúde humana e no meio ambiente. “É uma tarefa importante
para as próximas etapas”, alerta, acrescentando que agora, na segunda etapa das pesquisas, passam a usar um equipamento, já testado na cidade de São Lourenço
do Sul/RS, capaz de descontaminar a água utilizando um destilador solar, que tem o nome de REACQUA.
O deputado solicitante da audiência pública lembra que, em 2022, a Casan, como medida emergencial para evitar novos extravasamentos da Estação, passou a
bombear o efluente do reservatório para as dunas do Parque Natural Municipal da Lagoa da Conceição. Quatro anos depois do rompimento da estação de esgoto, os canos continuam lá e o problema ainda não foi solucionado.
Principais contaminantes encontrados na Lagoa Na água: Benzolecgonina, Cafeína, Azeperol, Clindamicina, Piroxicam,
Sulfametoxazol, Dietilpropriona e Flunitrazepan Nos sedimentos: Benzolecgonina, Cafeína, Piroxicam, Clindamicina, Alprazolam, Clonazepan, Cocaína e Dietilpropriona No pescado: Nitrazepam, Nimesulida, Temazepan, Bezafibrato, Cocaína, Tramadol, Canabidiol e Codeína
Desastre ambiental
O desastre ambiental de 2021 ocorreu dentro do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, uma área protegida com cerca de 700 hectares. O parque foi criado em 1988 com o objetivo de conter o avanço das construções irregulares sobre as dunas entre a Praia da Joaquina e a Lagoa, a área é composta de vastos campos de dunas, cobertas por diferentes tipos de vegetação do ambiente de restinga, e por uma extensa e complexa rede de lagoas e cursos de água.
O Parque tem importância ecológica e econômica, com o intenso turismo. E já foi comparado na campanha política do atual prefeito Topázio Neto, do PSD, aos lençois maranhenses.
Sob a responsabilidade da Casan, foi construída na área a Estação de Tratamento de Esgoto, que se rompeu em 25 de janeiro de 2021, invadindo ruas, como a Avenida
das Rendeiras, cerca de 100 casas e arrastando carros e motos até chegar na Lagoa da Conceição. A Casan instaurou uma Comissão de Sindicância para
apurar o acidente, mas em novembro de 2022, a Comissão decidiu pelo arquivamento da sindicância, sem apontar responsáveis pelo dano ambiental.
Grupo de pesquisadores da UFSC, que monitora os efeitos do rompimento da Lagoa, considera que 90% do volume da barragem chegou à Lagoa.
Sedimentos (areia) e matéria orgânica depositaram-se às margens, modificando a topografia do local.
*Especial para o Jornal JÁ
(O Jornal Já vai trazer outras notícias sobre o grave problema ambiental na Lagoa da Conceição. Acompanhe por aqui).
O Rio Grande do Sul deve enfrentar uma nova onda de calor neste final de semana.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta que o centro-oeste gaúcho pode atingir os 40º C.
Para o Inmet, a nova onda de calor seria a terceira no país neste ano.
A primeira foi entre os dias 17 e 23 de janeiro e a segunda ocorreu entre os dias 2 e 12 de fevereiro, ambas localizadas também no Rio Grande do Sul.
O Inmet explica que, conforme a Organização Meteorológica Mundial (OMM), “uma onda de calor é caracterizada quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em 5º C ou mais a média mensal durante, no mínimo, cinco dias consecutivos”. E acrescenta que “essa condição deve abranger uma área extensa”.
Para as demais regiões, as instabilidades na Região Norte continuam, principalmente nas áreas que vão do Amapá até o Maranhão.
Os volumes de chuva podem atingir 100 mm em 24 horas, e os ventos, até 100 km/h. Situação resultante da presença nestes locais da zona de convergência intertropical (ZCIT).
De norte a sul, o país está sujeito a fortes chuvas no final de semana, com aviso amarelo de perigo potencial. O volume médio previsto é de até 50 mm, e ventos de até 60 km/h.
São Paulo
A Defesa Civil de São Paulo alerta para a ocorrência de fortes temporais nesta sexta-feira (21) no estado. Conforme o órgão, “a combinação dos elevados índices de temperatura e umidade provocará chuvas em São Paulo, que pontualmente podem ser bem fortes”.
Os principais pontos sujeitos às precipitações são a região metropolitana da capital e o Vale do Paraíba. “Os moradores dessas localidades devem ficar atentos aos possíveis transtornos, pois a previsão aponta chuvas com volumes que podem chegar a 100 mm e ventos de até 100 km/h, de acordo com aviso laranja emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)”, divulgou a Defesa Civil.
O tempo instável em São Paulo deve-se a um sistema meteorológico estacionado próximo à costa do Sudeste. Diante desse cenário, a Defesa Civil do Estado reforça a importância de redobrar os cuidados, especialmente em áreas vulneráveis a alagamentos e deslizamentos de terra.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a previsão do Inmet para amanhã também é de um sábado com bastante calor, com a temperatura chegando aos 36º C, mas com pouca nebulosidade.
Já no domingo (23) o calor deve chegar aos 35º C e formação de muitas nuvens, embora sem previsão de chuvas. Na segunda-feira (24) devem acontecer pancadas de chuva isoladas.
O calor no Rio de Janeiro fez com que mais de 5 mil pessoas buscassem atendimento em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o início do ano.
Apenas em fevereiro, cerca de 2,4 mil pessoas recorrem a unidades de emergência do SUS por complicações causados pela onda de calor.
A capital fluminense atingiu na última segunda-feira (17) o nível 4 de calor, o segundo mais alto em uma escala que vai até 5.
Esta foi a primeira vez que o Rio atingiu o patamar, desde a criação dos níveis pela prefeitura, em junho de 2024. Na segunda-feira, os termômetros chegaram a marcar 44ºC, a temperatura mais alta registrada pelo Sistema Alerta Rio desde 2014.
É a 29º viagem do glaciólogo gaúcho Jefferson Cardia Simões aos pólos. Ele sempre veraneia no gelo: foi duas vezes ao Ártico e 27 à Antártica.
Aos 66 anos de idade, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, esse cientista estóico, como ele mesmo se considera, vai e volta do gelo com a maior naturalidade.
Concedeu esta entrevista exclusiva apenas três dias após seu retorno a Porto Alegre (RS) em sua sala na Faculdade de Geografia da UFRGS em meio a um alerta da Defesa Civil gaúcha de alerta extremo de calor.
“Sou uma pessoa estóica, posso ficar dois meses fora de casa, mas quando volto assumo minha rotina e minha função de marido, pai e avó”. Simões é casado há mais de 40 anos, tem dois filhos e dois netos.
Nesta última missão, a Internacional Circum-Navegação Costeira Antártica (ICCE), que regressou ao Brasil no dia 31 de janeiro, Simões foi o chefe da expedição e coordenou 57 cientistas de sete países (Argentina, Chile, China, Índia, Peru, Rússia e Brasil).
O trabalho foi a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov, que navegou 27,1 mil km nos 69 dias da expedição. O navio pertence ao Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica de São Petersburgo, na Rússia.
Os dois meses de navegação em mares da Antártica, confirmaram para o pesquisador tudo aquilo que as evidências científicas já haviam indicado: as geleiras estão derretendo, a água do mar está ficando cada vez mais ácida, a fauna e a flora estão sofrendo alterações, assim como as correntes marítimas e as comunidades costeiras, que serão fortemente afetadas.
As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas dão sinais claros do que está acontecendo. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem a região porque propagam calor.
Quais foram os objetivos da missão?
O objetivo número um foi obter informações sobre a movimentação do gelo nas bordas do continente antártico, porque este gelo pode estar dinamicamente instável. São milhares de toneladas que podem ter um deslocamento abrupto e provocar uma turbulência sem precedentes no mar, algo como um tsunami. O segundo objetivo foi averiguar o nível de salinidade do mar, porque ele está mais ácido.
A pesquisa já identificou que a água do oceano austral está mais ácida devido a concentração de CO2. Isto porque o gelo que cobria a água do mar derreteu. Esse gelo funcionava como um isolante térmico. Sem essa proteção, a água do mar absorveu o CO2 que existe na atmosfera, a maior parte dele produto da interferência humana. As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas dão sinais claros do que está acontecendo. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem a região porque propagam calor.
As geleiras polares perderam 30% de sua área e as geleiras não polares, como as da Cordilheira dos Andes, por exemplo, perderam 40% de sua área, expondo pedras, gerando calor, provocando inundações no início do fenômeno, e agora escassez hídrica para as comunidades que vivem na base da montanha.
Como foi o trabalho em equipe com tantas nacionalidades envolvidas?
Essa foi a primeira vez que cientistas brasileiros atuaram na Antártica Oriental. O envolvimento de tantos países com o mesmo objetivo é, para mim, um exemplo de “diplomacia da ciência”, houve muita cooperação e entrosamento. Interessante notar que os sete países a bordo do navio eram aqueles que deram início ao BRICS, que é um esforço de cooperação econômica entre nações. O trabalho de pesquisa se valeu de balões atmosféricos para realizar a coleta de dados que permitirão entender melhor a formação das frentes frias e dos ciclones extratropicais, além da coleta de materiais, que são os testemunhos de gelo, e de amostras de água do mar, de neve e do solo.
A Antártica tem 90% do gelo do mundo. 1% de derretimento representa um aumento de 60 cm no nível do mar. Imagine isto em algumas décadas, comunidades costeiras irão desaparecer, assim como várias ilhas. Cenários mostram que o nível do mar poderá subir 7m até o ano de 2100. O gelo antártico tem até 2 km de espessura, são cerca de 27 milhões de km cúbicos de gelo na Antártica, o suficiente para cobrir o Brasil com um manto de gelo de 3 km de espessura em toda a sua extensão. O território brasileiro tem 8,5 milhões de km quadrados.
Atualmente existe mais consciência sobre as mudanças climáticas em curso?
A questão do meio ambiente é global e os pólos estão inseridos na nossa vida, assim como a Amazônia e o Pantanal, por exemplo, há uma interdependência. Mudanças climáticas sempre existirão, mas é necessário reduzir o impacto sobre o clima imediatamente. Mesmo diminuindo o impacto que já provocamos, o nível do mar subirá 30 cm até o ano 2100.
No Brasil, de um modo geral, as pessoas pensam que a mudança climática está relacionada aos biomas verdes, como a floresta da Amazônia ou a flora do Cerrado. Mas tudo está relacionado, os fatores do meio ambiente são globais. Não há uma discussão relevante sobre mudança climática nas COPs (Conferências do Clima) eu nunca fui convidado para uma Conferência Internacional do Clima e nem devo ir na COP 30 (de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Brasil). As COPs são eventos políticos, não são de ciência.
Há um visível derretimento do gelo no Ártico e uma disputa envolvendo várias nações. O que isso significa?
A navegação marítima é afetada com o degelo do mar no Ártico, surgem novos portos, novas rotas comerciais, nova geopolítica e até a militarização em novas fronteiras. O Ártico aqueceu cerca de 4 graus e abriu uma nova passagem marítima. Em breve, o mar congelado deixará de existir nos meses do Verão no hemisfério norte . E assim não haverá mais o albedo, que é o reflexo do Sol na neve, então o Sol vai aquecer diretamente a água do mar, modificando correntes marítimas, fauna e flora.
Na nova geopolítica, com a passagem marítima Nordeste, acima da Sibéria, o tempo das viagens comerciais de navio será reduzido em 10 dias, resultando em uma economia de 100 mil dólares, por embarcação, a cada viagem. Os navios não precisarão mais passar pelo Canal de Suez, no Oriente, ou pelo Cabo da Boa Esperança, na África, para dar a volta ao globo.
Mais ou menos 70% do Ártico é da Rússia, que vai estender sua plataforma continental em mais 350 milhas. O Ártico tem 6 países com costa territorial: Rússia, Estados Unidos (via Alaska), Canadá, Dinamarca (via Groenlândia, território autônomo), Islândia e Noruega. O Ártico também inclui os territórios de Svalbard, uma ilha administrada pela Noruega, e Nunavut, um território autônomo do Canadá. E vem daí toda a recente discussão do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que quer anexar territórios para expandir sua geopolítica. É a nova colonização. Para quem especula como ganhar mais dinheiro, a mudança climática não importa, é encarada como uma consequência para as futuras gerações, não agora. Uma visão simplista.
Qual o custo para realizar uma missão de tamanha importância e envolvendo tantos países?
Conseguimos um financiamento de 98% do projeto, cerca de 6 milhões de euros, da fundação franco-suíça Albédo Pour da Cryosphére e contamos com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul- Fapergs.
O degelo fortalece negócios
A Rússia detém a maior extensão litorânea no Ártico, ao longo da qual se estende a Rota Nordeste do Mar, a principal passagem da região. Em seguida, o Canadá possui a segunda maior costa, onde está a chamada Passagem Noroeste. Vivem diversas comunidades tradicionais na região. O Ártico é uma região rica em minerais, com destaque para a abundância de petróleo e gás. O Ártico também se destaca por ser uma área militarmente estratégica.
A região teve papel fundamental durante a chamada Guerra Fria, por conta da proximidade geográfica dos Estados Unidos com a Rússia, via Alaska, e bases militares foram construídas na região. Com parte do derretimento do Ártico, o mundo do capital vê uma oportunidade de negócios. Não existe um acordo de proteção do Ártico, só existe para a Antártica, que está protegida até 2048. E depois, o que acontecerá?
* Jefferson Cardia Simões Faz parte de diversas entidades internacionais de ciências, como o Commttee on Antartic Research (SCAR/ISC). Obteve o PhD pelo Scott Polar Reserch Institute, University of Cambridge, Inglaterra, em 1990.
A Fundação Cultural Palmares, do governo federal, reconheceu, em 2007, o direito às terras do Quilombo da Anastácia, um dos três existentes no município de Viamão.
A sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) realizou estudos de identificação e delimitação e avalizou a comunidade quilombola, mas faltava a decisão final do Incra em Brasília para que os moradores ganhassem o direito a receber os títulos de propriedade.
A decisão veio no dia 20 de novembro de 2023. Nesse Dia Nacional da Consciência Negra, o Incra reconheceu 29 comunidades quilombolas, incluindo as 16 famílias da Anastácia, que ganharam o direito à propriedade de pouco mais de 64 hectares.
Uma empresa catarinense produtora de arroz no local, no entanto, contestou o laudo, reivindicando a propriedade de parte das terras onde está o quilombo, mas o Conselho Diretor do Incra confirmou o direito da comunidade.
O sociólogo Sebastião Henrique Lima, responsável pelo setor de regularização de territórios quilombolas no Incra/RS, explica que a publicação da Portaria encerrou o processo administrativo.
– A sede regional do Instituto está providenciando um histórico de todo o processo para enviar à Superintendência do Incra, onde será revisado e, se tudo estiver certo, encaminhado à Casa Civil para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assine o decreto, detalha Lima.
A partir da desapropriação de parte da área pertencente à empresa agrícola, o Incra registra em cartório o imóvel em seu nome e deposita em uma conta judicial o valor a que tem direito a antiga proprietária.
Quilombo da Anastácia, em Viamão., Foto: Cleber Dioni
MP concluiu inquérito sobre conflitos no uso da água
No decorrer do processo, as famílias da Anastácia sofreram assédios da produtora de arroz Fazenda Embireira Agroflorestal, que descumpriu acordo feito com os moradores para poder captar água na parte da lagoa que está dentro dos limites do Quilombo. A lagoa é uma planície de inundação do rio Gravataí.
“Não pagavam pelo uso da água e ainda fecharam um canal na lagoa, que dá acesso ao Quilombo. Antes recebíamos turistas, vendíamos lanches, inclusive hospedávamos alguns casais, que ficavam encantados com nosso quilombo, queixou-se Berenice Gomes de Deus, uma das lideranças da comunidade.
Berenice é neta de Anastácia de Oliveira Reis, que dá nome ao quilombo, e bisneta de Hortência Marques de Oliveira, que viveu como escrava naquela região da Estância Grande.
Lagoa no Quilombo da Anastácia, em Viamão. Foto: Cleber DioniBarragem de plantadores de arroz na lagoa do, Quilombo. Foto: Cleber Dioni
O Ministério Público do Estado, através da Promotoria Regional da Bacia do Gravataí, instaurou inquérito civil para acompanhar os conflitos em uso de área de sobreposição entre o quilombo e a produtora de arroz.
A promotora de Justiça Roberta Morillos Teixeira diz que, à princípio, os moradores negaram interesse em novo acordo porque a empresa não cumpriu com as contrapartidas, mas depois de algumas reuniões, chegaram a um denominador comum.
Promotora Roberta Teixeira. Foto: MPRS
– Paralelo a isso, a Promotoria conduziu investigações por descumprimento das condicionantes do licenciamento pela Fazenda Embireiria e pelas outorgas de uso da água. E acompanhamos também as medidas administrativas da Fepam e da SEMA.
A empresa Fazenda Embireira Agroflorestal foi multada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam) por construção de canais novos sem licença de operação.
A região onde está o quilombo e a produtora de arroz, a Estância Grande, está dentro da Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande (APABG).
Um parecer da equipe técnica e gestora da APABG identificou a área como sendo de extrema sensibilidade ambiental e social, uma vez que segundo o Plano de Manejo, tem porção de área dentro da zona de adequação ambiental e zona de uso restrito do Banhado.
Referente às questões sociais, insere-se entre duas comunidades tradicionais, o assentamento Filhos de Sepé e a comunidade Quilombola da Anastácia.
O documento assinado pelas analistas ambientais da SEMA a bióloga Cecília Schuler Nin e engenheira agrônoma Letícia Vianna, gestora da APA, determinou uma série de condicionantes à Fazenda Embireira sob pena de revogar a autorização emitida pela unidade de conservação para continuar suas atividades.
– O empreendedor descumpria o licenciamento ambiental e, por consequência, os alvos de conservação da APA do Banhado Grande, e somado a isso, omitia o conflito com a área do quilombo dentro do processo de outorga, bem como desrespeitava a área dessa comunidade, registrou o parecer.
O novo presidente da associação de moradores do quilombo, Willian Santos, diz que representantes da empresa reuniram-se com a comunidade para que a Fazenda pudesse continuar puxando água da Lagoa da Anastácia e que o canal construído sem autorização, causador das desavenças, seria fechado caso prejudicasse o acesso ao quilombo pela lagoa.
– Com as enchentes, o canal ficou submerso. Mas se houver estiagem e o canal aparecer, a empresa terá que fechar. Mas, realmente, acho que ficou mais difícil até para empresa renovar a outorga a fim de continuar usando água da lagoa, adverte.
os representantes da empresa agrícola não foram localizados pela reportagem.
Willian Santos (à frente) e amigos na Lagoa da Anastácia em direção ao Quilombo.
Willian é filho de Zadir Eloísa dos Santos, uma das netas da Anastácia. Ele mora em Gravataí e trabalha em Porto Alegre como micro empreendedor no ramo de estética automotiva. Visita seus familiares no quilombo nos finais de semana.
– Além da titulação das terras, temos que lutar por melhorias na infraestrutura na região onde está o quilombo, posto de saúde, transporte público acessível, escola, e promover o turismo, com o retorno, por exemplo do Barco-Escola Rio Limpo que visitava o quilombo, e outras iniciativas, afirma Santos.
Dona Berenice diz das mais de cem pessoas que moravam, permanecem trinta.
– É tudo muito difícil, por isso ficaram os velhos, que não precisam mais trabalhar, diz a líder quilombola.
Quilombo sofre com falta de infraestrutura. Foto: Cleber Dioni
Anastácia era baixinha braba
Dona Berenice é neta da Anastácia de Oliveira Reis, que dá nome ao quilombo, e bisneta da Hortência Marques de Oliveira, que viveu como escrava nessa região da Estância Grande.
– Convivi com a vó até os 25 anos. Era bem baixinha e braba, principalmente com quem judiava dos netos, mas cuidava de todos, conhecia os chás, as simpatias, ninguém precisava ir no médico”, recorda.
Vò Anastácia com os netos nos idos de 1950/Fotos: álbum de família
A artesã lembra das histórias que sua vó contava sobre a Hortência ajudar na fuga de escravos pelo rio Gravataí, principalmente os homens, que eram surrados e assassinados com frequência.
– Ela ajudava a atravessar para o quilombo Manuel Barbosa, em Gravataí, conta a bisneta da Hortência.
Antigos moradores
Tia Chica, filha de Anastácia. Fotos : AMQATia Cida e o neto Jhonatan. Foto: Associação dos moradoresMarcíri, marido da tia Chica, uma das filhas da Anastácia. Foto Associação dos moradores
Os primeiros europeus chegados nos Campos de Viamão no início do século 18 trouxeram negros escravizados.
Alguns registros apontam que o estancieiro viamonense Serapião José Goulart, um dos maiores proprietários de terras do município, dono da fazenda Boa Vista – em cuja sede, no início do século 19, pernoitou o viajante August Saint-Hilaire -, tinha entre seus escravos a Hortência, mãe da Anastácia.
Faltam políticas públicas para os quilombolas
Uma das moradias. Foto Associação dos moradores
Dos 134 quilombos em 69 municípios gaúchos, os quilombos em Viamão estão entre os mais atrasados devido à falta de políticas públicas.
Além do Anastácia, há o Cantão das Lombas, na divisa com Santo Antônio da Patrulha, com 28 famílias em 154,75 ha, cujo processo de regularização está tramitando desde 8 de dezembro de 2021, e do Capão da Porteira, na divisa com o município de Capivari.
O biólogo Jorge Amaro, primeiro vereador quilombola, eleito pelo PP no município de Mostardas, morou mais de vinte anos em Viamão e conhece bem a realidade das comunidades.
Embora os quilombolas de Mostardas tenham sido reconhecidos há muito mais tempo e estão organizados em associações e dispõem de muita infraestrutura, os de Viamão não estão inseridos sequer nas políticas públicas de auxílio aos moradores.
– A Prefeitura e outras entidades têm que ajudar. A UFPEL e a FURG, por exemplo, oferecem cotas universitárias para quilombolas, e auxiliam na moradia, alimentação, transporte, então porque outras instituições de ensino em Viamão, Porto Alegre, não podem contribuir também, questiona o vereador.
Ausência de trajetórias
A antropóloga Vera Rodrigues da Silva abordou o Quilombo da Anastácia na sua dissertação de mestrado, apresentada em 2006, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da UFRGS. O título: “De gente da Barragem” a “Quilombo da Anastácia”: Um Estudo Antropológico sobre o Processo de Etnogênese em uma Comunidade Quilombola no Município de Viamão/RS.
Suas pesquisas sustentaram a titulação das terras para os descendentes de negros escravizados daquela localidade.
Antropóloga Vera Rodrigues da Silva
– Comecei a pesquisar no final dos anos 1990, e estavam em discussão duas ações afirmativas nas universidades públicas brasileiras: as cotas raciais e os direitos territoriais das comunidades quilombolas.
– Isso sempre me incomodou nas trajetórias negras, que é justamente a ausência de trajetórias. Na mídia, na ciência, de um modo geral, parecem que as pessoas negras brotam do chão, não tem ancestralidade, raiz, história. Então, esse foi meu tema na monografia de graduação. E no mestrado, em 2006, já havia a expectativa de titulação das terras, e isso levaria segurança jurídica aos quilombolas, porque havia espoliação, apropriação ilegal de terras, como eu ouvi dizer: “as cercas andam na madrugada”. Mas como estávamos numa época em que a política pública se desenvolvia no país, a pergunta era: como uma política pública de direitos quilombolas se desenvolve no “estado mais branco do Brasil”?
Anastácia nasceu em 1896, portanto era livre (Lei do Ventre Livre é de 1871 e determinava que os filhos de escravas nascidos posterior àquela data eram livres). Já, a abolição da escravidão em Viamão ocorreu em 1884, anterior à Lei Áurea, de 1888.
Nos idos de 1870, dentre os 1.028 habitantes de Viamão, 749 eram negros, cerca de 70% do contingente populacional. (Fonte: MONTI, Verônica. “O Abolicionismo: 1884 sua hora decisiva no RS”, 1985). Hoje, 44% de 250 mil habitantes são considerados negros.
Dos 106 processos no Estado, apenas um tem a titulação integral do território
Quilombo Cantão das Lombas, na divisa de Viamão com Santo Antônio da Patrulha, tem 28 famílias em 154,75ha, cujo processo de regularização está tramitando desde 2021. Foto: Cleber Dioni
“Há 106 processos abertos para regularização de quilombos na superintendência do Incra no Rio Grande do Sul. Apenas quatro comunidades foram tituladas, mas mesmo assim, destas, em três a titulação do território é parcial, pois aguardam a conclusão das ações desapropriatórias. O Título de Domínio emitido pelo Incra é coletivo, em nome da associação de moradores.
O Quilombo Casca, em Mostardas, por exemplo, com 85 famílias, tem pouco mais da metade (51%) da área de 2.300 hectares concluída.
Os demais são Família Silva, em Porto Alegre (12 famílias, em 0,65 ha – 35%), o Rincão dos Martinianos, em Restinga Seca (55 famílias, em 98,5 há – 27%), a Chácara das Rosas, em Canoas (20 famílias em 0,36 há – 100%).
O Rincão dos Caixões, em Jacuizinho (22 famílias em 226,16 ha). ainda está em fase de desapropriação. O Incra está na posse do território e a comunidade está usufruindo integralmente a área, mas ainda não foi titulada.
O maior quilombo com processo em andamento no Estado é o Morro Alto. Desde 2011, 456 famílias reivindicam 4.564,4 hectares nos municípios de Maquiné e Osório.
Em Viamão, duas das três comunidades quilombolas estão com processo em curso, o da Anastácia e o Cantão das Lombas, 28 famílias em 154,75 ha, com processo em tramitação desde 8 de dezembro de 2021.
Nove quilombos gaúchos foram incluídos em uma Portaria no Diário Oficial do governo federal, mas as comunidades ainda não receberam os títulos das terras. São eles: São Miguel (Restinga Seca), Manoel Barbosa (Gravataí), Arvinha (Coxilha e Sertão), Cambará (Cachoeira do Sul), Mormaça (Sertão), Palmas (Bagé), Limoeiro (Palmares do Sul), Areal Luis Guaranha (Porto Alegre), e dos Alpes (Porto Alegre).
Censo 2022: Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas
Dados inéditos sobre população quilombola no país foram divulgados em julho deste ano de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), resultado do Censo 2022.
Segundo matéria da Agência Brasil, o país tem 1,32 milhão de quilombolas, residentes em 1.696 municípios.
Os quilombos Kalunga, em Goiás, e Erepecuru, no Pará, são os maiores do Brasil. O primeiro envolve 54 comunidades, com 888 famílias, em uma área de 261,99 mil hectares, e o segundo, vivem sete comunidades, com 154 famílias, em uma área de 231,6 mil ha.
O total de títulos concedidos é de 322, em 206 territórios, envolvendo 356 comunidades, 21.093 famílias e 1,090 milhão de hectares de área titulada, dos 1,513 milhão de ha reconhecidos. Significa que 72% da área reconhecida foi titulada.
Na divulgação da publicação Brasil Quilombola: Quantos Somos, Onde Estamos?’, em Brasília, o presidente em exercício do IBGE, Cimar Azeredo, considera que os números inéditos sobre esse grupo populacional são uma verdadeira reparação histórica de injustiças cometidas no passado.
“São essas populações que mais precisam das estatísticas, desses números. A gente precisa saber quantas escolas, quantos postos de saúde, coisas relacionadas à educação e tudo o que essa população quilombola precisa, como a titulação [de terras]. Os dados que estão sendo apresentados hoje, pelo IBGE, se tornam, praticamente, uma reparação histórica”. Cimar Azeredo adiantou que, brevemente, o IBGE vai apresentar informações básicas sobre pessoas indígenas e moradores de comunidades e favelas.
A representante da Organização das Nações Unidas no Brasil, Florbela Fernandes, destacou que o levantamento e a divulgação de dados sobre a população quilombola no Brasil tem um simbolismo enorme a todo o país. “A inclusão de um quesito específico para a população quilombola [no censo] representa um marco de reparação histórica importante e que serve de investigação de referência para outros países da diáspora africana”. “Essa é a primeira pesquisa oficial para coletar dados específicos sobre a população quilombola. Após 135 anos da abolição da escravidão no Brasil, finalmente, saberemos quantos quilombolas são exatamente, onde estão, e como vivem”, comemorou Florbela Fernandes.
Na fazenda Lanceiros Negros, no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, uma pungente simbiose do agronegócio e do passado histórico se apresenta aos olhos do visitante.
Ali, 24 mil e 500 pés de oliveiras compõem a paisagem do cultivo da azeitona, em franca expansão no Estado,
emoldurados ao fundo pelo histórico Cerro dos Porongos, onde se deu o massacre do regimento de Lanceiros Negros, no final da Revolução Farroupilha.
Em versão, ainda controversa, conta-se que o regimento foi traído pelo comandante David Canabarro que os desarmou às vésperas de serem cercados e atacados pelas forças imperiais do comandante Moringue,
pondo fim ao sonho de liberdade de centenas de guerreiros negros que se uniram à luta dos farroupilhas em troca da alforria no final da revolução.
O passado de guerras une-se, silenciosamente, à crescente força da agroindústria na região da campanha gaúcha, que vem passando por gradual transformação da tradicional atividade pastoril para a agricultura e suas indústrias de beneficiamento de grãos.
A fazenda Lanceiros Negros, de propriedade do advogado e produtor rural, Jorge Santos Buchabqui, é um exemplo desta transformação na economia do Rio Grande do Sul.
Os 175 hectares de terra da fazenda, em outros tempos,
teriam sua cotação no mercado bastante desvalorizada, por ser uma terra íngreme e encascalhada, no entanto, encontrou no cultivo da azeitona a cultura ideal para o tipo de solo que oferece, pois, a oliveira gosta de terrenos
drenados e clima frio.
Da extensão total da propriedade, 90 hectares são explorados com olivais consorciados com a criação de ovinos, num manejo integrado que auxilia na limpeza do pasto.
A produção de azeitonas começou em abril de 2017 com a plantação de seis tipos de mudas; a Arbequina, a Arbosana, a Picoal, a Coroneike, a Coratina e a Frantoio. Segundo Buchabqui, “trabalhar com variedade é muito bom para a qualidade final do azeite, pois favorece a polinização das árvores e a produção do blend (mistura), na hora da industrialização do produto”.
Salienta o produtor que as espécies Picoal e Koroneiki , produzidas na fazenda, são destinadas à produção de azeite puro, sem blend. “A Picoal tem muito prestígio no mercado europeu”, comentou.
Nos primeiros anos de colheita, juntamente com o amigo, também olivicultor na região, deputado Luiz Fernando Mainardi (PT/RS), processaram a safra na indústria do empresário Luíz Eduardo Batalha, que lhes deu todo o suporte técnico para que se consolidassem no mercado.
Na busca de maior valor agregado para a produção de azeitona, a partir de 2023, montaram uma indústria própria, Olivas do Brasil, uma sociedade entre nove empreendedores, que passou a produzir a marca do Azeite Torrinhas, nome dado em referência à localidade onde a indústria foi instalada, as margens da BR 293, entre os municípios de Candiota e Bagé, nas proximidades das
fazendas dos sócios.
Segundo Buchabqui, a localização da indústria de refino perto dos olivais é fundamental para a boa qualidade do azeite, pois quanto mais rápido o processamento menor é a chance de oxidar.
Ele disse que o azeite que vem sendo produzido no Brasil tem uma qualidade Prêmium, superior ao produto importado que chega no país. “O azeite europeu de primeira qualidade é consumido lá mesmo, o que eles vendem para nós é de segunda mão, feito de azeitonas maduras e muitas vezes um produto velho”, comenta.
Buchabqui acredita que um rigoroso controle na qualidade do azeite de oliva importado ajudaria muito no fortalecimento da indústria nacional, pois o azeite europeu entra no Brasil como sendo Prêmium e não é.
Os principais clientes do Azeite Torrinhas são os empórios, supermercados e restaurantes no RS, SC, PR e em Brasília (DF), mas a meta do grupo é tornar os preços mais competitivos dentro do país, capazes de competir com o
produto importado.
Para tanto estão montando um galpão industrial com
tecnologia da indústria FAST, de Capinzal (SC), e aumentando a capacidade instalada da fábrica para dar escala à produção.