A dívida pública acima de tudo

Enquanto o governo Bolsonaro avisa que não tem dinheiro para manter os 600 reais do Auxílio Emergencial por mais tempo, o Tesouro Nacional receberá uma ajuda de R$ 325 bilhões do Banco Central (BC). Em nota, o Ministério da Economia explicou que as restrições de liquidez provocadas pela pandemia de covid-19 têm dificultado a administração da dívida pública, com o Tesouro Nacional emitindo títulos com prazos mais baixos e queimando o “colchão da dívida”, reserva financeira para pagar os vencimentos dos papéis, para evitar os juros altos pedidos pelos investidores nos títulos de prazo mais longo.

A necessidade de financiamento do governo federal em 2020 é de R$ 1,127 trilhão, segundo o Plano Anual de Financiamento (PAF). Essa necessidade já considera a transferência de R$ 325 bilhões do Banco Central (BC).

Com aumento de gastos e queda na arrecadação, devido à redução da atividade econômica, a expectativa de déficit primário do setor público em 2020 subiu para 11,3% do Produto Interno Bruto (PIB), ante projeção de 1,5% do PIB no início do ano. Por sua vez, a dívida pública atingiu 85,5% do PIB em junho, devendo terminar o ano acima de 95% do PIB, segundo o Tesouro.

No Brasil, o pagamento da dívida pública é obrigatório, está na Constituição. O item teria sido enxertado na Constituição de 1988, sem que tivesse passado pelo crivo dos Constituintes nos dois turnos previstos para a prévia aprovação. A notícia dos enxertos foi divulgada pela imprensa no início dos anos 2000 e nada aconteceu.

Também para garantir o pagamento dos juros da dívida foi incluído na Constituição em dezembro de 2016, durante o governo Michel Temer (MDB), o teto de gastos, que está em vigor desde 2017 e deve durar 20 anos. É uma regra fiscal que determina que o gasto máximo que o governo pode ter é equivalente ao Orçamento do ano anterior, corrigido apenas pela inflação, atingindo principalmente as verbas da educação e saúde.

O Tesouro Nacional revisou o PAF da dívida pública federal. Com as alterações, a dívida deve variar neste ano entre R$ 4,6 trilhões e R$ 4,9 trilhões. Antes, o Tesouro esperava que a dívida ficasse entre R$ 4,5 trilhões e R$ 4,75 trilhões em 2020.

O deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE), que é economista, criticou o crescimento desses gastos. “Não há uma discussão sobre os quase R$ 5 trilhões do total da dívida pública, não há nenhuma discussão sobre mais de R$ 1 trilhão de pagamento de manutenção da dívida pública para 2020. É importante que o Congresso Nacional debata essa que é a maior despesa do Orçamento do país.

No entanto, o Congresso não está preocupado em discutir a dívida pública. Ganha relevância na opinião do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), a PEC 438/2018, que cria gatilhos para conter as despesas públicas e preservar a regra de ouro. Tal regra proíbe que o governo se endivide para pagar despesas cotidianas, como folha de pagamento de pessoal, manutenção de órgãos públicos e programas sociais. A regra de ouro só pode ser contornada com autorização expressa do Congresso Nacional.

O senador Humberto Costa (PT-PE) disse esta semana estar preocupado com a redução no orçamento da saúde para o ano que vem justamente por conta do teto de gastos. Segundo ele, após a pandemia o País vai ter que enfrentar uma série de demandas reprimidas no setor. “Isso é muito grave. Diante da crise que nós estamos vivendo, se nós continuarmos com essas medidas de austeridade, um verdadeiro austericídio, isso vai fazer com que o Brasil sofra ainda mais com essa crise de saúde pública, social, política e econômica.”

STF decide que isenção de ICMS nas exportações não vale para toda a cadeia

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 14 de agosto, abre um precedente em relação a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a cadeia de produtos exportados. Segundo matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, os ministros entenderam que a isenção de ICMS prevista para as exportações não vale para a etapa anterior, que envolve a produção das mercadorias. Fornecedores de insumos e matérias-primas devem recolher o imposto estadual.

Esse tema, de vital importância para a receita dos estados, foi julgado pelos ministros por meio de recurso apresentado por uma fabricante de embalagens do Rio Grande do Sul (RE 754917). O julgamento ocorreu no plenário virtual. A tese por eles fixada – que servirá de orientação para as demais instâncias – ficou, porém, mais abrangente. O texto trata de “operações e prestações anteriores à exportação”, de maneira genérica, e não somente das embalagens.

Os advogados da empresa gaúcha usaram nas alegações que a Constituição Federal impõe a não incidência do ICMS quando o produto tem como destino outro país. “Essa exportação não está limitada ao exportador direto, mas sim a toda a cadeia de produção a qual se vise o comércio e o trânsito de produtos com destino ao exterior”, diz no processo.

O ministro Dias Toffoli, relator do caso, discordou da empresa e negou o pedido de isenção – mantendo decisão do Tribunal do Rio Grande do Sul (TJ-RS). “Nas operações de exportação, é clara a orientação quanto à impossibilidade de, a pretexto de extrair da regra imunitória o máximo de efetividade, adotar interpretação ampliativa, de modo a abarcar fatos, situações ou objetos a priori não abrangidos pela expressão literal do enunciado normativo”, afirma em seu voto.

O tratamento fiscal das exportações brasileiras segue a prática mundial e busca a desoneração dos tributos indiretos sobre as exportações. Dessa forma, a Constituição Federal de 1988 definiu que não incidem sobre as exportações brasileiras o IPI (art. 153, §3º, III), o ICMS (art. 155, §2º, X, “a”) e as Contribuições Sociais e de Intervenção no Domínio Econômico, tais como o Programa de Integração Social e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público – PIS/PASEP e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS (art. 149, §2º, I).

Além de não incidirem sobre o faturamento das exportações, o exportador mantém o direito ao crédito gerado pela incidência desses tributos sobre a aquisição dos insumos empregados nos produtos exportados. Portanto, os valores correspondentes a esses tributos não devem compor o preço do produto final exportado.

O ICMS é um imposto estadual, ou seja, somente os governos dos estados e o Distrito Federal têm competência para instituí-lo, conforme determinou a Constituição federal de 1988. A Constituição também atribuiu competência tributária à União para criar uma lei geral sobre o ICMS, o que foi feito por meio da Lei Kandir (Lei Complementar 87, de 1996).

A Lei Kandir não teve como objetivo só regulamentar o ICMS, mas também minorar os efeitos negativos da política de estabilização econômica do Plano Real, provocados pelas âncoras cambial – valorização do real – e monetária – elevação da taxa de juros – que afetam respectivamente os resultados da balança comercial e o volume dos investimentos produtivos da economia. No entanto, hoje a Taxa Selic está em 2% ao ano e o desvalorizado real vale R$ 5,60 por dólar.

Em agosto de 2019, os governadores reunidos em Brasília reivindicaram a volta da autonomia dos estados para poder tributar toda a produção no seu próprio estado. Como o ICMS é receita dos estados e municípios, a lei previu uma compensação financeira pela perda da arrecadação desses entes da federação. Os critérios para pagamento dessa compensação são objeto de batalhas judiciais desde 2013.

Naquele momento, o governador gaúcho, Eduardo Leite, defendeu uma discussão preliminar no âmbito do Confaz (fórum que reúne secretários de Fazenda dos estados e governo federal) para avaliar todos os impactos que essa decisão acarretaria, e sobre uma futura reforma tributária.

Em cinco de agosto passado, o Plenário do Senado adiou a votação do projeto de lei que regulamenta o pagamento de compensações da União a estados e municípios por perdas de receita provocadas pela Lei Kandir (PLP 133/2020). O valor destinado aos entes federativos pode chegar a R$ 65,6 bilhões até 2037. O projeto ainda não tem data para voltar à pauta.

O senador Wellington Fagundes (PL-MT), que presidiu uma comissão mista sobre a Lei Kandir entre 2017 e 2018 e que assina o projeto como autor, alertou para o risco de não se concretizar o acordo firmado no STF. Ele recordou que a negociação foi acatada por todos os governadores e pela Confederação Nacional dos Municípios.

O governo gaúcho calcula uma perda de R$ 50 bilhões em duas décadas. O relatório do senador Wellington Fagundes prevê a divisão de R$ 9 bilhões por ano entre os estados exportadores. O Rio Grande do Sul recebe da União R$ 380 milhões por ano e passaria para R$ 913,94 milhões, dos quais 25% iriam para os municípios.

Em entrevista recente, o ex-senador Pedro Simon (MDB) disse que a Lei Kandir foi uma desgraça para o Rio Grande do Sul. “Se reparar nas finanças do Rio Grande do Sul, onde é que ela começou a degringolar? Quando a Lei Kandir entrou em vigor, a nossa economia deixou de arrecadar, aí é que está o déficit. Então, hoje, tudo é em função disso. Estamos devendo para a União. E a União está devendo para nós a Lei Kandir.”

Reforma Tributária de Eduardo Leite é atacada

A reforma tributária do governo gaúcho está sendo atacada por deputados, empresários, entidades, com algumas poucas vozes apoiando as medidas. A proposta de reforma tributária tramita em regime de urgência na Assembleia Legislativa, conforme solicitação do governador Eduardo Leite ao protocolar, no dia 10 de agosto, os três projetos de lei sobre o tema. O parlamento tem 30 dias para a apreciação sem que passe a trancar a pauta de votações.

Os projetos trazem uma série de medidas que alteram os impostos cobrados no estado. O Executivo pretende a sanção ainda em setembro, para que as novas regras passem a valer em janeiro de 2021. Na reunião virtual desta quinta-feira (20), a Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle, da Assembleia Legislativa, aprovou realização de audiência pública virtual no dia 27 de agosto com a Secretaria da Fazenda e entidades da sociedade civil para debater a proposta de Reforma Tributária do governo estadual.

A subcomissão da Reforma Tributária da Assembleia Legislativa, que tem na relatoria o deputado Giuseppe Riesgo (Novo), já realizou algumas lives que dão uma ideia das dificuldades que Leite terá para aprovar sua reforma. O subsecretário da Fazenda, Ricardo Neves, que vem participando de todos os encontros da subcomissão, relata que o cenário atual é oportuno para a apresentação de alterações nas regras tributárias. “O Rio Grande do Sul vai sair na frente e ter um novo momento para a atração de investimentos”, afirma, otimista.

Um item polêmico da reforma propõe alterações no desconto do Simples Gaúcho. Hoje, empresas que faturam até R$ 360 mil são isentas de ICMS. Pela proposta, a faixa de isenção será apenas para empresas que faturem até R$ 180 mil, ou R$ 15 mil por mês. Nas demais faixas, também haverá aumento de alíquota, que dependendo do faturamento da empresa pode variar de 3% a 66%.

Na avaliação do relator da Subcomissão, as mudanças nas faixas iniciais do Simples gaúcho vão prejudicar principalmente os empreendedores que estão abrindo empresas e iniciando negócios. “Se queremos ter competitividade, precisamos desburocratizar e facilitar a vida do empresário. Esta proposta de alteração nas regras tributárias poderá ter um efeito contrário e irá intensificar a crise já vivida pelo Estado”, avaliou Riesgo.

Representantes de entidades ligadas ao setor contábil apresentaram o posicionamento sobre a reforma tributária na Subcomissão da Assembleia. O presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas do RS (Sescon), Célio Levandowski, reconheceu pontos positivos da atual proposta do governo encaminhada para o Legislativo. No entanto, ele ponderou que as alterações tributárias poderão retirar recursos do consumidor final, principalmente das classes mais carentes que serão impactadas. “Essa é a melhor reforma para o estado, mas não sei se será a melhor para a economia dos gaúchos. Precisamos dosar esses dois pontos.”

Em artigo publicado no jornal Correio do Povo, o diretor da Associação dos Fiscais de Tributos Estaduais do RS (Afisvec), Paulo Guaragna, disse que a reforma do governo Leite é profunda, responsável, técnica e justa. “É profunda por que não se resume em diminuir as alíquotas de 30 para 25% ou aumentar o IPVA de 3 para 3,5%. Ela envolve um conjunto de ações de simplificação e modernização do ICMS que visam estimular e fazer do RS, o Estado mais competitivo do Brasil. É responsável por que considera a situação das finanças públicas, sendo inimaginável perdermos quase R$ 3 bilhões do ICMS e ficarmos passivos. Seria o caos nos serviços públicos, com aumento da insegurança, dificuldades severas na saúde pública e um rebaixamento sem precedentes do ensino público.”

Empresários

O entendimento geral das entidades empresariais que participaram de outra da reunião da subcomissão da Assembleia é que as modificações vão ter um grande impacto especialmente para as empresas de pequeno porte. O vice-presidente da Fecomércio, Gerson Nunes Lopes, afirmou que o pequeno empresário já vem sofrendo com os efeitos da pandemia. “Nossa sugestão é que fiquem mantidos os benefícios atuais do Simples gaúcho já concedidos, pois essas alterações não vão colaborar com o desenvolvimento do Estado”, pontuou.

O ex-vice governador no governo Sartori, pelo PSD, atualmente sem partido, José Paulo Cairoli, foi duro em artigo publicado no site da Associação Comercial de Porto Alegre: “esse projeto de reforma tributária não tem nada de novo. Trata-se de uma visão antiga, meramente arrecadatória, embalada por um viés de simplificação e auxílio aos pobres. A verdade dos fatos é que esse pacote aumenta tributos de um lado para compensar a queda de outro, enquanto condiciona a racionalização e o auxílio social à burocracia.”

Setor primário

Entidades do setor primário reunidas virtualmente na manhã desta sexta-feira (21) com deputados estaduais projetaram um aumento de R$ 1 bilhão nos custos de produção somente no primeiro ano de implementação das medidas. Diante dos impactos negativos no setor, elas se posicionaram contrariamente ao projeto e pediram que os deputados votem contra.

O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, representante do latifúndio, foi enfático: não se taxa produção, não se taxa exportação. O representante dos pequenos produtores, presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, disse que a reforma tributária não pode trazer aumento de custo para o setor que está segurando as pontas no Estado e neste país. “Precisamos de uma reforma justa, que não penalize um setor por inteiro como vai penalizar o setor da agricultura.”

Políticos

O líder do governo, deputado Frederico Antunes (PP), reforça que a reforma está inserida em um conjunto de medidas que estão sendo encaminhadas pelo governador. Ainda fez referência à modelagem de privatizações que está em andamento no Rio Grande do Sul. “A intenção é reduzir o tamanho do Estado”, resumiu.

O deputado estadual Jeferson Fernandes (PT) entende que a proposta governamental não mexe nas isenções fiscais das grandes empresas, mas tira do Simples gaúcho aquelas empresas que tem faturamento bruto de até R$ 360 milhões por ano. “Estas empresas são a ampla maioria. São empreendimentos que efetivamente geram empregos e estão espraiados por todo o Rio Grande do Sul”, lamentou.

Para Dalciso Oliveira, deputado estadual PSB, a proposta apresentada pelo Governador Eduardo Leite apresenta um viés correto no sentido de que simplifica alíquotas, propõe mecanismos de crédito mais ágeis para as empresas e inova no sentido da devolução do ICMS sobre consumo para pessoas de baixa renda. “É preciso, todavia, ampliar o debate. Muitas dúvidas ainda pairam, em especial sobre os efeitos da taxação de produtos da cesta básica e insumos agrícolas.”

A proposta de reforma tributária, conforme a deputada estadual do PSOL, Luciana Genro, retira várias desonerações de impostos para os consumidores e mexe muito pouco nas isenções e benefícios fiscais usufruídos pelas grandes empresas. “A GM, por exemplo, não vai dar nenhuma contribuição neste momento de brutal crise econômica e financeira?”

Nesta sexta-feira, em uma videoconferência, com jornalistas das regiões Noroeste, Norte e Missões, o governador Eduardo Leite rebateu as críticas contra a reforma: “estão mostrando uma árvore e não a floresta toda.”

Municípios terão perdas com Reforma Tributária RS

O governo do Estado iniciou uma série de videocoletivas regionais com o objetivo de qualificar o debate público a respeito da Reforma Tributária RS. A primeira edição ocorreu nesta terça-feira (18/8), com jornalistas da Serra.

Conforme dados apresentados pelo governador Eduardo Leite e pelo subsecretário da Receita Estadual, Ricardo Neves Pereira, os principais municípios da região podem perder R$ 83,7 milhões caso não haja medidas compensatórias com o fim da majoração das atuais alíquotas de ICMS de álcool, gasolina, energia e telecomunicações (de 30% para 25%) e da alíquota modal (de 18% para 17%) no fim deste ano.

Os dados demonstram que as alíquotas de combustíveis, energia e telecomunicações respondem por arrecadação anual de R$ 12,1 bilhões, e que, em 2023, ficam projetadas em R$ 9,8 bilhões. Somadas às quedas de outras alíquotas que igualmente caem para 25% (energia e telecomunicações), esse conjunto responde por uma perda de R$ 2,8 bilhões brutos.

Outras medidas com perdas de arrecadação também são expostas por ano, como a redução da carga de ICMS para 12% nas operações entre empresas, devolução em parcela única de créditos de bens de capital, devolução parcial de créditos de uso e consumo, extinção do Diferencial de Alíquotas (Difal) e redução da alíquota de refrigerantes. Essas medidas representam perdas de R$ 863,3 milhões em 2023.

A planilha com todas essas simulações de impactos das medidas da Reforma Tributária foi entregue nesta terça-feira (18/8) pelo governo do Estado à Assembleia Legislativa.

Entre as medidas que visam compensar parte dessa perda de ICMS, estão o aumento de alíquotas de algumas bebidas, a extinção parcial de isenções e a extinção parcial de reduções de base de cálculo, como da cesta básica de alimentos.

Para promover justiça tributária, Eduardo Leite propõe a devolução de parte do ICMS a famílias de baixa renda (até três salários mínimos). Será devolvida uma parte do ICMS contido nas compras das famílias cadastradas e o percentual de devolução será maior para as de renda mais baixa: 40% para famílias com renda de até um salário mínimo; 20% para famílias com renda de até dois salários mínimos e 15% para famílias com renda de até três salários mínimos

A proposta prevê a criação do fundo Devolve-ICMS, que será formado com recursos proporcionais aos benefícios concedidos pelo Estado: 10% sobre o valor de créditos presumidos não contratuais (exceto os oriundos de contratos de investimento) e 10% sobre o valor do ICMS isento nas saídas de insumos agropecuários.

Também são detalhados na planilha os impactos das contribuições de 10% dos créditos presumidos não contratuais e 10% sobre isenções de fertilizantes, agroquímicos e agroquímicos.

Pesquisa mostra que 44,8% das empresas foram afetadas negativamente pela pandemia

Dos 2,8 milhões de empresas em funcionamento no Brasil na primeira quinzena de julho, 44,8% informaram que a pandemia afetou negativamente suas atividades, enquanto para 28,2% o efeito foi pequeno ou inexistente e para 27,0% o efeito foi positivo.

As empresas do setor de Serviços foram as que mais sentiram impactos negativos (47,0%), com destaque para o segmento de Serviços prestados às famílias (55,5%). No Comércio, 44,0% relataram efeitos negativos e na Construção, 38,0%. No setor industrial, 42,9% das empresas destacaram impacto negativo, enquanto para 33,1% o efeito foi pequeno ou inexistente e para 24,1% o impacto foi positivo.

Os resultados da terceira rodada da Pesquisa Pulso Empresa refletem as percepções das empresas em funcionamento ao final da primeira quinzena de julho, comparadas à segunda quinzena de junho. A pesquisa acompanha os principais efeitos da pandemia de Covid-19 na atividade das empresas não financeiras e faz parte das Estatísticas Experimentais do IBGE.

 

Mídias municipais serão relevantes nas eleições de 2020

A   cientista social e política, fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, Elis Radmann, percebeu um fenômeno que começou em maio passado, com 90% dos gaúchos conectados nas redes sociais devido a pandemia do novo Coronavírus: o crescimento das mídias tradicionais dentro da plataforma digital. Entre os motivos, a quantidade de informação e as fake news.

Para Elis, especialista em pesquisar o comportamento da população, as pessoas elegeram os profissionais de jornais e rádios dos municípios. Passaram a acompanhar esses veículos para obter uma informação organizada e correta. “O tradicional se mescla dentro do digital e ganha nova vida.”

“Essa constatação é muito importante para os candidatos às eleições municipais de 2020”, observa Elis. Ela entende que não está correto ignorar os veículos tradicionais e focar no digital. “A rede social vai ter um grande papel, mas os candidatos devem manter um relacionamento com os jornalistas do município.”

Na primeira etapa do seminário online do MDB-RS Caminhos para seguir em frente, realizado na noite de quinta-feira, 13 de agosto, os cientistas políticos Elis Radmann e Fernando Schüler abordaram as mudanças sociais e econômicas causadas pela pandemia de Covid-19 e como elas impactarão as eleições municipais. Com a mediação do ex-senador José Fogaça, os especialistas reforçaram que os pré-candidatos devem estar atentos ao momento, especialmente no pós-pandemia, e saber se comunicar neste novo contexto.

Atualmente como coordenadora da pesquisa sobre a Covid-19 junto a Universidade Federal de Pelotas, Elis Radmann, afirma que o gaúcho não concorda com a dicotomia entre isolamento social e abertura da economia. Por isso, ela salienta que o candidato a prefeito ou vereador deve ter muita sensibilidade. Uma calibragem e não isolamento versus economia.

Prioridades do eleitor

As pesquisas mostram que o eleitor quer separar os problemas da cidade de um lado e os da pandemia de outro. Entre os problemas tradicionais estão a saúde, infraestrutura das cidades, segurança pública. Os planos de governo têm que dar conta deles.

As novas prioridades com a pandemia são dividida em dois momentos: primeiro como serão as ações dos eleitos até o final da pandemia. O eleitor quer que o candidato mostre o que vai fazer, se a prefeitura terá verba para comprar a vacina, quando ela estiver disponível.

Já no pós-Covid19 o problema é bem grande. O eleitor não quer ouvir o prefeito falando em atrair empresas, o politiquês da economia. Quer um olhar atento em segmento e subsegmento. Cidades turísticas, por exemplo, precisarão de soluções para a hotelaria, eventos. Cada nicho está sendo afetado muito severamente pela pandemia e quer soluções.  “Nunca tivemos tanto necessidade de mostrar caminhos para o eleitor. Seguir em frente é o grande anseio da população”, salienta Elis.

Descrédito na política

Segundo a falar no seminário online, o cientista político Fernando Schüler acredita que os partidos políticos precisam se preparar de forma diferente para esta eleição. Para ele, o descrédito da política é o grande tema da ciência política contemporânea. “Às vezes, cito o livro do Moisés Naím –  Fim do Poder. Basicamente a mensagem dele é que os indivíduos ganharam poder, enquanto na política se tornou mais fragmentado.”

Schüler citou também o cientista político alemão Yascha Mounk, formado em Harvard, que escreveu “O povo contra a democracia”, onde observa que as pessoas ganharam literalmente poder. “Há 30 anos, eram as instituições que detinham o poder. Nas campanhas das Diretas Já foram protagonistas junto com os partidos políticos. Hoje, quem lidera? As instituições perderam o protagonismo para milhares de redes digitais.”

Ele entende que houve uma disrupção com a democracia. Não sabemos bem que bicho vai dar. Qual o futuro da democracia? Democracia Liberal está em risco? Novas instituições devem ser pensadas, novas formas de participação?

Schüller lembra que hoje temos o iliberalismos, tentações autoritárias. Um conceito relativamente novo que apareceu como crítica a partidos e movimentos, com combate a democracia representativa por dentro. Disputam eleições segundo as regras do jogo e, no poder, atuam de modo a dinamitar as instituições.

Como montar um programa de governo numa situação como esta? A liderança tem que ser muito mais eficiente do que foi”, conforme ele. “O primeiro compromisso do partido político é oferecer políticos preparados, bons programas de governo, o que não é uma trivialidade.”

Segundo Shüller, vivemos uma era de novos populismos, muita instabilidade política e crescimento da polarização. O que isso reflete para os candidatos à prefeito e vereadores? “Eles irão lidar com um ambiente muito mais instável. Ser prefeito hoje é muito mais difícil do que em outros tempos. As pessoas têm muito mais acesso a informação, capacidade de atuar no meio político. O custo de produzir mudanças é maior e muita dificuldade para construir consensos.  Os impactos urbanos irão gerar muito mais discussão. Isso é bom, mas implica um novo tipo de desafio.”

Schüller entende que os candidatos do MDB que irão entrar numa campanha eleitoral devem pensar numa migração do welfare state para o estado agência. “Essa lógica não é nova. David Osborne e Ted Glaeber já escreviam sobre isso nos anos 1990, no livro ‘Reinventando o governo’. O Brasil tem legislação que permite essa lógica do governo navegar em vez de remar. O estado deve ser o centro de inteligência e trabalhar com processo de contratualização.”

A série de encontros segue nos dias 27 de agosto e 3 de setembro, às 19h, com outros especialistas para auxiliar dirigentes, militantes e pré-candidatos a pensar sobre a reconstrução dos municípios. Ao final do seminário, o objetivo é oferecer aos emedebistas base e argumentos para que seja possível “construir um discurso real, com lógica e conectado ao sentimento da sociedade”, como defende o presidente estadual do MDB, deputado Alceu Moreira.

A produção do evento híbrido foi da Storia. Para a diretora da Storia Eventos e Projetos, Beatriz Moraes, o MDB inovou fazendo um evento híbrido para se conectar e discutir novos caminhos com os candidatos que estão na linha de frente do partido. No estúdio atuou a jornalista Carla Garcia, assessora do MDB. A comunicação foi da Agência Moove.

Congresso quer tabelar juros do cartão de crédito e cheque especial durante a pandemia 

O limite da taxa de juros sempre foi uma questão polêmica no Brasil. A Constituição Federal de 1988 foi particularmente específica em seu Artigo 192, que limitava as taxas de juros a doze por cento ao ano.  No entanto, nunca foi aplicada pela necessidade de Lei Complementar.

O Artigo 192 da Constituição foi reformado em 2003 pela Emenda à Constituição n° 40 que revogou seu parágrafo terceiro que dispunha sobre a limitação as taxas de juros. A partir de então a regra é que a instituição financeira, se valendo da média do mercado, está livre para escolher qual taxas de juros remuneratórios adotar.

Mesmo com a redução da taxa Selic de 2,25% para 2% ao ano, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o impacto no bolso do brasileiro é mínimo. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as taxas de crédito pessoal devem cair 93,35% ao ano para 92,91% ao ano, em média.

O Senado resolveu atacar o problema e aprovou um Projeto de Lei que prevê juros de, no máximo, 30% ao ano para todas as operações do cartão de crédito. A proposta, que também limita ao mesmo percentual os juros do cheque especial, foi aprovada por 56 votos a 14, com uma abstenção, e vai à Câmara dos Deputados.

Os juros do cartão de crédito e do cheque especial poderão ter limite de 30% ao ano, em caráter excepcional, durante o estado de calamidade pública por conta da pandemia. É o que prevê o substitutivo do senador Lasier Martins (Podemos-RS) ao Projeto de Lei (PL) 1.166/2020, do senador Alvaro Dias (Podemos-PR).

Os limites de crédito disponíveis em 20 de março deste ano não poderão ser reduzidos durante o período. Os empréstimos dessas linhas de crédito estarão isentos do pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). As chamadas Fintechs (pequenas instituições financeiras), as sociedades de crédito de financiamento e investimento, as sociedades de crédito direto e instituições de pagamento terão teto de 35% ao ano.

Segundo o senador Alvaro Dias, cerca de 76 países do mundo estabelecem o limite das taxas de juros dos cartões de crédito. “O mundo todo estabelece esse limite, e nós continuamos estabelecendo aqui a usura, a armadilha, a agiotagem oficializada, a exploração sem medida, com taxas de juros exorbitantes que chegam a 395 vezes a taxa Selic. São taxas de juros que vão de 302%, em média, atualmente, a 1.200%. Nós não estamos estabelecendo o tabelamento das taxas de juros – tabelar é diferente de limitar. A concorrência vai se estabelecer abaixo do limite estabelecido. Antes dessa pandemia, 65% das famílias brasileiras já estavam endividadas; e os bancos tiveram lucro, no ano passado, de R$108 bilhões.”

Pelo texto aprovado, fica vedada a cobrança de tarifa pela disponibilização aos clientes de limite para as modalidades de crédito do cheque especial. Também é proibida a cobrança de multas e juros por atraso no pagamento das prestações de operações de crédito, concedidas por instituições financeiras públicas e privadas, inclusive na modalidade de cartão de crédito.

Outra determinação do substitutivo proíbe a cobrança de juros e multas por atraso no pagamento de compras diretas de produtos e serviços. Todas essas determinações só terão validade enquanto durar a calamidade pública.

Analistas do setor financeiro, lembram que os bancos podem simplesmente limitar a concessão de crédito aos grupos com maior risco de inadimplência e sem garantias. Esse grupo é representado, majoritariamente, por famílias e indivíduos mais vulneráveis, além de micro e pequenas empresas.

Em janeiro deste ano, começou a valer o limite de 8% para a taxa mensal de juros do cheque especial. Antes, não havia limite. Essa foi a primeira vez que BC decidiu impor uma taxa máxima a uma linha de crédito com recursos livres (sem o direcionamento dos créditos imobiliários ou microcréditos, por exemplo). Em junho passado, a taxa média de juros cobrada no cheque especial foi de 300,3% ao ano.

O Projeto de Lei inclui também o chamado crédito rotativo, quando o cliente paga juros em cima de uma dívida que não conseguiu quitar. A taxa do rotativo chegou a 242% em junho para o cliente regular, de acordo com o Banco Central (BC).

Camila Duran, professora de direito da Universidade de São Paulo (USP) e Daniel Steinberg, doutorando pela USP, em artigo publicado no jornal Valor Econômico, afirmam que há, pelo menos, três fragilidades jurídico-econômicas do PL: uma de ordem formal e duas de natureza substancial. “Em primeiro lugar, uma lei que regula juros no mercado financeiro deve ter natureza de lei complementar, e não ordinária, conforme artigo 192 da Constituição. Em sua redação original, o próprio artigo 192 tabelou os juros no país. Seu conteúdo foi sucessivamente esvaziado por decisões do STF e, finalmente, pelo Congresso por meio de emenda.”

Em segundo lugar, segue o artigo, o Legislativo não está conduzindo análise de impacto. “A ausência de uma avaliação quanto aos efeitos práticos do tabelamento retira a possibilidade de sopesar custos e benefícios da medida, ou examinar alternativas jurídicas possíveis.”

Em terceiro lugar, complementam, “não há qualquer contribuição do PL para a construção de um Código de sustentabilidade para o consumidor no mercado financeiro. Cartões de crédito e cheque especial são produtos que poderiam ser regulados em quadro legislativo mais abrangente.”

Novo Fundeb passa na Câmara e vai para o Senado

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (21/7), em dois turnos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/15, que torna permanente o Fundo de Desenvolvimento e Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) e eleva a participação da União no financiamento da educação infantil e dos ensinos fundamental e médio. Agora, o texto será encaminhado ao Senado.

A votação do segundo turno parecia que seria tranquila. Afinal, aprovação foi resultado de um acordo costurado entre Câmara e governo nesta terça, horas antes de o texto entrar em votação. Só que parlamentares do partido Novo tentaram retirar da proposta um trecho que assegura um padrão mínimo de qualidade, no qual deverá garantir as condições adequadas de oferta e terá como referência o Custo Aluno-Qualidade (CAQ).

O que é

O Fundeb é o principal mecanismo de financiamento da educação básica no país e venceria em dezembro de 2020. O fundo agrupa recursos de municípios, de estados e da União e os distribui para as redes públicas de ensino de todo o país. Equivale, segundo o Ministério da Educação (MEC), a 63% de tudo que é investido nas escolas públicas do Brasil.

O dinheiro é usado para pagamento do salário dos professores e para ações de manutenção e desenvolvimento do ensino, como a construção de quadras de esportes, reforma de instalações físicas, aquisição de carteiras, computadores, televisores e outros equipamentos, entre outras ações.

O CAQ é um parâmetro de financiamento educacional previsto no Plano Nacional de Educação (PNE). O dispositivo ainda dependerá de lei complementar para ser regulamentado. Perto da meia noite, houve um acordo para não suprimir o CAQ e manter o texto da relatora, deputada Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO).

A lei que regulamentará o novo Fundeb deverá levar em conta as metas do Plano Nacional de Educação; o valor anual por aluno investido em cada etapa e modalidade; a transparência e o controle social dos fundos; e o conteúdo e a periodicidade da avaliação dos indicadores de qualidade.

 Parcela maior da União

A parcela do governo federal no Fundeb passa dos atuais 10% para 12%, em 2021, 15%, em 2022, chegando a 23%, em 2026. Do dinheiro novo, 15% terá que ser obrigatoriamente para investimentos e no máximo 85% poderá ser utilizado para pagar salários.

Desde 2007, quando o Fundeb foi criado, o governo gaúcho usava parte da verba para pagar os professores inativos, cerca de R$ 340 milhões. Agora, com o novo Fundeb só vai poderá a folha dos ativos.

Em 2019, o Fundeb distribuiu R$ 156,3 bilhões para a rede pública. Atualmente, o fundo garante dois terços dos recursos que os municípios investem em educação. Os repasses da União não entram no teto de gastos (Emenda Constitucional 95/16).

Desigualdades regionais

Dos 13 pontos percentuais a mais que a União deverá colocar no Fundeb, 10,5 pontos deverão complementar cada rede de ensino municipal, distrital ou estadual sempre que o valor anual total por aluno (VAAT) não atingir o mínimo definido nacionalmente. A intenção é diminuir desigualdades regionais no recebimento do apoio.

Pelo menos metade do dinheiro extra deverá ser destinado à educação básica, conforme negociado com o governo. Segundo a deputada Dorinha Rezende, a medida terá grande impacto, já que a educação infantil concentra a maior demanda não atendida pela rede pública no País.

No Brasil, menos de 30% das crianças têm acesso à creche, conforme pesquisa da Fundação Abrinq. O gasto dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na média, é em torno de duas vezes e meia maior do que a despesa por aluno feita no ensino básico brasileiro.

EUA devem perdoar 86% dos empréstimos do programa de proteção de empresas e trabalhadores

O Congresso dos Estados Unidos está estudando a possibilidade de perdoar automaticamente os empréstimos do “Paycheck Protection Program” (PPP). Um programa de concessão de crédito comercial de US$ 669 bilhões estabelecido pela Lei de Ajuda, Alívio e Segurança Econômica do Coronavírus do governo federal em 2020 (Lei Cares). O objetivo é ajudar certas empresas, trabalhadores independentes, proprietários únicos, determinadas organizações sem fins lucrativos e outras a manter o salário seus trabalhadores.

O secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin, disse nesta sexta-feira (17), durante reunião do Comitê de Pequenas Empresas da Câmara dos EUA, que poderia apoiar uma proposta de bancos americanos que disseram que o programa deve fazer com que empréstimos abaixo de US$ 150 mil sejam automaticamente transformados em doações. Isso representaria 86% dos cerca de 4,9 milhões de empréstimos do PPP emitidos até o momento.

Isso que Estados Unidos estão a caminho de registrar o maior déficit anual desde a Segunda Guerra Mundial. O déficit orçamentário dos EUA ultrapassou US$ 3 trilhões nos 12 meses até junho, com o aumento dos gastos com estímulos e a queda na receita tributária. Desde março passado, o Congresso americano aprovou US$ 3,3 trilhões em novos gastos para mitigar o impacto econômico do coronavírus, incluindo ajuda a famílias americanas e subsídios para empresas.

Enquanto isso, no Brasil de mais de mil mortos por dia pelo novo coronavírus, os programas de empréstimo a micro e pequenas empresas criados pelo governo durante a pandemia concederam R$ 12,489 bilhões, segundo dados do Ministério da Economia. Isso representa apenas 6,18% do volume total de crédito que as pequenas empresas devem precisar neste ano, conforme o estudo “Crédito para os pequenos em tempos de pandemia”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A demanda por crédito não atendida deve somar R$ 202 bilhões em 2020.

Apesar dos bancos terem recebido do Banco Central em março passado R$ 1,2 trilhão dos depósitos compulsórios para emprestar a pessoas e empresas, de março a maio eles apenas aumentaram as suas concessões de empréstimos em R$ 50,4 bilhões, em relação ao mesmo período de 2019.

Na quarta semana de junho, o IBGE estima que 170,1 milhões pessoas estavam em idade para trabalhar, mas somente 82,5 milhões estavam ocupadas. Ou seja, menos da metade (48,5%) estava trabalhando na quarta semana de junho. A taxa de desocupação subiu para 13,1% na quarta semana de junho, em relação à semana anterior. Isso corresponde a 12,4 milhões de pessoas desocupadas.

Essa é a maior taxa desde o início de maio, quando começou a PNAD COVID19, e resulta da queda de 84 milhões para 82,5 milhões (-1,5 milhão) de pessoas ocupadas na semana. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (17) pelo IBGE.

Como resultado da crise provocada pela pandemia da COVID-19, a população em condições de extrema pobreza na América Latina e Caribe pode chegar a 83,4 milhões de pessoas em 2020, o que implicaria um aumento significativo nos níveis de fome, devido à dificuldade que essas pessoas enfrentarão no acesso aos alimentos, apontaram esta semana a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Com mais de R$ 1 trilhão no caixa único do Tesouro apenas para o pagamento da dívida pública, que nunca foi integralmente auditada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer criar mais um imposto, o velho conhecido CPMF. Ele disse, ainda, que o Brasil está tecnicamente pronto a autorizar a emissão de moeda, mas no atual cenário isso não é necessário. Viver no andar de cima realmente é outra coisa.

Falta a carta dos milionários brasileiros

O grupo Milionários pela Humanidade pediu impostos maiores para os ricos para ajudar a cobrir os bilhões de dólares em novos programas governamentais exigidos pela pandemia do coronavírus. Millionaires for Humanity é formado por mais de 80 indivíduos, incluindo a herdeira de Walt Disney Abigail Disney; o ex-diretor-gerente da BlackRock, Morris Pearl; e o empresário Djaffar Shalchi, que nasceu no Irã e vive na Dinamarca.

O seleto clube de indivíduos mais ricos do mundo enviou uma carta esta semana destinada a diversos governos pedindo que suas fortunas fossem sobretaxadas permanentemente. A medida valeria para todos os membros da elite financeira e ajudaria na recuperação econômica da crise provocada pela Covid-19.

Na carta aberta alertam que a pandemia pode empurrar milhões de pessoas para a pobreza e sobrecarregar sistemas de saúde já inadequados, que funcionam sobretudo com o trabalho de mulheres mal remuneradas. Para eles, caridade não é a resposta e pedem que os políticos enfrentem a desigualdade global e reconheçam a necessidade do aumento de impostos sobre a riqueza. “Maior transparência tributária internacional são essenciais para uma solução viável a longo prazo.”

O Brasil ganhou 42 mil novos milionários em um ano, de acordo com a edição do Relatório de Riqueza Global divulgada em outubro de 2019 pelo banco Credit Suisse. O número de milionários no país saltou de 217 mil adultos em 2018 para 259 mil em 2019. Foi uma das maiores altas do mundo, perdendo apenas para Holanda, Alemanha, China, Japão, e Estados Unidos.

A previsão é que o número de milionários no Brasil deve crescer 23% até 2024, chegando ao total de 319 mil adultos. São considerados milionários aqueles com mais de US$ 1 milhão em ativos financeiros e reais, incluindo moradia, abatendo o valor de dívidas.

Os brasileiros mais ricos possuem mais isenções e pagam proporcionalmente menos Imposto de Renda (IR) do que os menos ricos e aqueles posicionados nas faixas intermediárias de renda. É o que mostra a “Pirâmide do IR”, calculadora elaborada pelo G1 a partir dos dados disponibilizados anualmente pela Receita Federal sobre o detalhamento das declarações de IR.

Os números da “Pirâmide do IR” mostram não só uma alta concentração de renda como também uma concentração das isenções entre os mais ricos. Isso acontece porque a tabela progressiva do IR (de até 27,5% de imposto) só incide sobre os chamados rendimentos tributáveis.

Do total de R$ 2,94 trilhões de rendimentos declarados ao Fisco em 2018, R$ 295,7 bilhões, ou 10%, compreenderam rendimentos submetidos à tributação exclusiva na fonte (aplicações financeiras, participação nos lucros, entre outros).

Na última faixa do topo, o percentual de renda isenta e não tributada sobre o total de rendimentos chegou a 70%, ante 67% no ano anterior. Nas faixas intermediárias, esse percentual não chega a 30%.

O ex-ministro Tarso Genro perguntou no Twitter: “Que falta uma carta dessas aqui no Brasil ou a herança ideológica da escravidão não permite?”

O que fazem porta-aviões dos EUA no mar da China Meridional

Os Estados Unidos não enfrentavam uma ameaça à sua liderança mundial desde o fim da União Soviética, em 1991, quando se consolidaram como a única superpotência global. No entanto, a China, discretamente, vem crescendo à base de dois dígitos nos últimos 40 anos. Com a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2013, a Casa Branca percebeu o tamanho do problema. Atualmente, presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem pesadelos diários em mandarim.

O programa Made in China 2025, lançado em 2015, prevê bilhões de dólares com o objetivo de transformar o país em uma potência industrial e tecnológica. A chamada Nova Rota da Seda é outro projeto da política externa do presidente chinês, com o objetivo de restabelecer conexões tradicionais por terra da China com outras partes da Ásia, da Europa e além. São cerca de 300 projetos avaliados em US$ 1 trilhão, financiados pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, a instituição financeira multilateral criada por Pequim para fazer frente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esse cenário tem provocado movimentos, inclusive bélicos, de ambos os lados. Nos últimos dias, dois porta-aviões dos EUA realizam exercícios no mar da China Meridional. China e Estados Unidos acusaram-se de alimentar a tensão na hidrovia estratégica em um momento de relações tensas sobre tudo, desde o novo coronavírus e manifestações em Hong Kong contra o governo chinês.

Faz tempo que os navios da Marinha dos EUA realizam exercícios no Mar da China Meridional e, recentemente, havia três porta-aviões americanos na região. O mar do Sul da China é dos pontos de atrito mais tensos da Ásia-Pacifico.

Em julho de 2016, um tribunal de arbitragem de Haia decidiu que não havia base legal para a China reivindicar direitos históricos sobre as zonas marítimas naquela área, uma das principais disputas territoriais do sudeste asiático. Um dia após sofrer a derrota na disputa do mar do sul da China, o governo de Pequim ameaçou com a possibilidade de estabelecer uma zona de identificação e defesa aérea na região, provocando mais tensão na área.

Manila levou sua reivindicação ao Tribunal de Haia em 2013, porque Filipinas e China não conseguiram entrar num acordo sobre questão da soberania de grandes áreas do Mar da China Meridional. As disputas no Mar do Sul envolvem diversas ilhas e zonas econômicas exclusivas (mar territorial) entre diversos países da região, como a República Popular da China, a República da China (Taiwan), Filipinas, Vietnã, Brunei e Malásia.

Por trás está uma queda de braço entre os Estados Unidos, e sua principal desafiante no século 21. A China disse que não reconheceria a decisão do tribunal e que ela não seria cumprida. O secretário de defesa dos EUA à época, Ashton Carter, afirmou que a abordagem dos EUA na Ásia-Pacífico continuava de “comprometimento, força e inclusão”, mas ele também advertiu a China contra comportamentos provocativos no Mar do Sul: “Os Estados Unidos continuarão sendo o exército mais poderoso e principal garantidor de segurança da região por décadas a fio – e não deve haver dúvida quanto a isso.”

Segundo o doutor e mestre em Ciência Política, professor de Relações Internacionais, autor do livro China e Rússia no Pós-Guerra Fria, Diego Pautasso, em âmbito regional, estas aparentes ilhotas geram tamanha controvérsia em razão de questões importantes: reservas de 11 bilhões de barris de óleo e 190 trilhões de metros cúbicos de gás natural; rota marítima de extrema importância por onde passa cerca de U$5,3 trilhões de dólares do total anual de comércio do mundo; e alto potencial de exploração dos demais recursos naturais do mar.

O interesse do Ocidente sobre a região vem de muito tempo. A colonização de Macau teve início em meados do século 16, com uma ocupação gradual de navegadores portugueses que rapidamente trouxeram prosperidade a este pequeno território, tornando-o numa grande cidade e importante entreposto comercial entre a China, a Europa e o Japão.

Filipinas e Indonésia foram divididas por Espanha e Portugal em 1529. A divisão entre Malásia e Indonésia deve-se a britânicos e holandeses em 1842. A fronteira entre China e Vietnã foi imposta aos chineses pela França em 1887. As fronteiras filipinas foram decididas por Estados Unidos e Espanha em 1898. A fronteira entre Filipinas e Malásia foi traçada por Estados Unidos e britânicos em 1930.