Pesquisadoras da Zoobotânica podem ajudar a conter mexilhão dourado no Guaíba

Cleber Dioni Tentardini
A decisão da Justiça Federal para que o Estado do Rio Grande do Sul elabore um projeto a fim de controlar o mexilhão dourado no lago Guaíba deve envolver a Fundação Zoobotânica do RS. Isso porque é no Museu de Ciências Naturais, vinculado a essa instituição que o governo quer extinguir, onde trabalham as únicas duas especialistas, chamadas malacólogas, a serviço do Estado. São as biólogas Ingrid Heydrich e Janine Oliveira Arruda.
A bióloga Ingrid Heydrich participou de um grupo de estudos que, entre os anos de 1998 e 2000, fez levantamentos e revelou os primeiros dados qualitativos e quantitativos do mexilhão dourado no Delta do Jacuí, no Lago Guaíba e na Laguna dos Patos. Envolveu pesquisadores brasileiros e argentinos. Os resultados foram publicados na Revista Brasileira de Zoologia, em março de 2003.
Janine Oliveira Arruda é malacóloga do MCN/FZB desde 2014. É taxonomista, capacitada a identificar e descrever novas espécies, e curadora das coleções de moluscos.
A determinação do TRF4 envolve também o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama. Sua assessoria informa que foi contratado o biólogo Daniel Pereira, em Porto Alegre, para elaborar um diagnóstico e propor estratégias de manejo do molusco. Daniel está formando a equipe de pesquisadores e tem até dezembro para entregar o estudo, segundo o órgão federal.

Um sob o outro num pedaço de madeira, dominam o espaço

O mexilhão é uma espécie invasora, proveniente da Ásia, que provoca modificações na qualidade de água, problemas às companhias de abastecimento e às hidrelétricas e alterações nos ambientes, causando inclusive a morte de outras espécies. O molusco chegou até o Rio Grande do Sul através da água de lastro dos navios. Ele se fixa em um objeto ou local, e um sob o outro acabam por obstruir os canos. Técnicos da Corsan e do DMAE seguidamente enfrentam transtornos com essa espécie exótica. Nas hidrelétricas, prejudicam o sistema de resfriamento. Em 2003, foi criada até uma força tarefa para combater o mexilhão dourado em todo o país.
Danos ambientais no Guaíba: modificam paisagens nos juncais, nas praias e sufocam espécies nativas/Divulgação

Especialista alerta para extinção de espécies nativas
O que mais preocupa a bióloga Janine é a ausência de um plano de manejo para as espécies exóticas e de leis mais restritivas que protejam os ambientes naturais e as espécies nativas. “Os moluscos não fazem mal a ninguém. Estão ali se alimentando, são herbívoros, servem como bio-indicadores de qualidade ambiental, como outros animais. Eles próprios servem de alimento para os lagartos e as saracuras, que são famosas comedoras de moluscos”, ressalta Janine.
É preciso preservar ambientes naturais , diz especialista/Foto Cleber Dioni

No entanto, algumas espécies de moluscos podem trazer transtornos, e até se tornarem pragas, como o mexilhão dourado. Outra espécie encontrada na maioria dos estados é a Achatina fulica, nome científico para o caramujo gigante africano, introduzido no Brasil sem controle sanitário para fins comerciais, acabou tornando-se muito comum no país e virou uma praga, principalmente agrícola. No Rio Grande do Sul ainda não foi registrada oficialmente essa espécie.
Natural de Dores do Indaiá, distante cerca de 290 km de Belo Horizonte, formou-se em biologia em 2004 pela Universidade Federal de Minas Gerais e, no ano seguinte, arrumou as malas e embarcou para Porto Alegre. Como já tinha estado na capital gaúcha em 2003, onde fez um estágio de três semanas na PUC com o professor Thomé, lhe chamou à preferência para dar continuidade aos estudos no Sul a presença deste e da professora Mansur.
Começou com estágio em 2001, em Minas, fazendo pesquisas com uma lesma que viria a ser seu objeto de estudos durante toda a vida acadêmica. Aos 36 anos, já tem curso de doutorado em sua especialidade, uma lesma do gênero Omalonyx, que tem seis espécies descritas e ocorre em toda América do Sul e no Caribe.
Lesmas do genero…

..Omalonyx/Juliane Picanço

 
 
 
 
 
As lesmas que Janine estuda ficam entre os ambientes terrestre e aquático. Eles não andam na terra e não ficam dentro d’água. São encontrados nas plantas aquáticas. Fica na borda de açudes.
Uma parte da parede da sala da bióloga no Museu é coberta de cópias de vários sistemas reprodutores dos moluscos que ela pesquisa. Acontece que as maiores características que diferenciam as espécies são o pênis.
Janine explica que não existe uma frequência determinada para os moluscos colocarem ovos, mas acredita que a frequência aumente em épocas mais quentes.
Os moluscos são hermafroditas, ou seja, não precisam de outro indivíduo para se reproduzirem. “Mas, preferem o acasalamento, a troca de variabilidade genética”, garante a pesquisadora.
Especialidade atrai poucos alunos
Comparativamente com outras áreas, pode-se dizer que há poucos malacólogos hoje no Brasil, porque os grandes pesquisadores de moluscos já estão aposentados, segundo Janine. “Como são grupos bem difíceis de estudar, não atraem muito os estudantes”, lamenta.
Thalita faz pesquisas no JB

Mas, no MCN/FZB há dois bolsistas de iniciação científica no setor de Malacologia. A Thalita Miller, estudante do 5º semestre da Biologia da Unisinos, bolsista há dois anos e meio na FZB, onde desenvolve o projeto Levantamento da Malacofauna do Jardim Botânico de Porto Alegre.
“Como aqui é muito grande, dividimos o terreno em áreas e estamos pesquisando para ver se há espécies novas de moluscos aqui, depois vamos comparar com estudos mais antigos”, explica.
O Thiago Antoniazzi, do 5º semestre de Biologia da Ufrgs, e bolsista há um ano na Zoobotânica, onde estuda a Morfologia de conchas de bivalves de água doce Anodontites. “Desde criança sempre tive interesse pelos moluscos”, diz.
Thiago diz que desde criança tem interesse pelos moluscos

Estado tem cinco moluscos na ‘lista vermelha’
A lista de espécies da fauna gaúcha ameaçadas de extinção, também chamada de lista vermelha, inclui duas espécies de molusco terrestres (Anthinus henseli e Megalobulimus proclivis-aruá-alongado, que só se encontra no Estado) e três marinhas (Olivancillaria contortuplicata, Olivancillaria teaguei e Olivella formicacorsii). Essa relação é de 2014. A próxima lista deve sair em 2018.
Equipe da FZB coleta moluscos no Guaíba/Divulgação

“A extinção de qualquer espécie compromete o delicado e dinâmico equilíbrio ambiental pois uma serve de alimento para outra, serve de substrato para outros organismos, então qualquer alteração no ambiente gera impacto em outros animais e/ou plantas”, alerta Janine.
Museu é referência em pesquisas no Brasil
Setor de Malacologia, da Seção de Zoologia de Invertebrados, do Museu de Ciências Naturais/FZB. Por aqui passaram alguns dos maiores especialistas em moluscos do Brasil: José Willibaldo Thomé e Maria Cristina Dreher Mansur.
A professora da Ufrgs, hoje aposentada, ainda é a principal referência em moluscos bivalves de água doce, animal caracterizado por possuir uma concha que se divide em duas partes, muito comum também em espécies marinhas. Foi ela quem coordenou as pesquisas para produção do livro Moluscos Límnicos Invasores no Brasil.
O professor Thomé, falecido há pouco mais de um ano, era um dos maiores especialistas no estudo dos moluscos terrestres no Brasil. Foi um dos primeiros pesquisadores do então Museu Rio-Grandense de Ciências Naturais, ao lado de Ludwig Buckup, Thales de Lema e do padre jesuíta Balduíno Rambo.
Coleção de conchas/Fotos Cleber Dioni

Coleção de moluscos

A coleção de moluscos da MCN/FZB está entre as quatro maiores do Brasil, com mais de 41 mil lotes. Um lote pode conter de uma até cem ou duzentas espécimes. São duas coleções, na realidade: José Willibaldo Thomé e Eliseo Duarte. Esta última foi adquirida com verba do CNPq de um colecionador uruguaio, que foi homenageado com o nome da coleção. Possui cerca de 20 mil lotes. A outra coleção recebeu o nome de seu maior incentivador. Ambas as coleções possuem material dos cinco continentes nos ambientes marinhos, de água doce (límnicos) e terrestres.
Lotes com mais de cem espécimes cada

Coleção de conchas

Destacam-se em âmbito nacional, também, as coleções dos museus da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande – Furg e a do Museu Nacional, no RJ.
Biólogas serão coautoras de obra internacional 
Prof Maria Cristina Mansur/Foto Cleber Dioni

A bióloga Maria Cristina Mansur é incansável. Começou como estagiária em 1964 no Museu Rio-grandense de Ciências Naturais, na época ainda era um departamento da Secretaria de Educação e funcionava próximo à Santa Casa. Formada em Historia Natural pela PUC gaúcha, deu aulas na Ufrgs e trabalhou como pesquisadora da Fundação Zoobotânica até se aposentar.
A professora, no entanto, ainda pode ser vista com frequência no Museu, envolvida em pesquisas e passando orientações aos pesquisadores. Ela foi convidada junto com Janine a participar da 4ª edição do livro Ecologia e Classificação de Invertebrados de Água Doce, editado pelos renomados pesquisadores norte-americanos J. H. Thorp e A. P. Covich.
 
Janine Oliveira Arruda / Foto Cleber Dioni

Janine vai escrever nesse livro sobre as lesmas Omalonyx e outros caracóis. O trabalho busca falar sobre a biologia, ecologia, importância econômica, sistemática, taxonomia, chave de identificação e métodos de preparação e preservação das espécies de Succineidae.
A obra é um manual de referência sobre os invertebrados das águas interiores do mundo e destina-se aos profissionais de universidades, agências governamentais e empresas privadas, bem como estudantes de graduação e pós-graduação.
Maria Cristina Mansur foi a primeira bolsista do professor José Willibaldo Thomé. “Foi meu grande orientador. Ele trabalhava com gastrópodes terrestres, e me indicou estudar os bivalves de água doce. Eu não sabia nada, então tive bolsas de iniciação científica, até que, em 1968, fui a Santa Fé, na Argentina, visitar o Instituto Nacional de Limnologia, um laboratório maravilhoso, com grandes tanques de piscicultura, e onde trabalhava o doutor Bonetto, um cientista de renome internacional especialista em animais de agua doce. Naquela época, eles já controlavam os peixes e moluscos no rio Paraná e a extração de pérolas dos bivalves de água doce”, lembra.
Buckup e Thales de Lema iniciaram coleções
O mestre Willibaldo Thomé

O acervo malacológico iniciou em 1955 com as coleções de conchas doadas por Ludwig Buckup e Thales de Lema e a transferência do Acervo Histórico do Museu Julio de Castilhos. Mais tarde, foi assumida por Willibaldo Thomé.
Abriga moluscos marinhos, terrestres e de água doce e contém espécimes de valor histórico com cinco lotes coletados por Reinhold Hensel no RS, entre 1864 e 1866, e identificados por Eduard von Martens, 1868.
 
 
RS está livre do caramujo gigante africano
Há uns anos atrás apareceram notícias nos telejornais em que os moradores de Santa Catarina relatavam apavorados terem encontrado centenas de moluscos gigantes nos pátios de casa. É o caramujo gigante africano.
A comunidade científica considera essa espécie invasora uma das cem piores do mundo, por causar sérios danos ambientais.
Caramujo gigante africano, espécie invasora

O primeiro registro no Brasil foi um trabalho científico de 1975, relatando a ocorrência em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1988, o caramujo africano foi apresentado em uma feira agropecuária no Paraná como uma forma barata de substituir o escargot na gastronomia. Quando o negócio não deslanchou como o prometido, foram liberados no ambiente. Sem predadores naturais no país, esses animais se proliferaram sem controle algum por quase todos estados.
“Ainda não chegou ao Rio Grande do Sul, pelo menos ainda não há registros comprovados, mas é questão de tempo”, acredita Janine.
Segundo ela, um pesquisador venezuelano Ignácio Agudo, identificou em uma área no Distrito Industrial de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre, um caramujo como sendo o Achatina fulica, mas não comprovou sua descoberta. Uma equipe da Fundação Zoobotânica investigou o local em que ele afirmou ter visto e não encontrou nada.
“Perguntei a ele onde estava guardado o animal, mas ele disse que não havia coletado, só fotografado. Falamos com moradores, comerciantes, mostramos fotos, e ninguém viu esse caramujo. Descartamos parcialmente o aparecimento dele no Estado porque onde aparece um, normalmente existem muitos outros. Eles se reproduzem em larga escala. E como são grandes, assustam, chamam a atenção nas lavouras, em pátios, lixões. Devoram tudo por onde passam”, afirma Janine.
Reproduzem em larga escala e devoram tudo por onde passam

O mesmo pesquisador fez um registro na Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas invasoras (I3N Brasil) para o caramujo gigante africano em Torres, litoral Norte, mas a Vigilância Sanitária do Município não confirmou o aparecimento da espécie. E o Centro Estadual de Vigilância Sanitária não tem registros do molusco em nenhum município gaúcho, segundo sua assessoria de comunicação.
Ameaça à fauna e a outras espécies
“Além de competir com as nativas, o gigante africano é muito voraz, come tudo o que vê pela frente, plantações, jardins, e há registros dele comendo jornais e revistas e até outros moluscos, configurando o canibalismo”, alerta Janine.
A espécie adapta-se muito facilmente. Carrega consigo uma concha marrom escura com listras esbranquiçadas, no formato de um cone. Os indivíduos adultos podem pesar meio quilo e chegar a 20 cm de comprimento. Podem realizar até cinco posturas por ano, com 50 a 600 ovos por postura.
Podem colocar centenas de ovos

Os ovos são pouco maiores que uma semente de mamão, branco-amarelados, que poderão ser enterrados ou depositados em uma superfície, como folha, ou sob uma pedra.
Além dos prejuízos ambientais, são potencialmente transmissores de doenças aos animais e seres humanos, quando infectados por vermes. Os parasitas, do gênero Angiostrongylus, podem causar doenças abdominais, cujo sintoma é como se fosse uma apendicite, e até meningite, o que é mais grave e, inclusive, já foi detectado na espécie em 2007, na Fundação Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz.
Ativo no inverno, resistente ao frio e à seca, geralmente passa o dia escondido e sai para se alimentar e reproduzir à noite ou durante e logo após as chuvas.
SC criou Programa de Espécies Exóticas Invasoras
Santa Catarina criou o Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras onde produz e divulga materiais informativos sobre formas eficazes de controle de espécies invasoras, especialmente para conter a dispersão do caramujo gigante africano, que pode ocorrer também de forma acidental através do transporte.
A bióloga Luthiana Carbonell dos Santos, da Gerência de Unidades de Conservação e Estudos Ambientais, da Fundação do Meio Ambiente (FATMA), de Santa Catarina, explica que os métodos de controle utilizados são eficazes para redução da proliferação e devem ser realizados continuamente, uma vez que a espécie se reproduz o ano todo. Além disso, o potencial invasor e a severidade dos impactos causados pelas invasões podem ser intensificados em razão das mudanças climáticas.
“No caso do Rio Grande do Sul, há um cenário positivo para o controle. Assim, como o caramujo gigante africano, muitas outras espécies são introduzidas sem a devida análise de risco de invasão e biossegurança, e é importante aprendermos com os equívocos do passado para evitá-los no futuro. Temos no Brasil um litoral extenso com alta diversidade de espécies de peixes, no entanto, cogita-se a introdução do peixe panga (Pangasius hypophthalmus) espécie com histórico em outras partes do mundo, e cujas análises de risco resultaram em alto risco de invasão. Por isso, é de suma importância que a introdução de uma nova espécie seja precedida de análise de risco de invasão, estudos de biossegurança e de viabilidade de mercado”, completa.

Governo pode ceder área de reserva florestal da Zoobotânica para Tecnosinos

Cleber Dioni Tentardini
Cerca de 50 hectares da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, no entorno do Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, ambos pertencentes à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, podem ser repassados ao Parque Tecnológico da Unisinos, o Tecnosinos.
Na quinta-feira, 17, durante reunião-almoço na Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo (ACIST-SL), o prefeito Ary Vanazzi e representantes da Universidade e lideranças empresariais entregaram ao governador José Ivo Sartori e à secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, uma carta requerendo a transferência de propriedade de uma parte da área da reserva florestal para a Tecnosinos que quer expandir o seu parque tecnológico.
O reitor da Unisinos, padre Marcelo Fernandes de Aquino, ressaltou que o Estado tem um conjunto de parques tecnológicos com excelentes recursos humanos e empreendedorismo, o que tem formado um arranjo muito produtivo.

Prefeito de São Leo e representantes da Unisinos e do setor empresarial reuniram-se com secretários e governador Sartori/Rodrigo Blum/Divulgação Unisinos

“Queremos construir uma base para dar uma vida melhor para a população da região, por isso estamos retomando o tema”, disse.
O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, também defendeu a ideia de cedência do horto. “O projeto alia inovação e preservação ambiental, por isso usaria 50% do espaço para construção da estrutura e 50% seria de preservação”, declarou.
O governador disse que já conhecia o trabalho realizado pela Tecnosinos e que iria estudar uma contrapartida.
Nos últimos três anos, o Tecnosinos inaugurou a Unitec 2 (2015) e a Unitec 3 (2016). Atualmente, o Parque trabalha organizado em cinco áreas tecnológicas: Tecnologia da Informação; Automação e Semicondutores; Tecnologias para a Saúde; Tecnologias Socioambientais; e Comunicação e Convergência Digital.
*Com informações de Michelli Machado, do Notícias Unisinos
Área mais cobiçada da Região Metropolitana 
Os 780 hectares mais cobiçados da Região Metropolitana de Porto Alegre envolve o Parque Zoológico, que o governo quer repassar a concessão à iniciativa privada, e o desmembramento da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, que enfrenta vários problemas fundiários. Centenas de famílias moram ilegalmente em seu interior e estão sendo retiradas diante de ações de reintegração de posse conquistadas pela FZB.
A proposta de utilização de uma área da Reserva pelo Tecnosinos surgiu durante a gestão de Susana Kakuta, atualmente diretora-presidente do Badesul.
Em 2015, levantou-se a hipótese de ter parte cedida a um congregado empresarial alemão, o Medical Valley, que reúne indústrias e centros de pesquisas na área biomédica, responsáveis por 43% da área de patentes na Alemanha.
Uma comitiva do governo Sartori visitou a Alemanha e ouviu dos empresários a necessidade de uma área física para viabilidade logística do complexo empresarial e benefícios fiscais para as empresas deste chamado “Cluster de Tecnologias para Saúde”.
O diretor-executivo do Medical Valley, Tobias Zobel, retribuiu a visita no final de 2015. Durante palestra no Badesul, em Porto Alegre, disse que o plano de internacionalização da Medical Valley é criar uma rede de colaboração internacional entre Brasil, Estados Unidos e China. No caso do Brasil, o estado escolhido foi o Rio Grande do Sul. Os países atuarão em estreita cooperação no fomento da indústria e da pesquisa em saúde.
Sartori, Fortunati, secretários e a presidente do Badesul na Alemanha/Luiz Chaves/P. Piratini

A área do Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal nº 3.115 passando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.
No dia 27 de julho de 1959, João Caruso, secretário de Obras Públicas na ocasião, entregou um estudo contendo sugestões para criar um parque público. A partir de então, a responsabilidade da área ficou com a Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE), sob a denominação de Grupos de Parques e Jardins. A sede era no próprio Horto Florestal.
Os funcionários da Zoobotânica temem que a especulação imobiliária acabe fatiando a reserva. A pressão para venda da área é histórica. Em 1957, a justificativa era pela necessidade de recursos para a execução do plano que previa a construção de mil escolas no RS.
Ministério Público acompanha processos

A promotora de Justiça Annelise Steigleder , da Defesa do Meio Ambiente, informa que há dois inquéritos civis abertos para acompanhar o processo de privatização do Zoológico e possíveis alterações na Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
Segundo a promotora, de acordo com a proposta de remodelagem do Zoo e do Horto, restariam apenas 156 hectares para o Zoo. O restante seria desmembrado em várias matrículas.
Promotora Annelise acompanha situação do horto e zoo

Annelise disse que estuda a legislação para que o horto seja enquadrado como área de preservação.
No caso do Horto Florestal, a promotora lembrou que essa área localizada entre os municípios de Sapucaia e São Leopoldo vem sendo palco de muitos conflitos fundiários.
“Esse espaço precisa ser mantido como unidade de preservação ambiental. A ideia do MP é judicializar essa questão também para que não percamos o Horto Florestal”, acrescentou a promotora.

Semapi divulgou nota
O Sindicato dos Empregados em Empresas de Assesssoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul (SEMAPI) divulgou nota de repúdio contra transferência de área:
Governo Sartori pretende negociar área da FZB
Cada vez fica mais clara a motivação para extinguir fundações que prestam um serviço primoroso e de baixo custo para o Estado. O governo Sartori, em vez de investir nas instituições e fortalecer a pesquisa, a tecnologia e a cultura no Rio Grande do Sul, prefere retirar incentivos, sucateando as instituições, para que, assim, sejam vendidas para a inciativa privada, favorecendo parceiros/empresários.
Além do mais, as áreas ocupadas por estas entidades são nobres e têm grande valor comercial. Exemplo disto é a situação da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), que teve seu terreno permutado antes mesmo que o Projeto de Lei que autoriza a sua extinção fosse votado. Agora, o governo mostra novamente a que veio querendo acabar com parte da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, pertencente à Fundação Zoobotânica.
Localizada em espaços territoriais descontínuos divididos pela BR-116 entre os municípios de Sapucaia do Sul e São Leopoldo, a reserva possui 620 hectares e vem sofrendo com a falta de segurança, permitindo que o local seja ocupado por famílias de baixa renda. Como desculpa para a venda, a secretária do Meio Ambiente, Ana Pellini, chegou a dizer que “Pior que o dano ambiental é a invasão.”
É inadmissível que uma secretária que se diz do Meio Ambiente prefira acabar com parte de uma área preservada e importante para o Estado em vez de responsabilizar-se por ela, protegê-la. Totalmente alinhado a este pensamento, o governo Sartori não investe em segurança e permite o abandono da instituição, tendo, assim, subsídios para convencer a população de que é necessário se desfazer dela.
Pois a FZB resiste e segue funcionando assim como outras fundações que tiveram sua extinção autorizada pelos deputados aliados de Sartori (PMDB). Não vamos permitir que o meio ambiente seja moeda de troca para este governo entreguista. Não à extinção!
Reserva homenageou padre jesuíta e naturalista
A Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo encerra uma das maiores, senão a maior, extensão florestal contínua inserida na área urbana na região metropolitana de Porto Alegre, com cerca de 450 ha de bosques misto, contendo eucaliptos no estrato superior e mata nativa composta de espécies típicas da bacia do Rio dos Sinos, crescendo em pleno vigor, no estrato médio e inferior da floresta. Na sua totalidade, considerando campos e floresta, são mais de 700 ha reservados à conservação ambiental, conforme o Plano de Manejo da reserva.
Assim descreveu o Decreto 41.891, de 16 de outubro de 2002, assinado pelo governador Olivio Dutra, que reconheceu a importância ambiental dessas florestas estabelecendo a Reserva como área de conservação ambiental, atrelando à Fundação Zoobotânica, através do Parque Zoológico,e batizando de Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
Com 620 hectares de extensão, a reserva localiza-se entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Abriga cerca de 200 mil pés de eucaliptos e mais de 35 espécies de árvores nativas da região crescendo abaixo das copas de eucaliptos, com exemplares que atingem os 20 m de altura, encravados na área de maior aglomeração urbana do Estado.
Cientificamente comprovada está a atuação do maciço florestal na manutenção de um oásis térmico na região de Sapucaia e São Leopoldo. Serve também de proteção de parte da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, para a formação de um banco genético da flora nativa regional, atuação como abrigo para a fauna, e para a realização de pesquisas visando a conservação da biodiversidade e a promoção de atividades de educação ambiental.

Padre Rambo

O homenageado foi o padre jesuíta gaúcho, natural de Tupandi, e naturalista. Rambo fez campanha pela criação de um Jardim Botânico em Porto Alegre e conseguiu que o Itaimbezinho fosse declarado Parque Nacional.
Em 1942, publicou sua primeira grande obra, A fisionomia do Rio Grande do Sul, uma descrição detalhada da geografia do Estado, incluindo mapas e 30 ilustrações paisagísticas, feitas a partir de fotos aéreas tiradas por ele em viagens por todo o território que mapeou a Estado em meados do século passado
Suas pesquisas botânicas resultaram num acervo de plantas de 50 mil exemplares, em 1948, cerca de 90% da flora nativa. Organizou o Museu Rio-Grandense de Ciências Naturais e fundou a revista Iheríngia.
 
 

Acionista do Cais Mauá pede recuperação judicial

Patrícia Comunello, JC
Um dos acionistas do consórcio que detém a concessão para revitalizar o Cais Mauá, em Porto Alegre, está entre as empresas incluídas no pedido de recuperação judicial feito pelo grupo Heber. Trata-se da Contern, que detém 10% do capital do consórcio Cais Mauá do Brasil, e faz parte do conglomerado da família Bertin.
O diretor de operações da Cais Mauá do Brasil, Sérgio Lima, confirmou nesta quinta-feira que a Contern é cotista, mas esclareceu que a empresa não está na gestão do empreendimento. “Em nada afetará as operações do Cais, tampouco as obras de revitalização”, disse Lima, sobre o pedido de recuperação judicial e eventual impacto para os procedimentos para restauração dos armazéns da antiga área portuária – hoje não operacional -, e ainda construção de shopping center, hotel e torres comerciais, além de estacionamentos, previstos no projeto do consórcio.
O complexo foi orçado, em 2012, em mais de R$ 500 milhões. A revitalização do Cais, um dos cartões postais da capital gaúcha, até hoje não foi executada. A concessão foi definida em fim de 2010, um dos últimos atos do governo de Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010). Em 2012, a gestora de fundos de investimento NSG Capital comprou fatia do consórcio de empresas espanholas, que haviam se associado à família Bertin, para disputar a concessão, únicos que se habitaram ao certame.
A NSG tem 39% do capital. Os sócios espanhóis da GSS, que estão desde a concorrência, possuem 51% da participação, que é mais simbólica, pois os aportes para estudos e busca de licenças têm sido bancados pela NSG. O projeto de revitalização é alvo de questionamentos e ações na Justiça, com entidades como o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS) e integrantes do movimento Cais Mauá de Todos e Associação de Amigos do Cais Mauá (Amacais), que alegam irregularidades.
Os segmentos também são frontalmente contrários ao modelo de ocupação e defendem uma intervenção sem a construção de shopping e torres. As entidades apontam, por exemplo, que o consórcio descumpriu o prazo para começar a revitalização, que seria 2012.
Somente em 2016, porém, foi aprovado o estudo de impacto ambiental e licença prévia pelo município. Lima diz que os trabalhos não foram iniciados ainda, pois falta emitir a licença de instalação (LI) pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams). A secretaria diz que o empreendimento aguarda pela LI.
Em nota, a pasta explica que a etapa exige “estudo técnico e complexo”, como requisito para autorizar o começo das obras. O estudo deve seguir as especificações dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo medidas de controle ambiental. “Essa fase precisa ser minuciosamente estudada devido à complexidade do empreendimento”, justifica a pasta. Em 2017, Porto Alegre completa sete anos de espera da revitalização.
Heber tem 60 dias para apresentar plano de recuperação
O grupo Heber terá 60 dias para apresentar um plano de reestruturação do total das dívidas aos credores, que incluem bancos públicos, como Caixa e Banco do Brasil, e fornecedores. Após a apresentação dessa proposta, os detentores dessas dívidas terão 120 dias para discutir e aprovar o acordo.
A consultoria de reestruturação financeira Galeazzi & Associados e o escritório Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil vão assessorar o grupo no processo. A Galeazzi foi contratada nesta semana para tentar reverter a crise na empresa dos Bertin. Em dificuldade financeira, a crise no grupo Heber se agravou a partir de 2014, com redução de novos projetos de infraestrutura e custo mais elevado para rolagem de dívidas.
No mês passado, o Banco Fibra já havia entrado com pedido de falência da empresa Contern. Preocupados com novos pedidos, o grupo decidiu recorrer à Justiça para planejar a reestruturação de seus negócios. A companhia alega que sua situação financeira se deteriorou por causa dos investimentos pesados para a construção do trecho Leste do Rodoanel e para a operação dos trechos Sul e Leste.
O grupo argumentou, em nota, que os projetos sofreram várias interferências que não estavam previstas no contrato de concessão, como a redução de praças de pedágios, que constavam no projeto licitado, o que teria aumentado os custos.
O Bertin era um dos mais importantes frigoríficos do País até entrar em dificuldades financeiras na década passada. Foi salvo pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), que, com o apoio de bancos privados, convenceu sua rival JBS a absorver a companhia. Em troca, o Bndes apoiou a JBS na compra da americana Pilgrim’s.

Juiz vai inspecionar coleções da Zoobotânica para julgar ação do MP

Cleber Dioni Tentardini 
O juiz Eugênio Couto Terra, da 10ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central de Porto Alegre, marcou uma inspeção judicial nas instalações do Jardim Botânico de Porto Alegre para o dia 25 deste mês de agosto, a partir das 9h30. O magistrado está julgando o pedido de liminar do Ministério Público Estadual em uma Ação Civil Pública que tem por fim proteger as coleções de plantas, animais e fósseis, e impedir a demissão dos pesquisadores da FZB.
O autor da ação sustenta que, em princípio, o modelo proposto pelo ERGS para a transferência das atividades da Fundação Zoobotânica com sua extinção, notadamente em relação ao acervo de bens de qualquer natureza do Jardim Botânico (JB), entre outros do Museu de Ciências Naturais (MCN), e também a necessidade de ser feita a manutenção emergencial do muro divisório da área do Jardim Botânico com a Vila Juliano Moreira para evitar invasões que ponham em risco o patrimônio do JB e MCN, demandam a concessão de tutela de urgência. As diversas tentativas de esclarecimento feitas para a obtenção de um quadro mais claro da situação fática não foram suficientes para que o juízo formasse uma convicção sobre o estado da arte das condições materiais do objeto da ação. Em razão disso, antes de apreciar o pedido de tutela de urgência, entendo essencial a realização de uma inspeção judicial…”, justifica o juiz em seu despacho.
E ainda assegurou a cada uma das partes a apresentação de até 50 fotografias coloridas, todas na forma impressa, no prazo de 20 dias, a contar da intimação, “para eventual impugnação da transcrição dos termos do auto de inspeção”.
Ação Civil Pública corre desde fevereiro
A liminar solicitada pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre impede que o governo do Estado demita o quadro técnico-científico e se desfaça de qualquer bem, móvel, imóvel e de animais que constituem o patrimônio material e imaterial do Jardim Botânico e do Museu de Ciências Naturais, duas das três instituições vinculadas a FZB. O Parque Zoológico não está contemplado nesta ação.

Inspeção judicial no Jardim Botânico foi marcada para a manhã do dia 25 de agosto/Cleber Dioni

O pedido de liminar proíbe ainda a rescisão de acordos ou contratos que impliquem as atividades de educação ambiental, preservação dos acervos ou pesquisa científica, e impede o desmembramento ou fracionamento da matrícula do imóvel do Jardim Botânico. No caso de descumprimento, multa de R$ 50 mil.
A ação requer que o Estado apresente em juízo um plano para a extinção da FZB que garanta a continuidade e a mesma qualificação de todos os serviços e atividades do Jardim Botânico e do Museu de Ciências Naturais, e providenciar imediatamente o conserto do muro que faz a divisa com a Vila Juliano Moreira. Por fim, determina ao IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul) a inscrição do Jardim Botânico no Livro Tombo, por já ter sido declarado patrimônio cultural do Estado, em 2003.
No início de fevereiro deste ano, após realizar uma vistoria nos acervos do JB e do MCN, a promotora e os colegas Alexandre Saltz,Annelise Steigleder e Josiane Camejo assinaram uma Ação Civil Pública, com pedido de liminar, contra o Estado, decorrente da decisão do governo de extinguir a FZB e demitir os funcionários. A Lei n. 14.982/2017 que autoriza a extinção foi sancionada em 17 de janeiro deste ano.
Muro que circunda o Jardim Botânico foi destruído em parte/Divulgação

Em quatro dias, produziram mais de 60 páginas com os argumentos para justificar a manutenção da Zoobotânica. Foram citados alguns fatos que colocaram em risco o patrimônio ambiental e cultural do Jardim Botânico e do Museu de Ciências Naturais, especialmente a queda de mais dois blocos do muro que faz divisa com a vila Juliano Moreira, na avenida Cristiano Fischer, as depredações, e as invasões do serpentário e de salas administrativas.

“Coleções da Zoobotânica estarão disponíveis no site da SEMA”

Cleber Dioni Tentardini e Tiago Baltz
Dois anos atrás, o então chefe da Casa Civil do governo do Estado, Márcio Biolchi, enviou à Assembleia Legislativa o projeto de Lei (PL) 300, com pedido de urgência para votação. Previa a extinção de três fundações: Zoobotânica (FZB), Esporte e Lazer (Fundergs) e Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps). O objetivo era “tornar a gestão mais moderna e eficiente”. O PL 300 não vingou e foi substituído.
Naquela equipe de Biolchi – deputado federal eleito pelo PMDB e atual o secretário estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia -, havia um engenheiro agrônomo, precisamente no Departamento de Assuntos Municipais da Casa Civil que, um ano depois, seria nomeado presidente de uma das fundações que planejara fechar.
Luiz Fernando de Oliveira Branco, 58 anos, natural de Lagoa Vermelha, no norte do Estado. É formado na Universidade de Pelotas (1983), com curso de pós-graduação em Comunicação Social pela Universidade de Passo Fundo. Trabalhou por 15 anos na Emater, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, e 12 anos como assessor da bancada do PMDB no Parlamento gaúcho.
Separado, duas filhas, uma estudante de Direito em Porto Alegre, outra residente em Passo Fundo. Branco costuma passar os finais de semana em sua propriedade rural no norte do Estado, onde planta, cria gado de corte e ovelhas, ele recebeu o jornal JÁ para falar sobre sua gestão, que completa um ano à frente da FZB.
Esta entrevista para o especial Patrimônio Ameaçado, uma série de reportagens sobre a Zoobotânica, foi adiada ao menos quatro vezes ao longo de 2016 e teve mais uma tentativa frustrada, por telefone, neste 2017. “É que nosso assessor de imprensa foi transferido e temos muito trabalho aqui, mas queremos dar total transparência neste processo de transição administrativa para a Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA)”, justifica.
Passava das 10h30 da segunda-feira, 07, quando ele recebeu os jornalistas em sua sala, com chimarrão novo na mão e um semblante aparentemente tranquilo, após meia hora de reunião com oito representantes da Associação dos Funcionários da FZB.
JÁ: Qual foi a sua primeira impressão ao assumir a presidência da FZB?
Luiz Fernando Branco: Quando vim pra cá, em 29 de julho de 2016, não considerei um convite e, sim, uma missão que o governo tinha me delegado. Eu iria pra qualquer trabalho, sou leal ao governo. Mas como sou agrônomo, de família de agricultores, com experiência na Emater e na comissão de agricultura da Assembleia, o governador entendeu de me indicar ao cargo porque sou ambientalista por natureza. Às vezes, o agricultor é mal entendido, quando corta uma árvore, quando faz uma roçada, mas ele é o maior interessado no meio ambiente, precisa da terra, da água para tirar sua subsistência.
Houve exageros no passado. Mas, hoje, tudo o que a ciência trouxe, o plantio direto é uma coisa fantástica. No plantio convencional, segundo a Emater, se perdia até 40 toneladas por hectares ano. Hoje, não se chega a 40 quilos. Pelo advindo do plantio direto, quando se vê rios embarrados, aquilo lá é fruto das águas escorrendo das estradas, e não das lavouras.
Como a extinção da FZB poderia modernizar a gestão ambiental?
Hoje mesmo estava falando com a Associação dos Servidores. Nós precisamos ter um trabalho integrado. Nós somos uma engrenagem no governo do Estado, temos que estar juntos com as outras instituições, universidades, secretarias.
Temos que ter planejamentos por semestre. Chegamos a um denominador comum, aquilo que propus aos servidores. Por exemplo, estamos fazendo um levantamento patrimonial, atualizando o patrimônio. Tem coisas que precisa vender, descartar, repassar serviços, ou atualizar. Comprar alguma coisa. Estamos fazendo isso.
O processo de extinção nada mais é que um arranjo administrativo. É um processo de transformação. Vamos virar um departamento da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA). O Jardim Botânico vai continuar com suas atividades, todas elas. O museu vai continuar.
E o Zoológico?
Bem, o Governo do Estado fez um edital, contratou uma empresa para fazer uma modelagem das concessões de estradas no RS e se incluiu o Parque Zoológico. Dentro do processo de transparência, informamos tudo a KPMG, o consórcio que está fazendo a modelagem do edital. Quando tiverem uma proposta, vamos ter uma rodada de negociação com a Secretaria-Geral de Governo. Depois tem todo o processo na SEMA, com audiências públicas, todo o trâmite legal. Para daí sair um edital e habilitar uma empresa para futura concessão. A concessão do Zoo do Rio de Janeiro é um exemplo para nós.
A demissão de funcionários não ameaça o patrimônio, como manter as coleções sem os especialistas?
Mediante o parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE), vai haver um enxugamento de pessoal. Porque não vai precisar da mesma estrutura. Alguns servidores tem estabilidade, outros não, mas isso depende de uma decisão judicial.
Agora, como não houve entendimento do Governo com sindicatos, estão discutindo no TRT. Que está sendo o moderador. Não cabe a mim, aqui, decidir quem vai ser demitido. Essa é uma questão do Governo.
Qual o número de servidores com estabilidade na FZB?
Isso é uma decisão da PGE, cabe a eles dizer.

Coleções: “Com a digitalização, quem quiser saber algo do Museu vai poder acessar no site”

Há intenção de transferir as coleções do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico?
Não, muito pelo contrário. Tudo, com exceção do Zoo, será mantido pela SEMA. Temos, por exemplo, um processo de digitalização de tudo aqui, quem quiser saber algo do Museu, da nossa biblioteca, vai conseguir ver em um site.
Já estamos com estagiários da FDRH pra fazer o levantamento inicial. Depois, devemos contratar uma empresa para completar a digitalização das coleções. A intenção é melhorar. Não existe isso de retirar atividades.
Mas há ações na Justiça, movidas pelo Ministério Público, que apontam precarização do trabalho, restrições aos pesquisadores para saídas a campo, cortes de diárias.
Não. Nada. Mantemos tudo. E é bom explicar. Ao virar um departamento da SEMA, devemos acabar com sombreamentos. Hoje, temos um departamento de recursos humanos, aqui, e um na SEMA. Vai passa a ser um único. Tem um jurídico aqui, com um advogado, tem outro advogado na SEMA. Eles passarão a trabalhar juntos, var ser mais eficiente.
O JB está melhor, restauramos o palco multiuso, temos um projeto de ampliação do estacionamento. Já fizemos a revitalização de uma praça infantil. E temos um projeto pra fazer um restaurante panorâmico no antigo orquidário, que hoje está abandonado. Vamos fazer uma concessão pra esse restaurante panorâmico. O orçamento existente é pra manter os serviços.
E qual é o orçamento da FZB?
Importante que se diga que todas as nossas contas estão em dia, não temos dívidas com fornecedores. Nosso orçamento está em dia, dentro de um amparo legal e por determinação do governador, temos total transparência nisso.
A FZB tem uma folha de pagamento de R$ 14,6 milhões. Com os encargos, somam R$ 22 milhões. São 191 funcionários. O custeio, que envolve energia elétrica, água, diárias, etc, gira em torno de R$ 5,5 milhões. O custo total da FZB fica em R$ 28 milhões.
Por que uma das principais atrações do museu, o serpentário, está fechado?
Estava funcionando muito bem, mas houve o caso do arrombamento. Até hoje ocorre o processo de investigação. Aquilo foi uma tentativa de furto, soltura, sei lá.
Mas um segurança não resolveria?
É uma sala vulnerável, não foi construída com essa finalidade, foi adaptada. As serpentes continuam aqui, mas não vou abrir enquanto não tiver segurança total. Um alarme, câmeras de segurança. Fechar uma das duas portas, que é de vidro, vulnerável. Se não fizer isso, não vou reabrir ao público. Decisão minha.
Quanto precisa para instalar um sistema de segurança?
Em torno de R$ 7 mil, com videomonitoramento. Alarme e câmeras. Não tenho recurso hoje pra isso. Há um decreto em vigor que restringe algumas compras de bens duráveis. E o nosso orçamento não comporta esses investimentos.
E aquele convênio da FZB para o envio do veneno das serpentes ao Vital Brazil, no Rio de Janeiro? Não vai ser renovado?
Ele está vencido, e ainda estamos em tratativas. O problema era que não havia nenhuma contrapartida para nós. Mandávamos o veneno e pronto. A FZB tem um custo para manter as serpentes. Repassava a peçonha para o Vital Brazil, que faz o soro e vende para o Ministério da Saúde, mas nós não recebemos nada. E isso eu questiono. Enquanto não houver esse acerto, não vai mais peçonha para o Rio.
Quando a SEMA assumir, podemos rever nossos acordos. Agora, estamos com as mãos amarradas. Eu tenho esforço para manter tudo, mas não posso avançar em algumas coisas. Temos que elaborar novos contratos. Vender a peçonha, acertar um valor justo com o Vital Brazil. Tem o Butantã interessado. Até o comércio exterior tem interesse na peçonha.
Serpentário: “Futuro será definido depois que a SEMA assumir”

Quanto a FZB arrecada como contrapartida aos serviços prestados a outras instituições? O convênio com o DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), por exemplo, para os pareceres paleontológicos?
Nada. Eu até disse para o diretor geral do DAER, que é meu amigo. O DAER faz estradas com duas vias, uma que vai e outra que vem. Mas aqui fizemos contrato com contrapartida zero. E por que aceito isso? Porque estou assinando com uma entidade do Estado, porque somos uma engrenagem do governo. É a questão de pensar em conjunto. Uma integração. A modernização na gestão e no pensar que eu já falei.
Não querendo criticar a Corag, por exemplo. E isso é uma queixa que eu tenho. Diz que dá lucro. Mas quem paga a Corag somos nós, os outros órgãos. Somente ano passado, as nossas despesas com a Corag foram de R$ 30 mil. Qualquer ato de governo, de qualquer autarquia. Porque são só eles que definem o preço. Tem que dar lucro.
E a FZB não cobra das empresas privadas? Aquele estudo grande que teve para a Braskem, por exemplo.
Para empresas privadas nós cobramos. Em 2016, arrecadamos com consultorias R$ 630 mil. Fizemos os estudos para os novos parques eólicos da Eletrosul em Santa Vitória do Palmar. Mas, de instituições do Estado, Como no caso do DAER, não tem porque cobrar da coirmã.
Quanto deve aumentar no orçamento do próximo ano?
Estamos trabalhando com o mesmo orçamento para o ano que vem. Acho que vamos conseguir manter.
Voltando à questão do Zoológico, quando vai se definir a situação?
A KPMG vai entregar a modelagem do edital em outubro, imagino que o governo vai colocar logo em seguida o edital na rua. Nossa parte agora é apenas fornecer informações a essa empresa, de tudo que arrecadamos e gastamos.
O Zoo presta importantes serviços à sociedade, gratuitos, como o Cetas. Serão mantidos?
Todos os serviços estão mantidos. Estamos fazendo coisas inéditas lá, é bom deixar claro. Estamos fazendo reintegração de posse. Tirando invasores de lá. Já retiramos quatro moradias e já temos autorização para reintegração de outras oito. Vamos fazer mais. Mas não depende de nós derrubarmos as casas. Isso depende da Justiça.
Se refere à Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo? Sabem quantas famílias vivem lá?
Só os cadastrados são 510. Mas é mais. Só que a realocação deles não é um problema nosso.
Qual a área total do reserva com o Zoo?
De matrícula são 820 hectares. É uma área só – um aparte do Zoo, que é cercada, e o resto do Horto. Mas é tudo da FZB. O problema é que temos bairros totalmente consolidados, pela própria prefeitura de São Leopoldo. Mas é terreno da FZB.
Discutimos na Justiça com a prefeitura de São Leopoldo – porque a ocupação no local é uma invasão. E eles nos cobram a taxa da coleta de lixo. Mas a prefeitura está ilegal, porque concedeu linha de ônibus, alvará, dentro de uma área que é nossa.
Fala-se no interesse da Unisinos em ocupar a área do Horto, fala-se no interesse do governo do Estado em ceder a área para um polo farmacêutico de empresas alemãs, cuja a instalação seria financiada pelo Badesul. Há alguma tratativa em andamento sobre isso?
Interesse tem, mas não posso falar pelo Governo do Estado. Da nossa parte, de fato, aqui não tem nada. Mas estamos fazendo a regulamentação fundiária da área.
Existem coisas confusas, temos uma matricula em Sapucaia e outra com o registro de São Leopoldo, da mesma área. Duas matriculas. Estamos regularizando, já fizemos o georreferenciamento da área.
Essa área aqui ao lado, no JB, utilizada pela Fepam, é da FZB?
É da FZB, mas tem um termo de cedência em vigência. A Fepam ainda não devolveu. São 2,3 hectares me parece. A área está sendo descontaminada porque era usada por laboratórios da Fepam.
A UERGS (Universidade Estadual) manifestou interesse em ocupar o local?
A reitora da Uergs já nos visitou e demonstrou interesse, mas não há nada oficial. Acho que seria uma boa a doação para Universidade construir ali sua reitoria, mas é uma decisão de governo.
Para finalizar, por que o governador ainda não visitou a Fundação Zoobotânica? Seria uma boa convidá-lo a plantar uma árvore, como fizeram seus antecessores, Ildo Meneghetti, Leonel Brizola, Antônio Britto…
Estamos planejando atividades para comemorar os 59 anos do Jardim Botânico, aberto ao público em 10 de setembro de 1958. Não posso adiantar as atrações que pretendemos trazer, porque também depende de recursos, mas certamente serão convidadas as autoridades do governo do Estado.

Projeto Ciência na Praça fascina adultos e crianças no Jardim Botânico

cleber dioni tentardini
“Eu quero fazer experiência”, repetia Luiz Felipe Plentz da Costa, de seis anos, logo depois de olhar no microscópio. O aluno da escolinha João Paulo I, estava agitado, nem quis muito papo com o repórter. Cruzou como uma flecha em direção aos anfíbios. “Ah, ele também ficou impressionado com os sapos, queria brincar com eles”, afirmou a mãe, a veterinária Bianca Plentz.

O pequeno Luiz quis até colocar luva

Surpresa, curiosidade, medo, um pouco de cada um desses sentimentos estava estampado no rosto e nos gestos do garoto Luiz. Assim como nos das outras crianças, no dos seus pais, tios e avós, visitantes do “Ciência na Praça”, num domingo de sol e céu azul, perfeito para um passeio seguido de piquenique no Jardim Botânico de Porto Alegre. É o que muitos planejaram neste dia 6, depois de visitarem pela manhã a exposição ao ar livre do acervo do Museu de Ciências Naturais, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
Os peixes chamam atenção do público

Os pesquisadores transportaram uma pequena mostra dos acervos para a rua. Havia plantas, fungos, algas, peixes, pássaros, sapos, aranhas, escorpiões, insetos dos mais variados e duas dezenas de mamíferos empalhados. Alguns era possível tocar, com luvas, outros estavam mergulhados em soluções químicas. Fósseis de animais pre-históricos, moldes em gesso de moluscos, minúsculos e gigantes. Espaço para criançada pintar, cartazes e banners educativos sobre a flora e fauna nativa do Estado.
Garotada confere animais da pre-história

Meninada se divertiu com as pinturas

 
Os irmãos João Vitor e Lívia Nunes, de nove e seis anos, foram com os pais e ao serem avisados na entrada do Jardim Botânico, mudaram o rumo do passeio direto para o evento. “Ele adorou os pássaros, disse a mãe do João Vitor.


O Bruno Garcia, de dois anos, mostrava à mãe, a arquiteta Bianca, estar encantado com as cobras. Eles dividiam o espaço com o João Cunha e seu pai, o engenheiro José da Cunha, junto aos repteis. “Moro praticamente ao lado, no Petrópolis, e nunca tinha vindo aqui, um absurdo”, confessou José.



O Vitor Ramada, de oito anos, despertou o interesse pelos cogumelos. A Ana Clara Nahler, de nove anos, ficou admirada com o tubarão martelo e as aves. Laura Nunes, 73, e o seu genro, Iro Antoniazzi, mostravam admiração com todo o Jardim Botânico, que não visitavam ha 40 anos.


A bióloga Vera Werner, umas das pesquisadoras mais experientes no MCN/FZB, estava tao empolgada quanto as crianças que pintavam sob a sua supervisão. “É gratificante ver que estamos de alguma forma passando todo esse conhecimento adiante”, disse.
Acervo de plantas /Rosana Senna

A exposição foi ate cinco da tarde. Os pesquisadores das diversas áreas contaram com a ajuda dos universitários bolsistas para divulgar o trabalho realizado no Museu e no JB e popularizar o conhecimento científico. O próximo projeto Ciência na Praça deve repetir outras edições, que foram realizadas na Redenção e, notadamente, atingirá um público bem maior.

 




Gurizada na cinquentona figueira

 
 
 

Serpentário fechado e sem convênio ameaça produção de soro antiofídico

 Cleber Dioni Tentardini e Tiago Baltz
O serpentário do Museu de Ciências Naturais, uma das principais atrações para o público visitante do Jardim Botânico de Porto Alegre, está fechado há mais de seis meses e não há previsão de reabrir.
Também foi suspenso o envio de veneno das serpentes ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro, porque a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS) não renovou o convênio com o laboratório carioca, o que pode comprometer a produção de soro antiofídico para o Ministério da Saúde, que redistribui aos hospitais do Estado.
O serpentário integra o Núcleo Regional de Ofiologia de Porto Alegre (NOPA/MCN-FZB) e está com a visitação suspensa desde 18 de janeiro deste ano, após uma tentativa de arrombamento, até agora não esclarecida.
Segundo o coordenador de Educação Ambiental da FZB/RS, Sérgio Bavaresco, a área com capacidade para abrigar 15 serpentes vivas não oferece segurança aos visitantes e aos animais. “Só reabrirá depois da implantação de um sistema de segurança, com câmeras de vigilância e alarmes”, disse.
No lugar das serpentes usualmente à mostra, há somente os abrigos vazios.
Não está sendo permitida a exposição das serpentes nem na Ciência na Praça, evento realizado periodicamente para divulgar o trabalho de pesquisa no Museu e popularizar o conhecimento científico. O próximo está marcado para este domingo, dia 6, das 10h às 16h, no estacionamento do Jardim Botânico.

Espaço de visitação pública pode abrigar 15 serpentes

Em janeiro, foi danificada uma das portas do serpentário. Foi arrombada a porta mas as grades de ferro impediram a entrada, então foram jogadas pedras contra o abrigo das serpentes, que não foram atingidas. A vigilância armada, de uma empresa terceirizada, nada viu.
Porta ainda não foi substituída

O local permanece fechado desde então, e sequer foi limpo. Nem a porta danificada foi trocada. E o pior, não há previsão no orçamento para a reforma e colocação do sistema de segurança.
Pedras arremessadas contra o serpentário ainda estão no local

Abastecimento comprometido
A interdição do serpentário é apenas um dos problemas do NOPA. Com o convênio entre a FZB e o Instituto Vital Brazil vencido desde o início do ano, está suspenso o envio de veneno das serpentes nativas gaúchas ao laboratório carioca, que produz o soro antiofídico para o Ministério da Saúde e este redistribui aos hospitais do Estado.
A parceria entre FZB e IVB foi firmada em setembro de 2009 e previa, além da remessa de peçonha, um acordo de cooperação técnico-científica permitindo o intercâmbio entre técnicos, bolsistas e pesquisadores das duas instituições.
A reportagem tentou contato com o presidente da FZB/RS, mas sua assessoria informou que só poderia conversar com a reportagem do jornal JÁ na próxima segunda-feira.
Sem previsão de o convênio ser retomado, o abastecimento de soro pode estar comprometido. Hoje, a peçonha recolhida é guardada em geladeiras. A remessa do material ocorria de duas a três vezes por ano, de acordo com a demanda do Vital Brazil.
“Os venenos das cobras mudam de acordo com a espécie e região de incidência. Aqui no RS tem cascavéis com uma concentração maior da substância chamada Crotamina. Essa toxina é um diferencial para produção de soro mais eficaz”, lembra o biólogo Roberto Oliveira.
Extração pública de veneno de serpentes no NOPA/ Fotos Arquivo FZB

O NOPA é o único serpentário do Estado capacitado para realizar extração de peçonha. A Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA) já cogitou a transferência do acervo vivo para o Vital Brazil. Mas o processo travou por falta de recursos da instituição carioca, que é vinculada ao governo do Rio de Janeiro.
Também, uma decisão judicial impede hoje que a Zoobotânica se desfaça do seu patrimônio e impeça ou prejudique de alguma forma o trabalho dos pesquisadores.
O Museu de Ciências Naturais da FZB mantém desde 1988 o serpentário científico onde são criadas mais de 350 serpentes. Por mês, as cobras consomem mais de mil ratos – a maioria provém de doações, de universidades como PUCRS e UFRGS.
Universitários visitam NOPA. Arquivo FZB

A peçonha é utilizada na produção de soro antiofídico e em diversas pesquisas. São estudadas substâncias ativas nos venenos de serpentes e sua utilização na indústria farmacêutica. Princípios isolados do veneno já têm sido utilizados, por exemplo, na fabricação de remédios reguladores de pressão e em colas biológicas. Estudos têm indicado a possibilidade de sua utilização em remédios para o combate a alguns tipos de câncer e para problemas de coagulação.
Cascavel do NOPA/Divulgação MP/RS

No acervo, há espécies que ocorrem somente no Rio Grande do Sul como a Jararaca-pintada Bothrops pubescens, e outras raras, como a coral pampeana.
Núcleo de Ofiologia de Porto Alegre

A bióloga Acácia Winter, tratadora de animais silvestres do NOPA, alerta que a população pode receber um soro ineficiente para o tratamento dos acidentes que ocorrem em solo gaúcho. “Mesmo que o plantel inteiro seja enviado para outra instituição, em alguns anos esse plantel se perderá sem animais novos oriundos da região, o que torna o soro ineficiente a médio e longo prazos. Por esse e outros motivos nosso plantel possui valor médico incomensurável e não pode ser abandonado”, ressalta.
Soldados Exército recebendo orientações/Foto Daniel Hammes/Divulgação

Curso teórico e prático sobre serpentes a Batalhão Ambiental. Arquivo FZB

 

IAB RS quer anular licenças ambientais do projeto Cais Mauá

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS) entrou na última sexta-feira (28/07) com uma Ação Civil Pública (ACP) junto ao Ministério Público Estadual, denunciando a caducidade do Regime Urbanístico para a área do Cais Mauá de Porto Alegre.
A Lei Complementar 638 de 2010 estabeleceu as regras de uso e ocupação da área do Cais Mauá, e constava dos documentos do Edital de Concessão da Área pelo Governo do Estado realizado naquele mesmo ano. Tais regras, contudo, seriam asseguradas apenas a investidores que iniciassem obras até 31 de dezembro de 2012, conforme Art. 17 da Lei, a qual também previa prazo para o Executivo Municipal encaminhar novos critérios para sua atualização, o que também não teria ocorrido.
Segundo Rafael Passos, presidente do IAB RS, passado esse prazo, o regime urbanístico excepcional deixa de ter validade. “Por isso pedimos a nulidade de todos os procedimentos de licenciamento urbano e ambiental em andamento”, destaca Passos.
Frente a essas irregularidades, e com base no princípio da precaução, o IAB RS também pede em liminar que não seja destruído nenhum dos Armazéns, em especial o A7, o qual consta do inventário municipal do patrimônio histórico. A ação pede ainda que seja desenvolvida uma Operação Urbana Consorciada para a área, conforme determina o Plano Diretor.
Segundo Passos, a morosidade por parte do empreendedor fica evidenciada, entre outros, pelo prazo para cumprimento do Estudo de Impacto Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental – EIA-RIMA. “O Termo de Referência para o EIA-RIMA foi definido em 2011, só foi entregue pelo empreendedor em meados de 2015. Foram quase quatro anos para elaborar um trabalho técnico que pode ser muito bem feito em alguns meses”, explica o presidente do IAB RS.
Outro pedido é referente ao EIA-RIMA
O IAB RS ainda pede na ação para que seja feito um EIA-RIMA consistente, que aborde todos os impactos advindos da implantação do projeto.
Para Rafael Passos, é preciso uma complementação do EIA para que analise a repercussão do empreendimento na paisagem e nos bens tombados, bem como para que analise os impactos no trânsito, e respectivas consequências, identifique medidas mitigadoras compatíveis e, finalmente, com base em tais impactos proponha diretrizes para o novo regime urbanístico compatível com a preservação ambiental, considerada a proteção do ar, da paisagem e do entorno da Usina
“Como já foi falado em audiências, a questão do impacto na mobilidade urbana foi subestimada e não leva em conta as modificações no projeto”, critica Passos. Como exemplo, ele cita o estudo de ligação aérea ou em nível, vegetada sobre a avenida Presidente João Goulart, integrando a Praça Brigadeiro Sampaio ao Cais Mauá e as passarelas sobre a Avenida Mauá, as quais foram suprimidas do projeto.
“As passarelas também não serão implementadas, sobrando sinaleiras para pedestres na Av. Mauá. E o EIA-RIMA não tem analisa estas alterações”, alerta o presidente do IAB RS.
Novas regras para a área do Shopping Center
Uma Portaria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) de dezembro de 2016 alterou as regras para a área de entorno do Cais Mauá e de outros bens tombados no Centro Histórico. A Portaria ampliou o perímetro de entorno, sobretudo na área onde está prevista a construção do shopping center, entre os armazéns e a Usina do Gasômetro.
“O projeto do shopping center deve respeitar essas novas determinações, já que o empreendedor não havia submetido todo o projeto à apreciação do IPHAN, o que é mais uma irregularidade no licenciamento e que havíamos denunciado ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental quando da análise do projeto”, conclui o presidente do IAB RS.

Coleções do Museu de Ciências Naturais são referências no país e no exterior

Cleber Dioni Tentardin
As coleções científicas do JB e do MCN são consideradas pelos especialistas o maior acervo de material-testemunho da biodiversidade dos ecossistemas terrestres e aquáticos do RS. A coleção de insetos, por exemplo, é considerada a melhor do Estado, com cerca de 400 mil exemplares, e está entre as cinco melhores do Brasil, no que diz respeito à conservação e organização.
São elas: Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus – INPA, ambas vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação; Museu Nacional, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro; Museu de Zoologia da USP e Museu de Ciências Naturais, da Fundação Zoobotânica do RS. Estas duas últimas são instituições estaduais.
“As coleções se equivalem pela essência, mas, claro, tem algumas muito antigas, do século 19, como do Museu Nacional (1818), do Goeldi (1861) e da USP, antigo Museu Paulista (1890)”, explica o biólogo Luciano Moura, do Museu de Ciências Naturais.
Luciano é especialista em besouros e divide as atividades com as biólogas Hilda Gastal e Aline Barcellos Prates dos Santos. Os três são curadores da coleção de insetos, cada um responsável por determinados grupos. Ambos respondem pelo Setor de Entomologia, da Seção de Zoologia de Invertebrados do MCN/FZB. Aline e Luciano são taxonomistas, com conhecimento para identificar e descrever novas espécies.

Os pesquisadores e curadores da coleção de insetos acompanham Buckup em visita ao Museu/Cleber Dioni

Hilda trabalha com biomonitoramento, avalia a qualidade de ambientes aquáticos com base nos insetos encontrados. E, seguidamente, participa de feiras de ciências e exposições do museu nas escolas, nas praças e parques.
“Precisamos repassar todo este conhecimento, e não só às crianças, mas aos adultos, que também ficam maravilhados com tudo. Isso fortalece a conscientização ambiental. As pessoas acham, por exemplo, que o louva-deus é venenoso, o que não é verdade, mas acabam matando o animal por desinformação. Confundem cigarra com libélula ou inseto com aquelas listras parecidas com o barbeiro, mas que não causa danos”, explica Hilda, uma das mais antigas da Zoobotânica, com 42 anos de serviço.
Aline é especialista no grupo de insetos chamados de hemípteros, os populares percevejos, fede-fedes, cigarras e barbeiros. Ela ressalta que nenhum museu do mundo conta com especialistas de todos os grupos porque a diversidade é muito grande, sendo que o dos insetos é o maior grupo animal que existe.
Espécie de percevejo

Por isso remetermos material para ser identificado fora do Brasil ou aproveitar o conhecimento de especialistas estrangeiros que visitam a coleção do MCN. Esse intercâmbio é permanente”, completa a pesquisadora.
Aline reitera que o interesse dos estrangeiros em conhecer a coleção de insetos no museu é importante não só pela troca de conhecimento como também pela visibilidade da Fundação.
“Quando os trabalhos são publicados nas revistas científicas, o nome do museu e da Zoobotânica vão estar elencados entre o material examinado, aí a importância de uma coleção. Brecar esse intercâmbio, é retroceder na busca de maior conhecimento da nossa biodiversidade”, adverte. “E o pior é que, além de toda essa fonte de informação ficar inacessível para a comunidade científica, a coleção torna-se obsoleta”, completa.
Arlequim-da-mata, espécie de besouro

Luciano ressalta que o Rio Grande do Sul tem particularidades que atraem muitos pesquisadores de outros estados e países. “É o estado mais meridional do Brasil, com uma diversidade de ambientes, formações vegetais, num espaço relativamente pequeno, o único estado com o bioma Pampa, a região do Espinilho, na Barra do Quaraí, é a única formação savana no Estado, sem falar no clima que é bem diferente. Então, há espécies que só ocorrem aqui”, destaca.
Espécie de besouro Megasoma actaeon, machos (maiores) e fêmeas

Coleção de insetos

Do ponto de vista da infraestrutura, o Museu de Ciências Naturais é uma referência no Brasil, segundo Aline. “Nós temos a melhor estrutura no Estado para abrigarmos coleções, tanto que boa parte dos professores da UFRGS deposita material de estudo no museu”, diz orgulhosa.
Ela lembra que há dois anos receberam uma coleção de insetos de interesse agrícola, do antigo Instituto Borges de Medeiros, que estava na Faculdade de Agronomia. “Essa coleção está sendo recuperada, estamos retirando fungos dos insetos”, afirma.
 
Borboletas papilionídeas da Coleção Mabilde, tombada pelo IPHAN

A pesquisadora entende que as coleções acabam por ser prejudicadas pela falta de cargo de curador na universidade federal. E, entre dar aulas e realizar pesquisas, os professores talvez nem tivessem tempo”.
Dois técnicos dividem as atividades de manutenção da coleção de insetos (controle dos desumidificadores, limpeza de exemplares, confecção de etiquetas, elaboração de planilhas de controle, organização dos laboratórios). Tomaz Aguzzoli, biólogo e técnico agrícola, atende também ao setor das aranhas, escorpiões, ácaros), e a bióloga Caroline Silva, que trabalha com toda a seção da Zoologia de Invertebrados.
Os estudantes também ajudam na conservação das coleções, durante os estágios. Há dois alunos da Biologia da Unilasalle que possuem bolsas de iniciação científica do PIBIC-CNPq, e uma de mestrado, orientada por Aline, na UFRGS.
Retorno institucional
Luciano toca num ponto que comumente é cobrado dos pesquisadores, principalmente os taxonomistas: “Os gestores nos consideram individualistas, reclamam que não damos retorno institucional, mas eles não se dão conta que contribuímos não só com a nossa pesquisa, quando a Fepam exige um laudo técnico da Zoobotânica para o licenciamento ambiental, mas com a infraestrutura, como os equipamentos ópticos adquiridos, que poderá ser aproveitada por gerações”, afirma.
Aline cita os projetos viabilizados pelo CNPq: “Reunimos pesquisadores de invertebrados, especialistas em moluscos, aranhas e insetos, fizemos em 2004 o projeto na Mata Atlântica, em Maquiné, um estudo de invertebrados em copas de árvores, e outro, em 2008, naquelas áreas de arenização do Pampa, em São Francisco de Assis.”
Variação de cores de besouros da Família Chrysomelidae

A pesquisadora ressalta ainda a demanda de trabalhos de pesquisa da SEMA e Fepam, que chegam até a Fundação Zoobotânica, e o apoio que seguidamente o seu setor presta ao Centro de Informações Toxicológicas, sobre os mais variados insetos.
“E tem pessoas que vêm aqui nos trazer insetos porque ficaram assustadas ao encontrar dentro de casa, no berço do filho, então a gente também dá esse retorno imediato”, diz Aline.
Uma vida dedicada à Zoobotânica
Hilda Gastal é uma das funcionárias mais antigas na FZB. É pesquisadora há 42 anos. Ingressou em 1975. Era estagiária em 1969 na entomologia, com as professoras Jocélia Grazia e Miriam Becker. O museu era na avenida Mauá, esquina da Carlos Chagas, onde funcionava também a Fepam. Dali, mudou para o prédio da antiga Mesbla e, da Mesbla, o museu foi transferido para o Jardim Botânico.
Hilda mostra exemplares usados em feiras escolares e em parques/Cleber Dioni

Fez mestrado na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Estudou uma mosca que parasita o percevejo que, por sua vez, era a praga das plantações de couve. A mosca depositava o ovo em cima do percevejo e a forma jovem se desenvolvia dentro para se alimentar.
Ao retornar ao Rio Grande, Hilda foi contratada pela Fundação Zoobotânica. Entre seus trabalhos, destaca os estudos realizados na Braskem, na época Copesul, onde fez o biomonitoramento de invertebrados aquáticos no Rio Caí e no Arroio Bom Jardim, que recebe efluentes do Polo Petroquímico.
“Meu primeiro e único emprego, uma vida inteira dedicada. Como vou pra casa sabendo que querem acabar com a Fundação, me dá uma tristeza só de pensar nisso”, diz, com lágrimas nos olhos.
“O primeiro dia aqui foi o mais feliz da minha vida”
Aline completou neste mês de julho 15 anos de Zoobotânica. Ingressou via concurso em 2002 e, hoje, concilia as pesquisas no museu com aulas do curso de pós-graduação em Biologia, na Universidade Federal.
Aline identifica novas espécies de percevejos/Cleber Dioni

Teve como orientadora durante toda sua formação a professora Jocélia Grazia, do Departamento de Zoologia da Ufrgs, e servidora do Museu, hoje aposentada. Jocélia, por sua vez, foi discípula do professor Ludwig Buckup, pioneiro da coleção de entomologia e um dos fundadores do MCN.
Aline ingressou em 1982 na Ufrgs, mas mestrado e doutorado concluiu na Universidade Federal do Paraná, que possui curso específico de pós em entomologia. De volta à capital gaúcha, trabalhou na Ong UPAN – União Protetora do Ambiente Natural, de São Leopoldo, como professora substituta na Ufgrs e, em projetos, contratada por uma empresa terceirizada, quando teve a oportunidade de atuar no programa do Pró-Guaíba, de 1998 a 2000. Aí foi aprovada nos concursos da Fepam e FZB em 2001, sendo chamada no ano seguinte.
“Eu posso dizer que o primeiro dia em que subi a lomba do Jardim Botânico, como funcionária concursada, foi o dia mais feliz da minha vida. Porque eu já havia sido chamada para assumir na Fepam, mas não consegui ficar tão feliz como eu imaginava que iria estar na Zoobotânica”, revela. E completa: Temos que achar uma saída para preservar todo este conhecimento acumulado aqui. Ainda mantemos a chama acesa principalmente porque amamos o que fazemos e pelas gerações de estudantes que ainda poderão passar por esta instituição, que tem profissionais dentre os mais preparados no país, assim como as coleções estão entre as melhores.”
Único no Estado habilitado a descrever espécies de besouro
Luciano trabalha com os besouros, que integram a ordem Coleóptera, simplesmente a que possui maior número de espécies dentre todos os seres vivos — cerca de 400 mil. E detalhe: no estado, ele é o único especialista com conhecimento suficiente para descrever espécies novas.
Luciano mostra que a produção científica inclui desenhos fiés das espécies

 
Besouro Macrodontia cervicornis

Apesar de ser o funcionário concursado mais novo dentre os colegas do seu setor – ingressou em 2014 -, há mais de trinta anos desenvolve estudos na Fundação Zoobotânica, primeiro como aluno/bolsista de Iniciação Científica, depois nas pesquisas para os cursos de mestrado na PUCRS e doutorado na Ufrgs. A maior parte de sua formação profissional foi dada pela professora Maria Helena Galileo, que também era pesquisadora da FZB.
“Eu nem imaginava que iria trabalhar com besouros, na verdade, nem pensava em ser biólogo, na minha adolescência eu só queria saber de aviação, mas hoje estou aqui graças aos professores e pesquisadores da Zoobotânica e espero poder ajudar na formação de muitos outros estudantes”, conclui.

Zoobotânica é guardiã da biodiversidade gaúcha, diz professor Buckup

Cleber Dioni Tentardini
Ludwig Buckup, cientista e professor, é um dos idealizadores do então Museu Rio-grandense de Ciências Naturais, a partir de 1955, ao lado do padre jesuíta Balduíno Rambo e do professor Thales de Lema. A Fundação Zoobotânica, a qual está vinculada hoje, só foi criada em 1972.
Iniciou as pesquisas com insetos, passando mais tarde a estudar os crustáceos. Dedicou mais de meio século às pesquisas no Museu e às aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Agora, diante da ameaça de fechamento da FZB, tem visitado com mais frequência as coleções que ajudou a enriquecer.
Na quarta-feira, dia 20, acompanhado dos pesquisadores do setor de entomologia do museu, foi surpreendido ao mostrarem- lhe um livro com os apontamentos de Adolfo Pompilio Mabilde, contendo desenhos e a descrição fiel de centenas de borboletas, a maioria coletada no século 19.
“Onde encontraram esse livro”, indagou, impressionado, aos três biólogos e curadores da coleção de insetos, Hilda, Aline e Luciano.

Buckup com o livro de Adolfo Mabilde /Cleber Dioni

Mabilde, da família proprietária de estaleiros em Porto Alegre, deixou junto com o livro 3.458 exemplares de insetos sob a guarda do Museu Júlio de Castilhos, e que hoje, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), integram a coleção do MCN.
Borboletas do século 19, da coleção Mabilde

Ao folhar a publicação, Buckup observou a importância científica daquela coleção de borboletas, de mais de cem anos, e que pode estar condenada ao esquecimento e ao mofo, diante da possibilidade de demissão dos especialistas e fechamento da Fundação Zoobotânica.
“Além da segurança institucional para todo patrimônio das instituições vinculadas a ela, a Fundação é um ambiente de alta produção intelectual, de técnicos e pesquisadores que passam 20, 25 anos de dedicação acadêmica até se tornarem verdadeiros especialistas. Sem eles, não há o que fazer com as coleções. Dou como exemplo as professoras Miriam Becker e Jocélia Grazia, que passaram pela FZB e orientaram gerações e, sem dúvida, estão entre as cinco maiores especialistas em hemípteros (percevejos) do mundo”, avalia.
Aline, com Buckup, foi aluna de Jocélia Grazia e, hoje, orienta na Ufrgs/Cleber Dioni

A professora Jocélia Grazia iniciou como pesquisadora do Museu em 1966. Descreveu cerca de 180 espécies, sendo que grande parte, depositada no acervo do Museu, é usada como modelo para identificar novas espécies (material-tipo).
“Encerrar as atividades de pesquisa e curadoria da coleção entomológica, com a demissão dos especialistas, representa uma grande perda de patrimônio inestimável”, lamenta. “Paradoxalmente, enquanto o RS planeja enfraquecer as pesquisas científicas, o estado do Paraná recebe com simpatia a proposta apresentada pela UFPR de criação do maior museu de História Natural do país”, conclui.
Buckup confere espécies sob curadoria de Luciano/ Cleber Dioni

Coleção de insetos foi pioneira
Logo que foi criado o Museu Rio-grandense de Ciências Naturais, Buckup doou sua coleção particular de insetos à instituição. Depois, foi autorizado pelo historiador Dante de Laytano a recolher o material zoológico do Museu Júlio de Castilhos.
“Começa aí a formação patrimonial do museu sobre a diversidade biológica do Rio Grande do Sul, que comporta um significado ecológico”, salienta.
Em entrevista publicada no jornal JÁ, em 9 de março deste ano, para a série especial Patrimônio Ameaçado (https://www.jornalja.com.br/extincao-da-zoobotanica-e-vinganca-de-ana-pellini-diz-professor-buckup/), Buckup conta em detalhes como surgiu o museu, a partir da iniciativa do então secretário de Educação e Cultura do governo do general Ernesto Dornelles, José Mariano de Freitas Beck.
Ele era auxiliar do padre Rambo na diretoria de Ciências, e sugeriu que fosse criado um museu para reunir um acervo biológico a fim de realizar pesquisas.
Hilda tem se dedicado ao biomonitoramento e educação ambiental

Por volta de 1966, Miriam Becker e Jocélia Grazia começaram as pesquisas no setor de entomologia do museu. Buckup passou a estudar os crustáceos, por não haver, até então, no museu, especialistas no assunto. Em 1976, a coleção de insetos passou para a responsabilidade de Hilda Gastal e Maria Elisabeth Souza. A partir daí, foram adquiridas várias coleções.