João Alberto Wohlfart
Em tempos de crise institucional e de ditadura como estamos vivendo atualmente, moralismos sociais são frequentes. A burguesia dominante padroniza um discurso que tem na negação da corrupção o referencial constante. Esta classe fala duramente contra a corrupção, mas é exatamente ela que a produz, a reproduz constantemente, e ao falar contra ela, a reproduz novamente. A classe burguesa dominante, intensamente apoiada pelas religiões, se apresenta a si mesma como imaculada e santa, sem pecado original, grita autoritária e cinicamente contra a corrupção, criminaliza os movimentos sociais e culpabiliza os movimentos sociais e o Estado como os responsáveis pela corrupção.
O viés de abordagem é mostrar o pecado dos que se apresentam como santos e perfeitos, mostrar a imoralidade dos que clamam pela moralidade social, a corrupção dos que duramente falam contra a corrupção. Neste círculo vicioso da cobra que morde o seu próprio rabo e do macaco que não olha o seu próprio rabo, é preciso apontar um duplo pecado: a burguesia fala contra a corrupção, mas é ela a protagonista principal; a burguesia fala contra a corrupção, mas ao apontar os pecados de corrupção, esconde os principais pecados de corrução que obedecem à lógica neoliberal capitalista.
No momento atual, a operação lava jato é o símbolo deste papel. Os seus articuladores, nobres juízes da corte do direito, liderados pelo moralista Sergio Moro, aparecem diante da opinião pública como os detentores da moralidade e como a aura imaculada diante de um país mergulhado em corrupção. Esta castíssima elite da perfeição e da moralidade, para os empresários dos meios de comunicação social, para a elite burguesa e para a opinião pública manipulada, está limpando o Brasil do pecado mortal da corrupção. Qual seria a razão do tão grande interesse por parte da burguesia dominante em eliminar a corrupção no Brasil?
A moralidade da limpeza na corrupção por parte da lava jato e o caráter imaculado da moralidade dos juízes que a comandam é apenas um aspecto do que efetivamente representam. O que vemos todos os dias na televisão sobre esta operação e os seus articuladores é apenas uma pequena ponta de uma organização infinitamente maior. As razões de sua existência e o fundo temático da pressão contra o Partido dos Trabalhadores e contra Lula são totalmente outros, sistematicamente escondidos pelos meios de comunicação social.
Contrariamente ao que difunde a grande mídia, com destaque na limpeza do país de toda a corrupção, a operação lava jato é um procedimento jurídico e midiático destinado a entregar as riquezas do Brasil aos interesses macroeconômicos mundiais. É o principal procedimento moral, jurídico e midiático pelo qual o Brasil é destituído de sua soberania e entregue de presente nas mãos dos magnatas do grande capital. Por este espetáculo jurídico midiático passa a destruição dos principais pilares econômicos e políticos que sustentam a nação brasileira.
A operação lava jato é expressão de uma onda moralizante que varre o planeta e o Brasil. Os meios de comunicação social conseguiram difundir a ideia da corrupção generalizada, no sentido de evidenciar que todos os políticos, especialmente do PT são corruptos. Este fenômeno desdobrou-se em dois efeitos principais: a condenação da corrupção por parte do povo e a moralização social. Hoje o tema principal dos meios de comunicação social e das conversas entre as pessoas é a corrupção. Mas, paradoxalmente, há um grupo social que se considera como moralmente perfeito, isento da corrupção, e que generaliza a ideia de que todos são corruptos.
O paradoxo desta lógica está nos que condenam a corrupção, com um moralismo autoritário, mas são os que a produzem e a aprofundam cada vez mais. Nisto a lógica capitalista de produção e de acumulação é sistematicamente corrupta e corruptora. Disto resulta que os seus articuladores são eminentemente corruptos. Hoje no Brasil o poder mais corrupto e corruptor é aquele que deveria impedir a corrupção, o judiciário. Ele se apresenta como o suprassumo da moralidade pública e política, quando na verdade está podre e desmoralizado. As ações do judiciário, especialmente nas esferas mais elevadas, concentra as suas ações para construir uma sociedade elitista que exclui grande parte do povo do desenvolvimento econômico e social.
Vimos nos meios de comunicação social onde o senhor Sérgio Moro aparece como a referência da moralidade. Mas os atos jurídicos por ele liderados são desastrosos para o país. A operação lava jato já destruiu um pilar da economia nacional e fundamental para o desenvolvimento do país, além da perda de milhões de empregos. Além do significativo enfraquecimento da Petrobrás, foram destruídas muitas empresas e atividades integrantes do sistema do Petróleo e da engenharia. A tal da operação lava jato é um meio de dissolução da ciência nacional, da tecnologia nacional e da engenharia nacional. Sem estes pilares fundamentais, o país não tem conhecimento e se transforma numa colônia informe do imperialismo capitalista internacional.
Os moralismos aqui identificados, um artifício do qual a burguesia se vale para justificar a sua inocência e o seu poder de dominação, têm consequências trágicas. Não pode haver maior tragédia que a ruptura dos princípios democráticos orientados com o lema fundamental segundo o qual o poder político provém do povo e ao povo retorna. O projeto golpista rompeu com este princípio constitucional, jogou o povo brasileiro à deriva e fez da política um poder de dominação das elites dominantes para as elites dominantes. A legitimação deste jogo tem vários componentes, especialmente o paradoxo da autojustificação moralizante da burguesia dominante e a disseminação do ódio social sistemático e profundo contra as massas populares. A postura moralizante, especialmente disseminada pela casta do judiciário, trouxe como consequência a perda de direitos humanos fundamentais assegurados pela Constituição Federal de 1988, solapados pela onda golpista que faz retroceder o Brasil aos tempos da escravidão. A tendência é de que num tempo relativamente próximo os trabalhadores voltem à condição de escravos de um sistema moderno que se caracteriza pelo domínio absoluto do capital sobre o trabalho. A criminalização dos movimentos sociais e a perseguição aos seus líderes é outro ingrediente da onda destruidora promovida pela lógica golpista.
O fenômeno contraditório da moralidade burguesia capitalista, trapaceada pelo discurso anticorrupção, produziu uma demolição generalizada da nação. A religião tornou-se a grande aliada da moralização social e da produção de uma sociedade constituída por uma minoria justa e uma grande maioria de injustos e pecadores. Além de uma nova fase de domínio imperial neocapitalista sobre o Brasil, muito mais agressiva que as modalidades conhecidas anteriormente, com a entrega de presente das principais riquezas naturais do Brasil, a sociedade brasileira fica diluída numa espécie de massa informe sem inteligência política, portanto sem forças de reação e presa de manipulação imperial.
O mesmo fenômeno acontece no outro lado do mar, mas com forte incidência na ditadura brasileira, com destaque no fortalecimento do conservadorismo religioso como um ingrediente fundamental na manutenção do golpismo. Trata-se dos cardeais ultraconservadores que habitam a Cúria Romana, com explícita oposição ao Papa Francisco no bloqueio de qualquer reforma que possa transformar a velha estrutura monárquica medieval. No Brasil há cardeais católicos com o mesmo teor de ódio conservador, com decisiva atuação no fundamentalismo religioso e na legitimação do golpe. Quando impera semelhante conservadorismo religioso, outra coisa não há que o encobrimento de interesses e a legitimação de um sistema econômico estabelecido.
Uma das expressões mais evidentes dos moralismos jurídicos é o fenômeno da superlotação das prisões. As mortes registradas nos presídios nestas últimas semanas são a expressão da tensão social implícita a este sistema. O sistema econômico cria os criminosos, necessita deles porque há empresários que lucram na proporção direta com o número de detentos. O moralismo da sociedade burguesa precisa evidenciar as suas virtudes ao condenar e colocar na cadeia milhares de “criminosos” que não apresentam as virtudes burguesas. Mas a situação das prisões é o porão da sociedade que joga lá dentro o seu próprio lixo e a sua própria escória. Os porões da miséria nas periferias das cidades, a criminalidade social e o submundo das prisões constituem a relação social produzida pelo próprio sistema capitalista. Mesmo que a burguesia capitalista o negue e não queira para si esta condição, é o mais genuíno produto da sociedade burguesa.
A operação lava jato esconde a sua verdadeira finalidade e os interesses que representa. Numa primeira aproximação, é um espetáculo judicial que prepara o terreno para a entrega das principais riquezas do Brasil para o grande capital internacional. De forma invisível, está por trás da lava jato a perseguição internacional sistêmica contra a Ciência, a Tecnologia e a Engenharia brasileiras, pois elas representam uma ameaça contra a hegemonia do norte que faz de tudo para eternizar a incondicionalidade do seu domínio. Há também um sentido social na medida em que criminaliza os movimentos sociais, o povo das periferias das cidades e as lideranças sociais. Temos visto a constante perseguição contra as lideranças populares com o objetivo claro de eliminar as esquerdas e inviabilizar qualquer projeto popular.
Salve rede globo, salve lava jato e salve o castíssimo poder judiciário. As suas ações foram capazes eliminar milhões de empregos, souberam devolver ao país a pobreza e a miséria e conseguiram legitimar um governo golpista e usurpador. Salve poder judiciário e salve supremo tribunal federal: abdicaram de sua missão fundamental, dissolveram a Democracia e o Estado de Direito e permitiram que o país fosse entregue nas mãos de ladrões e assaltantes. Estamos nas mãos de raposas que comem as galinhas.
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Engajamento social hoje, 20 anos depois
Jorge Barcellos
Doutor em Educação
Completam-se no corrente ano, 20 anos da palestra de John Kenneth Galbraith (1908-2006) intitulada “O engajamento social hoje”. Palestra inaugural sobre a política do senador canadense Keith Davey proferida pelo economista na Universidade de Toronto em 1997 foi publicada pelo Mais! no ano seguinte. Passados vinte anos, a questão colocada pelo economista sobre as razões pelas quais os governos estão abandonando os pobres continua com grande atualidade.
Galbraith foi um dos mais importantes economistas do século XX e defensor da participação do Estado para regular o mercado ao lado de John Maynard Keynes (1883-1946). Ele se interessa em descrever a posição política e os objetivos dos socialmente engajados “onde quer que vivam e como sejam chamados”. Ser socialmente engajado significa, em primeiro lugar, no texto de Galbraith, uma posição de defesa dos mais pobres. Por esta razão sua análise é sobre papel que devem exercer os socialistas na França, os socialdemocratas na Alemanha, os trabalhistas na Grã-Bretanha e à época, no segundo governo Fernando Henrique Cardoso (1998-2002), o texto ilustrava o desejo da esquerda petista ainda não atingida pelo processo de corrosão do segundo governo Lula.
A colocação do problema de Galbraith sobre a responsabilidade dos governos frente aos pobres e o papel do intelectual cai como uma luva nos dias de hoje ”. Nesta época socialmente complexa e as vezes politicamente retrógrada, que posição devem assumir os socialmente engajados, e com que objetivo? ”. Galbraith não viveu para ver a ascensão de Donald Trump ou a emergência de Le Pen na França e veria com tristeza a política brasileira caracterizada pelo desmonte dos direitos sociais e por essa razão é rica as lições que tira de sua época para ilustrar a nossa.
Primeiro porque o sistema de mercado persiste como o sistema básico de produção de bens e serviços, hoje como há vinte anos atrás, como assinala o filósofo esloveno Slavoj Zizek, produz com tanta abundância que é possível enxergar sua imagem no imenso mundo do lixo que acumula “Nós, os socialmente engajados, não consideramos esse processo livre de imperfeiçoes”, assinala Galbraith, quer dizer, tanto em sua época como na atual, ainda que não há horizonte uma alternativa econômica, cabe ao intelectual a sua crítica do modelo de desenvolvimento.
Segundo, como Galbraith previu, a questão ambiental é o ponto de partida dos problemas do sistema de mercado já que os recursos naturais são cada vez mais escassos para todos. A sua previsão de que “a forte voz política que o sistema de mercado confere aos que possuem e administram o equipamento produtivo “ só se agudizou, isto é, determinados atores do sistema de mercado adquiriram cada vez mais forte voz política na década seguinte ampliou-se nos sucessivos processos de combate a corrupção, como o da Lava – Jato revelou.
Devemos aceitar a posição de Galbraith de que o sistema que está aí veio para ficar? Em parte não, se considerarmos que ainda há forças políticas sobreviventes que recusam o capitalismo como o diabo foge da cruz, herdeiros de uma tradição política de esquerda radical que comprovou que, ao menos na experiência brasileira, quando a esquerda busca apoio no mercado, ela perde sua natureza (vide o PT): Galbraith só podia falar do trabalhismo britânico em sua total aceitação, mas é possível falar do petismo brasileiro no mesmo sentido.
O ponto central do argumento de Galbraith vem em seguida: “a sobrevivência e a aceitação do moderno sistema de mercado foram, em grande medida, uma conquista dos socialmente engajados. Ele não teria sobrevivido sem nossas bem-sucedidas iniciativas civilizadoras”. O que isto significa? Para Galbraith, em sua forma original, o capitalismo é cruel e por isto é preciso que os sindicatos cumpram a sua função, a proteção aos trabalhadores e seus direitos “pensões para idosos, indenizações para os desempregados, assistência pública à saúde, habitação de baixo custo – uma rede de segurança, embora imperfeita, para os desafortunados “. Essa é ainda uma notável lição para avaliar os tempos que correm onde vemos o capitalismo em sua forma mais cruel ser adotada como política de estado: o fim de direitos dos trabalhadores, a reforma da previdência, a crise da rede de segurança propriamente dita no Brasil seriam a prova do fracasso do estado de bem-estar social, o contrário da visão de Galbraith, um sistema de mercado que está se tornando social e politicamente inaceitável a passos largos.
A crítica de Galbraith é sua recusa à corrente de pensamento que afirma que qualquer atividade econômica deve ser convertida ao mercado, transformado em universal, onde a privatização é uma “fé pública”, argumento que continua atual. Galbraith diz taxativamente que a “a questão do privado x público não deve ser decidida em termos abstratos e teóricos; a decisão depende sobretudo dos méritos de cada caso especifico”. O argumento cai como uma luva nas iniciativas privatizantes dos governos Luis Fernando de Souza (Pezão) no Rio de Janeiro e José Ivo Sartori no Rio Grande do Sul e medidas de novos prefeitos, como Nelson Marquezan Jr em Porto Alegre. Tanto Pezão quanto Sartori, por exemplo, incluíram em seu pacote de entidades a serem extintas, fundações ligadas a pesquisa, como a FEE no RS e o CEPERJ, no RJ, enquanto Marquezan realizou uma reforma extinguindo secretarias e órgãos como a SMAM, além de manifestar o seu desejo pelo fim dos cobradores de ônibus. Para Galbraith, estas iniciativas esquecem o mérito de tais instituições amplamente defendidos na sociedade: como planejar políticas públicas sem dados confiáveis? Como extinguir órgãos de grande importância e propor a extinção de trabalhadores como os cobradores do transporte público sem precarizar as condições de segurança da população?
Como economista, a posição de Galbraith de crítica contundente ao sistema de mercado salta aos olhos: “o mercado não tem desempenho confiável”, o que significa que é um risco para a sociedade o fato de que ele passa da expansão à depressão em um curto espaço de tempo “gerando privação e desespero entre os mais vulneráveis”. Daí a necessidade de intervenção do Estado para manter a economia em prosperidade e frear o ímpeto especulativo do mercado. Tanto no passado quanto hoje esta é uma questão de alta relevância, e de forma profética, dez anos antes de 2008, o economista avisava dos perigos da bolha do mercado de valores, dez anos antes da crise mundial.
Ter em mente o perigo dos excessos era, para Gaibraith, como monetarista, preocupar-se com o papel dos impostos e gastos e os comportamentos negativos do meio empresarial “o sistema é dados a excessos” dizia. Mas é possível formular que, também o Estado, nas mãos de financistas, é dado a excessos: não é o que se vê na política de privatizações do Rio Grande do Sul, este excesso de medidas de extinção de órgãos (FEE, TVE, entre outros) sob o argumento de redução de custos que está dilapidando o patrimônio gaúcho? Galbraith é enfático em defender medidas fiscais amplas e efetivas para promover o emprego porque seu foco não são os referenciais econômicos, mas o social, ele está preocupado com os efeitos das políticas públicas no campo social e vê neste tipo de medida um grande prejuízo social e fonte de aflição humana, numa palavra, o desemprego, e sugere, ao contrário, a promoção de “empregos públicos alternativos na recessão ou depressão”. Não é exatamente o contrário das políticas públicas em andamento no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, com suspensão de concursos públicos, demissões e sucateamento da máquina pública com consequente demissão de milhares de servidores?
Galbraith associa-se ao projeto keynesiano defendendo que, em épocas de recessão como a que vivemos, uma política de emprego garantida pelo governo como fundamental. Seu lugar destinado ao intelectual é o da posição de crítica constante a partir de uma base (keynesianismo) comum. Ser socialmente engajado significa não apenas defender, à época, que o medo da inflação influenciasse excessivamente políticas públicas como ter coragem de revelar, com vinte anos de antecedência, uma estratégia que os governos teimam ainda hoje em esconder: “nos Estados Unidos esse objetivo [orçamento equilibrado] é no momento uma importante arma no ataque generalizado aos pobres”. Que o argumento do orçamento equilibrado seja questionado por um economista monetarista, já causa espanto: que ele defenda que o déficit fiscal temporário, ainda é mais surpreendente, é notável o quanto é possível, mesmo no interior do paradigma economicista, preservar o valor da defesa do social, o que não acontece atualmente nos gestores de politicas públicas.
Ainda que Galbraith estabeleça princípios para o engajamento político em economia, isto não significa a defesa do socialismo. Ele sabe que o sistema de mercado distribui desigualmente a riqueza e aceita isso: por isso além de um sistema de seguridade social para todos, Galbraith quer um imposto de renda progressivo porque os ricos sempre querem escapar de seus impostos e eles são necessários: ”não podemos esquecer o objetivo de uma distribuição de renda socialmente defensável: confortar os aflitos e afligir os confortados“. Não há nada que prove que avançamos nesse sentido: o governo atual em diversos níveis tende a ir na contramão desta afirmação: a nível federal, não reajusta a tabela do imposto de renda e vê os paraísos fiscais continuarem a receber fortunas dos políticos corruptos e parte do empresariado. A nível dos estados, as políticas públicas de venda da máquina pública reduzem mais empregos do que criam. Nunca fez sentido para aqueles com mais renda colaborarem com os mais pobres simplesmente porque a cultura de privilégios impera nos corações e mentes.
Por essa razão, a partir do pensamento de Galbraith, vemos que agimos justamente ao contrário do que se deveria com os recursos públicos, a todo o momento solicitado para financiar empresas privadas. Galbraith dá o exemplo notável – pela simplicidade – do que ocorria nos Estados Unidos, onde a televisão privada fora financiada por recursos públicos enquanto que as escolas públicas foram abandonadas; substitua televisão por sistema bancário e os efeitos será o mesmo no Brasil atua, a mesma anomalia que denunciava o economista. Galbraith reclama que em uma visita as universidades de sua formação em um estado rico e “BILHÕES DE RECURSOS eram para produções de televisão moralmente depravadas”, ora, as universidades americanas viviam exatamente como vivem agora as nossas, vítimas da política de corte de verbas. Defensor incontestável da educação, que deveria ser “disponível a todos”, isso nunca significou o paradigma de investimento somente na produtividade econômica – não é exatamente assim que é pensada a reforma do ensino médio no pais? – mas, ao contrário, simplesmente, para Galbraith o investimento do estado só pode ter um critério: para aumento da “experiência de vida”.
Galbraith também criticou o ataque a Previdência que ocorreu durante dois anos nos Estados Unidos como “guerra dos influentes contra os pobres”. Sua posição de defesa dos mais pobres e crítica dos projetos de reforma é notável, é o que para ele define o intelectual socialmente engajado, o que inclui a defesa dos serviços públicos e segurança para os mais pobres. Essa agenda dos “socialmente engajados”, curiosamente, teve o mesmo efeito no Brasil para as classes médias que as políticas de bem-estar tiveram nos Estados Unidos: “como se poderia esperar, elas se tornaram mais conservadoras em suas atitudes e expressões públicas. ” Não foi exatamente a emergência de uma sociedade conservadora no Brasil o que vimos a partir dos movimentos de 2013? Não foi exatamente o cenário de uma classe média recentemente enriquecida resumida na cena do casal com a empregada doméstica nas ruas e que amplamente circulou nas redes sociais à época? “Agora eles veem a ajuda aos menos afortunados como uma ameaça a seus amplos e muitas vezes crescentes rendimentos”, afirma o economista. Não poderia estar mais certo do quadro brasileiro atual.
Aparentemente, a análise de Galbraith explica ainda hoje conflitos do desenvolvimento interno brasileiro, mas talvez seja de pouca serventia para a análise do contexto internacional, onde entendo que ocorram as maiores diferenças entre sua época e a atualidade. Galbraith previa um cenário internacional onde as potencias econômicas estariam associadas não em bases econômicas, mas em defesa de uma política de proteção social e assistencial “a preocupação pelo bem-estar humano não termina nas fronteiras nacionais. Deve-se estender aos pobres de todo o planeta: fome, doença e morte são causas de sofrimento humano onde que sejam experimentadas”. Mas a realidade teima em contrariar as expectativas de Galbraith, principalmente com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e com a disparada da candidatura Le Pen na França: o pior do sofrimento ainda está por vir.
Nos Estados Unidos, uma extensa onda de manifestações já critica as medidas xenofóbicas do presidente americano, bem como o fim da política de assistência à saúde dos mais pobres. O sofrimento não decorre dos conflitos internos, como previa Galbraith, mas da defesa exasperada dos interesses do Estado-Nação: os EUA já autorizaram a construção de um muro com o México. Para Galbraith, tudo isso significa que os países dominantes ignoram de uma vez por todas o compromisso que devem ter para pôr fim aos conflitos, suas medidas, ao contrário, os incentivam. Nesse caminho, é justamente a instituição que Galbraith via como de maior valor para esse papel, as Nações Unidas, que é fragilizada, com cortes orçamentários anunciados entre as primeiras medidas do governo Trump. Para o economista, não poderia haver pior posição: o Estado Unido, como país rico, abriu mão definitivamente da obrigação absoluta de ajudar. O discurso da ajuda internacional foi finalmente substituído pelo discurso conservador que diz que não se deve ajudar aos outros, somente a nós mesmos. Não foi isso que reiteradamente Trump vem afirmando? O problema é que nesse caminho, perde-se os investimentos em educação dos EUA em outros países: ”no mundo inteiro não existe população alfabetizada que seja pobre; e não existe população analfabeta que não seja pobre”, diz Galbraith.
Galbraith acusa os processos de urbanização como os responsáveis pelos problemas de saúde e pelo papel do dinheiro no acesso aos serviços necessários; na civilização agrícola, diz, ao contrário, não havia desemprego e a assistência dava-se naturalmente. A urbanização faz nascer a necessidade de serviços públicos e ser “socialmente engajado” neste meio significa estar consciente dessas contradições e manter o compromisso com a defesa da mudança “Nós, e não eles[ os não engajados], estamos acompanhando a história. Mas também devemos estar conscientes de nosso papel”.
Os rumos do mundo: notas sobre a mídia, o relatório da OXFAM e a era dos super-ricos
Marília veríssimo Veronese
Diante dos horrores que vivemos no Brasil hoje, do sombrio futuro que se desenha, da ascensão conservadora que naturaliza a desigualdade – o relatório da OXFAM sobre o quadro geral das desigualdades no mundo, recentemente divulgado, traz informações contundentes e está sendo bastante comentado[1] -, tenho me perguntado sobre os rumos do mundo. Minha filha está em idade de “entrar no mercado de trabalho”. A expressão me causa calafrios, considerando que oito bilionários possuem a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas ou a metade mais pobre da humanidade, conforme o referido relatório. No Brasil, os seis maiores bilionários concentram a mesma riqueza que mais de 50% da população, ou mais de 100 milhões de pessoas. Nos últimos dois anos (2015-16), as dez maiores corporações privadas do mundo tiveram receita superior à de 180 países juntos.
Em Davos, as “autoridades” presentes garantem que se preocupam com este quadro… e se comprometem a tentar revertê-lo. Ufa, que alívio, né?! Imaginem se não se preocupassem e não se comprometessem!!!
No Brasil, a perda de direitos provocada pelos “pacotes” do governo golpista e ilegítimo é “comemorada” por quem perde os direitos trabalhistas, socioeconômicos etc., como se isso significasse alguma “economia” para o Estado. A mídia corporativa afirma repetidas vezes que um Estado deve ser gerido como uma unidade doméstica, “economizando e não gastando mais que ganha”. A falácia e o ridículo dessa comparação já foram apontados por diversos autores dos campos econômico e jurídico. Um deles, o economista Rober Ávila, explica que as funções do Estado dizem respeito a elementos fundamentais da vida em sociedade, como a segurança pública, o reequilíbrio distributivo e o estímulo à vida produtiva e saudável dos cidadãos. Não é racional deixar os cidadãos morrerem à míngua, sem emprego e sem serviços de saúde, para “equilibrar as contas”. Se fazem questão da comparação, seria mais ou menos como uma família dizer assim “querida, precisamos cortar despesas médicas. Nosso filho vai morrer, mas devemos ficar dentro do nosso orçamento, isso é o que importa”. Absurdos como esse são repetidos à exaustão nos jornais e na TV e ajudam a formar conceitos profundamente equivocados quanto ao papel do Estado na vida coletiva e na promoção da cidadania, bem como sobre inúmeras outras questões relevantes ao país.
Enquanto isso, segue o caos no Brasil. Aviões levando ministros da suprema corte caem, técnicos do TCU morrem afogados, o AVC de uma senhora serve para despertar e difundir o lixo chorumento que habita corações e mentes apodrecidos internet afora. Sobre isso, Jean Wyllys comentou hoje nas redes sociais que Reinaldo Azevedo, após estimular as hienas fascistas na internet e de jogá-las sobre tantas pessoas decentes (sobrou até pro Chico Buarque), agora pede que se contenham, fechando os comentários da notícia do aneurisma da Marisa Letícia e falando em “fascismo”, que casualmente ele mesmo ajudou a criar! É o quadro da dor sem moldura.
Mas enfim, quem nunca questionou os rumos do mundo com grave preocupação? Imaginemos um judeu na Alemanha da década de 1930… uma pessoa que prezasse a liberdade e a democracia no Brasil de 1964 ou no Chile de 1973… ou um estadunidense pacifista e beneficiário das políticas do welfare state no início dos anos de 1980 nos EUA. Apreensão total. Previsão de sofrimento e perdas. Então, nada de novo sob o sol.
Tenho lido muita coisa e, ao mesmo tempo, estado sem inspiração para escrever. O momento é semi-paralisante. Amigos, conhecidos, intelectuais, cidadãos – os que se preocupam com o mundo, claro, não os que vivem apenas para ganhar dinheiro, consumir loucamente no xópin e adquirir caminhonetes enormes e totalmente inadequadas para circular na cidade, apenas para provar seu poderio financeiro e ostentar – procuram saídas diversas desse labirinto sinistro em que nos metemos. Estão consternados, nós estamos. Alguns, segundo conversas e declarações, desacreditam do poder da mídia hegemônica para fazer – ou pelo menos fomentar – tanto estrago. Consideram que em tempos de internet, veículos comunicacionais como a revista Veja e o Jornal Nacional não detêm mais o poder que detiveram um dia. Discordo parcialmente deles: por certo não mais todo o poder de “informar” sem concorrência, mas ainda detêm muito poder.
O jornalista Lucio de Castro disse, com a autoridade de quem viveu no estômago da besta (redações importantes no país), que na escolha da pauta se define o que será “fato” e o que não será. Se são escolhidas dez pautas para detonar quem se quer detonar e nenhuma para explodir o bandido de estimação, o leitor no dia seguinte vai presumir que só tem escândalo daquele sujeito citado repetidas vezes, enquanto o outro é puro como um anjo, quando na verdade apenas foi poupado na pauta. E mostra como é enganosa a ideia de que “basta ler o jornal para saber do que está acontecendo”. Isso é, no mínimo, uma ingenuidade imensa.
Não há um lugar que eu frequente e tenha de ficar esperando – de salões de cabeleireiro a consultórios médicos, passando por bares e cantinas universitários – onde não haja uma televisão ligada na Globo. Faça o teste: preste atenção nisso. Se for pela manhã, depois dos jornais “noticiosos”, terá de aguentar Ana Maria Braga ou Fátima Bernardes. Se for a tarde, depois dos jornais do almoço, periga ter de encarar vídeo show ou sessão da tarde. E é aí que as pautas são definidas, é disso que o cidadão comum vai falar e nisso que vai acreditar.
Alguns locais, para dar um ar mais “sofisticado”, sintonizam na Globonews, e nos submetem aos horrores dos “comentaristas” e “especialistas” que só falam o que os entrevistadores – alinhados com a emissora, geralmente – querem ouvir. Com raríssimas exceções, quando eventualmente estes são pegos de surpresa; e há alguns momentos bem interessantes e até engraçados dessa natureza. Selecionei três memoráveis, os únicos que tive notícia ultimamente, e colei os links na nota de rodapé para que quem não viu, assista. Vale a pena![2]. Tais momentos até poderiam ser compreendidos como uma tentativa de construção de efeitos de pluralidade discursiva – “olhem como somos plurais!” -, mas a consternação/embaraço dos entrevistadores parece apontar para um “deslize” da produção dos programas, mesmo, que não esperavam a “rebeldia” do entrevistado.
Nenhum fator explica sozinho, obviamente, um fenômeno da magnitude do caos que vivemos hoje no país. Afirmar isso seria de um simplismo bárbaro. São vários os atores sociais, individuais e coletivos, envolvidos no processo. Já temos lido exaustivamente sobre o caso, várias análises vão tentando dar conta de explicar o (quase) inexplicável.
Mas ainda acredito que a mídia corporativa continue tendo um papel central, prestando um desserviço, gerando ódios, falsos moralismos, conceitos equivocados e, pior de tudo, mentindo descaradamente, não só distorcendo. O caso do suposto “tríplex do Lula” rendeu manchetes e reportagens durante meses, e quando, ao final do inquérito, outras pessoas foram indiciadas – não encontraram provas suficientes de que estivesse envolvido – a notícia ficou restrita aos veículos chamados “alternativos”, que para mim também variam bastante nos quesitos qualidade e independência.
Os exemplos são inúmeros. O JN, por exemplo, que meus pais e tios consideravam a fonte principal de informação e atualização nos anos 70, 80 e 90 (“o repórter”; “o noticioso”), ainda é tido como tal por grande parte da população brasileira, manipulada diuturnamente por vieses e distorções variadas.
No livro “Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, Márcio Borges narra a história de seu amigo José Carlos, militante pela democracia que morreu sob tortura nas garras do Estado brasileiro ditatorial. E de como o JN mentiu desbragadamente para encobrir esse crime, do mesmo modo que parcela significativa da mídia brasileira antes, durante e depois do período da ditadura militar. Transcrevo aqui parte do texto do autor, e nas referências vocês podem ver o título completo da obra, da qual indico a leitura.
“Uma farsa estava sendo montada pelos órgãos de repressão, tanto os oficiais quanto os paramilitares (como a famigerada OBAN: operação Bandeirantes) – que recrutava jovens da classe média alta para treinamento antiguerrilha e caça aos “comunistas”. Na verdade, José Carlos já estava morto. Tinha falecido devido à crueldade das torturas de que fora vítima indefesa, nas masmorras da ditadura. Só que eles nunca admitiriam isso, evidentemente. A primeira face da farsa teve a cara da censura e o vídeo da TV Globo. Eu estava com Marilton no apartamento que ele alugara em Copacabana e onde estava morando desde pouco tempo, recém-casado com a mineira Maria Carmem. Era hora do Jornal Nacional, mas só prestei atenção ao locutor Cid Moreira quando seu rosto foi subitamente substituído por uma foto 3×4 que tomou conta de toda a telinha e sua voz adquiriu um tom dramático e aterrador. Na foto reconheci imediatamente o rosto de José Carlos, enquanto a voz do locutor narrava para todo o Brasil uma mentira absurda, noticiando que nosso amigo tinha sido baleado e morto durante um tiroteio com a polícia, nos arrabaldes de… Recife, Pernambuco. Minha reação foi histérica e infantil. Dei um pulo da cadeira e comecei a bradar, brandindo os punhos na direção da imagem de Cid Moreira: — Mentira! Assassinos! Assassinos! Ele morreu em São Paulo! Torturadores assassinos!!! — e caí sentado, abatido pela revolta, pelo desespero, pelo medo, pela dor, tudo junto.”
Eu, que na época era criança ainda, me lembro bem dos “tons aterradores e graves” do Cid Moreira para narrar as coisas, fossem ou não mentirosas. E não tenho ilusões de que a realidade tenha mudado muito desde então. As ocultações continuam, os vieses manipuladores, a insistência com certas pautas e o abandono de outras, as marteladas diárias para criar “realidades” de acordo com os interesses midiáticos. E quais são esses? Os dos patrões, claro; no relatório da OXFAM, temos algumas pistas novamente.
A maximização do lucro, por certo, é o principal interesse das grandes corporações, midiáticas ou de outros setores. Ela se dá através de mecanismos como a evasão fiscal, o super-capitalismo dos acionistas (na década de 1970, no Reino Unido, 10% do lucro das empresas ia para os acionistas; hoje vai 70%) e o capitalismo da camaradagem (que inclui o controle dos estados-nação, usando o enorme poder e influência para garantir que regulações e políticas nacionais e internacionais sejam formuladas de maneira que possibilitem a continuidade dos lucros). O relatório conclui que estamos na era dos super-ricos, na qual a fachada enganosa camufla problemas sociais gravíssimos e muita corrupção. O estudo que gerou o relatório incluiu todos os indivíduos com patrimônio líquido acima de US$ 1 bilhão.
Os 1.810 bilionários (em dólares) incluídos na lista da Forbes de 2016 (dos quais 89% são homens), possuem um patrimônio de US$ 6,5 trilhões – a mesma riqueza detida pelos 70% mais pobres da humanidade. Só a África perde, todos os anos, US$ 14 bilhões em receitas em decorrência do uso paraísos fiscais por parte dos super-ricos – segundo cálculos da Oxfam, esse valor seria suficiente para prestar assistência de saúde para quatro milhões de crianças e empregar um número suficiente de professores para colocar todas as crianças africanas na escola. Ou seja: não há como defender a moralidade dessa situação indigna, a despeito dos esforços, inclusive de certa ex-esquerda (que gosta de falar em ex-querda), para anular a questão ético-moral a todo pano, usando Nietzsche e Foucault na empreitada, se necessário. Eles também gostam de botar a culpa de todos os males do Brasil, do mundo e da galáxia na conta do petê (Partido dos Trabalhadores), mas aí já é uma outra história.
Me limito aqui a comentar o relatório, relacionando-o com o papel da mídia na situação insustentável que ela ajuda a legitimar e sustentar. Enquanto louvam os super-ricos – dos quais os donos da mídia corporativa fazem parte – como seres plenos de mérito, espertos, espécie de “Midas” contemporâneos, criminalizam violentamente os movimentos sociais, e tem sido assim historicamente. Trecho de artigo sobre o tema, de autoria de Leopoldo Volanin, professor de história, dá conta dessa historicidade:
“A manchete estampada na Folha da Manhã de 26 de novembro de 1935, referindo-se a Intentona Comunista “Pernambuco e Rio Grande do Norte agitados por um movimento subversivo de caráter extremista”, já indicava um processo de lutas sociais e conflitos políticos e ideológicos entre organizações de grupos sociais oprimidos e os sistemas dominantes, detentores dos meios de comunicação. A Revista Veja de 26 de junho de 1985 traz em uma de suas manchetes “Férias ameaçadas – a supergreve nas escolas altera calendário”, apresentando negativamente a greve de professores para a população, omitindo, no entanto, dados fundamentais que os levaram à greve, como a desvalorização salarial do professor, o desgaste humano devido a quantidade de atividades que o professor se vê na contingência de realizar, o afetivo, entre outros”.
Aqui também os exemplos abundariam. Em relação aos movimentos sociais por terra no campo e por moradia nas cidades, a criminalização é intensa e diuturna na mídia hegemônica. O descaso com a função social da terra e da propriedade, a ausência de uma política de Estado séria nesses campos, que atendesse às necessidades da população mais pobre, é totalmente ignorada pelos veículos. Enquanto isso, os militantes que se organizam para fazer pressão para que se cumpra o que está dito na constituição federal são transformados em criminosos no senso comum do cidadão médio; este último, geralmente, leitor de jornais escritos e revistas semanais, além de telespectador de “noticiosos” de TV. Peguei os exemplos acima citados apenas para ilustrar que a coisa não vem de hoje, que já foi – e continua sendo – construído um imaginário conservador no Brasil, e que será muito difícil desconstrui-lo para erigir outro mais inclusivo e plural.
Isso ajuda a explicar aqueles seres ignóbeis que vemos nas redes sociais, xingando, ofendendo, banalizando o mal, desejando a morte de senhoras hospitalizadas em estado grave e muitos outros horrores, que praticam prazenteiros, certos de que são “gente de bem”. Que os céus me ajudem e que eu possa ficar segura, a salvo dessas gentes tão “distintas” quanto perigosas na sua tosca ignorância.
Referências:
ÁVILA, R. I. (2016). Não se administra um Estado como uma padaria. Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/nao-se-administra-um-estado-como-uma-padaria-por-rober-iturriet-avila/
BORGES, M. (1996). Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial.
CASTRO, L. (2017) Piovani: posso te contar umas coisas que vi nas redações? Disponível em: http://agenciasportlight.com.br/index.php/2017/01/24/piovani-posso-te-contar-umas-coisas-que-vi-nas-redacoes/
VOLANIN, L. (2010). Poder E Mídia: A Criminalização dos Movimentos Sociais no Brasil nas Últimas Trinta Décadas. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/760-4.pdf
OXFAM (2017). Uma economia para os 99%. Relatório disponível em: https://www.oxfam.org.br/publicacoes/uma-economia-para-os-99
[1] https://www.oxfam.org.br/davos2017
[2] https://www.youtube.com/watch?v=7ij4x7Dbvqo (Cartunista Carlos Latuff).
https://www.youtube.com/watch?v=K6kRpsoqeC8 (Professora Gilberta Acselrad).
https://www.youtube.com/watch?v=CxVnQxWraHs (Jornalista esportivo Tim Vickery).
Análise de conjuntura após o domingo de “protestos” das direitas brasileiras
Bruno Lima Rocha
Professor de ciência política e de relações internacionais
O Brasil avança a passos largos para o regresso
A condição é bem essa. Sigo a tese de Lenio Streck, o Brasil vai de regresso, do Estado Social de Direito para o Estado Liberal de Direito (privado) e impulsionado por uma tecnocracia focada nas carreiras jurídicas – incluindo os delegados da PF – como Poder Moderador das capacidades redistributivas do aparelho de Estado. Na próxima década, caso este projeto político regressivo venha a se concretizar, o país real vai se aproximar do país formal, aumentando os poderes de intervenção do Judiciário no Executivo e as prerrogativas de repressão política do Executivo. No planto externo, uma subordinação absoluta aos poderes do Império (EUA) e na interna, a liquidação das chances de crescimento econômico capitalista, sem debates de desenvolvimento de nenhum tipo, e as garantias dos ganhos dos financistas acima de tudo.
É importante reforçar o óbvio. Juízes, promotores e procuradores estiveram hoje na Avenida Paulista e em demais cidades, marchando – literalmente – ao lado (ou no mesmo espaço) de neofascistas que atentam contra a ordem constitucional. Esse absurdo vai passar em “branco” e nem o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ou o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) vão fazer nada e ninguém será punido. Este é o Brasil do golpe parlamentar e do avanço do autoritarismo togado.
Primeira parte da análise dos protestos e da semana que antecedeu o domingo da direita cibernética
No domingo dia 04 de dezembro tivemos a marcha dos coxinhas. Especificamente, a cerimônia quase fascista foi convocada por duas franquias de empresas de marketing digital, Movimento Brasil Livre (MBL) e VemPraRua, além da rede de saudosistas da ditadura, estimuladas pela família Bolsonaro. Estes últimos são os mesmos idiotas que invadiram o plenário da Câmara, não tomaram uma surra da Polícia Legislativa, e ainda confundiram a bandeira do Japão com a antiga União Soviética.
Além do pesadelo político que o esgoto da internet brasileira liberou há mais de dois anos, estamos diante de alguns impasses. Vejamos:
As 10 Medidas contra a corrupção, se aprovadas, implicam em um aumento das prerrogativas do Ministério Público sobre a sociedade, especificamente condicionando todo o serviço público ao bel prazer de jovens procuradores. Estes “meninos do Brasil”, se creem plenipotenciários, meritocráticos, são bons de concurso e não entendem quase nada das dinâmicas reais do Brasil profundo e periférico. São, em geral, colonizados, liberais e americanófilos (vide padrão Força Tarefa da Lava Jato).
Já a oposição ao projeto das 10 Medidas não vem pela sociedade indignada e sim pelos plutocratas, corruptos e oligarcas que deram o golpe parlamentar e agora estão apavorados com a delação premiada da Odebrecht e suas consequências.
Ao mesmo tempo, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) viu seu feitiço voltar contra si. Renan comandou a emenda da lei de abuso de autoridade, em uma tentativa de conter a capacidade de mando do Judiciário e do Ministério Público. Como resposta, o STF desengavetou uma ação penal contra o coronel alagoano, nove anos depois, e trouxe o caso Mônica Veloso de volta ao noticiário. Agora, batendo de frente com o Supremo, Renan ameaça que não vai cair sozinho e “se for preso, esvazia o Senado”.
De sua parte, o governo usurpador de Temer e cia. está emparedado pelos “aliados” tucanos. Uma possível tentativa de apaziguar os ânimos do PSDB foi o fato do ministro Eliseu Padilha indicar um tucano para presidir a Vale, a segunda empresa mais importante do país depois da Petrobrás. É possível que existam duas gravações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, uma que veio a público e outra guardada como segredo político e provavelmente arma de negociação entre as partes.
Diante do quadro de queda da farsa do golpe com nome de impeachment, a direita cibernética convoca um ato desesperado, despejando sobre o Ministério Público Federal e em especial na Força Tarefa da Lava jato, o condão para levar o Estado Brasileiro a ser definitivamente subordinado a um poder corporativo, ideologicamente vinculado ao direito comum anglo-saxão.
Segunda parte da análise dos protestos e da semana que antecedeu o domingo da direita cibernética
Podemos interpretar o ato dos neoliberais e neofascistas de hoje como um gesto de desespero. A legitimidade do governo golpista está caindo, os blocos de poder no Palácio do Planalto estão se engalfinhando e a opção de Temer tem vida curta. A escolha do usurpador é de tipo Sun Tzu: “fazer o mal todo de uma só vez”; como não pode fazer por decreto, vai aplicando projetos de emenda constitucional (como a PEC 241 e 55) ou a MP da Deseducação. Assim, o ex-homem de confiança de Orestes Quércia se apresenta como “parceiro leal” das elites que financiaram o golpe (como a FIESP) ou como interlocutor válido do viralatismo pró-EUA.
Embora convoquem para o mesmo dia e local, não há unidade nas direitas cibernéticas. O viralatismo tem representações várias, sendo que a mais leal destas está concentrada na Força Tarefa da Lava Jato, cujo objetivo estratégico fora alcançado: quebrar a Petrobrás e romper com o oligopólio “nacional” das empresas de construção pesada e conglomerados econômicos complexos como a Odebrecht. A conta é de chegada e não é bonita. No capitalismo mundializado, uma potência média como o Brasil seria – ou quase foi – precisa de empresas Transnacionais (TNCs) sob cobertura do Tesouro Nacional através de seu banco de fomento (no caso, o BNDES). Sem empresas TNCs e banco de fomento, simplesmente não tem como disputar espaço no Sistema Internacional (SI).
O inverso é verdadeiro do parágrafo acima. O viralatismo grudou como um caramujo no aparelho de Estado e faz do país uma colônia de reprodução interna. É mais complexo do que enviar mais valia ou lucros não taxados para as matrizes, mas sim a subordinação de carreiras de Estado para a lógica da projeção de poder colonial, hoje vinculada à hegemonia cultural, financeira e militar dos EUA, sendo a hegemonia econômica mais pendente para a China. Ao quebrar as condições de um crescimento econômico de tipo “capitalismo brasileiro” – como foi o lulismo – e menos ainda de um desenvolvimento autônomo – como nunca foi o lulismo – simplesmente o país se subordina à presença externa, e quebra a espinha da América Latina ao meio.
Dimensões políticas e substantivas da Operação Lava Jato e a República de Curitiba
Além das péssimas escolhas do modelo econômico de crescimento sem modificação de vantagens comparativas onde o Brasil já se sobressaía, e a evidente ancoragem da agricultura de escala e na comoditização, sofremos os efeitos de autêntica sabotagem de economia capitalista. O PIB brasileiro encolheu mais de US$ 500 bilhões no comparativo de 2014 para 2015. Antes que algum desavisado se tratar de argumento “lulista”, afirmo o oposto, até porque esse analista não o é. Os dados são do IBGE e do FMI, e na proporção, “encolhemos” 24,6% na comparação da reeleição de 2014, para o fechamento de 2015. Realmente, a Operação Lava Jato tem um papel fundamental – embora não único – neste encolhimento.
Na cultura popular de onde venho, o que ocorre hoje é isso. Há uma síntese da quebra de paradigmas no processo investigativo. Delação premiada é caguetagem de luxo. Já o delator premiado é X9 de elite. A Teoria do domínio do fato é divagação de “jovens meritocráticos” vestindo terno importado e brincando de justiceiro neoliberal. A “República de Curitiba” está realmente em transe e Sérgio Moro quase dando “pinote”, indo para os EUA.
Diante da ameaça de autoexílio do líder da Lava Jato, a direita cibernética brasileira foi às ruas no domingo para reclamar do efeito direto de suas mobilizações prévias.
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com para E-mail e Facebook)
Retratos de um Brasil demolido
João Alberto Wohlfart
Professor de filosofia
Os poucos meses nos quais o Brasil caiu no golpe aplicado na Presidente Dilma Rousseff bastaram para quebrar o país de alto a baixo e transformar tudo em escombros. Assistimos a uma quebradeira geral em todas as dimensões que caracterizam a vida de uma nação, nos aspectos econômico, social, cultural, político e moral. É como um prédio demolido por uma bomba do qual não resta mais nada que escombros; é como uma bomba atômica que transforma uma cidade inteira em cinzas. No presente artigo vamos expor um mapa mais ou menos abrangente do tamanho do estrago já provocado pela ditadura do golpista Michel Temer.
Tudo o que estamos vendo não passa de uma grande farsa arquitetada por um grupo de golpistas, pelos meios de comunicação social, pelo judiciário, pelo supremo tribunal federal e pelos partidos de direita. A alegação para a destituição da Presidente Dilma Rousseff era a corrupção e cometimento de crime de responsabilidade, diante dos quais o governo golpista apareceu em nome da “moralidade”. A operação lava-jato desvendou uma série de crimes de corrupção na Petrobrás mostrados todos os dias pelos meios de comunicação, mas ela trouxe muito mais estragos que a alegada limpeza para livrar o país da corrupção. Ela não apenas puniu os responsáveis pela corrupção, mas destruiu a Petrobrás e todo o sistema produtivo do Petróleo. Os resultados desta operação estão na destruição de um imenso parque de Tecnologia, de Engenharia, de Indústria Nacional e de conhecimentos científicos, cujo resultado desta operação jurídico-midiática é a perda de uma significativa parte de nossas riquezas e milhões de empregos. É a destruição do sistema produtivo do Petróleo, da Tecnologia nacional, do sistema metalúrgico, da Soberania nacional, da indústria naval, dos sistema de saúde e educação etc.
Um dos resultados mais evidentes do golpe é a diminuição da atividade econômica. Com o foco exclusivo no pagamento da dívida pública e no fortalecimento do sistema financeiro, são retirados recursos da saúde, da educação e da infraestrutura. Como a base social não interessa para um governo neoliberal, aumenta a pobreza e a miséria, razão pela qual encolhe a atividade econômica com a falência de empresas. O governo golpista introduziu uma lógica autodestrutiva do sistema econômico exatamente porque retira os recursos básicos da base social, com a significativa diminuição do círculo de produção e consumo. Isto fica evidente com a retirada dos direitos dos trabalhadores, com a diminuição dos investimentos em políticas sociais e a paradoxal concentração dos investimentos na especulação financeira. Esta lógica abstrata apenas enriquece uma pequena elite e empobrece massa social que fica excluída da máquina econômica na condição de produtores e consumidores. Neste círculo vicioso, o círculo econômico sustentado pelas bases sociais que produzem e consomem é dilacerado e a injustiça social grassa num país destruído pelo moralismo da burguesia.
O golpe produziu uma nova ditadura. O mais escandaloso deste espetáculo é a ruptura da Constituição Federal, do Estado de Direito e da Democracia. Conquistas históricas que custaram o sangue de tantos heróis do passado simplesmente foram jogadas na lata de lixo. O Povo Brasileiro, manipulado pelos meios de comunicação social e pelos interesses das elites dominantes, não tem mais nenhuma voz nos rumos do país. Os poderes constituídos para guardar a Constituição Federal e assegurar as condições para uma efetiva Democracia, são os primeiros arquitetos do golpe. O judiciário e o supremo tribunal federal perderam a credibilidade e a moralidade ao se transformarem num grupo fascista de extrema direta com a obra prima da criminalização dos movimentos sociais. Hoje, o povo mais pobre, os negros e as lideranças das esquerdas são objeto de criminalização, de cassetete e de prisões. O foco principal do judiciário é condenar e prender qualquer liderança de oposição ao governo golpista e às elites dominantes do país.
O sistema político não é muito diferente. O que vemos no Brasil com os desdobramentos do golpe e dos caprichos do governo neoliberal ilegítimo é também consequência da falência do sistema político. Em nosso país, a política deixou de ser o governo do povo para o povo para se constituir numa lógica dos interesses do grande empresariado e do poderio econômico. Grande parte dos ocupantes das cadeiras do legislativo, especialmente na esfera federal, são financiados por grupos econômicos para defender os seus interesses e legitimar a lógica do domínio econômico. São conhecidas as bancadas evangélica, do agronegócio, do sistema financeiro, dos meios de comunicação, do direito etc. Os políticos de Brasília e de outras esferas deixaram de ser os representantes dos interesses e aspirações do povo brasileiro para aparecer como representantes do poderio econômico dos principais setores do grande capital. Isto expressa uma ruptura profunda entre ética e política, entre política e o povo. A última expressão deste movimento foi a eleição de prefeitos que se declaram abertamente como não políticos, o que evidencia a extinção da política e o governo de um poderio econômico cego e alienante.
Num cenário demolidor de ditadura fica explícito o papel social exercido pelas religiões em geral. É fato que a religião oficial sempre esteve ao lado do colonialismo, do escravagismo, do imperialismo e do racismo, encobrindo com as bênçãos divinas uma ordem estabelecida e inferiorizando massas de minorias como incapazes de vivenciar as nobres virtudes cristãs, exatamente porque não possuem alma branca. No Brasil, as religiões perderam o foco da luta pela libertação do ser humano e a presença na base social em vistas à sua efetiva transformação histórica. Não há mais a presença efetiva das religiões nos movimentos sociais, na luta pela reforma agrária, na conscientização pela soberania popular, na luta pela reforma urbana etc. A religião produz homens e mulheres devotos, voltados diretamente para os céus, moralistas e condenadores das minorias e dos movimentos sociais. As religiões neopentecostais focam as suas ações na teologia da prosperidade, na bondade divina que concede prosperidade material aos crentes, sem passar pela transformação do modelo e do sistema econômico. Os católicos, por sua vez, focam a sua ação em dogmas de fé e ritos religiosos centralizados na figura do sacerdote, com extrema dificuldade de ligar fé e política, religião e transformação social. Em suma, as religiões contribuem muito mais na disseminação do conservadorismo e do autoritarismo, do que propriamente na transformação social e na formação da consciência crítica. Elas contribuem na formação de uma cegueira social que encobre os olhos diante da realidade e das injustiças sociais.
Todos estes fatores convergem para uma cegueira epistemológica profunda. As massas sociais simplesmente estão impossibilitadas de enxergar a realidade, porque a sociedade está encoberta por uma névoa ideológica que impede o conhecimento crítico das estruturas. A ação manipuladora dos meios de comunicação social imbeciliza e mediocriza as consciências condenadas a repetir acriticamente alguns jargões repetidos por estes meios, deixando o terreno livre para a consolidação dos interesses das elites. A opinião pública está uniformizada num conhecimento superficial e imediato, intensamente pressionada para expressar um ponto de vista manipulado, impossibilitando o surgimento da contradição e da formação de outra opinião. As grandes corporações da comunicação manipulam de tal maneira a informação e a opinião pública que esconde a realidade, a corrupção da direita política, a entrega do país às multinacionais, as grandes fortunas escondidas em paraísos fiscais, a exploração do povo até a morte etc. Nesta lógica de expropriação do povo, as vítimas não esboçam qualquer crítica, louvam o projeto golpista e interiorizam em sua “inteligência” dominada a ideologia do sistema opressor. Assim, a cegueira epistemológica aqui denunciada tem como consequência a exploração dos mais fracos até a corrosão dos ossos, sem que estes esbocem questionamentos ou reajam.
Uma das consequências mais graves do golpe é a deterioração do tecido social. As relações sociais estão rasgadas na estrutura macrossocial e microssocial, com divisões e fragmentações que se estendem por toda a sociedade. Os grupos sociais mostram-se fragmentados e sem força de ação capaz de integrar numa organização mais ampla as pessoas e os grupos sociais. O enfraquecimento e dispersão das esquerdas é o sinal mais evidente da fragmentação social. Neste contexto, o que corrói o tecido social a partir de sua estrutura interna é o profundo ódio social contra as minorias, especialmente os negros, os índios, os pobres, os nordestinos, as mulheres e os estudantes secundaristas. Há grupos empresariais especializados em fomentar no interior da sociedade o ódio contra estas classes minoritárias, rotulando-as de vagabundas e perturbadoras da ordem pública. Neste cenário de golpe e ditadura, a burguesia mostrou todos os seus dentes e exteriorizou toda a sua fúria com um discurso moralista de negação das classes historicamente excluídas. A divisão social também se mostra numa espécie de maniqueísmo social segundo o qual a burguesia se considera a si mesma como justa e perfeita, o que lhes dá o direito de condenar as massas sociais como injustas e destinatárias dos impostos que a burguesia paga.
No contexto internacional, o Brasil perdeu a condição de ator internacional que conquistou nos últimos 10 anos. Na nova configuração das relações internacionais em sistemas de horizontalidade e solidariedade intercontinental, nas relações com a China, a Índia, a Rússia, a África do Sul, o MERCOSUL, o México, enfraquece-se este sistema de relações políticas internacionais por uma nova onda de submissão à velha lógica norte/sul, que rende ao Brasil a condição de colônia do norte e das grandes corporações internacionais. As imensas riquezas naturais, como o Pré-Sal, o Aquífero Guarani, os rios, a Amazônia, as terras agrícolas estão sendo entregues de presente para o capital internacional e para a fúria consumista dos leões do primeiro mundo. Os nossos ecossistemas que compõem o complexo sistema de vida e de natureza do Brasil são desintegrados pela forma capitalista de produção e consumo, transformados em matéria informe e objetos de exploração. Do ponto de vista filosófico, de forma brutal, os ecossistemas naturais voltam a ser vistos como matéria prima indeterminada cuja única função é exploração para o norte do Planeta.
E como todos estes fatores não bastassem, vem aí o projeto escola sem partido. A própria palavra já vem com uma contradição fundamental porque se trata do partido único das classes dominantes. Ao entrar em vigor em nossas escolas, ela deixa de ser um lugar de reflexão, de formação do pensamento crítico, de discussão dos problemas sociais, e nada mais fará que reproduzir a ideologia dominante e preparar a mão-de-obra barata para o sistema produtivo. Como já somos uma massa informe manipulada pelos meios de comunicação social, com a escola sem partido a tendência é o desaparecimento do pensamento e da consciência crítica. O meio mais eficaz de sustentação de um projeto golpista é anular por todos os meios a formação da consciência crítica, especialmente através da neutralização do conhecimento e da criminalização dos movimentos sociais. Qualquer manifestação contrária à concepção de mundo diferente da dominante tende a ser reprimida por meio da força policial do cassetete, da mídia monopolizada e uniformizada e da repressão judicial.
Em suma, o Brasil está estraçalhado e em ruínas. É como se tivesse sido destruído por uma guerra, por uma grande catástrofe natural ou explodido por uma bomba atômica. Em pouco tempo de governo golpista e usurpador, a estrutura da nação sucumbiu e tudo ficou reduzido a escombros e pedaços. A economia e o emprego estão encolhendo a cada dia, em consequência da depredação do patrimônio público e do conteúdo nacional. Os poderes constituídos se tornaram corrompidos sem nenhuma legitimidade e referência de representação. Na radical cisão entre a política e o povo, não há mais legitimação e representatividade política. O sistema político está diluído em mais de trinta partidos sem ideias e sem projeto de país. Do ponto de vista social, o tecido social foi quebrado e cindido entre a burguesia dominante e a massa social informe e objeto de manipulação, de criminalização, de preconceitos e de imbecilização pelos meios de comunicação social. Diante deste quadro, não há consciência coletiva capaz de enfrentar criticamente um projeto que destruiu o país, mas tudo fica encoberto por um discurso superficial antipetista. O povão de Deus e as classes historicamente oprimidas perderam a sua própria consciência social, a sua subjetividade coletiva e interiorizaram a ideologia da classe dominante reproduzida como verdade absoluta e incondicional.
Bandido bom é bandido morto?
Marino Boeira – Jornalista
A crise econômica em que vive o País, ampliada pelos efeitos nocivos que a caça moralista da Lava Jato faz às grandes construtoras (em vez de punir os empresários, pune as empresas) e pela nova política do governo de cortar os grandes investimentos, têm tido um efeito perverso sobre a sociedade, ao gerar um crescimento acentuado da pobreza.
Com o aumento da pobreza, como consequência direta, cresce a criminalidade e a partir dela, um sentimento geral de insegurança.
Estimulada pelos meios de comunicação, a solução apontada para enfrentar essa insegurança é de endurecer a legislação penal, aumentar a repressão policial e criar mais e mais presídios.
Nessa espiral de causas e efeitos que se acumulam permanentemente, as pessoas são levadas a acreditar que a sociedade brasileira se divide prioritariamente em vítimas e bandidos e a partir dessa percepção, cresce também o clamor público por punições cada vez maiores para os infratores, até se chegar a reivindicação básica de se instaurar a pena de morte no País.
O slogan da campanha é aquela velha afirmação de que “bandido bom é bandido morto”.
Para os defensores dessa tese, a recomendação é de que antes de aceitá-la em definitivo, percam alguns minutos lendo a descrição que Richard Evans faz em seu livro O Terceiro Reich, sobre as novidades que o nazismo introduziu no sistema penal alemão a partir de 1934.
Para os seguidores do deputado Bolsonaro, que sonham com a implantação de um regime fascista no Brasil, a leitura é inútil.
Vamos ver aqui algumas dessas “novidades’ dos nazistas.
O famoso incêndio do Reichstag (a sede do parlamento alemão), que serviu de desculpa, em 1933, para Hitler, recém escolhido Chanceler, eliminar toda oposição comunista e social democrata, é o primeiro momento em que a justiça alemã foi transformada para atender os desejos pessoais do Fuhrer.

Hitler queria que o anarquista holandês Marinus van der Lubbe fosse declarado culpado pelo incêndio e executado por isso. Ocorre que, quando isso ocorreu, em 28 de fevereiro de 1933, a legislação penal não previa a pena de morte para este tipo de crime.
Ele obteve então do Presidente Hindenburg um decreto, em 29 de março, aplicando retroativamente a pena de morte para o caso e Lubbe foi executado pouco depois.
Em 1934, os nazistas criaram um Tribunal Popular, à margem do Tribunal de Reich, para julgar com rapidez os crimes políticos. De 1934 a 1939, quase 4 mil pessoas foram julgadas por este tribunal, todas condenadas à morte ou à prisão, a maioria comunistas.

O tribunal inovou também no sentido de condenar à morte as mulheres, preservadas dessa punição na República de Weimar, que antecedeu o regime nazista.
Outra inovação foi no sentido de que os prisioneiros depois de cumprirem suas penas, eram passíveis de detenções por tempo indefinido, desde que fossem declarados incompatíveis com a nova sociedade alemã.
As novas leis se tornaram cada vez mais restritivas e puniam desde a distribuição de panfletos criticando o regime até fazer piadas sobre figuras de liderança do Partido Nazista ou do Estado.

Em 1936, Hans Frank, então comissário de Justiça do Reich e chefe da Liga de Advogados Nazistas, mais tarde Governador Geral da Polônia ocupada, onde ganhou o apelido pouco nobre de “carniceiro da Polônia”, declarou que “o juiz tem o papel de salvaguardar a ordem concreta da comunidade racial, eliminar elementos perigosos e processar todos os atos nocivos à comunidade. A ideologia nacional-socialista, em especial conforme está expressa no programa do Partido e nos discursos de nosso líder, é a base para interpretação das fontes legais”.
E os juízes alemães, mesmo aqueles que não pertenciam ao partido nazista, trataram de cumprir as novas leis, sem questioná-las.

Evans, cita um caso típico, fruto de suas pesquisas nos anais de um tribunal alemão da época: “Um carroceiro nascido em 1899, cumpriu um grande número de penas de prisão por pequenos furtos na década de 1920 e começo dos anos 30, inclusive 11 meses por roubar uma bicicleta e 7 meses pelo furto de um casaco. A cada vez que era solto, ele voltava à sociedade com um punhado de marcos como pagamento pelo trabalho na prisão; com sua ficha, não conseguia arranjar um emprego durante a Depressão, tampouco persuadir as autoridades da previdência a lhe conceder benefícios. Em junho de 1933, foi sentenciado por roubar um guiso, um pouco de cola e outras quinquilharias durante uma bebedeira e após cumprir a pena, foi sentenciado a confinamento de segurança retroativo na penitenciária de Brandenburg e jamais foi solto”.
Tribunais especiais e vários tipos de organizações policiais, inclusive a temida Gestapo (seu símbolo das caveiras é hoje copiado por esquadrões da morte do mundo inteiro, inclusive no Brasil), foram restringindo cada vez mais

Tudo isso aconteceu quando a Europa ainda vivia sob um regime de paz.
Em 1938, os nazistas chegaram ao ápice, ao incluir na lista dos que deveriam ser levados para os campos de concentração, homens até então considerados apenas vagabundos ou bêbados, caso de um homem de 54 detido em Duisburg, acusado de comportamento antissocial.
“De acordo com informações do escritório de previdência daqui, C. pode ser classificado como pessoa perigosa. Não se importa com a esposa e os dois filhos, de modo que estes têm que ser sustentados pelos cofres públicos. Jamais assumiu o dever do trabalho a ele designado. Entregou-se à bebida. Esgotou todos os pagamentos de benefícios. Recebeu várias advertências do escritório da previdência e é descrito como exemplo clássico de uma pessoa antissocial, irresponsável e preguiçosa”

Levado para o campo de concentração de Sachsenhausen, o homem durou apenas 18 meses antes de morrer, conforme registros do campo, de fraqueza física.
Quando a guerra começou em 1939, os nazistas deixaram de lado qualquer desculpa e passaram a considerar cada opositor, por menos importante que fosse, como um alvo para as forças policiais e um suspeito previamente condenado nos seus diversos tribunais.
Os que sonham em instaurar no Brasil um sistema policial parecido, deviam lembrar de como ele terminou na Alemanha nazista.
Documento desconstrói a PEC 241/55 e o discurso da austeridade
Com lançamento marcado para quinta-feira, dia 17, em Porto Alegre, estudo faz análise das finanças públicas e da política fiscal no Brasil e põe abaixo simplificações e mitos, muitos dos quais baseados em argumentos econômicos supostamente técnicos que sustentam a austeridade.
Com lançamento marcado para quinta-feira, 17 de novembro, no auditório da Afocefe – Sindicato dos Técnicos Tributários do RS, o documento ‘Austeridade e Retrocesso: Finanças Públicas e Política Fiscal no Brasil’ desconstrói a PEC 241 e o discurso da austeridade.
Elaborado por iniciativa do Fórum 21, Fundação Friedrich Ebert, GT de Macro da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e Plataforma Política Social apresenta uma análise aprofundada da questão fiscal, apontando seus problemas reais, denunciando os problemas fictícios e desmascarando os mitos que sustentam um discurso que se traveste como técnico, mas que atende a interesses políticos.
A força desse discurso se materializa na proposição da PEC 241, a PEC da Maldade, que pretende instituir uma austeridade permanente no Brasil a partir de diagnósticos e argumentos equivocados e falaciosos. Na verdade, trata-se da imposição de outro projeto de país, incompatível com a Constituição de 1988 e com a expansão de bens públicos como saúde e educação.
Leia, abaixo, o texto de apresentação. Leia a íntegra na Versão digital ou na versão PDF: Austeridade e Retrocesso
Austeridade e Retrocesso: Finanças Públicas e Política Fiscal no Brasil
Desde o final de 2014, o Brasil vem sendo submetido à retórica que propõe a austeridade como único caminho para recuperar a economia. Com o objetivo de melhorar as contas públicas e restaurar a competitividade da economia por meio de redução de salários e de gastos públicos, a austeridade se sustenta em argumentos controversos e até mesmo falaciosos. Entre os principais experimentos internacionais, vem predominando resultados contraproducentes, não resultando em crescimento, tampouco equilíbrio fiscal. O que sim é menos controverso é que tais experimentos têm como objetivo redesenhar o papel do Estado para atender interesses velados. No Brasil, o ajuste econômico ortodoxo, iniciado na gestão Levy, fracassou em retomar o crescimento e estabilizar a dívida pública, contribuindo para lançar o país no maior retrocesso econômico das últimas décadas.
Não obstante, o ajuste ajudou a criar as condições necessárias para mudança da correlação de forças políticas e para impor ao país, passando ao largo do crivo das urnas, um outro projeto de sociedade. Nesse contexto, esse documento procede uma análise das finanças públicas e política fiscal no Brasil, procurando esclarecer as principais causas da atual crise fiscal, assim como desconstruir simplificações e mitos, muitos dos quais baseados em argumentos econômicos supostamente técnicos que sustentam a austeridade. O documento também é propositivo ao apontar alternativas fiscais para um projeto de país que valorize a democracia, a distribuição da renda e da riqueza e a expansão dos direitos sociais.
Da agenda Fiesp ao austericídio
A economia brasileira entrou em uma trajetória de desaceleração no quadriênio 2011-2014 depois do desempenho extraordinário durante 2007-2010. Há fatores que escapam à política econômica e explicam essa desaceleração, dentre eles a perda de dinamismo de um ciclo doméstico de consumo e de crédito ou os desdobramentos da crise internacional. Contudo, é importante apontar que a política fiscal praticada pelo governo contribuiu para essa trajetória de queda do crescimento.
Enquanto no quadriênio 2007-2010 o espaço fiscal foi canalizado prioritariamente para investimentos públicos, no quadriênio 2011-2014 a taxa de investimento parou de crescer e, em compensação, o governo elevou significativamente os subsídios e desonerações ao setor privado. O governo fez uma aposta no setor privado e acreditou que promoveria o crescimento econômico via realinhamento de preços macroeconômicos e incentivos aos investimentos privados – a chamada agenda FIESP. Ironicamente, a FIESP passou de beneficiada das políticas de um governo para algoz do mesmo.
Como resposta ao cenário de piora nos indicadores fiscais provocada pela queda no crescimento econômico e pelas desonerações, o segundo governo Dilma tem início adotando a estratégia econômica dos candidatos derrotados no pleito de 2014, ou seja, realizou um choque de preços administrados e um duro ajuste fiscal e monetário, na esperança de que o setor privado retomasse a confiança e voltasse a investir. Joaquim Levy foi o símbolo da implementação da austeridade econômica no Brasil que consiste em uma política deliberada de ajuste da economia por meio de redução de salários e gastos públicos para supostamente aumentar lucros das empresas e sua competitividade, assim como tentar estabilizar a trajetória da dívida, com resultados contraproducentes.
O forte ajuste fiscal, em uma economia já fragilizada, agravou os problemas existentes e contribuiu para transformar uma desaceleração em uma depressão econômica. O ajuste fiscal promovido se mostrou contraproducente, pois gerou aumento da dívida pública e do déficit público.
Em 2015, por exemplo, os investimentos públicos sofreram queda real de mais de 40% no nível federal, o gasto de custeio caiu 5,3%, e o governo não logrou a melhoria das expectativas dos agentes econômicos que justificaria esse ajuste com vistas a retomar o crescimento. Pelo contrário, a economia real só piorou e as expectativas se deterioraram, apesar de toda a austeridade fiscal manifestada e praticada. Naquele ano, apesar de todo o esforço do governo para reduzir as despesas, que caíram 2,9% em termos reais, as receitas despencaram e o déficit ficou ainda maior, evidenciando o caráter contraproducente do ajuste: o austericídio.
A virada para a austeridade foi um remédio equivocado para os problemas pelos quais a economia brasileira passava. O tratamento de choque fundado em uma contração fiscal, um rápido ajuste na taxa de câmbio, um choque de preços administrados e um aumento de juros contribuiu para criar a maior crise econômica dos últimos tempos. Contudo, para determinados interesses políticos, o ajuste se mostrou funcional ao gerar desemprego, queda de salários reais e assim mudar a correlação de forças para favorecer a imposição de outro projeto de país, sem passar pelo crivo das urnas.
O novo regime fiscal e a imposição de outro projeto de sociedade
A gestão da política fiscal protagonizada pelo governo Temer lançou sinais contraditórios com relação à continuidade das políticas de austeridade. Para o curto prazo definiu-se o “keynesianismo fisioló-gico” e para o longo prazo, a “austeridade permanente”.
O afrouxamento da meta fiscal para 2016 e 2017 evidencia por um lado o pragmatismo econômico e, por outro lado, hipocrisia dos que argumentam pela austeridade e, simultaneamente, passam a defender um déficit primário recorde no novo Governo.
Como medida de longo prazo, o governo Temer propõe estabelecer um “Novo Regime Fiscal” por meio de uma proposta de emenda constitucional (PEC 241) que cria por 20 anos um teto para crescimento das despesas públicas vinculado à inflação. Enquanto a população e o PIB crescem, os gastos públicos ficam congelados.
A proposta apoia-se em argumentos falsos de que nações desenvolvidas usam regras semelhantes. Desde 2011, membros da União Europeia estabeleceram um limite para o crescimento da despesa associado à taxa de crescimento de longo prazo do PIB e não em crescimento real nulo. Na maioria desses países já existe uma estrutura consolidada de prestação de serviços públicos, diferentemente do Brasil onde há muito maiores carências sociais e precariedades na infraestrutura.
Segundo nossas estimativas, a regra implicaria reduzir a despesa primária do governo federal de cerca de 20% do PIB em 2016 para algo próximo de 16% do PIB até 2026 e de 12% em 2036.
Adicionalmente, para que o teto global da despesa seja cumprido – dado que algumas despesas como os benefícios previdenciários tendem a crescer acima da inflação – os demais gastos (como Bolsa Família e investimentos em infraestrutura) precisarão encolher de 8% para 4% do PIB em 10 anos e para 3% em 20 anos, o que pode comprometer o funcionamento da máquina pública e o financiamento de atividades estatais básicas. Essa meta não parece ser realista.
A nova regra não prevê nenhum mecanismo para lidar com crises econômicas ou outros choques. Ao contrário, tende a engessar a política fiscal por duas décadas.
Na verdade, o que o novo regime se propõe a fazer é retirar da sociedade e do parlamento a prerrogativa de moldar o tamanho do orçamento público, que passará a ser definido por uma variável econômica (a taxa de inflação), e impor uma política permanente de redução relativa do gasto público.
Em suma, trata-se da imposição de um projeto de país que dificilmente passaria no teste de um pleito eleitoral, única forma de garantir sua legitimidade.
Quem ganha? Quem não quer financiar os serviços públicos por meio de impostos e o grande capital que enxerga o Estado como concorrente quando esse ocupa setores que poderiam ser alvo de lucros privados, como saúde e educação.
Quem perde? A população mais pobre, isto é, aqueles que são os principais beneficiários dos serviços públicos. Além disso, aqueles que vislumbram uma sociedade mais justa e igualitária.
O falacioso discurso da austeridade
A austeridade é uma política deliberada de ajuste da economia por meio de redução de salários e gastos públicos supostamente com o objetivo de reduzir a dívida e aumentar lucros e a competitividade das empresas.
A recomendação de que o Estado deve cortar gastos em momentos de crise parte de uma falácia de composição que desconsidera que se todos os agentes cortarem gastos ao mesmo tempo, inclusive o Estado, não há caminho possível para o crescimento. A solução mais razoável para tratar de um desajuste fiscal em meio a uma recessão é, portanto, estimular o crescimento, não cortar gastos.
No círculo vicioso da austeridade, cortes do gasto público induzem a redução do crescimento que provoca novas quedas da arrecadação que, por sua vez, exige novos cortes de gasto. Esse círculo vicioso só pode ser interrompido por decisões deliberadas do governo, a menos que haja ampliação das exportações líquidas em nível suficiente para compensar a retração da demanda interna, pública e privada. Esta exceção é pouco provável diante de uma crise internacional como a que o mundo enfrenta nesta década, com lenta recuperação da demanda e maior competição pelos mercados.
A obsessão alarmista contra qualquer elevação da dívida pública esconde uma agenda política permeada por interesses de grupos econômicos, mas travestida como uma questão meramente técnica, seja ao defender a retração de bancos públicos, seja ao demandar a redução dos gastos sociais.
No fundo, a austeridade é principalmente um problema político de distribuição de renda e não um problema de contabilidade fiscal. Os efeitos da austeridade afetam de forma distinta os diferentes agentes econômicos e classes sociais de forma que os mais vulneráveis, que fazem mais uso dos serviços sociais, são mais afetados.
Apesar das inúmeras evidências contrárias à sua eficácia, a austeridade persiste como ideologia e sempre retorna ao debate político por ser oportuna para os grupos dominantes de poder.
A insensatez do superávit primário
O regime fiscal brasileiro é extremamente pró-cíclico, ou seja, acentua as fases de crescimento e de recessão. Assim, em contextos de baixo crescimento, a busca pelo cumprimento da meta fiscal por meio de uma política fiscal contracionista retira estímulos à demanda agregada e reduz ainda mais o crescimento econômico e a própria arrecadação.
Um segundo fator a se sublinhar sobre o regime fiscal brasileiro é sua natureza “anti-investimento”, porque, diante de uma estrutura de gastos públicos rígida, os cortes de despesa recaem primordialmente sobre o investimento público, um dos poucos gastos passíveis de contingenciamento. O mesmo regime impõe uma lógica curto-prazista à gestão da política fiscal e subordina o planejamento governamental.
Na ditadura do superávit primário, os fins são atropelados pelos meios, e tudo se submete à necessidade de cumprir a meta de curto prazo, inclusive o próprio crescimento, o emprego e o bem estar da população. Portanto, um novo modelo de gestão fiscal precisa ser constituído, de caráter anticíclico, que viabilize o planejamento e que priorize o investimento público.
Há diversas variantes institucionais para um regime fiscal, dentre essas estão as que estipulam metas fiscais ajustadas ao ciclo econômico, como a meta de “resultado fiscal estrutural”. Ou alternativamente, pode-se adotar bandas fiscais de forma análoga ao que ocorre no regime de metas de inflação. Ainda há a opção, aplicada em alguns países, de retirar todo investimento público do cálculo do superávit primário (assim como o gasto com juros é excluído desse indicador) e assim incentivar o uso do investimento público como vetor de desenvolvimento e abrir espaço para atuação anticíclica do gasto público.
Desmistificando a dívida pública
A dívida brasileira é tão grande? Qual é o parâmetro para definição de “grande”? Na verdade, poucos economistas se arriscam a definir um parâmetro ótimo para dívida pública, simplesmente porque as evidências não parecem indicar que esse patamar exista. Não há um número mágico a partir do qual a relação dívida pública/PIB torna-se problemática. Isso vai depender das especificidades de cada país.
No Brasil, a excessiva preocupação com o patamar da dívida é carregada por preconceitos ideológicos e por uma visão estreita sobre a relação entre Estado, moeda estatal e dívida pública. Uma dívida elevada pode custar muito caro, mas um Estado soberano não quebra por conta de dívidas na sua própria moeda. Por isso, a natureza da dívida pública se diferencia substancialmente da gestão de dívidas privada e o governo não incorre nas mesmas restrições para gasto e endividamento. O paralelo com a economia da dona de casa não serve para as finanças públicas.
Entre 2003 e 2013 a redução da relação dívida líquida/PIB foi expressiva, de 54,3% para 30,6%, muito embora as taxas de juros continuassem pesando no orçamento público.
A dívida externa pública, por sua vez, caiu e, a partir de 2006 o país passou a realizar uma política de acumulação de reservas cambiais, tornando-se credor externo líquido. Por conta disso, quando em 2008 a crise mundial determinou forte depreciação da moeda brasileira, a acumulação de reservas cambiais propiciou significativos ganhos patrimoniais para o Estado brasileiro.
No final de 2014, pelo critério da dívida líquida não havia um cenário de tragédia fiscal, desenhado pelos economistas da mídia e do mercado. Havia sim, condições financeiras para realizar uma política anticíclica que ampliasse o investimento público e o gasto social para impedir que a desaceleração cíclica se transformasse em uma depressão. À época, a necessária e esperada desvalorização cambial apenas contribuiria para reduzir o patamar da dívida líquida, ampliando o espaço fiscal para políticas de estímulo ao crescimento.
Apesar da redução substancial da dívida líquida, na última década a dívida bruta manteve-se relativamente estabilizada e passou a crescer a partir de 2013. Diferentemente do senso-comum, essa dinâmica da dívida bruta não é explicada pela “gastança do governo” ou o resultado primário, mas principalmente pela acumulação de ativos por parte do Estado como a acumulação de reservas cambiais e de créditos junto ao BNDES.
Essa estratégia possui méritos como, por exemplo, a redução da vulnerabilidade externa do setor público. Da mesma forma a política de expansão dos empréstimos do BNDES, em 2009, foi importante para a ação contracíclica que assegurou a recuperação rápida da economia brasileira na maior crise da história do capitalismo mundial desde a década de 1930. No entanto, não devemos negligenciar seus elevados custos.
A estratégia de acumulação simultânea de ativos e passivos, com grande diferencial de rentabilidade entre eles, explica boa parte da elevada conta de juros. Em 2015, domando-se os custos de oportunidade da manutenção das reservas internacionais e dos créditos ao BNDES com o resultado das operações de swaps cambiais, chegamos a 4,9% do PIB.
Em suma, se o objetivo for equacionar a dívida bruta é preciso desatar o nó da gestão macroeconômica, reduzir substancialmente o gasto com juros e ponderar o custo da estratégia de acumulação de ativos. A ideia que se disseminou no Brasil de que ao governo só compete controlar os gastos primários, desconsiderando os custos e benefícios fiscais das demais políticas macroeconômicas, deve ser revista e amplamente debatida.
Mito da gastança federal
O diagnóstico convencional da crise pela qual passa o país se traduz simplificadamente na seguinte narrativa: os governos do PT expandiram demais os gastos públicos, encobriram o déficit público crescente por meio da chamada “contabilidade criativa” e das “pedaladas fiscais” e esse tipo de política fiscal expansionista e nada transparente destruiu a confiança do mercado e mergulhou o paísna estagflação.
Contudo, a análise dos dados mostra que, de fato, a despesa do governo vem crescendo a um ritmo elevado e estável há tempos. As taxas médias de crescimento real do gasto do governo federal dos últimos quatro governos foram: FHC II (3,9%), Lula I (5,2%), Lula II (5,5%) e Dilma I (3,8%).
O principal fator por detrás do crescimento das despesas na esfera federal não são os gastos com pessoal, como muitos acusam. Estes crescem sistematicamente abaixo do PIB e tiveram sua menor taxa de expansão real justamente no governo Dilma I (-0,3%), ao contrário do que ocorre, por exemplo, nos estados e municípios, onde o gasto com salários e aposentadorias de servidores tem crescido a 5,5% ao ano, independentemente da coloração partidária do governante.
O motor do gasto federal tem sido os benefícios sociais (aposentadorias e pensões do INSS, benefícios a idosos e deficientes, seguro-desemprego, bolsa família, etc), que hoje consomem metade do gasto da União (mais de R$ 500 bilhões em 2015) e crescem a taxas sistematicamente superiores ao PIB pelo menos desde 1999, por influência principal de fatores demográficos, da justa formalização e dos direitos consagrados na Constituição e, adicionalmente, pela política de valorização do salário mínimo.
Porém, uma visão mais acurada dos gastos sociais mostra que tampouco nesta área houve expansão desenfreada, sobretudo frente às demandas sociais brasileiras, e que a política de valorização do salário mínimo contribuiu para este cenário, mas com impactos sobre a redução da desigualdade relevantes. Certamente é possível discutir excessos e tornar o gasto mais eficiente, mas as possibilidades de fontes de financiamento discutidas neste documento evidenciam que este é um debate que deve envolver toda a sociedade brasileira.
Vale notar que, a despeito de gastos elevados, o governo conseguiu manter resultados fiscais positivos na última década e meia pelo aumento da carga tributária (1999-2005) ou pelo crescimento mais acelerado do PIB (2006-2011). Nos governos Lula, enquanto o país crescia, não havia desajuste fiscal apesar do crescimento do gasto público. Mas a partir de 2012, com a queda do crescimento econômico e com as desonerações tributárias, houve uma piora dos resultados fiscais.
Reforma tributária, já!
A estrutura tributária brasileira é extremamente perversa com os mais pobres e a classe média e benevolente com os mais ricos. Esse sistema singular é reflexo tanto do federalismo brasileiro e da dualidade tributária (impostos e contribuições sobrepostos), quanto de algumas recomendações de política que o mainstream econômico propagou nas décadas de 80 e 90 e que foram incorporadas de forma bastante acrítica ou peculiar pelo Brasil.
A agenda de reformas da tributação sobre a renda e o patrimônio, que envolve um forte conflito distributivo, permaneceu totalmente embargada nos últimos 20 anos, não tendo o governo federal apresentado qualquer proposta de reforma mais substancial que visasse ampliar a progressividade ou mesmo corrigir as graves distorções ensejadas pela atual legislação.
O Brasil foi um dos primeiros países e até hoje um dos poucos que isentou e continua isentando de imposto de renda os dividendos distribuídos a acionistas, tal como a pequena Estônia.
De acordo com os dados das declarações de imposto de renda, as 70 mil pessoas mais ricas do Brasil, representando meio milésimo da população adulta, concentram 8,2% do total da renda das famílias, índice este que não encontra paralelo entre as economias que dispõem de informações semelhantes. Esse mesmo seleto grupo pagou apenas 6,7% de imposto de renda sobre esse montante.
Além de injusta, essa assimetria entre o tratamento tributário dispensado a dividendos e salários tem sido responsável por um fenômeno conhecido por “pejotização”, que é a constituição de empresas por profissionais liberais, artistas e atletas com o objetivo de pagar menos impostos do que como autônomos ou assalariados.
Nesse contexto, a proposta de se aumentar alíquotas do imposto de renda das pessoas físicas sem revogar a isenção de dividendos não proporciona uma redistribuição de renda tão efetiva uma vez que as alíquotas progressivas da tabela do Imposto de Renda (IRPF) só atingem os “rendimentos tributáveis”, o que não inclui atualmente a distribuição de lucros e dividendos que são as principais fontes de renda dos mais ricos. Então, qualquer proposta de reforma do imposto de renda que não passe pela tributação dos dividendos não será tão efetiva nos objetivos de contribuir com uma maior justiça fiscal e também gerar receitas extras para o governo.
Na atual conjuntura de crise, é pouco razoável crer na possibilidade de um equilíbrio fiscal com baixo crescimento. Isso implica que, no curto prazo, deveríamos no mínimo assegurar espaço fiscal para o investimento público e para gastos sociais de elevado impacto sobre o bem-estar das camadas mais vulneráveis da população.
Uma reforma tributária, que combine eficiência e equidade poderia atuar incentivando o crescimento econômico de longo prazo ao reduzir a tributação do lucro e da produção das empresas, ao mesmo tempo em que concentra o ajuste fiscal de curto prazo sobre uma pequena parcela da poupança dos mais ricos, não diretamente relacionada ao investimento, e, por conseguinte, vinculada a um maior nível de emprego e produto. Assim, ganha-se tempo para aprimorar outras propostas de reformas estruturais das despesas, debatê-las com a sociedade e pactuá-las democraticamente.
Artigo adaptado do Brasil Debate.
O Brasil não é colônia
Jaime Rodrigues – Urbanista
Após a eleição municipal de 2 de outubro de 2016 muitas considerações críticas à política no país e especificamente a toda sua esquerda estão aparecendo. O resultado eleitoral altamente negativo para as forças progressistas destaca as dificuldades para formular seus novos passos. Esta realidade permitiu o enorme crescimento das forças conservadoras em particular seus setores mais organizados e conscientes para apresentar uma política antipopular e antidemocrática.
Nosso país vive um impasse profundo em seu desenvolvimento. A raiz desta limitação não pode ser entendida simplesmente como uma questão circunstancial, mas é decorrente de dificuldades em toda a sociedade, agravado por pressões externas. O forte conflito conjuntural foi construído tendenciosamente e se arrasta por mais de um ano. Surgiu inicialmente com o objetivo de criar impeachment ao governo Dilma. Agora é aproveitado para um caminho de desestruturação do Estado brasileiro, supressão da proteção trabalhista que foi conquistada na história do Brasil e aos valores decisivos na condição de vida da população. Grandes temas em que as questões conjunturais não são o aspecto maior. Este é o argumento alegado pelas forças conservadoras e a mídia nacional.
O atual presidente do país assumiu o cargo com um desgaste pessoal muito grande e procura melhorar sua imagem. Apresenta um discurso intencionalmente confuso e procura amenizar sua rejeição e também criar satisfações para as forças que o colocaram no cargo. Afirma que existem problemas sérios do momento, mas sua prática, ao contrário, tem sido de enfrentar questões estruturais com soluções altamente conservadoras. Os efeitos junto à população e a todo o país são muito graves. Na realidade é um caminho de características destrutivas à própria Nação.
É muito comum falar de que a “administração anterior era precária”, idem à “corrupção recente”, atualmente se fala em “dívida enorme”. É dito que criaram problemas de crise que barram a economia nacional. Ocorre que nos momentos agudos da crise internacional em 2008 houve uma solução audaciosa e progressista de manter o crescimento com medidas de investimento, o que mostra a capacidade da economia às exigências imediatas.
Depois das grandes manifestações de 2013 o governo eleito encontrou barreiras políticas de oposição e, junto com equívocos próprios, apareceram dificuldades que foram aproveitadas politicamente para sua derrubada. Agora são ignoradas as questões de conjuntura e existe a postura de priorizar o grande capital. É afirmado que será para um avanço posterior de todo país e de toda sociedade. Um caminho pós-neoliberal semelhante já foi adotado em vários países. Sempre um fracasso enorme.
Temer, o atual presidente, tem declarado que a dívida do país é enorme e impõe muita insegurança o que impede investimentos do exterior para permitir novas produções e alcançar mais exportações. Um mito do texto “A ponte do futuro” do PMDB. Não explica porque a produção já existente não amplia o mercado externo. E não diz como as novas deverão alcançar este espaço de expansão.
Já o senhor Meirelles, ministro atual da fazenda, em entrevista recente e questionado se o Brasil teria condições de enfrentar as possíveis dificuldades da saída do Reino Unido da União Europeia declarou de maneira incisiva que as dívidas em sua maioria são em Reais e estão programadas. O país detém uma enorme reserva de capital em 350 bilhões de dólares, o que antes nunca teve. As questões de inflação ou mesmo de juros altos e outras questões administrativas ou financeiras exigem medidas menores. Assim ele afirmou.
Nossos obstáculos no Brasil atingem as bases fundamentais de uma sociedade de dependência, o Subdesenvolvimento, como é definido o atual tempo histórico. A alternativa conduzida pelos conservadores conduz a um caminho da sociedade de Colônia. Está caracterizado, por exemplo, com a política de educação e saúde que cria o despreparo dos jovens e mesmo de toda a população. Uma atitude destruidora à Democracia impede a sociedade defender e construir sua transformação. Da mesma maneira que com várias outras medidas aprofunda a insegurança na vida dos trabalhadores e diminui a grandeza de toda a Nação.
O Conflito Que Existe e Gera Impasses Estruturais
O objetivo empresarial hoje é impulsionado de maneira obcecada pelo grande lucro. Supera barreiras até do próprio mercado, um dos grandes valores do neoliberalismo original. Diminuíram a “concorrência”, sendo substituído por “acordos entre partes” na exploração. Os mecanismos operacionais para ação na economia são muito ágeis. Consegue variações na localização do espaço, rapidez no tempo e articulação internacional. Existe domínio com objetivos e valores definidos para a produção, comércio, tecnologia, qualificação da mão de obra, instalação de empresas novas e destruição das locais além de ter grande capacidade para realizar modificações permanentes.
No Brasil atuam em setores específicos da economia, criando redes de empresas que são controladas pelo Sistema Financeiro e dependem de orientação externa da produção, que diz como fazer e o que pode ser feito. O Subdesenvolvimento conduz hoje o empresário local a não investir na própria produção. A sua grande debilidade é a incapacidade de dar continuidade e elaborar uma visão ampla com soluções para toda a sociedade e projeção ao futuro.
Na vida atual o patrão muitas vezes é quase desconhecido e o controle empresarial atinge os famosos administradores de colarinho branco o que é muito volúvel. Estes “técnicos” estão altamente integrados em condições internacionais. Detém muito poder e no Brasil contam com capacidade de intervenção e decisão na política democrática do país, impondo sua forte decadência atual. Este fenômeno existe, guardando diferenças específicas, em todos os países do mundo.
As Relações de Trabalho igualmente modificou sua estrutura. O tempo de permanência do trabalhador na empresa é acentuadamente curto, o que enfraquece a força coletiva. A maneira que é utilizada a tecnologia moderna altera a estrutura da produção e diminui ou modifica a solidariedade entre os trabalhadores, introduzindo elementos de concorrência e modificações profissionais acentuadas. As estruturas sociais como os sindicatos estão debilitadas.
Esta situação é acompanhada com valores novos e desumanos. O medo que surge na população é enorme, acentua o individualismo, o consumismo e acentua práticas de violência. Surgem elementos como a “idiotização” do cotidiano da vida que cultua valores vazios e dúbios. A ideologia é um espaço de conflito profundo. Valores de pensamento conservadores como “fim da história” e “saber absoluto” foram de grande disputa, embora não consigam mais convencer. Hoje não estão devidamente caracterizados os pontos de conflito e estrutura política. Temos uma realidade que une a ambiguidade e a insegurança. Uma “sociedade líquida”.
Na composição do Estado no Brasil estão presentes valores de sua origem, alguns ainda do escravagismo e coronelismo. Existe um burocratismo que emperra as responsabilidades no desenvolvimento e não atende as necessidades da população. Para as forças conservadoras o importante é diminuir toda a Instituição, tornar como mínima a sua capacidade de ação econômica e pouca a sua intervenção na sociedade. Para esta orientação o poder deve ficar no domínio empresarial e transferir mais o seu custo para a população. É uma força poderosa com capacidade de derrubar, mas com uma absoluta falta de perspectiva. O seu crescimento gera uma polarização social agora em pontos extremos Uma solução progressista oposta deve ser construída contando com alta participação popular e amplo debate.
Proposta Progressista
Antes dos governos populares recentes, do presidente Lula e da Presidenta Dilma o Brasil era um país precário em sua organização social, frágil e inclusive com amplas áreas de fome. A economia da mesma forma pequena e emperrada. Havia procuras para superar este quadro. Os neoliberalistas da época venderam amplos setores do Estado, mantiveram os salários mínimos muito baixos e a dívida enorme do país fazia o ministro da fazenda visitar continuamente o FMI.
Para adotar um rumo progressista tivemos medidas sociais que beneficiavam a população e reforçava em muito o mercado interno. Da mesma forma houve investimentos em setores como a infraestrutura e diversas áreas econômicas que estavam contidos, como a construção de navios, o que estimulou a economia. Na verdade ouve também estímulos externos favoráveis na época. Mas este avanço não era ocasional, foi conquistado, trata-se de uma trajetória de lutas e elaboração de uma política. É fundamental considerarmos também que durante todos os governos, a condução do executivo sempre procurou uma trajetória para o futuro.
Foi possível muita atividade no Estado, melhoras efetivas das condições de vida da população pobre e junto aos trabalhadores que começaram qualificar suas condições de trabalho e de sua remuneração. Ocorre que esta enorme trajetória política começou a ficar limitada e repetitiva. O Brasil, como em praticamente todos os países a sociedade tem sofrido modificações profundas e as forças de esquerda procuram compreender e alcançar repostas.
Atinge não só as relações de produção, mas a condição de vida, as relações de trabalho, a ideologia, a própria cultura e toda a sociedade. É necessário construir uma proposta que atinja todo o Brasil. Neste sentido devemos entender que a Democracia deve superar suas características atuais porque no mundo todo está demonstrando limitações para responder as exigências do momento.
A Utopia é uma necessidade para qualquer proposta e é essencial. As forças reacionárias falam que vivemos a maior crise da história do Brasil o que não é verdadeiro. Procuram apresentar alternativa antipopular e antidemocrática como solução decisiva. Ou seja, os pobres solucionam os desejos dos ricos.
É necessário afirmar que nosso país, continental, com uma enorme produção agrícola e industrial permite políticas que valorize a Nação. É importante para a organização da região da América, articulada com os países emergentes e de várias regiões do mundo, como estava sendo elaborado com o BRICS. Devemos ter barreiras a estas explorações ao país. Debater com a própria burguesia brasileira que recuou e se submete às determinações do grande capital. Negociar, mas para benefício da população. Fortalecer a pequena e média empresa de todo o país. Unir a estas atividades nacionais a Universidade, sindicatos, setores diversos da população. Um caminho para superar os limites atuais da Democracia. A própria participação, com poder real de decisão e fiscalização deve ser adotada.
Quem trabalha mais? Analise da produção legislativa de Sebastião Melo e Nelson Marquezan Jr.
Jorge Barcellos – Doutor em Educação
Fundamentação metodológica
Os candidatos a Prefeito de Porto Alegre reivindicam em sua propaganda política que são grandes trabalhadores. Uma das formas de verificar isso é analisar sua produção legislativa. Reunimos aqui os dados disponíveis nos sites da Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados e Câmara dos Vereadores para apresentar dados brutos de produtividade parlamentar. O objetivo é realizar a comparação entre a produtividade dos candidatos a Prefeito da Capital. Se realmente afirmam que são grandes trabalhadores para a cidade, que experiência de trabalho, como ela emerge em termos de sua produtividade legislativa? Há em suas proposições, elementos que permitam indicar qual candidato tem maior conhecimento da cidade?
Minha metodologia de pesquisa considerou o fato de que Sebastião Melo, antes de ser vice-prefeito, foi vereador por 3 mandatos (2001-2004, 2005-2008 e 2009-2012), o mesmo número de mandatos de Nelson Marquezan Jr, Deputado Estadual por um mandato (2007-2010) e Deputado Federal por dois (2011-2014, 2015-2018), sendo o último em andamento. Considero para título de comparação que os dois candidatos tiveram o mesmo tempo para dedicar-se a produção legislativa e, portanto, produzir proposições que beneficiassem Porto Alegre. Com três mandatos cada um, ainda que o terceiro mandato de Marquezan Jr esteja inconcluso e, portanto, o candidato ainda possa elaborar novos projetos, considero que se o candidato vier a ser eleito como anuncia, terá de renunciar a parte de seu segundo mandato e com isso o total de sua produção tenderá ser equivalente aos dados pesquisados, com poucas diferenças significativas. Isso reforça o significado da análise da sua produção como conjunto.
Os dados foram analisados em estado bruto, como são encontrados nos respectivos sites. Correspondem ao meu levantamento primário, sem revisão aprofundada dos conteúdos das proposições e não fazem diferença entre aprovados, rejeitados ou vetados, o que exigiria mais tempo de investigação, impossível em função da necessidade de apresentar tendências para o eleitor na campanha que finaliza. Nesse sentido, eventuais lacunas e erros de classificação de poderão ter ocorrido, e são responsabilidade exclusiva o autor, ainda que não prejudicam o mapeamento de tendências e grandes dados reunidos. Há, por exemplo, uma notável dificuldade de classificar os bairros de determinadas proposições, devido a recente reforma da nomenclatura feita na capital, e por esta razão, eventualmente, ruas que receberam benefícios por proposições podem ter sido lançadas em bairros próximos aos atuais. Nesse caso, preferiu-se seguir exatamente o termo do bairro como aparece nas Ementas, sem correção. Reuniram-se as proposições que na sua maioria, preencheram os requisitos de comparação, isto é, estavam presentes em ambos candidatos. Eventualmente, proposições menores foram alocadas no quesito “outras proposições”, por sua natureza. Consideramos Emendas e Substitutivos como peças processuais, seguindo a praxe da Câmara Municipal de Porto Alegre, ainda que possam ser identificados como proposições individuais, nos demais níveis de poder.
Avaliar a produção legislativa em instituições tem sido um objetivo recente dos cientistas políticos, principalmente no campo dos Estudos Legislativos. Regra geral, os estudos neste campo analisam o comportamento das instituições do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) e das Assembleias Legislativas com poucos estudos sobre Câmaras Municipais. Além disso, estudos comparativos entre produção legislativa de instituições de diferentes níveis de governo raramente são produzidas e envolvem problemas para o pesquisador, que necessita identificar a nomenclatura e a forma de indexação dos dados nos diversos portais da internet. Exemplos de análise são os estudos de Paolo Ricci em “A produção legislativa de iniciativa parlamentar no Congresso brasileiro” artigo da obra O Senado Federal Brasileiro e o pós-constituinte (Senado Federal, Brasília, 2008), que analisou as diferenças e similaridades entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal nas propostas parlamentares entre 1991 e 2003 ou o estudo de Luis Gustavo de Mello Grohmann “O processo legislativo no Rio Grande do Sul” da coletânea “O poder legislativo nos Estados”, de Fabiano Santos, onde o autor dá atenção a importância de se classificar a produção legislativa através do levantamento da produção por tipo e assunto. É o que de forma limitada tentamos neste estudo.
Após o mapeamento de toda a produção por categoria, selecionei para análise inicial os dados de 3 tipos de proposições nos diversos níveis de ambos candidatos à Prefeito: Projeto de Lei do Legislativo, Projeto de Emenda à Lei Orgânica e seus equivalentes a nível Estadual (Constituição Estadual) ou Federal (Emenda à Constituição Federal) e Pedidos de Providência. Apesar de terem sido também reunidos dados de proposições como Projetos de Resolução, Requerimentos e Pedidos de Informação, além de indicações do poder municipal e do poder estadual, estes não foram objeto de uma análise mais aprofundada. É importante dizer que elas são importantes, mas preferimos tendo em vista o curto tempo, centralizar nosso esforço naquelas que consideramos principais. É importante salientar proposições que não se enquadram nesta tipologia principal, foram reunidos na categoria “proposições diversas”, que reúne desde Propostas de Fiscalização e Controle à Reclamações, proposições especificas encontradas na Câmara dos Deputados Federais e sem equivalente nos demais âmbitos que, o que só foi possível devido a seu reduzido número de ocorrências, o que, evidentemente, pode ser objeto de crítica.
Escolhi entre as proposições destacar em um mesmo nível Pedidos de Providência e Indicações, pois entendi que estas proposições oferecem mais condições de análise para a atuação política dos candidatos a nível local. Analisei de forma geral temas dos PLCL e PLs, além dos Pareceres emitidos pelos candidatos em processos, o que dá uma notável equivalência a análise da produção entre os candidatos. Finalizei com o que considerei o critério distintivo da atuação entre os dois candidatos para Porto Alegre: a produção de Pedidos de Providência. Uma curiosidade observada é que, enquanto que o Regimento Interno da Câmara Municipal de Porto Alegre e da Câmara dos Deputados prevê Pedidos de Providência como um instrumento parlamentar na sua relação com o executivo para o atendimento de demandas da população, o Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul não possui. Isto resulta em significativo prejuízo da atuação do candidato Nelson Marquezan Jr para sua ação política direta sobre as necessidades da capital, ao contrário do candidato Sebastião Melo, que dispôs e utilizou deste recurso como vereador.
No primeiro acesso ao sistema da Câmara dos Deputados, encontramos 589 proposições do candidato Nelson Marquezan Jr, já que pela página do candidato na seção “Projetos de Minha Autoria”, os resultados aparecem brutos, o sistema oferece simultaneamente a produção de emendas, declaração de voto, emendas de redação final, substitutivos e votos em separado, o que dificulta a comparação com o candidato Sebastião Melo. A separação só é possível pelo acesso a atividade legislativa, que distingue as proposições. Daí a decisão do cruzamento de ambos acessos, forma de ter uma visão geral de peças como emendas do conjunto da obra numa primeira leitura. Isso não significa que o candidato Melo não tivesse produção significativa neste campo. O problema é como discriminá-la na produção geral para termos equivalência entre os candidatos, pois estaria longe da disponibilidade de tempo desta pesquisa o trabalho de verificar, na Câmara Municipal, processo a processo, as emendas propostas por Sebastião Melo, já que o acesso pela internet da Câmara Municipal não oferece esta informação. Por esta razão, optamos por suprimir esta categoria de dados de produção, das Emendas, Subemendas e Substitutivos, consideradas aqui como peças de proposições, pela ilustração por um exemplo equivalente, os Pareceres, peças que estão disponibilizadas nos Relatórios da Câmara Municipal para o candidato Melo e no sistema da Câmara dos Deputados. Assim, chegamos a uma igualdade de proposições. A metodologia poderá ser discutida posteriormente, mas acredito que os efeitos serão mínimos nos valores apontados e defendemos as tendências gerais de produção, onde nossa conclusão é que não temos dúvidas quanto a superioridade de produção de Sebastião Melo.
O candidato Marquezan Jr poderá considerar que nossa opção pelos Pedidos de Providência como a categoria fundamental de análise lhe é injusta. De fato, localizar a contribuição de qualquer um dos candidatos é difícil, há outras formas de trabalho parlamentar, como os discursos de plenário, as atividades diárias, etc. O problema é que, ainda que Indicações esta não esteja prevista no Regimento Interno da Assembleia Legislativa, onde ficou por apenas uma legislatura, está no da Câmara dos Deputados, onde o candidato desafiante passou o maior tempo de sua experiência legislativa e poderia ter usado mais. Não o fez. São proposições que atuam diretamente no cotidiano do morador da cidade, pedidos de melhorias de serviços públicos, etc. Os dados foram levantados no período de 25 a 27 de outubro e analisados no dia 28 e são preliminares, merecem uma nova discussão. São, no entanto, indicativos poderosos da atuação parlamentar. Dizem-nos quem trabalha mais e quem trabalha menos. Os dados relativos à produção de Sebastião Melo foram pesquisados junto ao site da internet da Câmara Municipal de Porto Alegre, bem como aos Relatórios de Gestão disponíveis na Biblioteca da Câmara.
Análise da produção geral:
Foi identificada uma notável diferença de produção legislativa entre os candidatos. O candidato Sebastião Melo (PMDB) foi o que teve maior produção legislativa, com 1249 proposições na Câmara Municipal. O total de proposições do candidato Nelson Marquezan Jr informada pelo site da Câmara dos Deputados é de 589 proposições e na Assembleia Legislativa, 22, mas a forma como são organizados os dados da Câmara dos Deputados inclui peças que compõem de proposições, como Emendas, Pareceres, relatoria de processos, que para efeitos deste estudo, foram considerados em separado apenas os Pareceres. Isso não tira a vantagem do candidato Nelson Marquezan Jr: mesmo que estas peças fossem incluídas no total de proposições, ainda assim o candidato Sebastião Melo estaria em vantagem.
Em termos de número de proposições, Melo é o que mais produziu ao longo de 3 legislaturas ou 12 anos. Das proposições analisadas e retirando as peças de proposições, foram 1294 proposições contra 374. Isto significa que do total de proposições apresentadas e consideradas válidas nesta pesquisa da produção dos candidatos, Sebastião Melo concentra 77,5% da produção enquanto que Nelson Marquezan Jr concentra 22,7%, quer dizer, Melo produziu 3 vezes mais do que Marquezan Jr enquanto esteve no legislativo. Mesmo que se considere o total, neste estudo desmembrado para ser avaliado na categoria respectiva de pareceres, o que daria como resultado para Marquezan Jr de 611 proposições (589 na Câmara dos Deputados e 22 na Assembleia Legislativa), ainda assim o candidato Sebastião Melo estaria em vantagem, com cerca de 200%: quer dizer, no mínimo, Melo trabalhou o dobro de Marquezan Jr.
Pela categoria da natureza da proposição e por candidato, Melo lidera com os Pedidos de Providência, com 502 pedidos correspondem a cerca de 38,7% das suas iniciativas, seguidas de Proposições diversas com 26,3%, Pedidos de Informação, com 14,3% e demais proposições. Já Marquezan Jr produziu mais requerimentos, que compõem cerca de 47,5% de sua produção, seguidos de respectivamente 10% de Pedidos de Informação e Projetos de Lei do Legislativo com 10,9%. Observe que estes percentuais são internos a produção de cada candidato: quando comparados os candidatos entre si, os percentuais variam e aí observamos diferenças notáveis. Na produção total, isto é, na soma da produção de ambos os candidatos, os respectivos percentuais em cada categoria revelam novamente a superioridade do candidato Sebastião Melo: este possui 5,6% dos Projetos de Lei enquanto que seu adversário a metade, isto é, 2,4% do total.
Marquezan Jr possui ainda os menores indicadores na comparação das demais proposições. Enquanto Melo exerceu sua função fiscalizadora, com cerca de 11,1% de proposições da categoria Pedidos de Informação, Marquezan Jr atende apenas por 2,3% dos pedidos. Isto é, Melo exerceu a função fiscalizadora pelo menos 5 vezes mais que Marquezan Jr! Melo ainda é superior nas proposições relativas à Projetos de Lei Complementar, com 1,8% do total e Indicações, com 0,6%. Só há duas modalidades em que Marchezan foi superior a Melo: Requerimentos (47,5%) e Projetos de Emenda à Constituição (29,1%).
Tabela I Quadro geral das Proposições por candidato
Candidato | Sebastião Melo | Nelson Marquezan Jr | ||
Proposições | Total | Percentual | Total | Percentual |
Projetos de Lei do Legislativo | 94 | 7,2% | 37 | 10,2% |
Pedidos de Providência | 502 | 38,7% | 2 | 0,5% |
Proposições diversas * | 341 | 26,3% | 2 | 0,5% |
Pedidos de Informação | 186 | 14,3% | 39 | 10,1% |
Requerimentos | 89 | 6,8% | 178 | 47,5% |
Projetos de Resolução | 26 | 2% | 4 | 1% |
Projetos de Lei Complementar do Legislativo | 30 | 2,3% | 1 | 0,2% |
Indicações | 11 | 0,8% | 2 | 0,5% |
Projeto de Emenda à Lei Orgânica/Constituição | 15 | 1,1% | 109 | 29,1% |
Subtotal 1 | 1294 | 100% | 370 | 100% |
Subtotal 2 | A | + | B | =1664 |
Total | 77,5% | 22,7% |
* Proposições diversas, excluídas Emendas, Substitutivos e Congêneres, considerados peças internas de processos
Tabela II -Quadro geral das proposições tomados no conjunto
Candidato | Sebastião Melo | Nelson Marquezan Jr | ||
Proposições | Total | Percentual | Total | Percentual |
Projetos de Lei do Legislativo | 94 | 5,6% | 37 | 2,2% |
Pedidos de Providência | 502 | 30,1% | 2 | 0,1% |
Proposições diversos | 341 | 20,4% | 2 | 0,1% |
Pedidos de Informação | 186 | 11,1% | 39 | 2,3% |
Requerimentos | 89 | 5,3% | 178 | 10,6% |
Projetos de Resolução | 26 | 1,5% | 4 | 0,2% |
Projetos de Lei Complementar do Legislativo | 30 | 1,8% | 3 | 0,05% |
Indicações | 11 | 0,6% | 2 | 0,1% |
Projeto de Emenda à Lei Orgânica/Constituição | 15 | 0,9% | 110 | 6,5% |
Total | 1294 | 77,3% | 370 | 22,7% |
Análise das proposições PLCL
A produção de projetos de lei complementar é um importante indicador de atuação dos parlamentares. A lei complementar é uma lei superior à lei ordinária, e por esta razão, exige quórum qualificado. É também uma lei de maior abrangência, exigindo um notável aumento das competências do legislador para sua criação. O candidato Sebastião Melo foi o que teve maior produção de PLCLs, com 90% do total de proposições, ou 30, contra seu adversário, Nelson Marquezan Jr, com apenas 3 proposições: uma na Assembleia Legislativa e 2 na Câmara dos Deputados. Além disso, a superioridade também se deve ao número de temas abordados: enquanto Sebastião Melo atuou em seis áreas especificas com suas propostas, o candidato desafiante atuou em apenas 2.
Os campos de atuação na produção de PLCL são diferentes. Sebastião Melo concentra 9 projetos de sua produção (30%) em projetos que se dedicam a aprimorar a questão urbana enquanto que seu oponente concentra seus 2 (77%) projetos na questão das limitações orçamentárias. Sebastião Melo também se destaca na produção de legislação referente ao aprimoramento legislativo, com 10 proposições sob o formato de PLCL, enquanto seu desafiante não possui nenhuma. Isso não significa que Nelson Marquezan Jr não tenha proposições em defesa do aprimoramento legislativo, o que de fato ocorre em outras proposições do candidato na Câmara dos Deputados, mas elas não estão neste tipo de proposição. É preciso também considerar a distorção que a análise estatística também produz: apesar de Nelson Marquezan Jr dedicar 33% da sua produção de PLCL a defesa da questão social, superior à produção de Sebastião Melo, onde o tema ocupa 16,6% das proposições, ocorre que a distorção ocorre por conta do reduzido número de proposições do candidato desafiante, que tem apenas 1 projeto relacionado ao tema social, enquanto Sebastião Melo possui 5 projetos. É cinco vezes mais.
Tabela III – Temas de proposições: Projetos de Lei Complementar do Legislativo
Candidato | Sebastião Melo | Nelson Marquezan Jr | ||
Proteção ao trabalhador (proteção do trabalhador da construção civil): | 1 | 3,3% | ||
Lei Orçamentária | 2 | 6,6% | 2 | 77,7% |
Questão social (comércio ambulante) | 5 | 16,6% | 1 | 33,3% |
Questão urbana (alteração de regimes urbanísticos, regularização de obras, imóveis abandonados) | 9 | 30% | ||
Impostos (organização de tributos, dispensa de corte d’agua por carência) | 2 | 6,6% | ||
Aprimoramento legislativo (consolidação das leis, burocracia, concursos públicos, transparência) | 10 | 33,3% | ||
Subtotal | 30 | 100% | 3 | 100% |
Subtotal | A | + | B | 33 |
Subtotal | 30 | 90% | 3 | 10% |
Análise dos Projetos de Lei do Legislativo
Foram identificadas 16 categorias. Novamente, o candidato Sebastião Melo tem maior performance, com presença em 12 delas, enquanto que o adversário Nelson Marquezan Jr possui presença em 8 delas. Nesse campo, o maior número de proposições de Melo foi o de denominação de ruas, que chegou a 32% das suas proposições, inexistindo no candidato Melo equivalente. Já o candidato Nelson Marquezan Jr apresenta o maior número de proposições na temática orçamento público, em suas formas de transparência pública e controle, correspondendo a 24% das proposições do candidato. Mas é importante lembrar que o candidato Marquezan Jr está em grande desvantagem também neste quesito: tomando-se o conjunto das proposições, sua produção corresponde a 29% das proposições, enquanto Sebastião Melo, detém 71% das proposições, mais do que o dobro. É importante observar também o campo em que se situam as proposições desta modalidade: enquanto o candidato Marquezan Jr apresentou uma notável concentração de proposições de natureza econômica, dos 37 PLLs, 27 são deste campo, enquanto que o candidato Melo concentrou sua iniciativa no campo social: dos seus 94 PLLs, 76 das suas proposições de PLLs são neste campo.
Tabela IV: Temas de proposições PLL
Candidato | Sebastião Melo | Nelson Marquezan Jr | ||
Categoria | Total | % | Total | % |
Orçamento público: acompanhamento, formas de transparência e controle: | 5 | 5,3% | 9 | 24,3% |
Questão social | 8 | 8,5% | 3 | 8,1% |
Impostos e finanças | 1 | 1,06% | 3 | 8,1% |
Urbanismo | 2 | 2,1% | ||
Segurança | 8 | 8,5% | 4 | 10,8% |
Saúde | 4 | 4,2% | ||
Cidadania | 2 | 2,1% | ||
Transporte | 9 | 9,5% | ||
Nomes de ruas | 31 | 32,9% | ||
Homenagens | 12 | 12,7% | ||
Finanças Públicas | 6 | 16,2% | ||
Cultura | 9 | 9,5% | ||
Educação | 3 | 3,1% | ||
Economia | 6 | 16,2% | ||
Aperfeiçoamento da burocracia | 3 | 8,1% | ||
Controle do exercício profissional | 3 | 8,1% | ||
Subtotal por candidato | 94 | 100% | 37 | 100% |
Subtotal | A | + | B | 131 |
Total | 71% | 29% |
Pareceres:
Pareceres constituem o trabalho técnico do legislador na análise da matéria legislativa. Deles depende a aprovação ou rejeição de um projeto de lei. Aqui, é um exemplo da matéria legislativa, do trabalho legislativo, equivalente a produção de emendas, subemendas e substitutivos, no trabalho parlamentar. São peças que integram o projeto de lei.
Os pareceres, tomados como exemplo, mostram notável diferença entre o trabalho dos candidatos. Enquanto que o candidato Sebastião Melo produziu ao longo do seu trabalho como vereador 199 pareceres, Nelson Marquezan Jr produziu 111. O trabalho de Melo corresponde a quase o dobro do trabalho dedicado por Nelson Marquezan Jr, respectivamente 64% e 36% do total de proposições.
Tabela V: material processual: Pareceres
Pareceres | Total | % |
Sebastião Melo | 199 | 64% |
Nelson Marquezan Jr | 111 | 36% |
Total | 310 | 100% |
Pedidos de Providência e Indicações
Ainda que o candidato Nelson Marquezan Jr aponte que em suas propostas beneficiou, por exemplo a Vila Iapi, numa primeira leitura, não encontrei a proposição de que se trata afirmação. O que não significa que não exista, pois poderiam estar em uma proposição cujo conteúdo não foi usado em nossa tabulação, que é geral e preliminar. Mas o que chama a atenção é que, dispondo de instrumentos que à distância, como Indicações, poderiam colaborar com a questão local, Marquezan Jr silencia. Não usa. Mostramos na tabela I os termos e não é necessário tabula-los: Nelson Marquezan Jr produz 2 indicações e 2 pedidos de providência, salvo melhor juízo.
É notável, tendo em vista a natureza da proposição, o resultado da análise das Proposições de Pedidos de Providência para revelar o alcance local das propostas do candidato Sebastião Melo, que revelam o conhecimento dos bairros da capital. Não há proposição equivalente na produção legislativa de Nelson Marquezan Jr. Por isto que, ainda que estando em um nível diferente de Poder, Marquezan Jr poderia ter utilizado ferramentas simples da técnica legislativa para revelar seu interesse pela capital, como indicações. Entendo que não o fez. Isso para mim é um indicador significativo da diferença entre os candidatos, da diferença entre aqueles que trabalham pela capital e aqueles que a desconhecem.
Sebastião Melo foi autor de 502 Pedidos de Providência em 12 anos de vereança. A maior parte delas, 47% ou 236 PPs, dedicados à recuperação das ruas da cidade, 14,5% ou 73PPs destinados a limpeza de praças, terrenos e ruas, além de remoção de lixo e 8,5% ou 43 PPs destinados a medidas de saneamento da cidade. Quer dizer, ao longo de sua trajetória, Melo cuidou da urbanização da capital diretamente, com pedidos que foram atendidos (esta também é uma informação que a pesquisa revela) pelos Prefeitos à época. Mais: é notável que tenha proposto inúmeras vezes a construção de espaços e instituições públicas por esta via de acesso ao Poder Executivo, seja para construção de creches e espaços de lazer, em cinco proposições.
Ainda há um notável mapa de atuação na capital que os PPs revelam: os bairros beneficiados (tabela 7). Ainda que nossa classificação apenas siga as indicações constantes na própria ementa das Proposições e hajam bairros ou loteamentos que já fazem parte de outros desde a última reforma da lei de bairros, quer dizer, dos 81 bairros oficiais, conforme o site da Prefeitura, Melo atuou para beneficiar 73, mais de 90%, enquanto que Marchezan, em sua propaganda de TV, afirma ter beneficiado o IAPI, ou apenas 1. Isto pode ser reavaliado em números, mas já é um indicador importante. Além disso, reunindo numa aproximação preliminar os bairros em grandes grupos, de classe A, B e C, numa divisão geral e apenas sugestiva dos bairros listados, onde Petrópolis é considerado classe A, Cidade Baixa, classe B, Restinga, classe C, e assim por diante, temos a Tabela 7 onde se pode constatar que a maior parte da atuação e dos beneficiários dos PPs de Sebastião Melo encontra-se entre as classes B e C, 68% das proposições, contra 32% para as classes A. Ou seja, Sebastião Melo, no seu trabalho de legislador, procurou atender as necessidades das populações mais pobres da cidade.
Tabela VI – Pedidos de Providência de Sebastião Melo
Pedidos de Providência | Total | % |
Limpeza de praças, terrenos, calçadas, ruas e remoção de lixo | 73 | 14,5% |
Saneamento, medidas para eliminar alagamentos, limpeza de boca de lobos, canalização de ralos | 43 | 8,5% |
Medidas para melhoria do transporte, instalação de semáforo, lombadas e faixas de pedestres | 20 | 3,9% |
Instalação de placas de ruas, ônibus e parquímetros | 10 | 1,9% |
Pavimentação do passeio público e conservação de ruas | 236 | 47,1% |
Construção de espaços públicos de lazer, construção de creches e criação de postos de saúde | 5 | 1% |
Poda e retirada de árvores | 23 | 4,5% |
Iluminação pública, troca de lâmpadas | 27 | 5,3% |
Instalação de redes de esgoto novas | 7 | 1,3% |
Ações de fiscalização, segurança e vistoria | 22 | 4,3% |
Total | 502 | 100% |
Tabela VII – Bairros beneficiados
Bairros | Total | % |
Mario Quintana | 4 | 0,8% |
São Geraldo | 4 | 0,8% |
Lomba do Pinheiro | 3 | 0,6% |
Assunção | 48 | 9,5% |
Nonoai | 12 | 2,4% |
Tristeza | 33 | 6,5% |
Jardim Santa Isabel | 4 | 0,8% |
Cristal | 10 | 2% |
Pedra Redonda | 3 | 0,6% |
São João | 23 | 4,6% |
Teresópolis | 5 | 1% |
Belém Velho | 5 | 1% |
Vila Ipiranga | 5 | 1% |
Petrópolis | 6 | 1,1% |
Bom Fim | 11 | 2,1% |
Bom Jesus | 1 | 0,2% |
Auxiliadora | 3 | 0,6% |
Santo Antônio | 2 | 0,4% |
Ipanema | 44 | 8,8% |
Pedra Redonda | 2 | 0,4% |
Ponta Grossa | 8 | 1,6% |
Três Figueiras | 1 | 0,2% |
Jardim Cascata | 5 | 1% |
Serraria | 1 | 0,2% |
Santa Cecília | 1 | 0,2% |
Espirito Santo | 1 | 0,2% |
Medianeira | 2 | 0,4% |
Ipê | 2 | 0,4% |
Cidade Baixa | 2 | 0,4% |
Vila Nova | 1 | 0,2% |
Iapi | 15 | 2,9% |
Lami | 4 | 0,8% |
Vila Conceição | 1 | 0,2% |
Guarujá | 12 | 2,3% |
Campo Novo | 2 | 0,4% |
Hípica | 1 | 0,2% |
Independência | 1 | 0,2% |
Itu Sabará | 1 | 0,2% |
Chapéu do Sol | 1 | 0,2% |
Menino Deus | 2 | 0,4% |
São José | 2 | 0,4% |
Glória | 7 | 1,4% |
Jardim do Salso | 1 | 0,2% |
Rubem Berta | 47 | 9,3% |
Espirito Santo | 1 | 0,2% |
Jardim Carvalho | 6 | 1,1% |
Boa Vista | 1 | 0,2% |
São Geraldo | 6 | 1,1% |
Morro Santana | 4 | 0,8% |
Alto Petrópolis | 9 | 1,8% |
Cristo Redentor | 5 | 1% |
Aberta dos Morros | 3 | 0,6% |
Protásio Alves | 4 | 0,8% |
Partenon | 15 | 2,9% |
Camaquã | 5 | 1% |
Cel. Aparício Borges | 2 | 0,4% |
Ilha da Pintada | 1 | 0,2% |
Mato Sampaio | 1 | 0,2% |
Sarandi | 17 | 3,3% |
Navegantes | 8 | 1,6% |
Centro | 18 | 3,5% |
Floresta | 5 | 1% |
Chácara das Pedras | 1 | 0,2% |
Belém Novo | 3 | 0,6% |
Agronomia | 2 | 0,4% |
Bom Jesus | 8 | 1,6% |
Restinga | 5 | 1% |
Passo da Areia | 1 | 0,2% |
Mont Serrat | 1 | 0,2% |
Vila Nova | 1 | 0,2% |
Cavalhada | 1 | 0,2% |
Cruzeiro do Sul | 3 | 0,6% |
São Geraldo | 2 | 0,4% |
Não identificado | 13 | 2,5% |
Total | 502 | 100% |
Total de bairros | 73 |
Tabela VIII: Pedidos de Providência /Bairro/classe social beneficiada
Classe social | Total | % |
Classe A | 165 | 32,8% |
Classe B e C | 337 | 68,2% |
Total | 502 | 100% |
Conclusão:
Nestas eleições, a esquerda vive seu momento Westword. O seriado se passa no velho oeste e isto lembra em muito como vivemos estas eleições locais, com sua violência real e simbólica. Como no seriado, os cidadãos decidirão domingo sobre um mundo de mentiras da propaganda política com candidatos agindo como os anfitriões, com suas narrativas para agradar os cidadãos. Mas da mesma forma que seu criador do parque, Robert Ford (Anthony Hopkins), queria uma vida que se aproxime da humana, a esquerda queria a proposta que mais se assemelhasse a boa politica. Não conseguiu. Agora enfrenta o dilema de decidir entre duas propostas que critica, alinhadas no espectro do liberalismo ao ultra neoliberalismo. Para mim, os dois são adversários políticos da esquerda: resta saber se o voto nulo, onde irá lavar as mãos, é a melhor estratégia, ou, como defendo, adote o voto útil como opção pelo “menos pior”.
Nossa opção pelo “menos pior” indica Sebastião Melo. A pesquisa mostra que o eleitor que é responsável por quem escolhe e por quem não escolhe, pode usar como critério sim aquele que trabalhou a favor das comunidades. Com voto nulo ou branco, no fundo, aceita que quem ganhar deve ganhar. E quem ganhar, poderá dizer que ganhou também com o seu voto. “Votar é inevitável” diz Joaquim Falcão. Por isso o Comitê Suprapartidário em Defesa da Democracia, que reúne setores da esquerda, posicionou-se contra o voto nulo e indicou o voto em Sebastião Melo. Mostro neste estudo que há razões no trabalho legislativo do candidato que justificam esse voto. Enquanto que a esquerda vê em seu opositor o pior dos oponentes por sua submissão radical das políticas públicas à princípios da iniciativa privada, por representar setores da antiga Arena e aceitar apoios de setores da extrema direita, reconhecemos que a coligação Melo e Juliana, por outro lado, tem problemas reais, muitos, mas a Frente a considera “mais plural, na medida em que conta com a presença de uma liderança do PDT no cargo de vice-prefeita.”. E lembra que “o PDT posicionou-se nacionalmente contra o golpe e reconhece a importância da participação popular na gestão pública”, além da história pessoal de Melo, sempre junto a setores populares. Agora tem mais um argumento: Melo foi um notável trabalhador da cidade.
É preciso ao menos, para a esquerda, garantir uma vitória: que seja contra a proposta pior, a ultra neoliberal. Uma vitória de cada vez. Diz o pai de Dolores no seriado “O Inferno está vazio e os demônios estão todos aqui!”, verdadeiro espelho desta eleição para a esquerda. Mas há diferenças. É preciso valoriza-las.
Professores dos cursos de Artes da UERGS em Montenegro decidem aderir às frentes de resistência à alteração da LDB9394/96 assim como à PEC 241
O calendário de mobilizações iniciará com paralisação geral das atividades da Unidade na segunda-feira dia 24 de outubro e encontros pontuais para debates e proposições ao longo da semana.
Prezadas e prezados alunas e alunos, colegas professoras e professores, funcionárias e funcionários da Unidade Montenegro-Artes/UERGS,
Nos últimos dias, fomos tomados de maneira abrupta por uma série de propostas de emenda constitucional (PEC) e medidas provisórias (MP) que afetam os mais diferentes tecidos da sociedade brasileira. Medidas tomadas de maneira aleatória, sem o devido debate popular e com a forte possibilidade de produção de efeitos escalonados ao longo dos próximos anos que, em sua imensa maioria, produzem um horizonte nebuloso e de enormes sacrifícios dos extratos mais vulneráveis da população. Todas essas questões estão em nossas pautas cotidianamente. No entanto, as Artes em todas as suas formas, foram alvo de um ataque noturno e gravíssimo: a mudança do texto da LDB 9394/96[i].
A lei de diretrizes e bases foi uma conquista de diversas associações, instituições, professores e alunos. No caso da arte, os avanços trazidos pela LDB 9394/96 são resultados de uma forte movimentação daqueles que entendiam a importância de garantirmos aos estudantes do ensino básico e médio aulas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, em suas especificidades e ministradas por professores com formação, também específica, em cada uma dessas modalidades em seus modos de pensar, criar e compreender as ações dos indivíduos em diferentes tempos e espaços através da arte. Os reflexos dessa decisão reverteram-se em fortalecimento e abertura de novos cursos de licenciatura em arte e garantia de atuação profissional para os seus egressos na escola, compreendendo as linguagens artísticas como conhecimentos legítimos e indispensáveis à formação dos indivíduos.
Com a alteração da lei temos um forte retrocesso de, pelo menos, 30 anos nas lutas pela garantia de acesso e reconhecimento da arte como forma de saber, presente em uma escola que se pretende lugar de construção, mobilização e movimento de conhecimentos que extrapolam a formação para o mercado de trabalho e que se compreende como lugar de compreensão e modificação do mundo em suas formações históricas, contradições e condições sociais e culturais.
Assim, como forma de marcarmos nossa posição na defesa dessas conquistas e da legitimidade de nossa área de atuação, nós, professores dos cursos de licenciatura em Arte da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, decidimos nos unir às manifestações que ocorrem nessa segunda, dia 24 de outubro, juntamente com outras universidades gaúchas e que, por sua vez, estão aliadas a frentes de resistência por todo o país.
Ao mesmo tempo, cremos na importância formadora que tem a participação de toda a comunidade acadêmica e, em especial, os estudantes, nessa luta. Propomos também que, a partir de terça feira, dia 25, comecemos uma semana de mobilizações com encontros de pelo menos uma hora a cada dia, para marcarmos o posicionamento de nossa unidade.
Sabemos dos prejuízos que o cancelamento de um dia letivo pode trazer ao nosso calendário, mas compreendemos que nesse momento há algo maior que exige nossa tomada de decisão. Pelo futuro das artes na escola, pelo futuro dos nossos cursos de formação, pela garantia da vida profissional de nossos estudantes e, acima de tudo, pela manutenção da Arte em toda a sua complexidade no ambiente escolar em todos os níveis de ensino previstos no texto original da LDB, optamos por marcar nosso posicionamento e, reforçamos, contamos com o apoio de toda a comunidade.
Essa não é uma pauta apenas dos professores de arte, mas de toda a sociedade que compreende que a escola deve mirar mais longe do que a mera reprodução de verdades absolutas e que o conhecimento crítico e criativo do ser humano é instrumento indispensável para qualquer menino ou menina que chega a essa instituição. Conhecimento esse que não é completo sem os saberes, problematizações e deslocamentos que a arte pode produzir.
cronograma:
Dia 24/10: 8h30 em frente ao Cpers, (Av. Alberto Bins, 480 – Centro) + 13h Campus Central da UFRGS + 18h30 Esquina democrática.
A partir do dia 25/10: ações pontuais na Unidade em Montenegro.
[i] “§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.”
Imagem da campanha Arte pela Democracia: https://fonsecamonoart.files.wordpress.com/2016/05/tudo0041-724×1024-1-724×1024.jpg