PINHEIRO DO VALE
O gravador do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, está causando mais sucesso que o gravador do Cacique Juruna.
Quarta-feira ele quase botou fogo no circo quando foram publicadas as transcrições de suas conversas com o presidente do Senado Federal, senadorRenan Calheiros (PMDB/AL).
A tática de Sérgio Machado é tão parecida que até parece plágio da tática do célebre cacique da tribo dos Xavantes para embaraçar e comprometer seus interlocutores.
Nos seus contatos com autoridades, Juruna (que depois chegou a deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro)acionava o aparelho e usava as transcrições como documento para comprovar a desfaçatezdesses funcionários e governantes que, certos de sua ingenuidade, prometiam tudo e depois davam as costas.
Com tudo na mão, certo dia o cacique apareceu em Brasília e exibiu suas provas à imprensa. Foi um grande escândalo de mídia. Jornais botaram a boca do mundo; as tevês deram espaço.
O Cacique Juruna virou uma celebridade. Com seu gravador escancarou a hipocrisia e a má fé dos ativistas da FUNAI que, nas cidades, se pavoneavam como defensores das causas indígenas.
O mesmo se repete agora com o Gravador do Machado. O ex-diretor da subsidiária da Petrobrás pegou sua maquininha e foi à luta. Procurou os manda chuvas, gente envolvida em captações para campanhas políticas, todos poderosos que lhe deviam favores e, com grande habilidade, arrancou deles falas comprometedoras.
Quando o Lava Jato virou sua mangueira em cima dele, abriu o bico e deixou a todos na saia justa. Embora as conversas não tenham muita profundidade, deixam claro ao bom entendedor que ali se ouvia apenas a pontinha do iceberg.
Derrubou um ministro de primeira linha e botou o governo do presidente interino Michel Temer na defensiva.
O mesmo pode-se dizer do vazamento de Renan Calheiros. As críticas do senador à delação premiada não emocionam muito, mas o antagonismo do Supremo em relação à Dilma pode abrir um leque de suspeições.
Afinal, naqueles dias, o STF indeferiu muitos pedidos de liminares dos advogados da presidente.
No mínimo pode-se perguntar: quanto de má-vontade e de despeito poderiam conter as decisões dos ministros?
O tsunami vem aí. Dizem que a próxima gravação de Machado vai pegar o ex-presidente José Sarney, que também foi um dos chefes peemedebistas que abandonou Dilma, mandando seus seguidores votarem pelo impeachment. O voto do ex-ministro Edson Lobão é a prova mais contundente.
Por fim, vale destacar a pérola dessa fita, no trecho em que Renan Calheiros diz, embora de forma incompleta, que estava sendo negociada uma saída com o ex-presidente Lula.
Pelo que se entendeu da conversa, Lula assumiria o poder, seria um chefe da Casa Civil com formato de primeiro-ministro. Pois é: Dilma perdeu o bonde. Se abrisse espaço para o ex-presidente certamente ainda estaria despachando no Palácio do Planalto.
Autor: da Redação
O mistério do vazamento
PINHEIRO DO VALE
O mistério da República é localizar a quem interessava detonar o ministro do Planejamento de Michel Temer, o senador roraimense Romero Jucá, com a divulgação do conteúdo de conversas embaraçosas entre ele e um aliado há mais de três meses.
Deitar na lona um peso pesado como Jucá é uma proeza de múltiplos resultados, todos negativos para o governo recém-instalado.
Não obstante estar envolvido em fase de indiciamento em sete processos tramitando no Supremo, Jucá emergia no colégio de cardeais, não era membro da banda do baixo clero no ministério Temer.
Ao contrário, o senador nortista faz parte da banda virtuosa do gabinete peemedebista, ao lado de Henrique Meirelles. Wellington Moreira Franco e outros astros do segundo escalão, como Pedro Parente. Pois não é que ele caiu de quatro logo ao levar o primeiro tiro?
De fato, Jucá não era tão ficha limpa assim como se pintava na nova imagem, pois desde sempre, como político dos fundões remotos, construiu lá carreira passando por cima de obstáculos que, no Sul, já teriam acabado com ele há muito tempo.
No jovem estado de Roraima esses tropeços não passavam de pecadilhos. Não adiante se espantar: o Brasil é assim.
Antes de cair nas malhas dos templários de Curitiba, Jucá já passara pelos incômodos do fisiologismo da política naquelas bandas, envolvido numa negociata de desvio de madeira de terras indígenas quando ainda de sua estreia na esfera federal, como simples e jovem presidente da FUNAI.
Na Justiça o processo se extinguiu por prescrição. Na política foi absolvido com a alegação então aceita de que a madeira não era dele, o dinheiro foi para o partido, com os apoios decorrentes foi catapultado para o governo do Estado e daí para a arena nacional na Câmara, no Senado e, desta feita, num ministério de primeira linha.
Tudo isto para dizer que Jucá não é pouca coisa. Quem olhasse sua posição até a noite de domingo diria que se tratava de uma nova estrela no firmamento. Deixava obscuras bancadas periféricas para se lançar como teórico da economia, gestor de primeira linha, articulador político de alto desempenho, conselheiro de pé de ouvido do presidente. Ou seja: um manda chuva.
Já se sabe que a gravação era parte do material da delação premiada de seu interlocutor, o ex-presidente da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobrás, Sérgio Machado, já nas malhas do juiz Sérgio Moro. Ou seja: o autor da gravação foi o próprio delator Sérgio Machado.
Então por que se botou a boca no trombone? Os primeiros suspeitos são os próprios membros do Judiciário, agastados com o que consideraram uma desfaçatez de Michel Temer passar por cima dos indiciamentos e outros que tais, nomeando Jucá ministro de linha de frente sem a menor cerimônia.
Esta suposição ganharia verossimilhança porque estaria repetindo o episódio das gravações de Dilma e Lula.
Consta que, ao se convencerem de que a presidente levava Lula para a Casa Civil como uma manobra para tirá-lo da frente do juiz Sérgio Moro, jogaram na rua a evidência que tinham para que ninguém duvidasse. E Lula caiu.
Agora repetem a dose com Jucá: Temer desconheceu as evidências aceitas pelo juiz e ministros do Supremo e, então, levou. E Jucá recebeu um tiro no meio da testa, não nas costas como seria numa outra versão, de cunho conspirativo, que também corre (irresponsavelmente, pois não se sabe de onde saiu) em Brasília.
Na capital federal o menor segredo é a origem de um boato. Quando não tem dono, todo o mundo fica alerta. É o caso deste, atribuído a forças ocultas que teriam como objetivo fortalecer a posição do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Vejam os leitores como se explica esta fantasia: Jucá seria uma ameaça à candidatura de Meirelles para 2018. É pouco?
Nessa narrativa entram vários por quês. Meirelles é candidato a Fernando Henrique, o ministro da economia salvador da Pátria.
A se confirmar que Meirelles fica com Fazenda e Planejamento (com todo seu cortejo de bancos e outras instituições), configura-se o desenho que Lula sugeriu a Dilma.
Então Temer comprou a peça, podendo haver um acerto de bastidores para leva-lo como nome da chamada base aliada, catalisando uma coligação considerada impossível no cenário atual.
Entretanto, ela poderia se compor para a eleição de 2018, se não no primeiro, no segundo turno. Se fosse assim, outro candidato dentro do mesmo governo seria um empecilho. Melhor matar a cobra de pequena.
Se for isto que ocorreu inocenta o PT, pois estaria por traz de tudo o trio dos “imperdoáveis”, quais sejam: o juiz Sérgio Moro, o procurador geral Rodrigo Janot, e o ministro do Supremo Teori Zavascki (este mencionado por Jucá como “inconversável”).
Há outra também alicerçada na ambição de Jucá de chegar a uma candidatura presidencial: o PMDB de São Paulo, apoiado pelas frações sulistas, não veria com bons olhos a recondução do grupo liderado pelo ex-presidente José Sarney. Também é improvável, mas possível.
Há tantas versões que se desfiarmos todas aqui, não caberiam no servidor da Internet. A verdade é que há muito mais coisas no ar do que aviões de carreira, diria o gaúcho Barão de Itararé.
Quem morre de rir destas trapalhadas é a presidente afastada Dilma Rousseff. Embora saiba que estes fatos não influem no resultado da votação deu impeachment no Senado.
Sua tropa parlamentar tem se mostrado muito limitada, não conseguindo ir além de um discurso considerado simplório. Como comentou um velho comunista veterano deste tipo de embates, relembrando a origem desses debatedores: “é nível secundarista”.
Nas ruas, nas assembleias, nos espaços públicos em que pode se manifestar, Dilma se aproveita para, como fizeram com ela os tempos em que tinha as mãos atadas pelo cargo, fazer sangrar o governo golpista. Como diz o provérbio sueco: “a espada das mulheres está na boca delas”.
O fantasma que assombra Temer
P.C. de Lester
O Globo destacou duas repórteres – Junia Gama e Isabel Braga – para apurar a real influência de Eduardo Cunha junto ao governo interino de Michel Temer.
Elas produziram duas matérias no fim de semana, concluindo que Temer aposta numa gradativa redução da força Cunha, pelo afastamento das instâncias formais do poder.
A primeira matéria reproduz uma declaração de Cunha, feita a vários deputados da sua bancada: “Se eu renunciar vocês tem alguma dúvida de que vou ser preso? Se for preso, vocês acham que vou sozinho?”
Isso foi dito, dias depois do afastamento de Cunha da presidência da Câmara. É um recado e uma ameaça, que seus interlocutores trataram logo de fazer chegar ao Planalto.
As expectativas de Temer, segundo O Globo: à medida que seu isolamento vai se consolidando, Cunha vai perdendo a influência junto aos deputados de sua bancada, mais preocupados com suas próprias trajetórias.
O jornal estima que hoje Cunha tem 50% de sua força na Câmara, “ou menos”. Chegará um momento em que para , salvar os dedos, ele entregará os anéis.
Cunha certamente não pensa assim, ainda. Montou seu gabinete em casa e segue despachando e conversando com seus aliados como se estivesse na ativa. Mais: nesta segunda-feira, promete voltar a frequentar a Câmara, numa clara afronta ao STF que determinou seu afastamento.
Por enquanto, segundo O Globo, a ordem do Planalto é atender no que for possível as demandas de Cunha e evitar ataques a ele. Elio Gaspari, no mesmo O Globo, diz que “Cunha tem um aliado em André Moura (lider de Temer na Câmara) e não se pode dizer que tenha uma adversário no Planalto”.
Ao desafiar o STF, voltando a frequentar seu gabinete na Câmara, como anuncia, Cunha joga uma cartada decisiva.
Não só para ele, como para o governo Temer que já enfrenta várias frentes de desgaste – desde o recuo em relação ao Ministério da Cultura até a reforma da previdência, que quer elevar a idade para aposentadoria, quando o próprio presidente interino se aposentou como Procurador aos 55 anos.
O futuro de Dilma
PINHEIRO DO VALE
O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, visitou pela primeira vez a presidente afastada Dilma Rousseff na quinta feira, para dizer-lhe que o quadro político lhe é muito desfavorável.
Se já estava perdida, agora piorou, porque mais dois senadores disseram que votam pelo impeachment, aumentando, em vez diminuir, sua desvantagem.
Os políticos da base de apoio à presidente, em Brasília, estão cada dia mais constrangidos quando falam com ela e ouvem seus propósitos beligerantes.
Ela não se cansa de chamar Michel Temer de presidente provisório, o que de fato ele ainda é, mas os aliados ficam sem jeito quando ela diz tudo o que pretende fazer quando voltar para o Palácio do Planalto.
Foi por isto que o senador Jorge Viana, do PT do Acre, pediu a Renan que fosse com ele até o Palácio da Alvorada, para dizer a ela que a situação piorara, pois os dois senadores do PMDB nortista, Jader Barbalho, do Pará, e Eduardo Braga, do Amazonas, que não tinham comparecido na sessão do dia 11 de maio, disseram que agora vão se apresentar e dar seus votos a favor do impedimento.
Os correligionários de Dilma se dizem preocupadíssimos. Ela parece não estar neste mundo.
Chama ministros (Eduardo Cardozo e Nelson Barbosa) para despachar, convoca a bancada parlamentar, manda marcar comícios. Quando os mais próximos se referem à situação que, como dizia o sambista Adoniram Barbosa, “está cínica”, ela parece não ouvir, muda de assunto. “Faz olhar de paisagem”, disse um deles.
Por isto pediram socorro a Renan, mas não adiantou muito. Diante da evolução política e, principalmente, das eleições que estão logo à frente, o PT e demais partidos que ainda ficaram com ela, precisam se acomodar no quadro eleitoral para não serem tragados nas urnas pela crise.
As pesquisas revelam que se o presidente interino não é popular e, muito pelo contrário, é
visto com desconfiança e hostilidade; aos poucos o eleitorado vai percebendo que o discurso de Dilma é falho num ponto essencial: quem botou Temer lá? Ele chegou com a votação do PT, tanto quanto a presidente. Se não fosse isto, não estaria no cargo.
Temer e seus porta vozes estão esgrimindo com habilidade este fato. Dizem nas entrevistas que o presidente interino não tem toda a força que se espera dele porque chegou ao governo nessa forma enviesada, que tem de quebrar o galho, que não é candidato e não espera ser popular.
O importante, os novos governistas estão dizendo aos quatro ventos, é contar a verdade, não mentir, não esconder nada. Este discurso vem diretamente da percepção generalizada de que Dilma disse uma coisa, na sua campanha, e fez outra. É o tal “estelionato eleitoral”, uma expressão que está voltando aos poucos contra a esquerda. O PT não pode deixar este bordão colar na sua imagem às vésperas de uma eleição.
A verdade é que o PT não conseguiu ainda reverter o discurso e com isto não logrou reassumir a trincheira de oposicionista. Falar bem de Dilma ainda é inadequado para a população, quando seus antagonistas brandem contra seu governo com desemprego e inflação.
As filas dos que procuram novas colocações e as remarcações nas feiras livres ainda falam mais alto.
Botar a culpa da carestia em Temer requer uma ação urgente.
Um possibilidade de fazer Dilma virar o cano de sua arma para outro lado é um ideia bastante criativa, inesperada, diriam alguns, estapafúrdia, diriam outros. É preciso criar um movimento positivo de apoio a ela, algo que poderia se não mudar o rumo das coisas em todo o país, pelo menos amenizar as rejeições.
Neste fim de semana, caiu como um furacão, em Brasília, a entrevista-documentário do deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, na TV Câmara.
É um filme autobiográfico, em que o parlamentar do PMDB conta sua vida e relembra o impeachment de Collor, que foi deflagrado por ele, e faz uma autocrítica de sua carreira, refletindo sobre os motivos de sua queda.
A entrevista é recente, mas gravada bem antes do impeachment de Dilma. O assunto ainda era uma especulação.
Relembrando os fatos, dizendo que a crise política era derivada da ruina da economia, Ibsen reconhece que as denúncias de Pedro Collor e o Fiat Elba foram meros pretextos.
Diz Ibsen que Collor caiu porque levou a economia ao colapso e não tinha mais condições políticas de liderar uma estabilização mínima, muito menos uma recuperação.
A entrevista foi reprogramada por causa dessa afirmativa, como um recado do parlamento atual sobre a legitimidade do impeachment de Dilma.
Indo adiante, Ibsen comparou-se a Collor (sem falar ainda de Dilma) para explicar sua queda vertiginosa, caindo de candidato a presidente da República para o olho da rua cassado numa processo de político/parlamentar ancorado numa matéria mentirosa da revista Veja, um erro de revisão que acrescentou três zeros à sua conta bancária no exterior. Onde tinha um depósito de mil dólares a revista da Marginal escreveu um milhão. Só isto bastou.
Este erro que só anos depois foi admitido, era a causa alegada. Entretanto, diz Ibsen no documentário, ele caiu porque, primeiro, foi levado muito rapidamente de um papel de baixa média intensidade (presidente da Câmara) para os píncaros da glória, com a viabilização de sua candidatura presidencial ( “Aí descobri que tinha inimigos e adversários”) e, o principal, afirma, não tinha cacife político para se sustentar naquela posição.
Mutatis mutantes seria a situação da presidente Dilma, quando perdeu sua base política majoritária. Alguns assessores lhe dizem que ela precisa reconquistar seu espaço como líder da esquerda, esquecendo-se dos partidos e aliados fisiológicos. A receita seria restaurar suas origens.
A premissa é consistente: as melhores passeatas a favor de Dilma vêm ocorrendo no Rio Grande do Sul. É o lugar em que se vê maior número de manifestantes avulsos, independentes, é em Porto Alegre. Nos demais estados o pessoal que está indo às ruas são militantes partidários e ativistas sociais.
Portanto, no Extremo Sul estaria a melhor plataforma de lançamento de um movimento consistente que se propague pelo país. Dilma, dizem, deveria baixar nos pampas para se mostrar à frente desses apoiadores.
Já a proposta que se forma seria inaceitável por ela, neste momento: Dilma deveria renunciar para preservar seus direitos políticos e eleitorais, assegurando, também, seus proventos de ex- presidente. Se ela for cassada, perde os dois: fica oito anos impedida e perde direito à pensão.
No Estado, ela poderia ser uma alternativa para a esquerda ter uma candidatura altamente competitiva para o Palácio Piratini. Outros sugerem o Senado.
O que ela não pode é ficar desvalida. Esta advertência sobre o salário teria sido uma das mensagens que Renan Calheiros levaria a ela. Não se sabe se chegou a falar, pois Dilma não é dada a conversas ao pé do ouvido.
Esses formuladores de voos estratosféricos ponderam: em 2005, quando Dilma ascendeu das Minas e energia para a Casa Civil falou-se que ela poderia ser uma alternativa para um bloco de esquerda ao governo do Estado.
Nessa época, quem falasse que ela seria, em 2010, candidata e eleita presidente da República, diriam que estaria delirando. O sonho é livre.
A exemplo de outros ex-presidentes, um governo estadual ou o Senado são propostas factíveis.
Queimando as pontes
PINHEIRO DO VALE
A presidente afastada Dilma Rousseff fez sua primeira aparição pública, na quarta feira, deixando-se fotografar no Palácio da Alvorada à frente de uma tela de computador comunicando-se pelas redes sociais.
Não se ouviu sua voz nem se leu o conteúdo de suas mensagens.
Não seria esse um bom dia para dar o troco a seus algozes, pois o carteiro levara, há pouco, um ofício expedido pela ministra Rosa Webber, do Supremo Tribunal Federal, pedindo que a “presidenta” se explicasse sobre o que ela quer dizer com “golpe”.
Devido a esse discurso desqualificando o ritual do afastamento, Dilma estaria criando mais uma aresta a lhe dificultar o caminho de volta para o Palácio do Planalto.
Como disse o ex-governador e senador paranaense, Roberto Requião, a presidente afastada está queimando as pontes.
Seus assessores que ainda têm voz, cuidadosamente ponderam que ela deve preservar o que sobrou da debacle. O Supremo é uma possibilidade longínqua, mas é uma luz no fim do túnel.
Isto não quer dizer que o tribunal vá lhe devolver diretamente a cadeira, mas dali pode sair uma fresta estreita que sirva para botar o pé lhe abrindo a porta do gabinete do terceiro andar.
Em breve, talvez na semana que vem, pode estar chegando à praia uma primeira onda do esperado tsunami da Lava Jato, com o julgamento do recurso do presidente da Câmara , Eduardo Cunha, pedindo sua reintegração na Câmara e, por conseguinte, na presidência da Casa.
Uma sentença negativa a Cunha pode ser a porteira aberta para que o ministro Teori Zavaski dispare os primeiros mandatos na orbita do foro privilegiado, pegando a turma que ficou sob sua jurisdição. Aí pode se dar o estouro da boiada.
Os observadores, em Brasília, estimam que devam ocorrer mais de 200 prisões. Esse maremoto levará por diante tudo o que sobrou.
Se conseguir surfar esta onda gigantesca, Dilma poderá chegar à praia e, mesmo arranhada e com algum membro quebrado, voltar a seu lugar. É um fio de esperança.
A tática é que ela fique quieta sem provocar marolas antecipadas, porque a onda grande está quase chegando.
Neste momento, o aconselhável é deixar o embate verbal para sua tropa de choque no Congresso. Neste particular, é interessante observar os discursos exibidos pelas tevês da Câmara e Senado.
Quem vem acompanhando desde antes do impeachment fica com a sensação de que não pode crer nos seus próprios ouvidos.
Os discursos têm os mesmos conteúdos de antes, apenas trocaram-se os oradores. A antiga bancada governista diz o que falavam os opositores e vice versa. Para uns a crise vem das antigas culpas; para os outros os programas sociais são obra do novo governo.
E assim vai. O novo governo já lançou seu bordão: “abrir a caixa preta”. Isto, no dizer dos assessores de Michel Temer, vai bater diretamente em entidades (ONGs) que têm convênios com o governo federal e que não prestaram contas.
Só no Ministério do Planejamento havia mais de 20 mil projetos em exigência, isto é, em dívida. Isto se refere a pequenas organizações tão minúsculas que não têm condições técnicas para cumprir as intrincadas exigências pra prestação de contas da burocracia do serviço público.
Com isto, ficaram vulneráveis, impossibilitadas de receber novos aportes ou, mesmo, de se apropriar de recursos já aprovados.
Uma dessas “caixas pretas” seria o Ministério da Cultura, onde artistas e promotores culturais captaram pequenas quantias, irrelevantes, e ficaram com suas contas pendentes.
Além disso, há milhares de outros projetos que embora aprovados, estão em exigências burocráticas, esperando para receber o dinheiro.
Entretanto, muitos desses projetos já fizeram despesas e ainda não puderam pagar seus fornecedores, deixando os promotores com dívidas reais no comércio. É uma situação angustiante.
Segundo informações extraoficiais, o presidente interino teria dito que liberaria 200 milhões de reais para cobrir esse rombo. Essa promessa poderia acalmar protestos que se espalham pelo país, com ocupação de dependências do Ministério da Cultura.
Neste particular, o novo governo assustou-se com a reação da classe artística. Mexer com os famosos, mesmo pequenos saltimbancos, é cutucar uma casa de marimbondos. Michel Temer quer se livrar rapidamente desse incômodo.
No entanto, não conseguiu recuar, como ensaiou, recriando o Ministério da Cultura, como chegou a fazer e voltou atrás duas vezes.
O plano de seus gestores é levar o setor de volta para o Ministério da Educação, mesmo que seja por um tempo limitado, para desmontar a bomba relógio que foi ativada com a atabalhoada providência de simplesmente dar um canetaço num espaço tão sensível.
Com menor impacto, mas tão incômodo quanto o MinC, foi a intervenção na EBC, a empresa Brasileira de Comunicação.
Ali está a TV Brasil, uma emissora regida por um estatuto especial e gerida por um conselho integrado por segmentos da sociedade civil. É outro vespeiro.
Neste caso, porém, ressalva-se a Agência Brasil, uma agência de notícias do governo com grande aceitação no mercado. Esta empresa é, em milhares de casos, a única fonte de material jornalístico de pequenos e médios jornais das cidades brasileiras. Este segmento não estaria ameaçado.
Sua redação é comandada por um jornalista do mercado, o gaúcho Paulo Totti, veterano das mais categorizadas redações da história da Imprensa dos anos 1950 para cá.
Ali se produz um noticiário isento, informativo, que atende a toda a demanda de informações especificas sobre regiões e segmentos da administração, que estão além do foco da chamada grande imprensa, comprometida com noticiário de interesse dos grandes centros urbanos onde os jornais e tevês têm seus mercados principais.
A EBC pode escapar da caça às bruxas.
As unhas do Cunha
P.C. DE LESTER
O Cunha saiu dos holofotes e muitos analistas o consideram um cadáver político, que só falta enterrar.
Mas a verdade é que Eduardo Cunha está vivo e os sinais de sua vitalidade aparecem diariamente, não mais nas manchetes, nem por isso menos eloquentes.
“Cunha manobra para manter Maranhão na presidência da Câmara”, foi o título de uma nota secundária do Estadão, na sexta-feira.
Há um zumzum na Câmara e há quem dê como certa a eleição de um novo presidente nos próximos dias. Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, remanescente dos extintos “autênticos” do partido, é dado como o mais provável.
Até agora, no entanto, lá está o Waldir Maranhão, submerso depois do fiasco, mas no exercício do cargo.
Nesta segunda-feira, outra notícia: 300 deputados votaram em André Moura, do PSC, para líder do governo Temer. Moura é um dos aliados de Cunha na Câmara.
Mais: Arthur Lira, investigado na Lava Jato e também aliado de Cunha foi eleito para presidir a Comissão de Orçamento da Câmara.
Outra coisa que se diz: a influência do Cunha no governo Temer é próxima de zero. Mas outra notícia dá conta de que um ex-assessor de Cunha, Carlos Henrique Sobral, assumiu a chefia do gabinete do ministro Geddel Vieira.
Também Gustavo Rocha, que atuou como advogado de Cunha, foi nomeado para a sub-chefia de assuntos jurídicos da Casa Civil.
Por fim, informa-se que o próprio Cunha comparecerá nesta quinta-feira para fazer sua defesa na Comissão de Ética.
Será uma boa oportunidade para se ver se o Cunha é mesmo um cadáver a ser enterrado ou um incômodo fantasma a assombrar o governo Temer?
Dilma chuta o balde
PINHEIRO DO VALE
Parece que a presidente afastada Dilma Rousseff resolveu chutar o balde. Desiludida com a possibilidade de recuperar a base parlamentar que lhe devolveria o cargo e estimulada pelos correligionários de que a melhor tática agora é deixar Michel Temer sucumbir na crise e olhar para as eleições de 2018.
Ao se aferrar ao bordão do golpe, Dilma se afasta de vez dos senadores que a traíram, mas que seriam a tábua de salvação caso voltassem atrás.
Neste caso a melhor tática seria recolher-se ao Palácio da Alvorada como a princesa da fábula e esperar que viesse o príncipe sapo para resgatá-la da maldição.
Mas a presidente não quer o papel de Bela Adormecida. Vai à luta nas ruas e junto à militância, nos mesmos moldes da última trincheira em que se defendeu antes do impeachment.
Isto não resolve para reconquistar o terço mínimo do Senado, mas tira das costas da esquerda o fardo da crise nos seus aspectos mais negativos que lhe ameaçavam os votos: o desemprego e a inflação.
O problema do PT é estancar a hemorragia de adeptos e simpatizantes. As agruras da crise que recaiu sobre o partido fizeram desabar sua plataforma de lançamento de 27% para os 8% ou 9% que ficaram com Dilma até o final.
A eleição municipal está aí e logo à frente a nacional, pois fechadas as urnas em outubro já começa a nova corrida para o Palácio do Planalto.
A presidente ficou muito animada com os resultados de sua jornada final, quando teve espaço diário no Jornal Nacional.
Ali o povo pela primeira vez a viu na telinha como ela é, a mulher braba e decidida que não se intimida, bem distante da tecnocrata tímida dos pronunciamentos oficiais lidos no primeiro mandato. A Dilma guerreira do refrão. Ela pensa em manter essa chama acesa.
Para isto ela precisa correr o País e falar duro denunciando os golpistas. Ou seja: esquecer-se de fazer média com os políticos que poderiam devolver-lhe o mandato.
Este movimento já estaria em curso, iniciando-se com sua pressa de voltar a Brasília, quando o plano era passar uns dias em Porto Alegre esperando esfriar o seu caldeirão, enquanto se bota lenha no fogão do Michel Temer.
As dúvidas são: onde conseguir recursos financeiros para cobrir os custos de suas viagens pelo país? Como presidente afastada, reduzida à condição de simples liderança esquerdista, ela terá o mesmo espaço no Jornal Nacional? Ninguém sabe responder, nem mesmo se pode usar o avião da FAB para esse projeto.
Nesta semana ela vai reunir seu ministério paralelo. Ainda não dá para saber o quanto será possível manter seus ex-colaboradores na ativa, pois como todos estão cobertos pelos salários da quarentena, por seis meses, talvez estejam impedidos.
Os juristas do PT estão examinando o caso.
Na verdade, os ativistas do partido estão se mobilizando para as campanhas municipais, até porque algumas vitórias poderiam amenizar as ameaças de desemprego que turvam o horizonte de muitos militantes.
Neste caso da campanha eleitoral, dizem ser melhor Dilma ficar como vítima, longe dos palanques. Não seria produtiva sua presença ostensiva no terreno minado dos comícios.
Nada disso, contudo, está resolvido, pois se espera a palavra final do ex-presidente Lula, que está afastado dos holofotes, mas não ausente de todas as articulações que ocorrem nos bastidores.
A prioridade de Lula é correr para recuperar o tempo perdido nos embates do impeachment e costurar as alianças nos municípios, que passam na maioria dos casos, pelos partidos traidores.
Na política brasileira, cada espaço é um espaço: nos municípios as legendas de aluguel têm força. Por isto, não vale muito a pena ficar dando pauladas nesses aliados a torto e a direto.
Os algozes da Câmara e do Senado têm muitas caras. Realpolitik é a força do ex-presidente Lula. Nos municípios ele pretende tecer o pano de fundo para 2018.
O dia seguinte
PINHEIRO DO VALE
Afastada Dilma Rousseff da presidência da República, levando consigo o PT para a oposição, volta ao primeiro plano uma agenda da reforma política, defendida, aliás, por todos os grandes partidos e temida pelas pequenas agremiações, tanto as ideológicas como as de aluguel.
A maior incógnita dessa possível evolução está na reorganização da esquerda, caso vingue a proposta aparentemente invencível de uma reforma partidária no curto prazo.
Nos meios políticos há o temor de que a reorganização venha pela via da Justiça Eleitoral, daqui a dias sob o comando do último ministro nomeado por Fernando Henrique Cardoso, o paulista Gilmar Mendes, que assume a presidência do TSE.
Neste caso, supõe-se que Mendes daria um canetaço proibindo as coligações partidárias nas eleições proporcionais, o que, por si só, precipitaria o desbloqueio desse tema no Congresso.
Sem o guarda-chuva das grandes legendas, desaparecem do cenário parlamentar quase todos os partidos que atualmente têm suas mini representações no Congresso.
Nas agremiações de direita a extinção das legendas de aluguel varre quase todos os micros partidos criados para obter tempo em televisão nos horários eleitorais das eleições e engordar as quotas de cada bloco no rateio do Fundo Partidário.
Na esquerda é um tumulto.
No segmento conservador, sem grandes definições ideológicas, essa reacomodação é tranquila.
Na esquerda essa cirurgia tráz graves consequências, pois tira de cena partidos ideologicamente definidos e com grande tradição nas lutas política do País, tanto em tempos normais como na clandestinidade em ditaduras.
O mais notório perdedor é o PCdoB, o Partido Comunista do Brasil, herdeiro direto dos fundadores da esquerda revolucionária no Brasil, há quase 100 anos, desde a década de 1920.
Outro perdedor importante é o filho pródigo do PT, o PSOL, duro opositor da presidente Dilma Rousseff, mas que teve uma participação decidida na campanha contrária ao golpe recém-aplicado pelo vice-presidente em exercício Michel Temer.
Fundado pela então deputada gaúcha pelo PT, Luciana Genro, para se opor ao presidencialismo de coalizão do presidente Lula, o PSOL evoluiu e se desenvolveu em vários pontos do Brasil, avançando para se tornar um partido nacional. Esta carreira pode ser interrompida.
Esta evolução do PSOL se concretizava depois do êxito de sua candidata nos debates televisivos nas últimas eleições presidenciais de 2014. O PSOL se colocava como alternativa à esquerda do PT, uma posição disputada por outras mini legendas que, no entanto, jamais conseguiram passar das esferas corporativas ou estudantis.
Esta barreira foi ultrapassada, mas com nova legislação das coligações provavelmente esse partido perderá sua representação parlamentar com bandeira própria.
Tudo seria facilmente resolvido se a esquerda se articulasse com facilidade, tal como o PMDB, por exemplo, que tem grande experiência na formação de frentões.
Entretanto, nesse segmento as composições são difíceis, como dizia Gaspar da Silveira Martins, autor da célebre frase “ideias não são metais que se fundem”.
A convivência entre esses aliados sempre foi complicada. É um desafio de engenharia política abrigar todos sob uma mesma legenda, principalmente sob a hegemonia do PT.
Porém, depois do fracasso do modelo de coalização, tido como o principal responsável pelaq ueda da presidente Dilma, pois é um monstrengo ingovernável, as restrições de acesso ao parlamento tendem a se impor, eliminando os pequenos partidos.
Os chefões da política, que foram os inventores do sistema de legendas de aluguel, pesando o resultado do custo e benefício, tendem a se conformar com o final dessa fórmula rotulada de esdrúxula.
Na esteira dessa primeira reforma podem levar a reboque e se acrescentar outros dispositivos, como um semiparlamentarismo com eleições antecipadas, com dissolução da Câmara no caso de desabarem as maiorias parlamentares, preservando a presidência da República, que seria mais cerimonial que executiva.
Também pode mudar o sistema proporcional, com a reserva de 50 por cento da Câmara para o voto distrital.
Neste caso haveria antecipação das eleições, como está sendo proposto. Se for assim, não é de se descartar uma interrupção do processo de impeachment em curso no Senado, convocando-se à presidente Dilma para presidir a transição, pois ela seria uma figura neutra nesse cenário.
Esta seria uma saída, pois a solução judicial, pelo TSE, com a proibição das coligações proporcionais, somente poderia entrar em vigor depois do pleito de 2018.
Até lá o País viveria nas incertezas de um presidencialismo de coalizão sem um presidente com força suficiente para implementá-lo.
Se Dilma não pode mexer os pauzinhos com 54 milhões de votos, que se dirá de Michel Temer, sem nenhum.
O recado do Cunha
P.C. de Lester
A mídia rapidamente descartou a hipótese de que Eduardo Cunha tenha sido o inspirador do tresloucado gesto de Waldir Maranhão, o presidente da Câmara em exercício, que anulou a sessão do impeachment e, horas depois, voltou atrás.
É conveniente, para os que fomentam o golpe, que tudo pareça mais uma trapalhada de um governo em frangalhos.
Por isso, sem apuração, apenas com base em algumas evidências e em declarações interessadas, concluiu-se que o presidente interino foi pura e simplesmente aliciado pelo governador Flávio Dino e pelo ministro José Eduardo Cardoso, da PGR.
Para que a “narrativa” ficasse convincente, quase se ignorou o encontro que Maranhão teve com Cunha, na sexta-feira, antes de sair de Brasilia. Dali, ele foi falar com Temer?. Qual o recado? Não vem ao caso.
Depois disso, pelo que se pode ver no noticiário, é que ele foi a São Luís. De lá retornou num avião da FAB com o governador Flávio Dino.
É verossímil descartar Cunha desse enredo?
Convém lembrar que Maranhão surpreendentemente votou contra o impeachment, mas ao justificar seu voto referiu-se a Cunha e proclamou sua fidelidade ao “sr. presidente”.
Cunha emitiu uma nota descartando qualquer envolvimento na manobra da anulação e desqualificando Maranhão. Talvez esta seja a única parte que não combinaram. Não precisava, Maranhão sempre foi da confiança de Cunha.
Não foi por outro caminho que ele chegou à vice-presidência da Câmara, apesar de seu gritante despreparo.
Waldir Maranhão não é uma raposa cheia de manhas e espertezas. Ele é mais um porco espinho, que sabe uma coisa essencial: ele sabe que o chefe é o Cunha.
E o chefe só queria mandar um recado aos que estão tentando abandoná-lo à própria sorte.
A marcha dos mentecaptos*
Benedito Tadeu César**
Nesta quarta, 4 de maio de 2016, na Câmara Municipal de Porto Alegre, seria reavaliada a Moção de Repúdio ao Reitor, ao Vice Reitor e a um professor da Faculdade de Direito da UFRGS por terem permitido e participado de debates sobre o momento político atual na universidade.
Na votação realizada na semana passada, a moção foi aprovada por 14 votos contra 13.
Os debates foram acalorados. O auditório da CMPA foi ocupado por manifestantes a favor e contra a moção e os ânimos se exaltaram, tanto no Plenário quanto no Auditório.
A ala da direita urrava impropérios contra o “comunismo” e pela “escola sem ideologia”. A da esquerda gritava por democracia e contra o fascismo.
Todos os vereadores que se manifestaram, a não ser o proponente da moção, declararam voto contrário a ela, em nome da liberdade de pensamento e de expressão. O proponente, em seu discurso, em dado momento, fez menção a mim, afirmando que o professor Benedito Tadeu César, militante do Partido dos Trabalhadores, se utiliza dos bens públicos para fazer pregação ideológica em sala de aula, utilizando equipamentos e emails da universidade para isso.
Ao final dos debates, a moção em discussão foi retirada, obedecendo a um acordo feito entre as partes em disputa. O vereador que censurava a UFRGS, seu reitor, vice e professores, retirou a moção em troca da retirada de moção anterior que censurava o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) pelo apoio que expressou à médica pediatra que se recusou a atender ao filho da suplente de vereadora do PT, Ariane Leitão, por motivos ideológicos.
Na saída do Auditório da CMPA, cruzei com o vereador proponente da Moção de Repúdio à UFRGS e que havia feito referência a mim. Tentei esclarecer, cordialmente, que ele estava mal informado a meu respeito.
Disse-lhe que, mesmo que eu quisesse me utilizar dos bens, do ambiente e dos alunos da UFRGS para fazer pregação ideológica, eu não poderia pelo simples fato de já ter me APOSENTADO desde o mês de julho de 2010.
Disse-lhe que a desinformação pode provocar erros graves e que ele deveria ser mais cuidadoso em suas afirmações. Ele respondeu que eu havia proposto à Associação dos Docentes da UFRGS uma nota contra a sua moção, ao que eu lhe respondi que ele continuava mal informado, pois, não obstante eu tenha sido diretor da ADUFRGS, me encontro há anos afastado da militância docente.
Exaltado, ele pôs-se a gritar, chamando-me de filho da puta!
Subi o tom, respondendo-lhe que lhe faltava educação e que ele me devia desculpas, tanto pela calúnia relativa ao uso indevido da posição de docente universitário, quanto pela ofensa que ele acabava de me fazer.
Afirmei que se ele não o fizesse eu o processaria por calúnia e injúria. Chamei-o de mal educado e de mentecapto* e, ao mesmo tempo, afirmei que ele sequer deveria saber o significado desta palavra.
Ânimos serenados, dirigi-me à saída do edifício, quando fui alcançado por um funcionário da CMPA, informando-me que três integrantes da Banda Loca, que compunham a maioria da platéia favorável à Moção de Repúdio aos Reitores e Professor da UFRGS, estavam planejando me bater na saída do prédio.
Caminhamos até a porta principal, no andar superior, e, ali, o funcionário chamou dois seguranças que se encarregaram de retirar os indivíduos que me esperavam, com cara de poucos amigos, na rampa de acesso.
Enquanto esperava para sair em segurança, algumas senhoras de idade avançada e moças aproximaram-se do vereador Adeli Sell (PT), celular em punho, chamando-o de “corno”, na tentativa de fazer com que ele revidasse.
Outros integrantes da Banda Loca surgiram, também com celulares em punho, e tentaram provocar tumulto, nos empurrando e insultando, com o objetivo de criar uma reação e filmá-la.
Antes disso, ainda durante os debates em Plenário, eles já haviam provocado um tumulto envolvendo uma aluna da UFRGS, que foi intimidada, e um professor universitário de outra universidade que saiu em sua defesa.
Naquele momento, ele filmaram a reação do professor e estão divulgando o vídeo editado na página da Banda Loca e do MBL.
A direita raivosa e obscurantista avança.
Na verdade, por trás do aparente recuo advindo da retirada da Moção de Repúdio à UFRGS, o que ocorreu foi uma vitória, ainda que relativa, desta direita babona.
Ao que tudo indica, a Moção contra a UFRGS foi uma reação contra a Moção de Repúdio ao Simers e seu apoio à discriminação ideológica a uma criança.
Atacaram a UFRGS para conseguir um acordo que sepulta um ato de barbárie contra a inteligência e a tolerância política.
O acordo feito, ainda que necessário para manter o equilíbrio na CMPA, favorece enormemente às forças do atraso e da incivilidade.
* mentecapto adjetivo substantivo masculino
1. que ou quem é mentalmente desordenado; que ou quem perdeu o juízo, o uso da razão; alienado, louco.
2. que ou quem é destituído de inteligência, de bom senso; tolo, néscio, idiota.
**Benedito Tadeu César é cientista político