PC de Lester
O que caracteriza o golpe contra o governo Dilma não é o processo de impeachment em si. O que caracteriza o golpe é o “conjunto da obra”.
A cooptação de políticos, a manipulação das informações, os vazamentos seletivos de denúncias, a criminalização de determinadas lideranças, enfim um conjunto de iniciativas que configuram um assalto à opinião pública.
Foi assim no último golpe, percebe-se o script nos eventos de hoje.
Em 1964, quando o general Mourão Filho botou as tropas na rua, o golpe já estava vitorioso.
Ele se antecipou, para ficar com os louros de ser o chefe, como fica muito claro no seu Diário de um Revolucionário (LPM, 1978). Acabou alijado no primeiro minuto.
Quando Auro Moura Andrade, presidente do Senado, declarou a Presidência vaga na madrugada de 2 de abril, embora João Goulart ainda estivesse em Porto Alegre, já estava combinado que os jornais dariam em manchete que o presidente havia fugido.
Quando Michel Temer abandona o governo e “vaza” seu manifesto, ele já sabe que a imprensa vai tratá-lo, não como um traidor oportunista, mas como um estadista que apresenta seu programa de salvação do país.
Um comentarista político, que habita o centro dos acontecimentos, escreveu há um mês: “Alguém precisa dizer a Dilma que ela já caiu”. A Rádio Gaúcha, às dez da manhã do domingo do impeachment, já entrevistava Eliseu Padilha como o estrategista vencedor.
Um golpe começa muito antes, demanda muito tempo e dinheiro e não se concretiza sem uma longa conspiração, que envolve operadores profissionais, oportunistas conscientes, omissos por conveniência e, como a cobertura do bolo, uma imprensa competente para o assalto à opinião pública, que dá validade política ao golpe.
Autor: da Redação
Ás 10h da manhã o impeachment estava aprovado na Gaúcha
P.C. de Lester
Às 9h43 deste domingo histórico, os ouvintes da Rádio Gaúcha podiam ter certeza que o impeachment da presidente Dilma Rousseff seria aprovado na votação da tarde.
Desde o início da cobertura especial, às 9h04 a emissora, que é cabeça da maior rede de rádio na região Sul, com alcance no país inteiro, dava garantias aos seus ouvintes que “o governo perdera a confiança dos deputados” e isso explicava o “cenário desfavorável” que seus repórteres observavam nos bastidores do Congresso.
Uma campanha intensa, que incluía inclusive comissões da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e federações de empresários, captavam os últimos votos a favor do impedimento da presidente.
Até a ausência dos deputados governistas era interpretada como um sinal da derrota. “Realmente só chegaram até agora os defensores do impeachment. Talvez por estar tranquilos já estão chegando, enquanto os adversários estão ainda trabalhando votos”.
“O que se diz aqui é que eles já tem 368 votos”, informou a repórter.
E a comentarista postada na entrada do Salão Verde, completou: “A oposição chega mesmo ao dia decisivo em vantagem. O trabalho nas regiões foi intenso; na Bahia, por exemplo foi importantíssimo revertendo votos…”. Em seguida, quase sem transição: “Se aprovado aqui na Câmara, é quase impossível que o Senado não acolha”.
Então foi chamado um especialista em Direito Constitucional para “ajudar os ouvintes da Gaúcha a entender os próximos passos”.
Quando o sinal deu 10 horas, o deputado Mauro Pereira, do PMDB, falava em “varrer esse governo para o bem do Brasil” e, aproveitava para tentar defender Eduardo Cunha.
Os números que o governo divulgara na madrugada anterior, de que teria 200 votos para barrar o impeachment, não foram sequer lembrados.
Renascer das cinzas
Pinheiro do Vale
Rei morto, rei posto, é o ditado.
Isto para dizer que os elementos mais pragmáticos do núcleo duro do Palácio do Planalto, os fiéis soldados da presidente Dilma Rousseff, os que não abandonarão a trincheira, resistindo até a última gota de sangue, já estão traçando cenários para estudar as variadas possibilidades dos fatos novos que podem se produzir a partir desse domingo, 17 de abril.
Há planos para todo o tipo de futuro. Um dos mais interessantes é que sendo cassada num processo nitidamente viciado, internacionalmente reconhecido como fraudulento e conduzido por um conluio de políticos suspeitos, para dizer o mínimo de seus algozes, Dilma surpreendentemente para muitos pode ressurgir como uma grande liderança popular.
É por isto que estes cenaristas estão estudando, com seus juristas, as várias hipóteses de afastamento da presidente relativamente a seus direitos políticos.
Neste caso ela não poderia ser punida com a cassação de oito anos previstos para políticos depostos em crimes de responsabilidade.
A reportagem do New York Times é uma pista a ser seguida: a matéria acendeu os holofotes do sistema de internacional de apoio a movimentos sociais brasileiros ou estrangeiros sustentados por essas grandes organizações humanitárias que tanta ajuda deram às esquerdas brasileiras no passado.
Deposta, Dilma pode se converter numa estrela da esquerda internacional. O problema é que este desdobramento não lhe interessa muito, neste momento.
É isto que explica sua frase até hoje incompreendida: “Se cair serei uma carta fora do baralho”. Ou seja: “já fiz minha parte, agora me deixem envelhecer em paz”.
Dilma não terá esse descanso. O quadro político é muito favorável a ela nas duas hipóteses. A mais obvia é vencer o processo político ou derrubar o impeachment na Justiça e continuar presidente.
Não é só disto que se fala nos bastidores. Também da outra possibilidade, qual seja: relançado o processo eleitoral, caso por algum motivo pessoal (desencanto), familiar (pressão de mulher e filhos), de saúde, ou legais, Lula desista de 2018.
Neste caso, uma vez mais Dilma será o melhor nome e mais evidente expressão da esquerda para enfrentar o quadro fragmentado que se espera para o próximo pleito nacional.
Rápida análise da imagem que projeta seu desempenho nos últimos meses: mulher honesta, pessoa de reputação pessoal irretocável, lutadora, enérgica e, principalmente (para efeito de marketing eleitoral), vítima de uma conspiração.
Como isto chega no “povão”, no lado positivo: ela bradou que está sendo vítima de um “golpe”, expressão de fácil compreensão, associada à desonestidade.
No jargão popular golpe está, no mínimo, ligado à esperteza negativa. Golpe do vigário, golpe do baú… Mesmo golpe de sorte é suspeito, pois vem mais do acaso que do esforço.
Assim, golpe político é um bom slogan facilmente compreensível para tipificar uma violência, um roubo.
Se cair Dilma terá sido abatida por uma crise incontornável. É verdade que sua derrocada se daria numa baixa de popularidade. Entretanto, assim como ela não pode vencer a própria esquerda e implementar seu programa econômico, também a direita estará de mãos atadas para levantar os recursos necessários para ajustar as contas do Estado.
Sem um choque fiscal não há como regularizar o caixa da União. Não se esqueça de que tucanos e a FIESP fizeram do pato amarelo do imposto seu símbolo de luta. Seus algozes serão assombrados pela mesma maldição.
Em dois anos a crise pode relançar a esquerda e, também, o próprio PT, hoje estigmatizado. O Lavajato se conclui em dezembro, soltando o pé do partido das garras da mídia conservadora.
Se conseguir os meios para manter acesos os movimentos sociais, as ruas não darão trégua à direita, mantendo a pecha de golpismo carimbado na testa dos novos governantes.
É claro que, limpidamente, o candidato é Lula. Mas ele tem tantas barreiras que, como em2008, acossado pela maldição da sucessão em seu gabinete, escolheu um nome improvável, Dilma Rousseff, pode voltar à mesma solução.
Dilma não é maquiavélica. Pelo contrário, é uma pessoa de mente limpa. Entretanto, nos corredores do Palácio fervilham ideias e hipóteses. Em primeiro lugar é preciso contornar a inelegibilidade, não deixando o caldo entornar.
Em segundo articular uma resistência heroica e produtiva.
Em terceiro, manter-se na mídia, nacional e internacional, atraindo simpatias.
Em tal hipótese, Michel Temer é um sucessor sob medida: impopular, não controla seu partido e, mais ainda, terá de administrar um fracasso anunciado, por mais técnicas que sejam as medidas que seu governo tomar. Com a reeleição em vigor, ele viverá às portas do inferno, no mesmo barco dos demais candidatos.
Dilma poderá ressurgir triunfante das cinzas. Preste-se atenção aos próximos passos, pois ela poderá pular não fora do baralho, como gostaria. O importante é preservar seus direitos políticos. Dilma 2018, quem diria?
O “fator Cunha” na hora do vamos ver
P.C. de Lester
Na véspera da decisão da Câmara sobre a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a imprensa estrangeira está dando as manchetes que a nacional tem escamoteado. El Pais: “Cunha é o preço vergonhoso que a oposição aceitou pagar”.
“A imprensa estrangeira e parte da nacional se estarrece na hora de descrever a ficha corrida dele e dos aliados que comandarão o Big Brother da destituição até domingo na Câmara”, diz Flávia Marreiro no espanhol El País.
“Os aliados do vice-presidente Michel Temer tentam acalmar os mais desconfortáveis garantindo que, ao menos, Cunha não será mais presidente da Câmara depois que o serviço estiver feito. Pode ser, mas não faltará em seu círculo quem avalie que seria burro tirar um político tão competente e com um comando ímpar da Casa justamente quando se promete aprovar projetos que necessitam de grande número de votos”.
The New York Times, maior jornal do mundo, foi ainda mais fundo. Disse que Dilma, honesta, está sendo julgada por incriminados como Eduardo Cunha, que, nesta sexta-feira, foi denunciado por mais um delator, que o acusou de receber propina de R$ 52 milhões em 36 parcelas”
A imprensa nacional ainda mantém o “fator Cunha” como um dado secundário, que pode passar batido, diante da importância que é tirar Dilma da presidência.
Mas aos poucos uma parte da opinião pública não partidarizada começa a se dar conta do que pode significar esse “pacto com Cunha”.
Na terça-feira a comentarista política da RBS, Carolina Bahia, disse na Gaúcha que colhera em fonte segura a informação de que estava fechado um acordo para blindar Cunha, depois do impeachment, sem lhe tirar o poder real.
Cunha deixaria a presidência da Câmara, que seria assumida por Rogério Rosso, aliado de Cunha que presidiu a Comissão que acolheu o impeachment na Casa.
Sob a proteção do foro privilegiado e com sua imensa capacidade de manobrar nos bastidores, Cunha enfrentaria os processos por corrupção no Supremo.
Rosane de Oliveira, no estúdio em Porto Alegre, brincou, quando a colega encerrou o seu relato: “Vou ter que tomar um Engov para aguentar essa notícia”.
Curiosamente, o fato não voltou mais à pauta, a não ser por comentários de passagem: “Não convém esquecer que Cunha está incriminado na LavaJato”.
Agora, de fora para dentro, está ficando claro o risco de ficar nas unhas do Cunha.
Pelo menos para quem acredita que o item 1 da agenda brasileira deve ser manter e ampliar o combate à corrupção.
Uma brecha que pode ser fatal para o impeachment
Pinheiro do Vale
O jogo só dá impedimento. Cada vez que a bola bate no fundo da rede lá está o bandeirinha com braço levantado decretando o off side e a pelota volta para o tiro de meta.
É o que parece este embate do impeachment – cada vez que a oposição quer marcar na banheira e lá vem o Supremo mandando voltar atrás.
Esta imagem serve para mostrar o que ocorreu ontem à noite no plenário do STF.
Com isto, toda essa gritaria que se está fazendo no plenário da Câmara dos Deputados desde a manhã da sexta-feira, devendo prolongar-se até à tarde de domingo, seriam palavras ao vento.
Ninguém quer botar a mão em cumbuca. O fato relevante do dia é que o Supremo devolveu a bola que estava no fundo da sua rede para o legislativo, sem alterar o placar.
Ou seja: deputados podem dizer e votar o que quiserem, mas quem decide se o tal relatório da Comissão Especial tem ou não valor legal é o Senado Federal.
Ou seja: o relatório da Câmara é só uma queixa. O Senado é que pode dizer se vale ou não para abrir um processo.
Entretanto, isto ainda não é definitivo porque o Supremo reservou-se o direito de dar a última palavra, caso as regras que estipulou não sejam respeitadas pela Câmara Alta.
Aí está o “pissilone”. O STF julgou dois pedidos de mandados de segurança idênticos. Um deles impetrado pela presidente Dilma Rousseff.
O outro pelo deputado Weverton Rocha, do PDT do Maranhão. Os dois pediam a anulação do relatório do deputado Joavair Arantes (PTB de Goiás).
Espertamente os ministros denegaram, quase unanimes, a ação da presidente, como a dizer que a chefe do Executivo não dobra ninguém naquela Corte.
Logo em seguida, o mesmo relator, Luiz Edson Fachin, denega o pedido do parlamentar do baixo clero maranhense, mas deixa uma brecha que pode ser fatal para o impeachment. É a casca de banana.
No primeiro veredito fica sentenciado que a Câmara não julga, mas só acusa, se vencer a aprovação do relatório. Liberados os deputados para irem em frente.
Em, seguida, o mesmo ministro Fachin derruba a ação seguinte, mas deixa um espaço para o presidente da corte, ministro Ricardo Lewandowski, na setença, relembrar os limites da Câmara: a denúncia deve se ater ao ato de admissibilidade, ou seja, julgar a legalidade das pedaladas e dos créditos da safra.
Nenhum dos dois “crimes” é criminoso, pois as pedaladas foram dadas em 2014, fora dos limites de culpa, e os créditos para a agropecuária são atos do ministro da Fazenda e do Conselho Monetário Nacional.
Ou seja: a presidente da República não responde por isto.
É assim que a questão vai cair no colo do Senado. Isto se a Câmara aceitar o relatório da Comissão Especial do Impeachment, pois muita água vai correr até à tarde de domingo. Ainda não está definido.
Aprovado o impeachment na Câmara. caso os senadores resolvam abrir o processo, não obstante os limites legais estabelecidos pelo Supremo, a Justiça pode barrar a decisão e impedir que a presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo até um julgamento de mérito, mais demorado e com amplo ritual.
O ministro Lewandowski foi muito enfático ao definir os poderes do STF para barrar o impeachment se vier eivado de ilegalidades:
“Embora não tenha sido eleitos pelo povo, juízes têm legitimidade nacional. Como juiz da Suprema Corte, tenho legitimidade, sim para rever os atos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário”, disse o presidente do alto de seu trono de chefe do Poder Judiciário, reafirmando que o Supremo tem direito para rever os atos dos demais poderes da República.
Assim, os deputados vão entrar numa armadilha política e legal.
Se aprovarem o impeachment não podem implementá-lo. E não adianta botar os coxinhas na rua, pois aí estão as forças Armadas para garantir que as decisões finais do Judiciário sejam acatadas por toda a sociedade, doa a quem doer.
Quota de traições vai definir placar final do impeachment
Pinheiro do Vale
Nesta quinta-feira, circulou em Brasília um placar apurado pelo PC do B dizendo que Dilma Rousseff vai ter 192 votos contrários ao impeachment na votação de domingo, na Câmara dos Deputados.
Este é o número mais conservador das hostes governistas, menos do que os 203 votos apurados pelo ministro Jacques Wagner, da secretaria pessoal, dando como favas contadas que o relatório da comissão será rejeitado.
Já a oposição, na contagem de Veja, teria 332 votos pelo impeachment, contra 123 contrários.
Ou seja: se for assim o jogo ainda está zero a zero, pois nenhum desses resultados atinge a quota mínima para validar alguma continuidade do processo. Fica tudo como está.
O que se comenta, efetivamente, é que a quota de traições irá definir o placar final.
Pode ser que muitos parlamentares que deram a sua palavra a Michel Temer, na hora agá deem para trás. Ou o contrário: fiéis apoiadores do governo, vendo a casa cair, podem roer a corda.
O que mais se comenta, nas áreas sujeitas à traição, é que as tais “pressões das bases” vão definir o que será o placar final.
Leia-se que essas tais “pressões” são cobranças de financiadores de campanha, nos estados, que estão agarrando seus deputados pela goela para que obedeçam a seus senhores.
Segundo se fala nos corredores, esse número poderia chegar a 60 parlamentares que não saber a qual santo acender suas velas.
Eles estariam com a corda no pescoço de um lado, mas contando que, se o impeachment cair, poderão obter favores e prestígio junto ao governo sobrevivente, a ponto de se redimirem com os donos do dinheiro.
“É aí que acontece aquilo que a oposição chama, em Brasília, de “balcão de negócios” e os governistas de “ação individual extrapartidária”, ou conquista de “voto a voto”.
Isto na área política, pois ainda está pendente a reação judicial às contestações de legalidade do processo político desencadeado por Jovair Arantes, relator do processo, integrante do PTB de Goiás, partido que até pouco tempo integrava a base aliada.
As nuvens da política continuam mudando sua forma a cada lufada de vento.
Um plano B para o Alvorada
Pinheiro do Vale
A pá de cal. É assim que muitos observadores chamavam ontem à noite, em Brasília, a ação do ex-governador de Santa Catarina, Espiridião Amim, que fez o PP descer do muro para o lado do impeachment, trazendo consigo uma enxurrada de indecisos, que está pondo em perigo o mandato da presidente Dilma Rousseff.
Se o governo cair, Amin vai se consagrar como líder da direita no sul do País. Dizem quequando Lula soube, anteontem, que o catarinense poderia dobrar o seu partido, herdeiro em linha direta, de sangue da antiga Arena, comentou com os intelectuais que estavam junto com ele na Fundação Progresso, no Rio, numa manifestação pró Dilma: “a vaca foi pro brejo”, disse o ex-presidente a um grupinho que tinha, entre outros interlocutores, Chico Buarque de Hollanda e Eric Nepomuceno.
Entretanto, como dizia Honório Lemes, “não está morto quem peleja”.
A presidente e seu grupo, ainda na linha do Leão do Caverá, “está batendo em retirada com pouca munição, mas lutando”.
Ao contrário do que se imagina, não há hipótese de ela achicar se for perdendo os embates políticos nesta fase parlamentar.
Seu plano é que se a crise chegar à beira do precipício, ou seja, tendo de se afastar da presidência enquanto o Senado Federal julga as razões da Câmara dos Deputados, ela vai se entrincheirar no Palácio da Alvorada para comandar a resistência.
Como presidente, Dilma tem o direito de permanecer na residência presidencial. Temer fica com o Planalto, mas não pode mandá-lo embora do Alvorada.
O plano é não se entregar. Muitos aliados da presidente, os mais aguerridos, chegam a dizer que vão construir um bunker, expressão que os seus marqueteiros não gostam por suas conotações históricas negativas, embora a ideia de uma fortaleza inexpugnável, que é o sentido dessa palavra, seja o objetivo.
Dilma e seus seguidores pretendem manter acesa a chama da resistência, mobilizando os partidos que a apoiam e demais movimentos sociais. Todos na rua, bradando contra o golpe, enquanto, esperam os dilmistas, que o vice-presidente em exercício se afunde nas mazelas da crise econômica.
Em 180 dias o país poderá ter outra cara e todos os atores políticos venham a entender que Dilma é a melhor solução, pois não é candidata e terá propostas concretas para pacificação do país.
Uma delas seria chamar uma constituinte para a reforma política, tal como ela propôs e todos rejeitaram, depois das grandes manifestações de 2013.
Um ator insuspeito, o senador Paulo Paim, pois embora sendo da esquerda, não pertence ao círculo íntimo nem ao núcleo duro do governo, mas é petista de carteirinha e gaúcho, como Dilma, o que dá uma certa credibilidade à iniciativa. Paim apresentou ontem no Senado um
projeto de reforma constitucional convocando as eleições para essa constituinte já agora em outubro, junto com o pleito municipal. Seriam 129 membros eleitos com a finalidade de mudar o sistema político partidário e, eleitoral do Brasil.
Isto tudo são conjecturas, para que ninguém diga que não há um Plano B.
A verdade verdadeira, até o momento, é que o jogo continua empatado, pois se Temer não tem os 342 votos que precisa para derrubar a presidente, Dilma também ainda não conta com os 171 para barrar o processo no plenário da Câmara.
O ambiente piorou muito depois que o PP desembarcou. Como se dizia: O Espiridião abriu a porteira. É o efeito manada, que já se expressa em algumas crônicas. Para os articuladores do governo, o importante é conter a debandada.
É um desafio descomunal para uma executiva de perfil administrativo, como Dilma, ter de enfrentar as mais felpudas raposas da política brasileira. É possível que ela tenha subestimado seus adversários.
Dilma não cai
Pinheiro do Vale
Maquiavel perde. Muita gente chama Aécio Neves de Tancredinho, numa alusão a seu avô, mas ele tem se revelado mais um Tancredão, pois adiciona uma dose de maldade política à celebrada esperteza do ex-presidente Tancredo Neves.
É isto mesmo: o rapaz mineiro revela uma capacidade inigualável de desnortear seus adversários, pois quando se pensa que ele está indo, já está voltando. É o caso de sua atuação neste caso do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Domingo a presidente vai levar um susto, mas não será defenestrada do Palácio da Alvorada. Escapa por pouco. Este é o plano, pois para o jovem tucano não interessa sua deposição. Pelo contrário: mantendo-a no Palácio do Planalto, tutelada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, ele sai da linha de fogo sem prejuízo político-eleitoral.
Primeiro: Dilma não é candidata, portanto não é adversária. Segundo, com suas manobras de vai não vai, enfogueira Michel Temer aqui, se afasta do PMDB ali, quando chegar domingo estarão frente a frente Lula e Temer, enquanto ele assiste de camarote a briga de faca dos paulistas.
Lula foi de certa forma encurralado, pois teve de entrar em campo aos 45 minutos do segundo tempo. Encontrou um jogo embaralhado no campo adversário: Marina Silva falando em eleições já, mas torcendo para deixar aos tucanos a pecha de golpistas; os tucanos patrocinando o processo de cassação, dão os votos no plenário, mas negam ao PMDB o apoio para o governo pós impeachment. Quer dizer, apostam no tumulto.
Temer está tranquilo, aparentemente. Vazou seu áudio, atribuindo o fato a uma barbeiragem no celular, mas já se coloca fora do governo, ou seja, em campanha como oposicionista. Ao mesmo tempo, seu partido poderá ficar dos dois lados, compondo a nova base aliada, apresentando-se como força dividida, para manter ministérios sem perder a imagem de independente com candidato próprio.
E o Eduardo Cunha? Isto é uma outra história. Como vítima, aglutina os evangélicos na rubrica da perseguição religiosa.
E o Lava Jato? Será o grande legado de seu governo, o combate intransigente à corrupção, não obstante os arrufos com o juiz Sérgio Moro por conta de seus vazamentos seletivos.
Está, portanto, feito o jogo. As cartas estão na mesa: Lula, Temer, Aécio e Marina no ringue. Dilma sangrando, gritando, incomodada e imobilizada por um indemissível vice-presidente que não pode assumir interinamente, amargando uma oposição na base do quanto pior melhor. Ou seja: nada de novo.
Gafe de Temer e ato com artistas no Rio tiram força do impeachment
No início da tarde, a bomba foi o áudio que vazou com um discurso do vice presidente Michel Temer, falando como se o impeachment já estivesse consumado.
No fim do dia, um ato com Lula, Chico Buarque e dezenas de artistas e intelectuais reuniu milhares de pessoas no Rio.
Esses dois fatos reforçaram uma tendência que já vinha se delineando nos últimos dias e que sinaliza para o enfraquecimento do processo de impeachment da presidente Dilma, que entrou em sua fase decisiva na Câmara Federal.
Enquanto os deputados da Comissão Especial que analisa o pedido de impeachment batiam boca no Congresso, Beth Carvalho cantava no anfiteatro da Fundição Progresso, no Rio, um sambinha recém composto: “Não vai ter golpe de novo/ reage, reage meu povo”.
O frei Leonadro Boff disse que estava ali para “o sepultamento do golpe” e Nelson Sargento, decano dos sambistas brasileiros, aos 91 anos, gritou: “Eu não dormiria direito essa noite se não viesse aqui”.
A manifestação prosseguiu do lado de fora, sob os arcos da Lapa, onde era aguardado o discurso do ex-presidente Lula.
A aprovação do relatório pelo impeachment na Comissão Especial, no início da noite, perdeu boa parte do impacto que teria ante esse novo quadro. A decisão está prevista para domingo quando o processo será votado no plenário da Câmara.
Dilma se compara a Vargas por ataques à familia
Pinheiro do Vale
Quando a presidente Dilma Rousseff se compara a Getúlio Vargas, como fez na visita à reunião da Executiva do PDT que fechou questão contra o impeachment, ela de fato não se refere à questão política na Câmara, mas aos ataques à sua família.
Embora não tivesse falado de viva voz, ainda lhe repugnava a baixeza da reportagem de capa da revista Época em que uma equipe inteira procurou sem êxito encontrar alguma migalha que pudesse ligar seu ex-marido Carlos Araújo a algum malfeito, por menor que fosse.
A matéria de Época é um vexame para o jornalismo brasileiro, que se mostra ridículo por produzir profissionais dessa categoria. Expõe sócios controladores cobrando resultados a qualquer preço, sem nenhum prurido ético; um diretor de redação desesperado por sua incompetência para manter-se no cargo; editores de texto medíocres distorcendo declarações e comprometendo descaradamente amigos da família com conteúdos contrários ao que disseram; repórteres tresloucados, errantes no deserto a procura de cavalos com chifres. Uma vergonha! Diria o velho Boris Casoy.
Isto vem da sofreguidão para esconder o tamanho do fracasso, diminuir a distância de concorrentes. Uma ideia brilhante do gênio da redação de Época: “O ex-marido”. Deve ter pensado: como estes coleguinhas são burros, depois de tantos anos cavoucando não se deram conta que o ilibado Carlos Araújo seria o furo do ano. E lá se foram. Que equipe mais esperta…
A matéria foi um espanto: a capa dramática e, lá dentro, nada. Nada vezes nada. Nem uma pista. Coitadas das “fontes” expostas só em negativas. Nem uma linha que levantasse a menor suspeita. Apenas má fé e falta de assunto. Pobre leitor! Esse número da revista dá direito ao comprador de reclamar no PROCON.
Entre os profissionais de imprensa, Época expõe a fraude que se converteu esse tipo de jornalismo investigativo. Os velhos profissionais do ramo lembram-se dos tempos antigos, nos anos 70 e 80, quando o repórter precisava conquistar uma fonte antes de ter uma notícia. Era quase um ritual. Uma alta fonte contava um segredo (“não é para publicar”), deixava “descuidadamente” um papel sobre a mesa e pedia licença para dar um telefonema noutra sala. O repórter rapidamente lia e anotava. Chegando à redação era interrogado duramente pelo editor, tinha de ouvir o outro lado e, sempre, iniciava a matéria com a versão do acusado.
Na fase seguinte já havia mais flexibilidade do editor, a fonte passava um “dossiê”. Vieram os tempos do “denuncismo”. Em meio a muitas verdades também havia as manipulações. Muitas reputações de repórteres furões se fizeram por aí. Pelo menos o jornalista precisava ter uma fonte que lhe passasse um dossiê. Dava algum trabalho.
Agora é mais fácil. Tecnológico. Qualquer hacker passeia como se estivesse em casa nos arquivos dos órgãos públicos. É só plugar o pendrive e tem todo o vazamento em áudio e vídeo sem precisar se esforçar para encontrar uma fonte confiável para lhe passar o “vazamento”. Não precisa prática nem habilidade.
É o caso dos “vazamentos seletivos” do Lava Jato. É melhor para a imagem da Política Federal deixar o público pensando que há uma “garganta profunda” irrigando uma multidão de repórteres do que reconhecer que seus computadores são uma peneira de tela tão grossa que passa tudo. E pior: os órgãos de segurança máxima do País não têm como se defender.
Essa vulnerabilidade veio à tona quando os hackers do Wikileaks de Julian Assenge entraram nos escaninhos mais secretos da presidente Dilma Rousseff. Ela ficou quatro anos brigada com o presidente Barack Obama por causa disso, até o ministro José Eduardo Cardoso confessar que não podia fazer nada par impedir a invasão das delações. Quando um veículo diz que “teve acesso” está na verdade dizendo que invadiu um computador indefeso. Então ela fez as pazes com os norte-americanos.
Por estas e por outras que o programa prioritário do Exército Brasileiro para defender a soberania nacional não fala de tanques e canhões, mas de Segurança Cibernética (a Aeronáutica cuida de segurança espacial e a Marinha de motor nuclear). Se nem os mais profundos segredos de estado estão resguardados, imagine como não estão vulneráveis as pobres máquinas do tempo do Onça da Polícia Federal e do sistema judiciário.
Foi por isto aí que a “esperta” equipe da Época saiu a campo procurando escarafunchar a vida do irrepreensível e discreto Carlos Araújo. E é isto mesmo: tape o nariz e leia a matéria da Época e confirme que ele é irrepreensível e discreto.
Certamente foi por causa dessa grosseria que a presidente Dilma invocou o exemplo de Getúlio Vargas. Ele também teve seus parentes na alça da mira, o irmão Benjamin e o filho Lutero. Com Dilma já tinham procurado o irmão Igor, mas em vez de um nababo encontraram um advogado aposentado com um fusquinha igual ao do presidente Mujica, do Uruguai. Agora foram atrás do Araújo. Encontraram um ex-político de primeira linha retirado e um advogado que tem de trabalhar, mesmo doente, para ganhar seu sustento. Fizeram a anti-matéria. Vergonha!
Voltando a Getúlio, a imprensa ligou o pronunciamento de Dilma no PDT ao impeachment, pois a reunião fechava questão a seu favor e ela estava lá para isto. Entretanto, embora todos os presidentes de 1950 para cá tenham enfrentado pedidos de afastamento na Câmara (e só Collor perdeu), os casos são diferentes. Mas como os jornalistas não atinaram, ficou como se ela estivesse se comparando ao presidente suicida que se concluiu com um tiro no coração e a subsequente derrota eleitoral do candidato da oposição, general Juarez Távora, e eleição do candidato situacionista, Juscelino Kubitschek.
Em todo o caso, naquele ambiente, comparar-se a Vargas foi uma boa tirada retórica, pois ali estavam reunidos os que se apresentam como herdeiros legítimos do legado getulista.