Agemir Bavaresco – Filósofo, professor e coordenador do Programa de Pós Graduação da PUCRS.
A movimentação dos cenários da imprensa e do jornalismo nos últimos anos registrou contradições e mudanças que apontam para a transição de modelos de empreendimento, causados pelo avanço da tecnologia que tem implicações na teoria da Agenda.
1 – Concentração empresarial em tempo digital
A primeira constatação é a convergência digital que permitiu a reunião de grupos jornalísticos, mídia, telecomunicações e Internet. Estes grupos passam a intervir no mercado oferecendo vendas virtuais, montando portais, explorando nichos de acesso à Internet, criando provedores de serviços, num emergente shopping digital. Somado a esses fatos, as novas tecnologias desencadearam um processo de concentração global de empresas e a consequente desnacionalização do setor.
a) Mídia Global X Mídia local: Uma cadeia produtiva de mídia é formada, grosso modo, por anunciantes, agências de publicidade e veículos de comunicação. O que tivemos no Brasil, nos últimos anos, foi uma desnacionalização de empresas anunciantes, porque as empresas estrangeiras além de adquirirem as agências de publicidade trocaram o comando de tomada de decisões, focado na matriz e com alinhamento de interesses. Junto com essa concentração empresarial global está o enfraquecimento da mídia nacional. Há, de um lado, o modelo de jornal impresso de faturamento tradicional a custos elevados e, de outro, o modelo de negócios incipiente de edição digital que não conseguiu ainda se implementar.
b) Modelo de negócio tradicional X Modelo de negócio digital: O modelo de negócios da imprensa tradicional entrou em crise com a entrada no mercado brasileiro do Google e do Facebook, absorvendo o faturamento publicitário através da interação direta com o usuário pelo preenchimento de dados, perfil e ouvindo suas opiniões e interesses. A publicidade tradicional funcionava com as seguintes estratégias: a publicidade popular usava as redes de televisão nacional para estimular o consumo de bens de massa; e a publicidade segmentada usava os jornais e revistas para atingir um público mais homogêneo e mais refinado nos hábitos de consumo de produtos e de opiniões. Este modelo dissolveu-se com a emergência da Internet e as redes sociais, sobretudo com o ingresso, por exemplo, do Google e do Facebook que articularam um modelo de negócio digital, ágil e versátil, baseado na segmentação e o acesso online do banco de dados instantâneo.
c) Empresas jornalísticas X Jornalismo: A rigor na origem das sociedades democráticas a liberdade de imprensa e de opinião são qualificadas de públicas, isto é, trata-se de um serviço público, independentemente, de ser estatal ou privado. A transição de modelos em curso atingiu, especialmente, o jornalismo. Cabe distinguir entre as empresas jornalísticas de imprensa da atividade jornalística, pois, isto explicita um conflito histórico entre os objetivos públicos do jornalismo e os interesses comerciais dos grupos de imprensa. O que se constata é uma perda do papel do jornalismo, pois este torna-se subordinado aos interesses privados das empresas jornalísticas, por exemplo, os jornais não expressam mais ideias, mas tornam-se instrumento de propaganda dos interesses corporativos das elites financeiras ou industriais em nível nacional ou internacional (Esta parte baseia-se em matéria de Luis Nassif. Xadrez da crise da imprensa e do jornalismo. GGN, 12/07/16). Face a estes cenários de transição da imprensa e do jornalismo coloca-se o problema da teoria da Agenda.
2 – Agenda da Mídia Tradicional X Agenda das Redes Sociais
O que faz com que as pessoas pensem determinados temas e deixem de lado outros? O que influencia ou forma a opinião pública? Conforme a Agenda Setting, teoria elaborada por Maxwell McCombs, a pauta das conversas e debates é provocada pelos jornais, televisão e rádio (meios tradicionais). Esses meios têm a força de mudar a realidade social, ou seja, informam os fatos a serem pensados ou debatidos pelo público. Eles estabelecem a pauta dos assuntos e o seu conteúdo em nível local, nacional e internacional.
Porém, em face da agenda da mídia tradicional surge a agenda das redes sociais: A internet e as redes sociais permitem que os cidadãos expressem opiniões e interesses, sem o filtro dos meios de comunicação tradicionais. Através das redes sociais muitas pautas foram estabelecidas, protestos e insurreições foram organizados. A esfera pública encontrou nas novas tecnologias uma forma de expressão direta de sua opinião, a tal ponto que alguns especialistas constatam um novo fenômeno: a formação de uma nova opinião pública.
De um lado, temos a opinião pública tradicional, agendada pelos meios de comunicação tradicionais e controlada por interesses privados e pelas regulações e poderes estatais. De outro, a nova opinião pública diferenciada pela participação inclusiva, pela autonomia, velocidade e transparência, que tem como agentes os cidadãos protagonistas e descentralizados, com mobilidade instantânea e articulados em redes sociais.
A esfera pública foi transformada pela internet que alterou o ecossistema comunicacional, criando uma nova opinião pública. O sociólogo Manuel Castells chama este fenômeno de autocomunicação de massas. Às ações coletivas em rede, como a construção colaborativa da Wikipédia, juntam-se milhares de pequenas comunidades que desenvolvem expressões de inteligência coletiva, articulando uma esfera pública autônoma e em rede.
Por isso, o controle da opinião pública, pautado pela agenda tradicional está sendo mudado pela agenda das redes sociais. As grandes corporações e agências internacionais de comunicação que detêm o poder de disseminar sua versão dos fatos e de estabelecer a agenda pública confronta-se com a agenda das redes sociais que expressam opiniões opostas, instaurando uma opinião pública contraditória com força de expressão plural e ação democrática.
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Uma crítica por esquerda aos militantes ainda vinculados ao governo deposto- 2
BRUNO LIMA ROCHA*
Apresentação
Este artigo entra como a segunda parte da série de crítica aos partidos de centro-esquerda e movimentos de esquerda social que foram – são – base de apoio do partido de governo deposto (PT) e seus aliados. Não tomamos como alvo desta crítica o lulismo em si, como fenômeno eleitoral de pacto conservador com melhorias materiais concretas de vulto, mas sim as agrupações organizadas que dentro deste guarda-chuva da governabilidade coexistiram pacificamente dentro do “governo em disputa”. Ao contrário do primeiro texto, este tem abordagem mais de ordem tática (equivalendo ao curtíssimo, curto e médio prazos), sendo a dimensão estratégica e teórica (longo prazo e finalismo) o objeto de terceiro e último artigo desta série.
Reconheço a delicadeza do tema, e assim como no primeiro texto, a meta não é reforçar teses sectárias ou praticar hegemonismo estéril. Apresento conceitos operacionais, do manual da política, e proponho debate franco e sincero. Nenhuma das palavras do artigo foi escrita no sentido de depreciar esforços sinceros, ganhos materiais concretos, melhoria das condições de vida e dedicação militante. É justo o oposto; é para valorizar a militância e o trabalho intelectual comprometido que aqui escrevo.
Princípios da política e a acumulação de forças dispersa do partido de governo
Antes de nada, é preciso voltar ao básico da política e a analogia com as ciências do conflito ou da guerra. Uma agrupação política, partido, corrente, movimento, coletivo, se aglutinado ideologicamente, deveria – tenderia ao menos – ser minimamente consequente com seus objetivos. E para tal, ao menos como forma de sobrevivência de seu próprio projeto coletivo, elencar inimigos estratégicos, apontar adversários táticos, demarcar um campo de alianças possível e outro desejável e criar caminhos ao longo da própria caminhada. Se observarmos o inimigo interno, o general Golbery do Couto e Silva afirmava – e praticava – uma premissa de que “o objetivo subordina ao método, segundo as condicionalidades”. Logo, é fundamental apontar a meta finalista, definir o objetivo estratégico e daí derivar em momentos táticos, com manobras de envergadura ou de posições cambiáveis. Na ausência deste debate, os tempos são imersos dentro da legalidade e institucionalidade burguesa, apenas e não apesar destas, e logo, invertem-se prioridades e mensurações. Óbvio que não se trata de coerência livresca, pureza estéril e menos ainda abstrações belicistas (com motivação classista ou anti-imperialista) que possam ganhar forma distante das sociedades concretas, fora do mundo realmente existente.
Especificamente, o projeto majoritário – e porque não, também o hegemônico – passara por momentos de legitimidade, ascensão, discurso lavado e agora está em xeque. Aponto aqui uma crítica, vejamos. Após a queda do muro de Berlim, o fim da Bipolaridade e do chamado “socialismo” real (preferia afirmar como capitalismo de Estado, e se me permitem o constructo, uma espécie de Estado Hobbesiano Distributivista), realmente a maior parte das esquerdas latino-americanas se encontra sem paradigmas. O mesmo se dá com o Partido dos Trabalhadores (PT), força política que se formara dentro de uma ideia reformista radical, mas que também nasceu plena de legitimidade, como que a expressão política dos renascidos ou nascentes movimentos sociais brasileiros do final da década de ’70.
O tripé movimento sindical (originalmente movimento operário), intelectualidade à esquerda e agentes pastorais orientados pela Teologia da Libertação formou, junto à presença de correntes de esquerda não stalinistas (ou ao menos, não assumidamente stalinistas), formou a base de um partido massificado e com acúmulo o suficiente para construir uma alternativa de poder em 1989, aprofundando o reconhecimento de direitos de quarta geração que constam na Constituição Federal de 1988. Podemos sem exagero, marcar os momentos de disputa presidencial como representações das fases da legenda como um todo. Um primeiro período foi da fundação em 1980 até 1989; o segundo da derrota para Collor, a formação de uma maioria interna, o aprofundamento da relação de dirigentes e chefes políticos, sendo esta fase de 1989 até 2002; a penúltima, o exercício de governo com o Poder Executivo compartilhado, de 2003 até a deposição temporária (no meu entender, através de golpe semi-parlamentarista) da presidente reeleita Dilma Rousseff. A fase atual, arriscando nesta periodização, não teria necessariamente iniciado através do golpe com apelido de impeachment, mas antes, na crise do modelo de governabilidade em 2013 e o arrefecimento tanto da extrema esquerda (primeiro), como das manobras de massificação conservadoras (depois).
Vamos tomar como uma razoável definição de meta de longo prazo do partido de governo fazer do Estado brasileiro um complexo conjunto de instituições e aparelhos públicos, atuando a ação estatal de forma pública. Assim, tornar público o aparelho de Estado e lutar através de um conceito de hegemonia difusa, também trabalhando por um novo consenso político-cultural na sociedade, um ponto de chegada necessário para transformar as relações sociais no país. Digo que, do ponto de vista da legalidade, chegamos perto dessa meta. Se tomarmos a Constituição Federal de 1988, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente, das Cidades, o conjunto de leis ambientais, e as interpretações do Judiciário até pouco tempo atrás, tínhamos, ao menos parcialmente, esferas desta contra-hegemonia dentro de importantes instituições de Estado. A “luta de posições” se justificaria assim, sem levar em conta o médio prazo, que dirá o longo prazo, e absolutamente ignorando o fato de que os limites da democracia formal (liberal-democrática) são mais curtos na América Latina do que na Europa.
Em 2013, antes da ascensão dos protestos massivos em escala nacional, passando após pela sua captura parcial pelos conglomerados de mídia – especificamente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – havia um debate bastante diminuto no Congresso Nacional apontando para a necessidade de uma reforma política. A proposta, originalmente do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), trazia importante elementos, e um que poderia virar o jogo político (ver neste link: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/439530-PRINCIPAIS-PONTOS-DA-PROPOSTA-DE-HENRIQUE-FONTANA.html)
O item deste debate, que não fora sequer pautado em nível nacional, permitia um aprofundamento da democracia participativa. O tema em si vale toda uma série de artigos, mas ressalto que este seria o momento devido para, em ano ímpar e ainda distante do cenário eleitoral, o partido de governo e seus aliados de centro—esquerda, não se pusessem contra as agrupações e partidos de esquerda e extrema-esquerda e sim compreendessem a gravidade do momento. Ora, se há reconhecimento nos limites concretos das instituições liberal-democráticas na América Latina, se o modelo econômico do lulismo estava fazendo água, se não havia acumulação necessária para aplicar a Nova Matriz Econômica – e de fato a taxa Selic volta a subir na mesma proporção da queda da popularidade de Dilma – e o consenso político-cultural estava intacto em função do controle dos meios de comunicação de massa (devido também à inação do PT) – seria necessário, ao invés de renovar o pacto de elites, tentar aprofundar a luta por direitos coletivos, mesmo que atropelando governos municipais e estaduais correligionários ou alinhados ao Planalto de então.
Obviamente foi feito tudo ao contrário, e a reforma política que sequer fora ao plenário antes de junho de 2013, após, era apresentada como o “bode na sala” pelos estrategistas da governabilidade. Não há, e não havia na época tampouco, modelo de acumulação de forças e continua havendo uma subestimação do nível ideológico da luta popular. No plano acadêmico, teses e laudas sem fim apostando na “estabilidade do sistema político brasileiro” não resistiram a uma investida bem feita pelo andar de cima pós-colonial, com o aval da mídia hegemônica e o empurrão do Império como de costume. Como se dizia quando era pensado um projeto de poder: sem teoria não há sequer possibilidade, sem organização não há como fazer a aposta teórica e sem a base social necessária, nenhuma das necessidades anteriores é realizável.
Apontando a conclusão óbvia
Como a governabilidade estava fiada no pacto conservador do lulismo e no jogo do ganha-ganha e, como o modelo de primarização de nossa economia aumenta a dimensão da dependência interdependente de preços marcados em outros centros de poder, simplesmente a base social da reeleição ruiu. Já venho afirmando aqui o nível conspirativo do golpe, o acionar das direitas mais ideológicas, o papel dos EUA e dos ultra-liberais. Mas, nenhum destes fatores impede a crítica quanto à ausência de projeto de poder uma vez conquistada, mais uma vez, a reeleição.
Na ausência deste e na inflexão ainda mais à direita do segundo governo Dilma Rousseff, com direito a austericídio e ministro da Fazenda Chicago Boy, estava aberta a porteira para uma aventura política reacionária alimentada pela Operação Lava Jato. Também é certo que a estrutura necessária para um projeto de poder passa pela democracia interna combinada com a coesão de centenas de quadros médios. Houve, e há justamente o oposto.
Precisamos debater de forma franca, mas dura o tema do finalismo, da necessidade de um projeto finalista e dos limites institucionais reais – e não formais – da democracia indireta e representativa em nosso Continente. Do contrário, caso este tema não seja seriamente debatido e sem acusar o inimigo por se portar como tal, teremos outro ciclo de ilusões pelos próximos quinze ou vinte anos, até resultar em novo retrocesso e assim seguiremos na sina latino-americana.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com – para E-mail ou Facebook)
A tragicomédia brasileira
Desde 17/04/2016 – ou será desde 1500, mesmo? – estamos vivendo uma situação surreal, com toques de tragicomédia que as redes sociais potencializam através da “guerra” de versões e interpretações que ali circulam. Como usuária da rede social Facebook, tenho utilizado tanto o botãozinho do riso quanto o da fúria ou da tristeza. Vejamos alguns exemplos, dentre muitos outros.
O “novo regime fiscal” proposto pelo governo interino é um golpe a machadadas na constituição de 1988, a chamada constituição cidadã. Trata, simplificando, de reduzir em 50% os gastos sociais em 20 anos. Os investimentos ainda eram poucos e insuficientes, mas se isso passar pelo congresso (e é provável que sim, dado o caráter majoritariamente antipopular do mesmo), será decretado um retrocesso de mais de 30 anos no Brasil; profundamente trágico. Voltaremos aos tempos pré-1988. Parece que temos todo um passado pela frente, parafraseando Clarice Lispector no seu livro A maçã no escuro. O toque cômico, aqui, vem do Sensacionalista: “Aécio já é mais citado na Lava Jato que Clarice Lispector no Facebook!”. Para os não usuários da rede, esclareço que tanto Clarice, como Caio Fernando Abreu, Luis Fernado Verissimo e outros escritores são abundantemente “citados” como autores de textos apócrifos, de autoajuda, horríveis e rasos, que jamais teriam sido escritos por eles…
O tristemente engraçado é que aqueles que saíram às ruas com a camisa da corrupta CBF pedindo “mais educação e mais saúde” (genericamente, tudo por eles é falado sempre genericamente, devido à falta de informação precisa e de conhecimento mais profundo e complexo dos problemas sociais) são os primeiros a aplaudir esse achaque sem precedentes, desde a redemocratização, aos direitos sociais no país. Acham tudo lindo, desde que o ‘petê’ tenha saído do executivo. O ‘petê’, realmente, deu margem à parte do que se fala dele. Certo que tem muito delírio envolvido, boatos falsos e hoax povoaram a internet sobre Lula e seu partido, mas não se pode negar que a cúpula paulista tornou-se proto-mafiosa, que práticas de propina foram conduzidas por gente como Edinha Silva, que o modo de governar corrente desde 1500, tão criticado pelo antigo Partido dos Trabalhadores, nunca foi extinto no país, como era nossa esperança no início de 2003. Jucás, Sarneys, Cunhas e Renans continuaram a rapinagem de sempre.
Mas a se reconhecer, uma política pública que buscou ser transversal com políticas de educação, saúde e trabalho, a transferência de renda condicionada, tirou o Brasil do mapa da fome da ONU. Isso deveria ter sido amplamente divulgado e comemorado no país. A mídia hegemônica, contudo, calou. Não lhe interessava divulgar bons feitos do governo petista. Quem não circula nas redes sociais, provavelmente nem ficou sabendo. O toque cômico, aqui, são os comentários no perfil da ONU Brasil e da UNESCO, que noticiaram o positivo acontecimento: “ONU petralha, infestada de comunistas!” hahaha! Surrealismo puro, e eles estão plenamente convictos das sandices que bradam por aí. Notável como caem como patos em discursos absurdos e descolados da realidade.
Mas por falar em pato, outro personagem interessante na farsa, digo, no enredo do golpe em curso é a FIESP, aquela do pato roubado do artista holandês*, aquela que financiou regiamente a repressão durante a ditadura. Seus membros estão doidos para terceirizar em massa, para cortar custos em cima do trabalho (jamais cortam nos lucros, qué isso, né, meu!) e precarizar ainda mais a condição do trabalhador das camadas médias e pobres. Li agora a pouco uma excelente entrevista publicada no Jornal Extra-Classe (nº 204), com o juiz Sidinei Brzuska, que pondera o seguinte: “O Brasil tem 500 anos, arredondando. Destes 500, também arredondando, conviveu 400 com a escravidão. Nos últimos 70 anos, apenas quatro presidentes da República eleitos por voto direto e popular concluíram seus mandatos.” Ou seja, não temos uma cultura cidadã e democrática, muito antes pelo contrário! É naturalizado em nossa sociedade que existem alguns que vão fazer um trabalho pesado e sujo, duro e difícil, e vão ganhar pouco para isso. E que outros vão fazer os melhores trabalhos e vão ser regiamente remunerados, e que os primeiros nasceram para servir aos últimos. No período colonial, os não-brancos (indígenas e negros) não eram considerados aptos a receber salários: para eles só era pensável a servidão e a escravidão. O pensamento das “elites” (que na verdade são rasteiras, rapineiras e mesquinhas) ainda é escravocrata, herdeiro daqueles tempos.
O objetivo do juiz entrevistado é humanizar o sistema penitenciário. Aliás, falando em prisões, que coisa, hein? Hoje, quando consegui finalizar esse texto, li a notícia da prisão de mais um petista, o ex-ministro Paulo Bernardo. Tudo bem se a prisão foi necessária, aí eu não terei nada contra ela, eu realmente não sei. Mas por que, alguém me responda, por que Cunha, Aécio, Sarney, Perrela e outros estão livres, leves e soltos? Por que as prisões são seletivas? Quando se prenderá indiscriminadamente corruptos ou suspeitos de todo o espectro político? Sergio Moro, cujo pai foi fundador do PSDB no Paraná, é furiosamente tucano, todo mundo sabe disso. A partidarização tem prejudicado demais a operação Lava-Jato, que poderia significar um divisor de águas em nosso país no combate à corrupção. Lamentavelmente, não parece que vai ser assim.
Que a folha corrida dos ocupantes de cargos do governo golpista é grande, já sabemos, pois cai um ministro por semana, mais ou menos, devido ao envolvimento em corrupção. (Parêntesis para outro lance cômico, na postagem do amigo internauta Gustavo Gindre: “Cuidado ao andar na rua, pode cair um ministro na sua cabeça!”). Outro amigo postou ainda essa semana: O ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB), nomeou, nesta sexta-feira, o ex-deputado estadual em Minas Gerais Gustavo Perrella – que ficou famoso após um helicóptero de sua empresa ser apreendido pela Polícia Federal com 445 kg de pasta de cocaína em 2013 – para o cargo de secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor. Os Perrella tinham também abastecido a aeronave com 14.000 reais de dinheiro público. Sabem o que a polícia concluiu após as investigações, para encerrar o inquérito? Que a culpa era toda do piloto, o funcionário da família, e eles não sabiam de nada! Hahahaha! Comédia de novo. Ou seja, tragicomédia, pois o fato em si denuncia a completa falência de nossas instituições, denuncia a fragilidade de nossa institucionalidade pseudodemocrática.
A coleção de tragédias em curso é grande, o espaço desse texto não comporta todas. O governo (interino) brasileiro suspendeu negociações que mantinha com a União Europeia para receber famílias desalojadas pela guerra civil na Síria. No ano passado, Dilma disse que o Brasil estava de braços abertos para acolher refugiados. Em 2013, o governo passou a facilitar o ingresso de sírios ao permitir que viajassem ao país com um visto especial, mais fácil de obter (a modalidade também é oferecida a haitianos). Ajuda humanitária internacional, solidariedade global, nem pensar.
Está também tentando fechar a TV Brasil, usando a desculpa esfarrapada e mentirosa de que virou um cabide de empregos (a maioria dos trabalhadores é concursada) e que custa caro. Comunicação pública e democrática não lhes interessa, claro. Legal é ficar só com Globo, Record, SBT, Veja e similares. Essas estão do mesmo lado, o lado das elites de sempre, sempre a defender seus interesses escusos. Acabar com a Comunicação Pública é colocar o país entre os mais atrasados do planeta, afirmou a jornalista Cynara Menezes. Concordo plenamente. Prevista na Constituição de 1988, a Comunicação Pública permite que uma sociedade tenha canais de expressão com interesse público e não apenas comercial.
Outro personagem bem conhecido dos gaúchos, Eliseu Qua… digo, Padilha, teve o pedido de confisco de seus bens publicado pelo MPF, na semana que passou. Os toscos integrantes do governo interino são permanente fonte de tragicomédia. Impressionante como essa gente não têm quadros! São só corruptos, despreparados, investigados, pastores reacionários… não há, entre eles, quadros qualificados para ocuparem cargos por mérito. Tragédia total.
Mas a parte da comédia fica também por conta da criatividade do povo e da patetice das figuras midiáticas de plantão. Exemplo: certo comentarista da RBS/Rádio Gaúcha, sempre contrária a governos de perfil popular, revela que dormiu em 1990 e acordou hoje de manhã (dia 18/06/2016, em que escrevi essa parte do texto): anuncia, solene, que a UNIÃO SOVIÉTICA não virá às Olimpíadas. E ainda reforça, convicto, “os soviéticos não virão”! Gente, quer dizer que os bolcheviques ressuscitaram?!? Desde 1991 estavam extintos!
Toquem a Internacional na rádio Gaúcha para dar o alarme e vamos tirar as crianças da sala. Continua o tom tragicômico dos acontecimentos no ‘Brazil’ de 2016!
*Para quem não leu a respeito: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/pato-da-fiesp-e-plagio-afirma-artista-holandes/
No rastro da nova-velha direita e o giro reacionário do senso comum brasileiro – 2
Introdução da segunda parte da série
Neste segundo artigo da série da nova-direita, desenvolvo a ideia de como o senso comum foi sendo colonizado por ideias reacionárias, que terminam sendo um modo reativo diante das tímidas e, por vezes, pífias políticas de reconhecimento promovidas pelo governo temporariamente afastado e o pacto lulista iniciado em 2003. Na esteira deste reacionarismo social e de âmbito na cultura e na religião, vemos espetáculos dantescos de misoginia, de homofobia e um rechaço “medieval” aos avanços obtidos dentro da Constituição Federal de 1988. Insisto na tese de linha chilena, ao menos até 1981, quando o pau de arara e as máquinas de moer carne humana das forças repressivas de Augusto Pinochet e cia. eram complementadas pelo asqueroso preceito dos Chicago Boys, doutores e mestres em economia na Universidade de Chicago, para onde foram às dezenas por duas décadas a soldo de bolsas do Império.
Não são apenas viúvas da ditadura, mas viúvos da linha dura aliados aos neopentecostais
Vamos por partes e seguindo a verdade dos fatos. Entendo que é preciso resgatar a figura de Dilma Vana Rousseff, guerrilheira, e da mandatária afastada. A presidenta Dilma Rousseff foi capturada como presa política e barbaramente torturada. Isso aconteceu. O crime de tortura não costuma prescrever em nenhum direito no mundo, no direito internacional está previsto como crime de guerra, mas no Brasil a tortura aos opositores do regime ditatorial prescrevera como acordo (espúrio a meu ver) de saída do regime de exceção. É importante ressaltar que esta opção de seguir os “vasos comunicantes” de Golbery foi escolha da então centro-esquerda e oposição liberal hegemônica no final da década de ’70.
Os governos dos generais Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985) derrotaram politicamente a linha dura (identificada pelo braço repressivo do DOI-CODI) na interna do regime, processo cujo auge foi a tentativa de golpe do general Sylvio Frota – em outubro de 1977 – e na sequência com o chamado terror de direita no país. A ação de “viúvas” da ditadura, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) – embora sua faixa etária seja outra – manipulam termos e desígnios do período da Guerra Fria e de forma caluniosa associam todas as esquerdas aos governos de tipo stalinista, como na antiga URSS, ou na versão chinesa do maoísmo até 1971.
O problema societário está na capacidade de massificação desta postura – existe, não seria majoritária, mas tolerada, e fazendo muito barulho – e os confrontos inevitáveis daí advindos. O problema estrutural está no chamado entulho autoritário, notadamente no modelo brasileiro de polícia, e no alto índice de violência estatal praticado no país. Logo, o discurso reacionário pode calar fundo na população mais desassistida, desesperada por algum grau de segurança pública (defesa da vida e do patrimônio) e muitas destas pessoas manipuladas pelos mercadores da fé alheia, como os pastores neopentecostais, como os líderes Edir Macedo (Igreja Universal), Silas Malafaia (Assembleia de Deus), RR Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus), Valdomiro Santiago (Igreja Mundial) e outros concorrentes.
https://youtu.be/6MvADsjEnO4
Ainda não há uma vinculação direta de todos estes pregadores com as propostas neoconservadoras da extrema direita, mas sim da linha neoconservadora e da chamada da Teologia da Prosperidade. Logo, há uma vinculação, ainda indireta, entre a postura neoliberal radicalizada e a defesa de uma espécie de democracia limitada pelos agentes de mercado; e muito pressionada pela direita religiosa.
A linha chilena no Brasil pode se concretizar com Jair Bolsonaro para presidente em 2018
O que temos no Brasil são os efeitos de décadas semeando o padrão do neoliberalismo e também uma histeria frenética e mentecapta contra a representação do pacto de classes do lulismo. O ex-presidente propôs um jogo do tipo ganha-ganha, onde o empresariado ganhava com apoio do Estado e o crescimento econômico faria a redistribuição através do aumento do emprego e da renda. Acontece que não houve uma tentativa de distribuição de poder, o que viria através da mudança das regras eleitorais – ao menos a tentativa desta mudança – e a criação de um novo setor social mobilizado através dos beneficiários destas políticas.
Assim, a maioria pode estar mais assistindo a crise política do que se engajando, o que aumenta a penetração da falácia gerencialista, da mentira estruturante da “eficiência do capital privado sobre o Estado” ou quaisquer outras baboseiras de legitimação. Como este conjunto de ideias detém, de forma maior ou ainda meio tímida, a hegemonia das linhas editoriais dos conglomerados midiáticos, terminam por indicar para a população o caminho falacioso como válido. O elogio ao indivíduo cala fundo no individualismo que atravessa as relações sociais, e encontra terreno fértil junto da demência coletiva conservadora que circula por internet.
Outro fator importante é o preconceito ao outro, para a diversidade, para as ideias igualitárias, na defesa das populações originárias e quilombolas, terminam ganhando um sentido mais amplo daqueles que acusam servidores de “viverem nas tetas do Estado”, parasitas sociais, ou outros termos ofensivos. É este conjunto de ideias retrógradas que está ganhando uma vertente de linha chilena e que pode representar a candidatura de Jair Bolsonaro. O que pode impedi-lo de ser candidato é o risco da perda da imunidade, pois há um risco real de Bolsonaro receber uma infinidade de processos, até em função de seus discursos. A declaração de voto do ex-capitão de infantaria paraquedista, homenageando ao notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015, coronel do Exército Brasileiro, e ex-comandante do II DOI-CODI, de São Paulo), é uma demonstração do quanto a língua ferida e fascista do deputado necessita de imunidade parlamentar para seguir fazendo sua propaganda de extrema-direita.
Talvez a estratégia de longo prazo seja a de Bolsonaro “emprestar” sua credibilidade, já que tem eleitorado cativo no estado do Rio de janeiro, e operar como cabo eleitoral de quem ele apoiar como concorrente presidencial. Mesmo não sendo candidato, se ele colar a sua imagem a algum candidato, podem receber estes 8% de votos, 10% talvez e bastando organizar dez por cento de seus eleitores como recursos mobilizados e teremos uma massificação do neofascismo no Brasil.
As bancadas de representação transversal no Congresso e o lobby reacionário no Parlamento
Sem querer fazer alarmismo, o Brasil viu na Câmara dos Deputados o voto de 367 parlamentares, sendo que destes, ao menos 298 têm algum tipo de ato pendente com a Justiça ou no mínimo algum tipo de processo. É um número muito elevado, mas é o padrão brasileiro. Se sobrepusermos as bancadas conservadoras por interesse direto, como a do Boi (o latifúndio e o agronegócio), da Bíblia (dos pastores neopentecostais e pentecostais mais agressivos), da Bala (dos que defendem o desrespeito aos direitos humanos na ação do Estado contra a delinquência) e mesmo da Bola (da cartolagem e as estruturas de poder do futebol brasileiro), teremos a maior representação política brasileira.
Atravessa o sentido de crenças da religiosidade através de instituições conservadoras estas bancadas por interesse, sendo que as “igrejas” aqui já citadas defendem e propaga o comportamento conservador, o elogio para as iniciativas individuais e tudo baseado na chamada Teologia da Prosperidade. O volume da adesão da pobreza brasileira a estas empresas religiosas é enorme, e obviamente isto implica em vinculação de voto e possibilidade de alianças afins, tais como a narrada acima.
No momento em que vivemos, o pouco de avanço simbólico que houve durante os governos de Lula e Dilma – insisto, nas tímidas políticas de reconhecimento, como a de cotas, por exemplo – atiçou a ira das várias alas da direita conservadora. Contrapor o reconhecimento dos direitos de quilombolas, povos originários, além das escolhas LGBT, direitos reprodutivos (como a legalização do aborto), direitos humanos em geral, motivam o pensamento conservador desorganizado a estar atado através da internet, sendo alvo de convocatória pelas empresas religiosas como as neopentecostais, assim como a mobilização da juventude de direita pelas empresas start-ups como o MBL e grupos afins ou concorrentes.
É necessário demarcar que qualquer “governabilidade” terá de contar com uma parcela razoável das oligarquias brasileiras e setores representantes do agente econômico e ideológico mais à direita. Logo, é da posição deste analista que qualquer teoria absurda de retomar pactos internos com quem sequer quer acumular excedentes de poder no Sistema Internacional implica em simplesmente repetir os mesmos erros do lulismo e não são válidas. Para gerar um novo consenso hegemônico à esquerda é preciso retomar o protagonismo das lutas populares e manter como princípio sagrado de unidade a independência de classe e o respeito às decisões soberanas das bases organizadas.
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Ocupações das escolas: Nota do Movimento Mães e Pais pela Educação
O Movimento de Mães e Pais pela Educação respeita a decisão autônoma dos secundaristas que ocupam as escolas estaduais e, em apoio a essa decisão, pede para que as famílias gaúchas não enviem seus(suas) filhos(as) para as escolas ocupadas até que o governo volte para a mesa de negociação e firme um acordo real, objetivo, e não essa enrolação que ele chama de proposta às reivindicações dos(as) estudantes.
Em nota, os(as) estudantes declararam que irão permanecer ocupando suas escolas. Portanto, a tentativa forçada de reinício das aulas poderá gerar conflitos que seriam evitáveis se o governo dispuser-se a dialogar concretamente e firmar um acordo concreto.
Em contraposição a essa atitude do governo, nosso movimento de mães, pais e apoiadores(as) já agendou reunião com o Ministério Público para ele intermediar a reabertura das negociações entre governo e estudantes, de modo que tenhamos uma solução pacífica e célere para as desocupações.
Nota do Movimento Mães e Pais pela Educação
Resposta ao documento Carta-Compromisso aos Estudantes e à Sociedade Gaúcha divulgado pelo governo em 09/06/2016.
SARTORI, QUEREMOS DIÁLOGO PELA EDUCAÇÃO!
Desde o início das Ocupações das Escolas Públicas Estaduais, nós, mães, pais e responsáveis, estamos acompanhando nossos(as) filhos e filhas. Fruto da mobilização deles e delas, enquanto estudantes, as ocupações fizeram vir à tona o estado de abandono de grande parte destas escolas e a precarização do ensino público em nosso estado, considerado hoje, um dos piores no país.
Enquanto mães, pais e responsáveis, por crianças e adolescentes estudantes, preocupa-nos o fato de existirem muitas escolas funcionando sem as mínimas condições e de que a grande maioria dos estabelecimentos não possui Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios (PPCI), ameaçando a integridade física de estudantes e trabalhadores(as) em educação.
Diante dessas preocupações e constatações, construímos um movimento de apoio à luta por uma educação pública de qualidade no Rio Grande do Sul. Entendemos ser inconcebível que as escolas sirvam como depósito de estudantes, sendo prejudicados pela falta de atenção do governo que, somente esse ano, deixou de repassar, através de decreto, cerca de R$ 2,2 bilhões, que deveriam ser investidos em educação, saúde e segurança. Ação que, em parte, é responsável – portanto – por esse estado de coisas.
A tortuosa busca de diálogo
Desde o início das Ocupações de Escolas, nós, mães, pais e responsáveis, buscamos canais de negociação com o Governo do Estado. E não fomos atendidos(as). Apenas na semana passada conseguimos iniciar debate junto à Comissão de Segurança e Serviços Públicos da ALRS, quando – finalmente – abriu-se um processo de diálogo junto ao Ministério Público, Governo e Judiciário.
Entretanto, essa abertura foi suspensa no final da tarde da última quinta-feira, 09 de junho, quando o Governo distribui Nota Pública em que não apresentou propostas concretas de atendimento às reivindicações dos(as) estudantes e fixou prazo de 48 horas para a desocupação das escolas. Naquele dia, o protesto pacífico de estudantes, em sua maioria menores de idade, foi recebido na Praça da Matriz, de maneira truculenta pela tropa de choque. Uma atitude poucas vezes vista antes na história do RS. O confronto só foi evitado pela postura dos(as) estudantes e nossa. Mas o fato demonstrou a indisposição do atual governo em buscar a solução não violenta do conflito.
Exigimos respeito aos direitos de todas as crianças e adolescentes
Diante dos fatos até aqui mencionados, seguimos abertos ao diálogo, repudiando qualquer tipo de violência, e solicitamos:
- À SEDUC: – A clara definição de prazos para a reforma estrutural de cada uma das escolas; – A garantia de nenhuma punição a estudantes que participam do movimento de ocupações; – A abertura imediata de diálogo entre estudantes, mães, pais e educadores(as) e órgãos governamentais, mediada pelo Conselho Estadual de Educação, para a revisão do currículo e de outros componentes curriculares e extracurriculares, tendo por base as demandas de estudantes, as legislações e planos educacionais;
- À SEDUC e ao Corpo de Bombeiros, a relação das escolas que possuem Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios, bem como quais as pendências às adaptações solicitadas pelo Corpo de Bombeiros;
- Ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), a realização de Auditoria, tendo como um dos focos a merenda escolar, pelo descumprimento por parte do Governo da aplicação do percentual mínimo estabelecido constitucionalmente e, como outro, o repasse de recursos da educação para outras áreas;
- Ao Ministério Público (MP): – Sua intervenção para a reabertura das negociações entre estudantes, mães, pais e responsáveis, e Governo, bem como determinação de que nenhuma ação truculenta ocorra durante o desenvolvimento desta; e apuração dos casos registrados de violência de qualquer tipo contra crianças e adolescentes que ocupam as escolas ou participaram de atos públicos relacionados a estas;
- Ao Governo do Estado, a retirada do PL 44/2016 apresentado pelo Poder Executivo, e do PL 190/2015 (apresentado por deputado da base do governo Sartori), ambos em tramitação na Assembleia Legislativa;
- À Defensoria Pública a criação de uma Ouvidoria da Educação e a transparência dos dados sobre as denúncias recebidas.
Por fim, reivindicamos a formalização de uma Comissão entre mães, pais, professores(as), estudantes, órgãos governamentais e Ministério Público para acompanhamento dos acordos resultantes das negociações.
Movimento Mães e Pais pela Educação | POA, 11/06/16.
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Atenção: a ideologia de gênero já está no ministério interino!
Fabíola Rohden*
Quando o ministério do governo interino de Michel Temer foi anunciado, uma das primeiras reações foi quanto à ausência de mulheres, assim como também de negros ou integrantes de outras etnias e segmentos sociais que representassem a diversidade da população brasileira. O interessante é que nem foi preciso a academia ou os movimentos feministas chamarem a atenção para isto. Acredito que a escolha da composição e a ampla reação a ela podem ser avaliadas à luz do que é se dar conta das diferenças de gênero hoje em dia e de quem é capaz desta percepção.
Supostamente, segundo declarações posteriores, o privilégio aos homens não teria sido intencional. Isso quer dizer que os ministros interinos foram escolhidos “naturalmente” em função de suas posições no campo político, deixando evidente a desvinculação com a capacidade técnica. Se acreditamos nesta explicação, foi um fenômeno “natural” as mulheres terem sido ignoradas. Ou seja, o proponente do ministério não teria sequer se dado conta de que em pleno século XXI, nem que fosse por razões demagógicas e estratégias, seria inaceitável e até mesmo ridículo uma composição tão homogênea e avessa à diversidade. Inaceitável e ridículo porque em qualquer lugar do mundo contemporâneo que valorize a democracia e a igualdade, em qualquer documento envolvendo acordos e organismos internacionais emitido desde meados do século XX, a busca por representações mais plurais e igualitárias é imprescindível, inclusive para o reconhecimento da legitimidade de um governo. O que poderia então explicar esta espécie de cegueira, que impediu que durante as várias semanas de planejamento que antecederam a tomada do poder, esta questão não tivesse vindo à tona?
É difícil de acreditar que nenhum dos senhores envolvidos naquelas articulações não tivesse sequer um vago pressentimento de que o arranjo do grupo teria que ser pensado sob outros ângulos e que, por exemplo, a presença das mulheres deveria ser considerada. Em contraste, se pensamos na reação da imensa maioria das pessoas, o que vem à tona é o estranhamento. Algo parece estar errado quando se vê a foto da “posse” e os atos subsequentes só confirmaram as desconfianças iniciais. Tudo parece um tanto antigo, inadequado, ultrapassado ou, pior ainda, traz à cena uma nítida imagem de retrocesso.
Este incômodo parece revelador da época em que vivemos. E pode ser entendido por meio de dois caminhos. O primeiro diz respeito ao fato de que, se do lado de cima, do conforto da posição de quem está assumindo o poder sequer se notou que a ausência das mulheres seria um problema; do lado da imensa maioria da população, composta de pessoas necessariamente atentas às desigualdades, isto é escandaloso. Este é o lado de quem sente, percebe, se identifica e se solidariza diante de qualquer forma de discriminação e se posiciona sempre com ouvidos e olhos atentos a ações que reproduzam as desigualdades. Temos, portanto, em um plano, a suposta falta de percepção do problema; no outro, a vigilância constante, produzida e lapidada por séculos de exclusão.
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O segundo caminho de compreensão sobre o incômodo se refere ao panorama de mudanças que foram sendo construídas mais amplamente na sociedade. Felizmente, apesar de todas as dificuldades e retrocessos constantes, a trajetória em direção à conquista do reconhecimento da diversidade em termos de gênero, de raça/etnia, de orientação sexual dentre outros aspectos, tem se mantido constante. Não há mais como fechar esta janela de percepção das desigualdades e de empenho na luta pela construção de uma sociedade mais justa. Frente à cegueira daqueles que se colocam acima dessas reivindicações, crescem os desejos, os compromissos e a capacidade de articulação de quem já vislumbrou um outro mundo possível.
Esta competência para perceber como as diferenças sociais, traduzidas em assimetrias de poder e injustiças, foram historicamente produzidas e continuam a ser perpetuadas é o que vem sendo chamado, em tom acusatório, de “ideologia de gênero”, por muitos daqueles que se arvoram detentores do poder. Este termo não é usado no campo acadêmico ou na fundamentação de projetos de intervenção bem fundamentados. Mas neste contexto a referência me parece adequada. Recorrendo à acepção mais geral do termo ideologia, trata-se do conjunto de crenças ou certezas culturais e políticas de um indivíduo ou grupo em determinado momento histórico. Pode-se dizer, então, que a “ideologia de gênero” assumida pelo governo interino reflete a crença ou a certeza de que não é necessário pensar ou considerar as diferenças entre os gêneros na nossa sociedade. Trata-se de uma certeza que é simplesmente assumida, neste caso, pela naturalização da ideia de que as mulheres e outros grupos não precisariam estar presentes no primeiro escalão do governo mas deveriam sim se manter alijados das decisões sobre os rumos do país. O problema, infelizmente para eles, é que em contraste à esta cegueira intencional, há muito tempo já se projetam os holofotes que nos obrigam, todos os dias, a perceber as diferenças. A presença das mulheres nas ruas não deixa dúvida sobre isso.
*Antropóloga
No rastro da nova-velha direita e o giro reacionário do senso comum brasileiro – 1
Bruno Lima Rocha*
Introdução
Neste primeiro artigo, inicio uma breve série tentando mapear a nova (velha) direita. O objetivo deste e dos textos que seguirão é tentar identificar a origem contemporânea do giro reacionário do senso comum brasileiro e suas similitudes com o conservadorismo dos EUA, e, por consequência, a transferência do léxico, do glossário e das identidades políticas gestadas no interior do sistema político do Império. Entendo que, se identificarmos os focos domésticos e internacionais do pensamento conservador, reacionário, ultraliberal e com laços neofascistas, estaremos aptos a tentar estancar o que venho afirmando como “fedor de linha chilena” tendo vasto crescimento no Brasil.
A ascensão do reacionarismo nos últimos dez anos: a aliança entre neopentecostais e a extrema direita militar e policial
O Brasil vive um momento de ascensão de ideias conservadoras, a maior parte destas transitando pelo ultraliberalismo, podendo ser rastreada esta linha como equivalente às da direita do Partido Republicano (ou seja, a extrema direita de corte neoliberal) e combinadas com o pensamento conservador, ou do pacto neoconservador. Este que se avoluma nos EUA a partir da vitória de Richard Nixon em 1968, reforçada com a Doutrina Reagan e a desregulação financeira – primeiramente em 1973 e depois, ao longo dos anos ’80 do século XX – e por fim, ganhando dimensões absurdas, durante o primeiro mandato do governo democrata de Bill Clinton (1993-2000). A nova direita republicana já constava na convenção deste partido quando George H. W. Bush (Bush pai) era considerado, para a constelação política conservadora do período, como o menos mentecapto dos pré-candidatos da bolha conservadora para a Casa Branca. Da corrida eleitoral no Império, em 1992, passando pela famigerada reeleição de Bush Jr. Em 2004, até a nova onda de golpes brancos na América Latina temos como identificar a transferência da identidade política estadunidense para nosso país.
No Brasil, somos atingidos pela combinação dos neoconservadores no comportamento – uma espécie de reação contra a ação afirmativa e os direitos de reconhecimento – e a primazia do capital financeiro e a cruzada dos neoliberais contra o pacto keynesiano que atinge o Brasil durante o lulismo. Esta soma, bastante explosiva, tem na classe média brasileira, e em sua classe média alta, um bastião mobilizado através das redes sociais e que pode ter ou não algum contato com o fascismo brasileiro na versão contemporânea.
É como se fosse um jogo com rodadas simultâneas, onde os reacionários no comportamento somam viúvas da ditadura e por vezes se encontram nas pautas programáticas de inspiração totalitária e obscurantista, como a famigerada “escola sem partido”, ou campanha contra a doutrinação nos aparelhos ideológicos de reprodução. Por vezes os ultraliberais se encontram, domesticam as “feras” medievais brasileiras, e noutras, de forma autônoma, operam como “cavalo de batalha” da agenda neoliberal de desmonte das capacidades de intervenção estatal na economia capitalista e na regulação do agente econômico por sobre a vida cotidiana.
Podemos identificar os movimentos ultraliberais como as empresas de marketing digital, a exemplo da empresa líder, o Movimento Brasil Livre (MBL). Tais instituições privadas respondem ao agendamento da Fundação Koch (charleskochfoundation.org) e da Rede Atlas (atlasnetwork.org) e demandam um texto específico, ainda nesta série. Já quanto ao neofascismo brasileiro, este é manifesto pelo líder caricato embora perigoso, deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e sua aliança com as estruturas do pastor Everaldo (Assembleia de Deus em Madureira) e o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP,que comanda uma matriz autônoma e dono da rede de franquias da fé, o Ministério Tempo de Avivamento). Estes dois operadores político-religiosos de matriz econômica (no mercado da exploração da fé) se aproximam, afirmo, perigosamente, de um programa ultraliberal (vinculando seu programa ao do Tea Party), com as viúvas e viúvos da ditadura – tendo a bandeira do reconhecimento dos torturadores e repressores como “heróis nacionais” – e um culto ao revanchismo da linha dura diante da transição negociada comandada por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.
Ainda mais obscena é sua liderança ideológica, com o ainda mais caricato e lunático astrólogo Olavo de Carvalho. Este pregador virtual, mescla um libelo em defesa da “civilização judaico-cristã” para fortalecer ambas as posturas acima narradas – neopentecostal e de extrema direita policial militar. A pregação anti-esquerda e anti-latinoamericana do “professor” Olavo de Carvalho, produzindo demências por internet a partir do estado da Virgínia (EUA), surpreendentemente traz consigo centenas de milhares de seguidores. Olavo é em si mesmo a síntese desta perigosa caricatura da nova direita brasileira, e sua pregação de “escola sem partido”, onde afirma que a doutrina se diluiu no comportamento pregado em sala de aula ao ponto de sequer ser explicitada. Ou seja, se a acusação for válida, então o comportamento orientado pela técnica a serviço do mundo do trabalho controlado pelo capital, é a única válida. O fascismo social existente nestas afirmações está na moral conservadora, na negação do outro (ausência de alteridade), na afirmação da norma “ocidental” (judaico-cristã, capitalista, conservador, heteronormativa) como valor único e na disposição para gerar o caos para que deste surja um novo sentido de ordem.
Uma consequência tangível do revigoramento das viúvas da linha dura
É este tipo de demência, retroalimentada pelos programas policialescos e editoriais reacionários de TV aberta – comandados por gente como José Luiz Datena e Raquel Sherazade – acaba por ter dois efeitos políticos simultâneos. Um aponta para a redução da maioridade penal e uma defesa da violência estatal sem questionar o falido e corrupto modelo de polícia brasileiro. O outro foi visto de forma estarrecedora na defesa da intervenção militar ou a volta da ditadura. Tais defensores da ditadura afirmam que todo o pensamento de esquerda – mesmo o de centro-esquerda -, em última análise, não seria compatível com a democracia parlamentar e estaria o tempo todo promovendo a luta ideológica para controlar instituições reprodutoras dos aparelhos centrais – como escolas e universidades – e assim aplicar uma visão de mundo centrada na luta social e no coletivismo. A direita considera isso uma espécie de “totalitarismo” e chega a aceitar a possibilidade de que, na ausência de ordem pública, tenhamos uma intervenção militar (o texto constitucional, no seu artigo 142, tem realmente alguma leitura passível de controvérsia). Neste sentido, ao negar a possibilidade de que qualquer pensamento de esquerda possa conviver em democracia parlamentar e na concorrência pelo poder do Estado burguês, há similitude na análise dos ultraliberais e da extrema direita policial e militar. Daí viria à convergência destas duas formas de pensamento na defesa da suposta “escola sem partido” e de absurdos como o “ensino neutro das ciências humanas e sociais”. Se observarmos a movimentação dos apoiadores de Bolsonaro nos campi da UFRGS, estes afirmam que “a universidade não é um espaço para lutar, mas somente para estudar”. Repetem de forma bastante concreta um dos lemas da ditadura, “estudante estuda e trabalhador trabalha”, aplicando uma fórmula de obediência social cuja única forma de mobilidade seria através da acumulação de capital ou na seleção “meritocrática”.
Mesmo observando que não há nenhuma exequibilidade por parte das Forças Armadas em fazer nada parecido como intervenção militar constitucional, há um ponto de convergência. O governo “interino” – no meu entender, golpista – trouxe o retorno dos militares GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e o seu comando a cargo do general de exército (da ativa, quatro estrelas) Sérgio Westphalen Etchegoyen. Esta medida, além de apontar um enlace do presidente golpista Michel Temer com a ala mais reacionária da Força Terrestre na ativa, seria uma espécie de acerto de contas com a Comissão da Verdade. Esta fora uma tímida comissão e cujo relatório final foi bastante criticado por militantes históricos dos direitos humanos. Mesmo assim, ao mencionar o nome do general Leo Guedes Etchegoyen como um dos 377 agentes do Estado diretamente responsáveis por crimes contra os direitos humanos, atiçou o grito de “revanchismo” por seu filho, general da ativa que ocupava desde março de 2015, o importante cargo de chefe do Estado-Maior do Exército.
Ao se manifestar contra a Comissão da Verdade mesmo estando na ativa, o general Etchegoyen abrira um perigoso expediente. Sua indicação para o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional termina soando como um reforço das viúvas da caserna, aproximando-os dos militares da reserva que têm discurso de mágoa em relação ao período pós-Anistia.
* Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e relações internacionais.
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Cais Mauá de Todos: "éramos 120 no abraço do último sábado"
O coletivo Cais Mauá de Todos enviou uma correspondência ao JÁ corrigindo os números publicados na cobertura do abraço ao Cais Mauá, ocorrido no último sábado (7), diante do pórtico central.
“Prezados da redação do Jornal Já,
Recebemos com alegria a matéria sobre o evento que promovemos no último sábado dia 7 de maio, porém, pedimos que reavaliem o número divulgado de público.
Pela nossa contagem estavam presentes cerca de 120 pessoas às 17 horas, como pode ser visto no vídeo captado pelo Conexões Globais, do Marcelo Branco. Nesta hora o Abraço se estendeu do pórtico até a parada de ônibus da avenida Mauá.
Já à noite na festa fizemos outro abraço com o pessoal da Marcha da Maconha, e a extensão foi do pórtico até a sinaleira. Estamos também com um vídeo em nossa página do facebook.
Juntando os públicos tivemos então uma dobradinha de uns 120 pela tarde e mais 90 pela noite.
Números são importantes, a presença de pessoas, pela sua representatividade cidadã e política também; tudo importa na sala midiática em que vivemos.
O Jornal Já tem se destacado em aprofundar o tema do Cais Mauá com o Dossiê, vem ocupado um papel importante na imprensa, e sendo um contraponto importante em Porto Alegre e servindo a pauta para o jornal do Arroio Dilúvio.
Parabenizamos e agradecemos a cobertura, mas também solicitamos que avaliem nossas ponderações do número de participantes.
Atenciosamente,
Comunicação Cais Mauá de Todos”
Movimentos convocam abraço ao Cais Mauá para frear demolições
Organizações da sociedade civil críticas ao modelo de revitalização proposto para o Cais Mauá – com shopping center, torres comerciais e estacionamento para 5 mil automóveis – estão convocando um abraço aos armazéns no sábado, 23 de abril, às 16 horas.
Na página do facebook que chama para a ação, os ativistas argumentam que a mobilização é necessária para preservar o patrimônio público, a exemplo do que foi feito nos anos 50, com o Parcão, nos 70, com o Mercado Público, e nos 90, com a Usina do Gasômetro.
“A bola da vez é o Cais Mauá. E nossa geração não vai permitir que o maior símbolo de Porto Alegre seja privatizado e desfigurado, com a construção de espigões, shopping e megaestacionamentos”, justifica o texto.
Leia o Dossiê Cais Mauá do Jornal JÁ
Revitalização desafia governos há três décadas
Licitação teve um único concorrente
Mudanças acionárias movimentam milhões
Há uma preocupação especialmente com a demolição do armazém A7, que não é tombado e deverá ser posto abaixo assim que a licença de instalação for liberada pela Secretaria de Urbanismo (Smurb), que entretanto, trabalha para alterar alguns pontos do projeto.
O local onde hoje está o edifício – que não possui características construtivas iguais às dos demais, como as estruturas em ferro, porém compartilha o mesmo desenho – está projetado o shopping center que se estenderá até a Usina do Gasômetro.
O abraço está marcado para às 17h, mas a concentração inicia às 15h, na Sepúlveda, entre os edifícios do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e o Memorial. Vai ter música e apresentações artísticas.
Se chover o evento será transferido para o dia seguinte.