Duas mortes e 24 feridos em ataque a um bar na zona Sul, na noite de sábado, 3.
Uma granada arremessada (sem detonar) num condominio na av. João Pessoa, na madrugada do domingo, 4.
São os sinais claros de que a guerra entre facções criminosas em Porto Alegre recomeçou, depois de uma trégua que durou pouco mais de quatro meses.
No início do ano, a partir de 14 de março até meados de abril, foram mais de 30 atentados que deixaram um saldo de 25 mortes na cidade.
Quase 40 suspeitos foram presos, foi reforçado o efetivo policial nas regiões conflagradas e, em 13 de abril, dez líderes que estariam comandando os crimes de dentro do Presídio foram transferidos para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Com isso, aparentemente, cessaram as hostilidades entre os dois grupos. Outras execuções ocorrerem, mas não eram parte da guerra, segundo a polícia.
Agora, na semana passada, uma cabeça humana largada numa rua da Zona Sul foi o aviso de que o terror está de volta em diversos bairros de Porto Alegre.
A Zona Sul parece ser o epicentro da disputa.
Foi também lá, num bar da rua Rio Grande, bairro Campo Novo, que reiniciaram os ataques. Mais de 80 pessoas participavam de um pagode, na festa de um ano do estabelecimento. Por volta de 23 horas, três homens armados (dois com pistolas 9mm e um com uma espingarda calibre 12) descem de um carro, já atirando. Vinte e seis pessoas foram atingidas pelas balas: duas delas morreram na hora, três estão hospitalizadas em “estado gravíssimo”, as demais, feridas, estão fora de perigo..
Segundo a polícia, houve revide por parte de frequentadores, que estavam armados, mas os dois mortos – uma mulher de 29 anos e um homem de 23 anos – não eram alvos. Ela, embora tivesse antecedentes criminais, não tinha ligação com o tráfico. O rapaz era inocente, estava na festa se divertindo.
No caso da granada, encontrada na madrugada deste domingo, 5, dois homens foram presos assim como duas prisões foram feitas depois do tiroteio de sábado. Mas a polícia ainda não tem um quadro claro do novo cenário da guerra.
Em entrevista à rádio Gaúcha, o delegado Rodrigo Garcia, disse que várias ocorrências estão sendo investigadas, envolvendo o trabalho de várias delegacias, sob a coordenação da Delegacia de Homicídios.
´“E preciso isolamento total dos líderes”
No primeiro semestre, quando a polícia anunciou a transferência dos chefes de facção para a Pasc e os atentados cessaram, a juíza Sonali da Cruz Zluhan, da 1ª Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, fez uma advertência.
Responsável pela fiscalização de sete presídios de Porto Alegre e região, entre eles, o Central e a Pasc, ela diss que a simples transferência de líderes de facções para a Pasc “não resolve o problema da comunicação deles com o mundo exterior”.
“Essa incomunicabilidade deveria ocorrer em qualquer presídio. Na Pasc, temos o mesmo problema dos outros presídios, porque eles também usam telefone celular lá. A Penitenciária Estadual de Canoas, é o único presídio no Estado com bloqueador de celular.
Segundo a juiza, atualmente o Estado não possui um presídio que permita a aplicação do chamado RDD (regime disciplinar diferenciado).
A juíza disse que foi prometido em 2014 pelo Estado a construção de um presídio que realmente permitisse o isolamento de presos perigosos, o que não ocorreu até hoje.
” O regime diferenciado pede que a visita seja monitorada. Eles não podem ir juntos para o pátio. Eles têm de ter pátio isoladamente. E eles ficam realmente sem comunicação com o mundo externo. Na Pasc não tem como fazer isso”.