Obscuro papel

Só não vê quem não quer: O JOGO ACABOU
Os meios de comunicação de Porto Alegre embarcaram alegremente na
cantilena da revitalização do Cais Mauá.
Tanto em reportagens como em editoriais colocaram-se espertamente ao
lado dos “investidores”, trabalhando arduamente como parceiros prestimosos de um projeto que  nunca chegou a deslanchar.
Estivadores do marketing disfarçado de jornalismo, venderam o peixe no
afã de participar da farra mercantil prometida para os anos seguintes, quando todos se reuniriam debaixo do big arco-íris desenhado entre a Rodoviária e a Ponta da Cadeia.
Agora que a miragem desapareceu no horizonte, a imprensa, o rádio e a TV do RS
enxugam as lágrimas para tentar voltar a ver o que nunca deixou de estar
aí diante dos olhos de todos: os navios continuam no seu vaivém vagaroso pelas   águas do Guaíba, o magnífico rio-lago sempre fiel à origem portuária
da cidade.

Cais Mauá

Estamos preparando uma edição impressa dedicada ao Cais Mauá.
Releve-se a licença jornalística de batizar dossiê um resumo, em 16 páginas de jornal, de conteúdo tão complexo.
O grupo de trabalho que o governador Eduardo Leite  designou estudar os meandros dessa concessão  encheu  700 páginas para fazer um histórico do emaranhado.
Em todo caso, nosso propósito é contribuir para o esclarecimento e nosso  esforço é para fazer uma síntese e fornecer o máximo de  referências para que a cidadania possa participar do debate.
É notório que o Cais Mauá requer uma intervenção e que o poder público não tem recursos para isso.
Uma concessão foi decidida, um contrato foi assinado há nove anos, mas nada aconteceu. Qual é o futuro do porto que é um espaço simbólico e que de certa forma mexe com toda a vida da cidade?
Não somos contra o projeto, até porque, depois de tantas mudanças,  não se sabe qual é mesmo o projeto.
E também porque nosso papel não é esse. Nosso papel é lutar contra a desinformação.
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Caranguejos

Colunistas e comentaristas de veículos de longo alcance estão atribuindo aos “caranguejos” o malogro do projeto de revitalização do Cais Mauá.
Caranguejos seriam aqueles que criticam o projeto desde o início e se organizaram para tornar públicas irregularidades que os ditos colunistas e comentaristas de largo alcance relevam, quando não omitem.
Sim, é graças aos caranguejos que parcela da população sabe que o contrato de concessão vem sendo descumprido desde o início e que os investidores não tem dinheiro para cumprir o cronograma de obras.
Não foram os caranguejos, porém, que levaram o projeto ao ponto de inviabilidade em que se encontra.
Foram, antes de tudo, os desacertos entre os grupos que se associaram para formar o Consórcio Cais Mauá do Brasil e deveriam captar no mercado os recursos para o investimento. E, principalmente, a falta de transparência.
Quando houve a licitação, os espanhóis que eram os “fiadores” do negócio, já estavam caindo fora.
Ao que se sabe ficaram sem fôlego ante crise financeira que atingiu a matriz e tiveram que recolher as fichas. Desde, então, não houve mais estabilidade. Nos últimos meses a gestão foi entregue a uma administradora especializada em “fundos estressados”.
Agora, em fevereiro, foi apresentada uma saída para a falta de dinheiro que impede o início das obras.
Em vez de começar pela restauração dos armazéns, como prevê o contrato de concessão, o projeto começaria pelo arrendamento de um pedaço da área concedida para outros investidores.
A área concedida tem 181 hectares. O terreno arrendado para a DC Set e outros corresponde a 2 hectares, uma ponta do porto junto à Usina do Gasômetro.
Será, conforme o projeto amplamente divulgado e elogiado, o “Cais Embarcadero”, um “espaço de lazer”, com bares, restaurantes e um estacionamento.
Junto à nova orla, que atrai multidões, será sem dúvida um bom negócio. Mas e o patrimônio público envolvido na concessão?
Os armazéns em pouco tempo estarão irrecuperáveis…Quem sabe é isso mesmo que se quer?
Ah, perguntas e ilações de caranguejo!
 
 
 
 
 
 

Privatizações

Devo advertir meus eventuais leitores que não sou por princípio ou convicção ideológica contra transferência empresas ou atribuições do poder público para a dita “iniciativa privada”.

Apenas sou rodrigueano e acho que “toda a unânimidade é burra”.

Essa opinião única que viceja na mídia de que a saída para a crise do setor público é a privatização ou a concessão temporária de ativos públicos para o investidor privado, me deixa com o pé atrás da orelha.

Primeiro que é uma falácia essa história de que a iniciativa privada é sempre mais eficiente do que o agente público. Eficiente para quem? Para o empreendedor privado ou para o interesse público? A Vale está aí para quem quer ver.

Segundo, essa pressa. Iluminação, água, lixo, praças, carris, HPS, CEEE, Sulgás, CRM, estradas, portos, aeroportos…de cambulhada. Como é que a gente demorou tanto para descobrir que a iniciativa privada estava aí para resolver todos os nossos problemas?

Terceiro, temos clamorosos exemplos de fracasso de transferência de serviços públicos para a iniciativa privada. Cito um, poderia citar dez:

A concessão de estradas estaduais e federais no Rio Grande do Sul no governo de Antônio Britto, cercada de todas as boas intenções e justificativas.

O governo investiu boa parte do que arrecadou com a venda da CRT e parte da CEEE para entregar em boas condições as estradas aos concessionários.

Passaram-se 20 anos, os concessionários tiveram um lucro líquido de R$ 2,4 bilhões e as estradas foram devolvidas ao Estado nas mesmas condições e em pouco tempo estavam deterioradas. Até a Zero Hora reconheceu em editorial que aquele contrato foi um mau negócio para o Estado.

Olha aí o caso do Cais Mauá. Não são os “caranguejos”. É um contrato torto desde o início, resulta em prejuízos incalculáveis para o Estado.

Quero dizer: privatização, concessão, terceirização, não é panaceia. Tem que estar exposta à crítica e tem que ter transparência, que é o que mais falta nesses negócios entre o público e o privado.