Preocupação do Ocidente com ferramentas financeiras próprias do Brics

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, declarou esta semana a crescente preocupação do Ocidente com o trabalho dos países do BRICS para desenvolver os seus mecanismos financeiros independentes. “Este trabalho está preocupando cada vez mais os Estados Unidos e os seus aliados, pois se for bem-sucedido irá questionar seriamente os mecanismos de globalização que estão atualmente funcionando sob a liderança do Ocidente”, disse Lavrov numa reunião da comissão do Conselho Geral do partido Rússia Unida sobre cooperação internacional e apoio aos compatriotas no exterior.

Segundo o ministro, a Rússia tem interesse em aumentar o papel dos estados do BRICS nos sistemas monetário, financeiro e comercial internacional, desenvolvendo a cooperação interbancária, expandindo o uso de moedas nacionais e criando a sua própria bolsa. O principal diplomata russo observou que o Ocidente começou a “abusar descaradamente” dos mecanismos internacionais, utilizando-os para suprimir concorrentes e punir dissidentes.

A influência política e econômica do bloco aumentou significativamente desde que duras restrições foram impostas à Rússia pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países ocidentais após o início do conflito na Ucrânia em 2022. Nenhum dos membros do BRICS aderiu à campanha ocidental e continuou ou impulsionou o comércio com a Rússia.

Em 2023, seis países foram convidados a tornarem-se membros a partir de 2024 – Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito e Etiópia -, entre mais de 20 candidatos. O então presidente da Argentina, Alberto Fernández, confirmou a adesão. No entanto, Brasil e Argentina no Brics seria uma derrota geopolítica inaceitável para os Estados Unidos, já com muitas dificuldades no Oriente Médio e Eurásia.

Então, providencialmente, surge o típico candidato títere do império, o caricato Javier Milei, que acabou assumindo a presidência na Argentina. Logicamente, ele recusou aderir ao Brics, considerando que isso não era oportuno para o país e que sua parceria seria com Estados Unidos e com Israel e não com “comunistas”.

Em fevereiro passado, na primeira reunião do Brics sob a presidência da Rússia, a Arábia Saudita não compareceu. O regime controlado pelo príncipe Mohammed bin Salman deve estar sofrendo uma pressão fortíssima dos Estados Unidos. A dolarização do petróleo deu seu passo inicial ao término das negociações na Conferência de Yalta (4 a 11 de fevereiro de 1945), quando o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, se encontrou com o fundador do Reino da Arábia Saudita, rei Abn Saud, no dia 14 de fevereiro de 1945 no navio militar USS Quincy, próximo ao canal de Suez. Aprofundaram os termos do acordo de 1936, em que se definia a inserção exclusiva das empresas dos Estados Unidos dentro do reino, em troca da proteção militar norte-americana. Para o desespero dos Estados Unidos com o mundo multipolar, é só uma questão de tempo.  

Sob a supervisão de Moscou, o BRICS realizará mais de 200 eventos em 2024, cobrindo uma ampla gama de questões. O principal evento da presidência da Rússia será a reunião em outubro próximo, em Kazan, no Tartaristão, na região russa do Volga.

Alternativa ao FMI

Também esta semana o embaixador etíope Cham Ugala Uriat disse que é vital para o BRICS criar um sistema monetário internacional alternativo. Uriat afirmou que os membros do bloco devem colaborar para melhorar as suas economias e criar uma nova alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com sede em Xangai, criado pelos integrantes do BRICS e inaugurado em 2015, deve ser fortalecido para que possa “contribuir para os estados membros do BRICS”, argumentou o embaixador.  Uriat expressou confiança de que isto permitiria ao NBD servir como uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

O grupo BRICS de economias emergentes, anteriormente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, sofreu uma grande expansão quando o Irã, a Etiópia, o Egito e os Emirados Árabes Unidos aderiram em janeiro deste ano. 

Em fevereiro passado, a chefe do NBD, Dilma Rousseff, observou que a adição dos novos membros aumentará a participação do grupo na produção econômica global dos atuais 35% para 40% até 2028. 

Em 2023, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participou da posse de Dilma Rousseff como presidente do banco do Brics, um instrumento financeiro do bloco que busca ajudar países em desenvolvimento. Para o Brasil, estão reservados um bilhão e setecentos milhões de dólares.

No seu discurso, o presidente Lula salientou um aspecto que sinaliza uma influência na direção de um mundo mais plural. Lula disse que os países não precisam ficar sempre atrelados ao dólar nas suas transações internacionais. Que é possível fazer um comércio direto usando as moedas locais, de uma maneira diferente e com muita paciência, uma marca dos chineses. E que o banco tem um potencial transformador para o mundo.

Com agências Brasil, Russian Today e Tass