Geraldo Hasse
“A Mina Guaíba é um projeto de mineração de carvão mineral, areia e cascalho…”, informa, na primeira linha, o preâmbulo do estudo de impacto ambiental sobre a exploração da jazida de carvão mineral situada na divisa dos municípios de Charqueadas e Eldorado do Sul, no baixo vale do rio Jacuí, na região metropolitana de Porto Alegre.
O objetivo do extenso documento apresentado pela Copelmi MIneração Ltda – a maior mineradora gaúcha — é obter da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fepam) a licença para instalar a mina num local em que o cascalho e a areia figuram como detalhes extremamente secundários de um projeto de inédita abrangência para a economia do Rio Grande do Sul, na qual o carvão mineral está presente há mais de 100 anos.
Consciente de que não há mercado para o carvão como simples insumo da geração de eletricidade, a Copelmi propõe o aproveitamento desse mineral – muito abundante no território gaúcho — como matéria-prima de uma cadeia de produtos: a partir do gás sintético a ser extraído do carvão e usado como fonte de produção de eletricidade, projeta-se chegar à utilização completa das sobras do processo termelétrico por indústrias de fertilizantes, cerâmica, cimento e construção civil.
Tudo isso conformaria o chamado polo carboquímico de Charqueadas, articulado pelas mais recentes autoridades estaduais, especialmente pelo governo de José Ivo Sartori (2015-2018), o mesmo que em 2017, contraditoriamente, extinguiu a Cientec, a fundação estadual que pesquisava a extração de gás do carvão gaúcho, visando aumentar a eficiência do processo de aproveitamento do mineral, sem emissão de partículas de sua queima.
Como é natural, o projeto da Copelmi desencadeou uma polêmica envolvendo empresários, técnicos, ambientalistas e a população residente nas vizinhanças da Mina Guaíba — na realidade, o coração do futuro polo carboquímico de Charqueadas. Enquanto promovia audiências públicas, o Ministério Público Estadual abriu processo sobre a validade dos polos carboquímicos gaúchos — há outro previsto em Candiota, no sul do Estado.
Já a Fepam, após uma primeira avaliação do projeto apresentado pela Copelmi, interpôs dezenas de exigências para a adequação ambiental do empreendimento, que vem gerando temores também em habitantes da capital quanto ao risco de contaminação da água do rio Jacuí, sua única fonte de abastecimento.
Surpreendentemente, ninguém questiona a viabilidade econômica do projeto: mesmo sabendo-se que a Copelmi não tem cacife financeiro nem tecnológico para bancar todo o empreendimento, acredita-se que a mineradora tem o direito de buscar parceiros que entrem com o capital e a tecnologia para gaseificar o carvão, desviando-se assim do método convencional de queima de um produto que, além de estigmatizado como altamente poluidor, tem alto teor de cinzas.
No calor da discussão, os defensores do polo carboquímico argumentam que a gaseificação do carvão para fins energéticos é uma tecnologia nova e limpa que vem sendo usada na Alemanha, na China e…por que não no Rio Grande? De propósito ou não, a Copelmi articula uma façanha.
Se for concretizado, o empreendimento de Charqueadas/Eldorado do Sul pode dar um impulso significativo à economia gaúcha, tanto no aspecto da autossuficiência energética quanto no aproveitamento de resíduos para a fabricação de outros produtos como fertilizantes nitrogenados, de uso intenso pelos agricultores do Rio Grande do Sul.
Ressalvado seu incerto impacto ambiental, ainda em avaliação, o polo carboquímico configura um arranjo produtivo comparável a projetos históricos como o da indústria naval de Rio Grande, o polo petroquímico de Triunfo e o projeto da Aços Finos Piratini em Charqueadas.
Geraldo Hasse é jornalista.
Péssima e restrita abordagem de um grande jornalista como Geraldo. China, Alemanha e Polonia entre outras nao usam mais carvao em seus territorios. Energías limpas seriam solar, eólicas, jamais Carvão (2030) .