Desmatamento é a principal causa do aumento de emissões de gases

Foi um aumento mínimo, de 0,2%. Mas, para quem é o sétimo na lista dos maiores poluidores do planeta, o aumento das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, em 2018, é preocupante.
Principalmente porque a causa principal – os desmatamentos e queimadas – parece fora de controle.
O balanço das emissões brasileiras em 2018 foi divulgado na semana passada pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (www.seeg.eco.br). Não mereceu muita atenção.
O total das emissões registradas no Brasil alcançou 1,939 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, 0,2% a mais do que em 2017.
As emissões causadas por mudança no uso da terra – queimadas, derrubadas, mineração – representam 44% do total das emissões brasileiras. No conjunto, elas cresceram 3,6% em 2018.
Esse crescimento teve como causa principal as emissões causadas pelo desmatamento na Amazônia,que aumentaram 8,5%.
Foram 29 milhões de toneladas a mais de C02 lançadas na atmosfera pelas queimadas. Segundo o Prodes, dado oficial do desmatamento no Brasil, foram 7.500 km2 em 2018.
O setor agropecuário, em segundo lugar, com 25% do total das emissões, registrou pequena redução de 0,7%.
A  diminuição do rebanho nacional foi a principal causa e por razões que nada têm a ver com preocupações ambientais: a alta cotação da carne no mercado internacional levou a um aumento e antecipação de abates. Desta forma a emissão do metano do gado (muito mais nocivo do que o CO2) foi reduzida.
A maior redução, de 5%, foi registrada no terceiro grupo mais poluente, o setor de energia responsável, por 21% do total das emissões no Brasil.
Duas são as causas principais:
1) o forte aumento do uso do etanol no transporte de passageiros, devido à obrigação de adicionar biodiesel ao diesel.
2) o crescimento das energias renováveis na geração elétrica.
Felipe Barcellos e Silva, analista de projetos do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente: “Choveu muito, as hidrelétricas foram muito acionadas em detrimento das térmicas fósseis”.
Também foi a primeira vez que as fontes não hídricas ultrapassaram as fósseis na matriz elétrica, diz ele, citando a energia eólica, biomassa e solar. Este grupo foi a segunda maior fonte de energia no Brasil em 2018.
O setor industrial, que responde por 5% do total das emissões, registrou aumento de 1%, em relação ao ano anterior, apesar da queda na produção.
Outros 5% são emissões decorrentes da decomposição de resíduos, que registraram crescimento de 1,3%.
Desafio do Brasil é  reduzir desmatamento
Ricardo Abramovay, professor da USP, ouvido pelo Valor, chamou atenção para “a grande diferença entre a natureza das emissões do Brasil e a dos grandes países poluidores”.
Nos países desenvolvidos, assim como na Índia e na China, a redução das emissões depende de grandes investimentos em ciência e tecnologia, porque a maior fonte de emissões é o setor de energia.
No Brasil, esforço  tem que ser no combate ao desmatamento.
“Para interromper o desmatamento não precisamos fazer grandes esforços em ciência e tecnologia”, diz o professor. “Infelizmente estamos avançando em direção ao aumento das emissões pelos piores métodos. É vergonhoso”, lamenta.
A meta de reduzir 80% a taxa de desmatamento da Amazônia até 2020 parece inalcançável: “Já tínhamos uma situação delicada antes do desmonte da governança ambiental promovida pelo atual governo”, diz Carlos Rittl, do Observatório do Clima.
“Em 2019, os planos de combate ao desmatamento na Amazônia e Cerrado foram engavetados e não temos nem mesmo um esboço de plano para a implementação da NDC, que deveria ocorrer a partir do ano que vem. Na verdade, até os órgãos que deveriam implantar a NDC foram extintos pela atual administração”, afirmou Rittl.
A NDC (Contribuição Nacional Determinada, em inglês) é o mecanismo de metas de redução estabelecido pelo Acordo de Paris para cada país signatário.
Emissões no Brasil
Fontes                                         % do total      2018
Mudanças nos usos da terra              44%          +3,6
Agropecuária                                       25%          -0,7
Energia                                                21%          -5,0
Industria                                               05%         +1,0
TOTAL                                                100%         +0,2
 

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