“Sirvam nossas patranhas de modelo à toda terra…”

Elmar Bones
As gravações ouvidas nos últimos dias estão expondo as vísceras da política no Rio Grande do Sul. Estão pondo abaixo o mito de que no Estado se pratica uma política diferenciada – mais ética, mais comprometida com o interesse público.
Havia até uma referência histórica para isso, o positivismo borgista com seu moralismo. Agora vai ficando claro que era só para rechear discurso.
Nos anos 60, Franklin de Oliveira escreveu “Rio Grande do Sul, o novo nordeste”, livro polêmico. Dizia que o Estado estava empobrecendo e apresentava níveis de desenvolvimento equivalentes ao dos mais pobres estados nordestinos.
A profecia de Franklin de Oliveira para a economia se realizou na política. No sentido de usar a política para se apropriar do dinheiro público, o Rio Grande do Sul parece hoje o velho nordeste. Aquele dos coronéis, que confundiam o seu com o do Estado ou vice-versa.
Por mais que o deputado Cezar Busato tente explicar, o que está declarado nas gravações tem coerência total com o que realmente acontece.
O Banrisul é uma das fontes de financiamento do PMDB, diz Busato.
Todos sabem que o presidente do Banrisul é uma indicação do senador Pedro Simon, desde o governo Rigotto e que permanece no cargo por vontade do senador. O senador Pedro Simon tem se mantido distante do governo, sem abrir mão do seu campo de influência.
O Detran seria, segundo a afirmação de Busatto, a fonte de financiamento do PP, com Otávio Germano à frente. “Custa muito caro romper com Otávio Germano”, diz Busatto em seu diálogo com Feijó.
Em seguida, em demonstração de realismo político, o secretário descreve como ocorrem as relações dos grandes partidos dentro da estrutura do Estado.
Em cada momento a fonte é uma: já foi o Daer ( “Quanto tempo sustentou? Fortuna no tempo das obras”), a CEEE e, agora, o Banrisul e o Detran.
As conversas gravadas pela polícia federal na Operação Rodin mostram como os grupos operavam por dentro da máquina pública. As fitas divulgadas por Feijó mostram como se dava a cobertura política para essas operações.
Nesse ritmo, será necessário mudar o hino. Em vez de façanhas, “sirvam nossas patranhas de modelo à toda a terra”.

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