Por Carlos Matsubara
No Rio Grande do Sul, ocorreram 50 suicídios de brigadianos, entre 2008 e 2018. Os dados são da Associação dos Oficiais da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros (ASOFBM), e foram apresentados na manhã desta quarta-feira (28), em Porto Alegre.
Na população gaúcha, a incidência anual é de aproximadamente 10 para cada 100 mil habitantes, o que corresponde a cerca do dobro da nacional. De acordo com os dados apurados pela ASOFBM, através da seção biopsicossocial da Brigada Militar, o afastamento laboral dos policiais militares por problemas psiquiátricos chega a 53%.
Um dos maiores obstáculos para o enfrentamento dos transtornos, segundo a associação, é não falar sobre o assunto, principalmente dentro das Corporações. A rigidez hierárquica, faz com que os militares escondam o problema de seus superiores.
“Além disso, tem o temor do policial em ser estigmatizado e preterido na hora das promoções, ou seja, ter a carreira militar interrompida”, esclarece o presidente da ASOFBM, Coronel Marcos Paulo Beck.
Segundo o Cel Beck, diversas questões estão associadas para o aumento do número de suicídio, entre elas, acesso a porte de armas, situação financeira (parcelamento de salários), problemas familiares e o aumento da criminalidade que leva o policial a trabalhar com uma carga emocional alta.
De acordo com a avaliação do psiquiatra civil, procurado pela ASOFBM, Luiz Carlos Coronel, “os militares estão em um outro fator de risco que é denominado, atualmente, de traumatização vicária. Quem trabalha no dia a dia com ameaças de morte, com violências, seja em que área for, militar, civil, UTI, pronto socorro, em zonas conflagradas, quem lida com as violências dessas que afetam a vida de modo significativo, a existência, pode desenvolver um quadro que se chama de traumatização. A pessoa adoece, desenvolve um quadro de ansiedade e depressão, e outros sintomas que estão na origem de muitos suicidas. ”
Número de psiquiatras é insuficiente
Atualmente, a Brigada Militar conta com cinco psiquiatras para atender o efetivo que chega a 19 mil homens. Apesar da contratação dos novos oficiais médicos, o projeto para a avaliação psicológica do policial começa a decolar agora. De dois em dois anos avaliações deverão ser feitas para constatar se está apto para seguir na profissão. Até então, os únicos exames psicológicos realizados eram de ingresso na corporação, após aprovação do concurso.
Para o psiquiatra Luiz Carlos Coronel as instituições Militares brasileiras não atuam fortemente no trabalho preventivo, “ então eu louvo até a iniciativa de programas como este de que trate das necessidades de implantação dessas medidas. Existem trabalhos magníficos que mostram o conhecimento científico que podem ser usados quando há uma necessidade de quadros de depressão, de ansiedade, de pânico e de risco”.
O problema se agrava, pois, as Corporações evitam falar e divulgar dados e, sem eles, não é possível estudar, revelar como se manifesta e quais os caminhos para superar esses problemas. Por isso, a Associação dos Oficiais lançou uma campanha de prevenção ao suicídio. Peças impressas, em formato de cartilha foram confeccionadas e deverão ser distribuídas nas Corporações BM e CBM. Nela é possível observar os sinais de quem precisa de ajuda, as causas, o que fazer e para onde encaminhar. A ASOFBM também produziu um vídeo com relatos de familiares de policiais que se suicidaram.
Juliana Dill, esposa de um capitão da Brigada que cometeu suicídio em novembro de 2018, acredita que foi pelo estresse do trabalho,embora o marido “amasse mais a Brigada Militar do que a própria família”. Apesar das evidências, ela ainda não acredita que ele tenha se matado, lembrando que o inquérito ainda não foi concluído.
Dados No Brasil – PMS
Dados disponíveis pela agência Pública, revelam que em São Paulo, entre 2006 e 2016, 182 policiais militares cometeram suicídio: uma morte a cada 20 dias. Índice proporcional ao número do efetivo.
Entre 2008 e 2018, 10 se mataram em Pernambuco. No Ceará, entre 2011 e 2018, foram 18 PMs mortos por suicídio; enquanto no Rio Grande do Norte, entre 2010 e 2018, foram oito suicídios – mesmo número dos ocorridos entre 2015 e 2018 em Alagoas. Já no Distrito Federal, foram 11 suicídios entre 2016 e 2018, mesmo período em que 21 PMs se mataram na Bahia.