Solução de dois estados entre Palestina e Israel é unanimidade no G20

A solução de dois estados – um Palestino e um Israelense – foi unanimidade entre os integrantes do G20, grupo dos 20 países que reúnem as principais economias do mundo, como único caminho para a paz no Oriente Médio. A posição foi repassada na quinta-feira (22) pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ao término do encontro de chanceleres, no Rio de Janeiro. A reunião foi a primeira de nível ministerial realizada sob a presidência brasileira no G20.

De acordo com o chanceler brasileiro, “grande número de países, de todas as regiões, expressou a preocupação com o conflito na Palestina, destacando o risco de alastramento aos países vizinhos. Vários demandaram a imediata libertação dos reféns em poder do Hamas”, completou. Mauro Vieira acrescentou que houve “virtual unanimidade no apoio à solução de dois estados como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina”.

Foi considerado no encontro especial destaque o deslocamento forçado de mais de 1,1 milhão de palestinos para o sul da Faixa de Gaza. “Nesse contexto, houve diversos pedidos em favor da liberação imediata do acesso para ajuda humanitária na Palestina, bem como apelos pela cessação das hostilidades. Muitos se posicionaram contrariamente à anunciada operação de Israel em Rafah, pedindo que o governo de Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão”, ressaltou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu na quarta-feira, no Palácio do Planalto, com o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken. Na saída do encontro de quase duas horas, Blinken afirmou que os dois países estão trabalhando juntos de forma bilateral e global, e disse ser grato pela “amizade” com o Brasil. Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que Lula reafirmou no encontro o desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Os dois também concordaram com a necessidade de criação de um Estado Palestino.

O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, está circulando um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU que alertaria o exército israelense para não realizar uma ofensiva terrestre em Rafah, perto do Egito, onde mais de 1 milhão de refugiados palestinos estão se abrigando. Também pediria um cessar-fogo temporário.

Reforma na ONU

Outra unanimidade destacada pelo ministro Mauro Vieira durante o encontro de chanceleres é a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), instituição multilateral máxima para temas ligados à paz mundial e resolução de conflitos e guerras. O apelo do Brasil à reforma das atuais instituições multilaterais representa a visão da maioria dos países do Sul Global. O atual sistema internacional tem sido dominado e até mesmo sequestrado por alguns países ocidentais para servir os seus propósitos hegemônicos, ignorando ao mesmo tempo os interesses dos países do Sul Global.

A presidência brasileira do G20 espera impulsionar uma reforma que inclua novos países membros, rotativos e permanentes, com aumento na representação, sobretudo da América Latina, do Caribe e da África. Atualmente, o conselho é formado por 15 países, mas apenas cinco – Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido – têm poder de veto, o que tem inviabilizado resoluções como um cessar-fogo na Faixa de Gaza, por exemplo.

Parceria Brasil e China

O vice-ministro das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu, que representou a China na reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, se reuniu com o ministro Mauro Vieira. Ma disse que a China está disposta a aproveitar esta oportunidade para trabalhar com o Brasil para dar continuidade aos importantes entendimentos comuns alcançados entre os dois chefes de Estado, impulsionar ainda mais as estratégias de desenvolvimento, aprofundar a cooperação em vários campos e levar as relações China-Brasil a um novo nível. A China apoia o trabalho do Brasil como presidência do G20 para promover conjuntamente o sucesso da Cúpula do G20 deste ano.

Na quarta-feira passada (21), Moscou questionou a que a segurança da Ucrânia fizesse parte da agenda do encontro, afirmando num comunicado divulgado pelo seu Ministério dos Negócios Estrangeiros que a questão é “não essencial” para o G20. “A delegação russa pretendeu chamar a atenção especial dos parceiros para a inaceitabilidade da politização do G20, que  foi concebido para se concentrar estritamente nos desafios socioeconômicos”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscou no seu site.

Falando ao jornal O Globo, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que “a Rússia está aberta a resolver o conflito pacificamente”, mas até que as “políticas russo-fóbicas” em Kiev e no Ocidente coletivo sejam abandonadas, as “decisões de Moscou serão baseadas em nossos interesses nacionais”.

O encontro, realizado na Marina da Glória, ponto turístico na orla carioca, contou com a presença de 45 delegações de integrantes do G20, convidados e entidades multilaterais, como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Dos países, 32 estiveram presentes com representantes de nível ministerial.

Foi a primeira reunião em nível ministerial do G20 sob a presidência brasileira. Na semana que vem, dias 28 e 29 de fevereiro, ministros das finanças e presidentes de bancos centrais se encontrarão em São Paulo.

Também estão previstas diversas reuniões de grupos de trabalho em cidades brasileiras até o encontro final sob a presidência brasileira, quando chefes de Estado e de governo se encontram nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.

Além de encontros em território brasileiro, o país pretende organizar uma cúpula de ministros também em Nova York, em setembro, em paralelo ao encontro anual da Assembleia Geral da ONU.

Com Agência Brasil, O Globo, Global Times e Russian Today