Pesquisa da FIERGS: índice de confiança dos empresários está em queda desde a eleição de Lula

O Índice de Confiança do Empresário que a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul afere mensalmente está em queda desde outubro do ano passado e “continua a mostrar pessimismo disseminado entre os empresários”.

O último resultado divulgado esta semana mostra queda de um por cento em fevereiro em relação a janeiro,  chegando a 45,9 pontos. Nos últimos cinco meses o índice acumula uma queda de 17 pontos. A queda persistente coincide com a eleição do presidente Lula, em outubro passado.

“A percepção da indústria gaúcha é de perdas na economia brasileira. O setor também não vê, diante do elevado nível de incerteza, perspectivas de melhora para o País. O cenário econômico nacional segue indefinido em relação à condução da política econômica, sobretudo dos problemas fiscais, além dos juros elevados e da inflação persistente que provocam impacto na atividade do setor”, avalia o presidente da FIERGS, Gilberto Petry.

O nível de confiança em fevereiro de 2023 é o mais baixo desde junho de 2020, registrando valores menores apenas em julho de 2005, em função da estiagem histórica; em janeiro de 2009, por causa da crise financeira mundial; entre junho de 2014 e maio de 2016, a maior recessão da história do Brasil; e de abril a junho de 2020, em consequência da pandemia.

O ICEI-RS, assim como seus componentes, varia de zero a cem pontos, sendo que 50 separa a presença da ausência de confiança.

O Índice de Condições Atuais recuou para 41,5 pontos, revelando, abaixo de 50, piora nas condições dos negócios nas empresas, que foi mais intensa e disseminada do que em janeiro, quando atingiu 46,3.

São 16,7 pontos perdidos desde outubro. Já o Índice de Condições Atuais da Economia Brasileira mostrou a maior queda, 5,5 pontos, de 41,6 para 36,1 no período, refletindo o percentual maior de empresários que percebem piora (eram 43,2%, em janeiro, passando para 52,1%, em fevereiro) e queda na parcela dos que veem melhora, de 12,6% para 2,6%.

As condições das empresas também se agravaram: o índice recuou de 48,7 para 44,2 pontos. Em fevereiro, um terço delas  afirmaram que suas condições pioraram nos últimos seis meses.

As expectativas para os próximos seis meses, porém, ficaram menos pessimistas, em fevereiro, na comparação com janeiro.

O Índice de Expectativas subiu de 47,2 para 48,1 pontos no período. Mesmo com alta, o valor abaixo de 50 indica pessimismo, refletindo as perspectivas bastante negativas para a economia brasileira (o índice subiu de 38 para 40,7 pontos).

De janeiro para fevereiro, o percentual de empresários pessimistas com a economia brasileira caiu de 51,4% para 41,2% e o de otimistas também baixou de 14,2% para 10,8%, aumentando a parcela com perspectiva neutra de 34,4% para 48%.

O Índice de Expectativas para as Empresas, por fim, manteve-se no mesmo patamar de janeiro, em 51,8 pontos, indicando uma perspectiva ligeiramente positiva (pouco acima de 50 pontos) para o desempenho das empresas nos próximos seis meses.

O levantamento foi realizado entre 1º e 9 de fevereiro, com 194 empresas, sendo 45 pequenas, 64 médias e 84 grandes. A pesquisa completa está em https://www.fiergs.org.br/numeros-da-industria/indice-de-confianca-do-empresario-industrial.

(Com informações da Assessoria de Imprensa)

 

Os movimentos de Eduardo Leite para “unir o Rio Grande”

Dois fatos divulgados nesta quarta-feira indicam uma inflexão na estratégia política do governador Eduardo Leite.

O primeiro é a reunião dos deputados da bancada do Partido dos Trabalhadores  com o chefe da Casa Civil do governo estadual, Otomar Vivian, para uma troca de ideias sobre o enfrentamento à estiagem que já causa sérios prejuízos às lavouras.

Emitido na segunda-feira, para a reunião na terça, o convite surpreendeu a bancada do PT, o principal partido de oposição ao governo Eduardo Leite (PSDB).

Na reunião da bancada,  houve quem tomasse por brincadeira: um governo tucano convidando deputados petistas para saber de ações acertadas de um governo do PT, num ano de eleição?

Além do mais, se quisesse saber como o governo Tarso Genro (PT) enfrentou a estiagem em 2011, o governo Eduardo Leite não precisaria ouvir deputados do PT, bastava consultar os arquivos do Piratini.

Foi um gesto político, entenderam todos. O PT retribuiu, mesmo sem entender bem o significado do convite, e saiu do encontro  entendendo menos ainda.

Foi levantada a hipótese de ser uma atitude preventiva, ante uma iminente mobilização do MST no Estado, logo descartada ante a constatação da escassa influência do PT nas decisões do MST.

No fim da manhã desta quarta-feira 11,  24 horas depois do encontro, ainda não havia uma avaliação na bancada do partido. É inegável, porém, a importância dessa atitude, de ambos os lados.

O segundo fato também ocorreu na terça-feira, desta vez no gabinete do governador, onde Eduardo Leite recebeu uma  comitiva de deputados de dez partidos, capitaneados pelo ex-governador Pedro Simon (MDB) e o presidente da Assembleia, Ernani Polo (PP).

Eles foram pedir que o governador assuma a liderança de um movimento nacional pelo ressarcimento das perdas de arrecadação de ICMS causadas pela Lei Kandir.

A Lei Kandir, aprovada em 1996 para estimular as exportações, é uma das causas principais da crise das finanças estaduais.

Um cálculo feito pela Secretaria da Fazenda diz que o Rio Grande do Sul tem 67 bilhões de reais para receber como ressarcimento pelas perdas com a isenção total de impostos sobre a exportação de produtos primários.

O estudo da Fazenda que chegou a esse número foi feito em agosto. Até agora o governador havia evitado esse assunto. Seus porta-vozes dizem que falar em perdas da Lei Kandir “é acreditar em Papai Noel” ou “vender ilusões”.

Entende-se. O governador está numa negociação, que herdou do governo anterior, para suspender o pagamento da dívida do Estado com a União por seis anos.

Para isso precisaria aderir ao Programa de Ajuste Fiscal transformado em lei no governo Temer e que condiciona o socorro aos Estados, entre outras coisas, à não cobrança de pendências com a União, como a Lei Kandir.

Nestas circunstâncias, a última pessoa a querer pegar a bandeira  da Lei Kandir, seria o governador  Eduardo Leite.

Ele não assumiu a causa, mas o fato de ter recebido uma frente parlamentar com representantes de dez partidos, tendo como padrinho Pedro Simon, aos 90 anos, é revelador.

Embora tenha dito que esta não é a solução para a crise financeira, Leite determinou a criação de um grupo de trabalho com participação da Secretaria da Fazenda, e sugeriu uma articulação com os demais governadores mobilizados.

Esses dois movimentos do governador se decifrarão nos próximos dias, provavelmente.

Por enquanto o que eles indicam, claramente,  é que Eduardo Leite está levando a sério aquela sentença que corre no meio político, de que ele só terá  chance no plano nacional se conseguir “unir o Rio Grande”.

Senão, será o décimo governador tragado pelo buraco do déficit público. O primeiro foi exatamente Pedro Simon.