Itaipu vai verter por 12 dias para aumentar nível do Rio Paraná

Depois  de  quase um ano fechado, o vertedouro da Itaipu voltou a ser aberto  na  madrugada desta segunda-feira (18). A abertura começou às 0h40, para liberar água que vai ajudar a aumentar o nível do Rio Paraná a jusante da  barragem. O vertedouro voltou a ser fechado às 9h da manhã. A nova abertura está prevista para madrugada de terça-feira, mas ainda será definida em uma reunião da área técnica da Itaipu no fim da tarde desta segunda-feira.

A  medida vai possibilitar o escoamento da safra de grãos do Paraguai e  da  Argentina. A longa estiagem prejudica a navegação no Rio Paraná, dificultando o transporte de grãos da Argentina e do Paraguai para os portos de Buenos Aires e do Uruguai. Sem essa operação de Itaipu, os países vizinhos teriam enormes prejuízos.

“Essa ajuda é para evitar um colapso na economia dos países vizinhos  numa  época de tantas dificuldades”, diz o diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna.

Usina vai escoar diariamente 8.500 m3/s de água, sem prejuízos à produção de energia

O  vertimento inicial previsto deve durar 12  dias. Durante este período,  a  Itaipu vai escoar diariamente 8.500 m3/s de água. A medida não afeta a produção de energia. “Devido às medidas de controle da pandemia no Brasil  e  no  Paraguai, a demanda de energia dos dois países caiu, então, durante o dia tem períodos que a Itaipu não consegue escoar esta quantidade de água na produção de energia, por isso, é necessário fazer o vertimento”, explicou  o  superintendente  de Operação  da  Itaipu, José Benedito Mota Júnior.

Na manhã desta segunda-feira, o reservatório da Itaipu estava na cota 219,10  e  a  previsão  é  que o nível desça de 1,5 a 2 metros nos próximos dias.  “Isso  vai provocar um aumento no nível do Rio Paraná, a jusante, da ordem  de  2  a  3  metros,  este  aumento  será de forma gradual e segura, respeitando o Acordo Tripartite”, afirmou José Benedito.

A  Itaipu e a Defesa Civil alertam a população sobre o aumento da vazão.  Nos últimos tempos, o rio, próximo à Ponte da Amizade, havia virado um  roteiro  de  visitação  para  registros  de  fotos  por  causa  da seca histórica.

Em plena pandemia, Amazônia tem o maior desmatamento dos últimos dez anos

A estatística divulgada nesta segunda-feira, 18, confirma aquilo que o noticiário dos últimos meses vem sugerindo: desmatamento da Amazônia está em alta.

Em abril, foi o maior dos últimos dez anos, com 529 km² da floresta derrubada, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que não é ligado ao governo.

Foi um  aumento de 171% em relação a abril de 2019.

Segundo a pesquisa, quase um terço (32%) de toda a área desmatada está dentro do Pará, estado que liderou o ranking do desmatamento neste mês.

Depois do Pará, o segundo estado que mais desmatou foi o Mato Grosso, respondendo por 26% da área desflorestada; em terceiro lugar ficou Rondônia (19%), seguido pelo Amazonas (18%), Roraima (4%) e Acre (1%).

Ainda de acordo com o levantamento do Imazon, 10 cidades foram responsáveis por mais da metade de todo o desmatamento da região em abril:

Altamira (PA) –72 km²
São Félix do Xingu (PA) – 44 km²
Apuí (AM) – 38 km²
Porto Velho (RO) – 31 km²
Lábrea (AM) – 23 km²
Colniza (MT) – 22 km²
Novo Progresso (PA) – 16 km²
Candeia do Jamari (RO) – 14 km²
Cujubim (RO) – 14 km²
. Jacareacanga (PA) – 12 km²

O aumento ocorre em meio à recomendação de distanciamento social devido à pandemia do novo coronavírus.

O Imazon alertou para o desmatamento em terras indígenas e reforçou que esta população está entre as mais vulneráveis à Covid-19.

O território Yanomami, localizado entre Roraima e Amazonas, é um dos mais vulneráveis durante a pandemia.

De acordo com a Funai, já foram confirmados mais de 350 casos de Covid-19 em indígenas no Brasil, mais de 20 somente no Distrito Sanitário Especial Indígena  Yanomami.

O SAD, do Imazon, é um dos sistemas mais usados para monitorar o desmatamento da Amazônia, juntamente com o Prodes e o Deter, que são mantidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O SAD também usa imagens de satélites mas, diferentemente do Prodes e do Deter, não é um dado produzido por agências de governo.

O objetivo do SAD é ter um registro mensal do desmatamento e também da degradação florestal, combinando imagens produzidas por diferentes satélites: Landsat 7, Landsat 8, Sentinel 1A e 1B e Sentinel 2A e 2b.

O SAD foi desenvolvido pelo Imazon em 2008 para produzir alertas independentes sobre o desmatamento.

Nas áreas com tamanho a partir de 1 hectare, o sistema detecta desmatamentos com detalhes de 20 a 30 metros.

Segundo o Imazon, o sistema também monitora as florestas através de nuvens. E acompanha somente as “florestas primárias”, ou seja, aquelas que não foram restauradas ou regeneradas.

Comprovar origem do novo coronavirus ainda é desafio para cientistas

Apesar de todas as discussões envolvendo pesquisadores e acadêmicos de todo o mundo, que não há evidências científicas de que o novo coronavírus saiu de um laboratório de pesquisa ou de um mercado úmido na cidade chinesa de Wuhan.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, falou no domingo sobre “evidências significativas” sobre a origem do vírus ter sido em Wuhan.

Mas não especificou quais são as evidências nem apresentou nenhuma prova concreta para validar suas alegações.

A origem do novo coronavírus por trás da pandemia da COVID-19 permanece pouco clara.

“Saiu do laboratório de virologia em Wuhan, ocorreu no mercado úmido de Wuhan ou em algum outro lugar? Não sabemos a resposta”, disse o general do Exército Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos.

O mais alto especialista em doenças infecciosas e funcionário de saúde dos EUA, Anthony Fauci, esclareceu que as evidências científicas atuais mostram que é altamente improvável que o vírus tenha sido manipulado por humanos.

“Se você observar a evolução do vírus nos morcegos e o que está por aí agora, (as evidências científicas) estão muito, muito fortemente inclinadas que isso não poderia ter sido artificial ou deliberadamente manipulado”, ressaltou ele em uma entrevista publicada na última segunda-feira pela National Geographic.

O vírus “evoluiu na natureza e depois pulou entre espécies”, com “tudo sobre a evolução gradual ao longo do tempo” fortemente indicado, disse Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.

Durante uma audiência no senado na terça-feira, o representante republicano John Ratcliffe não respondeu às perguntas sobre as origens do vírus alegadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que o nomeou como diretor da  inteligência nacional.

Segundo a CNN, quando o senador Angus King perguntou a Ratcliffe se ele tinha visto evidências de que o vírus se originou de um laboratório, ele disse que não. Quando o senador Tom Cotton perguntou a Ratcliffe se ele tinha visto evidências de que o vírus se original de um mercado de Wuhan, ele disse que não.

A Comunidade de Inteligência (IC, em inglês) dos EUA concordou com o amplo consenso científico de que o vírus da COVID-19 não foi criado pelo homem ou geneticamente modificado, de acordo com uma declaração do Escritório do Diretor de Inteligência Nacional há duas semanas.

“A IC continuará examinando rigorosamente as informações e inteligência emergentes para determinar se o surto começou através do contato com animais infectados ou se foi o resultado de um acidente em um laboratório em Wuhan.”

Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) assinalou que a alegação do governo de Trump sobre a origem do vírus permanece “especulativa”, pois a organização não recebeu nenhum dado ou evidência específica do lado norte-americano.

“Se esses dados e evidências estiveram disponíveis, o governo dos Estados Unidos decidirá se e quando podem ser compartilhados, mas é difícil para a OMS operar no vácuo de informações a esse respeito”, disse Michael Ryan, diretor do programa de emergências de saúde da OMS, em uma entrevista coletiva virtual na segunda-feira passada.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse à CNBC na terça-feira que, sem provas, as acusações dos EUA sobre a China pela origem do vírus eram graves e erradas, porque o governo dos EUA não apresentou nenhuma prova.

“Consideramos que não é um momento adequado, no meio de uma crise severa, uma crise sem precedentes, tentar culpar a organização internacional de saúde (OMS) ou, no dia seguinte, na China”, apontou Peskov.

A Grã-Bretanha também viu poucas evidências de que o coronavírus é artificial, segundo a Reuters, citando o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock.

O novo coronavírus se espalhou amplamente pelo mundo inteiro desde o final de 2019 e o único “Paciente Zero” está ausente na maioria dos países, mostrou o mais recente estudo do Instituto de Genética da University College London (UCL, em inglês).

“Os resultados aumentaram muito as evidências de que os vírus SARS-CoV-2 (novo coronavírus) compartilham um ancestral comum do final de 2019, sugerindo que foi quando o vírus saltou de um hospedeiro animal anterior para as pessoas”, disse a universidade em um comunicado na quarta-feira.

“Isso significa que é muito improvável que o vírus que causa a COVID-19 tenha estado em circulação humana por muito tempo antes de ser detectado”

Parque Zoológico completa 58 anos com futuro incerto

Cleber Dioni Tentardini

O Parque Zoológico, em Sapucaia do Sul, completa 58 anos nesta sexta-feira, 1º de maio, no Dia do Trabalhador.

Ele está fechado para visitação desde o dia 17 de março, devido à pandemia.

Os 106 funcionários – metade terceirizados – estão trabalhando em dias intercalados para manter os cerca de 160 hectares e cuidar dos 900 animais de 115 espécies de todos os continentes, com exceção da Antártida.

Casal de rinocerontes brancos vive há muitos anos no Zoo. Foto: Eduardo Polanczyk da Silva

O Zoo é administrado pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado (SEMA), por meio do Departamento de Biodiversidade, e desde quando o governo Sartori extinguiu a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul – que ainda não aconteceu formalmente – se planeja repassar a gestão do parque para a iniciativa privada.

O governo estadual lançou em junho de 2018 consulta pública e depois  publicou um edital de concessão para analisar propostas de empresas interessadas em administrar o parque por 30 anos, com um investimento mínimo de R$ 59 milhões, mas não apareceram interessados.

Os estudos estão sendo revisados para aumentar a sua viabilidade econômica e financeira, de acordo com a SEMA. O segundo edital ainda não foi lançado.

“A revisão dos estudos resultará em novo edital de licitação com modificações em relação ao anterior, mas sem abrir mão dos investimentos necessários para melhorar a qualidade de vida dos animais e a infraestrutura geral do zoológico. O critério de julgamento no edital anterior era maior outorga, que é um valor pago pela concessionária ao Estado. Isso deverá ser alterado, provavelmente passando a menor valor de ingresso, limitado a um teto que será definido nos estudos, ou maior valor de investimentos no Parque Zoológico. Será também tornada mais clara a possibilidade de utilização da faixa junto à BR116 para que a concessionária possa desenvolver atividades que gerem receitas e ajudem na viabilidade econômica e financeira do projeto. Outra alteração possível do novo edital é em relação ao plantel de animais, que poderá ser flexibilizado”, diz a nota enviada ao JÁ pela secretaria do meio ambiente.

Um grupo de biólogos, veterinários e advogados, reunidos na Associação Zoo Melhor, elaborou um documento no qual apontou uma série de críticas e sugestões ao estudo de viabilidade e às minutas do edital e do contrato de concessão.

Há incerteza quanto à manutenção da qualidade na prestação dos serviços e dos servidores concursados, caso uma empresa assuma a administração do parque. Dentre os itens abordados, os profissionais destacam a forma displicente como os indicadores de qualidade foram sugeridos; a negligência a diversas espécies nativas e ameaçadas de extinção na lista que comporá o plantel obrigatório do Zoo e a ênfase a espécies exóticas. Também são sugeridas a atualização e a correção de dados do estudo de viabilidade e dos critérios de habilitação das empresas.

Padre Balduíno Rambo, botânico gaúcho homenageado

Quanto à Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, com mais de 600 hectares, contínua à área do Zoo, está em processo de recategorização como Unidade de Conservação nos termos da Lei Federal 9985/2000 (SNUC), segundo a SEMA. “Por estar nesta situação, não tem gestor nem servidores específicos. De acordo com a da Lei Federal 9985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) e Decreto Federal nº 4340/2002, as unidades de conservação e áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores a atual e que não pertençam às categorias previstas nesta Lei devem ser reavaliadas, no todo ou em parte, realizadas por ato normativo do mesmo nível hierárquico que a reconheceu.”

Animais de cinco continentes 

Alguns animais do Zoo: camelo (Ásia), leão (África), tigre (Ásia), rinoceronte branco (África), chimpanzé (África), babuíno sagrado (África), avestruz (África), casuar (Oceania), cervo vermelho (Europa). Possui diversas espécies consideradas ameaçadas de extinção.

tigres. Foto: Mariano Pairet

Entre as nativas do Brasil, destaca-se o lobo guará, onça pintada, mico leão da cara dourada, macaco aranha de testa branca, papagaio charão, papagaio do peito roxo, anta brasileira.

Lobo Guará. Foto: Mariano Pairet
Os bugios-ruivos, espécie nativa ameaçada. Foto: Caroliny Oliveira

Não há mais girafas no Zoo e a última elefanta,a Pink, morreu em fevereiro desse ano.

Elefante Pink morreu este ano

Mas os rinocerontes, hipopótamos, leão e tigres estão lá. E muitos outros. O mais antigo é um condor dos andes, que chegou no parque em 1972.

Irara (ou papa-mel), é um carnívoro silvestre.

Desde 14 de maço de 2018, o Zoo não recebe animais da comunidade porque o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) foi desativado. O local recebia animais machucados, vítimas de atropelamentos, choques elétricos, órfãos e apreendidos junto a traficantes para serem tratados e reconduzidos  aos seus habitats.

A atual gestora é a médica veterinária Caroline Gomes, especialista em manejo de animais silvestres. Assumiu em 25 de novembro de 2019.

Segundo ela, a receita total nos meses de janeiro, fevereiro e março foi de R$ 724,1 mil. As despesas ficam em torno de R$ 11 milhões por ano, contabilizados aí os salários.

O Zoo produz uma parte da alimentação dos animais, como couve, alfafa, aveia, cana de açúcar, milho e outros tipos de pasto. São consumidos por dia em torno de 7.000 kg de ração, 12.000 kg de frutas e verduras, mais carne e pasto, além de 1.500 kg de carne por mês, entre frango e bovina. A dieta é feita por biólogos e veterinários do parque.

Chimpanzé. Foto: Mariano Pairet

Governador Brizola inaugurou Zoo

Com cerca de 900 hectares situados em São Leopoldo, a área do Parque Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul.

Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal nº 3.115 passando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.

No dia 27 de julho de 1959, o engenheiro João Caruso, secretário de Obras Públicas do governo de Leonel Brizola, entregou um estudo contendo sugestões para criar um parque público. A partir de então, a responsabilidade da área ficou com a Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE), sob a denominação de Grupos de Parques e Jardins. A sede era em São Leopoldo, no próprio Horto Florestal.

Em 1º de maio de 1962, o Parque Zoológico, situado em Sapucaia do Sul foi inaugurado. No começo contava com poucas espécies que viviam em uma praça de São Leopoldo. Também foram adquiridos grandes animais como felinos e elefantes.

 

Em 1855, a pandemia de cólera morbus matou 10% da população em Porto Alegre

A terceira e maior pandemia de cólera do seculo XIX, surgiu na India e nos anos seguintes espalhou-se pelo mundo, causando um número de mortes que a precariedade das comunicações na época não permite calcular.

Na Rússia, registra-se mais de um milhão de mortos. Em Londres num único ano ceifou mais de 10.000 vidas, chegando a mais de 23.000 mortes em toda a Grã-Bretanha.

Quando o cholera morbus chegou ao Brasil, em 1855, o médico inglês John Snow, já havia descoberto o meio de contágio, que era a água contaminada, e o pesquisador Robert Koch já havia identificado o vibrio cholera,  uma bactéria causadora da doença.

Mas aqui nada se sabia. A peste veio em navios que sairam de Portugal, alcançaram o Rio de Janeiro e outros portos da costa brasileira Norte.

Chegou ao extremo-sul em novembro daquele ano a bordo do paquete Imperatriz que levantou ferros no Rio de Janeiro com destino ao porto de Rio Grande.

Durante a viagem a doença manifestou-se em 16 passageiros, matando-os antes de chegarem à primeira escala, a Ilha do Desterro (atual Florianópolis). Os corpos foram jogados ao mar.

No desembarque, por negligência, os passageiros não ficaram detidos para quarentena, como recomendavam as medidas preventivas em todos os portos. Havia gente contaminada entre eles.

O primeiro caso apareceu num escravo, em Pelotas, no dia 9 de novembro. Daí a peste se alastrou seguindo das rotas da navegação -Lagoa dos Patos, Jacuí e caiu no estuário do Guaiba.  Dez dias depois a população de Porto Alegre recebia com “grande terror” a notícia de que a peste se manifestara na cidade.

Há cinco anos, o médico Luis da Silva Flores, presidente da Câmara havia instalado a Comissão de Higiene na cidade. Medidas preventivas haviam sido adotadas desde que a epidemia se manifestara no Brasil.

Quando ela apareceu chegou-se a proibir a venda de  “frutas e verduras de qualquer qualidade”. Pouco adiantou. Morreram 1405 pessoas em Porto Alegre, numa população que mal ultrapassava os 15 mil habitantes.

Outras cidades mais atingidas foram Rio Grande (485 vítimas) Pelotas (446) e Jaguarão, com 329 mortos. Ao todo foram quatro mil mortos no Rio Grande do Sul, segundo estatísticas oficiais que se acredita sejam incompletas.

Na época a Província não tinha mais do que 280 mil habitantes. A cólera só foi vencida em janeiro de 1856. A maioria dos mortos foram escravos, devido as condições em viviam nas senzalas.

O caso mais chocante se deu na Fazenda da Graça, onde a epidemia matou 60 escravos na senzala e chegou também à casa grande , revelando de maneira brutal o quanto a escravidão permeava toda a realidade daquela época.

Morreram a mulher, Eufrásia, e uma filha de 15 anos do Visconde da Graça, um dos homens mais ricos da Província, dono de charqueada, grande proprietário de terras, rebalhos, olaria e até empresa de navegação.

O Visconde anotou em seu diário “E eu mísero pai e infeliz marido, aqui fiquei nesta terra de angústias e de enganos sofrendo os martírios inerentes à fragil humanidade”.

(Fontes: História Ilustrada de Porto Alegre e História Ilustrada do Rio Grande do Sul/Jornal JÁ Editora)

 

Coronavirus já é uma pandemia, mas Organização Mundial da Saúde hesita em declarar

Em dez dias, a epidemia provocada pelo novo coronavirus numa província da China evoluiu para tornar-se uma ameaça real de pandemia global.

Na China, nesta segunda feira, o total de mortes chega a 2.595, num total de 77 mil casos confirmados. Também foram confirmados 409 novos casos de contágio nas últimas 24 horas, quase todos na mesma província.

O coronavírus afeta mais de 25 países e é motivo de alarme crescente por novos focos na Europa, Oriente Médio e Ásia. Fora da China, são 2.101 pacientes infectados e 24 mortes.

A informação de maior impacto neste momento é a morte de sete pessoas na Itália, que não tiveram qualquer relação com a China. O país adotou uma espécie de “toque de recolher” para evitar a propagação da doença.

A cidade de Veneza, próxima às regiões afetadas, cancelou os dois últimos dias do tradicional Carnaval por causa da epidemia.

A informação mais alarmante, no entanto, circula há uma semana na imprensa européia: uma pessoa pode estar infectada e transmitindo o virus sem apresentar qualquer sintoma de doença. 

O caso de uma mulher na China que, sem apresentar qualquer sintoma, infectou cinco pessoas que adoeceram é o mais grave e assustador relatado até agora.
Pessoas infectadas, sem sintomas, mas transmitindo o virus criam um problema desnorteantes para os programas de controle.
Na China, onde o governo que apostava num grande esforço para debelar o perigo rapidamente, surgem os sinais de que as autoridades se preparam para um embate prolongado.
No domingo, em  pronunciamento oficial, o presidente chinês, Xi Jinping, declarou que os esforços para conter a epidemia devem ser mantidos, mas é preciso não comprometer as metas desenvolvimento do pais. Várias atividades e fábricas que estavam paradas voltaram a funcionar e o governo anunciou investimentos em áreas estratéticas.
Apesar do agravamento e da expansão da doença, a Organização Mundial da Saúde, informou na segunda-feira que não a considera como uma pandemia.
O diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, classificou, nesta segunda, os casos no Irã, Itália e Coreia do Sul como “profundamente preocupantes”.
Ele disse que o vírus tem “potencial pandêmico”.
Porém, afirmou que no momento não há uma disseminação global não contida. “Não estamos testemunhando doenças graves ou mortes em larga escala”, declarou. “Esse vírus tem potencial pandêmico? Absolutamente, tem. Já chegamos (à pandemia)? Em nossa avaliação, ainda não”, disse ele, segundo a BBC.
Segundo a mesma fonte, Mike Ryan, chefe do programa de emergências em saúde da OMS, no entanto, disse que agora é a hora de “fazer tudo o que você faria para se preparar para uma pandemia”.

Relatório alerta para o risco de pandemias globais

Será apresentado na Assemblea Geral da ONU, na terça-feira, 24, um estudo inédito sobre o risco de pandemias globais de doenças graves como Ebola, influenza e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).
“Um mundo em risco” é o título do relatório, o primeiro preparado pelo Conselho de Monitoramento da Preparação Global, (Global Preparedness Monitoring Board – GPMB), orgão independente, lançado em maio de 2018, pelo Banco Mundial e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
Situações de conflitos prolongados, estados frágeis que não atendem suas populações e migrações forçadas são fatores apontados como favoráveis à rápida circulação de vírus letais em todo o mundo. As mudanças climáticas, a crescente urbanização e a falta de água tratada e de saneamento básico, também elevam o risco..
De acordo com a co-presidente do GPMB, Gro Harlem Brundtland, os líderes mundiais até agora têm respondido às emergências em saúde com “ciclos de pânico e negligência”.

Ações urgentes

“Está mais do que na hora de trabalhar em ações urgentes e continuadas. Isso deve incluir aumento do financiamento em níveis locais, nacionais e internacionais para evitar a propagação de surtos. Também exige que os líderes tomem medidas proativas para fortalecer os mecanismos de coordenação e de preparação entre os governos e a sociedade para responder rapidamente a uma emergência.”
Segundo o documento, se o mundo enfrentasse um surto como a pandemia de Influenza de 1918, o vírus poderia se espalhar globalmente em 36 horas e o número de vítimas fatais poderia chegar a 80 milhões de pessoas.
Conhecida como Gripe Espanhola, estima-se que a pandemia de 1918 infectou 500 milhões de pessoas, um terço da população mundial na época, com 50 milhões de mortes, o equivalente a cerca de 3% da população.
O relatório alerta que uma pandemia nessas proporções na atualidade pode destruir 5% da economia global, além de colapsar muitos sistemas nacionais de saúde, atingindo as comunidades mais pobres.
De acordo com o levantamento, entre 2011 e 2018 a OMS acompanhou 1.483 eventos epidêmicos em 172 países, de doenças como Ebola, Zika, SARS e febre amarela.
No Brasil, foram detectadas no período epidemias de febre amarela, malária e Zika.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que os surtos mais graves de doenças como Ebola, cólera e sarampo geralmente ocorrem nos locais que possuem os sistemas de saúde mais fracos.
“Como líderes de nações, comunidades e agências internacionais, devemos assumir a responsabilidade pela preparação de emergências e prestar atenção às lições que esses surtos estão nos ensinando. Temos que tomar medidas preventivas antes que eles aconteçam.”
O texto destaca que algumas providências foram tomadas após o surto de Ebola de 2014 na África Ocidental, que infectou 28,6 mil pessoas e fez 11,3 mil vítimas fatais, principalmente em Serra Leoa, Guiné e Libéria.
Segundo o relatório, o custo econômico e social da epidemia na região foi de 53 bilhões de dólares.
A OMS decretou o fim do surto em janeiro de 2016, porém, um novo foi detectado em agosto de 2018 na República Democrática do Congo e já registrou 2,6 mil casos, com 1,8 mil mortes, segundo dados da OMS.
O relatório A World At Risk diz que, em julho de 2019, 59 países desenvolveram um Plano de Ação Nacional para Segurança da Saúde, mas, até o momento, nenhum deles foi totalmente financiado.
Brasil
No Brasil, após a pandemia de influenza de 2009, o governo lançou, em 2010, a Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus da Influenza Pandêmica (H1N1). Na época, chamada de gripe suína, a pandemia de 2009 matou 18,5 mil pessoas no mundo todo. Porém, um estudo publicado pela revista médica The Lancet Infectious Diseases aponta que o número de mortes pode estar entre 151,7 mil e 575,4 mil entre os anos de 2009 e 2010.
O Brasil registrou 50.482 casos em 2009, com 2.060 mortes por influenza A/H1N1, segundo dados do Ministério da Saúde. Após o início da vacinação, em 2010 foram 973 casos da doença e 113 mortes. Em 2011, os números caíram para 181 casos e 21 mortes.
O diretor da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan, Alexander Precioso, destaca a importância da estratégia brasileira de imunização para controlar os surtos de doenças infectocontagiosas transmitidas por vírus.
“O Instituto Butantan foi identificado como um produtor de vacinas de influenza estratégico e recebe apoio técnico e financeiro para produzir lotes de vacinas de determinadas cepas de vírus influenza que teriam o potencial de causar pandemia. Ocorreu no passado com o vírus Influenza H5N1, depois com o H1N1 e finalizamos este ano o estudo clínico de outro vírus influenza potencialmente pandêmico que é o H7N9”.
Segundo Precioso, o vírus H7N9 ainda não se disseminou de forma alarmante entre seres humanos, tendo ocorrido predominantemente entre animais. Porém, o monitoramento internacional da OMS identificou o H7N9 como tendo potencial para desenvolver um comportamento de rápida disseminação levando a uma potencial pandemia.
O diretor reitera que a vacinação é uma ação emergencial para ajudar a conter surtos, mas deve ser coordenada com outras medidas importantes para evitar uma epidemia.
“Não é só ter a capacidade de produzir vacinas, mas é ter todo um contexto de políticas de saúde que vão abordar as diversas áreas que possam contribuir para o controle de uma determinada pandemia. Exemplos: disponibilidade de ter a vacina, acesso aos serviços que podem imunizar, condições mais gerais que a população se encontra. É muito mais fácil você controlar uma pandemia em uma sociedade onde questões de saneamento e nutrição são adequados do que em regiões precárias.”
Atualmente, o Brasil tem enfrentado o aumento de casos de sarampo e de dengue, iinformou.
Recomendações
O relatório A World At Risk traz sete recomendações urgentes para os líderes mundiais se prepararem para enfrentar emergências em saúde. A primeira é se “comprometer com a prevenção, implementando integralmente o Regulamento Sanitário Internacional e aumentando o investimento em prevenção como parte integrante da segurança nacional e internacional.”
segunda é o compromisso político de países e de organizações intergovernamentais regionais para cumprir o financiamento para prevenção e monitorar o progresso nas reuniões anuais. O relatório indica que todos os países construam “sistemas resistentes de prevenção”, com coordenadores de alto nível e prioridade para o envolvimento da comunidade.
Os países, doadores e instituições multilaterais “devem se preparar para o pior cenário de uma pandemia de vírus respiratório em rápida evolução”, promovendo pesquisas e o desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos, com compartilhamento rápido de informações. As organizações internacionais de financiamento devem integrar o tema a seus planejamentos e sistemas de incentivos, assim como os financiadores de assistência ao desenvolvimento de países mais pobres e vulneráveis.
O relatório recomenda que a ONU fortaleça a prevenção e a coordenação da resposta a epidemias internacionalmente.