Matéria sobre APA do Banhado Grande ganha Prêmio Sintergs de Jornalismo

Matéria sobre a Área de Preservação Ambiental do Banhado Grande ganhou o 3º lugar no 2º Prêmio Sintergs de Jornalismo. A entrega das premiações ocorreu na quinta-feira, 14 de dezembro.

Travessia de Viamão (3) – Temos que conciliar uso com preservação, diz gestora de UC integra uma série com cinco reportagens, do jornalista Cleber Dioni Tentardini, publicada no jornal JÁ, entre os dias 11 e 15 de julho de 2023. É uma viagem à capital das águas, considerada pulmão da região metropolitana de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, com mais de 500 km² de áreas protegidas. As matérias abordam os desafios e iniciativas de instituições públicas e ambientalistas para conciliar atividades econômicas com preservação. Mostra pesquisas e práticas ecológicas que criam zonas de amortecimento com produção orgânica no entorno das reservas ambientais. E explora os banhados, lagoas, nascentes, aquíferos, parques, morros, florestas, campos, dunas, que abrigam espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção.

Ao todo, foram agraciados jornalistas e estudantes de onze veículos. Os vencedores do concurso foram revelados em evento realizado nesta quinta-feira (14/12), na sede do sindicato.

“Os premiados desta noite são exemplos de jornalismo de qualidade, de jornalismo que faz a diferença, de jornalismo que transforma a realidade. São profissionais que merecem o nosso respeito, a nossa admiração e o nosso aplauso”, disse Valdir Bandeira Fiorentin, diretor de Comunicação do Sintergs, durante a cerimônia. O dirigente falou sobre a sensação de dever cumprido do atual mandato e desejou sucesso para a gestão que assume o sindicato em janeiro.

Diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors), Viviane Finkielsztejn, agradeceu a oportunidade de participar da entrega do 2º Prêmio Sintergs e ressaltou que, assim como os servidores públicos, a categoria vem sofrendo assédio e agressões. “Nos últimos quatro anos, fomos atacados moral e fisicamente, mas não podemos nos abater. Em tempos de fake news, nosso trabalho se torna cada vez mais importante. Nosso ofício é informar com qualidade”, disse a sindicalista.

Vencedores 2º Prêmio Sintergs de Jornalismo:

Categoria On-line

1º lugar | Silvia Franz Marcuzzo
Agência Pública
Governo do Rio Grande do Sul engavetou planos para lidar com mudanças climáticas

2º lugar | Luís Eduardo Tebaldi Gomes
Sul21
Em 8 anos de congelamento salarial, incentivos fiscais aumentaram 71,6% no RS

Cleber com as jornalistas Bruna Suptitz e Silvia Marcuzzo, que ficou em 1º lugar. Foto Giovanni Tentardini

3º lugar | Cleber Dioni Tentardini
Jornal JÁ
Travessia de Viamão (3): “Temos que conciliar uso com preservação”, diz gestora da APA do Banhado Grande

 

 

 

Categoria Impresso

1º lugar | Paulo Egídio
Zero Hora
Vidas sob o acúmulo dos consignados

2º lugar | Mauren Xavier, Karina Reif e Simone Schmidt
Correio do Povo – caderno + Domingo
Impacto no serviço público

3º lugar | Carlos Rollsing Braga
Zero Hora
O que defendem os críticos da reforma do IPE Saúde

Categoria Fotografia

1º lugar | Jorge Leão
Brasil de Fato RS
Olhar do abandono

2º lugar | Alencar Fabrício da Rosa
Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul
Voo à liberdade

3º lugar | Jonathan Heckler
GZH
Corpo de Bombeiros controla incêndio no litoral

Categoria Eletrônico

1º lugar | Cid Martins e Kathlyn Moreira
Rádio Gaúcha
Crimes Ambientais – O Preço da Multa Não Paga

2º lugar | Eduardo Matos
Rádio Gaúcha
Saúde em risco: desarticulado esquema de venda de próteses ortopédicas vencidas

3º lugar | Cristine Ribeiro Gallisa
RBS TV
Assembleia do RS aprova aumento salarial para governador e deputados

Categoria Estudante

1º lugar | Flávia Simões
Revista Sextante, da UFRGS
Profissão: encontrar respostas

2º lugar | Leticia Menezes Pasuch
Correio do Povo – Caderno de Sábado
Perfil: Mônica tem a atenção para a sétima arte no Estado

Pecuária é principal causa do desmatamento na Amazônia, diz estudo lançado na Cop28

Um mapeamento inédito do MapBiomas Amazônia, divulgado nesta sexta-feira (8) na 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP 28), em Dubai, mostra que a pecuária foi o principal vetor de derrubada de vegetação na América do Sul, no período de 1985 a 2022.

O mapeamento levou em consideração 844 milhões de hectares ou 47% da área da América do Sul. Incluiu o bioma amazônico no Brasil, na Colômbia e na Venezuela, a bacia amazônica no Equador, Peru e na Bolívia, as principais bacias hidrográficas que alimentam o bioma (Amazonas e Araguaia-Tocantins) e todo o território continental da Guiana, Guiana Francesa e Suriname, que não pertence à bacia do rio Amazonas, mas está coberto por floresta similar.

O levantamento mostra que dos 86 milhões de hectares de vegetação natural eliminados do território analisado, 84 milhões foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura, com destaque para pastagem, que ocupou 66,5 milhões de hectares da área devastada entre 1985 e 2022 – ou 77% da área transformada.

As áreas para a agricultura, por sua vez, ocuparam 19,4 milhões de hectares.

Os dados mostram ainda que, ao todo, o uso da terra pelo homem no território amazônico em 1985 correspondia a 51 milhões de hectares, ou 6% do bioma. Em 2022,  esse número passou a 136 milhões de hectares, ou 16% do total.  A eliminação da vegetação, segundo o estudo, atingiu prioritariamente a floresta: apenas 6 milhões de hectares suprimidos no período eram de formações não florestais.

“Embora o levantamento mostre que 81,4% da Amazônia ainda estejam cobertos por vegetação natural, apenas 73,4% são florestas – percentual que já está dentro da faixa estabelecida pela ciência como limite para que a Amazônia se mantenha ou se recupere, evitando o processo de savanização na região”, diz o texto do mapeamento.

As atividades de mineração na floresta também cresceram acentuadamente, de acordo com o levantamento: 1.367% entre 1985 e 2022, atingindo meio milhão de hectares.

(Com Agência Brasil)

Brasil perde 15% de florestas naturais em quase 40 anos, diz MapBiomas

Em novo levantamento, a rede MapBiomas constatou que, entre 1985 e 2022, houve redução de 15% da área ocupada por florestas naturais no país, passando de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares.

O principal fator de devastação foi a apropriação da agropecuária, e os últimos cinco anos aceleraram o processo de desmate, respondendo por 11% dos 87,6 milhões de hectares perdidos, revela a Coleção 8 do Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil. Segundo o trabalho, os biomas que mais viram florestas sumirem nesse período foram a Amazônia (13%) e o Cerrado (27%).

O mapeamento considera diversos tipos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. De acordo com o MapBiomas, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos são considerados,  a Amazônia (78%) e a Caatinga (54%) aparecem como os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022.

O MapBiomas observou, ainda, que dois terços da área destruída, ou seja, 58 milhões de hectares, foram de formações florestais, que são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que prevalecem na Amazônia e na Mata Atlântica. A diminuição das formações florestais foi de 14% nos 38 anos analisados. O Pampa foi o único em que o patamar se manteve estável, mesmo com o passar dos anos.

Pelos cálculos da organização, quase todo o desflorestamento (95%) se deu como consequência do avanço da agropecuária, que implica tanto a transformação de floresta em pastagens como a utilização das áreas para cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas do período sob análise, registrou-se aumento da perda de florestas, seguido de período de redução da área desmatada a partir de 2006.

As florestas alagáveis também fazem parte da paisagem da Amazônia e passaram a ser monitoradas pelo MapBiomas neste ano. Tais florestas são caracterizadas por se formar nas proximidades de cursos d’água. Nesse caso, no intervalo de quase 40 anos, foram perdidos 430 mil hectares de florestas, que ocupavam 18,8 milhões de hectares ou 4,4% do bioma em 2022.

(Por Letycia Bond – Agência Brasil)

Área devastada pelo garimpo dobra em dez anos; maior parte em terras indígenas

Em dez anos, o garimpo devastou quase 100 mil hectares de florestas no Brasil.

É o que mostra um relatório divulgado nesta terça-feira, 27, pelo MapBiomas, projeto de monitoramento ambiental.

Em 2010, as áreas abertas pelos garimbeiros chegavam a 99 mil hectares.

No relatório divulgado agora, com dados de 2021, essa área passou para  196 mil hectares.

A área equivale a quase 2 mil km², maior do que a cidade de São Paulo, que tem 1,5 mil km².

Também, segundo o mesmo levantamento, a mineração industrial, feita por grandes empresas, dobrou de tamanho: eram 86 mil hectares de área ocupada em 2010, agora são 170 mil hectares.

Pará e Mato Grosso foram os líderes em perda de floresta para o garimpo.

Na Amazônia, a expansão garimpeira foi maior entre unidades de conservação e territórios indígenas, como os Kayapó e Munduruku.

“A série histórica mostra um crescimento ininterrupto do garimpo e um ritmo mais acentuado que a mineração industrial na última década, além de uma inequívoca tendência de concentração na Amazônia, onde se localizam 91,6% da área garimpada no Brasil em 2021”, explicou Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento.

Enquanto a mineração industrial é mais diversificada (incluindo minérios de ferro, alumínio, níquel e cobre), o garimpo é focado na obtenção de ouro e estanho.

Juntos, Pará e Mato Grosso representam 71,6% das áreas mineradas no país ao somar a mineração industrial e a atividade garimpeira.

Considerando apenas o garimpo, o percentual sobe para 91,9%. São 113.777 hectares de garimpo no Pará e 59.624 hectares no Mato Grosso.

O relatório revela que a expansão do garimpo na Amazônia é mais intensa em áreas protegidas, como territórios indígenas e Unidades de Conservação.

Entre 2010 e 2021, as áreas de garimpo em terras indígenas cresceram 632%, ocupando quase 20 mil hectares no ano passado.

A terra indígena mais explorada foi a Kayapó, na qual 11.542 hectares foram tomados pelo garimpo até 2021. Em seguida vem o território Munduruku, com 4.743 hectares, a terra Yanomami, com 1.556 hectares, a Tenharim do Igarapé Preto, com 1.044 hectares, e o território Apyterewa, com 172 hectares.

A série histórica mostra que a área ocupada pelo garimpo em unidades de conservação até 2010 encontrava-se abaixo de 20 mil hectares. Em 2021, já eram quase 60 mil hectares, representando um aumento de 352%.

Quase dois terços ficam na Área de Proteção Ambiental do Tapajós, onde o garimpo já ocupa 43.266 hectares.

 

Onça parda, considerada extinta, flagrada em armadilha fotográfica no Rio

Os primeiros registros fotográficos da onça-parda (Puma concolor) na costa da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ganharam manchetes nesta semana..

A parda ou suçuarana era considerada extinta há mais de um século na área litorânea onde foi flagrada por armadilhas fotográficas nas florestas do Refúgio da Vida Silvestre de Maricá (Revimar).

Além da onça-parda, as armadilhas fotográficas instaladas pela unidade de conservação municipal flagraram o gato-maracajá (Leopardus wiedii), um dos animais mais belos da fauna brasileira.

Esse felino selvagem pouco maior que um gato doméstico se parece com uma miniatura de onça-pintada e também era considerado extinto na região costeira, seu antigo habitat.

Tanto a suçuarana quanto o maracajá  moravam nas florestas  perto do mar. Caçados, e expulsos de seu habitat por séculos, eles hoje resistem somente em fragmentos montanhosos e se pensava que haviam desaparecido das áreas costeiras.
— É uma excelente notícia descobrir que espécies tão importantes e ameaçadas da Mata Atlântica ainda resistem perto do mar. São animais espetaculares, patrimônios do país e merecem toda a proteção — afirmou ao Globo o biólogo Izar Aximoff, especialista em felinos, convidado pela direção da unidade de conservação a estudar o local.

“Aximoff afirma que pode haver mais animais. Há certeza da existência de dois maracajás, e o biólogo estima que também vivam no refúgio duas onças, embora apenas uma tenha sido fotografada”.

Ele salienta que, embora a Mata Atlântica e sua fauna estejam sob imensa pressão em todo o Brasil, a zona costeira é pouco pesquisada, principalmente devido à falta de recursos.

Em 2020, uma câmera de segurança do Sítio Burle Marx, em Guaratiba, no município do Rio de Janeiro, captou a imagem de um animal que se pensa ser uma suçuarana, mas o registro nunca pode ser comprovado. A imagem tinha pouca resolução, e o animal não mais apareceu.
Aximoff diz que a onça de Guaratiba continua a ser procurada. Ela pode ser uma sobrevivente ou ter sido uma visitante esporádica, vinda de outras matas e que se aproximou da área durante os momentos de menor mobilidade urbana da pandemia.

A gestora das unidades de conservação de Maricá, Marcia Freitas, celebra a presença da onça e do maracajá. Ela instalou as armadilhas fotográficas em 2020. Sonhava em comprovar os relatos de moradores, que há cerca de uma década relatavam avistamentos da onça-parda.

A suçuarana, o segundo maior felino do Brasil, menor apenas que a onça-pintada, não se deixava flagrar com facilidade. Mas em setembro de 2021, a equipe do Revimar conseguiu finalmente captá-la em foto e vídeo.
felinos silvestres. Ele destrói sua casa, a floresta, e os caça por prazer ou temor infundado. Não existe em toda a América do Sul qualquer registro de ataque de onça-parda a seres humanos.

Biólogos asseguram que ela é inofensiva para as pessoas. Nas palavras do naturalista do início do século XX Armando Magalhães Corrêa, a suçuarana é “muito medrosa”.

Essa onça de olhos verdes é, na verdade, parente mais próxima do gato doméstico do que da onça-pintada. Os pumas têm registros de ataques nos Estados Unidos, mas eles pertencem a uma outra subespécie, que é maior e mais agressiva.
“As suçuaranas são gatonas tímidas e discretas. São selvagens, mas não são agressivas. Só reagirão se alguém tentar capturá-las ou agredi-las — acrescenta Aximoff.

Ele busca nas florestas voltadas para as praias e lagoas de Maricá encontrar mais pistas das onças e dos maracajás e desenvolver um plano de conservação. Não se trata de tarefa simples. O Revimar tem nove mil hectares, mais do que o dobro do Parque Nacional da Tijuca, e se estende por 25% do território de Maricá. É maior que municípios como Búzios e Belfort Roxo, por exemplo.

Mas a área não é contínua e está fragmentada em trechos de floresta atlântica, ilhotas de mata, quase sempre nas montanhas. Aximoff calcula que as onças disponham de cerca três mil hectares para viver sem precisar atravessar rodovias.

“As matas da região de entorno de Maricá, assim como as da maior parte da Mata Atlântica no estado, não são originais. O povoamento da região de Maricá tem quase a idade do Brasil, data do século XVI. A Mata Atlântica ali foi derrubada primeiro para a exploração do pau-brasil e de outras madeiras. E depois para o cultivo de cana-de-açúcar e outras plantações”.

“As florestas de pé hoje são fruto de regeneração natural e não têm, em sua maior parte, mais do que meio século”.

(Com informações de O Globo)

 

Reservas particulares do patrimônio natural somam 811 mil hectares no Brasil

As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), um dos tipos de unidades de conservação (UCs) que contribuem para a preservação da biodiversidade no país, somam uma área de 811 mil hectares, mais do que a área de todas as capitais somadas (803 mil hectares).

A Confederação Nacional de RPPNs  conta 1.741 reservas dessa categoria no território nacional. São unidades de conservação reconhecidas pelo poder público e instituídas por iniciativa voluntária dos proprietários, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.

Entre os benefícios das RPPNs para o meio ambiente estão a conservação da biodiversidade, a expansão das áreas protegidas no país e a criação de corredores naturais para a circulação da fauna silvestre. As reservas também podem ser usadas para a pesquisa científica, o ecoturismo e atividades de educação ambiental, entre outras formas previstas em lei.

“A partir do momento que uma RPPN é criada, a conservação será perpetuada, já que aquela área sempre será uma unidade de conservação, mesmo que a propriedade seja vendida. Esse é um legado que fica para gerações futuras e que contribui diretamente para a proteção da biodiversidade do país”, ressalta Leide Takahashi, gerente sênior de Conservação da Natureza da Fundação Grupo Boticário e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

De acordo com levantamento da Fundação, em 2019, último ano antes da pandemia, 15 milhões de turistas visitaram unidades de conservação no Brasil.

A Fundação Grupo Boticário mantém duas RPPNs:  Serra do Tombador, em Cavalcante, no Cerrado goiano, e Salto Morato, no município paranaense de Guaraqueçaba, no coração da Grande Reserva Mata Atlântica. Enquanto a primeira tem concentrado esforços nas ações de conservação e pesquisas científicas, especialmente em relação à ecologia do fogo, a segunda tem investido em ações recreativas e educativas, sendo aberta à visitação. Juntas, elas preservam mais de 11 mil hectares de vegetação nativa.

Serra do Tombador, no cerrado goiano, uma das reservas da Fundação Boticário /Divulgação/JÁ

Salto Morato recebe, em média, 6 mil visitantes por ano e gera ao município de Guaraqueçaba cerca de R$ 110 mil por ano de ICMS ecológico. De acordo com estudo de valoração realizado pela Fundação Grupo Boticário, a reserva gera R$ 666 mil/ano à região em forma de serviços. Caso o uso agropecuário (antiga finalidade da propriedade) fosse mantido, o local geraria receitas estimadas em R$ 150 mil/ano. A da Serra do Tombador tem servido a ações de conservação e pesquisas científicas, especialmente em relação à ecologia do fogo.

No Rio Grande do Sul, a maior reserva particular pertence à PUC. Fica em São Francisco de Paula, no nordeste gaúcho, onde o Projeto PRÓ-MATA foi desenvolvido pela universidade com o intuito de estabelecer uma área de conservação voltada para o ensino, a pesquisa e a conservação ambiental. A iniciativa teve a parceria da Universidade de Tübingen, da Alemanha, com a qual a PUCRS possui um convênio de cooperação desde 1983.

Em 1993, com recursos próprios complementados por significativa doação da empresa STIHL, foram adquiridas diversas propriedades contíguas, num total de aproximadamente 2.400 hectares. Um adicional de área de 700 hectares encontra-se em processo de reivindicação por usucapião, totalizando aproximadamente 3.100 hectares de áreas destinadas à conservação do bioma Mata Atlântica.

A área  em São Francisco de Paula e está recoberta, na sua maior parte, por florestas primárias e secundárias e também por trechos com campos nativos bem preservados. Entre 1994 e 1996 foi construída uma sede com 900 m², com alojamentos, laboratórios, refeitórios e estruturas de apoio, em local com magnífica vista da planície costeira, entre as lagoas Itapeva e Quadros.

Em 2011, foi criado o Plano de Manejo do Pró-Mata, documento elaborado a partir de diversos estudos, incluindo diagnósticos do meio físico, biológico e social. Em 2018, com apoio da Fundação Boticário, deu-se início ao processo de transformação da área em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

 

Incêndios destruiram 300 mil hectares de florestas na Argentina em 2021

O Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Argentina, criou um comitê de crise para combater incêndios florestais que há vários dias castigam a Comarca Andina e no Lago Nahuel Huapi. Também foi emitido alerta por incêndios na Terra do Fogo e em Neuquen.

Segundo os números oficiais foram queimados 302 mil hectares de florestas na Argentina, em 2021.

As provincias mais atingidas foram Córdoba (57.027 hectares), San Luis (49.282), La Pampa (29.390), La Rioja (21.389), Río Negro (20.381), Mendoza (19.730), Entre Ríos (19.707), Formosa (18.009) y Chubut (16.919).

Em março, a região da Patagônia já foi atingida por grandes incêndios, mas as ações do governo para combater o fogo não tiveram continuidade.

Uma das causas do alastramento do fogo em extensas áreas é a monocultura de pinus, que representa mais de 80% das florestas plantadas na Patagônia. “Quando o fogo chega ao pinhal se expande rapidamente para todos os lados”, diz um guarda florestal.

Em Neuquén, movimentos comunitários e de ambientalistas responsabilizam o Estado e os governos municipais pelos incêndios que atingem também grandes extensões de mata nativa.

Eles dizem que 90% dos incêndios são criminosos e tem por finalidade liberar grandes áreas para investimentos imobiliários, turísticos e mineiros.

 

COP repete sua barganha faustiana em Glasgow

“Temos que criar um consenso para as mudanças em transporte, indústria e agricultura, sob o argumento de evitar maiores custos no futuro”, declarou o bilionário-filantropo Bill Gates numa entrevista para o Think-Tank britânico Policy Exchange durante a COP26. “Este encaminhamento está bastante prejudicado”, acrescentou ele, citando as crescentes emissões de CO2 como o principal indicador dessa realidade. 

Gates aponta como positiva a transição da produção de energia na Europa do carvão para o gás. Aço verde, hidrogênio barato, usinas eólicas em alto mar são outras tecnologias carecendo de inovação, e por isso de “muito dinheiro” para trazerem os resultados necessários. “Duvido que conseguiremos limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 grau, mas 2 graus será melhor que 3 graus”, admite o bilionário.

Nível do mar

Os negociadores em Glasgow trabalharam com uma vertente da ciência climática que empurra para 2040 o “ponto de não retorno” (tipping point). Na verdade, esse prazo faz uma generosa concessão analítica, protelando o limite das emissões em pelo menos uma década.

Estudos até hoje não contestados apontam para uma premência muito maior. “Seja por qual razão, a estabilidade do nível do mar determinou o desenvolvimento da civilização. O nível estável do mar não apenas proveu os primeiros humanos com proteína animal marinha, mas também tornou possível a produção de grãos em estuários e ecossistemas alagados. Com essas condições, alimentos para a população humana puderam ser produzidos por uma fração das pessoas, permitindo assim a transição do estilo Neolítico de vida para a vida social urbana e o desenvolvimento de complexas sociedades governadas pelo Estado”, ensina o Dr. James Hansen, ex-chefe do Instituto Goddard de Pesquisas Espaciais da NASA, e pioneiro na divulgação dos alertas relacionados à mudança climática na década de 1980.

No livro “Tormentas dos meus netos”, Dr. James Hansen alerta para a insensatez da política e do lobby fóssil.

Em seu livro “Tormentas dos meus netos” (Storms of my grandchildren, Bloomsbury 2009) ele conta sua experiência como pesquisador e a luta contra o que ele chama de “Barganha Faustiana”. “O aquecimento global (Desde 2000) precisa ficar em menos de um Grau para evitar o desastre”, escreveu Dr. Hansen ao relatar seu enfrentamento com o lobby politico-corporativo para divulgar suas pesquisas.

“Infelizmente, o que desde então ficou claro é que um aquecimento global de 2 graus Celsius, ou mesmo 1,7 grau Celsius é um cenário de desastre”, insiste no livro, explicando porque o período de estabilidade para o nível do mar “quase certamente” acabou. Incerto apenas é a que velocidade esse aumento ocorrerá. “Um metro e alguma coisa, ou dezenas de metros por século, com desintegração de geleiras resultando em contínuo redesenho das ocupações costeiras.”

Indústria das RP

Fato é que mais de uma década se passou desde que Dr. Hansen publicou seu alerta, “a verdade sobre a vindoura catástrofe climática”. De lá pra cá, os governos responsáveis do mundo se reuniram dezenas de vezes. Assinaram inúmeros protocolos e acordos. Todos, como o primeiro, o de Kyoto em 1997, não reduziram as emissões. Elas na verdade continuam aumentando.

Hoje como em 2009, essa realidade contrasta com a impressão criada pela mídia, alimentada fartamente pela indústria das Relações Públicas (Public Affairs). Como Jansen denuncia no livro, o papel do dinheiro continua sendo o principal obstáculo às medidas de estabilização do clima, e por consequência da conscientização das pessoas. Pouco antes do encerramento da conferência, ativistas denunciaram a presenca mais de 500 lobistas das empresas poluidoras em Glasgow. Dias antes, a BBC já havia alertado para a tentativa de alterar o texto do acordo a ser negociado na Escócia.

Ponto de inflexão

Segundo os cientistas a regiao do Mar Mediterrâneo se tornou um Hotspot para incêndios florestais. Em 2021 eles consumiram florestas, casas e infra-estrutura. As chamas arderam durante Agosto e Setembro pela Espanha, Itália, Grécia, Turquia e quase todos os países banhados por suas águas. (Mahmut Alakus/Turquia)

Com ou sem tráfico de influência, a pergunta que a COP evitou responder é: já ultrapassamos o ponto de não retorno (“tipping point”)? Seriam as enchentes da Europa e os incêndios florestais em toda a costa do Mediterrâneo na última temporada de verão um sinal disso? O jornalista britânico George Monbiot acredita que, “se já não passamos, estamos mais próximos do que esperamos”.

“A velha suposição de que os pontos de inflexão da Terra estão muito distantes começa a parecer insegura. Um artigo recente na revista Nature  adverte que a circulação meridional do Atlântico – o sistema que distribui calor ao redor do mundo e impulsiona a Corrente do Golfo – pode agora estar “perto de uma transição crítica”.”escreveu ele em Setembro.

Monbiot lembra que outros sistemas também parecem estar se aproximando de seus limites: os mantos de gelo da Antártica, a floresta amazônica e a tundra ártica e as florestas boreais, que estão perdendo rapidamente o carbono que armazenam, gerando uma espiral de aquecimento ainda maior. 

A tese é a mesma defendida há décadas por James Hansen. Os sistemas terrestres não ficam em suas caixas. Se um passar para um estado diferente, isso poderá desencadear a inversão de outros. Mudanças repentinas de estado podem ser possíveis com apenas 1,5 ° C ou 2 ° C de aquecimento global. 

Detalhe, o aumento médio da temperatura na Europa no último verão foi justamente 1,5°C.

Segundo o Serviço Meteorológico Alemão , o continente europeu apresenta um aumento da temperatura três vezes maior que o aumento verificado na média global. Exatos 1,5 grau Celsius acima da média histórica. (ARD)

Planos e Tecnologias

Se há uma coisa que sabemos sobre o colapso do clima, é que não será linear, suave ou gradual. Assim como uma placa tectônica continental pode empurrar outra, causando terremotos e tsunamis periódicos, nossos sistemas atmosféricos irão absorver o estresse por um tempo, depois mudar repentinamente. 

Os planos apresentados na COP contam com a tecnologia e a natureza para absorver o dióxido de carbono que continuamos produzindo. As tecnologias consistem na captura e armazenamento de carbono de usinas de energia e fábricas de cimento em estratos geológicos, ou captura direta de ar (sugando o dióxido de carbono do ar e enterrando-o também). Seu uso em larga escala é descrito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como “sujeito a múltiplas restrições de viabilidade e sustentabilidade”. Por isso, é improvável que sejam implantados em grande escala no futuro pelo mesmo motivo que não estão sendo implantados em grande escala hoje, apesar de 20 anos de conversa.

Segundo o colunista do The Guardian, mesmo contando todas as soluções tecnológicas e compensações prometidas, as políticas atuais apontam para calamitosos 2,9 ° C de aquecimento global. Arriscar uma mudança irreversível ao prosseguir com as emissões atuais, confiar em tecnologias não entregues e capacidades inexistentes é a fórmula para a catástrofe.

Sacrifícios modestos

Na foto apertando a mao do príncipe de Wales, Bill Gates foi a Glasgow sondar as possibilidades de investimento em inovacao. A energia nuclear entre elas.

O impacto social da mudança climática, parte do relatório do IPCC a ser divulgado em fevereiro de 2022, não é novidade nenhuma. Na verdade, como das vezes anteriores, o IPCC apresenta a previsão mais branda da já certa catástrofe climática. Cerca de 130 milhões de pessoas serão jogadas na pobreza pelas mudanças no clima até 2030. 

Think thanks como o Institute for Economics and Peace (IEP) anunciam 1.2 bilhão de desabrigados pelo aquecimento global antes de 2050. Nada novo para muitos dos mais sérios cientistas debruçados sobre a questão do clima há décadas. Em 2006, James Lovelock, conhecido como pai da teoria de Gaia, escreveu em seu livro “A vinganca de Gaia” que antes do final deste século as mudanças do clima, causadas pela queima de combustíveis fósseis, reduzirão a população global a 10% do seu total hoje.

“Inovação é o único caminho para passarmos por sacrifícios modestos e com isso atingir o objetivo de zerar as emissões”, acredita Bill Gates. Qual o salto tecnológico a ser dado para eliminar 51 bilhões de toneladas/ano de gases de efeito estufa? Um mistério para as próximas conferências do clima. Até lá, o bilionário se engaja na campanha para ampliar a geracao atômica em todo o mundo.

Ambientalistas querem Brasil com desmatamento zero na COP-26

A contribuição mais importante do Brasil na 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26) é o desmatamento zero, principalmente na Amazônia. Essa foi a conclusão da comissão geral, quando a sessão da Câmara dos Deputados se transforma para debater assunto relevante com a participação de representantes da sociedade. A COP26 será realizada entre 1º e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.

Na audiência no Plenário da Câmara, na terça-feira, 26, o governo Bolsonaro foi bastante criticado pelo aumento do desmatamento nos últimos anos, flexibilização de regras ambientais, insegurança dos povos indígenas e redução dos orçamentos de órgãos fiscalizadores.
A presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, disse que o governo brasileiro anunciou metas ambientais piores que as de 2015. “O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma, está divulgando o seu Emissions Gap Report, que é um relatório anual de emissões. E, pela primeira vez, ele inseriu uma análise das contribuições dos 20 maiores países, as 20 maiores economias do G-20. E o Brasil é o único que consta com retrocesso em metas apresentadas junto ao Acordo de Paris.”

Segundo André Lima, do Instituto Democracia e Sustentabilidade, 10 mil km² são desmatados por ano. Para o deputado Bohn Gass (PT-RS), o país chega à COP-26 sem o protagonismo de antes. “Nós temos desmatamento, queimadas, ampliação de uso de venenos, monoculturas, uma destruição completa do ICMBio, da Funai, do Ibama, dos institutos governamentais que poderiam estar fazendo as políticas públicas”, lamentou.

O representante do Movimento Fridays For Future, Ivan Araújo, que vai participar da conferência, pediu que as autoridades façam algo imediatamente. “A história será imperdoável com vocês, porque daqui para frente quem vai escrever a história somos nós, a juventude. A nossa luta é por floresta em pé, por água limpa, por ar puro e por comida sem veneno. É o nosso futuro que está em jogo.”

A diretora-executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade, Mônica Sodré, citou pesquisa da rede que mostrou que apenas 29% dos parlamentares consideram o combate ao desmatamento a principal medida ambiental. De acordo com ela, quase todo o desmatamento em 2020 foi ilegal e apenas 2% foram penalizados.

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O vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), disse que não dá mais para usar o argumento de que o Brasil conseguiu preservar mais as suas florestas que outros países. “O fato de que nós desmatarmos menos até aqui deve ser reconhecido e saudado, mas não nos dá autorização de desmatar mais e de emitir mais gases de efeito estufa daqui por diante. Portanto, esse é um discurso equivocado que o Brasil tem carregado mundo afora”, argumentou.

Ramos é um dos autores do projeto que regula o mercado de carbono no país (PL 528/21). A ideia é que países poluidores possam comprar créditos de carbono dos países que têm florestas preservadas, por exemplo – cada país tem metas de redução de emissão de gases de efeito estufa firmadas no Acordo de Paris em 2015.

No início do mês, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou que vai apresentar, na COP-26, a meta de zerar o desmatamento ilegal no país antes de 2030 – compromisso assumido pelo presidente Jair Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima, em abril. Porém, ainda não há informação de como o objetivo será alcançado.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

COP de Glasgow promete mais do mesmo

A capital da Escócia está pronta para receber os 25 mil delegados e participantes da 26.a Conferência das Partes (COP26), de 31 de Outubro a 12 de Novembro de 2021.

Faltando 10 dias para o início da Conferência Mundial do Clima (COP-26) em Glasgow, pouco se espera das negociações internacionais sobre a questão. Ainda que o problema do clima se confirme com o aumento da frequência e da intensidade dos fenômenos meteorológicos a cada ano, o que vem acontecendo nos bastidores desse circo é aquilo que se convencionou a chamar de “mais do mesmo”.

Três dos principais poluidores do planeta, China, Índia e Arábia Saudita sequer apresentaram planos para atualizarem seus compromissos de emissões. É esperado que nenhum dos líderes desses países apareça pela Escócia para os debates. Ainda que isso se reverta, o desastre econômico causado pela pandemia do Covid-19 se sobrepôs às boas intenções para salvar o clima.

COP da Escócia, mais do mesmo.

Mais de 25 mil pessoas são esperadas para o evento. Mesmo com a quarta onda do Corona assombrando a Europa, a organizadora UNFCCC alega que um encontro virtual seria incomparavelmente menos eficiente. Como se as conferências anteriores, sempre realizadas com luxo e pompa, tivessem produzido algum resultado efetivo. Vale recordar que, na esteira das COPs, acordos vencedores como os de Kyoto, Copenhagen e Paris, viraram letra morta na mão do “business as usual”.

Na prática, só existe uma pressão moral para aprimorar as propostas de controle e redução de emissões. Fora uma certa dose de constrangimento diplomático, caso um país não mantenha seus compromissos assumidos. A COP de Glasgow, quando muito, irá revelar se essa abordagem pode apresentar resultados.

Alemanha quer abandonar o carvao em 2038. Como substituto imediato aposta no gás russo, mas a estratégia já apresenta problemas, nao só ecológicos (Foto Patrick Pleul/dpa).

Brete fóssil

O caso do carvão é emblemático para entender o brete mundial da negociação do clima. Por ano queimamos cerca de 8,5 bilhões de toneladas do mineral para produção de energia. Isso corresponde hoje a 40% da demanda global, sendo o mesmo valor absoluto do que consumíamos em 2016. Entre as fontes energéticas, o carvão têm expandido sua fatia de participação, só perdendo para o gás natural em termos de crescimento entre os combustíveis fósseis. Se continuarmos usando o mineral na quantidade atual, teremos reservas para apenas 133 anos.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), em 2020 houve uma redução média de 4% na queima de carvão. A razão não foi o temor frente à catástrofe do clima, mas sim o medo do vírus e sua famigerada pandemia. Tanto que para este ano, o consumo já se recuperou e deve fechar 2021 com um aumento de 4,5% no total que alimenta as termelétricas e os fornos de aquecimento no inverno.

A Alemanha é uma das nações que se comprometeu a desligar suas termelétricas a carvão até 2038. A alternativa disponível para essa guinada é o gás natural, vindo da Rússia através de gasodutos submarinos pelo mar Báltico. O problema é que, como quase todas as commodities, o preco do gás explodiu, quadruplicando desde o início do ano . Além de ser uma opção menos ecológica, por ser fóssil também, o gás já está impulsionando a inflação para o inverno. 

Incêndios e enchentes

Segundo o Serviço Meteorológico Alemão , o continente europeu apresenta um aumento da temperatura três vezes maior que o aumento verificado na média global. Exatos 1,5 grau Celsius acima da média histórica. (ARD)

 

Mas se na arena política a coisa anda enrolada, para o debate público o clima é sem dúvida de urgência. “Assim que se parece a mudança climática”, anunciou o apresentador da previsão do Tempo na ARD, a primeira rede de televisão pública alemã, Karsten Schwanke. Na tela, um gráfico com a temperatura média na alta temporada (junho – agosto) dos últimos 40 anos. 

Segundo ele, na leitura do Serviço Meteorológico Alemão, o continente europeu apresenta um aumento da temperatura três vezes maior que o aumento verificado na média global. Exatos 1,5 grau Celsius acima da média histórica. “Esse foi o verão mais quente já verificado”, completou o apresentador no jornal (tagesthemen) no dia 09 de Setembro de 2021.

 

Segundo os cientistas a regiao do Mar Mediterrâneo se tornou um Hotspot para incêndios florestais. Em 2021 eles consumiram florestas, casas e infra-estrutura. As chamas arderam durante Agosto e Setembro pela Espanha, Itália, Grécia, Turquia e quase todos os países banhados por suas águas. (Mahmut Alakus/Turquia)

Entre as provas dessa análise estão os incêndios florestais, que consumiram florestas, casas e infra-estrutura. As chamas arderam durante Agosto e Setembro pela Espanha, Itália, Grécia, Turquia e quase toda a área em volta do Mar Mediterrâneo.

Paradoxalmente, as enchentes também cabem na mesma análise. Em Julho, a chuva inesperada e torrencial que caiu por dias no oeste europeu causou grandes estragos, matando mais de 200 pessoas na Alemanha, França, Bélgica e Holanda.

Segredo das árvores

“A água vai ser o grande desafio dos próximos anos”, afirma Peter Wohlleben, silvicultor e autor do Bestseller “A vida secreta das árvores” (Das geheime Leben der Bäume, Heyne / 2015). “Perderemos 50% das florestas na Alemanha devido ao aumento das temperaturas no verão durante os próximos 10 anos”, profetiza ele. Como um dos maiores experts do país na área, Wohlleben atribui o fenômeno a uma série de fatores. “Nós não entendemos como o ecossistema florestal funciona”, critica o silvicultor, apontando para a chamada “economia florestal” como uma das principais causas do desastre.

Peter Wohlleben e o seu Bestseller, “A vida secreta das árvores”.

Combinados com o aumento da temperatura, fatores como a monocultura florestal, alterações pluviométricas sazonais e uso insustentável dos recursos hídricos estão matando imensas áreas verdes por todo o mundo. “Destruímos tudo vorazmente, e depois queremos que a natureza reconstrua o estrago na mesma velocidade”, aponta. Entre as incompreensões apontadas por ele, está o papel das florestas para o equilíbrio do clima. “Árvores têm uma capacidade térmica incrível, especialmente as que formam florestas primárias, pois sao as mais eficientes em manter a terra onde se encontram mais fria”, explica Peter Wohlleben.