Entrevista: “Brasil precisa da Antártica tanto quanto da Amazônia”

Em entrevista exclusiva, glaciólogo gaúcho explica a interdependência entre os pólos e os trópicos

Por Márcia Turcato

Jefferson Cardia Simões, 64 anos, é glaciólogo, estuda o gelo. Foi o primeiro brasileiro a ter essa especialização, ainda na década de 80, quando o Brasil vivia uma ditadura.

Longe de ser um pesquisador caricato, daqueles que aparecem em filmes, Simões é conversador e é um entusiasta da popularização da ciência, por isso sempre oferece exemplos cotidianos para explicar seu trabalho. Ele é casado há 40 anos com Ingrid Lorenz Simões, tem dois filhos e dois netos e é natural de Porto Alegre.

Foi em sua sala de vice-Pró-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que me recebeu por mais de duas horas para falar de seu trabalho mais recente.

O professor retornou dia nove de janeiro da Antártica, uma expedição iniciada no último dia quatro de dezembro. Ele viaja ao Polo Sul desde os anos 90 e também já esteve no Ártico e em outras regiões geladas do planeta. O trabalho consiste, basicamente, na realização de análises químicas da atmosfera e na coleta de testemunhos de gelo, que é uma espécie de paleontologia glacial, ou técnica palio climática.

De acordo com Simões, “o Brasil precisa parar de achar que é um país tropical isolado, isso não existe, é uma fantasia, foi uma fantasia geopolítica das décadas de 50 e 60. Para o meio ambiente global, as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos”.

O professor salienta “que não teríamos clima se não houvesse essa diferença de temperatura entre os trópicos e os pólos. Centrar a visão só na Amazônia, evidentemente está errado”.

“A questão da Amazônia é mais ampla porque é território nacional, tem a biodiversidade de fauna e flora e tem população humana, mas nós também temos responsabilidade na Antártica”.

Simões explica que do ponto de vista ambiental, a Antártica e a Amazônia são regiões interdependentes e que mudanças climáticas sempre ocorreram e vão continuar ocorrendo, “mas a estratégia que precisamos adotar é de ações mitigadoras e de adaptação”.

O professor Simões tem graduação em Geologia pela UFRGS. Isso em 1983, quando recebeu uma bolsa do CNPq, e foi estudar Glaciologia em Cambridge, na Inglaterra, onde ficou por seis anos. Chegou a trabalhar no Serviço Antártico Britânico. Naquela época o Programa Antártico Brasileiro – Proantar, era recente, e precisava de especialistas. “Eu cheguei no momento certo e as coisas se encaixaram”.

O gelo antártico tem até 2 km de espessura, são cerca de 27 milhões de km cúbicos de gelo na Antártica, o suficiente para cobrir o Brasil com um manto de gelo de 3 km de espessura em toda a sua extensão. O território brasileiro tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

A pesquisa

Para chegar na Antártica, o custo da viagem de Simões é de 800 mil dólares, enquanto pesquisadores de outros países viajam por cerca de um milhão de dólares e às vezes até o triplo desse valor.

A última expedição do brasileiro contou com parcerias financeiras do CNPq, National Geographic e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS- Fapergs.

As pesquisas feitas pelo Brasil alcançaram um período de três mil anos e as amostras coletadas estão guardadas no Instituto de Mudanças do Clima, no Maine, nos Estados Unidos, na temperatura de 20 graus centígrados negativos.

Cem metros de perfuração no gelo equivalem a 400 anos de tempo. As informações contidas no gelo coletado mostram qual é a concentração de água, isótopos, minerais e outros elementos.

Com isso, os cientistas têm condições de avaliar como era o clima e a vida naquele período, comparar com outras épocas e fazer projeções, por exemplo.

Pesquisas recentes na Antártica indicam que o gelo continha traços de contaminação por urânio, resultado de uma mina a céu aberto na Austrália no século 19. Também foram encontrados traços de cobre no gelo, por conta de minas no Chile, mas que diminuíram graças a intervenção recente do governo de Gabriel Borić  que adotou medidas de mitigação da poluição.

Pesquisadores da França e da Itália já alcançaram testemunhos de gelo de 800 mil anos na Antártica, com perfurações de 3.200 metros na área do Domo C, também conhecido como Dome Circe, Dome Charlie ou Dome Concordia, que está a uma altitude de 3.233 metros acima do nível do mar, é um dos vários cumes ou cúpulas do manto de gelo antártico.

Em breve, pesquisadores da China, em parceria com europeus, pretendem alcançar 1,5 milhão de anos no Domo A, perfurando 4 mil metros no meio do continente Antártico com uma temperatura de  93 graus centígrados negativos durante o inverno.

A água do oceano austral está ficando acidificada por excesso de  CO2, cerca de 30% dele já foi parar nos oceanos desde a primeira Revolução Industrial no século 18, e isso altera toda a flora e fauna dos mares, pode modificar correntes marítimas, mudar a temperatura na costa e tem efeito sobre o clima nos continentes.

“As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas nos dão sinais do que está acontecendo”, explica o professor. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem a região porque propagam calor.

A temperatura subiu no Ártico 3 graus, em relação ao ano de 1900. A navegação marítima é afetada com o degelo no mar, surgem novos portos, novas rotas comerciais, nova geopolítica e até militarização em novas fronteiras.

A expedição

A expedição mais recente de Simões chegou à Antártica no dia 4 de dezembro de 2022, como parte de projetos de redes de pesquisa internacionais. O grupo contribuiu com estudos que monitoram a resposta do gelo da Antártica às mudanças globais e busca  conexões entre o clima do Brasil e o do continente.

A região onde o grupo ficou recebe sua precipitação de dois mares, o de Amundsen, com uma camada de gelo que pode chegar a três metros de espessura, e o de Bellingshausen.  Nesses dois mares se formam grande parte das frentes frias que chegam ao Brasil.

A expedição foi liderada por Simões, com os colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luiz Fernando Magalhães Reis, 65 anos; Ronaldo Torma Bernardo, 54 anos, e Filipe Ley Lindau, 35 anos. Integram o grupo Ellen de Nazaré Souza Gomes, 50 anos, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Jandyr de Menezes Travassos, 70 anos, da Coppe/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O grupo ficou acampado na geleira da Ilha Pine, no meio do manto de gelo da Antártica Ocidental. O objetivo era obter um testemunho de gelo dos últimos 400 a 500 anos da história climática da região.

Um outro grupo ficou encarregado de fazer a manutenção do módulo Criosfera 1, o laboratório latino-americano mais ao Sul na Terra, a 640 km ao Norte do Pólo Sul Geográfico. O módulo mede dados meteorológicos, concentração de micropartículas, composição da atmosfera, estudos sobre a concentração de gases e raios cósmicos.

Faz também estudos de micro-organismos encontrados na neve. Todas as pesquisas são essenciais para entender o impacto das mudanças ambientais na Antártica e como elas se refletirão na América do Sul.

Essa equipe foi liderada por Heitor Evangelista, 59 anos, físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e contou com os pesquisadores Heber Passos, 60 anos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Franco Nadal Junqueira Villela, 46 anos, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Um terceiro grupo chegou à Antártica no dia 9 de dezembro para complementar a instalação do módulo Criosfera 2, o segundo laboratório remoto brasileiro no interior da Antártica.

Participantes da equipe: o professor Simões, que se juntou ao grupo no dia 30 de dezembro, os gaúchos Francisco Eliseu Aquino, geógrafo e climatologista, 52 anos, professor da UFRGS; a geógrafa Venisse Schossler, 46 anos, pós-doutora da UFRGS; o geógrafo Isaías Ullmann Thoen, 40 anos, técnico em geoquímica e eletrônica, da UFRGS; e o chileno Marcelo Arevalo, 62 anos, engenheiro mecânico.

Amazônia  e gelo

Além dos pólos (Antártica e Ártico), Simões também faz pesquisas em outras regiões geladas, como na cordilheira dos Andes. Ele coletou amostras na maior calota de gelo da América do Sul, a Quelccaya, no Peru, em perfurações de 120 metros, a 5.700 metros de altitude, para avaliar como se dá a circulação atmosférica na amazônia e conhecer como era o clima antes dos portugueses e do espanhóis chegarem à América. O Peru concentra 70% do gelo tropical do mundo.

Esse trabalho é recente, começou em setembro de 2022 e deve trazer muito conhecimento à tona. Quelccaya também é conhecida como a maior geleira tropical do mundo, tem 17 km de extensão, uma área de 44 km quadrados e está apenas 5,1 km da cidade de Cusco, mas o acesso é muito difícil e exige preparo físico. A temperatura média na região é de zero grau. É um lugar muito procurado por turistas praticantes de montanhismo.

A calota de gelo de Quelccaya é a maior área glaciar dos trópicos, cobrindo aproximadamente 44 km² nos Andes peruanos. Desde 1978, Quelccaya perdeu 20% de seu tamanho, fenômeno que costuma ser citado por pesquisadores como um sinal das mudanças climáticas.

Porém, existe a dúvida se o derretimento do glaciar é consequência do aquecimento global ou de alguma outra alteração climática, como a diminuição da precipitação de neve.

Glaciólogos de outros países estudam Quelccaya desde 1970 e já perceberam um forte derretimento do glaciar e um consequente aumento do volume de água dos riachos locais, o que pode até provocar inundações no futuro.

O futuro

“Milagrosamente é preciso dizer que o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) sempre foi muito apoiado pelos governos”, revela o professor, explicando que no primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003 a 2006) os recursos para pesquisas chegavam por intermédio do então Ministério do Meio Ambiente/Ibama e depois pelo Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação  (MCTI). O Proantar é administrado pela Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar.  No entanto, o último edital para pesquisas do Proantar é de 2018, “estamos esperando a publicação de um novo edital para breve”, diz Simões.

O pesquisador explica que a questão do meio ambiente é global e que os pólos estão inseridos na nossa vida, assim como a Amazônia, há uma interdependência.  Mudanças climáticas sempre existirão, mas é necessário reduzir o impacto sobre a sociedade. Mesmo que parassem todas atividades que geram impacto sobre o clima agora, mesmo assim o nível do mar subirá 30 cm até o ano 2100.

Para Simões, “os pesquisadores precisam ter mais interação com o Poder Legislativo porque é lá que as leis são feitas, a comunidade científica não pode ficar isolada. O reconhecimento ao trabalho científico não vem sozinho, o cientista precisa ir à sociedade e falar.  Precisamos inserir a ciência na linha de produção mas, veja, ainda há trabalho análogo à escravidão no Brasil. Estamos muito atrasados.”

E completa:  “precisamos inserir a ciência no Ensino Médio. A crise ambiental faz parte de uma crise civilizatória. Há concentração de renda, trabalho escravo, mas o planeta é finito, não pode ser explorado como se estivesse numa linha de produção. O futuro de qualquer país é o investimento massivo em ciência e tecnologia, não concentrar renda e ter qualidade na educação e na produção”.

De acordo com o professor, toda a comunidade científica está esperando mais recursos e que o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia, criado para financiar a construção do conhecimento, seja de fato implementado com a publicação de editais.

Simões diz que o Brasil precisa financiar projetos inovadores tanto para ciências básicas como para ciência aplicada para o uso de tecnologia na indústria, no agronegócio e na agricultura e pecuária em geral, em diferentes escalas, ter um ensino médio que tenha ciência na sua grade curricular e, para isso, “é necessário acabar com essa reforma ridícula que o governo passado fez, que destruiu a educação”.

O professor Jefferson Cardia Simões é titular de Glaciologia e Geografia Polar da UFRGS, é vice-Pró-Reitor de Pesquisa da UFRGS, Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e é pioneiro da Ciência Glaciológica no Brasil. Atualmente é Vice-Presidente do Scientific Committee on Antarctic Research/Conselho Internacional de Ciências (SCAR/ISC), com sede em Cambridge, Inglaterra. Ele obteve seu PhD pelo Scott Polar Research Institute, University of Cambridge, em 1990. É pós-doutor pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de l’Environnement (LGGE) du CNRS/França e pelo Climate Change Institute (CCI), University of Maine, EUA. Leciona e orienta alunos de graduação e pós-graduação em Geociências e Geografia.

Toda sua carreira foi dedicada às Regiões Polares, tendo publicado 210 artigos científicos, principalmente sobre processos criosféricos. Pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), é consultor ad-hoc da National Science Foundation – NSF (Office of Polar Programs).

Simões participou de 28 expedições científicas às duas regiões polares, criou o Centro Polar e Climático da UFRGS, a instituição que lidera no Brasil a pesquisa sobre a neve e o gelo. Ele coordena a participação brasileira nas investigações de testemunhos de gelo antárticos e andinos e faz parte do comitê gestor da iniciativa International Partnerships in Ice Core Sciences (IPICS). Recebeu o Prêmio Pesquisador Destaque da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) por sua contribuição à pesquisa antártica.

Fotógrafo registra degelo nas montanhas em todo o mundo; leia entrevista

Por Márcia Turcato

Ele é cidadão do mundo. Mas seus documentos dizem que é brasiliense, apesar de ter nascido em Curitiba e ter parentes em Porto Alegre. Quando menino viajava para a praia de Torres com a família. O diploma universitário, da UnB, entrega que é bacharel em História. Mas ele combina o conhecimento acadêmico com atividades de fotografia, escalada, navegação, organizador de expedições antárticas ou para qualquer outro canto do planeta onde a curiosidade possa provocá-lo.

O dono desse perfil é João Paulo Barbosa, 49 anos de idade, primogênito do químico Antônio e da advogada Joy, tem três irmãos, casado com a professora Aline Bacelar, pai do pré-adolescente Ian, e atualmente tendo a capital paulista como endereço residencial.

João Paulo atuou como pesquisador convidado da Faculdade de Educação da UnB e foi curador do Museu Virtual de Ciência e Tecnologia. Desde 1999, promove cursos, palestras e expedições ao redor do mundo.

Seu trabalho foi premiado, exibido e publicado em cerca de 50 países e reconhecido pela National Geographic Society (EUA, Alemanha e Itália), Smithsonian Institution (EUA), Bruckmann (Alemanha), Banff Centre (Canadá), CICI (Coreia do Sul), The Guardian (Inglaterra),  Glénat (França), Patagon Journal  (Chile) e ICMBio, WWF e Greenpeace no Brasil, entre outros.

Suas fotografias fazem parte de coleções particulares e de acervos como o National Museum of the American Indian, em Washington DC, Museu de Fotografia de Fortaleza (Ceará), Instituto Moreira Salles, Itamaraty e Memorial dos Povos Indígenas.

A partir de 2011, João Paulo começou a fazer viagens rotineiras à Antártica e atualmente está dedicado à documentação fotográfica e histórica das zonas frias do planeta para registrar as alterações provocadas pela ação humana.

Tem 10 livros publicados. O último, de crônicas de viagem, é Caminhos Imprevisíveis, edição limitada, onde ele diz “se eu tivesse que ter apenas um livro, teria um Atlas”.

Conheci o João Paulo há cerca de 30 anos. Estávamos no mesmo grupo que fazia uma trilha de jeep pelo Cerrado. Ele ainda era estudante de História e desde já apaixonado pela Antártica, onde eu já estivera para escrever ampla reportagem para a revista Isto É (edição 582, de 17 de fevereiro de 1988)  e este foi nosso laço em comum. Também estivemos juntos em algumas competições off road e numa reportagem sobre turismo de aventura no Amapá.

Depois perdemos o contato porque João Paulo não parou mais de viajar. E se fosse possível percorrer a galáxia, com certeza ele já teria feito.

Por tudo isso, foi um enorme prazer reencontrá-lo e fazer essa entrevista para que os leitores do JÁ possam conhecê-lo e também o  trabalho que realiza.

JÁ- Qual o principal foco das tuas viagens?

JP-Faço viagens e faço expedições. As expedições envolvem muita logística, equipamentos e pessoas, também tomam mais tempo de preparação e organização.  Varia muito o meu foco, às vezes eu estou participando de um projeto para fazer um livro ou uma exposição fotográfica. Às vezes eu viajo só para fazer uma escalada, como aconteceu recentemente no Paquistão. Mas preciso destacar que a viagem para o Paquistão também envolveu a relação com o clima, porque estou envolvido em um projeto sobre o gelo, é um projeto de quatro anos, estou fotografando o gelo ao redor do mundo e os glaciares do Paquistão fazem parte do projeto. Também faço viagens com cunho social porque  trabalho para algumas organizações não governamentais (ongs), principalmente inglesas, para fazer reportagens. Já participei de expedições científicas, como o projeto Darwin, programas antárticos do Brasil e também do Chile, e projetos com universidades. É bem variado meu leque de temas mas todos eles têm viagens.

JÁ- Como é esse projeto sobre o gelo no mundo?

JP-  O N’Ice Planet​ é um projeto pessoal e consiste na realização, ao longo de quatro anos, ​de ​expedições ao redor do mundo para documentar zonas frias e divulgar as principais questões relativas ao gelo, como os dilemas populacionais​, as migrações por conta de mudanças climáticas e o risco de extinção dos povos árticos. Também mostro ativistas​ ambienta​is que trazem mensagens importantes​​, que fazem alertas sobre os riscos que o planeta experimenta, relato conversas com cientistas e mostro trabalhos de geoengenharia que eles desenvolvem, e também procuro documentar o que está sendo feito para mitigar os efeitos do aquecimento global e o consequente derretimento do gelo. É um projeto inédito e relevante por sua proposta abrangente e popular. Os conteúdos produzidos serão divulgados ​regularmente em redes sociais e diversas mídias com o objetivo de instigar o público a refletir, discutir, indagar e atuar por soluções junto aos governantes.

Documentar a urbanização das mais altas montanhas geladas do planeta é dos mais tristes temas que compõem a minha pesquisa sobre o gelo no Antropoceno (termo empregado pelo químico holandes Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química de 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra).

Será que logo mais haverá um hotel sofisticado na montanha K2 (também chamada Qogir Feng, no Himalaia), a exemplo do que já acontece no Aconcágua e no Everest? O black carbon (concentração de fuligem na atmosfera) acelera o derretimento das geleiras. Há 30 mil refugiados do clima na região do Himalaia apenas no último Verão.

JÁ- Qual foi a tua primeira grande viagem?

JP- A primeira grande viagem foi o nascimento, a segunda grande viagem foi minha adoção (João Paulo foi adotado em Curitiba quando tinha  pouco mais de um ano de idade, e veio com os pais  para Brasília. Se considera brasiliense.) A terceira grande viagem  foram os sete meses que vivi na França (João Paulo acompanhou a família durante o pós-doutorado do pai em Paris). Depois disso vieram inúmeras viagens, todas também importantes e inesquecíveis.

JÁ- Quais as melhores viagens e qual a sua região preferida?

JP- Existem muitas melhores viagens. Inclusive a da imaginação, que é viajar quietinho. A viagem a Ásia, que comento em meu último livro (“Caminhos Imprevisíveis”, Editora Caseira e Ateliê Casa das Ideias), foi entre 2007 e 2008.  Fiz uma viagem de 480 dias que foi muito importante pra mim, quando vi o Himalaia pela primeira vez e fiquei alguns meses na região, mas eu gosto muito do deserto do Atacama, gostei muito das duas expedições que fiz ao Pico da Neblina, em Roraima, na área Yanomami, que chamamos de Yaripo, que significa Montanha do Vento. A Patagônia, principalmente os fiordes da Terra do Fogo, que são lugares em que eu frequento de veleiro, é um lugar lindíssimo (veleiro Kotik, de 40 toneladas,  60 pés, cinco camarotes e  espaço para  10 pessoas). E claro, meu lugar preferido é a Antártica, a Península Antártica e a costa oeste da península, que acho muito especial.

JÁ- Quantas vezes você esteve na Antártica?

JP- Neste mês de fevereiro de 2023 eu vou participar da minha nona expedição antártica e será minha sétima embarcado no  veleiro Kotik, do comandante francês Igor Bely.

JÁ- Qual a melhor experiência que você experimentou numa dessas viagens?

JP- Quando eu tinha 18 anos de idade e estava no norte do Canadá,  em Quebec, e vi a aurora boreal foi uma experiência fantástica, eu estava acampado com seis amigos. A aurora boreal durou horas, muito colorida, foi emocionante. Os primeiros mergulhos utilizando garrafa (cilindro com oxigênio) também foram emocionantes. Escalar o Aconcágua (maior montanha da cordilheira do Andes, na Argentina, com 6.961 metros de altura), sozinho, aos 20 anos, também foi muito emocionante. Em 2014, na minha terceira viagem para Antártica a bordo do veleiro Kotik foi incrível porque eu sonhava em viajar nesse barco e com uma galera que eu sonhava muito em estar junto. Durante muito tempo eu chorei de emoção ao chegar na Antártica e chorava de tristeza quando tinha de ir embora. Também preciso falar de uma outra  experiência ótima, quando subo montanhas e vulcões com amigos, sem mídia, sem publicidade, só por amizade e com esforço físico. Em 2020 eu tive a experiência de remar por nove dias, na Antártica, numa canoa polinésia para três pessoas, a V3, e eu remei com dois campeões brasileiros de canoa.  Inclusive eles são representantes do Brasil no campeonato mundial de canoagem  (os remadores  Marcelo Bosi e Rudah Caribe).  Isso foi muito bom.

JÁ- Qual a maior dificuldade que você experimentou?

JP- Essa é fácil. É o estreito de Drake (também chamado de mar ou passagem). Passar o estreito de Drake em um veleiro não é brincadeira não. Eu já passei quase 20 vezes, contando ida e volta. A travessia leva cerca de quatro dias, então é inevitável passar por pelo menos uma grande tormenta. Três vezes foram terríveis, de terror e pânico. Pensei que ia morrer, mas lembrei que estava num barco feito para essa situação adversa, com mono casco de aço, feito por um ex-cientista da Nasa, com uma tripulação incrível, e então não me entreguei emocionalmente, reagi. O corpo fica acabado, mas o espírito aguenta. O estreito de Drake é o maior perrengue da galáxia.

JÁ- Qual a melhor forma de viajar, sozinho ou em grupo?

JP- Eu tenho quatro formas de viajar: sozinho, com a família, com  amigos e por conta do trabalho. Todas são muito legais. Mas eu gosto muito de viajar sozinho e recomendo que todo mundo tenha essa experiência. É muito importante viajar sozinho para aprender, para se misturar com a população local. Entretanto, tem lugares que é muito bom viajar com um grupo de amigos para se divertir com eles, como eu fiz nos fiordes da Terra do Fogo.

JÁ- Você tem parentes em Porto Alegre. Como é essa relação?

JP- Eu tenho uma tia avó, Marília Escosteguy, ela tem 102 anos de idade, mora na rua Jacinto Gomes, no bairro Santana. Ela é uma mulher fantástica, ela apresentava um programa na antiga TV Tupi, quando viveu no Rio de Janeiro. Foi casada com o artista plástico e escritor Pedro Geraldo Escosteguy – de Santana do Livramento-  que também é médico, já falecido. O Pedro tinha um acervo literário e artístico incrível, e que agora está disponível ao público no Departamento de Literatura da UFRGS.

Eu aprendi muitas coisas com a minha avó e também viajei com ela para praias gaúchas, lembro bem de Torres. Aprendi principalmente a ter cuidado com as coisas, a ter carinho com os objetos e com tudo, com as pessoas também, obviamente. Na casa dela tudo é muito cuidado, tudo merece respeito, uma coisa meio assim oriental. E por conta dela eu tenho muito carinho por Porto Alegre.

O MAR DE DRAKE

Mar onde há mudanças bruscas nas condições de temperatura, visibilidade e, principalmente, do vento.  Comandantes de aeronaves e de navios passam por processo de treinamento especial para operar nessa área. O Mar de Drake é o terror dos navegantes. Estima-se que 800 embarcações tenham naufragado em suas águas.

É o ponto mais austral da América do Sul e mais próximo da Península Antártica, com 650 km de extensão e quase cinco mil metros de profundidade, onde os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram, se afunilam e se confrontam num grande espetáculo, provocando ondas gigantes.  Até a base brasileira, a Comandante Ferraz, são 900 km de distância.

Mais informações no Instagram: @ joaopaulobarbosaphotography

O Planalto Sul agora é Denominação de Origem do mel de melato de bracatinga

O Planalto Sul Brasileiro tornou-se Indicação Geográfica (IG) do Mel de Melato da Bracatinga na categoria Denominação de Origem (DO) do Planalto Sul Brasileiro.

Mel de melato de bracatinga: mais escuro, menos doce, mais sais minerais/ Aires Mariga/Epagri/JÁ
A certificação é concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A Denominação de Origem parte do pressuposto de que as características geográficas (naturais e humanas) dessa região determinam a singularidade e a qualidade do produto.

A IG do mel de melato da Bracatinga abrange 134 municípios, sendo 107 de Santa Catarina, 12 do Paraná e 15 do Rio Grande do Sul. Por sua prevalência no território catarinense, o processo de certificação teve participação da Epagri nas ações de pesquisa e extensão, em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e as associações de apicultores da região.

A Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina (Faasc) foi a instituição solicitante da IG, em parceria com as federações de apicultores de Rio Grande do Sul (FARGS) e do Paraná (FEPA).

Coube à Epagri a  caracterização edafoclimática (solo, clima, relevo, altitude) da região produtora, a delimitação da área geográfica de abrangência da IG e a elaboração do documento que estabelece a relação entre o meio geográfico e o produto.

Reconhecimento

“Essa IG é a comprovação da excelência do mel de melato produzido no Planalto Sul Brasileiro. Também coroa o trabalho pioneiro da Epagri de reconhecer e documentar a importância desse produto que, por suas características, se destaca internacionalmente”, ressalta a presidente da Epagri, Edilene Steinwandter. Ela lembra que a capilaridade da Epagri, que está presente em todos os municípios do Estado, dá à Empresa o privilégio de poder identificar com rapidez e precisão as peculiaridades do que é produzido no território catarinense. “Nossos extensionistas sempre caminharam ao lado destes apicultores, dando as orientações necessárias para a produção do mel de melato da bracatinga e a consequente concessão da IG”.

Everton Vieira, assistente de pesquisa da Epagri/Ciram, descreve que o mel de melato da bracatinga é um produto único, singular, que só ocorre em condições específicas de clima, altitude e condição geográfica. “Durante muito tempo esse produto não foi valorizado no país, mas a partir do envio de amostras para a Alemanha, houve o reconhecimento da qualidade desse mel típico da região do Planalto Sul Brasileiro”, relata. Ele conta que, por ser mais escuro e amargo que o mel silvestre, ele não era valorizar no mercado nacional.

Vieira pontua que a busca pela IG teve por objetivo destacar as qualidades do mel de melato da bracatinga, de modo a aumentar o mercado nacional, garantir a qualidade e a procedência ao consumidor final e preço justo aos produtores. “Mas, sobretudo, a ação tem a finalidade de promover e estimular a organização e o desenvolvimento do território onde é produzido, garantindo geração de renda e qualidade de vida aos apicultores locais”, destaca. Hoje, 95% da produção catarinense é exportada.

“Essa IG, que agrega os estados do Sul do país, pode apoiar não só a geração de valor ao produto, mas também agregar valor ao território, estimulando a geração de novos negócios e integrando setores como o agro, a gastronomia e o turismo”, afirma o diretor técnico do Sebrae/SC, Luc Pinheiro.

Cochonilha

Este mel tem compostos bioativos e antioxidantes
O mel de melato da bracatinga é fabricado pelas abelhas a partir do líquido açucarado que um inseto chamado cochonilha produz ao se alimentar da seiva da bracatinga, uma espécie arbórea nativa do Brasil, com distribuição predominante na região Sul. Esse fenômeno ocorre apenas em áreas com altitudes acima de 700 metros no Planalto Sul Brasileiro.

A cada dois anos, nos anos pares, os bracatingais são infestados por cochonilhas, que se fixam no tronco das árvores e se alimentam da seiva, excretando um líquido adocicado, o melato. Este mesmo líquido, que fica depositado nas partes externas da planta, é utilizado como matéria-prima pelas abelhas da espécie Apis mellifera para elabora o mel de melato de bracatinga.

Estudos pioneiros com mel de melato da bracatinga da região demarcada demonstraram que ele possui características diferenciadas em relação aos méis florais e de melato de outras origens. Além da presença das enzimas das abelhas produtoras, contém enzimas derivadas das secreções das glândulas salivares e do intestino das cochonilhas, que promovem a coloração mais escura (âmbar), maiores teores nitrogênio e minerais, entre outras características.

Mas seu grande diferencial são os efeitos benéficos à saúde devido à presença de compostos bioativos e potencial antioxidante. Destaque para a maior concentração dos aminoácidos livres serina, prolina, asparagina, ácido aspártico e ácido glutâmico. Apresenta ainda menores quantidades de frutose e glicose e não cristaliza como o mel floral.

Segundo Everton Vieira, o próximo desafio das equipes envolvidas no trabalho será a operacionalização e gestão da IG do Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro. Neste sentido, uma das primeiras ações será a efetivação do Conselho Gestor, que envolve as Associações de Produtores e suas Federações nos estados do Sul do Brasil, além de representantes de todos os segmentos da cadeia produtiva, como empresários, técnicos, instituições públicas etc.

Fonte: Epagri

Vórtice polar formou o buraco de ozônio que agora desapareceu

No final de março, cientistas do Serviço de Monitoramento de Atmosfera Copernicus, o SMAC, detectaram  um fenômeno -” uma grande lacuna sem precedentes” na atmosfera,  sobre a região do Ártico.

Era o maior buraco na camada de ozônio já registrado no hemisfério Norte, até então. Era do tamanho da Groenlândia. E como os “buracos de ozônio no Polo Norte são raros, gerou muitas especulações sobre causas e consequências.

Mas durou pouco, menos de um mês: em 23 de abril, o Copernicus anunciou que “o buraco sem precedentes” desapareceu.

A camada de ozônio é um escudo que protege a terra contra as radiações ultravioleta, que podem fazer mal à vida, afetando desde o derretimento do gelo na calota polar até o sistema imunológico dos organismos vivos, elevando o risco de câncer de pele e catarata para humanos.

Embora tenha havido pequenas lacunas na camada de ozônio sobre o Ártico antes, esta foi a “primeira vez que se viu um verdadeiro buraco na camada de ozônio no Ártico”, de acordo com o CAMS.

A organização disse que o buraco de rápido crescimento foi resultado de condições climáticas incomuns no Ártico. Ventos fortes sobre as calotas geladas por várias semanas seguidas, criaram um “vórtice polar” — uma força poderosa que gira sobre si mesma e gera impacto suficiente para abrir um buraco no ozônio da estratosfera.

Embora a lacuna esteja agora fechada, os cientistas dizem que ela poderá se abrir novamente se as condições meteorológicas permitirem.

“Esse buraco no ozônio do Ártico não tem nada a ver com bloqueios relacionados ao coronavírus, mas foi causado por um vórtice polar incomumente forte e duradouro”, disse o CAMS em um tuíte.

“Esse buraco no ozônio foi basicamente um sintoma do maior problema de depleção do ozônio e foi fechado por causa dos ciclos anuais locais, e não pela cura a longo prazo. Mas há esperança: a camada de ozônio também está se recuperando, mas lentamente”, acrescentou.

Um buraco sobre o Polo Norte é um evento raro, mas há um buraco muito maior reabrindo anualmente na Antártida nos últimos 35 anos.

Embora seu tamanho varie de ano para ano, não há sinal de que ele vá, em um futuro próximo, se fechar de vez.

Houve uma recuperação lenta desde que os clorofluorcarbonos, os CFCs, foram proibidos em 1996.  Usados na fabricação de aerosóis, espumas, solventes e refrigerantes, os CFCs degradam a camada de ozônio.

Na Antártida, os “buracos” são mais comuns durante a primavera, causados  principalmente por atividades humanas.

O buraco na camada de ozônio da Antártida, que ocorre anualmente pelo menos nos últimos 35 anos, vem encolhendo entre 1% e 3% a cada década, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.

 

 

Estação brasileira na Antártica foi construída em módulos na China

O projeto da nova Estação Comandante Ferraz, a base  brasileira de pesquisa na Antártica é brasileiro. Mas foi todo executado pela empresa China Electronics Import and Export Corporation, que venceu a licitação para a obra.
A companhia de engenharia precisou dividir a obra em três etapas, porque entre os meses de abril e outubro é impossível realizar qualquer atividade externa na Antártica devido ao frio intenso, às tempestades de neve e aos ventos fortes.
Por causa disso, os chineses construíram os módulos na China durante o inverno e transportaram para a Antártica nos verões de 2017, 2018 e 2019, a fim de fazer a instalação.
A estação será reinaugurada nesta terça-feira, 14, pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
A Estação Comandante Ferraz foi criada em 1984, mas em 2012 sofreu um incêndio de grande proporções. Na ocasião, dois militares morreram e 70% das suas instalações foram perdidas.
O governo federal investiu cerca de US$ 100 milhões na obra, e a unidade recebeu os equipamentos mais avançados do mundo. No local, pesquisadores vão realizar estudos nas áreas de biologia, oceanografia, glaciologia, meteorologia e antropologia.
Para chegar à Antártica, a comitiva do vice-presidente embarca em Brasília e faz uma primeira parada na cidade de Punta Arenas, extremo sul do Chile.
De lá, embarcam novamente, desta vez em um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB), único tipo de aeronave usada para chegar ao continente gelado, já que é mais preparada para pousos e decolagens nas pistas do local.
O voo de Punta Arenas até a Antártica dura cerca de três horas. A aterrissagem ocorre nas proximidades da estação chilena. De lá, o vice-presidente e assessores seguem de helicóptero até a estação brasileira. A previsão é que o vice-presidente durma na Antártica na noite do dia 14 e retorne no dia seguinte a Punta Arenas, para então retornar ao Brasil.
Estava prevista a participação do presidente Jair Bolsonaro na reinauguração. Por recomendação médica, porém, o chefe do Executivo desistiu da viagem.
Estação Antártica
Ocupando uma área de 4,5 mil metros quadrados, a estação poderá hospedar 64 pessoas, segundo a Marinha. O novo centro de pesquisas vai contar com 17 laboratórios. Cientistas da Fiocruz, por exemplo, estão entre os primeiros a trabalhar na nova estação, desenvolvendo pesquisas na área de microbiologia, a partir da análise de fungos que só existem na Antártica, e no poder medicinal desses micro-organismos. A Agência Internacional de Energia Atômica (Aeia) também já confirmou que vai desenvolver projetos meteorológicos na base brasileira.
Para ficar acima da densa camada de neve que se forma no inverno, o prédio recebeu uma estrutura elevada. Os pilares de sustentação pesam até 70 toneladas e deixam o centro de pesquisa a mais de três metros do solo.
Os quartos da base, com duas camas e banheiros, abrigarão pesquisadores e militares. A estação também tem uma sala de vídeo, locais para reuniões, academia de ginástica, cozinha e um ambulatório para emergências.
Em todas as unidades da base foram instaladas portas corta-fogo e colocados sensores de fumaça e alarmes de incêndio. Nas salas onde ficam máquinas e geradores, as paredes são feitas de material ultrarresistente. No caso de um incêndio, elas conseguem suportar o fogo durante duas horas e não permitem que ele se espalhe por outros locais antes da chegada do esquadrão anti-incêndio.
A estação tem ainda uma usina eólica que aproveita os ventos antárticos. Placas para captar energia solar também foram instaladas na base e vão gerar energia, principalmente no verão, quando o sol na Antártica brilha mais de 20 horas por dia.
(Com informações da Agência Brasil)
 

Julho de 2019 foi o mês mais quente da história

O mês de julho foi o mais quente no planeta nos últimos 140 anos, informou ontem a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA na sigla em inglês). Os dados da agência americana confirmam conclusões divulgadas no início do mês pelo serviço europeu Copernicus sobre mudança climática, que também havia apontado julho deste ano como o mês mais quente já registrado.
Segundo os cientistas da instituição americana, durante o mês de julho a média global das temperaturas foi 0,95°C superior à média de todo o século 20, que foi 15,77°C, o que torna julho de 2019 o mês mais quente nos registros da agência, que começaram em 1880. No relatório, a NOAA lembrou que nove dos dez meses de julho mais quentes da história foram registrados desde 2005, sendo os dos últimos cinco anos os que tiveram as maiores temperaturas. O calor sem precedentes em julho reduziu o gelo nos Oceanos Ártico e Antártico a mínimos históricos. O gelo do Oceano Ártico atingiu uma baixa recorde em julho, ficando 19,8% abaixo da média – superando a baixa histórica anterior, de julho de 2012. O gelo marinho médio da Antártica, por sua vez, ficou 4,3% abaixo da média de 1981-2010, atingindo seu menor tamanho para julho nos registros de 41 anos.
A NOAA afirmou que 2019 foi o ano com maiores temperaturas até o momento em partes da América do Sul e do Norte, Ásia, Austrália e Nova Zelândia, assim como na metade meridional da África e em porções do oeste do Oceano Pacífico, do oeste do Oceano Índico e no Oceano Atlântico. O Alasca teve seu mês de julho mais quente desde que começou a fazer registros, em 2005. Recordes de temperatura também foram quebrados em diversos países europeus, como a Alemanha, Bélgica ou Holanda. Em Paris, por exemplo, os termômetros marcaram 42,6°C, a temperatura mais alta já registrada na capital francesa, ultrapassando o recorde anterior de 40,4°C alcançado em 1947.
Nesse sentido, o relatório americano ressaltou que entre janeiro e julho deste ano, a temperatura global esteve 0,95 graus acima da média do século passado, que foi de 13,83 graus centígrados, empatando com 2017 como o segundo ano mais quente até o momento (2016 é considerado até hoje o ano mais quente). As conclusões confirmaram os dados divulgados pelo Serviço de Mudança Climática Copernicus, da União Europeia, em 5 de agosto, embora a margem do novo recorde em comparação com o último, em julho de 2016, tenha sido maior de acordo com os dados dos Estados Unidos.
O novo recorde é ainda mais notável porque o anterior seguiu um forte El Niño, que aumenta a temperatura média do planeta independentemente do impacto do aquecimento global.