O que fazem porta-aviões dos EUA no mar da China Meridional

Os Estados Unidos não enfrentavam uma ameaça à sua liderança mundial desde o fim da União Soviética, em 1991, quando se consolidaram como a única superpotência global. No entanto, a China, discretamente, vem crescendo à base de dois dígitos nos últimos 40 anos. Com a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2013, a Casa Branca percebeu o tamanho do problema. Atualmente, presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem pesadelos diários em mandarim.

O programa Made in China 2025, lançado em 2015, prevê bilhões de dólares com o objetivo de transformar o país em uma potência industrial e tecnológica. A chamada Nova Rota da Seda é outro projeto da política externa do presidente chinês, com o objetivo de restabelecer conexões tradicionais por terra da China com outras partes da Ásia, da Europa e além. São cerca de 300 projetos avaliados em US$ 1 trilhão, financiados pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, a instituição financeira multilateral criada por Pequim para fazer frente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esse cenário tem provocado movimentos, inclusive bélicos, de ambos os lados. Nos últimos dias, dois porta-aviões dos EUA realizam exercícios no mar da China Meridional. China e Estados Unidos acusaram-se de alimentar a tensão na hidrovia estratégica em um momento de relações tensas sobre tudo, desde o novo coronavírus e manifestações em Hong Kong contra o governo chinês.

Faz tempo que os navios da Marinha dos EUA realizam exercícios no Mar da China Meridional e, recentemente, havia três porta-aviões americanos na região. O mar do Sul da China é dos pontos de atrito mais tensos da Ásia-Pacifico.

Em julho de 2016, um tribunal de arbitragem de Haia decidiu que não havia base legal para a China reivindicar direitos históricos sobre as zonas marítimas naquela área, uma das principais disputas territoriais do sudeste asiático. Um dia após sofrer a derrota na disputa do mar do sul da China, o governo de Pequim ameaçou com a possibilidade de estabelecer uma zona de identificação e defesa aérea na região, provocando mais tensão na área.

Manila levou sua reivindicação ao Tribunal de Haia em 2013, porque Filipinas e China não conseguiram entrar num acordo sobre questão da soberania de grandes áreas do Mar da China Meridional. As disputas no Mar do Sul envolvem diversas ilhas e zonas econômicas exclusivas (mar territorial) entre diversos países da região, como a República Popular da China, a República da China (Taiwan), Filipinas, Vietnã, Brunei e Malásia.

Por trás está uma queda de braço entre os Estados Unidos, e sua principal desafiante no século 21. A China disse que não reconheceria a decisão do tribunal e que ela não seria cumprida. O secretário de defesa dos EUA à época, Ashton Carter, afirmou que a abordagem dos EUA na Ásia-Pacífico continuava de “comprometimento, força e inclusão”, mas ele também advertiu a China contra comportamentos provocativos no Mar do Sul: “Os Estados Unidos continuarão sendo o exército mais poderoso e principal garantidor de segurança da região por décadas a fio – e não deve haver dúvida quanto a isso.”

Segundo o doutor e mestre em Ciência Política, professor de Relações Internacionais, autor do livro China e Rússia no Pós-Guerra Fria, Diego Pautasso, em âmbito regional, estas aparentes ilhotas geram tamanha controvérsia em razão de questões importantes: reservas de 11 bilhões de barris de óleo e 190 trilhões de metros cúbicos de gás natural; rota marítima de extrema importância por onde passa cerca de U$5,3 trilhões de dólares do total anual de comércio do mundo; e alto potencial de exploração dos demais recursos naturais do mar.

O interesse do Ocidente sobre a região vem de muito tempo. A colonização de Macau teve início em meados do século 16, com uma ocupação gradual de navegadores portugueses que rapidamente trouxeram prosperidade a este pequeno território, tornando-o numa grande cidade e importante entreposto comercial entre a China, a Europa e o Japão.

Filipinas e Indonésia foram divididas por Espanha e Portugal em 1529. A divisão entre Malásia e Indonésia deve-se a britânicos e holandeses em 1842. A fronteira entre China e Vietnã foi imposta aos chineses pela França em 1887. As fronteiras filipinas foram decididas por Estados Unidos e Espanha em 1898. A fronteira entre Filipinas e Malásia foi traçada por Estados Unidos e britânicos em 1930.

Manifestos jogam ministro Ricardo Salles nas cordas

“Neste momento, em que enfrentamos uma situação extrema, extraordinária e excepcional, é muito importante manter a serenidade e o equilíbrio para que possamos superar e sair fortalecidos dos desafios que se apresentam. Em nenhum momento da história o futuro da humanidade e do planeta dependeu tanto da nossa capacidade de entendimento de que vivemos em um único planeta e de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à preservação e valorização dos seus recursos naturais.”

Assim, começa a carta-manifesto “Comunicado do Setor Empresarial Brasileiro”, que dirigentes de 38 grandes empresas brasileiras e estrangeiras e de quatro entidades setoriais do agronegócio, enviaram ao presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o vice-presidente Hamilton Mourão.

Ações propostas

O grupo intitulado “Setor empresarial brasileiro” diz estar à disposição do Conselho da Amazônia para discutir soluções nos seguintes campos:

1 – Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;
2 – Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;
3 – Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;

Arquivo JÁ

4 – Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;
5 – Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;
6 – Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono;
7 – Pacotes de incentivos à recuperação econômica dos efeitos da pandemia da Covid-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

O documento diz, ainda: “Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.”

Entre as empresas signatárias, pesos pesados como Agropalma Alcoa, Bayer, Cargill, Eletrobras, Itaú, Klabin, Marfrig, Michelin, Microsoft, Natura, Rabobank, Santander, Shell, Siemens, Suzano e Vale. As organizações signatárias são o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) Indústria Brasileira da Árvore (Ibá) Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove).

Doze procuradores da República pediram à Justiça Federal, em Brasília, nesta segunda-feira, 6/7, o afastamento do cargo do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O Ministério Público Federal (MPF) acusa o ministro de improbidade administrativa, pelo o que consideram “desestruturação dolosa das estruturas de proteção ao meio ambiente”. A ação tramita na 8ª Vara da Justiça Federal.

A situação de Ricardo Salles, está insustentável. Ele que, na fatídica reunião do presidente Jair Bolsonaro com seus ministros em maio passado, disse que o governo deveria aproveitar o foco da imprensa na cobertura da pandemia do novo coronavírus para aprovar reformas “infralegais” de todos os tipos. Para o ministro, essa seria a hora de “passar a boiada” e simplificar normas “de baciada”.

Fundos de investimento contra desmatamento

Em 23 de junho passado, Fundos de investimento que gerenciam ativos que somam perto de US$ 4 trilhões (quase R$ 21 trilhões) pediram ao Brasil que suspenda o desmatamento na Amazônia em uma carta aberta na qual alertaram que a perda da biodiversidade e as emissões de carbono representam um “risco sistêmico” aos seus portfólios.

Segundo a Agência France-Presse, gerentes de fundos de países europeus, asiáticos e sul-americanos expressaram o temor de que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteja usando a crise sanitária da covid-19 para avançar sobre a desregulamentação ambiental, o que poderia “comprometer a sobrevivência da Amazônia”.

“Estamos preocupados com o impacto financeiro do desmatamento, bem como as violações dos direitos dos povos indígenas, os quais implicam em potenciais consequências para os riscos de reputação, operacionais e regulatórios de nossos clientes e empresas investidas”, diz a carta.

A maioria dos signatários são membros da Investor Initiative for Sustainable Forests (Iniciativa de Investidores pelas Florestas Sustentáveis), da qual participam empresas expostas ao desmatamento por seus investimentos na produção de soja e criação de gado. Os fundos representados na carta incluem a britânica LGPS Central, a francesa Comgest e o KLP, o maior fundo de pensões da Noruega.

Acordo Mercosul – União Europeia ameaçado

Em carta enviada ao Congresso Nacional em 19 de junho passado, 29 eurodeputados pedem ação do Congresso brasileiro para restaurar a proteção às florestas e aos povos indígenas. “Queremos alertar o Congresso de que estamos de olho e que queremos cooperar e tentar mudar o que tem acontecido na Amazônia”, disse à Deutsche Welle Brasil Kathleen Van Brempt, coordenadora do Comitê de Negócio Internacional do Parlamento Europeu e membro da delegação que cuida das relações com o Mercosul.

Sem mencionar o nome do presidente Bolsonaro, a carta lista uma série de preocupações com projetos em tramitação no Congresso, além de lamentar o aumento do desmatamento na Amazônia em 2020, medido pelo sistema de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, o índice anual de desmatamento passou de 10 mil km2, recorde da última década.

No Congresso Nacional, projetos polêmicos que podem reduzir a proteção ambiental e ferir direitos dos povos indígenas garantidos pela Constituição seguem em tramitação. Dentre os que levantam mais críticas dos parlamentares europeus está a antiga MP da grilagem – transformada no Projeto de Lei 2633/2020 – que quer regularizar ocupações ilegais de terras públicas. Tentativas de flexibilizar as regras para o licenciamento ambiental e de liberar mineração e outros empreendimentos em terras indígenas também são apontadas como motivo de preocupação.

Segundo Kathleen, “o acordo Mercosul – União Europeia não vai funcionar ao menos que possamos ter realmente garantias sobre a proteção da Floresta Amazônica, dos direitos humanos e dos povos indígenas”. Embora o Mercosul englobe atualmente outros três países, Argentina, Uruguai e Paraguai, o futuro do acordo parece depender mais da postura brasileira. “A discussão tem sido focada no Brasil porque a opinião pública na Europa está mudando muito e é contra o que tem acontecido no país”, completa a eurodeputada belga.

Governo esboça reação

No dia 23 de junho, o Ministério da Agricultura lançou o Plano de Investimento no Agronegócio Sustentável no Brasil com o objetivo de atrair investidores estrangeiros para financiar a agropecuária brasileira, apoiar serviços ambientais desenvolvidos no campo e fortalecer uma imagem de sustentabilidade no campo do país.

O plano foi desenvolvido em parceria com a Climate Bonds Initiative (CBI), uma das certificadoras de títulos verdes mais influentes do mundo, que criou um protocolo específico para a agropecuária brasileira. Serão lançados títulos atrelados a práticas de conservação ou redução de emissão de carbono pelos produtores rurais.

A ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) lembra que o plano nasceu a partir da assinatura de um protocolo entre o Mapa e a CBI em novembro do ano passado, em Nova York. “Queremos ser protagonista desta nova tendência. Daí a importância de se fortalecer esse mercado de finanças verdes no Brasil, que é uma potência agroambiental, comprometida com a sustentabilidade”, afirmou.

Segundo a ministra, os investimentos verdes podem alcançar cifras bilionárias no Brasil, levando em conta que o capital de giro para movimentar atividades agropecuárias se aproxima de US$ 100 bilhões por ano. O montante aumenta ao se considerar todo o agronegócio, como a produção de insumos, logística, industrialização e comercialização.

Cepal estima que 2,7 milhões de empresas podem fechar na América Latina

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) estima que 2,7 milhões de empresas podem fechar, a maioria delas microempresas, o que implicará na perda de 8,5 milhões de empregos, sem incluir as reduções de empregados das empresas que continuarão a operar. As informações foram coletadas até a primeira semana de junho de 2020 e divulgadas nesta semana no Relatório Especial Covid-19 N⁰ 4 intitulado: Setores e empresas diante da Covid-19: emergência e retomada.

Mais de um terço do emprego formal e um quarto do produto interno bruto (PIB) da América Latina e do Caribe são gerados em setores fortemente afetados pela crise econômica decorrente do coronavírus (COVID-19), conforme o estudo sobre os impactos da pandemia na região. Além disso, ao menos a quinta parte do emprego e do PIB são gerados em setores que serão afetados somente de forma moderada.

Diante dessa situação, a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, em uma coletiva de imprensa virtual realizada em sua sede em Santiago, Chile, enfatizou a necessidade de dar uma resposta em grande escala para evitar a destruição de capacidades produtivas. Para isso, propõe quatro conjuntos de medidas:

1. Ampliar os prazos e os alcances das linhas de intervenção em termos de liquidez e financiamento para as empresas.

2. Cofinanciar a folha de pagamento das empresas durante seis meses para evitar a destruição de capacidades.

3. Realizar transferências diretas para os trabalhadores autônomos.

4. Apoiar as grandes empresas de setores estratégicos gravemente afetadas pela crise.

Particularmente, a CEPAL sugere o adiamento ou cancelamento de pagamentos de impostos, contribuições para a previdência e contribuições territoriais, ou adiantamento de devoluções de impostos pelo menos até o final de 2020, bem como a suspensão do pagamento dos serviços básicos (luz, internet e gás) sem pagamento de multas, até o final de 2020. Propõe, também, a flexibilização das condições de crédito aumentando os períodos de carência para pelo menos um ano e os prazos para cinco anos ou mais, além de reforçar as operações de crédito por meio do banco de desenvolvimento.

O cofinanciamento da folha de pagamento ocorreria em diferentes proporções, segundo o tamanho da empresa, de 30% para as grandes até 80% para as microempresas. Estima-se que esta medida teria um custo equivalente a 2,7% do PIB regional. Por outro lado, as transferências em dinheiro para 15 milhões de trabalhadores custariam 0,8% do PIB.

Do mesmo modo, a Comissão ressalta que é necessário ter em conta o importante papel desempenhado pelas grandes empresas, uma vez que proveem 39% do emprego formal e mais de 90% das exportações. Entre as medidas para a retomada, a CEPAL inclui, além do cofinanciamento da folha de pagamento e das melhores condições de acesso ao crédito, a possibilidade de que o Estado participe na recapitalização de grandes empresas de setores estratégicos. Nesse âmbito, também é relevante aumentar a eficiência, a transparência e a regulação dos mercados de capitais.

Essas propostas complementam as já anunciadas anteriormente pela CEPAL: a provisão de uma renda básica de emergência (BEI) equivalente ao valor de uma linha regional de pobreza por seis meses para toda a população da América Latina e do Caribe em situação de pobreza, e a provisão de um bônus contra a fome equivalente a 70% da linha de extrema pobreza regional.

A renda básica de emergência (BEI), o bônus contra a fome e o apoio às empresas e ao emprego são um conjunto articulado medidas. O BEI e o bônus contra a fome buscam proteger setores vulneráveis e reduzir a queda da demanda com os consequentes impactos negativos menores nas empresas e no emprego. Por sua vez, as medidas de apoio às empresas permitem salvar empregos, evitando o aumento da pobreza e da extrema pobreza, reduzindo assim o custo das medidas de alcance social.

Magnitude dos efeitos da crise

A crise econômica decorrente da pandemia tem levado à suspensão total ou parcial das atividades produtivas. No relatório, são identificados três grupos de setores de acordo com a magnitude dos efeitos da crise (fortes, significativos e moderados). Os setores mais afetados são o comércio atacadista e varejista; as atividades comunitárias sociais e pessoais; hotéis e restaurantes; atividades imobiliárias, empresariais e de aluguel, e as manufatureiras.

“A crise atinge com maior intensidade os setores industriais potencialmente com maior dinamismo tecnológico e, portanto, aprofundará os problemas estruturais das economias da região. Isso significa que, se não forem implementadas políticas adequadas para fortalecer esses ramos produtivos, existe uma alta probabilidade de que uma mudança estrutural regressiva seja gerada, o que levaria à reprimarização das economias da região”, alertou Alicia Bárcena na apresentação do relatório.

Segundo o estudo, a grande maioria das empresas da região registrou quedas significativas de suas receitas e apresenta dificuldades em manter suas atividades, pois apresentam sérios problemas no cumprimento de suas obrigações salariais e financeiras, e dificuldades no acesso ao financiamento para capital de trabalho.

O impacto será muito diferente dependendo do setor e do tipo de empresa. Vários dos setores fortemente afetados, como o comércio, hotéis e restaurantes, contam com uma grande quantidade de micro e pequenas empresas, que serão as mais atingidas. Por exemplo, o comércio perderá 1,4 milhões de empresas e 4 milhões de empregos formais, enquanto o turismo perderá pelo menos 290 mil empresas e um milhão de empregos.

A partir de março de 2020, para sustentar a estrutura produtiva e evitar a perda de empregos e a destruição de capacidades nas empresas, os governos anunciaram um conjunto amplo de medidas. A CEPAL identificou 351 ações, agrupadas em seis categorias de acordo com seus objetivos: liquidez, crédito, ajuda direta, proteção ao emprego, apoio à produção e exportações. Os detalhes sobre todas elas estão disponíveis no Observatório Covid-19, que a Comissão implementou para atender às necessidades de seus países-membros.

O adiamento dos pagamentos e a melhora no acesso ao crédito têm sido as ações mais frequentes para enfrentar a emergência gerada pela atual crise. Essas medidas pressupõem que as empresas gerarão lucros com os quais pagar os créditos e os impostos e pagamentos diferidos, mas as perspectivas não indicam que isso acontecerá por si só em um prazo de alguns anos, já que, muito provavelmente, a recuperação do setor empresarial será lenta e gradual, alerta a Comissão Regional das Nações Unidas.

Chegamos a 75 milhões de pessoas fora da força de trabalho

A população fora da força de trabalho chega a 75 milhões de pessoas, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) do trimestre encerrado em maio passado, divulgada nesta terça-feira (30/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um incremento de 9 milhões de pessoas (13,7%), quando comparada com o trimestre anterior.

São números alarmantes porque mostram que 2020 está sendo um ano perdido para uma economia que já cambaleava antes, com o Produto Interno Bruto (PIB) estagnado ou em queda nos últimos cinco anos. Em 2019, cresceu 1,1%, seguindo fraca expansão de 1,3% nos dois anos anteriores, conforme dados do IBGE.  Em 2015, a sua queda, em volume, foi de -3,5%, na comparação com 2014. Em 2016, outra queda em relação a 2015, de -3,3%.

Em um cenário desses é natural que a população desalentada – que desistiu de procurar trabalho – chegue a 5,4 milhões, um recorde na série, aumentando 15,3% frente ao trimestre anterior.  A população ocupada ficou em 85,9 milhões, queda de 8,3% (7,8 milhões de pessoas a menos, sendo 5,8 milhões informais), e de 7,5% (7 milhões de pessoas a menos) em relação ao mesmo trimestre de 2019. Ambas as quedas foram recordes da série histórica. Pela 1ª vez, menos da metade da população em idade de trabalhar está ocupada.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) caiu para 31,1 milhões, menor nível da série, sendo 7,5% abaixo (-2,5 milhões de pessoas) do trimestre anterior e 6,4% abaixo (-2,1 milhões de pessoas a menos) do mesmo período de 2019.

Portanto, a população desocupada de 12,7 milhões de pessoas é apenas um dos números ruins e não mostra o real tamanho da desgraça, levando em conta o aumento de 3% (368 mil pessoas a mais) frente ao trimestre móvel anterior (12,3 milhões de pessoas).

Perda de empregos no mundo

O número de horas de trabalho perdidas em todo o mundo no primeiro semestre de 2020 foi significativamente maior do que o estimado anteriormente. A recuperação altamente incerta na segunda metade do ano não será suficiente para retornar aos níveis pré-pandemia, mesmo no melhor cenário, e há o risco de uma perda constante de empregos em larga escala, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com a quinta edição do “Monitor OIT: COVID-19 e o mundo do trabalho”, globalmente, houve uma queda de 14% nas horas de trabalho no segundo trimestre de 2020, o que equivale à perda de 400 milhões de empregos em período integral (considerando-se uma jornada semanal de trabalho de 48 horas). Trata-se de um aumento acentuado com relação à estimativa anterior de uma queda de 10,7% (305 milhões de empregos), publicada na edição do Monitor divulgada em 27 de maio.

Pagamento emergencial

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de muita discussão dentro do governo se acabava ou reduzia os 600 reais nos próximos meses, confirmou que vai prorrogar o pagamento do auxílio emergencial aos trabalhadores prejudicados pela pandemia do novo coronavírus. Guedes participou, nesta terça-feira, de reunião virtual com a comissão mista do Congresso que acompanha as ações de combate às crises sanitária e econômica.

O ministro, que usa expressões como colocar uma granada no bolso do trabalhador – lembrando o personagem do humorista já falecido Chico Anísio, o deputado Justo Veríssimo, que dizia: “Eu quero é que o pobre se exploda, odeio pobre” – afirmou, ainda, que ao pagar o auxílio emergencial, o governo “descobriu” a existência de 38 milhões de brasileiros invisíveis, sem nenhum tipo de documentação. Parte deles são trabalhadores informais, para os quais será lançado um novo programa de auxílio após a pandemia. Esses “invisíveis” estão perambulando em frangalhos há muito tempo pelas calçadas, becos, e vielas de nossas cidades, só não vê quem não quer.

Para não fugir de sua obsessão, Guedes voltou ao tema das privatizações nos setores elétrico, de cabotagem, gás natural e petróleo: “Quatro ou cinco grandes frentes de investimentos para destravarmos juridicamente. Por isso, podemos surpreender o mundo quando voltarmos de modo seguro ao trabalho.” Na sua agenda de curto prazo está o destravamento do investimento externo.

Ao contrário da agenda de Guedes, os governos dos países desenvolvidos há meses responderam a brutal crise econômica causada pela pandemia por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionista, sem se preocupar com o déficit público, para evitar que seus países caíssem num buraco sem fundo. Já o ministro insiste na defesa de um liberalismo anacrônico de Chicago dos anos 1960. Depois da crise de 2008, a expansão monetária promovida por todos os bancos centrais dos países desenvolvidos, desmoralizaram completamente a teoria liberal e suas privatizações.

Caixa preta do Sistema S – Parte III

Uma nova auditoria no Sistema S feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) foi solicitada em 2017 pelo senador Ataídes de Oliveira (PSDB-TO), então presidente da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização, Controle e Defesa do Consumidor do Senado. “Ninguém até hoje teve coragem de mexer nesse vespeiro”, disse Oliveira à imprensa em janeiro de 2019. Um mês depois, terminou seu mandato. Ele não foi reeleito.

Nesta mesma época, o jornal O Estado de São Paulo publicou um resumo do relatório de 166 páginas do TCU sobre as nove instituições que integram o Sistema S (entre elas, Sesc, Senac, Sesi e Senai, as quatro entidades mais poderosas, ao lado do Sebrae), que arrecadaram R$ 43 bilhões entre 2015 e 2016 – período em que os dados foram analisados. Pronto desde junho de 2018, o relatório ainda não foi apreciado pelo plenário do TCU.

Segundo o relatório, as entidades não estão registrando adequadamente suas disponibilidades financeiras” e algumas informações prestadas “são meramente declaratórias”. Uma boa parte das demonstrações contábeis não é certificada por auditoria interna ou externa. E até 90% dos contratos com fornecedores não passam por licitação.

Dono de um patrimônio bilionário, o Sistema S, formado por um grupo de entidades da indústria, comércio, agronegócio e transporte, tem R$ 23 bilhões em imóveis. São 2.805 propriedades espalhadas por todo o País, das quais cerca de 490 são usadas para finalidades que não estão ligadas às atividades do Sistema S, conforme auditoria do TCU.

Em 2016, as entidades empregavam 108 mil funcionários, dos quais 40% recebiam mais do que a média do mercado. O salário médio mensal variava de R$ 3,5 mil a R$ 15,5 mil, dependendo da entidade. Para fazer o comparativo, o TCU utilizou dados do Ministério do Trabalho. Das nove entidades e duas agências de fomento que compõem o sistema, a maior empregadora era o Sesi, com 28,4 mil funcionários e salário médio de R$ 3,8 mil por mês, seguido pelo Sesc, com 24,4 mil funcionários que recebiam, em média, R$ 3,9 mil.

Gestão questionável

Dois anos antes, em 2017, Arthur Ridolfo Neto, Doutorado e Mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas/SP, na época coordenador do curso intensivo de administração da FGV, fez uma avaliação do cenário sob a perspectiva de gestão empresarial no Sistema S, a pedido do jornal Valor Econômico.

Ele constatou que as confederações nacionais e federações regionais de indústria e comércio receberam em 2016 quase R$ 1 bilhão em repasse de dinheiro público para fazer a gestão de Sesc, Senac, Sesi e Senai. Questionou a real necessidade desses recursos ao observar que os departamentos nacionais das quatro entidades tiveram orçamento somado de R$ 2,1 bilhões no mesmo ano – numa média de pouco mais de R$ 500 milhões para cada uma —, já descontadas as transferências feitas aos órgãos regionais que atuam na ponta. Ridolfo Neto disse o valor era semelhante aos gastos administrativos anuais de empresas como Lojas Renner, Azul e Magazine Luiza.

Segundo o professor, é importante discutir se toda a verba destinada para a administração superior das entidades é necessária, ou se o dinheiro poderia ser melhor utilizado em programas sociais e educativos de treinamento do próprio sistema S.

Às entidades de classe cabe a “governança superior e a visão política e estratégica” das entidades, em um papel similar ao de um conselho de administração de grandes corporações. Para cumprir esse papel, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) recebeu, sozinha, R$ 250 milhões de repasse de dinheiro público em 2016. Conforme estudo da consultoria Spencer Stuart com dados de 182 companhias abertas, o gasto médio com conselho de administração foi de R$ 2,2 milhões em 2014.

Outra característica que chamou a atenção de Ridolfo Neto nas contas do Sistema S é o saldo de caixa. A disponibilidade detida por Sesc, Senac, Sesi, Senai e Sebrae ao fim de 2016 era de quase R$ 17,4 bilhões. Entre as companhias abertas não financeiras do país, apenas a Petrobras tinha um caixa acima desse valor na mesma data, de R$ 69 bilhões — a Vale era a segunda, com R$ 13,8 bilhões.

Olha a faca!

O Partido dos Trabalhadores tentou nos mandatos do presidente Lula e de Dilma Rousseff, mas não conseguiu transferir pelo menos parte da verba do Sistema S para o controle público. Já o Governo Jair Bolsonaro, antes mesmo da posse deu o recado aos empresários. Em dezembro de 2018, o então futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou o Sistema S para uma plateia de empresários reunidos na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan): “’Tem que meter a faca no Sistema S”, disse, criticando os custos do sistema. Para ele, os cortes nos programas precisam ser acentuados. “Com ‘interlocutor bom’, cortamos 30%. Se não, cortamos 50%”, completou. Recebeu uma vaia da plateia.

Guedes retrucou: “A CUT perde o sindicato e aqui fica tudo igual? O almoço é bom desse jeito e ninguém contribui? A gente tem de cortar pouco para não doer muito. Se o interlocutor é inteligente, preparado e quer construir, como o Eduardo Eugênio (Gouveia, presidente da Firjan) corta 30%. Se não, corta 50%”, ameaçou. Risadas nervosas foram ouvidas na plateia que lotou o auditório da Firjan. Guedes finalizou: “Não adianta cobrar sacrifícios dos outros e não dar o exemplo”. Depois disso, a turma do Sistema S não abriu mais a boca contra qualquer medida do Governo Bolsonaro.

Em julho de 2019, um decreto do presidente Jair Bolsonaro determinou que as empresas do chamado Sistema S deverão detalhar suas contas na internet, conforme as regras já aplicadas ao setor público, determinadas pela Lei de Acesso à Informação (LAI). As novas regras eram para entrar em vigor em 90 dias, mas a data inicial das prestações de contas até agora não foi definida.

A segunda cuchillada prometida por Paulo Guedes foi a Medida Provisória 932/2020, que cortou pela metade a contribuição das empresas para manutenção do Sistema S nos meses de abril, maio e junho de 2020. O objetivo é minimizar os impactos da pandemia de coronavírus na economia. O Congresso reduziu o corte para os meses de abril e maio.

Em 2018, segundo a Receita Federal, foram repassados ao Sistema S R$ 17,08 bilhões. Em 2017, foram R$ 16,47 bilhões. As alíquotas das contribuições variam de 0,2% a 2,5%, dependendo do setor (indústria, comércio, agricultura, cooperativismo, transportes e micro e pequenas empresas).

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o sistema S tinha 3.431 unidades espalhadas pelo país em 2016 e possuía 158.631 empregados, além de pagar salários que somavam R$ 8 bilhões.

Caixa preta do Sistema S – Parte II

O ex-senador Ataídes Oliveira publicou em 2012, pela editora do Senado, o livro “Caixa Preta do Sistema S”.  No Senado ele foi um dos maiores críticos da gestão do Sistema S, primeiramente como suplente, em 2012, e depois, de 2013 a 2019, como titular pelo PSDB. Não se reelegeu e hoje está no Progressistas.

Oliveira atua como empresário no estado de Tocantins. Na introdução do livro ressalta que sempre será um defensor do Sistema S – Senai, Sesi, Senac, Sesc, Senar, Sest, Senat, Sebrae, Sescoop, ABDI e Apex. “Um dos maiores gargalos do nosso país, que realmente impede um crescimento sustentável, é a deficiência na formação de mão de obra qualificada.”

A principal finalidade do Sistema S é exatamente o treinamento profissionalizante. “Resolvi pesquisar sobre o tema na internet. Durante a pesquisa constatei que não há qualquer transparência nas entidades que formam o Sistema S. É simplesmente impossível obter informações pelos meios convencionais. Encaminhei, então, ao Tribunal de Contas da União (TCU) o Requerimento de Informações nº 597/11, aprovado pelo plenário do Senado Federal, no qual pedia detalhes sobre a arrecadação do Sistema S.”

O Requerimento resultou no Acórdão nº 2172/11 do TCU, que deixou o senador perplexo: “Dois crimes estavam sendo cometidos pelo Sistema S. Um deles, a violação sistemática da Lei nº 11.768/2008 (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que diz em seu Artigo 6º, Parágrafo 3°: As entidades constituídas sob a forma de serviço social autônomo, destinatárias de contribuições dos empregadores, incidentes sobre a folha de salários, deverão divulgar, pela internet, dados e informações acerca dos valores recebidos à conta das contribuições, bem como das aplicações efetuadas, discriminadas por finalidade e região.”

Outro crime, segundo Oliveira, é o descumprimento do Artigo 2º, Parágrafos 1º e 2º, da Lei nº 11.457/2007, que determina que toda a arrecadação das contribuições sociais (que constituem legalmente tributos, segundo o Artigo 147 da Constituição Federal) deve ser feita, de forma indelegável, pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB). “O descumprimento é praticado principalmente por Senai e Sesi, que recolhem as contribuições sociais diretamente junto às empresas, segundo informaram ao TCU as próprias entidades”, acrescenta ele.

Diante de tal quadro, Oliveira apresentou junto ao Tribunal de Contas da União um outro requerimento, nº 1.058/11, solicitando auditorias em todos os entes do Sistema S relativo aos anos de 2008, 2009 e 2010, e que resultou nos Acórdãos de números 3183/11, 2527/12 e 2605/12.

Desde então, o senador afirma que não lhe restou nenhuma dúvida de que o chamado Sistema S é uma verdadeira caixa preta, em que não se respeita nada do que determina o Artigo 37, caput, da Constituição, que trata da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Segundo ele, nada disso vem sendo cumprido pelas administrações dos entes ligados ao Sistema S, que são basicamente mantidas com dinheiro público, de tributos que eleva o custo Brasil. “Ao longo dos seus quase 70 anos, o Sistema S vem, sistematicamente, malversando o dinheiro público, conforme pontos críticos verificados pela auditoria do TCU e CGU”.

Arrecadação bilionária

Os recursos financeiros para a promoção de suas finalidades são oriundos de contribuições sociais (tributos), criadas por lei. Aí começam os problemas.  No livro, Oliveira diz que o Sistema S deve ter arrecadado em 2012 cerca de R$ 15 bilhões, quantia superior à arrecadação de ICMS de 23 estados da Federação. A média anual de crescimento de 21%, e um incremento acumulado de 74% no triênio 2008/2009/2010, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU).

A enorme quantia de receita pública, retirada compulsoriamente das empresas, é pouco conhecida e muito mal explicada, não sendo divulgados os impactos dos programas do Sistema S, nem os beneficiários deles, conforme Oliveira. “As cidades de pequeno e médio porte, típicas do Norte e Nordeste do País pouco, ou nada, se favorecem comparativamente com a aplicação desses recursos.”

Em março de 2017, Oliveira, no plenário do Senado, informou que o Sistema S, naquele momento, tinha mais de R$ 28 bilhões aplicados no mercado financeiro. “Eu lembro que, quando da gestão do Ministro Levy, (Joaquim Levy, ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff em 2015) estive no seu gabinete e disse para ele pegar 30% desse dinheiro, pois sobram R$ 10 bi no caixa do Sistema S, e levar para a seguridade social. Ele até tentou, na época, mas não conseguiu por causa desse lobby.”

Em 2016, o senador deu entrada em um projeto, o Projeto nº 386, que designa 30% da arrecadação do Sistema S para a Previdência Social, “em especial para a aposentadoria rural, que é onde está o rombo”. Para Oliveira, o Sistema S não precisa desses R$10 bilhões que todo ano sobra em seu caixa. “Se nós usarmos esse dinheiro para cobrir o rombo da aposentadoria rural, isso vai resolver em grande parte.” O projeto não andou e a reforma da Previdência foi pelo caminho contrário.

População paga pelos cursos

Para Oliveira, é inaceitável que o Sistema S criado por lei, mantido com recursos públicos (tributos), sem fins lucrativos, que deverá arrecadar mais de R$ 18 bilhões em 2013 (previsão feita em 2012),  que tem como finalidade a qualificação da mão de obra do trabalhador brasileiro, cobre de uma pobre dona de casa, que quer ajudar na renda familiar, um curso de cabeleireira.

O Sebrae, conforme Oliveira, definiu que seriam aplicados 10% de sua Receita Total em benefício gratuito de seus usuários, mas na média verificada não aplicou sequer 5%. “Se os bilhões arrecadados pelo Sebrae têm como finalidade qualificar a mão de obra e dar suporte aos empregadores, é aberrante esse percentual mínimo de 10% de toda esta receita destinada a cursos gratuitos e mais, somente se aplicou 5%.”

Percebe-se, acrescenta ele, “que os cursos oferecidos gratuitamente pelo Senac, durante o exercício de 2011 representaram apenas 24,95%, e em contrapartida os cursos pagos pelos trabalhadores representou 75,05%. Inconcebível!”’

Na conclusão do livro, Ataíde Oliveira diz “que o TCU informa que diante de uma contabilidade ineficiente, confusa e inadequada, de uma prestação de contas despadronizada, da pouca disponibilidade de auditores, da independência de alguns entes da mesma categoria e de outros problemas, as auditorias não espelham a realidade do Sistema S e apontam diversos crimes de mau uso do dinheiro público.”

Pontos críticos

Resultados das auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) E Controladoria Geral da União (CGU), com comentários do então senador Ataídes Oliveira:

Descumprimento ao princípio da publicidade: É inadmissível que o Sistema S, que arrecadou em 2012 mais de R$ 15 bilhões (tributo), não preste qualquer informação ao povo brasileiro;

Arrecadação direta: É inaceitável que os gestores do Sistema S, alguns deles há dezenas de anos à frente das entidades, arrecadem, via boletos bancários, diretamente das empresas, como confessadamente fazem SENAI e SESI, que em 2011 (segundo o TCU) arrecadaram respectivamente, junto aos contribuintes, R$ 1,354 bilhão e R$ 1,701 bilhão. É um estupro à lei. Isto não caracteriza uma apropriação indébita?

Volume da arrecadação: Segundo o Acórdão nº 2527/2011 do Tribunal de Contas da União, a receita que mais cresceu no Brasil nos últimos anos foi justamente a do Sistema S, atingido em 2012, aproximadamente, R$ 15 bilhões;

Disponibilidade financeira: Ainda de acordo com o TCU, o próprio Sistema informou em 31–12–2011 uma disponibilidade financeira de R$ 4,3 bilhões, e que tais disponibilidades crescem a cada ano. Acredito que o valor real das disponibilidades deve ser superior ao apresentado pelas entidades ao TCU, já que há arrecadação direta junto às empresas;

Cursos gratuitos oferecidos: Verifica-se, através das auditorias do TCU, que os cursos disponibilizados gratuitamente pelo Sistema S, teve uma queda substancial nos últimos três anos em mais de 50% e, em contrapartida, um aumento no volume dos cursos cobrados;

Convênios milionários: Há convênios milionários entre Governo Federal e Sistema S, exemplo: um convênio feito através do Ministério do Trabalho no valor de R$ 33 milhões com o SESI, SENAI e SENAC/DF. A CGU ajuizou três ações pedindo o ressarcimento pelas irregularidades na aplicação de verbas federais destinada ao desenvolvimento de programas de educação profissional;

Aplicações do sistema financeiro: O Sistema S é hoje um dos maiores investidores do país no sistema financeiro com valores investidos acima dos R$ 5 bilhões;

Mercado imobiliário: Alguns entes do Sistema S atuam fortemente no mercado imobiliário. Somente o SESI obteve em 2010 uma receita patrimonial de R$ 276 milhões;

Cobrança pelos cursos: O Sistema S foi criado para prover formação profissional gratuita, lazer e saúde. Com arrecadação anual de bilhões de reais em dinheiro público, não é justo, legal, ético e nem moral que se cobrem valores exorbitantes a trabalhadores pobres por cursos que deveriam ser oferecidos gratuitamente.

Desvio de finalidade: Uma vez que o Sistema arrecada tributos através da União para manter seus objetivos (finalidades) não poderia atuar no sistema financeiro, imobiliário e comercial.

Contabilidade: Segundo os relatórios do TCU, os métodos contábeis das entidades que formam o Sistema S não oferecem transparência, não são uniformes, não têm padrão técnico definido e a eles não é dada publicidade. Seus fatos contábeis constituem autênticos labirintos que não obedecem aos princípios básicos da contabilidade estabelecidos pela ITG 2002, do Conselho Federal de Contabilidade.

Contratação de pessoal: O Tribunal de Contas da União encontrou números alarmantes em relação às folhas de pagamentos e ao número de funcionários do Sistema S. Suas folhas de pagamento anual acredito que hoje tenha ultrapassado os R$ 3 bilhões, somente SEST e SENAT tiveram aumento no quadro funcional de 63% em 2011, em relação a 2010. Será que alguma empresa em nosso país contratou tantos funcionários em um só ano? Acredito que, como esses funcionários são remunerados com dinheiro público, o sistema de contratações deveria seguir as normas do serviço público, ou seja, provimento de vagas por concurso público;

Supersalários: É de conhecimento público que há super salários pagos a presidentes, diretores, superintendentes e funcionários do Sistema S sem qualquer transparência ou publicidade, entretanto, tornou-se obrigatório através da última LDO nº 12.708/2012 Artigo 115 Parágrafo 2º, à divulgar cargos, salários, relação nominal de dirigentes e membros do corpo técnico.

Licitações:  Os relatórios das auditorias do TCU deixam claro que o regime de contratações, em geral, é caótico, o que eu classifico como uma autêntica irresponsabilidade com dinheiro público. São quase sempre os mesmos fornecedores, há casos evidentes de superfaturamento e inúmeras outras irregularidades que irei demonstrar ao longo deste trabalho. Da mesma forma que as contratações de funcionários, creio que deveriam os entes do Sistema S, neste caso, seguir o setor público, ou seja, contratar sob a égide da Lei nº 8.666/93 (Lei das Licitações Públicas);

Fiscalização do CGU: Em ações de fiscalização do CGU nas 172 unidades do Sistema S, 90% apresentam diversas irregularidades em suas contas;

PCumulatividade de cargos: É sabido que há no Sistema S gestores com cargo de presidente da confederação, presidente da federação, conselheiro de serviços de uma mesma categoria de trabalhadores, será que só este gestor tem capacidade para administrar todo o sistema de sua categoria? Isto é ético, moral e democrático ou é um abuso de poder?

Fonte: Caixa Preta do Sistema S/Livro editado pelo Senado

Caixa preta do Sistema S – Parte I

Em 2004, no seu segundo ano de governo, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mirou o Sistema S, formado por nove instituições, entre elas, Sesi, Senai, Sesc e Sebrae. De olho nos R$ 8 bilhões arrecadados anualmente, quase três vezes mais o que a União pretendia gastar com saneamento básico naquele ano. Hoje, o sistema arrecada em torno de R$ 20 bilhões/ano.

Na época, o governo Lula já denunciava a falta de transparência na utilização desses recursos, recolhidos de forma compulsória sobre a folha de pagamento de 1,9 milhão de empresas no país. Atualmente, o Brasil possui em torno de 4,5 milhões de empresas.

Os empresários, através das entidades patronais, controlam o uso do dinheiro do Sistema S desde sua criação pelo presidente Getúlio Vargas, em 1942. O Governo Lula entendia que era preciso abrir o que chamavam de “caixa-preta” do Sistema S.

O jornal Folha de São Paulo informava, em 2004, que o Tribunal de Contas da União (TCU) havia encontrado irregularidades em unidades dos S no país. Os problemas apontados pelo Tribunal iam desde ausência de licitação para execução de obras e contratação de pessoal sem realização de concursos até desvios de recursos e concessão irregular de bolsas de estudo.

As empresas pagam contribuições às instituições do Sistema S com base nas seguintes alíquotas:
Instituição Alíquota
Senai 1,0%
SESI 1,5%
SENAC 1,0%
SESC 1,5%
SEBRAE variável no intervalo de 0,3% a 0,6%
SENAR variável no intervalo de 0,2% a 2,5%
SEST 1,5%
SENAT 1,0%
SESCOOP 2,5%

Fonte: Agência Senado

As alíquotas acima variam em função do tipo do contribuinte, definidos pelo seu enquadramento no código Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS).

Os representantes de centrais sindicais e do Governo Lula argumentavam que os recursos do sistema são públicos, recolhidos compulsoriamente das empresas, com uma finalidade pública: oferecer formação profissional e assistência social ao trabalhador.

Lula criou, então, um fórum com representantes do governo, dos trabalhadores e das empresas. Jair Meneguelli, ex-sindicalista, foi nomeado para presidir o conselho nacional do Sesi e comandar a reestruturação dos S. No entanto, reestruturar o Sistema S não é fácil e os pontos fundamentais não foram mexidos.

É bom ficar claro que o Partido dos Trabalhadores não é contra o Sistema S. O senador Paulo Rocha (PT-PA), por exemplo, afirmou que o Sistema S é primordial para o aprimoramento profissional dos trabalhadores em vários setores. Ele foi um aluno do Sistema. Na opinião do parlamentar, há lugar para aprimoramentos, mas não se pode perder a perspectiva de manutenção da estrutura em prol dos cidadãos.

Segundo governo Lula

Em 2008, já no segundo Governo Lula, a surgiu a proposta de modificar a aplicação de parte da verba anual do Sistema S. O então ministro da Educação, Fernando Haddad, e seu colega do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi, lançaram a proposta de usar o dinheiro na oferta de cursos profissionalizantes gratuitos de nível médio para alunos de escolas públicas ou com bolsa integral em estabelecimentos particulares.

Cerca de dois milhões de vagas beneficiariam ainda aqueles que utilizavam o seguro-desemprego, com a criação do Fundo Nacional de Formação Técnica e Profissional (Funtep), formado por parte da arrecadação do Sistema. Oitenta por cento dos recursos seriam distribuídos conforme o número de matrículas nos cursos gratuitos – o restante do dinheiro seria repartido conforme a população do estado. No cenário proposto pelo governo, entidades como Senai e Senac passariam a seguir diretrizes fixadas em lei para o uso de suas verbas.

Em valores reais, da receita naquele ano estimada de R$ 8 bilhões no Sistema S, o governo mudaria o destino de R$ 4,8 bilhões, que na visão federal estariam sendo gastos sem controle pelas confederações empresariais. As entidades manteriam a autonomia no uso do restante da arrecadação tributária e de suas receitas adicionais com, por exemplo, a oferta de cursos pagos. Na época, Haddad explicou que a ideia era focar o Sistema S nas camadas sociais que dependem dele para se emancipar e, com isso, fomentar uma mudança de comportamento na inclusão de camadas sociais menos favorecidas em um ensino de qualidade.

O embate acabou em um decreto que previu aumento gradativo da alocação do recurso para vagas públicas em cursos com, no mínimo, 170 horas de duração. Até 2014, dois terços do total da contribuição precisariam ter a gratuidade como destino. O Tribunal de Contas da União (TCU) passou a acompanhar o investimento e, em 2013, foi decretado que os sistemas precisariam publicar na internet relatórios trimestrais. Com a crise política a partir de 2013 e o impeachment da presidenta Dilma Roussef, em 2016, novamente mudanças importantes no Sistema S ficaram para depois.

Em agosto de 2018, em entrevista para o jornal Valor Econômico, já como candidato à presidência pelo PT, Fernando Haddad disse que um novo governo petista deve ter como plano “enquadrar” o chamado Sistema S para que os recursos sejam direcionados para o ensino médio.

Para Haddad, o Sistema S se apropria de dinheiro público e trata como se fosse privado. “A começar do fato de que eles não reconhecem a natureza pública do recurso que eles gerem. Vale na governança, na participação da sociedade na gestão, vale para a transparência. ”

Na mesma entrevista, Haddad atacou Paulo Skaf, então o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – que concentra cerca de 40% do PIB nacional -, uma das mais importantes entidades empresariais do país. Naquele momento, Skaf era candidato do MDB ao governo de São Paulo. “Pegue aí o Paulo Skaf. Ele trata como se fosse dele. O Sesi é dele, ele é o garoto-propaganda. Ele faz daquilo uma plataforma de lançamento de sua própria candidatura. Isso é coisa do patrimonialismo brasileiro, sabe? Aquela coisa de não largar o osso, de querer tudo para si. Tenho repugnância para esse tipo de coisa. Aquilo é público, é dinheiro público federal. Eles têm de ter compromisso com as escolas.”

O pato

Em 2004, ocorria uma acirrada disputa pelo comando da Fiesp. Paulo Skaf assumiu pela primeira vez a presidência da Fiesp e tomou conta de um orçamento anual de R$ 750 milhões. Mais de 60% da arrecadação da Fiesp vem do Sistema S. Ele é o maior exemplo do uso político das entidades empresariais do Sistema S.

Na crise político-econômica de 2014, Skaf iniciou a campanha “Não vou pagar o pato” contra o Governo Dilma Rousseff, patrocinando um imenso pato amarelo que ficava na frente da Fiesp durante as manifestações contra o PT.

Anteriormente, parte da verba do Sistema S também foi utilizada para construção do luxuoso prédio da Fiesp na Avenida Paulista, assim como o da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). A Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) também está finalizando seu novo prédio na Freeway, saída de Porto Alegre.

No prédio de nove andares e complementos foram investidos R$ 176,6 milhões. Com 37,3 mil metros quadrados de área, vai abrigar auditório para mil pessoas, restaurantes, academia, creche, biblioteca, memorial e bicicletário, além da área administrativa do Sesc e do Senac no Estado.

Depois do impeachment de Dilma Rousseff, assumiu o vice-presidente Michel Temer (MDB). Ele assinou um decreto obrigando a reserva dos recursos da qualificação dos trabalhadores rurais pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) – que integra o Sistema S – para as entidades patronais do setor agrícola: 5% para o financiamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outros 5% para as federações estaduais. Esse modelo de transferência segue o que já existe em outros setores, como indústria e comércio.

(CONTINUA )

Senado aprova MP que reduz contribuições ao Sistema S

Em sessão remota nesta terça-feira (23), o Senado aprovou o Projeto de Lei de Conversão, proveniente da Medida Provisória (MP) 932/2020, que cortou pela metade a contribuição das empresas para manutenção do Sistema S. A matéria, aprovada em votação simbólica, será encaminhada à sanção presidencial.

O texto aprovado no Senado restringiu o corte aos meses de abril e maio, sendo que, no mês de junho de 2020, já será retomada a alíquota de contribuição permanente. Essa alteração, feita durante a votação da matéria na Câmara, no último dia 16, foi mantida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), relator da MP no Senado.

O texto original da MP — que integrou o pacote do governo federal para minimizar os impactos da pandemia de coronavírus na economia — determinou os cortes nos meses de abril, maio e junho.

A redução das contribuições para os meses de abril e maio contou com o apoio das entidades do Sistema S, destacou Paim. A MP alcança as contribuições cobradas pelas seguintes entidades: Sescoop (setor de cooperativas), Sesi e Senai (indústria), Sesc e Senac (comércio), Sest e Senat (transporte) e Senar (rural).

Assim, para o Sescoop as empresas pagarão 1,25% em abril e maio; para o Sesi, Sesc e Sest, o devido será de 0,75% nesses dois meses; e para Senac, Senai e Senat, a alíquota será de 0,5% nesse período.

Quem recolhe as contribuições é a Receita Federal, mas o dinheiro é repassado às entidades, não entrando nas estatísticas de arrecadação federal. Em 2019, o Sistema S arrecadou quase R$ 18 bilhões.

Impugnação

Com apoio de Paim, os senadores impugnaram os artigos 3º e 4º do PLV, declarando não escritos os dois dispositivos incluídos durante a votação da matéria na Câmara do Deputado. O relator ressaltou que os dois artigos tratavam de matéria estranha ao texto original da MP 932/2020, daí a impugnação. A impugnação contou com o voto unânime de 68 senadores.

O relator pediu ainda ao senador Eduardo Braga (MDB-AM) que retirasse duas emendas de sua autoria para que o texto não voltasse à Câmara. As emendas mantinham o período de redução das alíquotas das contribuições aos serviços sociais autônomos até 30 de junho de 2020. A solicitação foi aceita pelo líder do MDB no Senado.

Receita Federal

Paim também manteve no texto dispositivo aprovado anteriormente na Câmara, que retirou da MP dispositivo segundo o qual as entidades do Sistema S teriam que destinar à Receita Federal 7% do valor arrecadado como retribuição pelos serviços de recolhimento e repasse. O percentual é o dobro (3,5%) do previsto na Lei 11.457/07, que criou a atual Receita Federal.

Cobrança sobre folha de salário em análise no STF

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou inconstitucional a cobrança de 0,6% sobre a folha de salário das empresas. Os valores arrecadados são destinados ao Sebrae, à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e à Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). As três entidades se sustentam quase que exclusivamente por meio desse tributo.

A ministra é a relatora do processo que discute a constitucionalidade da cobrança. Esse recurso foi colocado em julgamento no plenário virtual na sexta-feira. 19 de junho. Na sequência à apresentação do voto, o ministro Dias Toffoli pediu vista. Assim, o caso ainda não tem data para prosseguir e os demais ministros também apresentem seus votos.

O posicionamento de Rosa Weber, conforme matéria no Valor Econômico, provocou alvoroço no mercado. A ministra, além de votar pelo fim da cobrança, entende que as empresas têm direito a receber de volta o que pagaram nos últimos cinco anos.

O advogado César Nazário, em artigo publicado em julho de 2019 no site da ACINH, já informava que algumas empresas estavam obtendo êxito em ações judiciais nas quais discutem a inconstitucionalidade das contribuições sociais de intervenção no domínio econômico, destinadas ao SEBRAE, Incra, APEX, ABDI, Sistema “S”, e da Contribuição Salário-Educação sobre a folha de salários.

Segundo ele, as decisões favoráveis são fundamentadas no fato de que, a partir da promulgação da EC nº 33/2001, ficou expressamente determinado na Constituição Federal que a base de cálculo para as referidas contribuições pode ser o faturamento, a receita bruta ou valor da operação e sendo o caso de importação, o valor aduaneiro. O novo texto constitucional não inclui a folha de salários como base de cálculo para as contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico.

Na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) consta que o Sebrae deixaria de receber R$ 3,5 bilhões ao ano e o impacto, levando em conta a devolução do que foi pago nos últimos cinco anos, seria de R$ 19,8 bilhões. Já para a Apex estão previstos R$ 520 milhões em perdas anuais, mais R$ 2,9 bilhões para ressarcir os contribuintes. No caso da ABDI, os valores seriam, respectivamente, de R$ 85 milhões e R$ 420 milhões.

Série “Caixa preta do Sistema S”

O Sistema S é polêmico principalmente por sua falta de transparência, uma caixa preta, como muitos o definem.  As nove instituições que o integram (entre elas Sesi, Senai, Sesc e Sebrae) arrecadam bilhões de reais por meio de contribuições sobre a folha de pagamento dos empregados paga pelas empresas.

A reforma trabalhista de 2017, entre outros pontos, promoveu o fim da obrigatoriedade do imposto sindical – fonte de renda principal de diversos sindicatos brasileiros. Com essa mudança, entidades trabalhistas estão com os caixas vazios e na busca de novos formatos de gestão. Enquanto isso, as entidades patronais incluídas no Sistema S continuam mantidas pelas contribuições, pagas compulsoriamente pelos empregadores, que incidem sobre a folha de salários com alíquotas variadas.

Nesta semana, a coluna “Economics” vai publicar diariamente, até sexta-feira, 26, a série “Caixa preta do Sistema S”. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União indicou que as nove instituições que integram o Sistema arrecadaram R$ 43 bilhões entre 2015 e 2016.  As alíquotas das contribuições variam de 0,2% a 2,5%, dependendo do setor (indústria, comércio, agricultura, cooperativismo, transportes e micro e pequenas empresas). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sistema S tinha 3.431 unidades espalhadas pelo país em 2016 e possuía 158.631 empregados, além de pagar salários que somavam R$ 8 bilhões.

Área econômica tenta mostrar uma recuperação que não é real

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 15.09% em abril, comparado com o mesmo mês de 2019. Parte da grande imprensa optou por ressaltar a queda de 9,73% em abril, na comparação dessazonalizada com março. Mesmo assim, a maior queda da série histórica, com início em janeiro de 2003.

Já falam que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre está mais perto de 10% do que 15%.  Só que todas as projeções começaram por volta de 5% e foram se aproximando dos 10% e não de 15%. É uma velha mania da grande mídia de criar uma expectativa otimista de recuperação logo ali adiante, mesmo que números não deixem isso claro.

O noticiário econômico informa, ainda, que a onda de revisões pessimistas para o desempenho da economia brasileira em 2020 também deve ser contida. É um sinal claro que a elite empresarial separa o desastre político do Governo Bolsonaro do projeto liberal do ministro da Economia Paulo Guedes.

Nesta semana, o ministro Guedes seguiu na mesma linha, afirmando que o momento de medidas emergenciais passou e agora voltará suas atenções para a agenda de reformas. “Estamos voltando para as reformas. Nos próximos 60 e 90 dias, iremos acelerar”, disse em uma videoconferência.

Portanto, estamos vivendo em um mundo da fantasia do mercado e do Ministério da Economia, que acreditam nas reformas para o Brasil sair da crise e o mundo real, com a economia na lona com milhares de desempregados e empresas fechando as portas no meio da pandemia.

No mundo real, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI-RS), divulgado nessa semana pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), cresceu dez pontos em junho, na comparação com maio, saltando para 42. Mesmo assim, em uma escala de zero a cem pontos, na qual os 50 separam a presença da ausência de confiança, o resultado revela que, apesar de menor, a falta de otimismo ainda predomina na indústria gaúcha.

Após amargar o Dia das Mães mais fraco da história, no mundo real o comércio voltou a registrar vendas no vermelho no Dia dos Namorados. Segundo levantamento do Núcleo de Pesquisa do Sindilojas Porto Alegre, ocorreu uma redução de 41% na capital gaúcha em comparação com 2019.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda disponibilizar até R$ 2 bilhões para empresas de grande porte atuarem como “âncoras” e fornecerem capital de giro para seus fornecedores e clientes, um mecanismo estranho.

A linha de crédito será operada diretamente pelo BNDES, que emprestará até R$ 200 milhões por empresa âncora. O prazo de carência será de até 24 meses, com pagamento em até 60 meses. O custo será de Selic mais 0,1% ao mês, acrescido de uma taxa de risco que variará entre 1,4% e 1,6% ao ano.

Nesta crise avassaladora, a dúvida que fica é o quanto a grande empresa vai repassar deste empréstimo de pai para filho aos seus fornecedores. Pelo menos o BNDES avisa que a empresa não pode ter ganho ao repassar os recursos, não pode fazer intermediação.

Enquanto isso, os negócios pequenos do País ainda esperam a liberação pelos bancos as linhas do Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).

Safra 2020 consolida produção de grãos de inverno

No meio de projeções assustadoras para a economia gaúcha em plena pandemia do novo coronavírus, surge uma notícia positiva. O presidente e o diretor técnico da Emater/RS, Geraldo Sandri e Alencar Paulo Rugeri, anunciaram nesta terça-feira, 16, numa coletiva de imprensa online, uma estimativa de produção de 2,96 milhões de toneladas, na Safra de Inverno 2020 no Rio Grande do Sul.

Os principais grãos de inverno – trigo, cevada, canola e aveia branca – serão cultivados em 1,30 milhão hectares, enquanto que na safra 2019 foram 1,13 milhão de hectares e obtida uma produção de 3,12 milhões de toneladas. Pode parecer estranho a previsão de uma grande safra em 2020, com uma produção menor, comparando com o ano anterior. A razão é o cálculo feito pela média de anos anteriores.

Como o clima deve ajudar, com chuvas, frio, umidade e geadas regulares, sem previsão de seca como ocorreu no primeiro semestre, a produção efetiva em 2020 deve passar a de 2019, até porque a área plantada será maior.

O meteorologista do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Seapdr, Flávio Varone, complementou que durante os meses setembro, outubro e novembro a previsão do La Niña é de fraca intensidade, com um período mais seco, ajudando a finalização da safra de inverno.

De acordo com levantamento feito em 286 municípios gaúchos, a amostra revela uma tendência de consolidação dos grãos de inverno na metade Norte do Estado, a partir da instalação de empresas de fomento nessas regiões, em especial de canola e cevada.

Principal produto da estação, o trigo deverá ter uma produção de 2,18 milhões de toneladas. Cultivado numa área de 915.712 hectares, 20,34% a mais do que na safra passada, que foi de 760.914 hectares, o grão apresenta tendência de produtividade média de 2.391 quilos por hectare. Concentrado nas regiões de Santa Rosa, Ijuí e Frederico Westphalen, chama a atenção o trigo ter aumento de 120% na área a ser cultivada na região de Porto Alegre, passando de 500 hectares na safra passada para 1.100 hectares nesta safra.

O diretor técnico da Emater/RS, Alencar Paulo Rugeri, disse que as dificuldades climáticas atingiram a safra de verão, já as culturas de inverno não tiveram problema até agora. “O trigo está consolidado e com avanço na qualidade pela criação de novas cultivares com fins específicos para pão e massa. “O trigo é uma cultura para profissionais.”

Na região de Frederico Westphalen, a perspectiva de tempo favorável e de bons preços tem mantido a tendência de elevação de 15% na área plantada de trigo em relação a 2019. Na de Santa Maria, a área de plantio está aumentando devido às condições favoráveis de umidade no solo. Na Regional de Santa Rosa, as condições favoráveis permitiram o avanço do plantio, que já chega a 142 mil hectares. Em Bagé, as condições do tempo favorável na Fronteira Oeste já provocaram o plantio em 12 mil hectares. Nas regiões de Erechim e Pelotas, foram iniciados os plantios também com sinalização de aumento de área em relação à safra passada. Na regional de Soledade, as áreas plantadas já atingem 13,5 mil hectares e apresentam bom desenvolvimento inicial.

A canola se estabelece como importante cultura no RS, com 34.444 hectares (6,55% a mais do que na safra passada, que foi de 32.326 hectares), em especial nas regiões de Ijuí e Santa Rosa. Nesta, serão cultivados 17.538 hectares, incentivados por uma empresa que fomenta e processa a canola. Apesar da grande variação nas produtividades nos últimos anos, a expectativa para esta safra é de uma produtividade de 1.243 kg de canola por hectare.

A cevada também se consolida como grande alternativa de produção nas regiões de Frederico Westphalen, Erechim, Passo Fundo e Ijuí. A cultura registra variação de produtividade nas últimas safras e a expectativa para este ano é de 2.498 quilos de cevada por hectare.