O produto interno bruto (PIB) da China cresceu 8,1% em 2021, segundo divulgou a agência oficial chinesa nesta segunda-feira,17.
Em valores absolutos, a economia chinesa produziu 114,367 trilhões de yuans (cerca de 16 trilhões de dólares) no ano passado, de acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas (DNE).
O resultado representa um salto diante do crescimento de 2,3% do ano de 2020, e retoma uma trajetória de altos índices, interrompida com a pandemia.
“A economia da China continuou com uma recuperação estável em 2021, liderando o mundo tanto no desenvolvimento econômico quanto no controle da epidemia”, disse o DNE.
A renda per capita da China ficou em 35.128 yuans ( cerca de 5 mil dólareis percapita) em 2021, um aumento anual de 9,1% em termos nominais, segundo dados do DNE.
As organizações que compõem o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, coalizão dedicada à defesa da Lei de Acesso à Informação e da transparência pública, e organizações parceiras, emitiram nota cobrando do Ministério da Saúde esclarecimento sobre quais foram os impactos do ataque digital e quais são as providências para evitar que se repita, e acelere as providências para restabelecer os sistemas de coleta, consolidação e divulgação de dados sobre a saúde pública brasileira.
Segue a nota:
“Nesta segunda-feira (10/01), completou-se um mês em que o país está sem acesso a informações fundamentais para a saúde pública e para responder de forma adequada à pandemia de Covid-19. Após o ataque aos sistemas do Ministério da Saúde classificado genericamente como “incidente de segurança cibernético”, a coleta e a divulgação de dados sobre a vacinação e a ocorrência de Covid-19 e de outras doenças respiratórias graves estão comprometidas.
O Ministério da Saúde – em consonância com a prática do atual governo federal de fornecer informações parciais – insiste que o e-SUS Notifica (utilizado para notificar casos de Covid) e o SI-PNI (Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização) voltaram à normalidade. O chefe da pasta, Marcelo Queiroga, afirmou que o fato de os dados não estarem disponíveis publicamente não significa que não estejam sendo coletados.
Entretanto, relatos de profissionais da saúde e checagens jornalísticas mostram que as redes pública e privada não têm conseguido inserir seus registros de casos no e-SUS Notifica, nem os registros de doses de vacinas no SI-PNI. Ou seja, quaisquer que sejam os dados que o Ministério diz coletar no momento, eles não refletem a realidade.
Além de tentar desinformar a sociedade, o Ministério da Saúde omitiu a informação de que o “incidente de segurança cibernético” afetou a Rede Nacional de Dados em Saúde, ou RDNS (a plataforma que reúne todas as informações prestadas por estados por meio dos sistemas como o e-SUS Notifica, Sivep-Gripe e SI-PNI), fato revelado pela imprensa na última quinta-feira (06/01). Só admitiu a ocorrência grave após publicação de reportagem, e coincidentemente informou o retorno da Rede ao ar nesta segunda (10/01), mas sem previsão concreta sobre a normalização dos dados.
Sem a RDNS e com a instabilidade dos sistemas de registro, nem pesquisadores, nem especialistas conseguem ter uma visão geral da pandemia de Covid-19, da epidemia de gripe ou da vacinação. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), por exemplo, está impossibilitada de produzir boletins em que avalia o crescimento ou a redução de casos de Covid-19 e outras doenças respiratórias graves. O próprio boletim epidemiológico do governo federal é prejudicado: a edição mais recente, divulgada em 01/01/2022, não apresenta o número de internados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
O apagão de dados oficiais mostra-se ainda mais crítico por coincidir com um aumento expressivo de casos positivos de Covid-19 e síndromes gripais no país, conforme apontam dados de farmácias, laboratórios, hospitais privados e secretarias municipais. Desde as vésperas das festas de fim de ano, registra-se uma alta desses casos, que se refletem no aumento da demanda por atendimento em prontos-socorros.
A reportagem aqui mencionada mostra que, no Rio de Janeiro, apenas nos primeiros cinco dias de 2022, o número de casos de Covid-19 na cidade correspondia a 80% do registrado ao longo de todo o mês de dezembro. Já em São Paulo, em duas semanas desde o final de dezembro, a quantidade de infecções por Covid-19 aumentou 53%, e a ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) subiu de 21% para 38%.
Sem o monitoramento e o fornecimento de dados oficiais, prejudica-se ou até mesmo inviabiliza-se o desenvolvimento de medidas e de políticas públicas necessárias para evitar a sobrecarga do sistema de saúde e realizar o devido controle e tratamento dos casos registrados de Covid-19 e demais síndromes gripais no país.
É inaceitável que o país esteja à mercê de tamanha incompetência e negligência por parte do governo federal. Há evidências claras de que o Brasil esteja entrando em mais uma grave onda na crise de saúde pública que se instaurou no país, sem o mínimo de dados necessários para estimar seu tamanho, elaborar planos para mitigá-la e salvar vidas. Pior: enfrentando um cenário de evidente desmonte das políticas necessárias para o efetivo monitoramento da situação.
Vale acrescentar que o recente apagão de dados evidencia a precarização da segurança dos dados pessoais de saúde de milhões de brasileiros. Nos últimos meses, o Ministério da Saúde tem sido alvo de recorrentes ataques e vazamentos. O desafio da segurança é ainda mais urgente quanto aos dados da Rede Nacional de Dados e Saúde (RNDS), que centraliza dados sensíveis de toda a população brasileira, incluindo usuários de serviços privados. A gestão desses dados demanda alta responsabilidade e protocolos efetivos para que os direitos dos titulares dos dados sejam preservados, em cumprimento à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), e que vulnerabilidades como essas não voltem a afetar os cidadãos brasileiros.
As organizações que compõem o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, coalizão dedicada à defesa da Lei de Acesso à Informação e da transparência pública, e organizações parceiras exigem que o Ministério da Saúde esclareça de forma detalhada quais foram os impactos do ataque digital e quais são as providências para evitar que se repita, e acelere as providências para restabelecer os sistemas de coleta, consolidação e divulgação de dados sobre a saúde pública brasileira.”
Assinam: Transparência Brasil, Fiquem Sabendo, ARTIGO 19 Brasil e América do Sul, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e Open Knowledge Brasil.
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) fechou 2021 com resultado recorde em contratações para novos investimentos no Rio Grande do Sul.
Um total de R$ 1,428 bilhão foi aprovado em financiamentos para os mais diferentes setores da economia gaúcha.
O crescimento é de 24,5% na comparação com as contratações fechadas em 2020 quando o volume de crédito alcançou R$ 1,147 bilhão no RS.
A indústria gaúcha foi quem mais buscou financiamento em 2021, chegando a um total de R$ 391 milhões, um salto de R$ 103 milhões em relação ao ano anterior.
Produtores rurais e cooperativas receberam R$ 345,6 milhões em financiamentos, R$ 54 milhões acima do registrado em 2020.
“Atingimos resultados históricos no Estado e em toda a região Sul, o que reforça o nosso papel estratégico em apoiar setores com maior capacidade de inovação e geração de empregos”, destacou a diretora Leany Lemos.
Primeira mulher a presidir o banco em 60 anos de trajetória, Leany Lemos lançou, ainda em abril, o programa BRDE Empreendedoras do Sul, para apoiar empresas que tenham mulheres no comando (ou com no mínimo 40% de sócias).
O programa Empreendedoras oferece financiamento para investimentos fixos e capital de giro, ambos disponíveis no valor de até R$ 1 milhão, e fechou 2021 superando a marca de R$ 43 milhões em financiamentos autorizados apenas no Rio Grande do Sul.
Capital de giro
Além de crédito para investimentos para as quais o banco se valeu de diferentes fundings, os contratos incluem linhas de capital de giro, que ganharam espaço entre as operações por conta dos impactos da pandemia.
Do total das contratações de 2021, mais de R$ 375 milhões foram para médias, micro e pequenas empresas que atuam no RS.
Considerando toda a região Sul, o volume de contratações autorizadas é igualmente histórico em 2021: R$ 4,1 bilhões, dos quais mais de R$ 1 bilhão corresponde a operações de crédito de 2021 nos Estados onde o banco atua.
As infecções no mundo pelo coronavírus aumentaram na semana passada 70%, índice inédito, e as mortes baixaram 10%, mostra boletim epidemiológico semanal da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre 27 de dezembro e 2 de janeiro houve no mundo 9,5 milhões de contágios confirmados, número que quase duplica os recordes semanais anteriores, e 41 mil mortes. É a quarta semana consecutiva de diminuição de óbitos.
A Europa, que voltou a ser o epicentro da pandemia de covid-19 devido à variante Ômicron do SARS-CoV-2, mais transmissível, concentrou mais da metade dos casos (5,3 milhões) e mortes (22 mil) mundiais.
Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, “o maior número de casos notificados até agora ocorreu na semana passada” e, ainda assim, pode estar subestimado.
O aumento de novos casos foi da ordem de 100% na América e de 65% na Europa. As mortes por covid-19 baixaram 18% e 6% nas duas regiões, respectivamente.
Se for mantido o ritmo de contágios na Europa, que totaliza 103 milhões de infecções desde o início da pandemia, em 2020, o continente superará a América (104 milhões) em número de casos confirmados.
De acordo com a OMS, as mortes diminuíram na semana passada 7% no sul da Ásia, mas os novos contágios aumentaram 78%.
Na África, onde foi detectada inicialmente a variante Ômicron, as infecções subiram apenas 7%, o menor percentual, mas as mortes cresceram 22%.
Nesse continente, a maioria da população continua sem se vacinar – as vacinas contra covid-19 em circulação previnem a doença grave e a morte, mas não evitam a infecção e transmissão do vírus.
O boletim da OMS mostra ainda que foram administradas mais de 9,3 mil milhões de doses de vacinas contra covid-19, que permitiram imunizar 59% da população mundial com pelo menos uma dose. Nos países mais pobres, a maioria na África, esse índice baixa para 8,8%.
O relatório semanal não registra dados sobre a presença das diferentes variantes do coronavírus nas novas infecções, mas em vários países, a Ômicron já é dominante.
A covid-19 provocou mais de 5,4 milhões de mortes em todo o mundo desde o início da pandemia.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 19,05 mil pessoas e foram contabilizados 1, 53 milhão de casos de infecção, de acordo com dados atualizados da Direção-Geral de Saúde.
A covid-19 é uma doença respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detectado há dois anos em Wuhan, cidade do centro da China, e que se disseminou rapidamente pelo mundo.
Atualmente, segundo a classificação da OMS, existem cinco variantes de preocupação do SARS-CoV-2, sendo que a Ômicron, mais recente, é a mais contagiosa.
Apesar de sua elevada capacidade de transmissão, essa variante é menos maligna quando comparada com a antecessora Delta. Na maioria dos casos, tem se revelado assintomática ou provocado sintomas ligeiros.
O diretor-geral da OMS alertou para o risco de se desvalorizar a Ômicron, afirmando que embora a variante se mostre menos grave, especialmente entre as pessoas vacinadas, “isso não significa que possa ser classificada como ligeira”. (AB)
Fim do auxílio emergencial, perda de renda e endividamento.
Esses os três principais motivos apontados para a terceira maior retirada líquida da história da Caderneta de Poupança no país em 2021.
No ano, os investidores sacaram R$ 35,5 bilhões a mais do que depositaram, segundo informou o Banco Central, nesta quinta, 6.
A retirada líquida – diferença entre saques e depósitos – só não foi maior que a registrada em 2015 (R$ 53,57 bilhões) e em 2016 (R$ 40,7 bilhões), em rzão da forte crise econômica.
Em 2020, a caderneta registrou captação líquida – diferença entre depósitos e retiradas – recorde de R$ 166,31 bilhões.
Naquele ano, o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, depositado em contas digitais, inflou o saldo da poupança.
A instabilidade no mercado financeiro no início da pandemia de covid-19 também aumentou temporariamente as aplicações na caderneta.
Apesar do resultado negativo de 2021, no mês de dezembro, os depósitos superaram em R$ 7,66 bilhões as retiradas, em função do 13º salário.
O valor, no entanto, é muito menor do menor que a captação líquida de dezembro de 2020, quando os depósitos chegaram a R$ 20,6 bilhões.
A aplicação começou 2021 no vermelho. De janeiro a março, os brasileiros retiraram R$ 27,54 bilhões a mais do que depositaram, influenciado pelo fim do auxílio emergencial.
Com o pagamento da segunda rodada do benefício, a situação mudou. Os depósitos superaram os saques de abril a julho.
A partir de agosto, a caderneta voltou a registrar mais retiradas que depósitos. Mesmo com a continuidade do pagamento do auxílio emergencial até outubro, os brasileiros continuaram a sacar.
O rendimento abaixo da inflação acarretou a migração para outras aplicações. Ao mesmo tempo, a alta do endividamento das famílias levou a saques para compensar despesas urgentes.
Rendimento
Até o início de dezembro, a poupança rendia 70% da Taxa Selic (juros básicos da economia). No mês passado, a aplicação passou a render o equivalente à taxa referencial (TR) mais 6,17% ao ano, porque a Selic voltou a ficar acima de 8,5% ao ano.
Atualmente, os juros básicos estão em 9,25% ao ano.
O aumento dos juros, no entanto, foi insuficiente para fazer a poupança render mais que a inflação.
Em 2021, a aplicação rendeu 2,99%, segundo o Banco Central. No mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor-15 (IPCA-15), que funciona como prévia da inflação oficial, atingiu 10,42%.
O IPCA cheio de 2020 será divulgado na próxima terça-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O ultimato do sargento alemão para a suspensão da obrigatoriedade da vacina às vésperas do Ano Novo parece ter assustado o gabinete do chanceler, Olaf Scholz. O militar foi preso em Munique, antes do prazo dado por ele mesmo ao governo, 31/12/2021. Mas por pouco tempo. Horas depois, foi liberado para passar a virada do ano com a família em casa.
Segundo a Procuradoria Geral alemã (Generalstaatsanwaltschaft), não há “motivos concretos” para manter o sargento Oberauer preso, visto que suas ameaças não propunham ações concretas. Além de exigir a suspensão da obrigatoriedade da vacina para os integrantes da tropa, Oberauer convocou os colegas de todas as armas e polícias a insubordinarem-se contra as ordens dos políticos para repressão dos protestos contra as medidas de combate da pandemia.
Sabe-se que o sargento faz parte de uma rede dentro da corporação. No vídeo do ultimato, ele cita o nome de um coronel. Nada relacionado a isso foi apurado e divulgado até o momento. O assunto simplesmente desapareceu do noticiário da robusta rede pública de comunicação alemã. Apenas a revista Der Spiegel divulgou uma nota informando que o Ministério da Defesa já acionou o serviço secreto (BundesNachrichtenDienst – BND) para apurar os bastidores do caso.
Jogo de Cena
A nova ministra do Interior, Nancy Faeser (SPD), aberta ao diálogo. (Jörg Carstensen / dpa)
No palco da política de governo a reação foi sutil, porém indelével. “O Estado não pode ser desafiado em sua autoridade. Continuamos abertos ao diálogo com todos os setores da sociedade”, declarou a advogada Nancy Faeser (SPD), nova ministra do Interior. Ao mesmo tempo, o tema da vacinação obrigatória simplesmente sumiu da boca dos políticos e do noticiário das redes públicas.
Já o Sindicato da Polícia Militar na Saxônia, estado que concentra os maiores protestos, apelou ao governo para suspender a medida que proíbe demonstrações populares incondicionalmente. “É factualmente impossível controlar todos os grupos de pessoas que fazem os protestos na forma de passeios coletivos”, informou o órgão em nota à imprensa no dia 05.01.2022.
Campanha de coleta
Na Alemanha não é novidade que as forças armadas sejam um contexto à parte do discurso político oficial. Há décadas são denunciados casos de envolvimento de militares em todas as armas, fardas e patentes, com redes de comunicação de grupos de extrema direita ou de redes com propostas subversivas.
Soldados da força especial da Alemanha, KSK, em treinamento de campo (dpa)
O caso mais emblemático ocorreu em 2019, quando um levantamento do Ministério da Defesa apontou o desaparecimento de milhares de cartuchos de munição pesada dos depósitos da KSK (Kommando Spezial Kräfte), o batalhão de operações especiais do exército. A reação do alto comando, ao ser cobrado pelo governo, deixou ainda mais claro quão vulnerável é o Estado frente às suas principais corporações militares. O Comandante da KSK, General Markus Kreitmayr, lançou uma campanha de coleta do material desaparecido, oferecendo anistia aos membros da corporação que devolvessem a munição retirada indevidamente do depósito”.
A inusitada campanha encerrou no primeiro trimestre do ano passado com sucesso. Curiosamente, foi devolvido mais material bélico, do que supostamente desaparecido. Além das balas de fuzil, foram devolvidas granadas de mão e morteiros, que em principio, não estavam faltando no arsenal. O ministério da Defesa ainda tenta esclarecer o caso.
O vídeo de um militar do Exército alemão na Bavária, lançado dia 29/12/2021 nas redes sociais, perturbou a festa de ano novo no país. Em pouco mais de um minuto, o homem em uniforme militar camuflado, identificado como sargento Oberauer, relata sua completa desolação frente à política do governo para o combate da pandemia. “Não posso mais me calar e fingir que não vejo o que está acontecendo”, desabafou o sub-oficial.
Ele se refere à dura repressão da polícia, especialmente a civil, chamada por ele de “mercenários”, aos protestos que ocorrem quase diariamente pelo país desde o fim de Novembro. Os “Passeadores” (Spazierengänger), que demonstram sua inconformidade frente à política da pandemia em passeios noturnos por inúmeras cidades do país.
O “Lockdown-light”, baixado em Novembro, assim como a agressiva campanha de vacinação, que promete ser obrigatória antes de março, são os principais motivos dos protestos. Para fazer valer a nova lei, inconstitucional, o governo usa, é claro, a polícia e a situação tem ficado cada vez mais violenta. Dezenas de policiais e centenas de manifestantes ficaram feridos nos protestos da Baviera e Saxônia na semana do Natal.
Um Aviso
“É chegada a hora de escolher de que lado estamos”, anuncia o Sargento no vídeo, citando inclusive um coronel e outros oficiais como parceiros na insubordinação. Com um ultimato, até as 16 hs. do dia de ano novo, Oberauer exige, entre outras coisas, a suspensão da obrigatoriedade da vacina entre os militares e outros grupos profissionais correlatos.
“Isso é um aviso. Já avisamos antes. Não repetiremos o aviso”, declarou o militar, convocando “todos os colegas, de todas as armas, e polícias” a defenderem a constituição e protegerem a população, em vez de atacá-la.
O Ministério da Defesa da Alemanha abriu inquérito para apurar o vídeo. Segundo a mídia chapa branca, até o fim do dia a polícia do exército já havia prendido, pelo menos, o “suposto sargento”. A ministra, Christine Lambrecht (SPD) foi ao Twitter comentar o assunto: “O Bundeswehr precisa de pessoas reflexivas e justas que estejam firmemente comprometidas com nossa Constituição. Aqueles que não compartilham isso, não têm lugar em nosso Bundeswehr!”.
Peter Altmeier (CDU), ainda ministro da Economia da Alemanha, fez sua última conferência de imprensa na quarta-feira (24/11). Em poucos dias assume a nova coalizão de governo e ele deixará o cargo que ocupou por quase quatro anos. “Há uma escassez de matérias-primas e componentes em nível mundial, por conta da quebra da logística de transporte causada pela pandemia, que agora vê o número de infecções aumentar novamente”, declarou ele em Berlim.
Ao anunciar a ajuda para pequenas e médias empresas, com queda de faturamento por conta das novas restrições já em vigor, Altmeier defendeu a necessidade de adequar a economia à situação.
Na Alemanha foi decretado o Lockdown light esta semana. Não vacinados estão proibidos de atividades sócio-culturais. Grandes eventos e mercados de Natal foram cancelados na maioria dos estados.
“Estamos trabalhando para facilitar o acesso à ajuda do governo para o Natal”, declarou ele no final da manha da quarta-feira. É a quarta rodada de recursos para fazer frente às medidas de redução de circulação de pessoas e controle da pandemia.
O apoio do governo para pequenas e médias empresas é de no máximo 12 milhões de Euros no ano. Profissionais autônomos e micro-empresas receberão valor igual ao do ano passado: De 7,5 mil a 30 mil Euros anual.
Os bancos privados da Alemanha esperam um aumento no número de insolvências por conta da crise provocada pelos Lockdowns de combate da pandemia. “Menos do que esperávamos, mas ainda preocupante”, declara Christian Ossig, CEO da Federação dos Bancos Alemães (https://bankenverband.de/ – BdB). Técnicos da entidade estimam 24 mil falências em 2021. “Não será uma explosão, mas um processo lento que se arrastará por vários meses”, afirma o executivo.
“Os bancos da Alemanha estão bem preparados. A amortização do capital foi significativamente elevada e o cálculo do risco aumentado desde o ano anterior”, revela Ossig. Segundo ele, a segurança financeira atual se deve a política monetária e de ajuda do ano anterior, que possibilitou que muitas empresas conseguissem financiar sua saída da crise provocada pelo corona vírus.
Uma das mais proeminentes é a Lufthansa. A gigante da aviação recebeu 9,3 bilhões de Euros em ajuda pela longa paralisação do tráfego aéreo. Como garantia entregou 25% do seu capital ao governo. Desde a retomada dos vôos, a empresa já conseguiu devolver cerca de 3,7 bilhões de Euros. Nesse período, iniciou um processo de reestruturação, visando desativar 100 aeronaves e dispensar 6 mil funcionários. (dpa)
A maior derrota do ocidente na era moderna. Assim é chamada a saída das tropas da OTAN do Afeganistão. Independente do ângulo a ser observado, ela representa um fracasso sem precedentes, e que irá reverberar pelo mundo todo por muito tempo.
Na perspectiva alemã, segunda maior presença militar depois dos Estados Unidos, a manobra teve nuances nítidas de uma fuga acovardada. Logo no primeiro atentado ao aeroporto em Cabul, os alemães fizeram as malas e vazaram para o Uzbequistão. Quatro dias antes do prazo final acordado com o Talibã, três aviões do Exército (Bundeswehr) pousaram na base militar de Wunstorf, próximo a Hannover. Neles, os últimos 440 soldados da missão germânica.
A ministra da defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, discursa, observada pelo General de Brigada Jens Arlt, com o dedo no gatilho / Daniel Reinhardt / DPA
A bordo, junto com a tropa, estava a ministra da defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer. Ela foi ao Uzbequistão para acompanhar o encerramento do resgate. No desembarque em solo alemão, fez um pronunciamento rápido, juntamente com o comandante da operação, o general de Brigada Jens Arlt. Ambos elogiaram a competência e a eficiência na “extremamente difícil e perigosa” evacuação. Nenhum mencionou falhas. Especialmente o fato de que foram deixados para trás mais de 300 alemães e outros milhares de antigos colaboradores nativos, agora sob o jugo talibã.
Com o dedo na trava do gatilho, o general de brigada, Jens Arlt, comandante do exército alemão, durante a evacuação do Afeganistão, faz o seu pronunciamento após o desembarque na Alemanha / Bundeswehr /DPA
Para dar um ar mais dramático ao evento, todos os soldados desceram dos aviões carregando suas armas e em trajes de combate. Até o general Arlt carregava pendurada uma G-36, fuzil de assalto exclusivo do exército alemão. Durante o discurso da ministra, ele por vezes mantinha o dedo na trava do gatilho da arma, como que pronto para responder a um ataque inimigo. “Na Alemanha!? Ele nunca nem pegou nessa arma no Afeganistão”, comentou, em tom de brincadeira, um colega da Agência de Imprensa do Governo durante a recepção. Outros presentes pareciam consternados com a encenação, que terminou com um abraço carinhoso de Annegret no general, e o fuzil pendurado entre eles.
Num ato inusitado, a ministra Karrenbauer abraça o general Arlt, após o discurso de desembarque na Alemanha. A metranca pendurada entre seus corpos /Bundeswehr /DPA
Apesar do teatro dirigido pelo marketing político, o desgaste causado pela desastrosa retirada é nítido. Tanto que políticos da própria União (CDU/CSU) se anteciparam às críticas. “Fomos sem dúvida desacreditados, mas é importante reconhecer os avanços conquistados e trabalhar para mantê-los através da diplomacia”, declarou Roderich Kiesenwetter (CDU), presidente do Comitê de Relações Exteriores da coalizão. “É uma série de lições amargas que devemos aprender desse episódio”, acrescentou ele, lembrando da infraestrutura construída pela OTAN e agora prestes a ser concedida a empresas chinesas.
Faltando menos de um mês para a eleição geral do parlamento, a catástrofe geopolítica no Afeganistão é só uma pá de cal nas pretensões de Angela Merkel de fazer o seu sucessor (a). Uma gota de água, em um oceano de erros no cálculo político. Um processo de desgaste que vem ocorrendo desde o início da pandemia.
Movimento esquisito
O fato que atesta internamente a profundidade e abrangência da crise, aconteceu durante os protestos contra o governo no início de agosto. Quando a saída do Afeganistão ainda não trazia nenhum sentimento de vergonha. Como uma rotina dos finais de semana, milhares de pessoas foram às ruas das principais cidades do país. Convocadas pelo chamado “Movimento dos Pensadores Queer, ou Esquisitos” (Querdenken Bewegung), elas demostravam sua inconformidade com as medidas de contenção da pandemia em vigor há 15 meses, mantendo suspensos direitos individuais fundamentais garantidos pela constituição.
Para mostrar força política e moral, o governo federal, em parceria com a prefeitura, havia proibido os protestos convocados para o domingo (01/08) na capital, Berlim. Alegando desrespeito às “normas de segurança sanitária”, as autoridades tentavam barrar o crescimento do movimento. Além do muro político-midiático que o cerca, desta vez foram convocados mais de três mil policiais para debelar qualquer tentativa de ajuntamento.
Apesar da proibição e da intimidação policial, dezenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas dos principais bairros da antiga parte capitalista de Berlim. Reportagem do grupo Die Welt no Youtube mostra o fiasco do aparato autoritário preparado para reprimir os protestos. Em uma das cenas, policiais empurram duas senhoras de mais de 60 anos que tentavam passar de uma rua para a outra, acompanhando outras pessoas na marcha.
A polícia passou vergonha tentando impedir aglomerações nos protestos do início de agosto. Por vezes empurrando, carregando ou prendendo até pessoas idosas /Clemens Bilan / DPA
Corrupção legalizada
A discussão que se seguiu às cenas de violência policial, mais a sua nítida inutilidade para conter uma massa de pessoas pelas ruas, conotam uma nova qualidade do ambiente político na maior economia da Europa. Já não são radicais de direita ou de esquerda, confrontando um governo eleito democraticamente. O que se vê hoje nas ruas são pessoas simples, eleitores dos partidos da coalizão do governo no parlamento e que estão fartas das contradições e conflitos de interesse que marcam a política para a pandemia desde o seu início.
Os exemplos só se acumulam. O ministro da saúde, Jens Spahn (CDU), comprou durante a primeira onda da pandemia três imóveis milionários em Berlim. Entre eles, a mansão em que mora junto com seu marido, avaliada em três milhões de euros. Como um bom financista, Spahn pagou os imóveis com empréstimos generosamente concedidos pela Sparkasse, a Caixa Econômica Federal dos alemães, onde havia trabalhado anos antes como membro do “Board” da administração. Em resposta, o ministro processou os autores da denúncia, obtendo liminar da justiça sob alegação de “uso político de um assunto privado”. Afinal, toda a transação foi legal.
No início da segunda onda, Merkel e Spahn tentaram impor a obrigatoriedade de um só tipo de máscaras, as chamadas FFP2. Tecnicamente eram “as mais seguras”. A medida chegou a ser implementada, gerando uma demanda imensa para as empresas que produzem tal insumo. Em seguida apareceram os primeiros casos de lobby dentro do parlamento. De cara, dois deputados da União Democrata-Cristã (CDU) foram denunciados por receberem comissão pela venda de máscaras para o governo. Uma bagatela de 200 e 600 mil euros para cada um deles.
Opinião cristalizada
Novamente, tudo conforme a lei, já que o trabalho de lobby é legalizado no país. O erro dos parlamentares foi não ter feito a declaração de ganho extra, que é obrigatória. Como resultado acabaram “licenciados” de seus cargos. O caso apenas relembrou aos alemães que muitos parlamentares trabalham como lobistas de interesses corporativos dentro do parlamento. E quase nunca declaram seus ganhos paralelos.
“Uso de máscaras ao ar livre é um absurdo”, defende Klaus Reinhardt, presidente do Conselho Federal de Medicina da Alemanha /Wolfgang Kumm / DPA
No final, a obrigatoriedade de um tipo específico de máscara foi contestada por médicos e especialistas. Sem esquecer que, até hoje, os alemães não sabem se qualquer tipo de máscara protege efetivamente. “Não existe evidência científica de que o uso de máscaras proteja quem usa, ou quem está em volta. Um vírus como o corona não é freado assim. O uso de máscara em lugares abertos é um absurdo”, atestou o presidente do Conselho Federal de Medicina da Alemanha (Bundesartztkammer), Klaus Reinhardt, em entrevista no dia 21 de Outubro de 2020.
O mais interessante é que uma questão assim não consegue ser debatida em um país altamente desenvolvido. “Da perspectiva científica trata-se de um carnaval de opiniões, onde ninguém sabe quem é quem”, brinca o filósofo e apresentador Richard David Precht. O que desespera é não parecer haver mais espaço para discussões sobre as controvérsias. Cada um dos lados cristalizou em sua própria posição, e não há sinais de que tal inércia possa agora ser revertida.