O jornalista Matheus Chaparini viveu sete anos sob a ameaça de um processo que poderia condená-lo a três anos de prisão.
Ele estava dentro do prédio da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, em julho de 2016, quando a polícia militar entrou no prédio para desalojar estudantes que haviam tomado o local em protesto. Quarenta e duas pessoas, na maioria menores de idade, foram presas.
Mesmo identificando-se como repórter do jornal JÁ, Chaparini foi arrolado como invasor do prédio público, autuado e levado ao Presídio Central onde enfrentou ameaças e constrangimentos.
Foi liberado de madrugada e passou a responder a processo por “delito de dano qualificado”, com pena de até três anos de prisão e “delito de resistência”, sujeito a pena de seis meses, porque resistiu a entrar no camburão, alegando que estava trabalhando e não quis entregar o celular no qual havia registrado a violência dos policiais ao invadir o prédio.
A reportagem e os onze minutos de vídeo relatando a tomada do prédio pela polícia lhe renderam o prêmio da Associação Riograndense de Imprensa naquele ano. Mas o processo continuou.
Só neste 28 de abril de 2023, um dia antes de prescrever, o processo foi declarado extinto pela juíza Eda Salete Zanatta de Miranda, da 9a. Vara Criminal de Porto Alegre.
“Estou aliviado, claro, porque estava ameaçado por uma situação absurda, que se arrastava há sete anos, mas não pretendo deixar pra lá. Tenho elementos para provar que estava lá como profissional, não fiz nada além do meu trabalho e vou buscar justiça”, diz o jornalista.
Uma denúncia anônima levou a Policia Militar do Distrito Federal a encontrar cerca de 40 kg de explosivos em área de mata, nos arredores da capital, na noite de domingo (25).
Segundo a PM, além dos artefatos, 13 coletes à prova de balas e cinco capas de coletes foram localizados durante a operação e vão passar por perícia.
Por volta das 23h, o esquadrão anti-bombas conseguiu neutralizar os explosivos e fez uma detonação controlada do material.
O material foi encontrado um dia após a prisão do bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, que confessou ter montado uma bomba instalada em um caminhão perto do Aeroporto de Brasília. O explosivo chegou a ser acionado, mas não explodiu.
Até agora, a polícia não conseguiu estabelecer uma relação direta entre os dois casos. O bolsonarista foi autuado por terrorismo e a Justiça determinou a prisão dele por tempo indeterminado.
Também na noite de domingo, um grupo de dez manifestantes foi preso pela Polícia Militar do Distrito Federal (PCDF), ao ser flagrado com estilingues, bolas de gude e rádios transmissores. Os suspeitos disseram à polícia que iriam participar de um protesto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a PM, são moradores de São Paulo e do Pará, que foram a Brasília participar dos protestos em frente ao Quartel-General do Exército.
O grupo soube, por meio de uma live nas redes sociais, que indígenas invadiram a área do STF para pedir a soltura do cacique José Acácio Tsere Xavante, preso por atos antidemocráticos. Decidiram se juntar ao grupo. Com eles, a polícia encontrou estilingues, rádios transmissores e bolas de gude. No carro de um deles, foi apreendida uma faca. Todos foram conduzidos à 5ª Delegacia de Polícia (área central) e assinaram um termo circunstanciado de ocorrência por porte de arma branca.
“Redenção sem concessão” foi o grito de guerra dos manifestantes que se mobilizam para barrar o projeto do prefeito Sebastião Melo de conceder o parque mais querido da cidade a uma empresa privada,
Bloco da Laje, com seus tambores e seus sopros, fez o esquenta enquanto o público ia se reunindo no entorno do monumento ao Expedicionário, na área central do parque. O sol forte (quase 35 graus) no inicio da tarde de domingo não impediu uma pequena multidão de abraçar o parque em protesto
A manifestação foi organizada pelo coletivo Preserva Redenção, que reune 40 entidades da sociedade civil e já colhei quase mais de 25 mil assinaturas contra o projeto do prefeito. (continua)
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto escolheu o Shopping Iuatemi, um dos mais luxuosos de São Paulo, na avenida Faria Lima, para protestar contra a fome, nesta quarta-feira, 8.
O protesto chama atenção para uma pesquisa divulgada há um dia mostrando que 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil. É quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020.
Os manifestantes levaram bandeiras do Brasil com os dizeres “fome”, e também carregavam pedaços de ossos, em referência às carcaças buscadas por pessoas em situação de fome. Durante o ato, o grupo ocupou a praça de alimentação do estabelecimento.
Em nota, o Iguatemi informou que “a segurança de todos é prioridade e respeita manifestações democráticas e pacíficas”.
A visita de Lula ao Rio Grande do Sul nesta quarta/quinta-feira, foi um sucesso e um fracasso.
Sucesso como exercício de mobilização da militância e alinhamento das pautas para a campanha que se avizinha. Impressionante a afluência em todos os eventos.
Fracasso na tentativa de unificar uma frente que lhe garanta um palanque amplo no Estado que é hoje um dos maiores redutos do bolsonarismo no país.
O PSB, em franca negociação com o PDT de Ciro Gomes, sequer apareceu.
No PSol, Pedro Ruas já se comporta como vice de Edegar Pretto, mas acúpula do partido insiste na candidatura própria.
Manuela Dávila, representante do PCdoB na chapa, desistiu de concorrer ao senado.
Lula fez um apelo pela unidade das forças de esquerda, e pela candidatura de Edegar Pretto, o pré-candidato do PT.
Suas menções ao pré-candidato não tiveram, porém, aquela firme veemência que exclui a possibilidade de mudança.
A candidatura de Edegar Pretto era o fato mais consistente desta pré-campanha nas hostes lulistas. Agora até isso parece sujeito à discussão.
No PT especula-se sobre o gesto de Manoela Dávila. Sua candidatura ao senado fazia parte do acordo PT/PCdoB, mas ela anunciou inesperadamente que não será candidata. Alegou razões pessoais, mas mencionou também o fracasso na tentativa de chegar à unidade da frente de esquerda contra o bolsonarismo.
Uma hipótese considerada nas hostes petista é de que o gesto de Manoela foi um movimento tático. Ela não resistiria se fosse indicada para a cabeça da chapa, com Pretto de vice ou a senador. Ela poderia também ser a vice, por que não?.
Em síntese: o palanque de Lula no Rio Grande do Sul ainda está cercado de incertezas.
Relato do repórter Flávio Ilha, para o Valor Econômico:
Lula desembarcou por volta de 10h45 em Porto Alegre cercado de um forte esquema de segurança, diante das ameaças que o pré-candidato tem recebido. O hotel onde a comitiva está hospedada só foi revelado na noite da terça-feira. A imprensa também não recebeu orientações sobre o horário da chegada e nem sobre a agenda em Porto Alegre.
A segurança de Lula informou que a preocupação era com eventuais protestos violentos em frente ao hotel, que foram convocados por WhatsApp. Porém, não houve registro de manifestantes.
No sábado, o PT realizou um evento em Porto Alegre para confirmar a pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto ao governo. O ato reuniu mais de mil pessoas e foi considerado uma demonstração de força do partido, que já governou o Rio Grande do Sul em duas ocasiões. O ato, entretanto, desagradou o PSB, que viu na confirmação um gesto de “arrogância do partido”.
“Lançaram até jingle da candidatura. Isso significa que encerraram a conversa”, disse o ex-deputado Beto Albuquerque, pré-candidato socialista ao governo do Estado. Beto tem sido pressionado a desistir da candidatura para ocupar a vaga ao Senado, aberta com a desistência da ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB), mas já afirmou que a hipótese é improvável.
Na chegada ao hotel Plaza São Rafael, no Centro de Porto Alegre, o pré-candidato a vice, ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), disse estar “otimista” com a possibilidade de um palanque único no Rio Grande do Sul. “A coisa está andando. Devagar, mas andando”, afirmou antes do encontro. No fim do encontro, Alckmin evitou se manifestar.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hofmann, está em Porto Alegre desde a terça-feira, realizando reuniões com aliados para aparar as resistências a um palanque unificado de Lula. O pré-candidato do PT, Edegar Pretto, considerou sua candidatura “muito consolidada”, mas reafirmou que gostaria de ter apoio de outras legendas de esquerda. “Reconheço a legitimidade de outras candidaturas, mas não podemos ignorar a relevância eleitoral do PT”, justificou.
Lula desceu do apartamento para o local da reunião por volta do meio-dia. No saguão, parou para tirar fotos com apoiadores, mas não deu declarações à imprensa. Acompanhado de Alckmin, recebeu também uma comitiva de reitores e representantes de universidades do Estado. Eles entregaram a Lula uma carta em que pedem a recomposição do orçamento federal da educação, limitada pelo teto de gastos, a ampliação do FIES e ampliação do financiamento à concessão de bolsas de estudo, entre outras medidas.
Logo depois, participaria de um ato público em defesa da soberania nacional, em uma arena de espetáculos na zona norte de Porto Alegre, com capacidade para 5 mil pessoas.
Foi marcada por manifestações de protesto e muitas vaias a apresentação do projeto para revitalizar o Cais Mauá, o sítio mais icônico de Porto Alegre, onde nasceu a cidade,
“Os moradores não foram ouvidos”, foi o bordão repetido por quase todos que se manifestaram. Foi citada a carta aberta de 62 entidades protocolada no gabinete do governador pedindo uma audiência no ano passado.
“O governo não respondeu e não mandou representante na audiência realizada na Assembléia Legislativa”, acrescentou a deputada Sofia Cavedon, da Frente Parlamentar em Defesa do Cais Mauá.
O projeto foi apresentado em audiência pública promovida pelo governo do Estado, nesta quinta-feira, 28, no auditório do Centro Administrativo.
Um consórcio de oito empresas, contratado pelo BNDES, trabalhou dez meses na formatação da proposta (o Master Plan) apresentada na audiência. Com algumas alterações e maior detalhamento, é o mesmo projeto apresentado no Palácio Piratini, em novembro do ano passsado.
A exposição em power point foi feita por João Lauro de Matos, representante da empresa líder do consórcio Revitaliza, a Patrinvest, cuja especialidade é “transformar investimentos imobiliários em alternativas viáveis de inquestionável rentabilidade e segurança”.
Ele disse que o modelo concebido para sustentar a revitalização do antigo porto, que tem bens tombados pelo patrimônio público, é uma “PPP com contraprestação imobiliária”.
Significa que parte da área, de 180 mil metros quadrados, será concedida para exploração comercial e parte será vendida para incorporações imobiliária.
A área dos armazéns e os prédios públicos será concessão por 30 anos. Os terrenos das docas, que correspondem a 65 mil metros quadrados, um terço do total, serão vendidos para a construção de prédios residenciais e comerciais: hotél, salas comerciais e 900 apartamentos, para estimados 2.700 moradores.
O show de Rita Maria no Baile da Cidade, na noite de sábado, 26, na comemoração dos 250 anos de Porto Alegre, foi além de um grande espetáculo musical.
Na parte final do show, de sambas que empolgaram e botaram o público para dançar, entrou o fator político, característico de Porto Alegre.
Pegando a deixa num improviso da cantora, que terminava em não, o público embalou no ritmo de samba o “Ele Não”, o refrão da campanha das mulheres contra Jair Bolsonaro. Ritmado com palmas o refrão ecoou pelo entorno do parque
A cantora estimulou, estendendo o improviso, a banda gostou e foram minutos de gente dançando, levantando os braços ao embalo do “Ele não”.
Quando, a música terminou, o público, aos poucos começou a pedir: “Fora Bolsonaro, Fora Bolsonaro” .
A cantora e a banda, apenas assistiam…. “Olhaí, esse povo maravilhoso”, disse ela e depois, quando cessou o refrão. “Que orgulho desta cidade”, e fez um comentário sobre o tom político que o show estava adquirindo. “Nunca pensei nisso”, disse a cantora.
Ela voltou com músicas que Gonzaguinha fez ao tempo da ditadura, mas encerrou com um clássico , não de Elis, mas de Beth Carvalho: “Chora, não vou deixar, chegou a hora, vou festejar”.
Num momento de ascensão, Maria Rita se vê defrontada com o dilema político que assombrou sua mãe, Elis Regina, que depois de sofrer na carne as pressões da ditadura, se posicionou firmemente contra ela.
Maria Rita foi provocada pelo público em Porto Alegre a posicionar-se politicamente. Por enquanto evitou comprometer-se, embora tenha dado espaço para os protestos.
É duvidoso que o aumento das taxas de juros arbitrada na quarta, 16, pelo Banco Central, seja suficiente para controlar a inflação em 2022.
A dúvida está explicitada no comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária), que aumentou em 1 p.p. a Taxa Selic.
A taxa, que passou de 10,75% para 11,75%, é a maior desde de abril de 2017, quando chegou a 12,25% – recorde que logo será superado, pois o Copom vai subir ainda mais a Selic.
O certo, no entanto, é que a economia, quase estagnada, terá uma queda acentuada, com perda de renda para os trabalhadores e aumento do desemprego.
O Banco Central anunciou um aumento de 1 p.p. de imediato na Taxa Selic e outro de mais 1 p.p. na próxima reunião em maio. O objetivo é tentar sinalizar ao mercado seu esforço de controlar os preços e buscar suavizar os impactos sobre a atividade econômica.
A taxa de juros anual a partir desta quinta, 17, passa para 11,75% e, em maio, será de 12,75%, ou seja, 0,5 p.p. acima do que havia sinalizado ao mercado, que deverá ser mantida neste patamar durante 2022.
Só em 2023 é que os juros deverão cair gradualmente para 8,75%.
Quando a eleição chegar…
Os impactos destes dois aumentos de juros sobre a economia serão mais fortes nos meses das eleições presidenciais, no segundo semestre deste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro tentará novo mandato presidencial para permanecer mais quatro anos.
A queda dos preços, o controle da inflação e a retomada do crescimento são bandeiras que seriam usadas pelo ministro da economia, Paulo Guedes, em busca de votos para seu chefe, Jair Bolsonaro.
As pesquisas eleitorais indicam que, para 43% dos eleitores, o comportamento da economia é decisivo na escolha do candidato. O tempo hoje corre contra o governo Bolsonaro.
Faltando apenas sete meses para as eleições, os efeitos monetários conseguiriam trazer os preços para baixo? A economia poderia voltar a crescer, gerando renda e empregos?
A eficácia tão necessária deste remédio amargo dos juros foi sendo minada ao longo dos últimos anos pela visão equivocada do próprio governo ao não levar a sério a questão fiscal, sem falar da instabilidade política que afugentou investidores e provocou desvalorização do real.
Hoje, faz falta ao BC um maior controle do gasto público e um câmbio equilibrado, responsabilidades do Executivo Federal. Se o comportamento destas duas âncoras fossem favoráveis, os efeitos saneadores dos aumentos das taxas de juros seriam mais rápidos para ajustar a economia.
E o FED jogando contra
O aumento da taxas de juros nos Estados Unidos anunciada na terça, 15, pelo Fed (Federal Reserve), o Banco Central dos EUA, de 0,25% para 0,50%, e com sinais de que lá os juros pedem chegar a 2,0% com os próximos aumentos, terá impacto sobre o fluxo de recursos ao Brasil.
Ao contrário de nosso País, os Estados Unidos estão com inflação de 7,5% devido a um forte crescimento da sua economia, refletindo aumento do consumo.
O Fed pretende retirar dólares da sua economia com emissão de títulos públicos. Os dois movimentos devem contribuir para valorização do dólar norte-americana diante de outras moedas, como o real. Isto deverá afetar os investimentos no Brasil, apesar das nossas taxas de juros nas alturas serem muito atrativas. Importante lembrar que com estes nossos juros na alturas o custo da rolagem da nossa dívida pública pelo Tesouro Nacional aumenta, assim como o estoque da dívida. O quadro agrava-se diante de um cenário fiscal deteriorado.
O que diz o BC
Veja a seguir os argumento do comunicado emitido pelo Copom no começo da noite desta quarta, 16:
A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente;
No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,05*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% em 2022 e reduz-se para 8,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,5% para 2022 e 5,9% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023; e
Diante da volatilidade recente e do impacto sobre as projeções de inflação de sua hipótese usual para o preço do petróleo em USD**, o Comitê decidiu adotar também, neste momento, um cenário alternativo. Nesse cenário, considerado de maior probabilidade, adota-se a premissa na qual o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar dois por cento ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo dos seus cenários.
Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.
Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mas considera que esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados em seus modelos. O Comitê segue considerando uma assimetria altista no balanço de riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 11,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e, principalmente, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.
A atuação do Comitê visa combater os impactos secundários do atual choque de oferta em diversas commodities, que se manifestam de maneira defasada na inflação. As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante. O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Zilá Rocha Ramos, 68 anos, pensionista, estava nervosa, tremendo. Voltou para pegar um panfleto que denuncia supostas mortes de crianças por conta das vacinas. Estava com a filha, bióloga.
A filha ficou irritada com o conteúdo do panfleto, repreendeu a mãe e rasgou o material.
Eram umas dez pessoas no largo em frente à Prefeitura de Porto Alegre. Segundo funcionários, é a sexta semana consecutiva que promovem protesto contra o uso de vacina no combate à pandemia de covid.
Um homem discursava, outro gravava a cena com o celular, duas mulheres estendiam uma faixa, outra senhora com dois cartazes e os demais distribuíam panfletos às pessoas que passavam.
André Oliveira, de 56 anos, aposentado, era um dos que distribuíam panfletos. Ao entregar os papéis ele dizia que “antes da vacinação nenhuma criança havia morrido de covid”, o que não é verdade.
Johny, 57 anos, é securitário e não quis dar o sobrenome. Exaltou-se ao receber o panfleto: “Eu fico assim ó (mostra o punho cerrado junto do peito)… É inacreditável isso em 2022”.
Lisandra Fraga, 45, gestora ambiental, moradora da zona sul, era uma das integrantes do protesto em frente ao Paço Municipal: “A Pfizer mudou a bula 24 vezes em doze meses,” dizia. “Vários países estão tornando endemia: Barcelona(Espanha), Alemanha, Suíça, Ucrânia, que está inclusive em guerra civil…”
Charles da Luz, 45 anos, comerciante, era quem fazia os discursos ao microfone em uma caixa de som: “Não somos contra nem a favor das vacinas. Queremos é a transparência das informações sobre essas vacinas. Tem de estar em todos os postos de saúde.”
“Infarto, trombose, miocardite. Queremos investigação desses efeitos colaterais.”, completou outra integrante que ouvia a conversa.
Por que o material é apócrifo? “Nossos panfletos serão diferentes. Nosso grupo FT Liberdade assinará os panfletos”, disse Charles da Luz.
Perguntado sobre qual vacina é experimental, André não soube dizer qual. Outra mulher o acudiu: “Todas. Todas são experimentais”.
O que é terapia genética? “Antivacina de RNA. E qualquer outra vacina que esteja em fase experimental. O certo mesmo é Terapia Gênica.”
Viaturas da Guarda Municipal e da Brigada Militar acompanhavam a movimentação, aparentemente sem dar atenção ao conteúdo, sem tomar qualquer conhecimento.
| Foto: Ramiro Furquim/@outroangulofoto
Em Novo Hamburgo e São Leopoldo, em manifestações semelhantes, a Guarda Municipal recolheu carros e materiais apócrifos, a partir de denúncias da população. A Prefeitura de NH apresentou queixa-crime ao MP com base no artigo 268, do Código Penal: Infração de Medida Sanitária Preventiva.
Procurada, a Prefeitura de Porto Alegre respondeu: “A Guarda Municipal informa que monitorou a ação e, assim como em demais protestos em frente à prefeitura ou em demais pontos da cidade, respeita a livre manifestação.”
O ultimato do sargento alemão para a suspensão da obrigatoriedade da vacina às vésperas do Ano Novo parece ter assustado o gabinete do chanceler, Olaf Scholz. O militar foi preso em Munique, antes do prazo dado por ele mesmo ao governo, 31/12/2021. Mas por pouco tempo. Horas depois, foi liberado para passar a virada do ano com a família em casa.
Segundo a Procuradoria Geral alemã (Generalstaatsanwaltschaft), não há “motivos concretos” para manter o sargento Oberauer preso, visto que suas ameaças não propunham ações concretas. Além de exigir a suspensão da obrigatoriedade da vacina para os integrantes da tropa, Oberauer convocou os colegas de todas as armas e polícias a insubordinarem-se contra as ordens dos políticos para repressão dos protestos contra as medidas de combate da pandemia.
Sabe-se que o sargento faz parte de uma rede dentro da corporação. No vídeo do ultimato, ele cita o nome de um coronel. Nada relacionado a isso foi apurado e divulgado até o momento. O assunto simplesmente desapareceu do noticiário da robusta rede pública de comunicação alemã. Apenas a revista Der Spiegel divulgou uma nota informando que o Ministério da Defesa já acionou o serviço secreto (BundesNachrichtenDienst – BND) para apurar os bastidores do caso.
Jogo de Cena
No palco da política de governo a reação foi sutil, porém indelével. “O Estado não pode ser desafiado em sua autoridade. Continuamos abertos ao diálogo com todos os setores da sociedade”, declarou a advogada Nancy Faeser (SPD), nova ministra do Interior. Ao mesmo tempo, o tema da vacinação obrigatória simplesmente sumiu da boca dos políticos e do noticiário das redes públicas.
Já o Sindicato da Polícia Militar na Saxônia, estado que concentra os maiores protestos, apelou ao governo para suspender a medida que proíbe demonstrações populares incondicionalmente. “É factualmente impossível controlar todos os grupos de pessoas que fazem os protestos na forma de passeios coletivos”, informou o órgão em nota à imprensa no dia 05.01.2022.
Campanha de coleta
Na Alemanha não é novidade que as forças armadas sejam um contexto à parte do discurso político oficial. Há décadas são denunciados casos de envolvimento de militares em todas as armas, fardas e patentes, com redes de comunicação de grupos de extrema direita ou de redes com propostas subversivas.
O caso mais emblemático ocorreu em 2019, quando um levantamento do Ministério da Defesa apontou o desaparecimento de milhares de cartuchos de munição pesada dos depósitos da KSK (Kommando Spezial Kräfte), o batalhão de operações especiais do exército. A reação do alto comando, ao ser cobrado pelo governo, deixou ainda mais claro quão vulnerável é o Estado frente às suas principais corporações militares. O Comandante da KSK, General Markus Kreitmayr, lançou uma campanha de coleta do material desaparecido, oferecendo anistia aos membros da corporação que devolvessem a munição retirada indevidamente do depósito”.
A inusitada campanha encerrou no primeiro trimestre do ano passado com sucesso. Curiosamente, foi devolvido mais material bélico, do que supostamente desaparecido. Além das balas de fuzil, foram devolvidas granadas de mão e morteiros, que em principio, não estavam faltando no arsenal. O ministério da Defesa ainda tenta esclarecer o caso.