Japão planeja construir 22 usinas a carvão

Do New York Times
É uma conseqüência não intencional do desastre nuclear de Fukushima há quase uma década, que forçou o Japão a encerrar seu programa de energia nuclear.
O Japão agora planeja construir até 22 novas usinas de queima de carvão – uma das fontes mais sujas de eletricidade – em 17 locais diferentes nos próximos cinco anos, justamente no momento em que o mundo precisa reduzir as emissões de dióxido de carbono para combater o mundo aquecimento.
“Por que carvão, por que agora?”, Disse Kanno, uma dona de casa em Yokosuka, o local de duas unidades de queima de carvão que serão construídas a algumas centenas de metros de sua casa. “É a pior coisa possível que eles podem construir.”
Juntas, as 22 usinas emitem quase tanto dióxido de carbono por ano quanto todos os automóveis vendidos todos os anos nos Estados Unidos. A construção contrasta com o esforço do Japão de retratar os Jogos Olímpicos deste verão em Tóquio como um dos mais verdes de todos os tempos.
O projeto Yokosuka provocou uma reação incomum no Japão, onde grupos ambientalistas costumam focar suas objeções na energia nuclear. Mas alguns moradores locais estão processando o governo por sua aprovação da nova usina de queima de carvão, no que os torcedores esperam impulsionar a oposição ao carvão no Japão.
O governo japonês, dizem os autores, carimbou o projeto sem uma avaliação ambiental adequada. A denúncia é digna de nota porque argumenta que a usina não apenas degradará a qualidade do ar local, mas também colocará em risco as comunidades, contribuindo para as mudanças climáticas.
O dióxido de carbono liberado na atmosfera é o principal fator do aquecimento global, porque retém o calor do sol. A queima de carvão é uma das maiores fontes isoladas de emissões de dióxido de carbono.
O Japão já está experimentando graves efeitos das mudanças climáticas.
Os cientistas disseram que uma onda de calor em 2018 que matou mais de mil pessoas não poderia ter acontecido sem a mudança climática .
Por causa de preocupações com o calor, o Comitê Olímpico Internacional foi obrigado a mudar os eventos da maratona dos Jogos Olímpicos de Tóquio para uma cidade mais fria, a quase 700 milhas ao norte.
O Japão usou as Olimpíadas para enfatizar sua transição para uma economia mais resiliente ao clima, mostrando inovações como estradas que refletem o calor. Os organizadores disseram que a eletricidade para os Jogos virá de fontes renováveis.
Os investimentos em carvão ameaçam minar essa mensagem.
Sob o acordo de Paris, o Japão comprometeu-se a controlar suas emissões de gases de efeito estufa em 26% até 2030 em comparação com os níveis de 2013, uma meta que foi criticada por ser ” altamente ineficiente ” por grupos climáticos.
“O Japão anuncia uma Olimpíada de baixas emissões, mas, no mesmo ano, começará a operar cinco novas usinas a carvão que emitirão muitas vezes mais dióxido de carbono do que qualquer coisa que a Olimpíada possa compensar”, disse Kimiko Hirata, diretora internacional da a Rede Kiko, um grupo que defende a ação climática.
A política do Japão o diferencia de outras economias desenvolvidas. A Grã-Bretanha, o berço da revolução industrial, deverá eliminar gradualmente a energia do carvão em 2025, e a França disse que encerrará suas usinas a carvão ainda mais cedo, até 2022. Nos Estados Unidos, as concessionárias estão retirando rapidamente a energia do carvão e não novas plantas estão ativamente em desenvolvimento.
Mas o Japão depende de carvão para mais de um terço de suas necessidades de geração de energia. E enquanto as usinas de carvão mais antigas começarem a se aposentar, eventualmente reduzindo a dependência geral de carvão, o país ainda espera atender mais de um quarto de suas necessidades de eletricidade a partir do carvão em 2030.
“O Japão é uma anomalia entre as economias desenvolvidas”, disse Yukari Takamura, especialista em política climática do Instituto de Iniciativas Futuras da Universidade de Tóquio. “A era do carvão está terminando, mas, para o Japão, está se mostrando muito difícil abrir mão de uma fonte de energia na qual ele confia há tanto tempo.”
O apetite do Japão por carvão não se resume apenas a Fukushima.
O consumo de carvão vem aumentando há décadas, enquanto o país pobre em energia, que depende de importações para a maior parte de suas necessidades energéticas, correu para se afastar do petróleo estrangeiro após os choques do petróleo nos anos 70.
Fukushima, porém, apresentou outro tipo de crise energética, e mais um motivo para continuar investindo em carvão. E mesmo quando a economia do carvão começou a desmoronar – a pesquisa mostrou que , em 2025, poderia se tornar mais econômico para os operadores japoneses investir em energia renovável, como a eólica ou solar, do que administrar usinas de carvão – o governo manteve a crença de que as empresas de serviços públicos do país devem continuar investindo em combustíveis fósseis para manter um mix diversificado de fontes de energia.
Juntamente com o gás natural e o petróleo, os combustíveis fósseis representam cerca de quatro quintos das necessidades de eletricidade do Japão, enquanto as fontes renováveis ​​de energia, lideradas pelas hidrelétricas, representam cerca de 16%.
A dependência da energia nuclear, que já forneceu até um terço da geração de energia do Japão, caiu para 3% em 2017.
A política do governo japonês de financiar a energia do carvão nos países em desenvolvimento, ao lado da China e da Coréia do Sul, também está sob escrutínio. O país perde apenas para a China no financiamento de usinas de carvão no exterior.
Nas negociações climáticas das Nações Unidas no final do ano passado, em Madri, com a presença de um contingente japonês considerável, ativistas com roupas amarelas de “Pikachu” exibiram sinais de “Sem carvão” e gritaram “carvão de Sayonara!”
Um alvo da ira dos ativistas tem sido o novo ministro do Meio Ambiente do Japão, Shinjiro Koizumi, um filho carismático de um ex-primeiro ministro que é visto como um possível futuro candidato ao primeiro ministro. Mas Koizumi ficou aquém de seu antecessor, Yoshiaki Harada, que havia declarado que o Ministério do Meio Ambiente não aprovaria a construção de mais nenhuma nova usina elétrica movida a carvão, mas durou menos de um ano como ministro.
Koizumi se esquivou de tais promessas explícitas em favor de garantias mais gerais de que o Japão acabará por reverter o uso de carvão. “Embora não possamos declarar imediatamente uma saída do carvão”, disse Koizumi em uma reunião em Tóquio no mês passado, o país “deixou claro que se moverá constantemente para tornar as renováveis ​​sua principal fonte de energia”.
O projeto Yokosuka tem um significado especial para Koizumi, que é da cidade portuária, um centro industrial e o local de uma base naval americana. As unidades de carvão estão planejadas no local de uma usina a óleo, operada pela Tokyo Electric Power, que foi fechada em 2009, para alívio dos moradores locais.
Mas esse desligamento provou ter vida curta.
Apenas dois anos depois, ocorreu o desastre de Fukushima, quando um terremoto e tsunami danificaram gravemente uma instalação nuclear à beira-mar, também de propriedade da Tokyo Electric. O colapso resultante levou as concessionárias a iniciar duas das oito unidades a óleo de Yokosuka como medida de emergência. Eles foram finalmente encerrados apenas em 2017.
O que a Tokyo Electric propôs a seguir – as duas novas unidades movidas a carvão – deixou muitos na comunidade perplexos. Para piorar a situação, a Tokyo Electric declarou que as unidades não precisavam de uma revisão ambiental completa, porque estavam sendo construídas no mesmo local que as instalações de queima de petróleo.
O governo central concordou. O processo dos residentes contesta essa decisão.
Alguns novos projetos de carvão enfrentaram soluços. No ano passado, um consórcio de empresas de energia cancelou os planos para duas usinas de queima de carvão, dizendo que não eram mais econômicas. Enquanto isso, o Japão disse que vai investir em tecnologia de captura e armazenamento de carbono para limpar as emissões da geração de carvão, mas essa tecnologia ainda não está disponível comercialmente.
O destino do carvão no Japão pode residir no Ministério do Comércio do país, que exerce um peso considerável nos corredores do poder de Tóquio.
Em resposta a perguntas sobre a construção de usinas de carvão, o ministério disse que havia emitido orientações para os operadores do país encerrarem suas usinas de carvão menos eficientes e buscarem reduções globais nas emissões de carbono. Mas a decisão de prosseguir com os planos ficou com as operadoras, afirmou.
“A política mais responsável”, disse o ministério, “é forjar um caminho concreto que permita segurança energética e uma batalha contra as mudanças climáticas”.
Os moradores locais dizem que a posição do ministério fica aquém. Tetsuya Komatsubara, 77 anos, opera um par de pequenos barcos de pesca em Yokosuka há seis décadas, pescando moluscos gigantes, uma vez abundantes nas águas de Tóquio.
Cientistas registraram um aumento na temperatura das águas de Tóquio de mais de 1 grau Celsius na última década, o que está causando estragos nos estoques de peixes por lá.
Komatsubara pode sentir o aumento da temperatura da água em sua pele, disse ele, e temia que as novas plantas fossem outro golpe para uma empresa de pesca que já está em declínio. “Eles dizem que as temperaturas estão subindo. Sabemos disso há muito tempo ”, disse Komatsubara. “É hora de fazer algo sobre isso.”
 

Diplomatas britânicos só usarão carros elétricos ou híbridos

O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido (Foreign Commonwealth Office) está substituindo os automóveis oficiais dos diplomatas no Brasil e no mundo por veículos híbridos ou totalmente elétricos.
A iniciativa, que ocorrerá inicialmente em 30 postos ao redor do mundo, é parte de um ambicioso programa para reduzir as emissões de carbono e tornar o serviço diplomático britânico “o mais verde do mundo”.
As embaixadas do Reino Unido em Oslo (Noruega) e no Vaticano já substituíram seus carros oficiais. Outros 30 postos estão entre os primeiros a receberem um veículo oficial totalmente elétrico ou híbrido até abril de 2020.
Dentre estes, a Embaixada em Brasília receberá uma Land Rover Range Rover PHEV híbrida e os Consulados-Gerais no Rio de Janeiro e São Paulo receberão um Jaguar I-Pace totalmente elétrico, todos eles modelos de marcas britânicas. Estações de carregamento rápido também serão instaladas nos postos como parte do programa.
Brasília já possui um carro oficial totalmente elétrico, o Nissan Leaf Tekna (foto), que foi o primeiro do seu modelo adquirido por uma embaixada no Brasil.
O FCO está empenhado em atingir as metas estabelecidas para que todos os departamentos governamentais tenham uma frota elétrica de 25% até 2022 e uma frota totalmente elétrica até 2030.
O Ministério também está ampliando o uso de energia solar em seus edifícios para reduzir sua pegada de carbono e eliminando plásticos de uso único em todos os seus postos no mundo – o que evita que 142.000 itens terminem em aterros sanitários, todo ano.
“As mudanças do clima são o maior desafio do nosso tempo. Fazer uso de uma frota de carros oficiais elétricos pelos nossos diplomatas será um instrumento de alta visibilidade para demonstrarmos a liderança internacional do Reino Unido quanto à diplomacia nas mudanças climáticas”, afirmou Vijay Rangarajan, embaixador britânico no Brasil.
O Reino Unido sediará a COP26 em 2020, em Glasgow.
A 26ª conferência da ONU sobre mudanças climáticas reunirá mais de 30.000 delegados de todo o mundo, incluindo especialistas em clima, líderes empresariais e cidadãos, para chegar a um acordo sobre ações ambiciosas para combater as mudanças climáticas.
Notas:
1. O Brasil e Reino Unido têm uma parceria histórica em clima. Atualmente, temos mais de £200m investidos por meio do Fundo Internacional para o Clima, Fundo de Prosperidade e Fundo Newton, dando apoio a ações que visam o combate a mudanças climáticas no país, com foco em florestas, agricultura, infraestrutura sustentável, energia e finanças verdes.
2. A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o transporte seja responsável por 24% de todas as emissões globais de CO2.
3. Em 2018-19, as emissões de gases de efeito estufa do FCO UK foram de 7.753 tCO2e (toneladas de dióxido de carbono equivalente), representando uma redução de 60% em comparação com 2009 e 2010 e à frente da meta de Compromisso do Governo Mais Verde de 2020. Deste total, a frota do FCO foi responsável por 94 tCO2e.
Os primeiros 30 postos escolhidos para receber veículos oficiais de baixa emissão são:
 
1) Abu Dhabi
2) Atlanta
3) Brasília
4) Bruxelas
5) Bucareste
6) Calgary
7) Chicago
8) Colombo
9) Dubai
10) Hanói
11) Kiev
12) Kingston
13) Lisboa
14) Madrid
15) Cidade do México
16) Montreal
17) Moscou
18) Paris
19) Pristina
20) Riga
21) Rio de Janeiro
22) São Paulo
23) Singapura
24) Estocolmo
25) Sydney
26) Taiwan
27) Tallinn
28) Haia
29) Vilnius
30) Zagreb
5. As embaixadas agora só poderão comprar veículos a gasolina ou a diesel como último recurso em locais onde os veículos elétricos não são utilizáveis ou disponíveis.
6. A ação para eliminar os plásticos de uso único em todos os postos do FCO tem resultado em uma redução de 98% dos mesmos no Reino Unido. E agora, 15 postos operam totalmente livres de plásticos de uso único. Após a conclusão da campanha, espera-se seja reduzida em 99% o uso de plástico do FCO, evitando que 142.000 itens sejam lançados nos aterros sanitários locais por ano.
(Com informações e notas da Assessoria de Imprensa)
 

Concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é a maior já registrada

A concentração dos principais gases do efeito estufa na atmosfera alcançou em 2018, os maiores níveis já registrados, segundo boletim da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Os dados foram divulgados nesta segunda feira, 25.
“Não há indícios de desaceleração visíveis”, registra o boletim. Os gases em questão são os principais causadores das mudanças climáticas.
O  alerta foi divulgado poucos dias antes do início da reunião anual da ONU sobre a luta contra a mudança climática, a COP25, que ocorre de 2 a 13 de dezembro, em Madri.
“Não há indícios de que vá acontecer uma desaceleração, e muito menos uma redução, da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, apesar de todos os compromissos assumidos no Acordo de Paris sobre a mudança climática”, disse o secretário-geral OMM, Petteri Taalas, por ocasião da publicação do boletim anual sobre concentrações de gases do efeito estufa.
De acordo com os cientistas, o dióxido de carbono (CO2), que está associado às atividades humanas e é o principal gás causador do efeito estufa que permanece na atmosfera, bateu um novo recorde de concentração em 2018, de 407,8 partes por milhão (ppm). Ou seja, nível 147% maior que o pré-industrial de 1750.
“Cabe recordar que a última vez que a Terra registrou uma concentração de CO2 comparável foi entre 3 e 5 milhões de anos atrás. Na época, a temperatura era de 2 a 3 °C mais quente e o nível do mar era entre 10 e 20 metros superior ao atual”, afirmou Taalas em um comunicado.
Década mais quente da história
Além disso, a OMM destacou que o aumento anual da concentração de CO2, que persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo nos oceanos, foi superior à taxa média de crescimento dos últimos 10 anos.
De acordo com as observações dos cientistas, as concentrações de metano (CH4), que aparece em segundo lugar entre os gases do efeito estufa com maior persistência, e de óxido nitroso (N2O) também aumentaram mais que a média anual da última década.
O metano, cujas emissões são provocadas em 60% pela atividade humana (gado, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros, etc), e o óxido nitroso, com 40% das emissões de origem humano (fertilizantes, processos industriais…), também alcançaram níveis máximos de concentração.
O óxido nitroso, além disso, tem um forte impacto na destruição da camada de ozônio, que filtra os raios ultravioleta.
Diante da emergência climática, os países se comprometeram, em 2015 em Paris, a adotar planos de redução das emissões de gases do efeito estufa, mas as emissões mundiais não param de crescer.
Petteri Taalas pediu aos países a “cumprir os compromissos em ação e aumentar o nível de ambição em nome do bem-estar futuro da humanidade”.
No início de novembro, no entanto, o governo do presidente Donald Trump oficializou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
Os quatro maiores emissores de gases do efeito estufa – China, Estados Unidos, União Europeia e Índia – representam 56% das emissões globais.
Apenas a UE (9% do total) está a caminho de cumprir, ou até superar, seus objetivos, de acordo com um estudo recente da ONG americana Fundação Ecológica Universal (FEU-US).

Desmatamento é a principal causa do aumento de emissões de gases

Foi um aumento mínimo, de 0,2%. Mas, para quem é o sétimo na lista dos maiores poluidores do planeta, o aumento das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, em 2018, é preocupante.
Principalmente porque a causa principal – os desmatamentos e queimadas – parece fora de controle.
O balanço das emissões brasileiras em 2018 foi divulgado na semana passada pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (www.seeg.eco.br). Não mereceu muita atenção.
O total das emissões registradas no Brasil alcançou 1,939 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, 0,2% a mais do que em 2017.
As emissões causadas por mudança no uso da terra – queimadas, derrubadas, mineração – representam 44% do total das emissões brasileiras. No conjunto, elas cresceram 3,6% em 2018.
Esse crescimento teve como causa principal as emissões causadas pelo desmatamento na Amazônia,que aumentaram 8,5%.
Foram 29 milhões de toneladas a mais de C02 lançadas na atmosfera pelas queimadas. Segundo o Prodes, dado oficial do desmatamento no Brasil, foram 7.500 km2 em 2018.
O setor agropecuário, em segundo lugar, com 25% do total das emissões, registrou pequena redução de 0,7%.
A  diminuição do rebanho nacional foi a principal causa e por razões que nada têm a ver com preocupações ambientais: a alta cotação da carne no mercado internacional levou a um aumento e antecipação de abates. Desta forma a emissão do metano do gado (muito mais nocivo do que o CO2) foi reduzida.
A maior redução, de 5%, foi registrada no terceiro grupo mais poluente, o setor de energia responsável, por 21% do total das emissões no Brasil.
Duas são as causas principais:
1) o forte aumento do uso do etanol no transporte de passageiros, devido à obrigação de adicionar biodiesel ao diesel.
2) o crescimento das energias renováveis na geração elétrica.
Felipe Barcellos e Silva, analista de projetos do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente: “Choveu muito, as hidrelétricas foram muito acionadas em detrimento das térmicas fósseis”.
Também foi a primeira vez que as fontes não hídricas ultrapassaram as fósseis na matriz elétrica, diz ele, citando a energia eólica, biomassa e solar. Este grupo foi a segunda maior fonte de energia no Brasil em 2018.
O setor industrial, que responde por 5% do total das emissões, registrou aumento de 1%, em relação ao ano anterior, apesar da queda na produção.
Outros 5% são emissões decorrentes da decomposição de resíduos, que registraram crescimento de 1,3%.
Desafio do Brasil é  reduzir desmatamento
Ricardo Abramovay, professor da USP, ouvido pelo Valor, chamou atenção para “a grande diferença entre a natureza das emissões do Brasil e a dos grandes países poluidores”.
Nos países desenvolvidos, assim como na Índia e na China, a redução das emissões depende de grandes investimentos em ciência e tecnologia, porque a maior fonte de emissões é o setor de energia.
No Brasil, esforço  tem que ser no combate ao desmatamento.
“Para interromper o desmatamento não precisamos fazer grandes esforços em ciência e tecnologia”, diz o professor. “Infelizmente estamos avançando em direção ao aumento das emissões pelos piores métodos. É vergonhoso”, lamenta.
A meta de reduzir 80% a taxa de desmatamento da Amazônia até 2020 parece inalcançável: “Já tínhamos uma situação delicada antes do desmonte da governança ambiental promovida pelo atual governo”, diz Carlos Rittl, do Observatório do Clima.
“Em 2019, os planos de combate ao desmatamento na Amazônia e Cerrado foram engavetados e não temos nem mesmo um esboço de plano para a implementação da NDC, que deveria ocorrer a partir do ano que vem. Na verdade, até os órgãos que deveriam implantar a NDC foram extintos pela atual administração”, afirmou Rittl.
A NDC (Contribuição Nacional Determinada, em inglês) é o mecanismo de metas de redução estabelecido pelo Acordo de Paris para cada país signatário.
Emissões no Brasil
Fontes                                         % do total      2018
Mudanças nos usos da terra              44%          +3,6
Agropecuária                                       25%          -0,7
Energia                                                21%          -5,0
Industria                                               05%         +1,0
TOTAL                                                100%         +0,2
 

Os cinco anos mais quentes da história

Na véspera da reunião de líderes mundiais sobre o aquecimento global na ONU, um relatório divulgado neste domingo eleva a temperatura do debate sobre as mudanças climáticas.

Segundo o estudo, a temperatura média de 2015 a 2019 deve ser a mais alta já registrada num período de cinco anos.

O relatório é da agência da Organização das Nações Unidas que se dedica à observação do clima. A cúpula do clima vem ocorrendo desde sábado-feira e vai até segunda.

São esperados os líderes europeus Emmanuel Macron, presidente francês; Boris Johnson, primeiro-ministro inglês; e a chanceler alemã Angela Merkel. Índia e China também mandarão representantes para a cúpula.

Os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, não participarão não participarão.

“Atualmente, calcula-se que estamos 1,1ºC acima da era pré-industrial (1850-1900) e 0,2ºC acima de 2011-2015”, diz o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Segundo o documento, isso representa um aumento expressivo demais para poucos anos. A elevação das temperaturas, o aumento do nível do mar e a poluição com carbono se aceleraram.

Isso quer dizer que, para cumprir as metas assumidas pela comunidade internacional, o aquecimento teria que ser contido — bem mais do que vem sendo feito atualmente.

Os cientistas afirmam que aumento do nível dos oceanos se acelera e o ritmo subiu na última década a quatro milímetros por ano, em vez de três, em consequência do derretimento acelerado das calotas polares no Norte e Sul, algo confirmado por diversos estudos e análises de satélite.

As indústrias de carvão, petróleo e gás prosseguiram com seu avanço em 2018. As emissões de gases do efeito estufa também aumentaram e em 2019 serão “no mínimo tão elevadas” quanto no ano passado, preveem os cientistas que coordenaram o relatório.

Ampliar os esforços

Em 2009, líderes mundiais assumiram o compromisso de manter o aquecimento global em apenas 2ºC, considerando os padrões pré-industriais. Em 2015, uma segunda meta, mais rígida, foi assumida: a de manter o aquecimento em apenas 1,5ºC.

Os esforços para reduzir as emissões de carbono teriam que ser triplicados para evitar que o mundo se aqueça 2ºC , de acordo com a OMM. Para que não se chegue à marca de 1,5ºC seria preciso ainda mais rigor. As iniciativas de redução de emissões teriam que ser ampliadas em cinco vezes.

“Existe um reconhecimento crescente de que os impactos do clima estão nos atingindo de maneira mais forte e mais cedo do que as avaliações climáticas indicavam apenas uma década atrás”, diz a página 28 do relatório.

Os últimos dados confirmam a tendência dos quatro anos anteriores, que já foram os mais quentes desde 1850, quando a temperatura média mundial começou a ser registrada. Julho de 2019, quando várias ondas de calor afetaram a Europa, foi o mês mais quente da história.

Na quarta-feira (25) um novo relatório deve ser divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), considerando também os impactos do aquecimento global sobre as geleiras e os oceanos.

Repercussão do relatório

O relatório, publicado dois dias depois das grandes manifestações de estudantes pelo clima em todo o planeta e na véspera do encontro de líderes mundiais em Nova York para a Assembleia Geral anual da ONU, faz um balanço da falta de ação dos Estados para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

O climatologista Michael Mann, da Universidade do Estado da Pennsylvania, afirmou à agência “Associated Press” que o objetivo de comparar as temperaturas atuais com os níveis pré-industriais já é excessivamente otimista. Segundo ele, a redução nas emissões deveria ser ainda maior, pois mesmo no séculos 18 e 19 houve aquecimento causado pela ação humana. Portanto, na sua opinião, o parâmetro usado é alto demais.

Já a climatologista da agência espacial americana (Nasa) Cynthia Rosenzweig afirmou em uma sessão na ONU que, se o mundo buscar a meta de 1,5ºC, em vez de 2ºC, 420 milhões de pessoas deixariam de ser expostas a ondas de calor.
Além disso, 10 milhões de pessoas ficariam menos vulneráveis à elevação do nível do mar.

A também climatologista Natalie Mahowald, da Universidade Cornell, espera que o novo relatório da OMM desperte a atenção para que se façam mais progressos na redução das emissões de dióxido de carbono. “Espero que a Cúpula do Clima da ONU motive mais ação”, afirmou à AP.

A concentração de CO2 na atmosfera deve alcançar um novo recorde no fim do ano, 410 partículas por milhão, de acordo com dados preliminares.

Para o professor Dave Reay, da Universidade de Edimburgo, esta é a pior notícia do informe.

“É como receber uma conta de cartão de crédito depois de cinco anos de gastos sem pagar”, escreveu. E seguindo com a metáfora bancária, ele completa: “Alcançamos o máximo mundial de nosso crédito de carbono. Se as emissões não começarem a cair, o preço será infernal”.

Cúpula do Clima

A Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) começou no sábado (21) com jovens discutindo o futuro do planeta. A reunião termina na segunda-feira (23) e terá a presença de cerca de 60 chefes de estado.

Mais de 500 jovens foram selecionados pelas Nações Unidas para participar da cúpula.

Já a climatologista da agência espacial americana (Nasa) Cynthia Rosenzweig afirmou em uma sessão na ONU que, se o mundo buscar a meta de 1,5ºC, em vez de 2ºC, 420 milhões de pessoas deixariam de ser expostas a ondas de calor. Além disso, 10 milhões de pessoas ficariam menos vulneráveis à elevação do nível do mar.

Marcha global pelo clima mobiliza ativistas em diversas cidades brasileiras

Em defesa do meio ambiente, jovens e ativistas de diversas partes do mundo se unem na greve mundial pelo clima, nesta sexta-feira, 20, para cobrar medidas emergenciais contra o aquecimento global. As manifestações ocorrem em mais de 150 países, entre eles Estados Unidos, Alemanha, Grécia, Japão, Austrália e Brasil. Em São Paulo, centenas de manifestantes também se reúnem, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, desde o fim da tarde desta sexta.
Puxando a marcha, na avenida, um cordão com dezenas de crianças segurando cartazes e faixas com desenhos que remetiam ao meio ambiente. Em alguns deles, era possível ler frases como “estão destruindo o planeta” e “luta como uma criança”. No Rio de Janeiro, jovens manifestantes também saíram às ruas em protesto pela causa ambiental.

Fridays for Future

As mobilizações são inspiradas no movimento Fridays for Future (Sextas-feiras pelo Futuro), greve estudantil em favor da defesa do meio ambiente criada no ano passado por Greta Thunberg, uma jovem ativista sueca de 16 anos.

Em 2018, ela passou a protestar em frente ao parlamento de seu país contra as mudanças climáticas. E suas ações vêm conquistando o apoio de jovens de diversos países europeus.

Pelo Twitter, Greta acompanha as mobilizações mundiais realizadas nesta sexta-feira. Os eventos estão previstos para ocorrer até o dia 27.

Nas redes sociais, outra jovem ativista também chama a atenção para a urgência de ações em prol do meio ambiente. Katie Eder, de 19 anos, é diretora executiva da Future Coalition (Coligação Futura), organização norte-americana que promove mudanças sociais e ambientais.

Universidade de Coimbra elimina carne bovina de seus restaurantes

Alegando preocupações com o meio ambiente, a Universidade de Coimbra –uma das mais antigas do mundo– anunciou que irá banir carne de vaca dos restaurantes e cantinas da instituição. A medida começa a valer em janeiro de 2020.
O anúncio foi feito pelo reitor da universidade, Amílcar Falcão, que destacou o peso da carne bovina nas emissões de gases-estufa que contribuem para as alterações climáticas.
Segundo o reitor, este tipo de carne será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”.
Por ano, a universidade serve cerca de 20 toneladas de carne bovina aos estudantes.
“Eu creio que o maior impacto é a consciencialização das pessoas para o problema. O que é mais dramático é ver os líderes mundiais a não perceberem que está em causa o futuro do planeta e dos nossos jovens, dos nossos filhos e netos, e isso é demasiado preocupante para não alertarmos para o problema, mesmo que sejam pequenos gestos”, disse Falcão.
O reitor também anunciou medidas para reduzir o uso de plásticos e potencializar a reciclagem de resíduos na universidade.
REPERCUSSÃO
A decisão da universidade foi bem recebida por muitos estudantes. Entre especialistas e produtores de carne e leite, porém, houve uma série de críticas.
A Aprolep (Associação dos Produtores de Leite de Portugal) protestou contra a decisão.
“É incompreensível que o Reitor de uma universidade com 700 anos de história queira banir um alimento com milhares de anos e que terá contribuído para o desenvolvimento do cérebro dos nossos antepassados”, disse a associação em resposta à agência Lusa.
Embora bem recebida entre ambientalistas, muitos fizeram também o alerta sobre as substituições à carne, destacando que produtos a base de soja, por exemplo, também têm elevada pegada de carbono. Houve ainda quem criticasse a medida como insuficiente, e sugerisse a eliminação total de qualquer tipo de carne dos menus universitários.

Violência e impunidade na Amazônia: 300 mortes e apenas 14 julgamentos

O agricultor Gilson Temponi era presidente da Associação dos Agricultores Nova Aliança, em Placas, estado do Pará, onde cerca de 600 famílias vivem de forma precária.
Por mais de 10 anos lutou pela regularização das terras junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Em 2018, Temponi denunciou ao Ministério Público, em âmbito estadual e federal, a exploração ilegal de madeira na Amazônia e as ameaças de morte que recebia. Nada adiantou. Em dezembro, dois homens bateram à sua porta e o executaram a tiros.
Gilson é um entre centenas de casos de assassinatos de lideranças rurais que atuam contra grileiros e a extração ilegal de madeira na região.
Em uma década, mais de 300 desses defensores da floresta foram mortos, de acordo com os dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e utilizados pela Procuradoria-Geral da República.
Em relatório divulgado nesta terça-feira (17), a Human Rights Watch (HRW) detalha o contexto em que ocorrem os crimes.
“A organização internacional examinou 28 assassinatos, a maioria a partir de 2015 – além de quatro tentativas de assassinato e mais de 40 casos de ameaças de morte –, nos quais havia evidências críveis de que os responsáveis estavam envolvidos no desmatamento ilegal e viam suas vítimas como obstáculos a suas atividades criminosas.
Algumas vítimas eram agentes públicos. A maioria eram indígenas ou outros moradores que denunciaram a exploração ilegal de madeira às autoridades”, informa a HRW.
As investigações realizadas pela organização revelam, ainda, que os responsáveis pela violência raramente são levados à Justiça. “Dos mais de 300 assassinatos registrados pela CPT, apenas 14 foram julgados; dos 28 assassinatos examinados pela Human Rights Watch, apenas dois foram julgados; e dos mais de 40 casos de ameaças, nenhum foi a julgamento.”
A impunidade, avalia a HRW, deve-se em grande parte ao fato de a polícia não conduzir investigações adequadas. “A polícia local reconhece as deficiências e afirma que isso acontece porque as mortes ocorrem em áreas remotas. No entanto, a Human Rights Watch documentou graves omissões, como a falta de autópsias, nas investigações de mortes ocorridas nas cidades, não muito longe das delegacias de polícia”, explica.
“As investigações sobre as ameaças de morte não são diferentes. Em alguns locais a polícia inclusive se recusa a registrar as denúncias de ameaças, segundo a pesquisa. Em pelo menos 19 dos 28 assassinatos examinados, ameaças contra as vítimas ou suas comunidades antecederam os ataques. Se as autoridades tivessem conduzido investigações sobre as ameaças, os assassinatos poderiam ter sido evitados”, critica.

Bolsonaro e as mortes

O relatório revela que antes mesmo de completar um ano no cargo, o presidente Jair Bolsonaro cometeu estragos consideráveis nas políticas de proteção ao meio ambiente e aos defensores da Amazônia.
Retrocedeu na aplicação das leis de proteção ambiental, enfraqueceu as agências federais responsáveis, além de atacar organizações e indivíduos que trabalham para preservar a floresta.
O desmatamento quase dobrou em comparação com o mesmo período de 2018, segundo dados oficiais preliminares. Em agosto de 2019, queimadas ligadas ao desmatamento na Amazônia ocorreram em uma escala não vista desde 2010.
“Os povos indígenas e outros moradores há muito tempo desempenham um papel central nos esforços para combater o desmatamento, alertando as autoridades sobre as atividades madeireiras ilegais que de outra forma poderiam passar despercebidas. A redução da fiscalização ambiental incentiva a extração ilegal de madeira e resulta em maior pressão sobre a população local para que assuma um papel mais ativo na defesa das florestas. Ao fazer isso, ela se expõe ao risco de represálias”, esclarece a HRW.
O programa de proteção de defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, criado em 2004, oferece pouca proteção real, de acordo com as autoridades entrevistadas pela HRW.
O relatório informa que a extração ilegal de madeira na Amazônia é impulsionada por redes criminosas com capacidade logística de coordenar a extração, o processamento e a venda da madeira em larga escala. Para isso, empregam homens armados e uso da violência.
Chamados de “máfias do ipê” – em referência à árvore cuja madeira está entre as mais valiosas procuradas pelos madeireiros –, têm por objetivo final derrubar a floresta totalmente para dar espaço ao gado e ao cultivo. A Floresta Amazônica alcança nove países, 60% dela ocupa território brasileiro, mas o Brasil responde por 90% de seu desmatamento.
Por isso, alerta a HRW, o que está em jogo vai muito além da Amazônia e até das fronteiras do nosso país. “Sendo a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia desempenha um papel vital na mitigação das mudanças climáticas, absorvendo e armazenando dióxido de carbono. Quando cortada ou queimada, a floresta não apenas deixa de cumprir essa função, mas também libera na atmosfera o dióxido de carbono que havia armazenado anteriormente. Sessenta por cento da Amazônia está localizada no Brasil e o desmatamento é responsável por quase metade das emissões de gases de efeito estufa do país”, denuncia o estudo.

Impunidade que mata

O relatório da HRW destaca que os povos indígenas e moradores locais desempenham papel importante nos esforços de conter o desmatamento, alertando autoridades sobre as atividades madeireiras ilegais que, sem a participação desses “guardiões da floresta”, poderiam não ser detectadas.
“De fato, vários estudos baseados em dados de satélite mostram que o desmatamento é muito menor em terras indígenas”, informa o estudo. “Essa contribuição se tornou ainda mais vital nos últimos anos, devido à capacidade reduzida das agências ambientais brasileiras de alocarem fiscais para monitorar o que está acontecendo no terreno.”
Ao assumir esse papel primordial em defesa da floresta e de todo o planeta, portanto, tanto indígenas como moradores locais ficam à mercê da represália dos madeireiros.
• Eusebio Ka’apor, liderança do povo Ka’apor que ajudou a organizar as patrulhas indígenas “guardiões da floresta”, para impedir que madeireiros entrassem na terra Alto Turiaçu, no estado do Maranhão, foi baleado nas costas, assassinado por dois agressores em uma moto, em 2015. Logo após sua morte, seis dos sete integrantes do conselho de gestão dos Ka’apor, que coordena as patrulhas, receberam ameaças de morte por madeireiros.
• No assentamento Terra Nossa, no estado do Pará, um morador foi morto e outro desapareceu em 2018 depois de dizerem para algumas pessoas que denunciariam às autoridades a exploração ilegal de madeira. O irmão de uma das vítimas, que estava investigando o crime por conta própria, também foi morto, assim como o líder de um sindicato de pequenos agricultores, depois de, da mesma forma, ter demonstrado intenção de denunciar a extração ilegal de madeira. Os moradores do assentamento relataram que os quatro homens foram mortos por uma milícia armada que trabalha para uma rede criminosa de fazendeiros que, segundo um relatório do Incra, estão envolvidos em extração ilegal de madeira.
• Osvalinda Pereira e seu marido, Daniel Pereira, pequenos agricultores, recebem ameaças de morte há quase uma década, desde que começaram a denunciar extração ilegal de madeira por uma rede criminosa no estado do Pará. Em 2018, eles encontraram em seu quintal duas covas, com cruzes de madeira afixadas no topo.
• Dilma Ferreira Silva, ativista do meio ambiente no estado do Pará, juntamente com cinco outras pessoas, foi morta em 2019 sob encomenda, de acordo com a polícia, de um fazendeiro envolvido em extração ilegal de madeira que temia que Dilma e os outros denunciassem suas operações criminosas.
• Em 2017, Naraymi Suruí, líder do povo Suruí Paiter, foi atacado por homens armados duas semanas depois de confrontar madeireiros dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Duas pessoas que ele reconheceu como madeireiros atiraram cinco vezes contra ele e sua esposa, sem atingi-los.
• João Luiz de Maria Pereira, sargento da Polícia Militar do Pará, foi assassinado em 2016 por um suposto madeireiro enquanto participava de uma operação de combate à exploração da Floresta Nacional Jamanxim.
• O defensor ambiental Raimundo Santos foi assassinado em 2015 depois de denunciar a exploração ilegal de madeira na Reserva Biológica de Gurupi, no Maranhão. Um fazendeiro supostamente envolvido com a extração ilegal confessou à polícia que contratou um policial reformado que, por sua vez, contratou dois policiais da ativa para cometer o assassinato.
• Por mais de uma década, homens armados ameaçaram e atacaram pequenos agricultores em Taquaruçu do Norte, estado do Mato Grosso, na tentativa de expulsá-los de suas terras para que os madeireiros pudessem explorar ainda mais a área. Em 2007, mataram três agricultores e torturaram pelo menos outros dez, segundo a Comissão Pastoral da Terra. Ataques e ameaças foram relatados à polícia, pelos moradores, em 2010, 2012 e 2014, mas as investigações nunca avançaram. Em abril de 2017, homens armados mataram nove moradores de Taquaruçu do Norte, o que ficou conhecido como o massacre de Colniza.
Com informações da Human Rights Watch

Entenda o que está em jogo com o limite de aumento da temperatura média do planeta em 1.5 º C

 
Nós ouvimos e lemos diariamente que o aquecimento global e as mudanças climáticas são o grande desafio deste século. Os noticiários, volta e meia, estampam os alertas emitidos em relatórios do grupo formado por centenas de cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que dão o suporte aos governos de pelo menos 195 países, nas negociações nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima (COPs).
Inúmeras vezes, somos impactados por uma mensagem, que vem sendo repetida, desde o Acordo de Paris, na COP 21, em 2015. – “Os países se comprometeram a fazer esforços para limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até o final do século, por meio da diminuição das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs)”. Afinal, o que estará, então, em jogo, na COP 25, em dezembro, no Chile?
Compromissos brasileiros no Acordo de Paris
Abrindo parênteses, não podemos esquecer qual é o papel do Brasil neste cenário geopolítico ambiental, não é? O governo brasileiro ratificou o Acordo de Paris, por aqui, em setembro de 2016, após a aprovação pelo Congresso. E a promulgação foi estabelecida com o Decreto nº 9073, de 2017.
Com o que nos comprometemos mesmo?
A reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. (Fonte: Ministério do Meio Ambiente – MMA)
“O Brasil tem de cumprir seus compromissos, será cobrado pelas metas e pela situação atual de desmatamento. Na área de matriz elétrica e energética, a combinação com energia solar e eólica tem sido um bom caminho no país, que tem de ser ampliado”, analisa o Doutor em Meteorologia, especialista em Modelagem Climática José Marengo, que foi um dos revisores do relatório especial do IPCC sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C, divulgado no final do ano passado.
“Com a estação seca agora, um dos problemas no país ocorreu com a diminuição da fiscalização em um período que historicamente tem aumento de incêndios e queimadas. Devemos lembrar que é uma situação urgente não só aqui, mas na Pan-Amazônia, que atinge a Bolívia e no norte do Paraguai. Os aerossóis originados com o fogo não têm fronteiras, que afetam o ciclo hidrológico. É um processo que tem de ser controlado”, analisa.
Segundo Marengo, é importante frisar que é necessário haver a redução do desmatamento em todo o mundo, nesta contabilidade de GEEs. Dados da Global Forest Watch apontam que de 2001 a 2018, houve um total de 361 Mha de perda de cobertura arbórea globalmente, o equivalente a uma redução de 9.0% desde 2000 e 98.7Gt de emissões de CO₂.
E que tal compreendermos o que são, de fato, os GEEs?
Primeiramente é necessário compreender que o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a preservação da vida na Terra, porque tem o papel de manter o planeta aquecido e habitável ao permitir que parte da radiação solar refletida de volta para o espaço seja absorvida pela Terra.
O que acontece, desde o início do período industrial até hoje, é que os GEEs estão sendo produzidos de forma cada vez mais descontrolada, tanto pela emissão provocada por combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural e derivados) para transporte e produção de energia, e decorrentes do desmatamento e do mau uso da terra (iniciativas extensivas agropecuárias, de mineração) e, inclusive, da destinação que damos aos nossos resíduos. Com isso, acarretam as mudanças climáticas e o aquecimento global. E quais são os principais gases em questão? Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N20) e Hidrofluorcarbonetos (HFCs), entre outros.
O caminho para a revolução climática está calcado justamente na mudança dos padrões das matrizes energéticas. Segundo o secretário-geral da ONU António Guterres, em todo o mundo, mais da metade da nova geração de energia vem de fontes renováveis, sendo que este percentual é de 90% na Europa. Este esforço vem ao encontro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pelos países, no âmbito da ONU, para serem cumpridos até 2030.
Os 17 propósitos principais dos ODS tratam de temas importantes, como erradicação da pobreza, energia limpa e acessível, cidades e comunidades sustentáveis e ação contra a mudança global do clima.
Quem mais emite GEEs?
– China;
– EUA;
– União Europeia;
– Índia;
Atualmente, o Brasil figura em 7º lugar.
Qual é a quantidade de GEEs atualmente no planeta?
A concentração na atmosfera do planeta estava na casa de 300 partes por milhão (ppm), no início do século XX. Já em maio deste ano estava em 415 ppm, segundo a NASA. O limite seguro à saúde, de acordo com os cientistas, é de no máximo 350 ppm. Bem, é só fazer as contas. A situação está complicada já em 2019, não é?
Ação antrópica está no centro do desafio
Cientistas brasileiros do IPCC destacam que os principais desafios que estão colocados à mesa e alternativas para revertê-los giram em torno justamente da ação antrópica, ou seja, de nós, seres humanos. Não estamos falando do outro, mas de nós mesmos e da figura institucional dos governos, dos poderes legislativos e judiciários, das empresas, das organizações não governamentais municipais e federais. O que está em xeque é o modelo de desenvolvimento que queremos e como afetará as atuais e futuras gerações.
“A atividade humana já provocou um Aquecimento Global, entre 0,82 a 1,05 graus C. No Ártico, por exemplo, em algumas estações do ano, atinge 3,5 vezes mais que 1,5 graus C”, alerta a vice-presidente do IPCC, a cientista Thelma Krug, Segundo ela, nem um centésimo de aumento pode ser desprezado. “Cada pedacinho tem um efeito. Quanto mais forem retardadas ações de mitigação (redução de danos), teremos mais dificuldades de atingir as metas do Acordo de Paris”, diz. Atualmente o que se observa é o aumento de 0,2º por década. Neste ritmo, atingir a temperatura média de 1,5º C pode ocorrer antes da metade do século.
“De 20 a 40% da população global já vivem em regiões que na última década experienciou um aquecimento de mais de 1,5º C acima do nível pré-industrial”, diz a Doutora em Ecologia Humana Patrícia do Pinho, uma das cientistas brasileiras que integrou a equipe que elaborou o relatório 1.5º C do IPCC. Ela analisa que grupos humanos que menos contribuíram para o aumento dos GEEs sofrem as maiores consequências. Assim é possível identificar que entre as regiões mais vulneráveis estão os continentes africano e sul-americano.
O contexto urbano tem cada vez mais um papel relevante nesta análise, porque a projeção é de que até 2040, 90% da população mundial estará vivendo nas cidades. Isso implica também necessidade de mudanças no estilo de vida na sociedade, que parte desde a dieta alimentar ao uso sustentável de energia, além das ações de governança.
Mitigação e adaptação são as palavras da vez
Pois é, o que vimos agora, é que o que está em questão a todo momento gira em torno de duas palavras: mitigação e adaptação, no caso daquilo que não podemos frear, como comprometimentos de eventos climáticos extremos. Estamos falando de aumento do número de ocorrências de ciclones, tornados, furacões, secas, processos de desertificação, enchentes, deslizamentos em decorrência destes eventos.
“A mitigação é um enfoque que deve ser buscado ao máximo, independentemente de podermos ou não nos adaptar aos impactos considerados irreversíveis. A adaptação, por outro lado, não se limita somente às medidas para lidar com eventos climáticos extremos: está relacionada com os impactos irreversíveis e ou não evitáveis, independentemente de serem eventos extremos (tópicos/ agudos) ou problemas ‘crônicos’ “, avalia Rubens Born, diretor interino da 350.org Brasil e América Latina.
As combinações de todos estes fatores levam a projeções maiores, que são a grande preocupação mundial na atualidade, num limiar de aumento populacional na casa de 10 bilhões de pessoas até a metade deste século: segurança alimentar, acesso à água potável, poluição do ar, degradação da terra e dos oceanos e extinção de espécies, entre outras. A lista é longa e tem a ver com toda nossa dinâmica de vida.
Refugiados climáticos
Os problemas já podem ser identificados na atualidade, e tem rostos e histórias de vida. “Podemos exemplificar o caso da Síria. Parte da crise política começou com uma seca, causando fome e falta de alimentos. O que detectamos no Brasil é principalmente no Nordeste. A seca atingindo pequenos agricultores no sertão, no semiárido. Não conseguem sobreviver lá e migram para grandes cidades. Mas as capitais já têm problemas sociais suficientes e estas questões são ampliadas nestas áreas mais carentes”, diz Marengo. Já em São Paulo e no Rio de Janeiro, ele alerta que extremos de chuva têm aumentado.
“As pessoas são deslocadas forçadas pelas mudanças climáticas. Em regiões como a Amazônia, a resposta adaptativa é muito baixa”, explica Patrícia. E alerta que as megacidades já correm o risco de exposição de pessoas a calor letal, um contingente de mais de 350 milhões de cidadãos.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática e indígena
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.

Peixes e o futuro sustentável da Amazônia

O consumo de peixes tem sustentado populações amazônicas durante toda a sua história. Agora, com o avanço do desmatamento na Amazônia, os peixes amazônicos estão se tornando uma excelente oportunidade para um futuro sustentável na região. E os governos estaduais e municipais se mobilizam para desenvolver esse potencial.
Enquanto os estados amazônicos lutam para controlar o desmatamento, uma estratégia de desenvolvimento baseada no peixe, incluindo a piscicultura e a pesca manejada, poderia atender à demanda crescente pela proteína animal numa área muito menor do que a pecuária —e com impactos bem inferiores na floresta e no clima.
Uma abordagem baseada no peixe tem quatro vantagens principais: 1 -a piscicultura é muito mais eficiente do que a bovinocultura no uso da terra e gera uma quantidade menor de gases de efeito estufa —uma tonelada de peixe pode ser produzida em 3% da área utilizada para produzir a mesma quantidade de carne bovina; 2 – peixe é muito melhor para a saúde humana; 3 – um modelo de desenvolvimento baseado no peixe é mais compatível com a ecologia amazônica, conservando a floresta e as suas funções na reciclagem da chuva; 4 – por fim, o peixe domina a produção e o comércio global de proteína animal.
Assim, a piscicultura tem o poder de mercado necessário para conduzir a transição regional para uma economia rural baseada no peixe.
Com sua maior produtividade em termos de área e conversão alimentar, a piscicultura tem o potencial de ser mais rentável do que a carne bovina. Muitos produtores rurais amazônicos já estão investindo na piscicultura como estratégia para aumentar e diversificar a renda.
Nas últimas décadas houve avanços importantes no manejo dos recursos pesqueiros. Ainda nos anos 1990, o Ibama colaborou com os pescadores para desenvolver uma política de gestão pesqueira que legaliza os acordos de pesca intercomunitários. Políticas semelhantes, incluindo uma específica para o manejo do pirarucu, foram adotadas por vários estados amazônicos. No estado do Amazonas, a produção de pirarucu manejado cresceu de 20 toneladas em 2003 para quase 2.000 toneladas em 2015.
Embora seus proponentes frequentemente promovam a piscicultura como alternativa à pesca, não há motivo para escolher entre as duas. São elementos complementares da cadeia produtiva do peixe.
O potencial é enorme. Existem, porém, gargalos significativos em toda a cadeia que terão que ser resolvidos: sistemas de produção e manejo ineficientes, cadeias produtivas funcionando na informalidade, infraestrutura deficiente e penetração limitada fora dos mercados amazônicos.
Parcerias comerciais entre empresas e produtores poderão fornecer a assistência técnica, os insumos e o acesso ao mercado que os produtores precisam. Estratégias para ampliar a demanda nacional e internacional para o peixe amazônico devem aproveitar o interesse do consumidor pela conservação das florestas amazônicas.
Governos estaduais têm um papel central na criação das condições que viabilizam o desenvolvimento do setor, incluindo mecanismos eficazes de governança, infraestrutura moderna, monitoramento das regulamentações sanitárias, fiscais e ambientais e mecanismos para agilizar a resolução de gargalos na cadeia produtiva.
Durante um encontro em Brasília, em junho de 2019, os nove governos amazônicos votaram para colaborar na implementação de uma estratégia de desenvolvimento rural baseada no peixe. Esses governos estão se posicionando para liderar uma transição regional em que o crescimento da produção pesqueira dinamize o desenvolvimento econômico nos seus estados.
Embora o desafio não deva ser subestimado, é útil lembrar que o atual setor moderno de carne bovina é resultado de décadas de colaboração entre produtores, pesquisadores, empresas, governos e sociedade civil. Esse mesmo tipo de colaboração pode agora preparar a região para a transição de uma economia rural, dominada pela pecuária de corte, para uma economia diversificada em que o peixe tem um papel cada vez mais importante. (Com informações da Folha de São Paulo)