Hidrogênio verde barato e estável para garantir a transição energética

Avançam os investimentos mundiais em projetos de hidrogênio verde a partir de fontes de energia renováveis (solar fotovoltaica e eólica) – Alemanha, França, Holanda, Áustria, Japão, Austrália, Canadá, China, Reino Unido e Estados Unidos.

O Alemanha anunciou o plano de investir € 9 bilhões até 2030 no desenvolvimento da tecnologia de hidrogênio verde a partir de fontes renováveis. A estratégia prevê € 2 bilhões em iniciativas bilaterais com  países com potencial para tornarem-se exportadores de hidrogênio verde, o Brasil entre eles.

Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), hoje o mundo abriga cerca de 7 TW de capacidade total de geração de energia, dos quais cerca de 1 TW vem da energia solar e eólica, de acordo com o relatório “IRENA: A renewable energy perspective report”. Atualmente, existem cerca de 14,4 exajoules de hidrogênio por ano, mas cerca de 95% deles vêm do gás natural e carvão.

Nesta quarta, 17 de junho, haverá um webinar sobre o assunto com o  presidente do Conselho da Associação Alemã de Hidrogênio e Célula a Combustível, Werner Diwald, e moderação de Luiz Barroso, CEO da PSR. O evento começará às 10 horas, no idioma inglês.

As inscrições para o webinar Transição Energética na Alemanha: Hidrogênio Verde, podem ser feitas neste link.

A corrida pelo hidrogênio verde

Considerado um importante aliado na descarbonização da economia sem o comprometimento da segurança energética, o hidrogênio verde é elemento chave na superação de desafios energéticos como o armazenamento da geração variável de fontes renováveis (solar fotovoltaica, eólica) e a substituição de combustíveis fósseis no transporte e na indústria (química e de ferro e aço).

Sobre Werner Diwald

Werner Diwald é porta-voz e membro do Conselho da Associação Alemã de Hidrogênio e Célula a Combustível, e CEO da empresa de consultoria ENCON.Europe GmbH, para projetos de formulação de políticas públicas em hidrogênio e acoplamento setorial de energias renováveis. Atua desde 1995 no setor de energias renováveis, e foi responsável por mais de 13 anos pelas áreas de negócios de Desenvolvimento Internacional de Projetos e Assuntos Políticos dentro do grupo de empresas da ENERTRAG Aktiengesellschaft. É membro do Conselho de Administração da ENERTRAG Aktiengesellschaft e responsável pela área de desenvolvimento internacional de projetos de parques eólicos, desenvolvimento de tecnologia e engenharia e construção de instalações de hidrogênio (eletrólise, usina híbrida). Com base em suas atividades, a ENERTRAG conseguiu, em 2011, colocar em operação com sucesso a primeira usina híbrida. Em 2011, ele criou a ENERTRAG HyTec GmbH, hoje parte da McPhy Energy Deutschland GmbH, que desenvolve e fabrica eletrolisadores.

Sobre Luiz Barroso

Diretor-presidente da PSR. De 2016 a 2018 foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE-MME). Em 2018, foi também visitante na Agência Internacional de Energia (AIE), atuando no programa Clean Energy Transition Program, que estuda a transição energética em economias emergentes. Antes de juntar-se à EPE, Luiz Barroso foi sócio e diretor técnico da PSR por 17 anos. É também pesquisador associado da Universidade de Comillas, em Madrid, e professor da Escola de Regulação de Florença, na Itália. É editor associado da IEEE Power & Energy Magazine. Foi editor associado da revista IEEE Transactions on Power Systems e da IEEE Transactions on Smart Grids. É o chair do Power Systems Operations, Planning and Economics Committee da IEEE Power and Energy Society, onde é membro sênior. Recebeu, em 2010, o IEEE PES Outstanding Young Engineer Award. Foi coordenador do comitê de Mercados de Eletricidade e Regulação (C5) do Cigré Brasil de 2010 a 2014 e é membro do steering committee do SC C5 do Cigré Internacional. É autor e coautor de mais de 200 artigos científicos em periódicos e conferências em temas relacionados a mercados competitivos de energia. É graduado em matemática e possui doutorado em Engenharia de Sistemas (otimização) pela COPPE/UFRJ, Brasil.

Sobre o Instituto E+ Transição Energética

O Instituto E+ é um think tank independente que promove o amplo diálogo com representantes de todos os setores para pautar a transição energética brasileira como vetor para o crescimento econômico de baixo carbono. O Instituto E+ faz parte da rede International Network of Energy Transition Think Tanks (INETTT).

Para assistir as edições anteriores no Youtube:http://www.youtube.com/channel/UC46zZl90o5ozMLxJUScA65A

(Com informações do Instituto E+ e pv-magazine)

 

Parques eólicos da CGT Eletrosul entram em ranking de eficiência

A geração eólica da CGT Eletrosul se destacou no Ranking Operacional Eólico – Região Sul referente ao ano de 2019. O relatório, divulgado no início deste mês, apresenta os parques eólicos Galpões, Coxilha Seca e Capão do Inglês na primeira, segunda e sexta posições, respectivamente, entre as usinas com maior fator de capacidade.

O estudo de operação, que analisa a melhor relação entre geração e potência instalada, foi feito pela ePowerBay, empresa de análise de dados para projetos de energia renovável no Brasil.

De acordo com o levantamento, o parque mais eficiente e com melhor rendimento do ano, nas regiões Sul e Sudeste, foi Galpões (8 MW), que registrou fator de capacidade médio de 45%. Atrás dele, ficou Coxilha Seca (30 MW), com 44%. Em sexto lugar, o projeto Capão do Inglês (10 MW), com 42,8%.

Cabe destacar que, de janeiro a abril de 2019, um dos aerogeradores do parque Capão do Inglês esteve indisponível devido a uma ocorrência de descarga atmosférica. “Não fosse por isso, ele certamente estaria ainda melhor posicionado”, explica Rafael Freitas Ferreira, da Divisão de Engenharia de Manutenção da Geração, da CGT Eletrosul.

“A Engenharia de Manutenção da CGT Eletrosul trabalha fortemente todos os anos, juntamente com a Gamesa, fabricante e responsável pela manutenção dos aerogeradores, para garantir que as manutenções preventivas de grande monta sejam realizadas nos meses de ventos mais fracos. Essa coordenação técnica e o bom relacionamento entre as duas partes garantem estes bons resultados”, comenta.

“A ocorrência de ventos registrada em 2019 foi abaixo da média histórica. Mesmo assim, os três parques geraram uma quantidade de energia muito próxima de sua garantia física e tiveram algumas das melhores performances em relação a todos os outros 101 instalados na região Sul. Foram as usinas que melhor aproveitaram seus aerogeradores, independentemente de sua potência ou tecnologia”, completa Marcelo Mohr, da Divisão de Engenharia e Projetos de Geração, da CGT Eletrosul.

Os três parques compõem a 2ª ampliação do Complexo Eólico Cerro Chato, situado em Santana do Livramento. Juntos, possuem 24 aerogeradores e são capazes de atender à demanda energética de 270 mil pessoas. Estão em operação comercial desde dezembro de 2015. Na época de sua construção, o investimento realizado foi de aproximadamente R$ 270 milhões. O chamado Entorno 2 foi financiado pelo banco de fomento alemão KfW.

Líder da descarbonização da Engie foi destituída da direção geral

O conselho de administração do Grupo Engie, da França, destituiu Isabelle Kocher do cargo de diretora geral. A decisão foi anunciada na quinta-feira, 6.
A Engie tem 160 mil empregados em 70 países, um faturamento que no ano passado chegou aos 60 bilhões de euros e se define como  “a maior produtora de energia independente do mundo”.
No Brasil, com sede em Florianópolis, a Engie é o maior empreendedor privado no campo energético do território nacional, responsável por 6% da geração de energia no país.
Seu parque no Brasil  abrange: 31 usinas, sendo 11 hidrelétricas, quatro termelétricas convencionais e 16 usinas complementares, duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), nove eólicas, três a biomassa e duas solares.
Destaque para a usina de Jirau, em Porto Velho, Rondônia, a maior hidrelétrica em território nacional, com uma capacidade de 3.750 MW, o suficiente para atender cerca de dez milhões de moradias.
A  Engie  ganhou relevo no noticiário econômico nacional  quando, em abril de 2019, adquiriu – associada ao investidor canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec –  a Transportadora Associada de Gás (TAG), da Petrobrás, que tem a mais extensa malha de distribuição de gás do país, com cerca de 4500 quilômetros de gasodutos.
No cargo de diretora geral desde 2016, Isabelle Kocher vinha liderando a mudança estratégica da Engie, que decidiu concentrar seus negócios nas energias renováveis e se desfazer das usinas baseadas em combustíveis fósseis.
Nos últimos quatro anos, desfez-se de centrais a carvão na Alemanha, na Holanda e na Tailândia, e repassou seus ativos do setor de gás liquefeito de petróleo (gás de cozinha) para o grupo Total.
Amealhou cerca de 15 bilhões de euros em venda de ativos, dinheiro que foi empregado em energias “verdes”: parques eólicos e solares, hidrelétricas, gás natural e biomassa.
No Brasil, a Engie tem três termelétricas a carvão à venda: a Pampa Sul e Charqueadas, no Rio Grande do Sul, e Usina Jorge Lacerda (três unidades) em Santa Catarina.
A Engie é um caso exemplar do novo mercado de energia que se conforma pela pressão das mudanças climáticas.
Ela resulta da fusão de dois grupos tradicionais- Gas de France e GDF Suez, presentes em mais de 70 países na área de geração, transmissão e serviços. Gás e petróleo era o principal negócio deles.
Em 2008, a nova empresa adotou a marca Engie, um vocáculo criado para sugerir energia em qualquer idioma.
Suas usinas em diversos países somam mais 100 Gigawatts de capacidade instalada  em energia elétrica (sete usinas de Itaipu).
Sob a batuta de Kocher, em três anos o grupo investiu  22 bilhões de euros na transição energética.
Numa entrevista a TV francesa, ela anunciou  a diminuição de 56 por cento da emissão de gás carbono nas atividades do grupo:
“A mudança climática é o primeiro desafio planetário.Ninguém pode dizer que o problema não é seu. Os atores, graças à tecnologia, não são mais os estados, mas as empresas e os cidadãos. Trata-se de uma revolução nas cabeças”.
Sua saída deve-se a pressões internas e externas, principalmente do governo francês, o verdadeiro patrão, com 23,6 por cento do capital do grupo. Emmanuel Macron, presidente da França, e Bruno Le Maire, ministro da Economia e Finanças, estavam descontentes com a gestão de Kocher.
A direção do grupo, provisoriamente, ficará a cargo de um triunvirato: Paulo Almirante, diretor de operações, Judith Hartmann, diretora financeira, e Claire Waysan, secretária geral. Esta última ocupará, interinamente o cargo de diretora geral.
Um colegiado formado por um homem e duas mulheres, evitando, assim, qualquer especulação misógina, machista, como causas da demissão de Kocher. Especulação que tem suas razões: afinal, Kocher, de 53 anos, era a única mulher em posição de comando empresarial a integrar o CAC 40 (o índice que congrega as quarenta maiores empresas da França).
Especula-se, também, que Catherine Guillouard, atual CEO da RATP (Régie Autonome de Transports Parisiens), será a sucessora de Kocher.
Em entrevista ao diário financeiro francês Les Echos, o presidente de administração da Engie, Jean-Pierre Clamadieu, enfatizou que a não renovação do mandato de Isabelle Kocher para mais quatro anos a frente do grupo se deve ao fato dela: “não ter demonstrado ser a pessoa adequada para aprofundar as transformações necessárias a estratégia do grupo”.
Como aprofundamento em estratégia, Clamadieu, na mesma entrevista, fala em “grande focalização sobre o operacional, realizações concretas com impactos visíveis sobre a performance”.
 

Japão planeja construir 22 usinas a carvão

Do New York Times
É uma conseqüência não intencional do desastre nuclear de Fukushima há quase uma década, que forçou o Japão a encerrar seu programa de energia nuclear.
O Japão agora planeja construir até 22 novas usinas de queima de carvão – uma das fontes mais sujas de eletricidade – em 17 locais diferentes nos próximos cinco anos, justamente no momento em que o mundo precisa reduzir as emissões de dióxido de carbono para combater o mundo aquecimento.
“Por que carvão, por que agora?”, Disse Kanno, uma dona de casa em Yokosuka, o local de duas unidades de queima de carvão que serão construídas a algumas centenas de metros de sua casa. “É a pior coisa possível que eles podem construir.”
Juntas, as 22 usinas emitem quase tanto dióxido de carbono por ano quanto todos os automóveis vendidos todos os anos nos Estados Unidos. A construção contrasta com o esforço do Japão de retratar os Jogos Olímpicos deste verão em Tóquio como um dos mais verdes de todos os tempos.
O projeto Yokosuka provocou uma reação incomum no Japão, onde grupos ambientalistas costumam focar suas objeções na energia nuclear. Mas alguns moradores locais estão processando o governo por sua aprovação da nova usina de queima de carvão, no que os torcedores esperam impulsionar a oposição ao carvão no Japão.
O governo japonês, dizem os autores, carimbou o projeto sem uma avaliação ambiental adequada. A denúncia é digna de nota porque argumenta que a usina não apenas degradará a qualidade do ar local, mas também colocará em risco as comunidades, contribuindo para as mudanças climáticas.
O dióxido de carbono liberado na atmosfera é o principal fator do aquecimento global, porque retém o calor do sol. A queima de carvão é uma das maiores fontes isoladas de emissões de dióxido de carbono.
O Japão já está experimentando graves efeitos das mudanças climáticas.
Os cientistas disseram que uma onda de calor em 2018 que matou mais de mil pessoas não poderia ter acontecido sem a mudança climática .
Por causa de preocupações com o calor, o Comitê Olímpico Internacional foi obrigado a mudar os eventos da maratona dos Jogos Olímpicos de Tóquio para uma cidade mais fria, a quase 700 milhas ao norte.
O Japão usou as Olimpíadas para enfatizar sua transição para uma economia mais resiliente ao clima, mostrando inovações como estradas que refletem o calor. Os organizadores disseram que a eletricidade para os Jogos virá de fontes renováveis.
Os investimentos em carvão ameaçam minar essa mensagem.
Sob o acordo de Paris, o Japão comprometeu-se a controlar suas emissões de gases de efeito estufa em 26% até 2030 em comparação com os níveis de 2013, uma meta que foi criticada por ser ” altamente ineficiente ” por grupos climáticos.
“O Japão anuncia uma Olimpíada de baixas emissões, mas, no mesmo ano, começará a operar cinco novas usinas a carvão que emitirão muitas vezes mais dióxido de carbono do que qualquer coisa que a Olimpíada possa compensar”, disse Kimiko Hirata, diretora internacional da a Rede Kiko, um grupo que defende a ação climática.
A política do Japão o diferencia de outras economias desenvolvidas. A Grã-Bretanha, o berço da revolução industrial, deverá eliminar gradualmente a energia do carvão em 2025, e a França disse que encerrará suas usinas a carvão ainda mais cedo, até 2022. Nos Estados Unidos, as concessionárias estão retirando rapidamente a energia do carvão e não novas plantas estão ativamente em desenvolvimento.
Mas o Japão depende de carvão para mais de um terço de suas necessidades de geração de energia. E enquanto as usinas de carvão mais antigas começarem a se aposentar, eventualmente reduzindo a dependência geral de carvão, o país ainda espera atender mais de um quarto de suas necessidades de eletricidade a partir do carvão em 2030.
“O Japão é uma anomalia entre as economias desenvolvidas”, disse Yukari Takamura, especialista em política climática do Instituto de Iniciativas Futuras da Universidade de Tóquio. “A era do carvão está terminando, mas, para o Japão, está se mostrando muito difícil abrir mão de uma fonte de energia na qual ele confia há tanto tempo.”
O apetite do Japão por carvão não se resume apenas a Fukushima.
O consumo de carvão vem aumentando há décadas, enquanto o país pobre em energia, que depende de importações para a maior parte de suas necessidades energéticas, correu para se afastar do petróleo estrangeiro após os choques do petróleo nos anos 70.
Fukushima, porém, apresentou outro tipo de crise energética, e mais um motivo para continuar investindo em carvão. E mesmo quando a economia do carvão começou a desmoronar – a pesquisa mostrou que , em 2025, poderia se tornar mais econômico para os operadores japoneses investir em energia renovável, como a eólica ou solar, do que administrar usinas de carvão – o governo manteve a crença de que as empresas de serviços públicos do país devem continuar investindo em combustíveis fósseis para manter um mix diversificado de fontes de energia.
Juntamente com o gás natural e o petróleo, os combustíveis fósseis representam cerca de quatro quintos das necessidades de eletricidade do Japão, enquanto as fontes renováveis ​​de energia, lideradas pelas hidrelétricas, representam cerca de 16%.
A dependência da energia nuclear, que já forneceu até um terço da geração de energia do Japão, caiu para 3% em 2017.
A política do governo japonês de financiar a energia do carvão nos países em desenvolvimento, ao lado da China e da Coréia do Sul, também está sob escrutínio. O país perde apenas para a China no financiamento de usinas de carvão no exterior.
Nas negociações climáticas das Nações Unidas no final do ano passado, em Madri, com a presença de um contingente japonês considerável, ativistas com roupas amarelas de “Pikachu” exibiram sinais de “Sem carvão” e gritaram “carvão de Sayonara!”
Um alvo da ira dos ativistas tem sido o novo ministro do Meio Ambiente do Japão, Shinjiro Koizumi, um filho carismático de um ex-primeiro ministro que é visto como um possível futuro candidato ao primeiro ministro. Mas Koizumi ficou aquém de seu antecessor, Yoshiaki Harada, que havia declarado que o Ministério do Meio Ambiente não aprovaria a construção de mais nenhuma nova usina elétrica movida a carvão, mas durou menos de um ano como ministro.
Koizumi se esquivou de tais promessas explícitas em favor de garantias mais gerais de que o Japão acabará por reverter o uso de carvão. “Embora não possamos declarar imediatamente uma saída do carvão”, disse Koizumi em uma reunião em Tóquio no mês passado, o país “deixou claro que se moverá constantemente para tornar as renováveis ​​sua principal fonte de energia”.
O projeto Yokosuka tem um significado especial para Koizumi, que é da cidade portuária, um centro industrial e o local de uma base naval americana. As unidades de carvão estão planejadas no local de uma usina a óleo, operada pela Tokyo Electric Power, que foi fechada em 2009, para alívio dos moradores locais.
Mas esse desligamento provou ter vida curta.
Apenas dois anos depois, ocorreu o desastre de Fukushima, quando um terremoto e tsunami danificaram gravemente uma instalação nuclear à beira-mar, também de propriedade da Tokyo Electric. O colapso resultante levou as concessionárias a iniciar duas das oito unidades a óleo de Yokosuka como medida de emergência. Eles foram finalmente encerrados apenas em 2017.
O que a Tokyo Electric propôs a seguir – as duas novas unidades movidas a carvão – deixou muitos na comunidade perplexos. Para piorar a situação, a Tokyo Electric declarou que as unidades não precisavam de uma revisão ambiental completa, porque estavam sendo construídas no mesmo local que as instalações de queima de petróleo.
O governo central concordou. O processo dos residentes contesta essa decisão.
Alguns novos projetos de carvão enfrentaram soluços. No ano passado, um consórcio de empresas de energia cancelou os planos para duas usinas de queima de carvão, dizendo que não eram mais econômicas. Enquanto isso, o Japão disse que vai investir em tecnologia de captura e armazenamento de carbono para limpar as emissões da geração de carvão, mas essa tecnologia ainda não está disponível comercialmente.
O destino do carvão no Japão pode residir no Ministério do Comércio do país, que exerce um peso considerável nos corredores do poder de Tóquio.
Em resposta a perguntas sobre a construção de usinas de carvão, o ministério disse que havia emitido orientações para os operadores do país encerrarem suas usinas de carvão menos eficientes e buscarem reduções globais nas emissões de carbono. Mas a decisão de prosseguir com os planos ficou com as operadoras, afirmou.
“A política mais responsável”, disse o ministério, “é forjar um caminho concreto que permita segurança energética e uma batalha contra as mudanças climáticas”.
Os moradores locais dizem que a posição do ministério fica aquém. Tetsuya Komatsubara, 77 anos, opera um par de pequenos barcos de pesca em Yokosuka há seis décadas, pescando moluscos gigantes, uma vez abundantes nas águas de Tóquio.
Cientistas registraram um aumento na temperatura das águas de Tóquio de mais de 1 grau Celsius na última década, o que está causando estragos nos estoques de peixes por lá.
Komatsubara pode sentir o aumento da temperatura da água em sua pele, disse ele, e temia que as novas plantas fossem outro golpe para uma empresa de pesca que já está em declínio. “Eles dizem que as temperaturas estão subindo. Sabemos disso há muito tempo ”, disse Komatsubara. “É hora de fazer algo sobre isso.”
 

Estação brasileira na Antártica foi construída em módulos na China

O projeto da nova Estação Comandante Ferraz, a base  brasileira de pesquisa na Antártica é brasileiro. Mas foi todo executado pela empresa China Electronics Import and Export Corporation, que venceu a licitação para a obra.
A companhia de engenharia precisou dividir a obra em três etapas, porque entre os meses de abril e outubro é impossível realizar qualquer atividade externa na Antártica devido ao frio intenso, às tempestades de neve e aos ventos fortes.
Por causa disso, os chineses construíram os módulos na China durante o inverno e transportaram para a Antártica nos verões de 2017, 2018 e 2019, a fim de fazer a instalação.
A estação será reinaugurada nesta terça-feira, 14, pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
A Estação Comandante Ferraz foi criada em 1984, mas em 2012 sofreu um incêndio de grande proporções. Na ocasião, dois militares morreram e 70% das suas instalações foram perdidas.
O governo federal investiu cerca de US$ 100 milhões na obra, e a unidade recebeu os equipamentos mais avançados do mundo. No local, pesquisadores vão realizar estudos nas áreas de biologia, oceanografia, glaciologia, meteorologia e antropologia.
Para chegar à Antártica, a comitiva do vice-presidente embarca em Brasília e faz uma primeira parada na cidade de Punta Arenas, extremo sul do Chile.
De lá, embarcam novamente, desta vez em um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB), único tipo de aeronave usada para chegar ao continente gelado, já que é mais preparada para pousos e decolagens nas pistas do local.
O voo de Punta Arenas até a Antártica dura cerca de três horas. A aterrissagem ocorre nas proximidades da estação chilena. De lá, o vice-presidente e assessores seguem de helicóptero até a estação brasileira. A previsão é que o vice-presidente durma na Antártica na noite do dia 14 e retorne no dia seguinte a Punta Arenas, para então retornar ao Brasil.
Estava prevista a participação do presidente Jair Bolsonaro na reinauguração. Por recomendação médica, porém, o chefe do Executivo desistiu da viagem.
Estação Antártica
Ocupando uma área de 4,5 mil metros quadrados, a estação poderá hospedar 64 pessoas, segundo a Marinha. O novo centro de pesquisas vai contar com 17 laboratórios. Cientistas da Fiocruz, por exemplo, estão entre os primeiros a trabalhar na nova estação, desenvolvendo pesquisas na área de microbiologia, a partir da análise de fungos que só existem na Antártica, e no poder medicinal desses micro-organismos. A Agência Internacional de Energia Atômica (Aeia) também já confirmou que vai desenvolver projetos meteorológicos na base brasileira.
Para ficar acima da densa camada de neve que se forma no inverno, o prédio recebeu uma estrutura elevada. Os pilares de sustentação pesam até 70 toneladas e deixam o centro de pesquisa a mais de três metros do solo.
Os quartos da base, com duas camas e banheiros, abrigarão pesquisadores e militares. A estação também tem uma sala de vídeo, locais para reuniões, academia de ginástica, cozinha e um ambulatório para emergências.
Em todas as unidades da base foram instaladas portas corta-fogo e colocados sensores de fumaça e alarmes de incêndio. Nas salas onde ficam máquinas e geradores, as paredes são feitas de material ultrarresistente. No caso de um incêndio, elas conseguem suportar o fogo durante duas horas e não permitem que ele se espalhe por outros locais antes da chegada do esquadrão anti-incêndio.
A estação tem ainda uma usina eólica que aproveita os ventos antárticos. Placas para captar energia solar também foram instaladas na base e vão gerar energia, principalmente no verão, quando o sol na Antártica brilha mais de 20 horas por dia.
(Com informações da Agência Brasil)
 

Crédito alavanca investimentos em energias renováveis

O  Fundo Clima, linha de crédito do Banco Mundial, repassada no Brasil pelo BNDES, está na origem da expansão geométrica de projetos de energia eólica e solar, nos últimos cinco anos.
Com juros de 3,4% ao ano, é um crédito para pequenos projetos, com limite de valores para pessoas jurídicas: até R$ 4 milhões ao ano de faturamento.
Na pessoa física são projetos pequenos, não têm limite de valor. Em torno de R$ 50 mil é a média.
Para projetos maiores há a linha do Finame Energias Renováveis. Tem que estar cadastrado e assegurar um índice de nacionalização no projeto, para estimular a indústria nacional de equipamentos nesse setor.
A maioria dos projetos em busca de financiamento no Banrisul estão enquadrados no CDC Sustentabilidade. Juros de 4,3% ao ano, 72 meses para pagar, com seis meses de carência. A média dos projetos financiados pelo Banrisul  é  de R$ 1 milhão, mais ou menos.
Os projetos de energia eólica financeiramente transitam num outro patamar, na ordem dos R$ 100 milhões.
Esse mercado é movimentado por empresas especializadas que prospectam os locais onde há vento que torne viável uma usina eólica.
Elas formatam pacotes com o potencial de energia medido, o custo, o licenciamento, a rentabilidade e saem em busca do investidor. Muitas vezes têm até o contrato de concessão e vendem para o fundo de investimento.
Uma estimativa não oficial, que circula entre os operadores dos bancos, é de que os projetos de energia eólica já aprovados, com recursos e em fase de implantação somam R$ 1 bilhão em investimentos.
Os projetos em elaboração, sendo preparados para disputar os próximos leilões de energia, somam mais de R$ 5 bilhões.
Nos projetos de energia eólica, como os valores são muito maiores, acima de 100 milhões, é inevitável o envolvimento do BNDES.
No Estado, os repassadores dos programas são o Banrisul, o BRDE e Badesul.
 

China corta subsídios para energia limpa e prioriza o carvão

Depois de ter superado suas metas em energias renováveis, a China muda o planejamento energético para o país.
Os subsídios para energia solar, que duraram mais de uma década, foram cortados em 2018, e os incentivos para energia eólica sendo reduzidos. O crescimento desordenado fez o governo recuar.
No mês passado o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse que o carvão é área prioritária.
A China é o maior produtor mundial. De 60% a 70% da energia consumida na China vêm de usinas a carvão mineral, e novas usinas vem sendo construídas.
As  políticas para as energias renováveis incluem só construir mais solar e eólica se o preço da energia puder competir com o carvão.
O investimento chinês em energia limpa no primeiro semestre deste ano foi 39% menor que no mesmo período de 2018.
A realidade começou a mudar há dois anos. Caiu de  76 bilhões de dólares no primeiro semestre de 2017 para 29 bilhões de dólares no primeiro semestre deste ano. Os dados estão no relatório da Bloomberg New Energy Finance divulgado esta semana.
A chinesa Yingli Solar, que já foi a maior fabricante de painéis solares do mundo em 2012 e 2013, com exportações para todos os continentes, está insolvente. Teve vinte mil funcionários, hoje são seis mil.
A crise já ficou evidente em 2016, quando não conseguiu pagar um empréstimo de 270 milhões de dólares. Endividada, não resistiu à queda dos preços dos painéis. Os cortes recentes do governo chinês só agravaram o problema.
Em 2018, a Yingli foi excluída da Bolsa de Valores de Nova York. Sua capitalização já não alcançava o limite mínimo de 50 milhões de dólares para participar. A sede da Yingli fica em Baoding, a cidade mais poluída do país. Por sediar muitos fabricantes de painéis solares, intitulou-se Vale da Energia.
(Fonte: Bloomberg/Financial Times/Valor)
 

Desmatamento é a principal causa do aumento de emissões de gases

Foi um aumento mínimo, de 0,2%. Mas, para quem é o sétimo na lista dos maiores poluidores do planeta, o aumento das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, em 2018, é preocupante.
Principalmente porque a causa principal – os desmatamentos e queimadas – parece fora de controle.
O balanço das emissões brasileiras em 2018 foi divulgado na semana passada pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (www.seeg.eco.br). Não mereceu muita atenção.
O total das emissões registradas no Brasil alcançou 1,939 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, 0,2% a mais do que em 2017.
As emissões causadas por mudança no uso da terra – queimadas, derrubadas, mineração – representam 44% do total das emissões brasileiras. No conjunto, elas cresceram 3,6% em 2018.
Esse crescimento teve como causa principal as emissões causadas pelo desmatamento na Amazônia,que aumentaram 8,5%.
Foram 29 milhões de toneladas a mais de C02 lançadas na atmosfera pelas queimadas. Segundo o Prodes, dado oficial do desmatamento no Brasil, foram 7.500 km2 em 2018.
O setor agropecuário, em segundo lugar, com 25% do total das emissões, registrou pequena redução de 0,7%.
A  diminuição do rebanho nacional foi a principal causa e por razões que nada têm a ver com preocupações ambientais: a alta cotação da carne no mercado internacional levou a um aumento e antecipação de abates. Desta forma a emissão do metano do gado (muito mais nocivo do que o CO2) foi reduzida.
A maior redução, de 5%, foi registrada no terceiro grupo mais poluente, o setor de energia responsável, por 21% do total das emissões no Brasil.
Duas são as causas principais:
1) o forte aumento do uso do etanol no transporte de passageiros, devido à obrigação de adicionar biodiesel ao diesel.
2) o crescimento das energias renováveis na geração elétrica.
Felipe Barcellos e Silva, analista de projetos do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente: “Choveu muito, as hidrelétricas foram muito acionadas em detrimento das térmicas fósseis”.
Também foi a primeira vez que as fontes não hídricas ultrapassaram as fósseis na matriz elétrica, diz ele, citando a energia eólica, biomassa e solar. Este grupo foi a segunda maior fonte de energia no Brasil em 2018.
O setor industrial, que responde por 5% do total das emissões, registrou aumento de 1%, em relação ao ano anterior, apesar da queda na produção.
Outros 5% são emissões decorrentes da decomposição de resíduos, que registraram crescimento de 1,3%.
Desafio do Brasil é  reduzir desmatamento
Ricardo Abramovay, professor da USP, ouvido pelo Valor, chamou atenção para “a grande diferença entre a natureza das emissões do Brasil e a dos grandes países poluidores”.
Nos países desenvolvidos, assim como na Índia e na China, a redução das emissões depende de grandes investimentos em ciência e tecnologia, porque a maior fonte de emissões é o setor de energia.
No Brasil, esforço  tem que ser no combate ao desmatamento.
“Para interromper o desmatamento não precisamos fazer grandes esforços em ciência e tecnologia”, diz o professor. “Infelizmente estamos avançando em direção ao aumento das emissões pelos piores métodos. É vergonhoso”, lamenta.
A meta de reduzir 80% a taxa de desmatamento da Amazônia até 2020 parece inalcançável: “Já tínhamos uma situação delicada antes do desmonte da governança ambiental promovida pelo atual governo”, diz Carlos Rittl, do Observatório do Clima.
“Em 2019, os planos de combate ao desmatamento na Amazônia e Cerrado foram engavetados e não temos nem mesmo um esboço de plano para a implementação da NDC, que deveria ocorrer a partir do ano que vem. Na verdade, até os órgãos que deveriam implantar a NDC foram extintos pela atual administração”, afirmou Rittl.
A NDC (Contribuição Nacional Determinada, em inglês) é o mecanismo de metas de redução estabelecido pelo Acordo de Paris para cada país signatário.
Emissões no Brasil
Fontes                                         % do total      2018
Mudanças nos usos da terra              44%          +3,6
Agropecuária                                       25%          -0,7
Energia                                                21%          -5,0
Industria                                               05%         +1,0
TOTAL                                                100%         +0,2
 

Eólica e solar representam um terço da energia contratada no leilão da Aneel

Contratos de R$ 44 bilhões foram firmados na sexta-feira, 18, no leilão da Agência de Energia Elétrica, envolvendo projetos que vão acrescentar ao sistema elétrico brasileiro cerca de 1,7 mil megawatts para atender à demanda a partir de 2025.
A maioria, quase a metade dos 91 projetos contratados, são de energia eólica.
São 44 projetos que representam também mais da metade do potencial a ser instalado e mais de um terço da energia efetiva contratada. São 1040 MW de potência instalada em eólica, com 480 MW de energia garantida.

De energia solar fotovoltaica foram contratadas 11 usinas, para uma potência instalada de 530 MW e garantia de 163 MW médios.

O preço da energia solar, R$ 84,39 o quilowatt/hora é o mais baixo de todos,  metade do preço médio alcançado no leilão entre todas as fontes, que ficou em R$ 176,oo..
A energia eólica tem a segundo menor preço: R$ 98,89 o kw/h.
Os demais projetos aprovados foram 27 hídricos, 9 usinas térmicas, sendo 6 movidas a biomassa e 3 a gás natural, o que soma 1.155 MW médios de energia contratada.
O diretor-geral da ANEEL, André Pepitone, comemorou os números alcançados.
“O resultado do leilão contribui sobremaneira para reduzir o custo de geração do país”, disse.
“A nova realidade no Brasil é essa. Menos subsídios cruzados e cada fonte de energia sendo competitiva com seus reais atributos”, concluiu Pepitone.
O preço médio ao final das negociações foi de R$ 176,09 por MWh, com deságio de 39,5% em relação aos preços-tetos estabelecidos.
As usinas deverão iniciar o fornecimento de energia elétrica a partir de 1º de janeiro de 2025.
A diretora da ANEEL Elisa Bastos pontuou que o certame foi muito exitoso para o mercado e trará ganhos para o consumidor brasileiro. “O leilão termina com muito sucesso, com preços médios adequados, o que trará benefício ao consumidor de energia elétrica, por reduzir os custos de aquisição de energia das distribuidoras”, afirmou a diretora.
Foram contratados empreendimentos em todos as regiões do Brasil, com destaque para Bahia (26), Rio Grande do Norte (14) e Santa Catarina (11).
Participaram do certame, como compradoras da energia, nove concessionárias de distribuição com destaque para a Light (449,1 MW médios) e Cemig (175,7 MW médios).
“O resultado dá uma clara sinalização da expectativa de aumento de demanda por energia, vislumbrando uma retomada econômica do país. Ao mesmo tempo, temos investimentos expressivos na diversificação da matriz, garantindo a complementariedade das fontes”, destacou Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCE.
Os contratos de empreendimentos de fonte hidrelétrica (CGH, PCH e UHE) terão prazo de suprimento de 30 anos e o das usinas de fontes eólica e solar, de 20 anos.
Já na modalidade por disponibilidade, os contratos de  empreendimentos de geração de fonte termelétrica à biomassa e gás natural terão prazo de suprimento de 25 anos.
Resultado por fonte
Usinas Hidrelétricas: Os dois empreendimentos hidrelétricos tiveram o preço final de R$ 157,08/MWh, somando 177,9 MW de potência e 112,3 MW médios de garantia física.
Pequenas Centrais Hidrelétricas: Os 19 empreendimentos de PCHs tiveram o preço médio final de R$ 232,72/MWh, somando 253,64 MW de potência e 143,93 MW médios de garantia física.
Centrais Geradoras Hidrelétricas: Os seis empreendimentos de CGHs tiveram o preço médio final de R$ 232,05/MWh, somando 13,61 MW de potência e 8,13 MW médios de garantia física.
Eólicas: Os 44 empreendimentos eólicos tiveram o preço médio final de R$ 98,89/MWh, somando 1.040 MW de potência e 480 MW médios de garantia física.
Solar Fotovoltaica: Os 11 empreendimentos solares fotovoltaicos tiveram o preço médio final de R$ 84,39/MWh, somando 530 MW de potência e 163 MW médios de garantia física.
Térmicas a Biomassa: Os 6 empreendimentos térmicos a biomassa tiveram o preço médio final de R$ 187,90/MWh somando 229,62 MW de potência e 99,2 MW médios de garantia física.
Térmicas a Gás Natural: Os três empreendimentos térmicos a gás natural tiveram o preço médio final de R$ 188,87/MWh somando 734,13 MW de potência e 695,9 MW médios de garantia física.
Os resultados completos estão disponíveis no site da CCEE.

Leilão de energia garante investimento de R$ 11,2 bilhões

18/10/2019 – 18:29


A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE e a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel realizaram nesta sexta¬-feira (18/10) o Leilão de Geração nº 04/2019 (A-6), que movimentou ao todo R$ 44 bilhões em contratos, equivalentes ao montante de 250.148.822 MWh de energia. As contratações viabilizam o investimento de R$ 11,2 bilhões.
“O resultado dá uma clara sinalização da expectativa de aumento de demanda por energia, vislumbrando uma retomada econômica do país. Ao mesmo tempo, temos investimentos expressivos na diversificação da matriz garantindo a complementariedade das fontes”, destacou Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCEE.
Ao final das negociações, foram contratados 91 empreendimentos de geração, sendo 27 hidrelétricas, 44 usinas eólicas, 11 usinas solares fotovoltaicas e nove usinas térmicas, sendo seis a biomassa e três a gás natural, o que soma 1.155,2 MW médios de energia contratada.
A diretora Elisa Bastos, relatora do processo do leilão, pontuou que o certame foi muito exitoso para o mercado e trará ganhos para o consumidor brasileiro. “O leilão termina com muito sucesso, com preços médios adequados, o que trará benefício ao consumidor de energia elétrica por reduzir os custos de aquisição de energia das distribuidoras”, afirmou a diretora.
O preço médio ao final das negociações foi de R$ 176,09 por MWh, com deságio de 39,5% em relação aos preços-tetos estabelecidos. Ao todo, os projetos que foram negociados totalizam 1.702,5 MW médios de garantia física com 2.979,1 MW de potência. As usinas deverão iniciar o fornecimento de energia elétrica a partir de 1º de janeiro de 2025.
Participaram do certame, como compradoras da energia, nove concessionárias de distribuição com destaque para a Light (449,1 MW médios) e Cemig (175,7 MW médios).
Os contratos de empreendimentos de fonte hidrelétrica (CGH, PCH e UHE) terão prazo de suprimento de 30 anos e o das usinas de fontes eólica e solar, prazo de suprimento de 20 anos. Já, na modalidade por disponibilidade, os contratos de empreendimentos de geração de fonte termelétrica à biomassa e gás natural terão prazo de suprimento de 25 anos.
Foram contratados empreendimentos em todos as regiões do Brasil, com destaque para Bahia (26), Rio Grande do Norte (14) e Santa Catarina (11).
Resultado por fonte
Usinas Hidrelétricas: Os dois empreendimentos hidrelétricos tiveram o preço final de R$ 157,08/MWh somando 177,9 MW de potência e 112,3 MW médios de garantia física.
Pequenas Centrais Hidrelétricas: Os 19 empreendimentos de PCHs tiveram o preço médio final de R$ 232,72/MWh somando 253,64 MW de potência e 143,93 MW médios de garantia física.
Centrais Geradoras Hidrelétricas: Os seis empreendimentos de CGHs tiveram o preço médio final de R$ 232,05/MWh somando 13,61 MW de potência e 8,13 MW médios de garantia física.
Eólicas: Os 44 empreendimentos eólicos tiveram o preço médio final de R$ 98,89/MWh somando 1.040 MW de potência e 480 MW médios de garantia física.
Solar Fotovoltaica: Os 11 empreendimentos solares fotovoltaicos tiveram o preço médio final de R$ 84,39/MWh somando 530 MW de potência e 163 MW médios de garantia física.
Térmicas a Biomassa: Os 6 empreendimentos térmicos a biomassa tiveram o preço médio final de R$ 187,90/MWh somando 229,62 MW de potência e 99,2 MW médios de garantia física.
Térmicas a Gás Natural: Os três empreendimentos térmicos a gás natural tiveram o preço médio final de R$ 188,87/MWh somando 734,13 MW de potência e 695,9 MW médios de garantia física.
Os resultados completos estão disponíveis no site da CCEE.

 

Entenda o que está em jogo com o limite de aumento da temperatura média do planeta em 1.5 º C

 
Nós ouvimos e lemos diariamente que o aquecimento global e as mudanças climáticas são o grande desafio deste século. Os noticiários, volta e meia, estampam os alertas emitidos em relatórios do grupo formado por centenas de cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que dão o suporte aos governos de pelo menos 195 países, nas negociações nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima (COPs).
Inúmeras vezes, somos impactados por uma mensagem, que vem sendo repetida, desde o Acordo de Paris, na COP 21, em 2015. – “Os países se comprometeram a fazer esforços para limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até o final do século, por meio da diminuição das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs)”. Afinal, o que estará, então, em jogo, na COP 25, em dezembro, no Chile?
Compromissos brasileiros no Acordo de Paris
Abrindo parênteses, não podemos esquecer qual é o papel do Brasil neste cenário geopolítico ambiental, não é? O governo brasileiro ratificou o Acordo de Paris, por aqui, em setembro de 2016, após a aprovação pelo Congresso. E a promulgação foi estabelecida com o Decreto nº 9073, de 2017.
Com o que nos comprometemos mesmo?
A reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. (Fonte: Ministério do Meio Ambiente – MMA)
“O Brasil tem de cumprir seus compromissos, será cobrado pelas metas e pela situação atual de desmatamento. Na área de matriz elétrica e energética, a combinação com energia solar e eólica tem sido um bom caminho no país, que tem de ser ampliado”, analisa o Doutor em Meteorologia, especialista em Modelagem Climática José Marengo, que foi um dos revisores do relatório especial do IPCC sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C, divulgado no final do ano passado.
“Com a estação seca agora, um dos problemas no país ocorreu com a diminuição da fiscalização em um período que historicamente tem aumento de incêndios e queimadas. Devemos lembrar que é uma situação urgente não só aqui, mas na Pan-Amazônia, que atinge a Bolívia e no norte do Paraguai. Os aerossóis originados com o fogo não têm fronteiras, que afetam o ciclo hidrológico. É um processo que tem de ser controlado”, analisa.
Segundo Marengo, é importante frisar que é necessário haver a redução do desmatamento em todo o mundo, nesta contabilidade de GEEs. Dados da Global Forest Watch apontam que de 2001 a 2018, houve um total de 361 Mha de perda de cobertura arbórea globalmente, o equivalente a uma redução de 9.0% desde 2000 e 98.7Gt de emissões de CO₂.
E que tal compreendermos o que são, de fato, os GEEs?
Primeiramente é necessário compreender que o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a preservação da vida na Terra, porque tem o papel de manter o planeta aquecido e habitável ao permitir que parte da radiação solar refletida de volta para o espaço seja absorvida pela Terra.
O que acontece, desde o início do período industrial até hoje, é que os GEEs estão sendo produzidos de forma cada vez mais descontrolada, tanto pela emissão provocada por combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural e derivados) para transporte e produção de energia, e decorrentes do desmatamento e do mau uso da terra (iniciativas extensivas agropecuárias, de mineração) e, inclusive, da destinação que damos aos nossos resíduos. Com isso, acarretam as mudanças climáticas e o aquecimento global. E quais são os principais gases em questão? Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N20) e Hidrofluorcarbonetos (HFCs), entre outros.
O caminho para a revolução climática está calcado justamente na mudança dos padrões das matrizes energéticas. Segundo o secretário-geral da ONU António Guterres, em todo o mundo, mais da metade da nova geração de energia vem de fontes renováveis, sendo que este percentual é de 90% na Europa. Este esforço vem ao encontro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pelos países, no âmbito da ONU, para serem cumpridos até 2030.
Os 17 propósitos principais dos ODS tratam de temas importantes, como erradicação da pobreza, energia limpa e acessível, cidades e comunidades sustentáveis e ação contra a mudança global do clima.
Quem mais emite GEEs?
– China;
– EUA;
– União Europeia;
– Índia;
Atualmente, o Brasil figura em 7º lugar.
Qual é a quantidade de GEEs atualmente no planeta?
A concentração na atmosfera do planeta estava na casa de 300 partes por milhão (ppm), no início do século XX. Já em maio deste ano estava em 415 ppm, segundo a NASA. O limite seguro à saúde, de acordo com os cientistas, é de no máximo 350 ppm. Bem, é só fazer as contas. A situação está complicada já em 2019, não é?
Ação antrópica está no centro do desafio
Cientistas brasileiros do IPCC destacam que os principais desafios que estão colocados à mesa e alternativas para revertê-los giram em torno justamente da ação antrópica, ou seja, de nós, seres humanos. Não estamos falando do outro, mas de nós mesmos e da figura institucional dos governos, dos poderes legislativos e judiciários, das empresas, das organizações não governamentais municipais e federais. O que está em xeque é o modelo de desenvolvimento que queremos e como afetará as atuais e futuras gerações.
“A atividade humana já provocou um Aquecimento Global, entre 0,82 a 1,05 graus C. No Ártico, por exemplo, em algumas estações do ano, atinge 3,5 vezes mais que 1,5 graus C”, alerta a vice-presidente do IPCC, a cientista Thelma Krug, Segundo ela, nem um centésimo de aumento pode ser desprezado. “Cada pedacinho tem um efeito. Quanto mais forem retardadas ações de mitigação (redução de danos), teremos mais dificuldades de atingir as metas do Acordo de Paris”, diz. Atualmente o que se observa é o aumento de 0,2º por década. Neste ritmo, atingir a temperatura média de 1,5º C pode ocorrer antes da metade do século.
“De 20 a 40% da população global já vivem em regiões que na última década experienciou um aquecimento de mais de 1,5º C acima do nível pré-industrial”, diz a Doutora em Ecologia Humana Patrícia do Pinho, uma das cientistas brasileiras que integrou a equipe que elaborou o relatório 1.5º C do IPCC. Ela analisa que grupos humanos que menos contribuíram para o aumento dos GEEs sofrem as maiores consequências. Assim é possível identificar que entre as regiões mais vulneráveis estão os continentes africano e sul-americano.
O contexto urbano tem cada vez mais um papel relevante nesta análise, porque a projeção é de que até 2040, 90% da população mundial estará vivendo nas cidades. Isso implica também necessidade de mudanças no estilo de vida na sociedade, que parte desde a dieta alimentar ao uso sustentável de energia, além das ações de governança.
Mitigação e adaptação são as palavras da vez
Pois é, o que vimos agora, é que o que está em questão a todo momento gira em torno de duas palavras: mitigação e adaptação, no caso daquilo que não podemos frear, como comprometimentos de eventos climáticos extremos. Estamos falando de aumento do número de ocorrências de ciclones, tornados, furacões, secas, processos de desertificação, enchentes, deslizamentos em decorrência destes eventos.
“A mitigação é um enfoque que deve ser buscado ao máximo, independentemente de podermos ou não nos adaptar aos impactos considerados irreversíveis. A adaptação, por outro lado, não se limita somente às medidas para lidar com eventos climáticos extremos: está relacionada com os impactos irreversíveis e ou não evitáveis, independentemente de serem eventos extremos (tópicos/ agudos) ou problemas ‘crônicos’ “, avalia Rubens Born, diretor interino da 350.org Brasil e América Latina.
As combinações de todos estes fatores levam a projeções maiores, que são a grande preocupação mundial na atualidade, num limiar de aumento populacional na casa de 10 bilhões de pessoas até a metade deste século: segurança alimentar, acesso à água potável, poluição do ar, degradação da terra e dos oceanos e extinção de espécies, entre outras. A lista é longa e tem a ver com toda nossa dinâmica de vida.
Refugiados climáticos
Os problemas já podem ser identificados na atualidade, e tem rostos e histórias de vida. “Podemos exemplificar o caso da Síria. Parte da crise política começou com uma seca, causando fome e falta de alimentos. O que detectamos no Brasil é principalmente no Nordeste. A seca atingindo pequenos agricultores no sertão, no semiárido. Não conseguem sobreviver lá e migram para grandes cidades. Mas as capitais já têm problemas sociais suficientes e estas questões são ampliadas nestas áreas mais carentes”, diz Marengo. Já em São Paulo e no Rio de Janeiro, ele alerta que extremos de chuva têm aumentado.
“As pessoas são deslocadas forçadas pelas mudanças climáticas. Em regiões como a Amazônia, a resposta adaptativa é muito baixa”, explica Patrícia. E alerta que as megacidades já correm o risco de exposição de pessoas a calor letal, um contingente de mais de 350 milhões de cidadãos.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática e indígena
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.