Acabou o aperto. A dificuldade de transitar entre as bancas era uma reclamação antiga dos consumidores na mais tradicional feira de hortaliças orgânicas de Porto Alegre, nas manhãs de sábado na rua José Bonifácio, no Bom Fim.
Com o espaço ampliado, tudo mudou. Por três décadas foram duas fileiras de bancas frente a frente, no canteiro central da rua – e no meio o corredor estreito para a clientela circular.
Para evitar aglomeração durante a pandemia, desde abril a distribuição foi alterada.
Fila para escolher verduras, uma cena inédita ali
Agora são três fileiras de barracas, bem distantes umas das outras. A primeira fila no canteiro original, as outras, uma de cada lado da rua, na via lindeira ao parque (o trânsito de veículos fica interrompido no sentido Osvaldo Aranha – João Pessoa).
Cartazetes orientam a freguesia para manter distanciamento, não tocar nos alimentos para escolher, não consumir no local, e não tirar a máscara. Caldo de cana? Só em garrafa, para levar. Tem até feirante usando pegador de gelo para lidar com dinheiro.
A FAE, Feira dos Agricultores Ecologistas, no quarteirão entre as igrejas do Divino e de Santa Terezinha, foi interrompida só um sábado, em março. Voltou na semana seguinte apenas com as poucas bancas de Porto Alegre (houve um sábado com duas), e logo reorganizou-se no novo formato. Ninguém sabe até quando.
Ainda que comprar alimentos ao ar livre seja mais seguro do que em ambientes fechados, os momentos de pico ainda reúnem mais gente do que o desejável numa pandemia virótica, inclusive porque algumas pessoas vão só para passear. Os feirantes temem a suspensão das atividades, “porque o pessoal não está respeitando”.
Uma ação conjunta das polícias civil e militar do Amazonas desarticulou uma organização criminosa responsável por desmatamento e comércio ilegal de madeira no estado.
A operação Flora Amazônica foi deflagrada nessa terça-feira.
Mais de 400 policias participaram da ação. Oitenta mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O secretário de Segurança do Estado, coronel Louismar Bonates, afirma que foi a maior operação contra crimes ambientais feita no Amazonas.
Armas e cerca de R$ 200 mil em espécie foram apreendidos. A operação ocorreu em Manaus e no município de Manacapuru – a 69 quilômetros da capital.
Segundo os agentes, diariamente caminhões saíam de Manacapuru para Manaus. Durante as investigações 16 deles foram interceptados.
Foram três meses e meio de investigação até conseguir identificar toda a cadeia de exploração ilegal de madeira.
O delegado Rafael Allemand, do Departamento de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil, detalha a atuação do grupo, que era comandado por empresários de serralherias e movelarias.
Pelo menos oito serralherias foram fechadas. Entre as árvores derrubadas estão espécies como Castanheira, Cupiuba, Seringueira, Angelim e Cedro.
A geração eólica da CGT Eletrosul se destacou no Ranking Operacional Eólico – Região Sul referente ao ano de 2019. O relatório, divulgado no início deste mês, apresenta os parques eólicos Galpões, Coxilha Seca e Capão do Inglês na primeira, segunda e sexta posições, respectivamente, entre as usinas com maior fator de capacidade.
O estudo de operação, que analisa a melhor relação entre geração e potência instalada, foi feito pela ePowerBay, empresa de análise de dados para projetos de energia renovável no Brasil.
De acordo com o levantamento, o parque mais eficiente e com melhor rendimento do ano, nas regiões Sul e Sudeste, foi Galpões (8 MW), que registrou fator de capacidade médio de 45%. Atrás dele, ficou Coxilha Seca (30 MW), com 44%. Em sexto lugar, o projeto Capão do Inglês (10 MW), com 42,8%.
Cabe destacar que, de janeiro a abril de 2019, um dos aerogeradores do parque Capão do Inglês esteve indisponível devido a uma ocorrência de descarga atmosférica. “Não fosse por isso, ele certamente estaria ainda melhor posicionado”, explica Rafael Freitas Ferreira, da Divisão de Engenharia de Manutenção da Geração, da CGT Eletrosul.
“A Engenharia de Manutenção da CGT Eletrosul trabalha fortemente todos os anos, juntamente com a Gamesa, fabricante e responsável pela manutenção dos aerogeradores, para garantir que as manutenções preventivas de grande monta sejam realizadas nos meses de ventos mais fracos. Essa coordenação técnica e o bom relacionamento entre as duas partes garantem estes bons resultados”, comenta.
“A ocorrência de ventos registrada em 2019 foi abaixo da média histórica. Mesmo assim, os três parques geraram uma quantidade de energia muito próxima de sua garantia física e tiveram algumas das melhores performances em relação a todos os outros 101 instalados na região Sul. Foram as usinas que melhor aproveitaram seus aerogeradores, independentemente de sua potência ou tecnologia”, completa Marcelo Mohr, da Divisão de Engenharia e Projetos de Geração, da CGT Eletrosul.
Os três parques compõem a 2ª ampliação do Complexo Eólico Cerro Chato, situado em Santana do Livramento. Juntos, possuem 24 aerogeradores e são capazes de atender à demanda energética de 270 mil pessoas. Estão em operação comercial desde dezembro de 2015. Na época de sua construção, o investimento realizado foi de aproximadamente R$ 270 milhões. O chamado Entorno 2 foi financiado pelo banco de fomento alemão KfW.
A Fudação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) divulgou um estudo sobre acidentes com caminhões que transportam cargas perigosas nas rodovias do Rio Grande do Sul.
O resultado é o primeiro Mapeamento Estadual de Acidentes no Transporte com Produtos Perigosos, relativo aos últimos 25 anos em todo o Estado.
Quase metade (45%) das ocorrências aconteceram na região metropolitana de Porto Alegre, totalizando 334 casos.
O estudo foi realizado pela Divisão de Atendimento a Emergências Ambientais (Deamb) da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Os dados relativos aos pontos que oferecem mais risco poderão embasar projetos de melhorias em vias públicas e empresas.
Em relação às rodovias, a BR-290 detém 32% do total de acidentes registrados no período. O trecho com o maior número de ocorrências é entre Osório e Porto Alegre.
Depois vem a BR-386, com 19%, e a BR-116, com 15%. Entre as rodovias estaduais, a ERS-122, que começa em São Sebastião do Caí e termina nas proximidades de Vacaria, totaliza 25% dos acidentes.
Conforme o responsável pelo Deamb, Rafael dos Santos Rodrigues, o estudo servirá como um documento guia para todos os segmentos da sociedade.
“A principal função do nosso setor é coordenar as ações em um momento de risco ou acidente, integrando todas as entidades competentes. O mapeamento será de grande importância nesse trabalho conjunto”, ressalta.
O relatório é resultado de um trabalho integrado entre a Deamb e a Divisão de Planejamento do Departamento de Qualidade Ambiental (DQA) que, por meio da sua equipe de geoprocessamento, reuniu dados obtidos durante os atendimentos da equipe da Emergência durante os anos de 1994 e 2019.
O estudo atende ao Decreto 54.369/2018, que instituiu o Sistema de Previsão, Prevenção, Alerta e Combate aos incidentes e acidentes hidrológicos e ecológicos.
Para a presidente da Fepam, Marjorie Kauffmann, o relatório agrega ainda mais nas ações e estratégias traçadas pela equipe.
“O olhar sobre este conjunto de resultados será norteador para as ações do setor. Uma gestão eficiente precisa analisar os dados para pode medir sua eficácia e também determinar os passos futuros”, ressalta.
A Emergência da Fepam trabalha 24 horas em regime de plantão com uma equipe de nove profissionais (biólogos e engenheiros).
Eles atendem a todos os municípios do Estado, respeitando o tipo de acidente, produto ou decorrência: acidentes com o transporte de produtos perigosos, vazamento de óleo combustível de veículos, vazamento de produtos químicos, mortandade de peixes, denúncia de produtos radioativos, disposição inadequada de resíduos e poluição dos recursos hídricos, entre outros.
De 2004 a 2019, a Fepam atendeu a 1.172 emergências ambientais, uma média de 73 atendimentos por ano.
Somente em 2019, foram atendidas 96 emergências ambientais de todas as classificações, 32 delas relacionadas com o transporte de produtos ou resíduos perigosos, chegando a um percentual de 48% do total.
Principais tipos de acidente:
. acidentes com o transporte de produtos perigosos;
• vazamento de óleo combustível de veículos;
• vazamento de produtos químicos;
• mortandade de peixes;
• denúncia de produtos radioativos;
• disposição inadequada de resíduos;
• poluição dos recursos hídricos, entre outros.
Para incentivar o debate e a busca por soluções e inovações em energias renováveis, a Conferência Smart Energy chega a sua sexta edição nos dias 19 e 20 de novembro, no Centro de Eventos da Fiep em Curitiba (PR).
“A conferência proporciona a discussão de projetos sobre o setor de energias renováveis e inteligentes que estão em andamento no cenário nacional e internacional.
Trata-se de uma oportunidade para conhecer os trabalhos que apresentam resultados práticos, para fomentar e motivar a inserção dessas tecnologias no setor de energias paranaense e brasileiro”, aponta Jorge Callado, diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), organizador do evento.
O objetivo do evento é unir gestores públicos, agências e entidades de governo, profissionais do setor elétrico, empreendedores, startups, consultores, pesquisadores, estudantes e consumidores para debater os temas e problemáticas atuais mais relevantes, apresentar os avanços e tendências tecnológicas, além das oportunidades que o mercado oferece para a inovação.
“É fundamental estimular toda essa interação, pois com ela aumenta-se cada vez mais o entendimento da importância da utilização de fontes renováveis para geração de energia”, ressalta Celso Kloss, diretor-superintendente da Paraná Metrologia, também organizadora da Conferência Smart Energy.
A programação foi baseada em temas que refletem todos os processos e mudanças que o setor tem atravessado e a transição energética que está ocorrendo nos últimos anos, que impactam todo o sistema elétrico, desde a produção até o consumidor final.
O evento conta com sessões sobre gestão de energia e eficiência energética, fontes alternativas, smart grids e microgrids, smart cities, armazenamento de energia e veículos elétricos.
Entre os assuntos das palestras estão o papel das energias renováveis na transição energética nas cidades, ações para disseminação dessas energias, a eficiência energética na indústria, incluindo linhas de financiamento, projetos que promovem a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, os avanços na implementação de smart grids, cases de sucesso de produção de energia a partir de biomassa, o uso do biogás e a política nacional do gás natural, o impacto da geração distribuída no sistema de energia, a transformação digital das indústrias e cidades inteligentes, o futuro da mobilidade elétrica, entre outras questões apresentadas por especialistas e profissionais do mercado, incluindo a presença do diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Associação Brasileira das Agências de Regulação (Abar), Sandoval Feitosa Neto na palestra de abertura.
O coordenador da programação científica da Smart Energy, prof. Dr. Alexandre Aoki, explica que alguns temas que serão debatidos são de áreas em que já há alguns avanços, como a gestão de energia e eficiência energética, impulsionadas pela Copel Distribuição através do Programa de Eficiência Energética e a micro e minigeração distribuída, que possuem isenção do ICMS na energia injetada na rede.
Segundo o diretor de Indústria e Inovação do Tecpar, Rafael Rodrigues, o setor ainda tem muito espaço para o desenvolvimento de novas tecnologias. “A inovação no setor elétrico brasileiro ainda está engatinhando”.
“Todo o processo de aceleração, incubação e criação de ecossistema de inovação nessa área começou somente de uns cinco anos para cá, principalmente, com hackatons dos principais agentes, com aplicabilidade de startups vocacionadas às necessidades do setor”, revela.
As lacunas que ainda existem no setor podem ser preenchidas justamente por startups, ajudando a acelerar o processo.
A pesquisa científica é um dos suportes da inovação e novamente terá espaço na Smart Energy 2019, com apresentações de artigos durante todo o evento.
A energia solar foi o tema mais abordado, segundo o prof. Aoki.
“Os sistemas com armazenamento de energia em baterias, incluindo microrredes, também foram bastante abordados. No aspecto prático, acredito que são áreas que estão demandando mais conhecimentos e estudos no momento, inclusive pelo interesse na aplicação real desses sistemas. Por outro lado, ainda há lacunas interessantes para pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação nessas áreas”, considera.
A Smart Energy 2019 é uma iniciativa do Tecpar, organizada em parceria com a Paraná Metrologia, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e demais instituições que compõe o comitê gestor do projeto Smart Energy Paraná.
O evento tem o patrocínio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Fundação Araucária, ENGIE Brasil, Itaipu Binacional, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Klabin, Fomento Paraná, L8 Energy, Rumo Logística, Compagas e Sanepar e apoio da Copel, WEG, Siemens, iCities, Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Lactec, Comerc Energia e Ribeiro Solar.
“Nada acontece na vida se não houver esse alinhavo, uma junção de elos que vai tendo uma energia de coletivo, com muita clareza do que está sendo construído”.
Foi com esse sentimento que Glaci Campos Alves idealizou junto com amigos a montagem de algumas banquinhas na Redenção, que mais tarde dariam origem à Feira da Coolmeia, considerada a primeira feira ecológica do Brasil. .
Engenheira agrônoma de 74 anos, ex-diretora da Agapan e professora da Escola Técnica de Agricultura (ETA), de Viamão, Glaci falou ao JÁ sobre as origens da Feira dos Agricultores Ecologistas – FAE, que prepara para comemorar neste sábado três décadas de união entre produtores e consumidores em torno da alimentação saudável.
Cleber Dioni Tentardini A feira foi organizada pelos integrantes da Cooperativa Coolmeia, que instalaram as primeiras banquinhas no dia 16 de outubro de 1989, no Dia Mundial da Alimentação Saudável?
Sim, mas é preciso frisar que a cooperativa foi fundada em 1978 e a feira, na José Bonifácio, aos sábados, começou em 1989. Eu não estava entre os fundadores da cooperativa, como a Ana Lombardi, o Marciano. Até porque eu não vivia no Brasil. Fiquei exilada na França por oito anos devido à ditadura militar e só retornei em 1981, quando fui morar no Bom Fim e vi que o movimento ecológico urbano estava bem forte através de entidades mais antigas como Agapan. Os pioneiros da ecologia.
Sim, pioneiros do movimento ecológico em muitos aspectos, a ponto de contribuir decisivamente com a elaboração de uma lei estadual sobre os agrotóxicos, em 82, a primeira no Brasil, que viria a inspirar a aprovação de uma lei nacional sobre os venenos, na constituinte de 88. Mas ainda vivia-se a fase da anistia, do movimento Diretas Já, o movimento político-partidário ganhando força novamente, a construção do Partido dos Trabalhadores que começou no final da década de 70.
Esse movimento ecológico era basicamente urbano?
Mas a Agapan conseguiu um feito muito importante ao criar núcleos em vários municípios gaúchos e inspirou o surgimento de outras entidades ecológicas. O grande referencial, o ideólogo era José Lutzenberger, mas começaram a se aproximar outros nomes importantes, como Sebastião Pinheiro, Jacques Saldanha, Magda Renner e Giselda Castro, ambientalistas e integrantes da Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG), Flavio Lewgoy e tantos outros com muita base teórica e informação.
Onde eram encontrados produtos orgânicos nessa época?
Quase não havia consumidores de produtos biológicos, que é mais correto de dizer do que produtos orgânicos. Quando os jornais gaúchos começaram a dar espaço para grandes reportagens sobre o meio ambiente, principalmente desastres ambientais como em Hermenegildo, foi se criando uma fundamentação dos ecologistas, uma consciência ecológica entre os consumidores. Está aí um dos motivos porque as feiras ecológicas deram muito certo em Porto Alegre. É que foram os consumidores, e não os agricultores, os primeiros a serem estimulados, motivados. Porque não adianta criar um núcleo de produtores de alimentos sem veneno e não ter consumidores, é o que dizíamos aos integrantes de movimentos sociais de países latino-americanos durante os encontros. Eles não entendiam porque as feiras deles não davam muito certo. Provavelmente, porque não houve nesses países um processo de conscientização ambiental tão forte como aqui, capitaneado pela Agapan, que espraiou esse movimento para todo o Rio Grande do Sul.
As feiras ecológicas vêm desse processo de construção de uma consciência ambiental
Muitos não sabem, mas a Coolmeia foi uma cooperativa que tinha por fim uma atividade mais espiritualista. Foi criada por 40 integrantes, a maioria ligada à Grande Fraternidade Universal, preocupada com a qualidade do alimento, a qualidade de vida espiritual. Vivíamos a Era de Aquário. A questão era holística. Soube que fizeram até um mapa astrológico para a criação da Coolmeia. Até aí, a Coolmeia oferecia cursos de ioga, meditação… Era o público alternativo. Então, a partir da construção dessa consciência coletiva, era preciso criar pontos comerciais para vender os produtos.
Uma das entradas, esquina com a rua Santa Teresinha. Foto: Feira Matheus Chaparini/Arquivo JÁ
Dentre os fundadores da cooperativa havia produtores de alimentos naturais?
Basicamente consumidores. Um ou outro poderia ter um sitio que produzisse mel, vegetais. Então, eles visitavam muito o meio rural para trazer alimentos saudáveis.
E como se deu a união entre produtor e consumidor?
Foi muito interessante. Aqui no estado esse movimento da agricultura ecológica começou aos poucos, com a Pastoral da Terra, através da Teologia da Libertação, alcançou muitos jovens do campo, que cresceram vendo seus pais colocando muito veneno nos alimentos. A Pastoral da Terra começou a trabalhar essa consciência nos agricultores já na década de 70, um processo de convencimento dos agricultores para dizer não ao veneno. Então, as três forças do campo foram a Pastoral da Terra, os técnicos que formaram ONGs (Organizações não-governamentais) para orientar os agricultores a plantar sem veneno e as ONGs estrangeiras, que financiavam as ONGs nacionais. O Centro Ecológico de Ipê, por exemplo, criou toda uma estrutura a partir de financiamento de entidades da Suécia. Na Europa, na década de 70, já se falava em embalagens sustentáveis, reciclagem de lixo, acondicionamento de óleo vegetal. Em Paris, já havia um movimento forte de agricultores e um comércio em feiras bem constituído para a agricultura biológica. E os grandes escândalos já estavam acontecendo. Foram descobertos os fosforados, os clorados que estavam presentes no leite que as mães amamentavam seus filhos, as contaminações, a coctecnologia dura, termo cunhado por Lutzenberger que achávamos muito pedagógico. A partir da Revolução Verde, no período pós-guerra, pegaram as tecnologias descobertas para a guerra e transformaram em insumos agrícolas. A Revolução Verde criou aditivos e solúveis sintéticos. O que eles fizeram com toda a tecnologia criada para a guerra, que teve um alto custo? Transformaram tudo em produtos agrícolas. Primavera Silenciosa (Rachel Carson, 1962), O escândalo das sementes (Pat Roy Mooney, 1987) esses livros foram traduzidos para o português. O livro do Sebastião Pinheiro ‘O Amor à arma e a química ao próximo’ trata disso.
Então, as primeiras bancas com produtos biológicos em Porto Alegre foram instaladas pelos próprios consumidores, ligados à cooperativa Coolmeia?
Bom, tem uma história bem interessante antes. Mas, sim, apresentei a ideia de montar a feira na José Bonifácio, em frente ao prédio dos padres, nem havia a Maomé ali. Então, marcamos uma audiência com o prefeito Collares (1986-89) para apresentar nosso projeto. Ele não se opôs, mas não viu possibilidade de manter sempre presente os órgãos da Prefeitura porque era sábado e teria que ter escalas de plantões para os funcionários públicos. Bom, seria com a gente mesmo, então escolhemos a semana da luta contra os agrotóxicos e dia mundial da alimentação, em 16 de outubro, para iniciarmos a feira. Estavam presentes, no mínimo, umas dez bancas. Chegaram a participar aqui da feira o deputado federal Henrique Fontana, que plantava num sítio em Viamão com um sócio, o Floriano Isolan, ex-secretário da Agricultura do Collares. O Valdo e o Lovato são dos que estão desde o início da feira. Todos os agricultores tinham consciência politica, com influência principalmente da Pastoral da Terra. Então, desde o início nos preocupamos com o regulamento. Nós tínhamos que esclarecer a opinião pública que era uma feira de produtos vendidos direto do produtor, sem intermediário. Agricultores que estavam ali porque se negaram produzir com veneno. Nas primeiras edições, os produtores ficaram espantados porque vinham pra cá e vendiam toda a produção. Foi a primeira feira desse tipo no Brasil. Começou mensal, depois, quinzenal e semanal. Antes, os agricultores tinham dificuldade de vir a Porto Alegre, devido ao custo alto. Em São Paulo, foi criada uma feira aos moldes da nossa cerca de dois anos depois.
Perto do meio-dia começa a movimentação para recolher os produtos. Foto: Cleber Dioni
E qual é a história “bem interessante” que mencionaste?
Eu conheci a Coolmeia na Barros Cassal, depois ela foi para Gonçalves de Carvalho, passou pela João Teles e, finalmente, se estabeleceu na José Bonifácio. Na João Teles, a Coolmeia alugou uma casa junto com a Agapan e a ADFG. Ali, a Cooperativa tinha uma lojinha e uma fruteira nos fundos da casa. O Nelson Diehl, que era naturista, ligado à juventude da macrobiótica, se associou e passou a participar da administração da cooperativa. Trouxe alguns referenciais administrativos para a Coolmeia, cuja gestão era muito empírica. Começamos a participar de todos os eventos de movimentos sociais, mobilizações políticas, e montamos uma banquinha no Brique da Redenção, aos domingos, onde vendíamos produtos não alimentícios, porque não era permitido. Isso foi entre 82 e 88, quando as mobilizações ecológicas foram muitos fortes para garantir emendas na Constituinte de 88, que teve uma metodologia participativa. Uma das nossas bandeiras é para que desburocratizassem a criação de coletivos de trabalho, no caso as cooperativas, para que não precisasse ser grandes cooperativas. Em 86, organizamos um grande evento na área central da Redenção (espelho d’água) para comercializar produtos ecológicos. A feira Tupambaé (palavra de origem tupi-guarani que significa lavoura do comum) foi mais do que isso, levamos artesãos que trabalhavam com papel, o poder público para falar em lixo reciclado, entidades ecológicas para palestras, montamos barracas com bambu. Em 87, fizemos a segunda edição da feira Tupambaé, agora na área do Ramiro Souto, onde montamos uma lona de circo com toda estrutura feita com bambu e cobramos entrada. Havia bancas de entidades espiritualistas, ecológicas, agricultores, e grupos de eventos culturais. Em 88, fizemos uma terceira Tupambaé, em uma escola infantil Amiguinhos do Verde, para levar as questões ecológicas para as crianças. Convidamos várias escolas estaduais, mas pegamos um período de greve do magistério e não deu muito certo. Bom, a partir daí, começamos a pensar em uma feira que fosse permanente, promovida pela Coolmeia, com participação das entidades ecológicas. Ainda montamos outras duas feiras, lá na Secretaria da Agricultura, no Menino Deus, no sábado e às quartas-feiras. Ideia minha. A do sábado, a proposta original era repetir o modelo da Tupambaé, com yoga, artesanato, pintura, livros, alimentos.
Essas são as origens
Desde o início as decisões eram em grupo, para conservar o espírito cooperativista. Nós tínhamos os princípios mais importantes no planejamento estratégico: a visão e a missão. Reuniões periódicas, jantas e cafés uma vez em cada propriedade para as pessoas se conhecerem, trocar experiências. Eles tinham as associações no Interior, com comissões de ética. O MST, em Eldorado, e o MPA, em Torres, entraram depois.
E como vê a feira hoje, ao completar 30 anos?
Tem coisas fortes na feira que não se perderam com o fechamento da cooperativa em 2006. Essa feira não surgiu para resolver problemas de mercado nem para oferecer produtos sem veneno para o consumidor, mas para construir uma nova sociedade, com princípios do movimento ecológico. Por isso que, quando surgiu a ideia de copiar a certificação europeia (de produtos orgânicos), nós questionamos, e aí surgiu a certificação participativa. Porque nós tínhamos gente de alto nível de conhecimento e teorização. Agora que o produto orgânico criou mercado, vamos colocar um selo de certificação de um modelo pronto europeu? Não, nós vamos construir um referencial próprio, como fizemos desde o início, para a certificação participativa. Então, surgiu a Rede Ecovida, formada por consumidores, agricultores e técnicos. Mas percebo que ela está ficando mais individualizada.
Por que?
Porque está estabilizada. Embora a feira tenha criado uma associação que não permitiu que se perdesse o sentido da cidadania, ela teria que ter aventureiros, com suas missões, ou visionários, para dar uma sacudida. Só que é muito difícil mexer em algo que já está estabilizado. A presença dos jovens agricultores é maravilhosa, mas como eles não viveram a construção da feira, pode faltar identidade, então tem que entrar a associação para dar alguma orientação à nova geração. Não pode perder o espírito associativista, como ocorreu em parte com a Coolmeia que, no início da década de 2000, começou a receber pessoas que não vibravam a essência da cooperativa, talvez tenham deslumbrado ali uma forma de ganhar dinheiro porque nem comiam no restaurante da cooperativa.
A FAE – Feira dos Agricultores Ecologistas programou uma série de atrações para comemorar as três décadas junto com seu público, no canteiro central da avenida José Bonifácio. A programação começa às 8h. Confere aí:
Programação
– Inauguração do Espaço Multiuso e praça de alimentação a FAE
– Promoções ESPECIAIS de Aniversário
– das 8h às 9h: Café da manhã coletivo
– pratos oferecidos pelos agricultores e feirantes da FAE. Quer trazer um prato também? Traga e compartilha conosco! Lembra de trazer tua caneca!
– das 8h às 12h: Rádio Feira com Coletivo Catarse. Transmitida ao vivo pelo Facebook da FAE.
– das 10h às 12h: Apresentação musical de Rose Nascente.
– 11h: Clássico ABRAÇO E PARABÉNS PARA FAE: vamos juntos desejar e enviar boas energias para a nossa feira. E também comer aquele bolo delicioso!
O Parque Estadual do Turvo registrou a presença de um visitante raro: um exemplar da ave uiraçu.
A espécie é considerada a mais rara das águias florestais da região neotropical, de acordo com o biólogo Dante Andres Meller, que avistou o pássaro durante uma incursão ao parque, em setembro.
“Observar um uiraçu na natureza é um sentimento surreal. Se não fossem as imagens para reafirmar, parece que a observação manteria um ar contínuo de será mesmo que aconteceu?”, afirma Dante.
Espécie é considerada a mais rara das águias florestais da região neotropical. Foto: Dante Andres Meller
De acordo com o pesquisador, os registros dessa espécie são raríssimos. Havia cem anos que essa ave não era vista no Estado.
“Como nunca houve nenhum indício de que a espécie realmente ocorresse nas matas do parque gaúcho, o uiraçu permaneceu por longo período considerado extinto no Rio Grande do Sul”, acrescenta o pesquisador. O achado fará parte da pesquisa de doutorado de Dante, que não pode divulgar mais detalhes do trabalho que desenvolve sobre a ocorrência das águias florestais.
Não é a primeira vez que se tem registro de uma ave em extinção no Parque. O fato já havia acontecido com a harpia, em junho de 2018. Para Dante, é como se um raio caísse duas vezes no mesmo lugar, mas de maneira ainda mais impactante, porque o uiraçu é mais raro que a harpia.
Fato já havia acontecido com a harpia, em junho de 2018. Foto: Carlos Kuhn
“Os grandes rapinantes são bioindicadores, demonstrando que temos equilíbrio ecológico no interior desta área protegida”, afirma Rafael Diel Schenkel, gestor do Parque.
Parque Estadual do Turvo
O Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, no Noroeste gaúcho, tem um dos maiores fragmentos no Estado de floresta estacional decidual – um ecossistema da Mata Atlântica. Sua área abriga muitas espécies ameaçadas de extinção, como onça-pintada, puma, cateto, anta e pica-pau, além de árvores com até 30 metros de altura, diversas espécies de peixes, répteis, anfíbios, borboletas, insetos e fungos.
Mapa: Parque Estadual do Turvo fica em Derrubadas, no Noroeste gaúcho.
O Salto do Yucumã é o principal atrativo, com 1.800 metros de extensão e quedas d’água com até 12 metros de altura. O salto foi formado devido a uma falha geológica que varia de 90 a 120 metros de profundidade. De acordo com a administração do Parque, é uma das maiores quedas longitudinais do mundo.
Salto do Yucumã tem 1.800 metros de extensão e quedas d’água com até 12 metros de altura. Foto: Carlos Kuhn
Serviço do Parque
Visitação: de quinta a segunda-feira
Horário: das 8h às 18h
Horário de entrada para visitar o Salto: das 8h às 16h
Ingressos: R$ 17,09
Proibida a entrada com animais de estimação e bebidas alcoólicas
Contatos: (55) 3616.3006 ou parque-turvo@sema.rs.gov.br.
Os participantes do seminário “Novos Aproveitamentos para do Carvão no RS” foram recebidos com vaias e protestos (“mercenários!”, “carvão aqui não!”) por um grupo de manifestantes ligados ao movimento ambientalista.
Com cartazes e máscaras, cerca de 30 militantes postarem-se na entrada do Hotel Plaza São Rafael na manhã desta terça-feira, onde se realiza o evento promovido pela Sociedade de Engenharia.
Alguns dos convidados que chegavam para o evento reagiram ao serem abordados na entrada do hotel: “Desinformados!”, “Querem o atraso!”.
Lá dentro, num dos auditórios, cerca de 200 pessoas ouviam o presidente da Sergs, Luiz Roberto Ponte, dizer que o carvão “é uma riqueza extraordinária” que os gaúchos têm, se for explorada de forma racional e sustentável. “Sem produzir riquezas não há como eliminar a pobreza”, finalizou Ponte, sob aplausos.
Quando começou a parte mais importante do seminário, que vai até o fim da tarde, os manifestantes já haviam deixado o local.
O seminário e os protestos têm o mesmo alvo: o projeto de um pólo carboquímico, a partir de uma grande mina de carvão às margens do Rio Jacuí, a poucos quilômetros de Porto Alegre. À frente do empreendimento está a mineradora Copelmi, detentora de grandes reservas de carvão mineral no Estado.
O governo já aprovou até uma lei para incentivar a carboquímica, que pode atrair para o Rio Grande do Sul, dono das maiores reservas carboníferas do país, investimentos de bilhões de dólares.
Os ambientalistas atacam o carvão como um “combustível do século retrasado”, com efeitos nocivos sobre o solo, a água e o ar. Os defensores do projeto invocam os avanços tecnológicos que minimizam os impactos da exploração do carvão´sobre o ambiente.
O seminário no Plaza esquenta um debate que deverá mobilizar os gaúchos nos próximos anos.